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Resumo
Ao longo do desenvolvimento historiográfico brasileiro, o indígena sempre foi posto de lado.
Desprezado desde o processo de colonização como sujeito atípico e herege, continua sendo
caracterizado como o personagem ‘bom selvagem’, atrasado e primitivo sob os moldes da
modernidade. Tendo em vista essas prerrogativas, o indígena sofre de se representar em sociedade e
de construir sua própria voz na história e na formação do Brasil. Nesse viés, o objetivo de tal estudo,
é analisar, além das questões supracitadas, como a temática indígena é tratada em sala de aula,
sobretudo, nas aulas de história na Educação Básica. Para tanto, empreendeu-se uma pesquisa de
caráter estritamente bibliográfico, a fim de fomentar e sedimentar a compreensão da jornada
indígena no cenário político-educacional. Como resultados, o que se averigua em primeira instância é
a ineficácia da Lei 11.645/2008 no que tange a aplicação das temáticas indígenas em sala de aula. Por
fim, a presença ainda esmagadora de uma perspectiva historiográfica colonialista, a qual exclui as
diversidades indígenas e impõe sobre estes povos uma visão estereotipada e simplista.
Consequentemente, graves são os reflexos deixados em sala de aula, prorrogando uma
incompreensão sobre a luta indígena e sua resistência ao longo dos séculos, bem como, uma
inaptidão em apreender a diversidade e a complexidade cultural que as tribos assumem.
Abstract
Throughout Brazilian historiographic development, the Indian has always been put aside. Scorned
since the colonization process as an 'atypical' and 'heretic' subject, it continues to be characterized as
the character 'wild', 'backward' and 'primitive' under the molds of modernity. In view of these
prerogatives, the indigenous people suffer from representing themselves in society and from building
their own voice in the history and formation of Brazil. Accordingly, the objective of such a study is to
analyze, in addition to the aforementioned questions, how the indigenous theme is treated in the
classroom, especially in history classes in Basic Education. To this end, a strictly bibliographic
1
Graduados em Licenciatura em História pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP-EC).
2
Doutora em História Social pela Universidade de São Paulo. Professora da Pós-Graduação de História e
Arqueologia no UNASP-EC.
2
research was undertaken in order to foster and consolidate the understanding of the indigenous
journey in the political-educational scenario. As a result, what is investigated in the first instance is
the ineffectiveness of Law 11.645 / 2008 with regard to the application of indigenous themes in the
classroom. In addition, the still overwhelming presence of a colonialist historiographical perspective,
which excludes indigenous diversities and imposes a stereotyped and simplistic vision on these
peoples. Consequently, the reflexes left in the classroom are serious, extending an incomprehension
about the indigenous struggle and its resistance over the centuries, as well as an inattitude to
apprehend the diversity and cultural complexity that the tribes assume.
Introdução
O pensamento atávico que elucida o brasileiro no que tange aos saberes dos povos
indígenas é deturpado por uma história que ao longo do tempo foi se construindo
‘eurocentricamente’ e foi conservada por uma educação que postula e não busca. De forma
que o indígena é rotulado como do passado, pois não se permitiu a participar das
engrenagens capitalistas do progresso.
É imprescindível, portanto, a busca pelas causas históricas e sócio-políticas do
indígena que foram construídas ao longo da história do Brasil. O presente artigo, com o fito
de buscar as causas historiográficas desse imaginário social retrógrado e contestável e sua
relação com o ensino da temática indígena na educação básica, outorga a desconstrução da
historiografia do dominador por uma historiografia pluralista e multicultural, onde o
oprimido pode se fazer expressivo e autônomo, isto é, em função de si mesmo e não do
opressor. Pois como diria Freire (1987, p. 45), “A educação problematizadora, de caráter
autenticamente reflexivo, implica num constante ato de desvelamento da realidade”. Logo
em seguida, é discorrido sobre o imaginário social da figura indígena no Brasil e as
dificuldades de representatividade no cenário nacional. Nesse ponto, é percebido que o
preconceito e discriminação com o indígena devem ser enfrentados através do ensino pleno,
atual e reconhecedor da diversidade indígena. Assim sendo, a última parte do trabalho
apresenta as necessidades atuais do ensino de história, na Educação Básica, sobre a
temática indígena e como a desconstrução dos equívocos históricos podem ressignificar o
indígena como atuante e protagonista na história do Brasil.
cosmovisão é por natureza “dominante”, o autor aponta que “onde quer que um
contingente etnicamente estranho procure, dentro desse território, manter seu próprio
modo tradicional de vida, ou queira criar para si um gênero autônomo de existência, estala o
conflito cruento”.
