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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS - CFCH


DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

O PODER DOS MOVIMENTOS SOCIAIS QUE DESCONFIGURAM


ESTRUTURAS ESTATAIS DE OPRESSÃO E QUE AGEM COMO
MOTORES DE IMPACTO SOCIAL

FILIPE JOSÉ DA SILVA 1

RECIFE
2021

1
Acadêmico em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Pernambuco.
filipejose2003@hotmail.com
081985942576
RESUMO

Este presente documento pretende abordar o tema referente ao poder que os


movimentos sociais detém numa sociedade estruturada pela exclusão social de
suas populações marginalizadas e pela falsa garantia de direitos presente na
Constituição Federal de 1988, analisando-se até que ponto as movimentações
comunitárias substituem a presença efetiva do Estado e exercem a sua função de
garantia de direitos. Através do presente artigo, a questão será analisada não só por
um recorte histórico – o qual enfatiza, também, os principais movimentos de época
–, mas também pela corresponsabilidade social que o ativismo comunitário promove
nas sociedades.

PALAVRAS-CHAVES: Movimentos sociais, garantia de direitos, estado

2
1. ORIGEM DOS MOVIMENTOS SOCIAIS

Os movimentos sociais intensificaram-se em meados da década de 70, no


período em que consolidou-se, no Brasil, o golpe militar de Estado de 19642; ainda
assim, no momento em que urge a necessidade do meio comunitário organizar-se,
em caráter coletivo, mais ativamente para iniciar uma luta em prol do avanço da
humanidade – bem comos os movimentos sociais contemporâneos ainda vêm
sistematizando as suas ações, projetos e, por outra ótica, as suas iniciativas de
enfrentamentos a dores, ao silêncio e a, sobretudo, tudo o que angustia a sociedade
–, mas isso não significa que eles [os movimentos sociais] são oriundos de um dado
período histórico. Não. Os movimentos sociais, as manifestações sociais3, sempre
estiveram presentes na sociedade, direta ou indiretamente, ao longo da história. Por
exemplo, o retrato da luta das movimentações dos estudantes na época da Ditadura
Militar: o cantor Milton Nascimento, com a letra da música Coração de Estudante,
retrata:
[...] Lembre-se, por exemplo, do cruel período da ditadura militar no Brasil.
Uma das principais frentes de combate à ditadura foi a articulação de
estudantes no país, por meio da União Nacional dos Estudantes (UNE),
que, ao lado de outras organizações, se mantém em atuação até hoje.
Aliás, graças à marcante atuação estudantil em oposição ao regime
ditatorial, o acervo Memórias da Ditadura contém uma seção exclusiva para
a mobilização de estudantes nesse período [...]
MILTON NASCIMENTO. Coração de estudante. 1987

Ainda na conjuntura histórica, alguns movimentos sociais surgem na década de


30, no mesmo momento em que houve a ditadura Getúlio Vargas4. Neste mesmo
momento, diversas associações foram criadas e desenvolvidas, objetivando ocupar

2
Popularmente conhecido como Ditadura Militar, o golpe cívil-militar de 64, inteiramente autoritário e
nacionalista, aconteceu ainda no governo Goulart, de João Goulart, PTB, o qual colocou em ruínas o
governo do presente presidente democraticamente eleito e que consolidou um marco histórico de
sofrimento e de, sobretudo, luta da sociedade brasileira.
3
"Manifestações sociais" é apresentada, neste contexto, como iniciativas de dado movimento social,
uma vez que também pode ser entendida como projetos, iniciativa, qualificação, luta e transformação
social.
4
Presidente número 14 do Brasil, o qual iniciou o seu mandato em 1930 e governou até 1945,
governando, portanto, durante 15 anos.

