Você está na página 1de 5

1

UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO MESQUITA FILHO”


FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

DISCENTES: Elisa furlan Gomes (RA:221220216), Alice Dandara Frazão (RA: 221222707)
e Melissa de Lucena e Nakajo (RA:221224521)
DOCENTE: Prof. Dr. Vanessa Capistrano
CURSO: Relações Internacionais – vespertino
DISCIPLINA: Ciência Política

Resumo apresentado à Graduação em Relações


Internacionais na Universidade Estadual
Paulista “Júlio de Mesquita Filho” - UNESP,
campus de Franca, como requisito para a
obtenção de nota referente ao primeiro semestre
na disciplina de Ciência Política.
Professora: Dr. Vanessa Capistrano.

O Estado hoje e as Relações Internacionais


Prefácios escritos por Scott Lash, Zygmunt Bauman e Ulrich Beck.

Ulrich Beck e Elisabeth Beck-Gernsheim, na intitulada “Individualization”, possuem


como tema central a individualização na sociedade contemporânea, tal processo é analisado
dentro do contexto de mudanças que ocorrem entre os períodos denominados “primeira
modernidade” e “segunda modernidade”. Além do mais, há a conceituação de modernidade
reflexiva, a qual é marcada por riscos, que envolvem as transformações, relacionadas com a
modernidade, nos âmbitos da família, do papel que o indivíduo possui dentro da sociedade, da
política e de todas as relações sociais, tudo isso cercado pelo avanço a passos largos da ciência
e da tecnologia, que culminaram em uma demasiada reflexividade do sujeito sobre si mesmo e
as informações que o cercam. Assim, o cerne dessa conjuntura se tornou o próprio indivíduo e
a libertação do que era tradicional resultou em uma sociedade de riscos. Dessa forma, na obra
os sociólogos Scott Lash, Zygmunt Bauman e o próprio autor, Beck, dissertam nos prefácios
sobre os axiomas discorridos no livro e suas reflexões.

A princípio, Scott Lash, em seu prólogo “Individualization in a Non-Linear Mode”,


discorre, como pauta de maior ênfase sobre a “modernização reflexiva”, na qual o perfil da
2

sociedade, que propulsiona uma era cada vez mais industrial e moderna, permite uma reforma
de racionalidade. Nesse contexto, a “modernização reflexiva” é caracterizada por duas ideias:
a reflexividade estrutural, na qual a ação reflete as regras e recursos da estrutura social; e a auto-
reflexividade em que a ação reflete em si mesma. Para Lash, Beck, em sua obra, coloca o
indivíduo em um processo de “tornar-se” indivíduo, que não inclui a ideia possessiva de
Thatcher, Reagan, George W. e do liberalismo de um mercado livre e global contemporâneo; é
também uma noção que difere da conceitualização de individualismo do Iluminismo, que ocorre
na “primeira ou simples modernidade”-que compreende uma lógica de estruturas e fenômenos
lineares-, enquanto o individualismo no livro ocorre na “segunda modernidade ou modernidade
reflexiva” - que envolve uma lógica de fluxos e de não-linearidade. De acordo com
Gemeinschaft, há um período de transição, que retira as raízes, do Antigo Regime para a
modernidade, da indústria, que desenvolve suas normatividades e o individualismo iluminista
se torna rotineiro. Entretanto, para Beck o novo individualismo não se torna rotineiro, ele é
indeterminado, com riscos e de liberdade precária. Ademais, na primeira modernidade os seres
são refletivos - que colocam o objeto sobre o tema do conhecimento-, enquanto que na segunda
os seres são reflexivos - pressupõe conhecimentos e certezas. Concomitante a reflexão, para
Beck, o indivíduo conhecedor já está no mesmo mundo em que os seus objetos de
conhecimento, essa teoria difere do dualismo cartesiano e kantiano. Logo, “penso, portanto, eu
sou”. Sob esse viés, por estar em um mundo de velocidades, o indivíduo não-linear não detém
espaço para refletir, isto é, por observar todas as mudanças rápidas em sua volta, ele passa para
um estado de incertezas e vive em uma atmosfera de riscos. Por conseguinte, a segunda
modernidade resulta de um recuo das instâncias sociais clássicas: Estado, Família e grupos
étnicos; os debates sobre cosmopolitismo levaram a uma terceirização generalizada das
funções, denominada por Lash como “capitalismo desorganizado”, na qual algumas atividades
são deslocadas para instâncias globais e outras para privadas. Sendo assim, há a globalização
paralela com a individualização e o processo de reflexão do tecido social que propiciam uma
mudança na conjuntura moderna, pautada em riscos.
Em segundo plano, o sociólogo polonês Zygmunt Buaman expõe, em seu prefácio, o
estudo de Norbert Elias, o qual é denominado “Sociedade dos Indivíduos”, e expressa o
problema da teoria social desde de sua origem. Nesse sentido, Norbert Elias quebrou com a
tradição de Hobbes e reforçou as teorias de John Stuart Mill, Hebert Spencer e a liberal ortodoxa
ao substituir o “fim” e o “versus” com o “de”, que faz a mudança dos discurso para um
imaginário de duas forças que parecem mortais, sem finalizar o conflito entre liberdade e
dominação dentro da concepção: sociedade que molda a individualidade de seus membros e os
3

