Você está na página 1de 13

HISTÓRIA

E CULTURA
AFRICANA,
AFRO-BRASILEIRA
E INDÍGENA
A formação da
historiografia
indígena
Krisley Aparecida de Oliveira

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

>> Caracterizar o campo de estudos da história indígena no Brasil.


>> Analisar as contribuições da antropologia e da arqueologia para os estudos
da história indígena no Brasil.
>> Relacionar autores e referências que formam a historiografia indígena
contemporânea.

Introdução
Compreender as diversas abordagens e perspectivas, os diferentes pontos de
vista e a maneira como a história é escrita é fundamental para que o histo-
riador/professor desempenhe um trabalho crítico e sério. Sendo assim, é de
suma importância entender como os objetos de pesquisa ganham novos con-
tornos de acordo com sua evolução temporal. Quando falamos dos estudos
que cercam a historiografia indígena, estamos, em primeiro lugar, falando de
um tema emergente, que passou a ter respaldo e importância dentro da cha-
mada “historiografia tradicional” apenas nos últimos anos. Trata-se, portanto,
de uma área que segue em constante transformação.
Neste capítulo, você poderá compreender o campo da historiografia indígena
no Brasil e refletir sobre a importância da arqueologia e da antropologia para
os estudos da história indígena no país. Além disso, você vai conhecer autores
e referências que abordam o tema na atualidade.
2 A formação da historiografia indígena

Avanços e dificuldades da história


indígena no Brasil
No Brasil, por muito tempo os indígenas foram comumente vistos como figuras
incivilizadas, selvagens, “sem alma”, por não professar, como os portugueses
que aqui chegaram, da esma fé, ou seja, o cristianismo. Essas e outras tantas
adjetivações pejorativas e preconceituosas levaram, ao longo dos séculos,
à exclusão, à marginalização e à drástica diminuição desses povos e etnias
em nosso território.
Durante muitos anos da história de nosso país, as análises sobre o período
colonial caracterizavam as populações indígenas como atrasadas e perdidas
no tempo. A imagem desses povos era extremamente secundária, sempre
vivendo em função daquilo que os portugueses colonizadores ordenavam
e tinham como necessidades principais. Em alguns momentos da história,
havia um manto que os cobria com ingenuidade, bondade ou maldade, mas,
em regra, eram vistos e descritos como populações secundárias em nosso
processo de construção histórica, social e cultural (ALMEIDA, 2010).
E um dos grandes responsáveis pela manutenção da exclusão, da margi-
nalização e do extermínio desses povos do Brasil foi justamente o Estado,
que se mostrou omisso ao longo da maior parte da história. Como aponta
Quijano (2005), o modelo de Estado-nação colocado em prática na moder-
nidade transformou-se em um misto de tragédias e equívocos. Para se ter
uma ideia, entre as diversas Constituições que existiram na história do Brasil,
somente na última, de 1988, os direitos indígenas foram reconhecidos. Sendo
assim, de 1500 até 1988, as populações indígenas não eram consideradas nem
reconhecidas oficialmente, não tendo direito às suas terras, que foram sendo
saqueadas e tiradas de tais povos durante esses quase 500 anos.

Os direitos dos povos indígenas constam no art. 231 da Constituição


Federal de 1988. O documento está disponível na internet para consulta.

Desse modo, a ação do Estado influenciou diretamente a historiografia


produzida sobre os povos indígenas no Brasil. Porém, quando falamos sobre
esses processos historiográficos, é necessário destacar o importante papel
da Nova História Cultural, que teve impacto também sobre esses novos dis-
positivos dentro da Constituição de 1988.
A formação da historiografia indígena 3

