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Gênero, vulnerabilidade das famílias e capital social:


algumas reflexões
Elisabete Dória Bilac

Introdução

O presente artigo impõe-se como tarefa refletir sobre as implicações,


para a análise da família, do uso de um quadro teórico construído funda-
mentalmente pelos conceitos de risco, vulnerabilidade, ativos e estrutura de
oportunidades. Nenhuma destas noções tem significado unívoco, perfeita-
mente estabelecido. Ao contrário, foram desenvolvidas no interior de teorias
diversas, apoiadas em diferentes percepções do mundo social e, portanto,
com objetivos analíticos distintos e muitas vezes irredutíveis uns aos ou-
tros, razão pela qual se torna necessário esclarecer com qual concepção se
dialoga. Este trabalho contém duas partes, além desta curta introdução e da
conclusão: na primeira delas, discute-se como entender riscos e vulnerabi-
lidade da perspectiva de uma concepção não funcionalista de família, que,
ao mesmo tempo em que aponta a importância do suporte e do apoio do
grupo familiar e das redes de parentesco nas trajetórias individuais, aponta
também seu forte potencial conflitivo, na medida em que estes se formam
de relações de gênero e geração, que são, em última análise, relações de
poder. Na segunda parte, em continuidade, discute-se até que ponto as
noções vigentes do capital social enquanto principal ativo das famílias em
situação de pobreza não pressuporia, na própria definição, uma profunda
desigualdade de gênero.
Famílias, riscos, vulnerabilidades

Embora a noção de risco não seja de modo algum nova nas Ciências
Sociais, é de Ulrich Beck (1992) a tentativa de conceituação da “sociedade do
risco”, como característica do mundo contemporâneo, emergindo da própria ob-
solescência da sociedade industrial, quando então “os riscos sociais, políticos,
econômicos e individuais tendem cada vez mais a escapar das instituições para
o controle e a proteção da sociedade industrial”. Num momento posterior,
os perigos da sociedade industrial começam a dominar os debates e conflitos
públicos, tanto políticos como privados [...] as instituições da sociedade
industrial tornam-se os produtores e legitimadores das ameaças que não
conseguem controlar. [...] Por um lado a sociedade ainda toma decisões e
realiza ações segundo o padrão da velha sociedade industrial, mas, por outro
as organizações de interesse, o sistema judicial e a política são obscurecidos
por debates e conflitos que se originam do dinamismo da sociedade de risco
(BECK, 1997, p.15-16).

Nesta sociedade, ainda segundo Beck, espera-se que as pessoas con-


vivam com uma ampla variedade de riscos globais e individuais, diferentes e
mutuamente contraditórios, que saibam lidar, enquanto indivíduos, com estas
“oportunidades arriscadas”, uma vez que instituições como a família, a classe
social, as comunidades não têm como fornecer apoio contra as ameaças,
oportunidades e ambivalências da biografia de um indivíduo cujo “eu” se torna
crescentemente fragmentado. Mesmo as contradições que dizem respeito ao
casamento e à família são vividas como riscos pessoais. “Individualização e
globalização são, na verdade, dois lados do mesmo processo de modernização
reflexiva”1 (BECK, 1997, p.26).
Contudo, o próprio Beck reconhece que sua teoria pretende apreender um
processo de mudança em curso – a mudança da sociedade industrial “não am-
bígua” para aquela da “modernidade ambivalente” da sociedade de risco – e que
é importante distinguir contextos e formas diferentes de individualização.
Nas condições latino-americanas e brasileiras, ainda é cedo para se
pensar em uma “individualização a todo risco”, mesmo porque nossos claudi-
cantes sistemas de welfare e a imensa informalidade dos mercados de trabalho
não fornecem respaldo para tanto nos moldes beckesianos, uma vez que os
direitos sociais, enquanto direitos individuais, são ainda bastante incertos.
Por isso mesmo, se a “consciência de classe” tal como expressa nas ações
sindicais e nos partidos políticos parece ter arrefecido, a posição de classe

1
O conceito de modernização reflexiva, na verdade, é construção de Guiddens. Porém Beck, Guiddens
e Lasch tendem a dialogar de modo a enfatizar cada vez mais as aproximações entre suas linhas
teóricas. Beck, que desenvolveu sua teoria inicial sobre a sociedade do risco em 1993, em 1997
apresenta uma formulação mais elaborada dela, exatamente no contexto de uma discussão sobre
a modernização reflexiva.

