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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO JOÃO DEL-REI

Psicologia - Integral

Alan Brandão Antunes


Adriana Bertolin Moreira
Bethania Lima
Carolina Antoniazzi A. Soares
Fernanda Lima Campos
Ludmila Gabriele Ferreira
Milena de Paula Q. R. Fonseca
Vitória de Fátima A. F. da Silva

Texto acadêmico

Prof. Dra. Patrícia Castro Mattos

São João Del-Rei


Outubro / 2022
A Antropologia é uma área multidisciplinar que trabalha conteúdos sociológicos diversos,
trazendo à tona debates humanos importantes, como a urbanização, a modernização, a justiça
social, entre outros. Na formação de um psicólogo, a consciência do ambiente social em que
está inserido é de extrema importância, e a Antropologia faz o papel de incentivar esse
pensamento crítico.

Dessa forma, a Antropologia traz uma série de conceitos e discussões que precisam ser
trabalhados e estudados a fundo para um melhor entendimento dos debates à serem
abordados. A produção desse texto visa a melhor compreensão de conceitos e pensadores
fundamentais na antropologia.

Primeiramente, faz-se necessário introduzir os conceitos de etnocentrismo e relativismo


cultural, os quais serão fundamentais para a contextualização das ideias discutidas
posteriormente.

O etnocentrismo é um conceito utilizado para definir atitudes nas quais um grupo de


pessoas considera seus hábitos e condutas superiores às demais, em outras palavras, irá
considerar sua cultura como natural em relação às outras, tidas por ele como “anormais” e/ou
“absurdas”. Tal conceito desvaloriza a diversidade e riqueza cultural de cada povo. Em
contrapartida, no relativismo cultural, a linha de pensamento elaborada visa relativizar as
culturas. O significado de um ato para o relativismo cultural não é tomado de forma absoluta,
mas considerado em seu próprio contexto. Partindo dessa perspectiva, o relativismo busca
compreender os valores culturais de uma sociedade a partir dos padrões vigentes neste grupo
social. Dessa forma, ninguém poderia emitir juízos de valores sobre as práticas e enquadrá-
las em certas ou erradas, normais ou anormais. Apesar de esse pensamento ter ganhado força,
também enfrentou desafios e formularam-se críticas acerca do conceito.

A principal crítica ao relativismo cultural encontra-se na sua contradição interna, ou seja,


se tudo é relativo, a própria afirmação é relativa. Logo, ao concordarmos com o relativismo
cultural não podemos julgar ou intervir em uma cultura que comete atos contra a dignidade
humana, por exemplo.
Para além da definição dos conceitos, é fundamental ressaltar que eles ultrapassam as
barreiras do tempo e se perpetuam nos dias atuais. Um exemplo de prática etnocêntrica nos
dias atuais seria a xenofobia, caracterizada pela aversão ao estrangeiro.

O autor acreditava, ao contrário dos cientistas da evolução, que a humanidade não se


desenvolvia sob o olhar de uma história única, sequencial e hierarquizada na qual todos os
homens encontram seu lugar. Segundo Franz Boas, o método comparativo, utilizado pelos
evolucionistas com o intuito de explicar suas teorias, era um tanto que opressivo, já que o
método estaria na conclusão de que fenômenos semelhantes eram resultados de causas
semelhantes, sem observar as variações e as características históricas sofridas por esses
fenômenos.

Foi considerado que Boas desenvolveu um “novo método histórico” que sugere levar em
consideração os diferentes contextos sociais em que as pessoas se encontram, assim ele pára
de normatizar como a corrente evolucionista. Desse modo, como já dito, esse mesmo método
desenvolve um olhar mais acentuado sobre as causas internas ou psicológicas pertencentes a
certa cultura, assim como nas causas externas como meio ambiente e causas históricas. Dessa
maneira, estudar detalhadamente os costumes e culturas de um certo grupo e reduzir a
aplicação deste método de comparação, a ideia de causa e efeito poderia ser alcançada com
uma melhor fundamentação, e não apenas suposições para teorias dedutivas evolucionistas.

