DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS TEORIA ANTROPOLÓGICA I - AM096 PROFESSORA: LADY SELMA FERREIRA
DISCENTE: RODRIGO VANDERLEI DE LIMA
(RODRIGO.VANDERLEI@UFPE.BR)
DOCUMENTO ACADÊMICO COMO COMPONENTE AVALIATIVO
Monografia simples do livro “O Crisântemo e a Espada” de Ruth Benedict com pontos
focais de maiores discussões e apresentações das ideias defendidas pelos referenciados antropólogos.
RUTH BENEDICT E A MISSÃO JAPÃO
A autora inicia seus pensamentos provocando o leitor acerca da típica e particular
contradição japonesa, algo próprio daquele povo que há de confundir qualquer possível adversário em confrontos. Entender o Japão tornou-se interessante ao Ocidente, inicialmente apenas em virtude do confronto armado que pairava no globo, mas seguidamente o interesse moldou-se a uma curiosidade com os dualismos japoneses. Diante desse grande esmero, Ruth Benedict é convocada pelos Estados Unidos da América para, enquanto antropóloga, estudar profundamente a cultura e o povo japonês. A antropóloga inicia suas pesquisas a fim de entender não apenas questões políticas, econômicas ou militares, mas buscar compreender o Japão nos seus diversificados estilos de vida, não bastava entender sobre o governo ou o poder japonês, fazia-se necessário entender o povo e seus hábitos. Tal cenário obrigou Ruth a desprender-se ao máximo de seu olhar americano e incorporar-se nas visões japonesas, isto é, mergulhar-se numa cultura de um país que encontrava-se guerreando com sua terra e cultura originária: uma tarefa extremamente difícil. Essa missão torna-se ainda mais difícil com o acréscimo da ausência do trabalho de campo. Afinal, com os dois países em guerra, é impossibilitada a compreensão presencial de tal cultura, isto é, o ato de vivenciar a rotina do grupo estudado. Para Ruth, os livros não eram suficientes, apesar da extensa literatura japonesa, o importante exercício de conhecer detalhes do povo não se suportava apenas com a leitura. Diante disso, a antropóloga parte para entrevistar japoneses nascidos no japão mas que se encontravam residentes americanos. Tal análise, apesar de em alguma medida ser limitada, ofertou minimamente aquilo que Ruth precisava. Outra maneira encontrada pela americana foi o trabalho de campo com povos de culturas similares à cultura japonesa. Pautada em fatores históricos e entendendo mais a origem do povo estudado, Ruth analisou culturas como da Malásia e de Nova Guiné para melhor entender o povo japonês identificando as similaridades e, sobretudo, as diferenças. Estudar os contrastes ao comparar culturas há de ser um movimento extremamente rico, entender o que difere em relação aos povos e as instituições provoca, quase que indiretamente, um maior conhecimento sobre as culturas estudadas. A antropóloga, por sua vez, propõe a antropologia da época um aperfeiçoamento das técnicas de estudos, pois - ao entender as diferenças - nota-se atentamente a existência de uma base da humanidade, isto é, independente da cultura ou origem, há algo em comum a todos. Apegada a esse fator, Ruth debruça-se a entender então o desenrolar dos hábitos japoneses originários a esse lugar- comum da humanidade. Ruth, então, inicia sua jornada para entender o que faz do Japão uma nação de japoneses, entender a coesão que une o povo japonês a leva para entender mais das emoções de tal grupo. A antropóloga chega a investigar melhor a criação dos filhos no Japão e é nesse delicado tópico que ela encontra profundas diferenças. Diferente do modelo ocidental, sobretudo Americano, a criação japonesa tende a ser mais livre e menos disciplinar. Enquanto o ocidente demonstra aos filhos logo cedo que “as pequenas vontades não são supremas no mundo”, o povo japonês apresenta um mundo de máxima liberdade e indulgência. Não apenas na fase infantil, mas também na fase idosa, as restrições são quase que nulas. Na fase idosa, isso há de depender do cumprir, ou não, o principal objetivo para os japoneses: reproduzir-se. Os japoneses acreditam que terão fracassado ao não terem filhos. Para o homem japonês, o filho é essencial pois irá herdar toda sua história. Para a mulher tal tópico entra com mais intensidade, ao entenderem até que a amamentação é o maior prazer fisiológico do corpo feminino. O ato de desmamar, inclusive, é severamente criticado - na atualidade - quando se prolonga, pois quando isso ocorre afirma-se que a culpa é da mulher mal resolvida que insiste apenas para manter seu próprio prazer, fazendo do filho um fraco. Contudo, a ideia de prazer na cultura japonesa há de ser admirada mundialmente. Afinal, é reconhecido em todo globo a habilidade japonesa de encontrar prazer nas coisas mais simples. Reforçando ainda o conhecido ditado japonês: “Não precisa-se pintar um céu no futuro, já que tem-se um no passado”. A antropóloga americana encerra ainda falando do orgulho que deve-se ter dos Estados Unidos na condução do pós-guerra. Para Ruth, a exemplar atuação do país após o Dia da Vitória, com a rendição do Japão e conquista total dos Estados Unidos, tornou o país um referencial para todo o globo ao oferecer aos japoneses a responsabilidade de reconstruir seu próprio país. Respeitando as raízes culturais, o governo americano - diferenciando-se das experiências da Itália e da Alemanha - defendeu as grandes vantagens que seriam obtidas por um governo que entendesse efetivamente as necessidades e urgências do povo do Japão. Para Ruth, enquanto antropóloga, tal atitude foi louvável.