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continua sendo responsável pelas diferentes condições de vida das famílias,
em um contexto de enorme desigualdade social.
Neste contexto, tem todo o sentido o equacionamento entre riscos,
famílias, classes sociais. A maior ou menor exposição de grupos familiares
concretos a riscos – gerados tanto em outras esferas da vida social como no
próprio grupo (a violência doméstica, por exemplo) – depende, antes de mais
nada, de sua inserção de classe e das condições particulares de vida destas
classes em ambientes nacionais e regionais distintos, sem mencionar as dife-
renças culturais. De toda forma, mesmo se sofridos individualmente, os riscos
não são igualmente distribuídos, nem em qualidade (a natureza do risco), nem
em quantidade (o grau com que ocorre), nas diferentes classes sociais.
Além disso, no caso da família, mesmo que considerados os riscos indi-
viduais – desemprego, trabalho precário, saúde, a própria dissolução conjugal
–, eles têm, não obstante, conseqüências coletivas: afetam todo o grupo fa-
miliar, enquanto outros são vividos, indistintamente, por todos os membros
de uma residência (habitacionais, ambientais, por exemplo) e outros, ainda,
são gerados, de forma individualizada, pelas condições gerais do domicílio,
como no caso de riscos educacionais – evasão escolar, por exemplo, que,
além disso, se, em um primeiro momento, pode ser considerada totalmente
individual, a longo prazo pode comprometer a inserção ocupacional das pes-
soas e as condições de formação de novos domicílios.
As Ciências Sociais tomaram de empréstimo das Ciências Ambientais
a noção de vulnerabilidade para designar a maior ou menor capacidade de
enfrentamento dos riscos sociais por parte de indivíduos e de grupos. As
conceituações são diversas; Marandola Jr. e Hogan, neste volume, discutem
a possibilidade de uma ciência multidisciplinar da vulnerabilidade. De mo-
mento, porém, interessa refletir sobre uma conceituação particular, tomada
de Kaztman, que a formulou tendo como quadro de referência a abordagem
vulnerabilidade – ativos. Para este autor, inspirado no trabalho seminal de
Moser (MOSER, 1998), a relação entre os termos se dá da seguinte forma:
Por activos se entiende el conjunto de recursos materiales e imateriales que
los indivíduos y los hogares movilizan em procura de mejorar su desempeňo
econômico y social, o bien como recursos despegados para evitar el deterioro
de sus condiciones de vida o disminuir su vulnerabilidad. La vulnerabilidad, a
su vez, es entendida como uma relación entre dos términos: por una parte la
“estrutura de oportunidades” y, por la outra, las “capacidades de los hogares”
De las diferentes combinaciones entre ambos términos se derivan tipos y
grados de vulnerabilidade que pueden ser imaginados como um cociente
entre ambos términos (KAZTMAN, 1999).

A grande vantagem desta conceituação em relação à de Moser é a


introdução da idéia de estrutura de oportunidades oferecida pelo mercado
(empregos, a estrutura ocupacional), pela sociedade (capital social, princi-

