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1 INTRODUÇÃO
O objetivo principal deste trabalho é fazer uma reflexão acerca da importância de
uma mudança nos paradigmas no que se refere ao estudo sistemático de questões étnicas
dentro de um país com características colonial, e com uma herança escravocrata, com
sérios problemas de se reconhecer como tal, sendo necessário apelar para a sensibilidade
dos futuros educadores como uma forma de se reverter o atual quadro de desigualdade
racial sob o qual vivemos.
O presente trabalho trata-se de uma pesquisa bibliográfica feita a partir de textos
extraídos de artigos científicos, os quais abordavam temas relacionados a estudos sobre
entidades dentro do âmbito escolar.
Para isso foi trazido à tona a seguinte questão, qual a importância do conceito
de raça e etnia dentro do currículo escolar e nos anos iniciais do ciclo básico (antiga
Pré-Escola)? Por se tratar de uma fase em que o ser humano se encontra em formação,
tanto da parte biológica quanto da parte cognitiva de formação do caráter e o pensamento
crítico.
Dado o contexto histórico de formação do nosso país, o qual descende de uma
herança escravocrata pouco explorada e comentada dentro de nossa própria sociedade,
percebe-se a urgência em se debater tais temas, tanto nas universidades nas formações de
profissionais da área da educação, quanto nos próprios anos iniciais do ciclo básico
(antiga Pré-Escola), pois através disso podem se obter mudanças significativas dentro do
contexto social, político e econômico de nosso país.
Sendo um tema ainda pouco explorado dentro do meio acadêmico, foram
utilizados dados e pesquisas extraídos de artigos analisados em anos superiores, como
raça e etnia no currículo escolar no ensino fundamental.
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2 A IMPORTÂNCIA DO CONCEITO DE RAÇA E ETNIA DENTRO DO


CURRÍCULO ESCOLAR NOS ANOS INICIAIS DO CICLO BÁSICO
(ANTIGA PRÉ-ESCOLA)
Para entendermos mais a respeito da importância do conceito de raça e etnia dentro
do currículo escolar nos anos iniciais do ciclo básico, é importante sinalizar a Lei de n°
10.639/03 que altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as
diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de
Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras
providências. Introduzida na Educação Básica, sancionada durante o período de vigência
do governo de Luiz Inácio Lula da Silva em março de 2003. O Plano Nacional de
Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações
Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana que traz
em sua publicação, dois relevantes parágrafos que apontam sentidos e procedimentos
compreendidos como potência para uma educação antirracista que são eles:
§1° O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o
estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a
cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional,
resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política
pertinente à História do Brasil.
§2° Os conteúdos referentes à História da África e Cultura Afro-Brasileira
serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas
de Educação Artística e de Literatura e História Brasileira. (MEC/SECADI,
2013, p.75)

2.1 Definição de “raça”


O termo “raça” quando utilizado com aspas, traz o sentido que diferencia a questão
do determinismo biológico utilizada nas teorias racialistas do século XIX.
O determinismo biológico, ligado ao darwinismo, foi elaborado para explicar por
que algumas raças étnicas seriam vistas como superiores às demais. O determinismo
biológico foi utilizado como pretexto para o nazismo, onde Adolf Hitler pregava a
superioridade da "raça ariana" sobre as outras. Esses estereótipos foram usados para a
dominação social utilizando a falsa desculpa de argumentação científica.
O termo “raça” era usado para identificação baseada em caracteres físicos
como a cor da pele.” Seguindo os referenciais para classificar as relações
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sociais que entrelaçam esse conceito foi designado o vocábulo “raça” onde será
a partir daqui tomada de uma perspectiva sócio-histórica. Ou seja, é necessário
que se entende por raça a construção social tramada nas enfadonhas relações
entre brancos e negros. (FELIPE; FRANÇA, 2005 apud SILVA, 2014, p. 12).
Entretanto, o conceito de “raça” utilizado neste trabalho está mais ligado à
categoria analítica, social, política, discursiva e sociológica de acordo com o suporte
teórico discutido.
Seguindo esse mesmo raciocínio observamos abaixo o que nos dizem Carneiro e
Souza (2019) a respeito do conceito de “raça” onde eles referenciam outros especialistas
que dialogam acerca desse mesmo conceito.
O debate teórico e conceitual de “raça” e racismo está imbricado e intrínseco.
O conceito de “raça”, como qualquer outro conceito, não está imune a críticas.
Para Hall (2013) a raça é uma construção discursiva, um significado flutuante.
Raça é um sistema cultural e como sistema cultural é fruto de uma construção
e como construção, poder-se-á sofrer processos de desconstrução. Portanto,
tratamos o conceito de “raça” não no sentido biológico, pois fica entendido de
acordo com Munanga (2012) que, cientificamente estamos diante de uma
caducidade do conceito biológico, porém não invalidada na perspectiva
sociológica, política e social. (CARNEIRO; SOUZA, 2019)
A seguir observemos a definição de etnia.