A ANTROPOLOGIA NORTE-AMERICANA
Ruth Benedict se encontra mergulhada na Antropologia Americana e seu forte
Culturalismo. No início do século XX, com a presença das guerras mundiais, os estudos antropológicos tendem a se elencar com destaque no debate público, sobretudo nos Estados Unidos, onde uma nova perspectiva metodológica surge nesse campo de estudo: o Culturalismo. Tal campo apresenta a cultura como elemento fundamentador e indissociável aos seres humanos, apresentando ainda análises sobre a formação cultural de diversos povos e métodos comparativos eficazes para o trabalho de campo da antropologia. O principal representante dessa escola antropológica foi Franz Boas, contudo Ruth Benedict e até Margaret Mead, Ralph Linton e Abram Kardiner dão continuidade e apresentam novas perspectivas nesse campo. Franz Boas chega a ser considerado o pai da Antropologia Americana, iniciando seus trabalhos enquanto crítico do evolucionismo cultural. Para o antropólogo, cada cultura é única e apresenta origem particular, independente de fatores geográficos ou biológicos. Portanto, somente estudando individualmente na íntegra cada cultura que poderá compreendê-la por completo. Boas ainda sugere o conceito de etnocentrismo desprezando-o, e se apega ao que intitula-se de Relativismo Cultural. O americano sugere, então, que cada cultura tem sua própria dinâmica, buscar padrões entre elas é o que leva à criação de justificativas para tornar algo inferior a outro. Seguindo grande parte de tal pensamento, e ainda complementando, Ruth Benedict apresenta o método comparativo como fundamental. Não para justificar ou inferiorizar culturas, mas para que - de maneira racional - possa-se entender mais sobre nosso próprio povo. Para a antropóloga, estudando culturas de origens similares a uma cultura estudada, é possível compreender entrelinhas de um modo de viver. A Antropologia Americana continua a evoluir com outros nomes. Pouco depois, Margaret Mead trabalha a importância da educação na formação de cada indivíduo adulto. Enquanto Ralph Linton e Abram Kardiner, juntos, trabalham o conceito de personalidade base, isto é, elementos fundamentais e iguais de indivíduos de um mesmo grupo.
