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E CULTURA
AFRICANA,
AFRO-BRASILEIRA
E INDÍGENA
A formação da
historiografia
indígena
Krisley Aparecida de Oliveira
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
Introdução
Compreender as diversas abordagens e perspectivas, os diferentes pontos de
vista e a maneira como a história é escrita é fundamental para que o histo-
riador/professor desempenhe um trabalho crítico e sério. Sendo assim, é de
suma importância entender como os objetos de pesquisa ganham novos con-
tornos de acordo com sua evolução temporal. Quando falamos dos estudos
que cercam a historiografia indígena, estamos, em primeiro lugar, falando de
um tema emergente, que passou a ter respaldo e importância dentro da cha-
mada “historiografia tradicional” apenas nos últimos anos. Trata-se, portanto,
de uma área que segue em constante transformação.
Neste capítulo, você poderá compreender o campo da historiografia indígena
no Brasil e refletir sobre a importância da arqueologia e da antropologia para
os estudos da história indígena no país. Além disso, você vai conhecer autores
e referências que abordam o tema na atualidade.
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Ailton Krenak
Originário do povo Krenak e nascido em Minas Gerais, em 1953, Ailton Krenak
é escritor, pesquisador, ambientalista e líder indígena. Entre outros temas,
seus escritos versam sobre a relação predatória do ser humano com a natu-
reza e os desastres ambientais causados por esse modo de vida (AILTON...,
2021). A partir de uma perspectiva decolonial, Krenak apresenta suas ideias
questionadoras do ponto de vista tanto social quanto histórico no livro Ideias
para adiar o fim do mundo, publicado em 2019. Na obra, uma adaptação de
duas conferências e uma entrevista realizadas em Portugal, entre os anos de
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2017 e 2019, o autor aponta que está, como seus antepassados faziam, tendo
uma conversa com as pessoas, utilizando-se da poesia e da criatividade para
tentar adiar o fim do mundo. Mais recentemente, em 2020, Krenak publicou
outro livro, A vida não é útil, uma dura crítica à maneira como o ser humano
conduz o sistema em que vive, devastando o meio ambiente e considerando
o dinheiro o aspecto mais importante da vida.
Daniel Munduruku
Outro nome de destaque é Daniel Munduruku, que atua sobretudo na área
de educação indígena. Nascido em 1964, o paraense da etnia Munduruku
tem graduação em história, psicologia e filosofia; mestrado e doutorado em
educação; e pós-doutorado em linguística. Já teve 54 livros publicados por
editoras nacionais e internacionais e recebeu vários prêmios ao redor do
mundo por sua obra. Ativista engajado no Movimento Indígena Brasileiro,
Daniel administra uma livraria on-line especializada em livros escritos por
autores de origem indígena e ajuda a promover há 17 anos o Encontro de
Escritores e Artistas Indígenas, no Rio de Janeiro (MUNDURUKU, [20--?]).
Kaká Werá
Da etnia Tapuia, Kaká Werá nasceu em São Paulo, em 1963, e se dedica à
literatura como meio de difusão das culturas indígenas, principalmente a
Tupi-Guarani (KAKÁ..., 2021). Kaká também é professor, desde 1998, da Univer-
sidade Holística Internacional da Paz (Unipaz), que oferece cursos voltados
para a promoção da cultura da paz. Além disso, ele já participou de diversas
conferências pelo mundo refletindo sobre a diversidade cultural, defendendo
o respeito e propondo o conhecimento de outras etnias e grupos como meio
de combate às diversas formas de discriminação e preconceito aos povos
indígenas (WERÁ, [20--]).
Sônia Guajajara
Nascida em 1974, na terra indígena de Ariboia, no Maranhão, Sônia Guajajara é
professora e enfermeira, pós-graduada em educação especial e militante do
movimento indígena. Com um grande percurso de luta pelas causas indígena
e ambiental, Guajajara ganhou maior reconhecimento nacional durante o
processo eleitoral de 2018, quando se candidatou a vice-presidente na chapa
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Outras referências
Além desses líderes indígenas e militantes do movimento indígena, cuja
atividade é fundamental para a construção de novas perspectivas sobre a
história de seu povo, cabe mencionar alguns importantes estudiosos que
têm pesquisado o tema no Brasil.
Comecemos pelo professor Alexandre Martins de Araújo, do departamento
de história da Universidade Federal de Goiás (UFG), que se dedica ao estudo da
história ambiental e a estudos socioambientais em comunidades quilombolas,
indígenas e com populações em situação de marginalidade, além de fazer
parte do corpo docente do curso de Educação Intercultural, voltado para a
formação de professores indígenas.
Também do departamento de história da UFG, há dois nomes que merecem
menção: os professores Elias Nazareno e Leandro Mendes Rocha. O primeiro
deles atua nas áreas de educação escolar indígena, educação intercultural
e história indígena, e é autor de Desenvolvimento regional e evolução dos
estados subnacionais, livro muito interessante para compreender as relações
de desenvolvimento que ocorrem principalmente na região Centro-Oeste.
Já o professor Leandro Mendes Rocha atua na área de indigenismo, tendo
publicado uma vasta lista de livros nessa área, como O Estado e os índios:
Goiás 1850–1889, de 1998, A política indigenista no Brasil: 1930–1967, de 2003,
Etnicidade e nação, de 2006, e Fronteiras e espaços interculturais, de 2008.
Por fim, importa citar o Núcleo Takinahakỹ de Formação Superior Indígena,
um curso de licenciatura em educação intercultural oferecido pela UFG. Criado
em 2006, o curso conta atualmente com 286 alunos indígenas de 27 etnias
diferentes, localizadas entre Goiás, Tocantins, Maranhão, Minas Gerais e
Mato Grosso. Ademais, é igualmente importante mencionar o trabalho que
vem sendo realizado pelo Grupo de Pesquisa da História Indígena de Alagoas
(GPHIAL), sob coordenação do professor José Adelson Lopes Peixoto, que
também atua na área de história indigenista. O grupo tem se dedicado à
pesquisa e ao mapeamento das diversas etnias da região, publicando diversos
materiais sobre o tema, como livros e trabalhos acadêmicos.
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Referências
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Leituras recomendadas
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