3
os seus espaços na sociedade para demandar autonomia e transformações sociais,
reivindicando direitos, pedindo justiça social e ou pautando as forças das suas
coletividades para o avanço da humanidade. Temos como exemplo de movimentos
sociais históricos de grande relevância para sociedade e que permeiam até o
hodierno o MST, Movimento dos Trabalhadores sem Terra; o MSTS, Movimentos
dos Trabalhadores sem Teto; os movimentos contra a discriminação racial – como
exemplo, o Black Lives Matter5; os movimentos contra a violência de gênero e pela
luta dos direitos das mulheres – a exemplo do feminismo que luta por igualdade
social entre homens e mulheres; movimentos a favor das lutas LGBTQUIA+;
movimentos de inclusão de pessoas refugiadas de países; movimentos que lutam
por questões ambientais – como o Greenpeace; movimentos que pautam a luta dos
povos indígenas – a exemplo do movimento de conjuntura contra a demarcação das
terras indígenas no Brasil; entre diversos outros.
Partindo da vertente de que, no Brasil, a globalização possibilitou a implantação
de novas formas de movimentos sociais, pode-se dizer que, hoje, possuímos uma
grande onda de ações coletivas mobilizadas por grupos da sociedade que buscam
lutar por alguma causa, já que, mesmo sendo direito de todos, a déficit de isonomia6
é uma das grandes barreiras enfrentadas na cidadania brasileira. No entanto, só
pudemos ter ideia do que viria ser os referidos movimentos a partir da Era Vargas –
que estabeleceu a cidadania regulada pelas profissões – e com a “cidadania em
recesso”, a partir do golpe de 1964. Esse período fez crescer na população uma
necessidade de criação e consolidação de um Estado de bem-estar no Brasil,
fazendo, assim, a consolidação da necessidade de que as minorias e os mais
afetados pelo descaso governamental pudessem ser notados.

5
Movimento ativista internacional, com origem na comunidade afro-americana, que faz campanha
contra a violência contra as pessoas pretas. O movimento surgiu em 2020, quando um homem preto
é morto pela violência do estado, por uma abordagem violenta de policiais militares nos Estados
Unidos.
6
Estado dos que são governados pelas mesmas leis.

4
2. O QUE SÃO MOVIMENTOS SOCIAIS

Por outro viés, movimentos sociais7 são iniciativas que permeiam por problemas
da sociedade a fim de reivindicar direitos, questionar e/ou transformar o meio social
de acordo com as demandas vigentes da época. Por outra ótica, são séries de
indivíduos reunidos, enquanto sociedade, agrupamento civil, que buscam,
geralmente, o avanço da humanidade, lutando, por exemplo, pela democratização
de espaços e pela descentralização de oportunidades – ou, dependendo do
movimento social, pelo regresso da humanidade, utilizando, nesta lógica, as ideias
do conservadorismo social.
Antemão, os movimentos sociais são divididos em duas grandes partes: os
movimentos de conjuntura e os movimentos estruturais.
Por conseguinte, os movimentos conjunturais acontecem em dados momentos da
sociedade. Surgem com objetivos sistematizados e para lutar por causas de curto
prazo, como, por exemplo, a diminuição do alto preço do gás de cozinha e a
redução das tarifas de benefícios sociais, como o preço da passagem do transporte
público e o preço dos ingressos de cinemas e ou de teatros.
Por outro lado, os movimentos estruturais são contrários a ideia dos conjunturais,
pois objetivam mudanças a longo prazo, ou seja, desejam conquistar objetivos que
podem ser alcançados, por exemplo, por anos. São caracterizados, também, por
serem movimentos sociais que desconfiguram os sistemas da sociedade, alterando
o modo de vida dos mais diversos grupos sociais. Como exemplos de movimentos
estruturais, temos os movimentos contra a discriminação de raça e de gênero, por
exemplo – os quais os seus objetivos não são conquistados em questão de dias,
mas sim que permeiam por anos.

7
Etimologia da palavra "movimentos sociais": MOVIMENTO – ação ou efeito de movimentar-se;
colocar-se em marchar; mover-se; SOCIAIS – companheiro; seguidor; seguir; MOVIMENTOS
SOCIAIS – colocar-se em movimento, seguir juntos.