Fortalecendo-se a partir de 1974, esse movimento é atribuído à chamada


“terceira geração do Annales”, com a publicação dos clássicos História: novos
problemas, História: novas abordagens e História: novos objetos, de Jacques
Le Goff e Pierre Nora, que possibilitaram aos historiadores ampliar as fontes
utilizadas em suas pesquisas, bem como aumentar o nível de interdisciplinari-
dade e, principalmente, os diálogos entre a história e a antropologia. A noção
de cultura apontada pela perspectiva da Nova História Cultural considera a
existência de múltiplas culturas e não as hierarquiza. De acordo com Burke
(2000, p. 246), o conceito de cultura foi ampliado de modo a abranger “[...] não
apenas a arte, mas a cultura material, não apenas o escrito, mas o oral, não
apenas o drama, mas o ritual, não apenas a filosofia, mas as mentalidades
das pessoas comuns”.
Outro aspecto a se considerar em relação à interpretação de novas culturas
é a linguagem. Nesse sentido, são relevantes as ideias de Mikhail Bakhtin,
sobretudo as expressas em Cultura popular na Idade Média e no Renascimento,
obra em que o autor aponta como um fator importante de análise cultural
a polifonia, ou seja, a existência concomitante de diversas vozes em uma
mesma prática cultural. Também são relevantes as ideias apresentadas por
Tzvetan Todorov no clássico A conquista da América, que trata justamente
dos processos de colonização e reflete sobre conceitos norteadores den-
tro da história cultural, como, por exemplo, o de alteridade cultural, isto é,
a maneira de perceber o outro a partir de si, da diferença.
Quem primeiro organizou, na década de 1970, uma grande coleção para
tratar da história dos indígenas no país foi Manuela Carneiro da Cunha, com
História dos índios no Brasil. Na obra, a autora aponta que, de acordo com a
historiografia tradicional, as populações indígenas não apenas não tinham
passado, mas também estavam relegadas a desaparecer. Sendo assim, esse
não era um tema importante para os historiadores. Tal cenário só começa a
mudar a partir do período em que a autora escreve (TEAO, 2017).
Segundo Teao (2017, p. 635):

Nos anos de 1970 e de 1980, houve uma profunda transformação no contexto


do Brasil e da América Latina em relação à temática indígena. Nesse período,
destaca-se a atuação do movimento indígena no continente americano. Os índios
organizaram-se e reivindicaram direitos sociais e coletivos, como direitos à saúde,
à educação, ao respeito às culturas, à terra, etc. Esses movimentos indígenas
tinham apoio da Igreja Católica, do CIMI, da Igreja Luterana.
4 A formação da historiografia indígena

Ainda conforme Teao (2017, p. 635): “O movimento indígena tem trazido à


tona a importância dos sujeitos coletivos em torno da questão étnica, identi-
tária e multicultural. A maior parte das análises sobre os movimentos sociais
não centram suas discussões na questão étnica”. Isso nos faz perceber que
o avanço dos estudos sobre a história indígena no Brasil está intimamente
ligado ao avanço do movimento indígena.
Então, a etnia e a identidade passam a ser pensadas dentro da perspectiva
de uma nova historiografia. As pesquisas que retiram o indígena do local de
marginalização têm início na década de 1970, como já mencionado, com Manuela
Carneiro Cunha, mas também com os esforços de John Barreto e Maria Celestino
de Almeida, em diálogo com a antropologia histórica. É nesse momento que
começa o que se convenciona chamar “nova historiografia indígena”.
O movimento indígena organizado vem suscitando importantes debates
e demarcando a necessidade de os sujeitos coletivos se debruçaram sobre
questões étnicas, multiculturais e identitárias, pois é somente assim que se
avança na luta pelos direitos e que esses sujeitos podem ganhar relevância
e espaço político. Dessa maneira, com o reconhecimento das diversidades,
há um grande avanço para o desenvolvimento da democracia.

Para saber mais sobre o tema, recomendamos o site da Biblioteca


Digital Curt Nimuendajú, um repositório de livros raros, artigos,
dissertações, teses, etc. sobre línguas e culturas indígenas sul-americanas.

História, arqueologia e antropologia:


uma abordagem interdisciplinar
Na seção anterior, você conheceu os principais marcos da historiografia
indígena no Brasil, refletindo sobre a função do Estado nesse processo e a
influência estrangeira sobre o modo como o tema era tratado por aqui, além
de poder compreender as mudanças por que passou a historiografia indígena
brasileira ao longo dos anos. Para entender o avanço dessa historiografia,
é importante considerar sua relação com outras áreas do saber, sobretudo
a arqueologia e, em especial, a antropologia. A tais processos de interação
e integração de saberes diferentes e, ao mesmo tempo, indissociáveis dá-se
o nome de “interdisciplinaridade”.
A formação da historiografia indígena 5

No Brasil, diferentemente do que ocorre em países vizinhos, a arqueolo-


gia é movida por uma ruptura, pelo extermínio das populações indígenas e
pela construção de uma identidade cultural branca, não indígena. Ademais,
a arqueologia no Brasil, em sua origem, esteve sob tutela do Estado, o que
destoa do que se vê em outros países, onde ela está atrelada às demandas
de grupos nacionais (BARRETO, 1999/2000). É, portanto, necessário questionar
a interferência do Estado na arqueologia para a manutenção da historiogra-
fia tradicional. Além desses, outros pontos são considerados por Barreto
(1999/2000, p. 34):

A arqueologia no Brasil é marcada não só pela falta de identificação étnica e


cultural com o passado indígena, mas ainda sofre o agravante do caráter pouco
monumental e modesto do patrimônio material, em grande parte perecível e de
difícil conservação, dificultando ainda mais a valorização e identificação cultural
com este patrimônio por parte da sociedade em geral.