2. 2 Definição de etnia
Após explorarmos a definição de Segundo o dicionário Michaelis (2008, p. 371)
define Etnia como “mistura de raças com a mesma cultura”.
A etnia, ou grupo étnico, divide uma uniformidade cultural, com as mesmas
tradições, conhecimentos, técnicas, habilidades, língua e comportamento.
Para os pesquisadores da etnicidade as características genéticas também seriam
étnicas e apesar de não haver um consenso a respeito o principal é que ela é entendida
como tal dentro da construção social do indivíduo.
Podemos classificar enquanto etnias do mundo os muçulmanos, os judeus, os
japoneses, assim como grupos menores com características culturais bem próximas de
seus vizinhos, como as centenas de etnias africanas que dividem o mesmo território.
Alguns autores afirmam que o termo etnia surgiu em Israel, na época retratado no
Antigo Testamento da Bíblia. Os seguidores do Judaísmo usavam o termo ethnos para
descrever os que não eram judeus. Estudiosos acreditam que no Novo Testamento, depois
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da ressurreição e ascensão de Jesus, este termo era usado para descrever as pessoas que
não tinham sido evangelizadas, sendo que muitas vezes estes eram excluídos e diminuídos
por aqueles que já tinham passado pelo processo de evangelização.
Felipe e França (2014 apud SILVA, 2005) nos dizem que o termo “etnia” era
usado para identificações baseadas em características supostamente mais culturais, tais
como religião, modos de vida, língua etc.
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3 DEFINIÇÃO DE CURRÍCULO ESCOLAR


O conceito de currículo é muito difícil de se definir, em razão dos diversos ângulos
envolvidos. A aprendizagem escolar está intimamente vinculada ao currículo, organizado
para orientar, dentre outros, os diversos níveis de ensino e as ações docentes (Portal
Educação, 2021).
O currículo escolar inclui desde os aspectos básicos que envolvem os fundamentos
filosóficos e sociopolíticos da educação até os marcos teóricos e referenciais técnicos e
tecnológicos que a concretizam na sala de aula. Relaciona princípios e operacionalização,
teoria e prática, planejamento e ação.
Nessa concepção, o currículo é construído a partir do projeto pedagógico da escola
e viabilizam a sua operacionalização, orientando as atividades educativas, as formas de
executá-las e definindo suas finalidades. Assim, pode ser visto como um guia sugerido
sobre o quê, quando e como ensinar; o que, como e quando avaliar.
Segundo Moraes e Silva (2016), a inserção do tema das relações étnico-raciais no
currículo escolar, requer todo um esforço de oposição às vicissitudes da colonialidade do
saber e do poder, preconiza uma alteração da compreensão do universo escolar que não
reduz o negro, o indígena, ou qualquer outro grupo ou pessoa a um padrão analítico.
No tocante à questão de “raça” e etnia percebe-se um déficit em relação a inserção
de tais temas a serem abordados nas séries iniciais bem como nos outros anos seguintes
como afirma o professor Orlando na entrevista realizada por Moraes e Silva (2016) que
se segue abaixo.
O negro dentro da proposta curricular não tem nenhum destaque. No processo
de formação não se destaca um conteúdo que vai atender a comunidade negra
dentro da escola Não se destaca um conteúdo que vai atender um conjunto de
pessoas que tem uma referência sexual diferenciada. precisaria ter este
conteúdo. A formação é muito carente neste sentido porque ela não pontua
essas situações para trazer para um debate mais acentuado ...ela sempre é feita
um pouco a grosso modo, dentro de um mesmo pacote de discussão...uma
discussão geral que vai discutir P.P.P. (Projeto Político Pedagógico), você
discute o aluno, tanto faz ser ele indígena, com negro, com branco, como
amarelo tudo numa mesma condição. (MORAES; SILVA, 2016)
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É pertinente a fala do professor a partir do diálogo e respeito às diferenças como