5
3. PRINCIPAIS MOVIMENTOS SOCIAIS DA HISTÓRIA

Diretas Já!; Movimento dos Caras Pintadas; Jornada de Junho de 2013 são 3
dos grandes principais movimentos sociais almejados pela sociedade por diversas
razões históricas e sociais.
Acontecidos em diferentes momentos da sociedade, os 3 não deixam, nunca,
de ser símbolos de lutas da sociedade pela sua ascensão social. Lutando por
causas semelhantes, e sendo símbolos de movimentos conjunturais, pois existem
de acordo com demandas sociais vigentes em épocas, os 3 movimentos são
sinônimos de grandes transformações sociais contra o Estado, contra o poder
político do Estado.
O Diretas Já, em primeira análise, resumidamente, foi um movimento civil, que
aconteceu em 1983 e 1984, no final da Ditadura Militar, o qual reivindicou por
eleições presidenciais democráticas – as quais não aconteciam no Brasil há mais de
anos. O movimento ficou conhecido como um dos maiores movimentos
populacionais do Brasil, justamente por sua luta pela demanda social vigente da
época.

4. A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA

De acordo com a Constituição Federal de 19888, a cidadania pode ser


entendida como um dos principais preceitos fundamentais da República e um dos
mais importantes pilares do Estado brasileiro, tendo em vista que certificam ao
indivíduo o direito à vida, à liberdade, à segurança e à igualdade. Ou seja, a
cidadania é o conjunto de direitos e deveres ao qual um indivíduo está sujeito em
relação à sociedade em que vive. Já para o sociólogo britânico Thomas H. Marshall,
os direitos e os deveres dos cidadãos estão classificados em três áreas, que,

8
Constituição Federal de 1988: principal documento legislativo de uma nação. Em contexto, principal
documento que rege as leis e os direitos dos cidadãos brasileiros.

6
mesmo sendo diferentes, se completam: a civil, a política e a social. Tais esferas
puderam ser analisadas e descobertas a partir de uma reflexão feita pelo sociólogo
na história da Grã-Bretanha, em que as conquistas por seus direitos ocorreram em
etapas e públicos diferentes, sendo eles: os direitos civis, que garantem a liberdade
individual e a igualdade perante os outros indivíduos, conquistados no século XVII;
os direitos políticos, que possibilitam a participação no Governo, de forma direta ou
indireta, no século XVIII; e os direitos sociais, que oferecem a todos justiça e
dignidade, a partir do século XIX.
Assim, podemos apontar os movimentos sociais sendo norteadores que
buscam conquistar uma autonomia e democracia no que diz respeito à disposição
do Estado e ao mercado. Para o sociólogo Scherer-Warren (1999), a prática e os
meios utilizados nas ações coletivas referem-se a uma dinâmica geral que
fundamentam-se numa cultura solidarista, cooperativa e até mesmo mais
democrática, podendo ser entendida, portanto, como:

espaço social onde nascem e se organizam associações voluntárias


(autônomas em relação ao mercado e ao Estado), chamadas de
movimentos sociais ou populares, organizações não-governamentais,
grupos de mútua-ajuda, entidades filantrópicas e outros semelhantes.
(Scherer-Warren, 1999, p.43)

Nesse contexto, os coletivos sociais possuem como principal objetivo reproduzir


e manter a cultura de construção de identidade e solidariedade, além do acesso por
parte dos indivíduos da sociedade aos direitos civis, direitos políticos e direitos
sociais. Ademais, diversos grupos dos movimentos são dirigidos a públicos
diferentes que diferenciam-se a partir da necessidade da sociedade civil.
Tendo em vista que é nos bairros populares, em que mora grande parte da
população carente e onde o Estado não se faz presente, ou faz-se insuficiente
mente, pode-se observar a necessidade de uma mudança e de uma entidade que
faça-se presente para combater os mais diversos casos de uma cultura que atraem
crianças, adolescentes, jovens e adultos para atividades ilegais e ou criminalizadas.
É nessa comunidade que a esperança de se ter uma vida melhor é tirada de suas