Dada a lógica de extermínio, o sentido da narrativa trazida pelos europeus de forma
generalista faz sentido e, inclusive, facilita o processo de conquista. Até mesmo porque
compreender a organização de todos os povos indígenas no período colonial é uma tarefa
quase impossível, principalmente considerando que, segundo o Ministério da Educação
(2001) mais de 1 milhão de indígenas viviam no litoral e outro milhão na região do Rio
Amazonas nesse período3. Os mesmos autores afirmam que a historiografia dos povos da
costa, como os tupis, concentra relativa facilidade de análise por conta da quantidade de
registros. Ao contrário, por exemplo, dos povos do rio Amazonas que contam com raros
relatos muito posteriores aos primeiros anos da colônia.
Cruz (2018) relembra que havia entre os tupis um relacionamento pacífico e alianças
estabelecidas, mas também conflitos dos quais os portugueses se aproveitaram para dar
início ao processo de dominação, apoiando guerras internas e realizando trocas de
escravos/prisioneiros. De modo que, aos poucos, foi ficando muito clara a intenção
portuguesa de assumir e administrar as terras dos indígenas. E o conceito que veio a calhar
com essa necessidade foi o da tutela do Estado sobre os assuntos indígenas. E assim o
fizeram distribuindo cargos de autoridade, na América portuguesa, a missionários e depois
desenvolvendo o Diretório dos indígenas (1757-1798) que consistia na escolha de chefes
(diretores) indígenas que tratassem do próprio povo de acordo com os interesses do Estado,
sendo os únicos responsáveis pelo comércio e tratados com os brancos. Estes recebiam
recompensas e privilégios. Após um tempo de vigência do diretório, o governo passou a
considerar esse formato ineficaz e a direcionar os cargos por indicação do governador. O
Diretório foi finalizado por conta do abuso de autoridade dos diretores através da Carta
Régia de 1798, onde ficou permitido o trato com indígenas a qualquer civil, permitindo o
aumento no abuso e invasão das terras indígenas.
Continuando sua abordagem, Cruz (2018) infere que durante o Império, a figura do
diretor retornou na metade do século XIX, através do Decreto nº426, de 24 de julho de 1845,
3
É importante lembrar que não há um número absoluto entre os autores, podendo chegar a 6 milhões de
indígenas segundo o próprio Ministério da Educação (p. 5, 2001).
5
que estabelecia um Diretor Geral ao qual diretores locais e capitães eram subordinados,
além de indicar uma reorganização das comunidades indígenas em configurações próximas
às da sociedade branca, abrindo espaço para a circulação livre de povos não-indígenas
dentro das comunidades. Assim tiveram início as políticas integracionistas que durariam
séculos e definiam os indígenas como povos involuídos em processo de extinção. O autor
reitera que esses conceitos evolucionistas, junto ao positivismo dos séculos XIX e XX,
resultaram em tentativas de progresso a qualquer custo, como a Lei de Terras (1850) que
liberou a ocupação de terras indígenas para arrendamento, justificada pela assimilação dos
indígenas à cultura dos colonos.
Visto que desde o Império havia medidas integracionistas da parte do Estado,
Luciano (2006) indica que posteriormente elas foram organizadas para uma maior
efetividade e menos desgaste do aparelho estatal, visto que a resistência indígena sempre
existiu, mesmo entre diferentes povos, em combate ao colonizador. E para melhor
compreensão desse processo, o autor organiza esse histórico de resistência e luta de acordo
com a teoria do cientista social e militante da causa indígena Sílvio Cavuscens, que a divide a
partir do tipo de intermediação do Estado para com as relações entre indígenas e o Estado.