indivíduos que formam a sociedade a partir de suas ações de vida, ao mesmo tempo em que se
baseiam em estratégias viáveis da teia social tecida de suas dependências. Desse modo, o signo
da sociedade moderna são os seus membros fundidos em uma individualização. É importante
ressaltar que a individualização consiste, para Beck, em transformar a identidade humana em
ceder para uma tarefa, e que o significado desse fenômeno sempre assume novas proporções à
medida em que os resultados acumulados de seu passado estabelecem regras e apostas novas.
Há, ainda mais, uma remodelação e renegociação de atividades diárias mútuas que moldam o
grupo social. Nesse axioma, a marca da modernidade é a necessidade de se identificar como o
que você é e, para isso, viver sozinho, a divisão de classes, por exemplo, foi um subproduto do
acesso desigual aos recursos necessários para se autoafirmar, se encaixar; fato que difere do
conceito de Segunda modernidade. Além do mais, essa individualização fez com que o seres
humanos passassem a não reconhecer problemas semelhantes em sua sociedade e, assim, ele
perdeu a noção do que é coletivo, que tornou-se não mais comunidade, mas uma qualidade que
facilita a resolução de problemas particulares com a ideia de que há um confronto em conjunto,
mas que não é semelhante. À vista disso, para Tocqueville o indivíduo é o pior inimigo do
cidadão, pois se torna morno, cético e desconfiado do “bem comum”, ou seja, a individualização
pode tanto incitar uma determinação própria, quanto provocar a corrosão da cidadania, já que
há uma desconfiança no outro. Logo, como diz Ulrich Beck “O que emerge do desvanecimento
das normas sociais é um ego nu, assustado, agressivo em busca de amor e ajuda. Na busca de
si mesmo e de uma socialidade afetuosa, ele facilmente se perde na selva do eu. . . Alguém que
está bisbilhotando no nevoeiro do próprio eu não sou mais capaz de perceber que este
isolamento, este "confinamento solitário do ego", é uma sentença de massa sem precedentes
para lidar com consequências. Assim sendo, em “The Reinvention of Politics”, Ulrich Beck,
sugere que uma 'outra Reforma' é necessária e que isto exige a 'radicalização da modernidade',
propõe invenções sociais e coragem coletiva em experiências políticas, entretanto, para Bauman
não temos condições para agir, agimos suportando as consequências ou a nossa incapacidade
de agir.
Em última análise, há o prólogo do próprio autor, o qual faz relevância para o debate,
nas ciências sociais, acerca do cenário político que se sucedeu desde o colapso da União
Soviética e a queda do muro de Berlim e, por outro lado, que não houve uma mudança de época
e que a modernidade é uma palavra sinônimo de crise. Nessa perspectiva, Beck disserta que
houve, de fato, uma quebra irreversível e que o medo do novo é uma das perturbações do
capitalismo hodierno, ideia que parte de uma comodidade em que tudo permanecerá como foi.
A partir disso, uma mudança relevante no cenário internacional veio da globalização, que
4