7
mãos da pior maneira possível, uma vez que é crescente o número de indivíduos
envolvidos em práticas ligadas a grandes números de mortes em conflitos ou
através do uso de drogas. É a partir desse pensamento e da descrença,
comandados pelo descaso da regência, que a possibilidade de morrer a qualquer
hora faz com que o cidadão acostume-se com a violência e passe a agir
voluntariamente de formas que não condizem com as suas representações.
Atualmente, partindo de uma análise das teorias utilizadas durante a pesquisa,
podemos apontar vários projetos sociais organizados pelo Brasil, os quais têm os
mais diversos perfis que buscam ajudar, por exemplo, as comunidades, levando
esperança, formações profissionais e, principalmente, combatendo o crescente
número de crianças, adolescentes, jovens e adultos sem projetos de vida.
Dentre as mais analisadas instituições, podemos citar o Fruto de Favela9,
iniciativa social oriunda há mais de cinco anos a qual atua em Paulista - PE,
impactando vidas na favela do Jacaré, comunidade de Maranguape 1. As ações da
iniciativa consistem na mudança dos moradores a partir da mobilização tecnológica,
do esporte e da educação.
Além da referida organização social, temos também a Impulsiona Jovem10,
startup de enfrentamento às violências de gênero dentro das escolas, mas que as
suas ações permeiam por além do ambiente escolar. Por meio de um jogo de
tabuleiro, a startup trabalha nos jovens as suas masculinidades e o seu
protagonismo como agente interventivo para essas problemáticas. Através do lúdico
[o jogo de tabuleiro], os jovens passam por 4 mundos (masculinidades,
protagonismo, cidadania e machismo) e são propostos a debater sobre as cartas
(um dos instrumentos do jogo) como forma de ativar o seu protagonismo e
politizar-se quanto às violências do seu entorno.

O Inspira Jovem possui um inovador e criativo sistema de progressão, que


faz o tabuleiro ser separado em quatro mundos, cada um com abordagens
temáticas específicas. O primeiro mundo trabalha protagonismo, o segundo
cidadania, o terceiro machismo e o quarto masculinidades. Cada um deles
possui um monte de cartas diferentes. Conforme o jogo vai se

9
Rede social: @Frutodefavela (Instagram).
10
Rede social: @Impulsionajovem (Instagram).

8
desenvolvendo, o jogador, quando cair numa casa com interrogação (?),
deve retirar uma dessas cartas, que conterá desafio, narrativa ou prenda
relacionada ao mundo em que o participante se encontra.
(Manoel, Luiz. Diretor de criação e desenvolvimento da Impulsiona Jovem)

Ademais, temos também a iniciativa social Study With Me11, que surge em
2020, no começo da pandemia do Covid-19, para ofertar educação gratuita de
qualidade para jovens do ensino médio que, naquele momento, não puderam
continuar a sua pedagogia, por não existir, na época, um plano de retomada as
aulas presenciais e ou estratégias de ensino remoto. O movimento social
supracitado atua pela educação e pela inserção de jovens nas suas vidas
acadêmicas por meio de aulas e projetos gratuitos e, pelas suas realizações
corroboradas para o meio social, ganha visibilidade nas mídias de grande relevância
da sociedade, como, por exemplo, no Jornal Nacional da Rede Globo.

“Nós dois (Jéssica e Felipe) sempre participamos dessas transmissões,


porque a ideia inicial era estudante dar dica para estudante. Era produzir
conteúdo da gente para nossos colegas. E prezamos muito para manter
esse formato porque vemos que deu certo por diversos fatores, como a
nossa linguagem e a nossa cara jovem para para tudo. O nosso objetivo é
fazer com que ninguém pare de estudar. Que quem tiver acesso à internet,
que aproveite para manter os assuntos em dia, porque o Enem vai rolar. A
quarentena é tudo diferente do que já vivemos, mas não podemos parar”

Por fim, podemos alegar que os movimentos sociais agregam na construção de


uma cidadania a partir do momento que devolvem a esperança, o direito à vida, ao
estudo, à segurança e principalmente a igualdade, visto que mesmo possuindo os
direitos e deveres escritos na Constituição brasileira, a prática não funciona com
tanta eficácia. Assim, precisamos e temos a necessidade de garantir, na prática,
para todos os indivíduos, de qualquer classe social, os seus direitos enquanto
cidadãos.