A primeira fase compreendida por Cavuscens - de acordo com Luciano (2006) - é a do
Indigenismo Governamental Tutelar, que consolidou a tutela através do Código Civil 3.071 e
definia os indígenas como relativamente incapazes, responsabilizando os assuntos indígenas
ao Serviço de Proteção ao indígena e Localização de Trabalhadores Nacionais (SPILTN),
criado em 1910, conhecido como Serviço de Proteção ao indígena (SPI), vinculado ao
Ministério da Agricultura. E a principal função do órgão, segundo Cruz (2018), era garantir a
integração indígena à sociedade branca, dando condições para uma fixação no campo de
mão-de-obra rural, sendo também porta-voz nacional e internacional dos povos indígenas
brasileiros. Os ideais positivistas do período davam à atuação do SPI uma roupagem
“salvacionista” através dos preceitos de valorização da ciência, do homem e da natureza,
mas que tinham o progresso como norteador de suas ações. A tutela, não tinha a intenção
de proteger, como vemos a seguir:
Ana Catarina Zema de Resende, ao escrever sobre as violações dos direitos indígenas
na década de 1960 vai apontar que, a partir do Golpe Militar de 1964, “a visão romântica e
humanitária do SPI sobre os indígenas foi substituída por novos princípios baseados em
‘soberania nacional e desenvolvimento’” (RESENDE, 2015, p. 15) e a necessidade de
progresso e expansão passou a superar o anterior “salvacionismo”. Tanto foi essa superação
que, segundo a autora, em 1962 iniciou-se uma investigação sobre irregularidades no
trabalho do SPI. Os primeiros registros das Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) se
perderam em um incêndio no Ministério da Agricultura em 1967. Naquele mesmo ano
retomaram-se as investigações lideradas pelo procurador Jader Figueiredo. Ela relata que
foram ouvidas testemunhas e analisados documentos das cinco inspetorias do SPI, que
acabaram constatando ações de corrupção, sadismo, chacinas armadas ou executadas pela
manipulação de patologias, torturas psicológicas e físicas, organizadas sob o conhecimento
do SPI e em consonância com a iniciativa privada. Davis (1978), descreve que os resultados
foram apresentados em março de 1968 e o então Ministro do Interior Gal. Albuquerque
Lima (1967-1969)4 tornou públicos os resultados. O que obteve repercussão internacional
através de grandes jornais como o The New York Times (matéria de 21 de março de 1968
assinada por Paul L. Montgomery)5 e o Le monde (matéria de 20 de março de 1968 assinada
por Irénée Guimaraes)6 comovendo ativistas de todo o globo e pressionando o governo
brasileiro:
8
Informações obtidas via Biblioteca da Presidência da República. Disponível em: <https://bit.ly/3gZjNwg>.
Acesso em: 05 jun. 2020.
9
A verdade é que nenhuma missão religiosa, até nossos dias, fez qualquer
esforço para submeter-se ao texto constitucional (artigo 216) que assegura
aos indígenas a posse de terras que ocupam; ao contrário, trataram de
registrar em seu próprio nome não só as terras onde foram instalar-se,
embora as soubessem ocupadas imemorialmente pelos indígenas, como
aquelas para as quais transladaram grupos indígenas (RIBEIRO, 1979, p.
200).
aos moldes de organização social dos brancos e não dos indígenas. Inicia-se, também, um
período de crescimento demográfico, recuperação da autoestima e da identidade indígena.
Segundo Freire e Oliveira (2006), essa atuação ativista trouxe uma mudança de perspectiva,
onde as terras indígenas deixavam de ser vistas como espaço de mão de obra para espaços
de uso definido pela cultura indígena e que teve como catalizador o projeto do Parque
Indígena do Xingu, que era de posse comum a diferentes povos e tinha seus limites definidos
a partir da organização indígena. O que também desencadeou aumento nos movimentos
pela regularização das terras, tendo sua oficialização no Decreto 76.999, de 8/1/1976,
seguido de outros como o Decreto 88.118 de 1983 e o Decreto 94.945 de 1987 que segundo
os autores foi significativo por suas mudanças em processos decisivos com a inclusão de
outros órgãos governamentais. No entanto, a principal conquista para a regularização das
terras foi a Constituição Federal de 1988 que mudou a política integracionista e definiu as
terras indígenas como espaços que possibilitaram a reprodução desses povos, sendo elas
necessárias à sua preservação física e cultural e estando seu uso restrito aos seus costumes e
tradições.
Segundo Luciano (2006), há ainda o terceiro período denominado Indigenismo
Governamental Contemporâneo, que relaciona os acontecimentos pós Constituição de 1988,
caracterizados pela retomada do estado em funções que eram delegadas à FUNAI ou ONGs
regionais. Como por exemplo a saúde indígena que passa a ser responsabilidade da
Fundação Nacional da Saúde (FUNASA) vinculada ao Ministério da Saúde. O ganho foi um
diálogo mais próximo do Estado e da comunidade internacional, como a relação com a
Conferência Mundial sobre Meio Ambiente no Rio de Janeiro em 1992 que abriu portas para
o investimento público em diversos projetos, contando com a participação de indígenas em
sua formulação, quebrando oficialmente o conceito de tutela (apesar de diversas políticas
públicas ainda se manterem em exercício com pouca ou nenhuma participação indígena em
sua proposição e execução). Uma crítica do autor é a de que:
Além dessa dificuldade de diálogo interno, Luciano (2006) descreve que há também
outros problemas como a articulação política a nível nacional, garantir a resistência indígena
às promessas de felicidade através da competitividade e do acúmulo de riqueza individual
que nada compactuam com os ideais de bem-estar coletivo da cultura indígena, além de
estimular a independência das comunidades em relação a recursos que poderiam ser
resolvidos através de soluções internas (após séculos de tutela). De modo que todos os
desafios e necessidades atuais incorrem para a necessidade maior de manter os direitos já
adquiridos e lutar pelos que ainda necessitam de conquista.