OUTROS MOVIMENTOS ANTROPOLÓGICOS
Contudo, como analisou-se anteriormente, é válido ressaltar alguns movimentos que
antecedem, e que foram base, para a formação do culturalismo norte-americano. Como nota- se o Evolucionismo, primeira escola da antropologia clássica que, ao ser criticada por Franz Boas, provoca o início da Antropologia Americana. Para os evolucionistas, todos os seres humanos partiram de uma mesma origem, mas com diferentes estágios de desenvolvimento para que se alcance um mesmo ponto final. Na perspectiva evolucionista, os dois grandes estágios de desenvolvimento podem-se entender como infância e maturidade, onde, enquanto as nações da Europa estavam mais maduras, as sociedades primitivas - isto é, não-europeias - ainda desenvolviam sua fase infantil. Num conceito pouco posterior a tal pensamento, o chamado Evolucionismo Cultural afirma o ponto de partida como um mito e a elevação ao ponto final se entende como a razão e a ciência. O grande representante do Evolucionismo se faz na figura de Edward Tylor, contudo, para aprimorar a compreensão dos estágios do Evolucionismo, autores como Lewis Morgan e James Frazer se destacam. Morgan estipula três diferentes e principais níveis para se alcançar o topo proposto por Tylor: selvageria, barbárie e civilização (estágio da sociedade europeia, para ele), necessariamente nessa ordem. Surgindo como reação ao Evolucionismo, destaca-se o Difusionismo. Para difusionistas, a partir do contato entre sociedades, ocorre-se um valioso processo de troca de experiências, como nas guerras, nas viagens, no comércio e outros momentos. E então, somente a partir disso, ocorre a difusão de saberes das culturas dessas sociedades. Sendo assim, o desenvolvimento de culturas surge apenas do contato entre povos primitivos e povos mais modernos. Em seguida, a Antropologia Inglesa ganha relevância ao elencar a teoria funcionalista que, por sua vez, apresenta uma nova perspectiva sobre o trabalho de campo da antropologia. Tal perspectiva ainda há de ser complementada pela Antropologia Americana através de Ruth Benedict. Para o funcionalismo, o trabalho de campo da antropologia necessita uma observação participativa, isto é, conviver com a cultura que você estuda é essencial para que possa compreendê-la. Reforçando ideais que mais tarde o americano Boas vem desenvolver, o funcionalismo promove uma sistematização do conhecimento acumulado sobre uma cultura. O pensador Bronislaw Malinowski, referência em alguma medida para Ruth, se destaca como pensador trazendo o ideal de função como a resposta de um determinada cultura aos princípios biológicos naturais dos seres humanos. Malinowski ainda elenca a observação participante através de seus trabalhos com os nativos das Ilhas Trobriand. Vale, por fim, citar a escola sociológica francesa e sua relevância para Antropologia. Baseado nos fundamentos de Durkheim, muito se formou a antropologia, sobretudo o Evolucionismo. Para o sociólogo, em termos metodológicos, o todo sempre antecede o individual, isto é, o coletivo e a estrutura social deve ser investigada prioritariamente, estabelecendo um holismo metodológico. Dessa forma, Durkheim afirma que os indivíduos são reflexo do meio, apresentando um segundo retrato da sociedade com a ideia de fato social. Fato social se solidifica enquanto estrutura a qual Durkheim afirma anteceder o indivíduo, uma estrutura verdadeira a qual não se tem controle, sendo então a exterioridade, coercitividade e generalidade fortes características de tal estrutura. Isto é, exterior ao indivíduo, impondo uma coerção ao individual (socialmente falando) e um fato só torna-se social quando se impõe a maioria. Alguns antropólogos surgem, então, defendendo a ideia que essa estrutura é a cultura. Nota-se ainda outras escolas que marcam a antropologia e sua história: o estruturalismo (apresentando um ideal dos padrões enraizados nas culturas), a antropologia interpretativa (apresentando perspectivas acerca do autoconhecimento sobre sua cultura) e até a antropologia pós-moderna (mais recente que vem com um coletivo de críticas a todas as escolas anteriores). Desse modo, nota-se a riqueza do conhecimento antropológico para que possa-se entender da pluralidade de povos até sobre “o que somos”. Reforçando o ideal da grande Ruth Benedict: “O objetivo da antropologia é tornar o mundo seguro para as diferenças humanas”.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
● BENEDICT, Ruth. “O Crisântemo e a Espada: Padrões da Cultura Japonesa”, 1974.
[Disponível em: https://drive.google.com/file/d/1IJ76ZFwvxPRa5bi56VqBh93uBgJj6Pt2/view? usp=sharing] ● REZENDE, Milka de Oliveira. "Franz Boas"; Brasil Escola. [Disponível em: https://brasilescola.uol.com.br/biografia/franz-boas.htm.] Acesso em 03 de maio de 2022. ● WIKIPÉDIA. “Ruth Benedict”, 1 de abril de 2021. [Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ruth_Benedict#%22Padr%C3%B5es_de_Cultura%22] ● DIANA, Daniela. Toda Matéria. “As escolas antropológicas”, acesso em 29 de abril de 2022. [Disponível em: https://www.todamateria.com.br/as-escolas-antropologicas/] ● SENA, Ailton. EducaMais Brasil. “Principais Escolas da Antropologia”, 14 de outubro de 2020. [Disponível em: https://www.educamaisbrasil.com.br/enem/antropologia/escolas-antropologicas]