Everaldo Rocha elogiou Boas dizendo que ele deu um grande passo para a relativização do
conceito de cultura, sendo o primeiro a perceber a importância de estudar as culturas levando
em conta sua particularidade, já que, anteriormente, o evolucionismo tornava a cultura
ocidental como absoluta e classificava as outras a partir dela. Boas percebeu que cada grupo
produz, a partir de suas condições históricas, linguísticas, climáticas, uma determinada
cultura que se caracteriza, então, por ser única, e o relativismo cultural e a pluralidade de
culturas diferentes, se faz uma ruptura importante do centramento do pensamento
evolucionista. Também criticou que o resultado disso só podia ser que tudo passava a ser
infinitamente mais complexo no estudo das culturas humanas, dessa forma, toda vez que um
campo de conhecimento se abria e se lançava de frente para a complexidade, ele também se
relativiza, deixando as possibilidades de explicação se contrapor e a necessitarem de
refinamento maior no seu debate, ampliando conhecimentos e enriquecendo enfoques através
dos quais as diversas culturas do “outro” passaram a ser percebidas e estudadas. Além disso,
comentava que certas ideologias, as extremadas, odeiam qualquer possibilidade de
relativização, sendo centradas em seu próprio monólogo e a descentralização quebra sua
auto-referência abrindo espaço a uma multiplicidade de pontos de vista, soluções e perguntas.
Assim, as culturas humanas veem da classificação evolucionista pura e simples que
literalmente explode. Passando a apresentar aspectos e características até então
insuspeitáveis.

Ainda assim, Rocha acreditava que a Antropologia continuou crescendo e se transformando


muito com isso, e celebrou isso, já que acreditava que o verdadeiro caminho de um
pensamento científico é percorrido nesta justa medida. Mesmo que essa relativização, que
acontece na Antropologia pela mão de Franz Boas, faz com que o papel, no processo de fuga
do etnocentrismo, seja um pouco paradoxal. Dizia que era como se ele tivesse colocado um
estilhaço de ideias no lugar de um bolo super organizado.
Ou melhor, Boas não apresentou uma teoria da cultura que permitisse, a alguém que fizesse
uma “história das idéias”.

Diante das discussões sobre etnocentrismo, é importante destacar o pensamento de


Radcliffe Brown, o qual discordou da vinculação que existia entre a compreensão do presente
de uma cultura e o estudo de seu passado. Segundo o pensador, o presente não precisava ser
necessariamente explicado pelo passado, de modo que, para ele, a história é conjetural e
especulativa. Dessa forma, Brown desvincula a Antropologia da História e abre um espaço
para que a sociedade do “outro” se mostre como ela é. Com isso, a diferença entre as
sociedades deixa de ser equacionada em torno do tempo histórico, o que gerava uma
hierarquia de sociedade atrasadas e avançadas, como no evolucionismo, o que era totalmente
etnocêntrico. Assim, Radcliffe Brown da outras dimensões à antropologia e ao etnocentrismo.
O jogo entre o “eu” e o “outro” deixa agora de ter uma hierarquia. É nesse momento que essa
comparação se torna menos etnocêntrica, fato fundamental para uma compreensão mais
relativista da sociedade.

Portanto, pode-se concluir que as noções de etnocentrismo e relativismo cultural tiveram


diferentes interpretações ao longo da história, resultando em novas perspectivas na
antropologia.
Referências

DIANA, Daniela. Site toda matéria: conteúdos escolares. Etnocentrismo, 2022. Disponível
em: https://www.todamateria.com.br/etnocentrismo/

BEZERRA, Juliana . Site toda matéria: conteúdos escolares. Relativismo cultural, 2022.
Disponível em: https://www.todamateria.com.br/relativismo-cultural/

ROCHA, Everardo P. Guimarães. O que é etnocentrismo. São Paulo: brasiliense; 1984

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