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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO – UFES

PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO EM DIREITOS HUMANOS

NILSON DE JESUS OLIVEIRA LEITE JÚNIOR

ATIVIDADE AVALIATIVA DA DISCIPLINA

ESPÍRITO SANTO
2023
NILSON DE JESUS OLIVEIRA LEITE JÚNIOR

ATIVIDADE AVALIATIVA DA DISCIPLINA

Trabalho apresentado à disciplina


Questão Indígena, do curso de
Especialização em Educação em Direitos
Humanos da Universidade Federal do
Espírito Santos – UFES.
Prof: Dra. Carolina Llanes Guardiola.
Tutora à distância: Dra. Marciane Cosmo
Louzada.

ESPÍRITO SANTO
2023
1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como objetivo discutir como a temática indígena é


apresentada em um livro didático. Dessa forma, interessa compreender como a
temática indígena sobre os povos indígenas e a estética são apresentadas nas
narrativas. Essa análise se torna importante na medida em que consideramos a
centralidade dos livros didáticos no processo de ensino-aprendizagem e o imaginário
existente acerca da população indígena.
Para Correia e Maia (2021), a identidade étnica dos povos indígenas do Brasil
passa por constantes questionamentos pela sociedade não indígena. Isso decorre
da representação social que associa os indígenas a figuras do passado, como
selvagens, ancoradas em um conhecimento prévio que lhe atribui um status de
sujeito primitivo. Ademais, é necessário discutir e problematizar tais narrativas, pois,
como mencionado pelos autores supracitados, “o conhecimento desmistifica
estereótipos e faz com que o indígena possa ser respeitado em sua cultura e, ao
mesmo tempo, reconhecido como sujeito de direitos [...]”.
No tocante aos livros didáticos, estes podem ser descritos como ferramenta
para o trabalho docente, que possibilita aos educandos o acesso às informações e
ao conhecimento. Assim, como descrito por Reis, Barbosa e Rodrigues (2012), é o
livro didático quem direciona o ensino e, dessa forma, é o principal veiculador do
conhecimento sistematizado. Portanto, quando são veiculadas representações
pautadas em estereótipos negativos dos povos indígenas, os livros didáticos
possibilitam a manutenção de imagens preconceituosas e estereotipadas acerca de
tal população no ambiente escolar.

MATERIAL E MÉTODOS

Trata-se de um estudo descritivo a partir de dados secundários, com auxílio


de uma revisão bibliográfica, que tem como material base para consulta e análise o
livro Historiar, de autoria de Gilberto Coltrim e Jaime Rodrigues, destinado ao 7° ano
do Ensino Fundamental – Anos Finais. Inicialmente, o livro foi acessado no formato
PDF e utilizou-se o recurso localizar (Ctrl + f) para buscar os termos “povos
indígenas”, “índio” e “indígenas”. Na sequência, foi analisado o contexto em que as
palavras-chave apareciam e a estética apresentada
NARRATIVAS SOBRE OS POVOS INDÍGENAS EM LIVROS DIDÁTICOS

Um primeiro aspecto a ser observado no livro selecionado, é que não é


apresentado um tópico específico sobre os povos indígenas no Brasil. Isso chamou
a atenção, pois o livro possui capítulos específicos para tratar do processo de
colonização do país. Em se tratando de imagens dos povos indígenas, se destaca a
imagem utilizada na capa do livro, mas que, todavia, não são apresentadas
referências quanto etnia pertencente. Como discutido por Lemos (1999), nos livros
didáticos os povos indígenas são seres invisíveis. Não obstante, quando
referenciados eles são apresentados de forma totalmente genérica, sem que haja
identificação étnica, suas línguas distintas, espaços diferentes, modos próprios de
organização social e suas culturas e costumes.
Dessa forma, a busca pelas palavras-chave selecionadas aponta que são
feitas menções em distintos momentos, ao longo de todos os capítulos, sem que
haja, todavia, uma problematização aprofundada acerca da temática. Destaca-se
apenas na seção do manual do professor, intitulada “5.2. Povos indígenas” em que é
problematizada a relação entre o Estado brasileiro e as populações indígenas.
Assim, é posto que:

Ao longo de quase todo o século XX, as relações entre o Estado brasileiro e


os povos indígenas foram marcadas por políticas que visavam assimilar e
integrar aqueles povos culturalmente diferentes à sociedade nacional.
Apesar do viés protecionista, essa política negava aos indígenas seu direito
à diferença e à identidade cultural. Com a promulgação da atual
Constituição Federal (1988), operou-se uma transformação radical nas
relações jurídicas entre o Estado e as populações indígenas, que
conquistaram o direito de permanecer como indígenas. (COLTRIM;
RODRIGUES, 2018, p. XLVII).