De todo modo, apesar de seus atrasos, a arqueologia no Brasil passou


por transformações ao longo dos anos, tornando-se imprescindível para o
estudo das sociedades. Para se ter ideia, o campo não contava com grau de
especialização até a década de 1970. Os profissionais que atuavam na área
tinham formação em história ou história natural (BARRETO, 1999/2000).
As perspectivas surgidas na década de 1970 ficaram conhecidas como “nova
história indígena”. Uma figura central nesse movimento, que objetivou romper
com a visão tradicionalista e conservadora acerca dos indígenas, foi o pro-
fessor John Manuel Monteiro, que, com referenciais teóricos e metodológicos
alinhados com as noções americanistas, estabeleceu relações entre as obras
da etnologia brasileira e obras raras e clássicas da etnografia (SILVA FILHO,
2019). Ao analisar o processo histórico e cultural da construção da sociedade
da capitania de São Paulo, Monteiro (1994) retratou os povos indígenas como
agentes históricos que atuaram movidos por interesses pessoais em relação
às dinâmicas que envolviam suas sociedades. Trata-se, portanto, de uma
abordagem inteiramente diferente das que imperavam na historiografia até
aquele momento, nas quais a figura do indígena aparecia como secundária
e sempre movida pelos interesses dos colonizadores.
Para dar corpo e forma a essa abordagem, foi de suma importância a
parceria com a antropologia. Isso acontece, conforme aponta Silva Filho (2019,
p. 24), “[...] quando historiadores e antropólogos começam a se debruçar na
presença dos povos indígenas na história do Brasil, possibilitando uma nova
leitura da presença das populações tradicionais e da sua etno-história”. Como
afirma Almeida (2013, p. 21):
6 A formação da historiografia indígena

O olhar antropológico sobre fontes históricas e a historicização de alguns con-


ceitos básicos para a análise das relações de alteridade são imprescindíveis para
pensar os índios como sujeitos, cujas atuações devem ser levadas em conta para
a compreensão dos processos históricos nos quais eles se inserem.

Dessa maneira, as pesquisas interdisciplinares dão mais visibilidade a


povos antes considerados extintos ou simplesmente vítimas passivas de
processos violentos de conquista e colonização. Com essa nova aborda-
gem, muitas dessas populações ressurgem como agentes históricos, como
participantes ativos do processo de construção da sociedade brasileira.
Um exemplo da importância desse diálogo entre a antropologia e a história
para as novas perspectivas sobre o tema pode ser visto em Almeida (2000),
que aborda os processos de inserção das populações indígenas na sociedade
do Rio de Janeiro colonial, analisando suas relações com os não indígenas,
bem como suas vontades próprias.
O papel central das abordagens interdisciplinares para um entendimento
mais amplo e complexo desse tema também é o foco de Almeida (2013), que
expõe a importância da colaboração com outros grupos de pesquisa para o
desenvolvimento de seus estudos sobre os índigenas e as aldeias no Rio de
Janeiro. A autora relata, por exemplo, que o diálogo com colegas que traba-
lhavam o tema relacionado aos africanos e afrodescendentes no Brasil foi
fundamental para o amadurecimento de suas reflexões, destacando, assim,
“[...] a importância das abordagens comparativas não apenas com estudos
sobre os índios na América espanhola, mas também sobre africanos e afro-
descendentes” (ALMEIDA, 2013, p. 24). Nesse sentido, Monteiro (2007) afirma
que os estudos acerca dos indígenas e dos afro-brasileiros deveriam andar
juntos, a fim de superar a ideia equivocada de segregação e inferioridade
tão presentes em suas histórias.
A avaliação de Almeida (2013, p. 25) a respeito do impacto da antropologia
sobre as suas pesquisas é bastante interessante e pode ser colocado como
plano geral dos estudos sobre o tema:

A antropologia histórica e a história antropológica, com seus mais recentes pressu-


postos teórico-conceituais para o estudo das relações de contato, foram, portanto,
fundamentais para o meu trabalho. A partir desses pressupostos, pude perceber,
afirmar e demonstrar que os índios de diferentes etnias, inseridos nas aldeias
coloniais do Rio de Janeiro, ao invés de terem desaparecido, como costumava ser
sugerido pela historiografia, reformularam identidades e culturas.
A formação da historiografia indígena 7

Assim, a abordagem histórico-antropológica se mostra fundamental para


compreender não apenas o processo de construção historiográfico da história
indígena, mas também a história regional e de outros povos. É, portanto,
imprescindível estreitar o diálogo entre a antropologia e a história para
trabalhar com a historiografia indígena, reconhecendo, é claro, os desafios
colocados pela interdisciplinaridade.

Um conceito que merece destaque dentro desse campo de estudos


é o de decolonialidade. Usado e desenvolvido sobretudo por pensa-
dores latino-americanos, esse conceito define a busca pelo rompimento com os
sistemas impostos pelos países colonizadores. Para saber mais, recomendamos
a leitura do ensaio Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma
ecologia de saberes (2013), de Boaventura de Sousa Santos.

Referências da historiografia indígena


brasileira
Como você pôde compreender nas seções anteriores, a historiografia indí-
gena é muito recente, principalmente no Brasil, tratando-se de uma área
que apenas nos últimos anos ganhou proporções e contornos relevantes na
pesquisa acadêmica e, como consequência, no ensino. Sendo assim, existe
hoje um grande esforço por parte de pesquisadores e de ativistas indígenas
para tornar esse tema cada vez mais popular dentro do âmbito acadêmico e
conhecido pelo público em geral. A seguir, serão apresentados alguns nomes
bastante importantes na divulgação dessas ideias.

Ailton Krenak
Originário do povo Krenak e nascido em Minas Gerais, em 1953, Ailton Krenak
é escritor, pesquisador, ambientalista e líder indígena. Entre outros temas,
seus escritos versam sobre a relação predatória do ser humano com a natu-
reza e os desastres ambientais causados por esse modo de vida (AILTON...,
2021). A partir de uma perspectiva decolonial, Krenak apresenta suas ideias
questionadoras do ponto de vista tanto social quanto histórico no livro Ideias
para adiar o fim do mundo, publicado em 2019. Na obra, uma adaptação de
duas conferências e uma entrevista realizadas em Portugal, entre os anos de
8 A formação da historiografia indígena

2017 e 2019, o autor aponta que está, como seus antepassados faziam, tendo
uma conversa com as pessoas, utilizando-se da poesia e da criatividade para
tentar adiar o fim do mundo. Mais recentemente, em 2020, Krenak publicou
outro livro, A vida não é útil, uma dura crítica à maneira como o ser humano
conduz o sistema em que vive, devastando o meio ambiente e considerando
o dinheiro o aspecto mais importante da vida.

Daniel Munduruku
Outro nome de destaque é Daniel Munduruku, que atua sobretudo na área
de educação indígena. Nascido em 1964, o paraense da etnia Munduruku
tem graduação em história, psicologia e filosofia; mestrado e doutorado em
educação; e pós-doutorado em linguística. Já teve 54 livros publicados por
editoras nacionais e internacionais e recebeu vários prêmios ao redor do
mundo por sua obra. Ativista engajado no Movimento Indígena Brasileiro,
Daniel administra uma livraria on-line especializada em livros escritos por
autores de origem indígena e ajuda a promover há 17 anos o Encontro de
Escritores e Artistas Indígenas, no Rio de Janeiro (MUNDURUKU, [20--?]).

Kaká Werá
Da etnia Tapuia, Kaká Werá nasceu em São Paulo, em 1963, e se dedica à
literatura como meio de difusão das culturas indígenas, principalmente a
Tupi-Guarani (KAKÁ..., 2021). Kaká também é professor, desde 1998, da Univer-
sidade Holística Internacional da Paz (Unipaz), que oferece cursos voltados
para a promoção da cultura da paz. Além disso, ele já participou de diversas
conferências pelo mundo refletindo sobre a diversidade cultural, defendendo
o respeito e propondo o conhecimento de outras etnias e grupos como meio
de combate às diversas formas de discriminação e preconceito aos povos
indígenas (WERÁ, [20--]).