Por isso, Luciano (2006) apresenta a importância da representatividade indígena em
todas as instâncias como povos presentes e atuantes na sociedade brasileira. É preciso olhar
para as políticas indigenistas e a visão de boa parte da sociedade com as lentes do conflito
interétnico - já comentado - exposto por Ribeiro (2015). A população indígena precisa de
espaço para ser quem é ser retratada por seus próprios olhos. Necessidade exposta pelo
chefe dos Suruí - povo vizinho aos Cinta Larga e aos Uru-Eu-Wau-Wau em Ji-Paraná - RO -
12
Anine Suruí em discurso exposto entre junho e julho de 1990, numa manifestação cultural
chamada “O indígena / Ontem, Hoje, Amanhã” no Pavilhão da Criatividade do Memorial da
América Latina em São Paulo, SP:
[...] Eu queria que meu povo vivesse, agora, o que ele vivia antigamente.
Mas eu não quero que ele viva como o branco vive. Por exemplo, como os
missionários, que entram nas terras dos indígenas e vão mudando a cultura
do indígena. E muda. Isso não é mentira. Muda. As pessoas que conhecem,
as pessoas que já trabalharam com indígena sabem que muda. Os
missionários chegam a fazer medo para os indígenas, não é? Não pode
fazer isso e aquilo, é pecado, é pecado, é pecado. Aí o indígena vai ficar com
medo, como criança tem medo. Criança tem medo de barata. Eu falo para o
meu filho: “Essa barata vai te morder”. Tá certo, todo mundo sabe que
existe Deus. Não é só branco que sabe. Nós também sabemos. (TASSARA,
1991, p. 36).
9
Dados obtidos através do site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Disponível em:
<https://censo2010.ibge.gov.br/sinopse/index.php?dados=8>. Acesso em: 05 abr. 2020.
10
Informação obtida via site do Tribunal Superior Eleitoral. Disponível em: <https://bit.ly/3h1qm1u>. Acesso
em: 05 jun. 2020.
13
que não os têm. Há muito mais entre os indígenas e nós do que sonha a
nossa vã filosofia.
Como visto anteriormente, grande foi a luta dos povos indígenas na devida ocupação
de espaços na sociedade (seja no âmbito político, social, geográfico ou educacional). É
relevante averiguar as conquistas feitas no âmbito jurídico e estatal, como a criação de
organizações governamentais (FUNAI e outras), explanada no tópico anterior. Contudo,
apesar de todo o êxito alcançado nas últimas décadas, a imagética indígena ainda segue as
heranças pejorativas dos séculos passados, visto que a historiografia estabelecida até aqui
vem sendo desenvolvida sob uma base colonialista e elitista. Infelizmente, a recepção do
indígena e toda sua complexidade cultural, não foram processadas de maneira concreta e
condigna na mente do brasileiro moderno. Pois como diria Silva e Grupioni (2004, p. 29):
11
É notória também a visão estipulada sobre diversas etnias com o surgimento do Darwinismo Social no século
XIX. Partindo de um pressuposto pseudocientífico, os estudos realizados nesse período criaram sérias
problemáticas na imagética não só do indígena, como do judeu e do negro. De forma consoante, Grupioni
(2005, p. 62) afirma que: “Como sabemos, as teorias raciais e o evolucionismo, que impregnaram as ideologias
sobre o indígena no século passado, deixaram raízes de longa duração em nossa memória social, que tanto
remetem para a busca de um passado ‘original’ como para questões atuais sobre o lugar da identidade étnica
na cultura brasileira.
12
Como complementa Almeida (2013, p. 399), “A trajetória acadêmica de John Monteiro caminha junto ao
desenvolvimento dessa historiografia que passou a considerar os indígenas como sujeitos históricos,
questionando as antigas concepções que lhes reservavam o lugar de vítimas passivas do processo de conquista
e colonização”. Traçar a visão do indígena como agente histórico ativo e protagonista na construção da história
do Brasil, é um passo fundamental da historiografia, no que tange a desconstrução das imagéticas negativas
sob os povos indígenas.
15
sou indígena. Meu pai é amazonense. E a malandragem. Nada contra, mas a malandragem é
oriunda do africano. Então, esse é o nosso 'cadinho' cultural”13 (grifo nosso).
