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RESENHA DE FILIPE JOSÉ DA SILVA 1

FOOTE-WHYTE, W. Treinando a pesquisa participante. In ZALUAR, Alba Desvendando


Máscaras Sociais. Francisco Alves Editora, 1975, pp. 77-86.

AVALIAÇÃO: Roberta Bivar Carneiro Campos.

O propósito desta resenha é evidenciar o capítulo 3 do livro Desvendando Máscaras Sociais,


escrito pela antropóloga Alba Zaluar2, publicado em 1975 pela Editora Francisco Alves e que discute
as máscaras sociais e as técnicas de pesquisas de campos e de agrupamentos comunitários. Escrito
pelo sociólogo americano William Foote-White3, "Treinando a pesquisa participante" é um capítulo
relativamente curto, 10 páginas, mas bastante rico por respaldar com êxito em seus leitores algumas
de suas técnicas de pesquisa social – que são positivamente evidenciadas nas longas páginas do
curioso capítulo – executadas por ele a partir de suas vivências em Corneville – bairro em que
William estudaria as relações sociais de alguns grupos – e por apresentar a importância da ia ao
campo para maior relação com o objeto de pesquisa ora estudado.
Ao iniciar o capítulo, William, logo, introduz a sua chegada em Corneville e a recepção de seu
amigo, e um dos indivíduo-chave de sua pesquisa, Doc, que, ao decorrer da sua estadia na cidade, fica
responsável por lhe auxiliar no desenvolvimento de suas relações pessoais com os mais diversos
agrupamentos comunitários a serem estudados e com as suas técnicas de pesquisa, formando-se, assim
umas das pessoas importantes para os estudos do sociólogo. Doc, primeiramente, leva William a um
estabelecimento de jogos de seu amigo Chichi, em que o sociólogo tem, indubitavelmente, a sua
primeira lição enquanto observador participante. "Não tire o chapéu em casa, pelo menos quando
estiver entre homens. Tirar o chapéu é admissível, ainda que desnecessário, quando as mulheres estão
presentes." FOOTE-WHYTE, 1975, Treinando a pesquisa participante. PP. 78.
A colaboração de Doc fez com que o sociólogo entendesse que a sua pesquisa seria mais rica
e aprofundada se ele a fizesse com base nas relações pessoais que, por ventura, poderiam ser
construída com os grupos que eram de seu interesse o estudo e não pelas explicações que daria para
eles, porque não seria convincente, a todo momento, entrevista formais de, por exemplo, "sim ou não"

1
Graduando em Ciências Sociais pela Universidade Federal de Pernambuco. Filipe.fjs@ufpe.br
2
Antropóloga brasileira de grande reconhecimento por sua atuação na área da antropologia urbana e
da antropologia da violência.
3
Sociólogo americano reconhecido pelos seus estudos etnográficos em antropologia urbana.
e ou de "por que?" tanto para a escrita de seu livro, quanto para a coleta de informações, enquanto
análise aprofundada dos objetos estudados. E então, nesta mesma lógica, William decide terceirizar
ainda mais a sua participação nas pesquisas – no que diz respeito à possibilidade de extrair
informações suficiente sem que estivesse em relação direta com o grupo, isso porque não é de
costume comum o pesquisador ter interferência e influência nos seus objetos de estudos –, tendo
participações indiretas na construção de relatórios e de cartas de um indivíduo para o outro. Além
disso, William formenta a importancia de poucas entrevistas de cunho formal e ainda aprende a
promover conversas e rodas de dialogo e a participar de debates sobre baseball, sexo e corridas de
cavalos no bairro, para que a sua coleta de informacoes tivesse a manor taxa de sua influencia
possivel.

Descobri que a minha aceitação no bairro dependia muito mais das relações
pessoais que desenvolvesse do que das explicações que pudesse dar. Escrever um
livro sobre Corneville seria bom ou não, dependendo da opinião expressa a respeito
da minha pessoa. Se eu fosse uma boa pessoa, o projeto era bom, se não fosse,
nenhuma explicação poderia convencê-los de que o livro era uma boa ideia .
FOOTE-WHYTE, 1975, Treinando a pesquisa participante. PP, 79.

Esta abertura de extração trouxe para o sociólogo, que não era muito experiente em pesquisas
urbanas, ainda mais compreensão de como funcionavam as trocas e as relações pessoais das pessoas e
dos grupos comunitários e de como uma pesquisa social poderia ser perfeitamente aprofundada.
Porém, ainda na tentativa de interação com o grupo, William força relações que não eram
esperadas deles por outros indivíduos, isso porque as pessoas não queriam que William fosse igual a
elas, mas sim diferente, porque era isso que, de fato, as cativaram e que as faziam, de certo modo,
confortáveis quando William estava presente. O sociólogo, portanto, toma essa lição, a de parar de
forçar uma integração muito mais forte e direta com os seus grupos de estudos, quando boceja
diversos palavreados numa caminhada com outros indivíduos, em que, inclusive, Doc estava presente.

Tentando penetrar no espírito de uma conversa trivial, deixei escapar uma série de
obscenidades e palavrões. A caminhada foi interrompida quando todos pararam para
me olhar surpreendidos. Doc meneou a cabeça e comentou: "Bill, você não deveria
falar deste modo, isto não combina com você.
FOOTE-WHYTE, 1975, Treinando a pesquisa participante. PP, 82.

O capítulo é finalizado, portanto, quando William entende que o seu papel de pesquisador
urbano de alguns grupos comunitários de Corneville toma proporções inesperadas, isso porque a sua
aceitação tinha sido aprovada pelos seus grupos de estudos e porque o ele, justamente por essa
aceitação, poderia consultar as suas informações quando quisesse, assim sendo.

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