Sônia Guajajara
Nascida em 1974, na terra indígena de Ariboia, no Maranhão, Sônia Guajajara é
professora e enfermeira, pós-graduada em educação especial e militante do
movimento indígena. Com um grande percurso de luta pelas causas indígena
e ambiental, Guajajara ganhou maior reconhecimento nacional durante o
processo eleitoral de 2018, quando se candidatou a vice-presidente na chapa
A formação da historiografia indígena 9

encabeçada por Guilherme Boulos, pelo Partido Socialismo e Liberdade (PSOL).


Seu histórico de ativismo político a levou a participar da Articulação dos
Povos Indígenas do Brasil (APIB) e ter voz no Conselho de Direitos Humanos
da Organização das Nações Unidas (ONU).

Outras referências
Além desses líderes indígenas e militantes do movimento indígena, cuja
atividade é fundamental para a construção de novas perspectivas sobre a
história de seu povo, cabe mencionar alguns importantes estudiosos que
têm pesquisado o tema no Brasil.
Comecemos pelo professor Alexandre Martins de Araújo, do departamento
de história da Universidade Federal de Goiás (UFG), que se dedica ao estudo da
história ambiental e a estudos socioambientais em comunidades quilombolas,
indígenas e com populações em situação de marginalidade, além de fazer
parte do corpo docente do curso de Educação Intercultural, voltado para a
formação de professores indígenas.
Também do departamento de história da UFG, há dois nomes que merecem
menção: os professores Elias Nazareno e Leandro Mendes Rocha. O primeiro
deles atua nas áreas de educação escolar indígena, educação intercultural
e história indígena, e é autor de Desenvolvimento regional e evolução dos
estados subnacionais, livro muito interessante para compreender as relações
de desenvolvimento que ocorrem principalmente na região Centro-Oeste.
Já o professor Leandro Mendes Rocha atua na área de indigenismo, tendo
publicado uma vasta lista de livros nessa área, como O Estado e os índios:
Goiás 1850–1889, de 1998, A política indigenista no Brasil: 1930–1967, de 2003,
Etnicidade e nação, de 2006, e Fronteiras e espaços interculturais, de 2008.
Por fim, importa citar o Núcleo Takinahakỹ de Formação Superior Indígena,
um curso de licenciatura em educação intercultural oferecido pela UFG. Criado
em 2006, o curso conta atualmente com 286 alunos indígenas de 27 etnias
diferentes, localizadas entre Goiás, Tocantins, Maranhão, Minas Gerais e
Mato Grosso. Ademais, é igualmente importante mencionar o trabalho que
vem sendo realizado pelo Grupo de Pesquisa da História Indígena de Alagoas
(GPHIAL), sob coordenação do professor José Adelson Lopes Peixoto, que
também atua na área de história indigenista. O grupo tem se dedicado à
pesquisa e ao mapeamento das diversas etnias da região, publicando diversos
materiais sobre o tema, como livros e trabalhos acadêmicos.
10 A formação da historiografia indígena

Pode-se verificar, portanto, que os processos historiográficos relacionados


com a temática indígena vêm passando por transformações, avançando em
muitos aspectos e mudando suas perspectivas. Como você pôde compreender
neste capítulo, existe hoje uma rica literatura sendo produzida por indivíduos
integrantes de etnias que há pouco deixaram de ser consideradas selvagens
e sem cultura, ao mesmo tempo em que diversos pesquisadores têm voltado
sua atenção para um tema que era marginalizado na história. Isso nos mostra
que os povos indígenas seguem resistindo, como sempre o fizeram, diante
de problemas que persistem desde a chegada dos europeus a este território,
como o preconceito, o desaparecimento de parte da população e a perda de
suas terras.