forma de representação de uma cultura, e principalmente da construção de identidades de
um povo que por longos séculos foi marginalizado do currículo escolar. Esta inclusão
permitirá a jornada de um processo de permanente luta, para que realmente esse currículo
seja trabalhado na prática, e que não esteja somente no papel.
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4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Não há como se concluir outra coisa que não seja a iminente necessidade de se
fazer valer as leis que já vigoram e aplicá-las na prática para uma efetiva mudança dos
padrões e comportamentos sociais.
É preciso construir uma “pedagogia da esperança”. A pedagogia da esperança
para o pesquisador consiste numa pedagogia da igualdade pela igualdade.
Entretanto, nos deparamos com a seguinte questão: como construir uma prática
pedagógica igualitária numa teia ou rede de desigualdades sociais,
principalmente, se tratando das desigualdades raciais como no caso brasileiro?
(GENTILI, 2008, p. 119)
Observa-se a necessidade crescente da descolonização do currículo escolar para a
construção de uma educação mais igualitária racial, social e inclusiva, pois entre as
propostas das leis e a prática, existe uma lacuna onde muita coisa só funciona no papel.
Caso implementado esse cumprimento na prática, teríamos muito menos preconceitos,
além de um maior aprofundamento na questão do conhecimento sobre diversidade
cultural.
A importância do estudo de raça e etnia estar inserido no currículo escolar, são
inúmeras, partindo do princípio da verdade da história que desde sempre foi tão mal
contada por aqueles que sempre controlam o poder, bem como para as crianças terem
bons espelhos e se verem representadas por personalidades de destaque de sua “raça” ou
etnia, fazendo assim com que haja uma maior equanimidade dentro de nossa sociedade.
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REFERÊNCIAS

BRASIL. Plano Nacional de Implementação das Diretrizes Curriculares Nacionais


para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e
Cultura Afro-Brasileira e Africana. Ministério da Educação, Secretaria de Educação
Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão. Brasília: MEC, SECADI, 2013.

NBR 10719: informação e documentação relatório técnico e/ou científico apresentação.


2. ed. Rio de Janeiro: ABNT, 2009.

CARNEIRO, João Paulo; SOUZA, Mário Luiz de. Relações Étnico-Raciais: currículo,
avaliação, educação e diversidade. Santarém/PA, v. 9, n. 5. 2019. Disponível em:
<http://ufopa.edu.br/portaldeperiodicos/index.php/revistaexitus/article/view/1104>.
Acesso em: 29 jan. 2021.

FELIPE, Delton Aparecido; FRANÇA, Fabiane Freire. A Diversidade na Educação


Escolar: o currículo como artefato cultural. FURB, v. 9, n. 1. jan./abr. 2014. Disponível
em: <https://proxy.furb.br/atosdepesquisa/article/view>. Acesso em: 29 jan. 2021.

MICHAELIS. Dicionário prático de língua portuguesa. São Paulo: Melhoramentos,


2008.

MORAES, Maria Neide Silva; SILVA, Jerônimo da Silva e. Raça, Etnia e Políticas
Públicas para a Educação das Relações Étnico-raciais no Ensino Médio em
Marabá. UNIFESSPA. 2016. Disponível em:
<https://epg.unifesspa.edu.br/MariaNeideSilvaMoraes>. Acesso em: 29 jan. 2021.

NERI, Tatiana Cybelle Rocha; NOGUEIRA, Francisca Julimária Freire e VIEIRA,


Kyara Maria de Almeida. Currículo, Estudos de Gênero, Raça e Etnia: Escola
Municipal Vila Rio Grande do Norte – Serra do Mel, RN. Revista Includere, v.3, n.1.
2017. Disponível em:
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<https://periodicos.ufersa.edu.br/index.php/includere/article/view/7428/pdf.>. Acesso
em: 29 jan. 2021.

RIBEIRO, Paulo Henrique Pinheiro. Determinismo biológico. Info Escola. Disponível


em: <https://www.infoescola.com/filosofia/determinismo-biologico/>. Acesso em: 28,
jan. 2021.

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