11
Rede social: @Swm.study (Instagram).

9
5. INSUFICIÊNCIA ESTATAL

Tendo em vista o artigo 37 da Constituição Federal – a administração pública


dos poderes da União, do Estados, do Distrito Federal e dos municípios devem
obedecer aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência – podemos afirmar que não é bem assim que ele, realmente, funciona no
Brasil hodierno, uma vez que, por exemplo, o descaso com as comunidades mais
carentes, o alto nível de pobreza e criminalidade, o crescente número de evasão
escolar e a falta de ética governamental12são fatores que demonstram a
insuficiência estatal perante o nosso país.
Quando falamos de insuficiência13, estamos dialogando sobre o sinônimo de
negligência, lentidão e omissão, deixando em ênfase a postura que os
administradores públicos carregam, mesmo que nossos governantes tentem nos
converter o contrário – o contrário de suas ações de insuficiência, ou até mesmo de
ineficácia, dependendo de qual cenário estamos participando.
Partindo da análise das políticas pensadas e aplicadas por um governo, por
exemplo, principalmente quando trata-se das políticas sociais (as de educação, as
de saúde, as de previdência, as de habitação, às de saneamento básico, etc) – os
fatores envolvidos para a aferição de seu sucesso e ou de seu fracasso são
complexos – variados – e exigem grande esforço de análise, visando sempre o
melhor para os indivíduos, os quais compõem a nação. Entretanto, no Brasil,
podemos afirmar que muitas vezes as referidas políticas são pensadas e colocadas
em práticas a partir de movimentos sociais de determinados e de diversos perfis que
buscam promover a inclusão, interação e resgate de pessoas que vivem em más
condições de vida. Ou melhor, a partir da insuficiência, ineficácia estatal, os projetos

12
Assim que eleitos, espera-se que os líderes políticos respondam pelo meio social, enquanto
agrupamentos sociais que são representados por líderes X, e não por seus domínios de consciência,
fazendo com que a sua subjetividade tome a frente das decisões de cunho comunitário (a ética
individual). A ética de responsabilidade atua justamente como freio para a ética individual dos
governantes, porque age nitidamente como motor de controle de ações, o que as tornam, portanto,
ações previamente calculadas - e é por isso que ela é tão importante e massivamente almejada pela
sociedade além de que ela traz mais segurança para a comunidade, uma vez que trata-se
claramente, com ela, que o governante não responde por si, mas sim pelo meio social.
13
Incapacidade para executar qualquer função.

10
sociais tomam as dianteiras e seguem levando o bem e boas ações para quem
verdadeiramente sofre com o descaso governamental.
Outrossim, isso nos faz enxergar que tal papel efetivado pelas ações sociais
são mais eficazes e corretas do que as dos nossos governantes, uma vez que a
corrupção14 nos mostra em detalhes que nem todos merecem estar à frente da
dominância do Brasil.
Os movimentos de inclusão educacional, social, econômica e tecnológica são
os que na maioria das vezes enfrentam os males de seus territórios e lutam pela
resolução da demanda vigente de seus municípios, bairros, comunidades – a
exemplo do Study With Me, do Fruto de Favela e da Impulsiona Jovem, como
supracitados no tópico 4 deste presente documento.
Assim, é possível alegar que as ações sociais constroem espaços normativos
capazes de criar e promover o “deslocamento geométrico da soberania”, visto que
retiram do Estado a sua exclusividade para revelar o Direito. Com isso, as ativas
participações de tais movimentos legalizam e legitimam para os indivíduos uma
ação coletiva que apresenta-se cada vez mais próxima das demandas sociais, vindo
a destacar para as políticas sociais frente às desigualdades sociais e a sua
inoperância tanto no aspecto regulatório, que inclui a coesão, como no aspecto
protetivo, que abrange a integração.