Por conseguinte, Novaes (2005) expõe a segunda parte de brasileiros, os quais
admitem a demarcação de terras, todavia, também afirmam a relevância de criar-se
ferramentas de desenvolvimento econômico dentro das terras indígenas. Em suma, tal
grupo de indivíduos crê numa ‘modernização do indígena’. Eles acreditam que o indígena
deve aderir formas de se intercalar na sociedade. E como exemplo prático desse grupo,
novamente recorremos ao posicionamento político e econômico da atual regência
governamental. Diversas pautas são direcionadas para que o indígena se torne um
fazendeiro, um minerador. Apesar de ser ‘positivo’ o incremento de novas técnicas de
desenvolvimento agropastoril, o que se presencia cada vez mais é a exclusão das formas
tradicionais de agir da cultura indígena. Valoriza-se mais o entrelaçamento do indígena aos
setores econômicos do que de fato a emancipação de sua cosmovisão cultural (SILVA;
GRUPIONI, 2004). Consequentemente, a própria figura do indígena como ser da terra, é
deturpada. Em uma transmissão às redes sociais, realizada pelo atual Presidente da
República, Jair Messias Bolsonaro, no dia 23 de Janeiro de 2020, ele afirma: “indígena está
evoluindo, cada vez mais é ser humano igual a nós” 14 Pergunta-se, pois, não seria o indígena
uma entidade humana em seu ambiente cultural junto às suas formas de agir e pensar?
Nesse viés, é notório averiguar que os indivíduos pertencentes aos dois primeiros
grupos, são os típicos sujeitos reprodutores dos imaginários sociais. Primeiro, no que
concerne a concepção de “[...] um indígena genérico, o qual vive nu e na mata, cultua Tupã e
Jaci e fala tupi” (SILVA; GRUPIONI, 2004). Mas esse indígena genérico não existe no sentido
pleno, pois o que predomina são povos distintos e com identidades próprias, com formas de
pensar e agir distintas. Segundo fator que expõe o imaginário social desses indivíduos, é a
caracterização de que a cultura indígena se encontra parada no ‘tempo’, não desenvolve
‘progresso’ capital e não é ‘moderna’ (GRUPIONI, 2005). Para nós, contemporâneos da
civilização capitalista, atribui-se o progresso à riqueza material. Todavia, nas palavras de José
Luíz, chefe xavante, “O branco não sabe o que é natureza, não sabe o que é o rio, não sabe o
que é a árvore, não sabe o que é montanha, não sabe o que é mar. Para vocês, o que está
13
Trecho referente a fala do vice-presidente Hamilton Mourão (2018-2022). Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=9nkPFUQ14W4&t=25s>. Acesso em: 06 jun. 2020.
14
Matéria na íntegra sobre a fala do Presidente Jair Messias Bolsonaro em uma live no dia 23 de Janeiro de
2020. Disponível em: <https://bit.ly/2zb5SSF>. Acesso em: 07 jun. 2020.
17
A primeira é que os indígenas são modernos no sentido que eles têm uma
cultura, eles têm uma sabedoria, que não é velha, não é arcaica, não é
atrasada, não está atrás da nossa, mas é contemporânea a nossa e tem o
mesmo valor, e um valor sob certos aspectos maior que o nosso (LEVÍ-
STRAUSS, 1989, p. 46).
Assim, com toda essa homogeneização, ensina-se a mais de 150 anos que os
indígenas são apenas um povo, os quais não tem etnia ou nos quais não há diversidade e
que estão presos ao passado na Florestas Amazônica. Claramente, essa abordagem que
ainda existe, vai de encontro ao que a Lei 11.645 ordena, constituindo assim, um desafio às
instituições de ensino.
Um exemplo dessa dificuldade de aplicação, que representa bem a situação de
muitas escolas do país, é a Escola Estadual Prof.° Antônio Castro Monteiro, localizada em
Macapá, AP (região amazônica, inclusive), que procura desde 2017 aplicar essa norma
através de discussão da temática e estudos dirigidos na área das Artes e da Arqueologia.
Todavia, os líderes encontraram dificuldades (MIRANDA, PASTANA, FERRO, 2017). Eles
perceberam que a necessidade de ter que haver uma lei sobre ensino indígena, já expõe a
existência de uma barreira consolidada no país. Além disso, viram que muitos professores
não estavam aptos para ensinar a temática da forma como a Lei 11.645 ordena (MIRANDA,
PASTANA, FERRO, 2017).
Assim, ainda em relação aos educadores, nota-se que nessa instituição realizou-se
uma pesquisa com o corpo docente, sobre o assunto, e que gerou alguns indicativos.
Quando questionados sobre o conhecimento da lei 11.645, apenas 58% a conheciam e
superficialmente. No tocante à frequência com que abordavam o assunto em sala de aula,
14% nunca haviam abordado, 36% sempre abordavam e 50% apenas em datas importantes
ou comemorativas (MIRANDA, PASTANA, FERRO, 2017).
Por último, sobre a dificuldade que possuíam para expor a temática, 25% não
apresentavam maiores complicações, 8% alegavam falta de interesse dos alunos e 50%
alegavam falta de material didático (MIRANDA, PASTANA, FERRO, 2017). Portanto, nota-se
que a capacitação dos professores também é uma barreira à aplicação da Lei 11.645 e de
forma secundária e pontual, com base no respondido por alguns professores, a falta de
material didático e a falta de interesse dos alunos também o são.
