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Nessa época, era comum pensar que os avanços tecnológicos tinham apenas
efeitos positivos na sociedade, estimulando o progresso material e científico. O meio
ambiente era presumido como capaz de absorver quaisquer doenças associadas à
modernização e, assim, não teria impacto nos fenômenos sociais. Esse era o espírito
humanista e bifurcado do surgimento da sociologia, que Ulrich Beck (2003) chamou de
“primeira modernidade”. Esse modo de fazer sociologia ainda permaneceu na geração de
sociólogos clássicos do pós-guerra, como Talcott Parsons (1965). A narrativa da
modernização do pós-guerra ainda pressupôs a separação entre forças “naturais” e
“sociais”, entre natureza e sociedade. No entanto, os riscos ambientais, na verdade,
demonstra e reforça exatamente o oposto, ou seja, uma extensão contínua e
aprofundamento de combinações, confusões e “misturas” de natureza e sociedade.
Uma das implicações dessa abordagem, então, é visualizar aquilo que foi
denominado de racismo ambiental. Racismo ambiental, segundo Benjamin Chavis,
criador do termo, é a “discriminação racial na formulação de políticas ambientais, na
aplicação de regulamentos e leis, no direcionamento deliberado de comunidades de cor
para instalações de lixo tóxico, na sanção oficial da presença de venenos e poluentes com
risco de vida nessas comunidades”. Os processos simultâneos de globalização e
neoliberalização econômica impulsionou a concentração de indústrias sujas em
localizações periféricas, locais frequentemente caracterizados por pessoas de menores
níveis socioeconômicos e por abrigarem populações de grupos étnicos e raciais
minoritários (as “pessoas de cor”). Essa mobilidade do capital transnacional mantém
relações legitimadoras de subordinação (entre os países periféricos e centrais, e entre as
populações periféricas e a elite transnacional) diante das autoridades públicas na medida
em que adia o impacto da degradação ambiental e das desigualdades sociais nos países
centrais. O acesso a medicamentos, saneamento e boa alimentação, por exemplo,
distribuídos de forma diferenciada por sexo, faixas etárias e etnia em muitos países, é um
fator determinante na probabilidade de se infectar com tuberculose, assim como a moradia
precária. Isso mostra não apenas que a degradação ambiental desproporcional em
localizações periféricas está diretamente ligada à reconfiguração estrutural global e à
agenda neoliberal do capital transnacional, mas, e principalmente, que essa degradação
também tem um caráter constitutivo de classe, raça e etnia, evidenciando uma
desigualdade mais estrutural nas experiências dos riscos.