6. CULTURA POPULAR

14
Como forma de controlar a corrupção – utilização do poder para ganho pessoal – existe a limitação
do poder do Estado – a partir da necessidade de controlar a centralização de poder que há no país.
Esse controle se dá a partir do Estado Democrático de Direitos (que é quando um soberano lidera,
governa, a partir da operação da Constituição Federal - a qual provém direitos básicos a um indivíduo
enquanto documento que assegura esses direitos por intermédio das leis) e a partir da separação de
poder. Antes de tudo, Montesquieu atribui a separação do poder por acreditar que quando o homem
detém poder, ele está propício a abusar dele, uma vez que é preciso que o poder freie o poder,
justamente para que isso não aconteça. Sendo assim, a separação de poder existe para controlar a
hipercentralização de poder que está na mão do Estado, assim surgindo os 3 poderes: o executivo, o
judiciário e o legislativo. Portanto, o homem, agora, não lidera mais pela sua subjetividade ou
emoção, assim como na Monarquia Absolutista, mas utiliza as razões do Estado para legitimar as
suas ações, ou seja, agora, o homem não faz mais o que quer por "ser a maior autoridade do país",
mas faz o que quer dentro das limitações da Constituição Federal e da arbitrariedade dos 3 poderes -
como ferramenta de combate a corrupção e, novamente, combate a centralização de poder.

11
Em 2018, o incêndio ao Museu Nacional, no Rio de Janeiro, deixou em
evidência a negligência e descaso das políticas públicas sobre a nossa cultura, visto
que tal setor raramente se manteve na lista de prioridades do governo brasileiro.
Hoje, falar sobre incentivos culturais e sobre o quão transformadora a cultura pode
ser na vida de uma nação não é um assunto recorrente nem tão pertinente em
nosso meio, e é justamente nesse contexto que está inserido a Lei que permite
apoio cultural à medida em o caráter federal abarca todo o território brasileiro.15
Criada em 2001, pelo então secretário Nacional da Cultura, Sérgio Paulo, a Lei
Rouanaut baseia-se três pilares fundamentais: o Fundo Nacional da Cultura (FNC),
o Fundo de Investimento Cultural e Artístico (Ficart) e o Incentivo Fiscal, vindo a
incentivar projetos culturais com alguns critérios para disponibilização de recursos
com a finalidade de realizar projetos artístico-culturais.
Por outro lado, mesmo tendo tal apoio perante a Lei, muitos cidadãos não
possuem acesso a arte, já que ela não é algo que podemos ter acesso com
facilidade e muitos artistas não conseguem expor as suas obras, pois não possuem
recursos suficientes e nem assistências governamentais Assim, tanto os
espectadores quanto os artistas precisam esperar a única época do ano em que
finalmente possuem acesso livre e gratuito para suas exposições: o Carnaval.
Porém, além do Carnaval, esperam ainda por diversas outras manifestações
culturais para expor as suas artes.
Lia de Itamaracá, por exemplo, a sua ascensão social e na música se deu a
partir de movimento Mangue e do reconhecimento de um produtor musical, o qual
foi um dos agentes importantes para o reconhecimento da grande artista cirandeira,
mostrando ao Estado o verdadeiro valor de Lia de Itamaracá.
Não só na música, mas na cultura de modo geral, os movimentos sociais, as
ações afirmativas, garantem acesso ao cinema, por exemplo, ofertando a
democratização da cultura para aquelas que não possuem recursos financeiros,
para arcar com lazer e com investimento na apreciação da arte.

15
Restabelece princípios da Lei n° 7.505, de 2 de julho de 1986, institui o Programa Nacional de
Apoio à Cultura (Pronac) e dá outras providências.

12
Mas também não é segredo para ninguém que os nossos artistas locais não são
valorizados e que só são exaltados pelo governo depois de uma longa história de
resistência, como aconteceu com Lia.

7. REFERÊNCIAS

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15

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