Portanto, a herança brasileira de currículos escolares desinteressados nas questões
indígenas, vem do proposital detrimento da cultura indígena em relação à cultura do homem
branco, por parte dos governantes, desde o século 19 e constitui barreira à aplicação da Lei
11.645. Além disso, a falta de preparo dos professores é outro empecilho ao ensino correto
das temáticas indígenas dentro das salas de aula.
21
O currículo nacional preza por legitimar e preservar a cultura (APPLE, 1999). Nesse
sentido o governo brasileiro, estipula através da BNCC (Base Nacional Comum Curricular), na
área de Ciências Humanas e Sociais Aplicadas, da qual a história é integrante, propostas para
o desenvolvimento do aluno no Ensino Fundamental e no Ensino Médio, promovendo
competências éticas e de aprofundamento epistêmico. Além de outorgar, em especial no
Ensino Médio, o domínio sobre conceitos semióticos e abstratos – capacidade de dialogar e
elaborar hipóteses; entender os fenômenos de tempo e espaço; as limitações de território e
fronteira; o indivíduo como integrante da sociedade (como ser político, ético e trabalhador)
e sua interação com o ambiente e natureza – com o fito de estabelecer, no estudante,
fundamentos polissêmicos e indispensáveis para uma construção identitária, como indivíduo
participante da sociedade e respeitoso às diferenças.
No 7° e 8° ano do Ensino Fundamental o estudante tem um contato mais profundo
com a temática indígena. De acordo com a BNCC, a unidade temática prevista no 7° ano é a
organização do poder e as dinâmicas do mundo colonial americano, logo o objeto de
conhecimento é a conquista da américa e sua formação política, os conflitos (dominação e
conciliação) entre indígena e europeu, estruturas indígenas e resistências, por fim, o
movimento expansivo colonial da América portuguesa. É válido ressaltar que as habilidades
(EF07HI08; EF07HI09; EF07HI10; EF07HI11; EF07HI12) procuram descrever, analisar e
identificar as vicissitudes da América, isto é, processos e transformações das sociedades
americanas, especificamente no período colonial, considerado a alteridade étnico-racial e
étnico-cultural. Diante disso, no 8° ano, o estudo indígena se faz presente novamente na
unidade temática do Brasil no século XIX, sobretudo o objeto de conhecimento são as
políticas de extermínio do indígena durante o período imperial, tendo como habilidade a
identificação das políticas do império contra o indígena.
Substancialmente é proposto pela BNCC, além dos conceitos éticos e individuais, “o
respeito aos direitos humanos e à interculturalidade, e o combate aos preconceitos de
qualquer natureza” 15. Por esse motivo, ao tratar-se do ensino obrigatório da temática
indígena nas escolas brasileiras, é pertinente tomar como diretriz o objetivo da BNCC, a
15
Para mais informações sobre a BNCC, acessar: <http://basenacionalcomum.mec.gov.br/>. Disponível em:
<http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/#medio/a-area-de-ciencias-humanas-e-sociais-aplicadas>.
Acesso em: 08 jun. 2022.
22
16
Silva e Grupioni (2004, p 483 e 484) definem preconceito como: “[...] um conceito antecipado, de uma
opinião que se forma sem conhecimento total dos fatos e sem a preocupação de uma reflexão mais apurada
sobre o assunto. ” E [...] “discriminação é, neste sentido, um tratamento desfavorável dado arbitrariamente a
certas categorias de pessoas ou grupos, que pode ser exercido de forma individual ou coletiva, sobre um
indivíduo ou um grupo de pessoas. A discriminação pode acontecer em dois sentidos: no trato desigual dado a
indivíduos ou grupos que são iguais. Por exemplo, a discriminação que os negros sofrem no preenchimento de
uma vaga de emprego, por haver candidatos brancos. E há também o trato igual dado àqueles que são
desiguais. Como por exemplo, uma escola que recebe uma clientela variada, e nivela todos os alunos pelo nível
dos que têm uma condição socioeconômica melhor, ignorando aqueles que são carentes e considerando todos
iguais”. Discriminação essa que pode gerar eventos de hostilidade, cenários conflituosos e violentos,
geralmente opressão por parte de um grupo dominante.