impactou o cenário social e político, capaz de mudar as ferramentas teóricas e reinventar a


ciência política pelo acréscimo de temas como história, geografia, economia e biologia.
Outrossim, com a ideia neoliberal de livre mercado e individualismo institucional, a economia
se baseia em uma noção de um ser humano autônomo, que é capaz de administrar sua vida. No
entanto, para Beck, essa teoria é um embate para a realidade cotidiana, visto que temos que
viver em conjunto e, assim, fica claro que somos auto-insuficientes e dependentes. Nessa
conjuntura, para o entendimento sociológico do individualismo os seres conseguem
compreender a falsa imagem de autonomia, pois na modernidade o ser humano se encontra em
coletividade paradoxal de individualidade recíproca. Concomitantemente, as Instituições
Centrais da sociedade moderna estão direcionadas para o indivíduo, seja pelos direitos políticos
e sociais, seja por um trabalho remunerado, e, com direitos internalizados, todos querem ser
ativos economicamente e matam a coexistência social. Em consonância com Habermas e sua
teoria “Ideal Speech Situation”, Beck adapta o conceito para criar o seu próprio; o “situação
ideal de intimidade”, onde é estabelecido um conjunto de regras específicas para
relacionamentos num geral -fraternais, casamento, família, entre outros. Assim, as
desigualdades e condições de vida “naturais” tornam-se políticas e tudo se volta para uma luta
pelo individualismo cooperativo.
Destarte, Ulrich Beck inicia sua teoria de Individualismo Institucional com a ideia de
Lash, onde o cidadão “torna-se” um indivíduo diferente do apresentado pelas teorias liberais e
de livre mercado, também se difere do indivíduo iluminista, ainda que os dois autores divergem
suas teorias ao pensarem no individualismo rotineiro. Neste sentido, o pensamento introduzido
por Bauman conta com a afirmação de que a individualização dos membros da sociedade é o
signo da sociedade moderna, a auto identificação de si próprio pelo que você é. Por conseguinte,
Beck utiliza-se do pensamento de Bauman para dissertar sobre as classes sociais e a necessidade
de uma afirmação diária vinda de classes mais altas, resultado da individualização e da
necessidade de se encaixar a todo custo, esta que cria uma perda do que é coletivo, resultando
na distorção do que é comunidade, passando, assim, a ser apenas um antro de qualidade que
facilita a resolução de problemas particulares. Enfim, o autor segue o texto introduzindo seu
próprio pensamento, baseando-se, primeiramente, na quebra irreversível no cenário político,
que teve por consequência um medo de toda a sociedade pelo novo, juntamente da ilusão de
uma permanência das coisas conhecidas por cada indivíduo. Apresentando a globalização como
um dos elementos essenciais para a mudança de ferramentas teóricas, Beck argumenta que,
ainda que com a globalização a economia mundial tenha montado um ideal de ser autônomo,
somos seres dependentes da sociedade. Por fim, o autor retoma os conceitos trabalhados ao
5

longo de seu texto, alegando que a própria conclusão pode ser um ponto de partida para o
entendimento deste: enquanto a sociologia moderna passa por mudanças em seus fundamentos
junto à própria sociedade moderna, é inconcebível que feche seus olhos para as claras
contradições de uma modernidade globalizante e individualizadora.

Referências bibliográficas
BECK, Ulrich; BECK-GERNSHEIM, Elisabeth. Institutionalized Individualism and
its Social and Political Consequences. London: SAGE Publications, 2002. Forewords written
by Scott Lash, Zygmunt Bauman, author´s preface. p.VII-XXV. Accessed July 07, 2022.

Você também pode gostar