Além disso, também é feita menção à Lei n° 11.645, de 10 de março de 2008,


que torna obrigatório o estudo da cultura e da história indígena no âmbito da
educação. Dessa forma, a referida lei postula que:

O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos


aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população
brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história
da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil,
a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da
sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social,
econômica e política, pertinentes à história do Brasil. (BRASIL, 2008, n.p.).

E, na sequência os autores ainda acrescentam que:

Ao inserirmos esses conteúdos, temos como objetivo valorizar a


diversidade cultural dos povos indígenas e combater o preconceito
etnocêntrico. O pressuposto da nossa mensagem é que a espécie humana
engrandece sua identidade quando promove o respeito e a valorização da
pluralidade cultural. (COLTRIM; RODRIGUES, 2018, p. XLVII, grifos meus).

Apesar da problematização realizada, a análise do conteúdo do livro didático,


sobretudo as partes que também constam na versão para os estudantes, não se
mostram suficientes para contemplar o objetivo proposto pelos autores. Vale
mencionar que, como salientado por Grupioni (1996), os livros didáticos têm o poder
de fazer surgir ou desaparecer os povos indígenas na história do Brasil. Desta
maneira, quando relegados ao passado, os livros didáticos contribuem difundir
concepções errôneas e, além disso, não preparam os educandos para compreender
a presença dos povos indígenas no presente e no futuro.
Por último, retomando o pensamento de Freire (2001), o autor advoga que
com auxílio dos livros didáticos, são transmitidas em sala de aula imagens que estão
na base das representações de cada brasileiro sobre os povos indígenas. Assim,
rever a forma como os povos indígenas estão sendo abordados nos livros indígenas
está relacionado com a luta e o compromisso de efetivação dos seus direitos. Como
descrito por Santos (2005, p. 78):

[...] em princípio, com a CF de 1988, os povos indígenas que vivem no


território controlado pelo Estado brasileiro passaram a ter os seus direitos
fundamentais como sociedades diferenciadas. Isto foi importante para
garantir a sua reprodução biológica e a continuidade de suas línguas e
tradições.

Em síntese, apesar da observação realizada na seção comentada do


professor, o livro em questão apresenta tímidas questões sobre os povos indígenas,
em sua maioria generalizadas, sem ater às especificidades de sua heterogeneidade.

CONCLUSÃO
É possível concluir esta reflexão que apesar das conquistas advindas das
reivindicações indígenas e da atuação em coletivos e movimentos sociais, em prol
da efetivação de seus direitos, no tocante à educação é necessário avançar no
sentido de se efetivar o disposto na lei n° 11.645/2008.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Lei n° 11.645, de 10 de março de 2008. Disponível em:


https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11645.htm. Acesso
em: 10 jul. 2023.

CORREIA, S. B.; MAIA, L. M. Representações sociais do “ser indígena”: uma análise


a partir do não indígena. Psicologia: Ciência e Profissão, v. 41, e221380, p. 1-15,
2021. doi: https://doi.org/10.1590/1982-3703003221380

COTRIM, G.; RODRIGUES, J. Historiar, 7° ano: ensino fundamental, anos finais. 3


ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2018.

FREIRE, J. R. B. A representação da escola em um mito indígena. Teias, v. 2, n. 3,


jan./jun. 2001. Disponível em:
https://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/revistateias/article/view/23877/16850.
Acesso em: 10 jul. 2023.

GRUPIONI, L. D. B. Livros didáticos e fontes de informação sobre as sociedades


indígenas no Brasil. In: SILVA, A. L. S.; GRUPIONI D. B., (Orgs.). A questão
indígena na sala de aula. Novos subsídios para professores de 1º e 2º graus.
Brasília: MEC, 1995, pp. 407-419.

LEMOS, C. M. Os índios invisíveis: o ensino de História sem etnicidade. In: IV


Encontro Nacional de Pesquisadores do Ensino de História-Anais. Ijuí: Editora
Unijuí, 1999.

REIS, E. A.; BARBOSA, R. B.; RODRIGUES, E. A representação do índio no livri


didático. In: Anais da Semana de Pedagogia da UEM, v. 1, n. 1, 2012. Maringá,
PR: UEM, 2012.

SANTOS, S. C. Direitos Humanos e o direito dos povos indígenas no Brasil. Ilha


Revista de Antropologia, v. 7, n. 1, p. 73-82, 2005.

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