23
mencionado no tópico acerca do imaginário social. Para Silva (2002, p. 46) a propagação
dessa imagem indígena parte principalmente dos meios de comunicação (mídia), que
veiculam um biotipo que é caracterizado dos povos nativos da Região Amazônica e do
parque do Xingu; as escolas são responsáveis por lembrarem um indígena genérico sem
individualidades, memorados como indivíduos do passado, do “Descobrimento”, que estão
fadados a serem engolidos pelo desenvolvimento da sociedade capitalista (SILVA, A.;
GRUPIONI, 2004). Destarte, os autores dos PCNs (Parâmetros Curriculares Nacionais)
conscientes da generalização dos povos indígenas, enfatizam a educação como agente
operante de tolerância e respeito às diferenças17, sejam “culturais, linguísticas, etnorraciais,
regionais ou religiosas”, então é definida a “pluralidade cultural” em seu contexto
educacional (ABREU; SOIHET, 2003, p 127). Em complemento Alves (2015, p. 51) analisa que,
17
Segundo Alves (2015, p. 47), a educação tem caráter construtivo e serve como um “instrumento de
reprodução ou de transformação da sociedade”. Sendo uma instituição social (conceito abordado por
Durkheim), é responsável por manter a consciência coletiva e a ordem social, tendo um aspecto político e
formativo de sociedade. No que tange, a uma educação de emancipação ou subjugação, Abreu e Soihet (2003,
p. 128) analisam que, “as identidades coletivas são construções históricas e relacionais, e dependem, em cada
caso, das formas históricas em que as fronteiras entre nós e os outros se constroem, se reproduzem ou se
modificam”.
24
discente. Desta forma, será possível ao estudante reconhecer “a realidade e a história das
nações indígenas brasileiras", reconhecendo que faz parte da pluralidade cultural, haja vista
que, o discurso hegemônico (não democrático) “ainda não foi capaz de soterrar
completamente a complexidade das identidades étnico-sociais brasileira” (LAMAS;
MAYRINK; VICENTE, 2016, p. 135).
A historiografia sobre a temática indígena no Brasil, é um fator determinante para a
má compreensão da realidade indígena, para Portela (2009, p. 152), a dissertação de Von
Martius, Como se deve escrever a história do Brasil (1845), foi a referência que norteou por
muito tempo a história indígena. Martius, contesta que o indígena era “um estado primitivo
do homem”, “e que de um estado florescente de civilização, decaiu para o atual estado de
degradação e dissolução”, e por ser o “resíduo de uma perdida história”, só tinha sua
relevância por ter um caráter exótico, e por seu exotismo devia ao historiador uma
explicação de como foram originadas essas “ruínas de povos”. Nessa lógica, Varnhagen em
História Geral do Brasil (1978), assevera a ideia de que para os indígenas não existe história,
apenas etnografia18. Por conseguinte, Abreu e Soihet (2003 p. 27) observam que essa visão
historiográfica, foi fundamental para os indígenas “saírem da história”, tendo em vista que
os indígenas do Brasil foram “absolvidos pelo sistema colonial como vítimas indefesas,
aculturaram-se, deixaram de ser indígenas”. Não é de forma oposta, que no final do século
XIX até a Era Vargas, a história, “disciplina formadora dos cidadãos” 19, tinha como prioridade
estimular uma consciência nacionalista e patriota do civil brasileiro, com o intuito de
fortalecer o Estado. E, para tanto, deveria assumir um romantismo do indígena frente ao
português. O indígena foi um herói, foi bravo e foi guerreiro, caracterizado como uma figura
do passado, não faria mais parte do arquétipo patriota do brasileiro, “a sua existência
contemporânea” foi anulada (ABUD, 1998). Além disso, Grupioni e Silva (2004, p. 488)
destacam que historicamente, essas sociedades são tratadas pela negação de traços
culturais, ou seja, “falta de escrita, falta de governo, falta de tecnologia”. Em segunda
18
Para Carmem Mattos (2001, p. 53), etnografia vem do grego, “graf(o) significa escrever sobre, escrever sobre
um tipo particular - um etn(o) ou uma sociedade em particular. [...]. Etnografia é a especialidade da
antropologia, que tem por fim o estudo e a descrição dos povos, sua língua, raça, religião, e manifestações
materiais de suas atividades, é parte ou disciplina integrante da etnologia é a forma de descrição da cultura
material de um determinado povo”. Para mais informações ver o artigo, “A abordagem etnográfica na
investigação científica”. Disponível em: <http://books.scielo.org/id/8fcfr/pdf/mattos-9788578791902-03.pdf>.
Acesso em: 07 jun. 2020.
19
Conceito abordado pela Bittencourt (1993, p. 220) em sua tese: Livro didático e conhecimento histórico:
uma história do saber escolar. Disponível em: <doi:10.11606/T.8.2019.tde-28062019-175122.>. Acesso em 18
fev. 2021.