Referências
AILTON Krenak. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo:
Itaú Cultural, 2021. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa641357/
ailton-krenak. Acesso em: 6 jul. 2021.
ALMEIDA, M. R. C. Os índios aldeados no Rio de Janeiro colonial: novos súditos cristãos
do império português. 2000. 351 f. Tese (Doutorado) — Instituto de Filosofia e Ciências
Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2000. Disponível em: https://
www.cpei.ifch.unicamp.br/pf-cpei/%20/AlmeidaMariaReginaCelestinode.PDF. Acesso
em: 12 jul. 2021.
ALMEIDA, M. R. C. Os índios na história: avanços e desafios das abordagens interdis-
ciplinares: a contribuição de John Monteiro. História Social, v. 2, n. 25, p. 19–42, 2013.
Disponível em: https://www.ifch.unicamp.br/ojs/index.php/rhs/article/view/1834/1344.
Acesso em: 6 jul. 2021.
ALMEIDA, M. R. C. Os índios na história do Brasil. Rio de Janeiro: FGV, 2010.
BARRETO, C. A construção de um passado pré-colonial: uma breve história da arqueo-
logia no Brasil. Revista USP, n. 44, p. 32–51, dez./fev. 1999/2000. Disponível em: https://
www.revistas.usp.br/revusp/article/view/30093/31978. Acesso em: 6 jul. 2021.
BURKE, P. Unidade e variedade na história cultural. In: BURKE, P. Variedades de história
cultural. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2000. p. 231–268.
KAKÁ Werá. In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileiras. São Paulo: Itaú
Cultural, 2021. Disponível em: http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa641362/
kaka-wera. Acesso em: 6 jul. 2021.
MONTEIRO, J. M. Escravidão Indígena nas Américas: interpretações do Brasil: dos
clássicos às novas abordagens. [Entrevista cedida a] Revista do Instituto Humanitas
Unisinos, n. 211, p. 58–61, 2007. Disponível em: http://www.ihuonline.unisinos.br/index.
php?option=com_ content&view=article&id=754&secao=211. Acesso em: 6 jul. 2021.
MONTEIRO, J. M. Negros da terra: índios e bandeirantes nas origens de São Paulo. São
Paulo, Cia. das Letras, 1994.
MUNDURUKU, D. Daniel Munduruku: currículo resumido. Daniel Munduruku, [20--?].
Disponível em: http://danielmunduruku.blogspot.com/p/daniel-munduruku.html.
Acesso em: 12 jul. 2021.
A formação da historiografia indígena 11

QUIJANO, A. Colonialidade do poder, Eurocentrismo e América Latina. In: LANDER,


E. A colonialidade do saber: eurocentrismo e ciências sociais: perspectivas latino-
-americanas. Buenos Aires: CLACSO, 2005. p. 107–130.
SILVA FILHO, E. G. A nova história indígena: um olhar atemporal. Revista Manduarisawa,
v. 3, n. 1, p. 23–35, 2019. Disponível em: https://periodicos.ufam.edu.br/index.php/
manduarisawa/article/view/5313/4315. Acesso em: 6 jul. 2021.
TEAO, K. M. Ensino de história indígena: algumas reflexões. In: CONGRESSO INTERNA-
CIONAL UFES, 6., 2017, Paris. Anais [...]. [Vitória: UFES], 2017. p. 633–643. Disponível em:
https://www.periodicos.ufes.br/ufesupem/article/view/18122. Acesso em: 6 jul. 2021.
WERÁ, K. [Minha jornada]. Kaká Werá: ecologia do ser, [20--]. Disponível em: https://
www.kakawera.com/about-me. Acesso em: 12 jul. 2021.

Leituras recomendadas
BIBLIOTECA DIGITAL CURT NIMUENDAJU. Biblioteca Digital Curt Nimuendaju: línguas e
culturas indígenas sul-americanas. [20--?]. Página Inicial. Disponível em: http://www.
etnolinguistica.org/. Acesso em: 12 jul. 2021.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, DF: Senado
Federal, 2016. Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/
id/522095/CF88_EC92_2016_Livro.pdf?ssequenc=1&isAllowed=y. Acesso em: 6 jul. 2021.
FREIRE, P. R. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São
Paulo: Unesp, 2000.
GOMES, N. L. O movimento negro e a intelectualidade negra descolonizando os cur-
rículos. In: BERNARDINO-COSTA, J.; MALDONADO-TORRES, N.; GROSFOGUEL, R. (orgs).
Decolonialidade e pensamento afrodiaspórico. Belo Horizonte: Autêntica, 2018. (Coleção
cultura negra e identidade). p. 223–246.
SANTOS, B. S. Para além do pensamento abissal: das linhas globais a uma ecologia
de saberes. In: SANTOS, B. S.; MENESES, M. P. (org.). Epistemologias do sul. São Paulo:
Cortez, 2010. p. 23–71.
VAINFAS, R.; SANTOS, G. S.; NEVES, G. P. (org.). Retratos do império: trajetórias individuais
no mundo português nos séculos XVI a XIX. Niterói: EdUFF, 2006.

Os links para sites da web fornecidos neste capítulo foram todos


testados, e seu funcionamento foi comprovado no momento da
publicação do material. No entanto, a rede é extremamente dinâmica; suas
páginas estão constantemente mudando de local e conteúdo. Assim, os edito-
res declaram não ter qualquer responsabilidade sobre qualidade, precisão ou
integralidade das informações referidas em tais links.

Você também pode gostar