25
instância são descontextualizadas, pois as fontes em grande parte são “cartas, alvarás,
relatos de cronistas e viajantes” que foram fragmentados e adulterados e apresentados
como vestígio histórico - fatos etnográficos - retirados do seu contexto que são apresentados
e aceitos por seu viés exótico. Portela (2009, p. 155, grifo nosso) considera a
“Educação das Relações Étnico-Raciais” 20, da qual a história indígena é integrante (ARAUJO,
2015). Em concordância Abreu e Soihet (2003, p. 131) advertem que os conteúdos propostos
por essa nova perspectiva pluralista e multicultural, precisam ser de domínio dos docentes
atuantes em colégios e escolar, e estes devem estar intimamente ligados a academia
(universidades) que propicia discussões historiográficas. Caso não exista esse contato íntimo
e contínuo, segundo as autoras, existe o perigo da “simplificação de algumas formulações
historiográficas complexas nos livros didáticos, por exemplo, muitas vezes as transforma em
estereótipos esvaziados de significação acadêmica ou pedagógica”. Dessa forma, a temática
indígena tem que ser abordada em seu valor soberano e diversificado, já que o ambiente
acadêmico estimula a pesquisa e disponibilidade da mesma. O repertório do docente é
percebido através das atividades propostas, dos esclarecimentos teóricos e da abrangência
dos elementos expostos, pois é o docente que determina (ao menos em sala de aula) a
relevância do conteúdo apresentado (ALVES, 2015, p. 48), com o intuito de estimular novos
saberes.
Portanto, existe uma inadiável necessidade de aproximação dos professores e
profissionais da educação com os especialistas e pesquisadores da temática indígena, visto
que essa relação irá estimular o conhecimento sobre os povos indígenas, além de intensificar
a produção de subsídios didáticos sobre a história indígena - que constantemente se
aperfeiçoa - possibilitará uma melhor abordagem em sala de aula, inibindo o papel
secundário e genérico da identidade indígena na história do Brasil (SILVA, 2002, p. 54). O
conteúdo indígena estudado pelo discente e apresentado pelo professor, deve ser capaz de
promover reflexão, estimular interesse e incitar questionamentos a respeito das diferenças e
semelhanças das tradições, das culturas, das superstições, da cosmogonia indígena entre os
próprios povos indígenas e entre a sociedade na qual o aluno está inserido (ALVES, 2015, p.
48). Em síntese, a necessidade do ensino da história indígena em sala de aula não se faz pela
ausência de lei21 ou pela ausência da história indígena, mas pela debilidade e penúria
20
De acordo com Araujo (2015, p. 127) Educação das Relações Étnico-Raciais, “é o conjunto de documentos
produzidos em âmbito legal relacionados ao ensino de história e cultura afro-brasileira, africana e indígena”.
21
A lei tem o direito de ser inteirada, adverte Ferraz (2013, p. 39), “Não é por estar escrito na Lei que um
direito se efetiva. Mas por estar na Lei, um direito abre o universo da reivindicação política”. Ver: FERRAZ, M.
Estado, sociabilidade e educação. In: GOUVEIA, André; SOUZA, Angelo; TAVARES, Taís (Orgs.). Políticas
educacionais: conceitos e debates. Curitiba: Appris, 2013, p. 23-49.
27
epistêmica, por parte de alguns docentes, em explorar caminhos dantes não traçados pelo
ensino de história indígena no Brasil.
Considerações finais
progresso dos governos não prioriza o suporte a tais assuntos como uma necessidade real e
urgente, o que torna a aplicação da lei insuficiente, tendo como principal dificuldade o
próprio preconceito existente, materiais didáticos inadequados, além do preparo das
instituições de ensino e dos profissionais envolvidos na ministração desses conteúdos.
Sem dúvida existem diversos pontos envolvidos nas possíveis soluções para a
defasagem apresentada, no entanto, vê-se já avanços sobre a necessidade e é preciso dar
sequência aos mesmos. A começar por projetos que aproximem os educadores nas
instituições básicas de ensino das instituições de ensino superior, que desenvolvem material
de pesquisa sobre o assunto indígena, isso é claro considerando as condições de trabalho
desses educadores e suas necessidades estruturais. Para isso é preciso considerar a
orientação desde a BNCC até o Projeto Político Pedagógico (PPP) de cada escola, além do
material didático e do Plano de Ensino das turmas de acordo com o que a BNCC prescreve. É
preciso que as matérias que possuem interdisciplinaridade sobre o assunto tenham o
suporte adequado desde a formação de seus profissionais, até a adequação de profissionais
formados e do material didático utilizado por estes, considerando as necessidades de cada
região e as diferenças dos povos indígenas de cada uma delas, de modo que os alunos
tenham ciência não apenas da causa indígena, mas da situação dos povos próximos a eles ou
nativos de sua região.
A ideia do senso comum sobre os povos indígenas vem sendo construída desde o
século XVI, de modo que a desconstrução dos equívocos nesse pensamento certamente não
há de ser rápida, mas nem por isso deixa de ser urgente. Considerando as diversas
necessidades envolvidas no processo, percebe-se que é um trabalho de muitas frentes e que
começa com a necessidade da urgência e o entendimento do que precisa ser mudado,
responsabilidades essas que certamente tem princípio na educação básica.
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2021.
29
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