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palmente), pelo Estado (desdobrado em duas dimensões: aquela referida ao
âmbito das políticas ou dos sistemas de bem-estar, e outra, relativa às ações
políticas orientadas especificamente para o Estado, ou, mais precisamente,
para a esfera do governo, sob formatos institucionais de organização de
demandas e representação de interesses). A introdução das estruturas de
oportunidades permite pensar a oposição agência individual versus estrutura
social, ou seja, os atores sociais não agem em um vazio, no qual dependem
somente de sua capacidade de gestão de ativos, mas em um contexto histórico
e social formado de oportunidades e de constrangimentos, uma vez que as
estruturas de oportunidades dependem de fatores macrossociais.
Uma outra vantagem incorporada nesta concepção é que ela permite
pensar as ações sociais enquanto tais, não simplesmente como ações ditadas
pela pura racionalidade técnica. Na análise da família, é fundamental a refe-
rência a lógicas outras que não a puramente econômica. Neste caso particular,
resulta inegável que afetos, sentimentos, interesses não econômicos – ou
a racionalidade com relação a valores, como colocado por Weber – são de
fundamental importância na definição dos objetivos e na condução da ação.
É pouco produtivo pensar a vida familiar em termos exclusivos de “escolhas
racionais”. Nela, a “relação custo–benefício” da economia cede lugar ao modo
como benefícios de uma eventual ação são percebidos como tais – ou seja,
pela percepção de um senso dos benefícios por meio do qual, por exemplo,
um autor como Göran Therborn explica a redução da fecundidade na mo-
dernidade (THERBORN, 2006, p.353).
Esta possibilidade de pensar em outras lógicas permite vislumbrar uma
dinâmica de vulnerabilidades na família, que, ao enfrentar determinado risco
e resolvê-lo, até certo ponto, pode estar criando outros, dada uma determi-
nada estrutura de oportunidades. Por muito tempo, por exemplo, o trabalho
remunerado da mulher-mãe, entendido como complementação importante da
renda familiar num contexto de ausência de estruturas públicas de cuidados
com a infância, se, de um lado, amenizava a fragilidade financeira da família, de
outro criava novas vulnerabilidades no que diz respeito aos cuidados dos filhos
muito pequenos. Até o início dos anos 1970, este era o argumento preferido de
homens e mulheres para explicar porque as mulheres não trabalhavam remu-
neradamente (BILAC, 1983). Nos últimos 30 anos, porém, a situação mudou
radicalmente: o desenvolvimento de oportunidades melhores de trabalho e de
melhores salários para as mulheres, a profunda crise dos anos 1980 – que levou
a um maior empobrecimento das famílias –, assim como o combate crescente
ao trabalho infantil contribuíram para a ampliação da participação feminina no
mercado de trabalho, principalmente a de mulheres chefes e cônjuges, vale
dizer, mulheres-mães, fato que, a partir das políticas públicas, conduziram à
relativa ampliação da rede pública de suporte (creches).

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A própria limitação da política, porém, engendra a busca de soluções
privadas para a equação trabalho/família, expressas pela emergência de
novas figuras, como a “mãe crecheira”, por exemplo, que cuida das crianças
da vizinhança mediante pagamento, ou alguma outra cuidadora improvisada,
recrutada na rede de vizinhança ou de parentesco. Estas soluções alternativas,
por sua vez, aumentam os custos e reduzem os benefícios monetários do tra-
balho feminino. É por questões como esta que se torna difícil concordar com
Moser sobre a possibilidade real de um right mix, na gestão dos ativos que
realmente resolva determinada vulnerabilidade sem propiciar o surgimento
de novas. Aliás, o próprio material empírico de Moser demonstra isto muito
bem (MOSER, 1998).
A vulnerabilidade socioeconômica coloca também em questão a existên-
cia possível de uma vulnerabilidade demográfica que lhe seria correlata. Em
outros termos, em que medida características demográficas de um domicílio
(estrutura etária, sexo do chefe, razões de dependência), em determinados
momentos socioeconômicos, ensejariam riscos próprios ou contribuiriam, ou
não, para sua vulnerabilidade social, ou seja, comprometeriam sua capacidade
de resposta aos riscos sociais? (VIGNOLI, 2000).
Qualquer distinção radical entre processos demográficos e processos
sociais resulta temerária, dado que os primeiros são, inegavelmente, moldados
por forças sociais e, por outro lado, interferem decisivamente na problemática
social. Esta interação recomenda que se encaminhe a reflexão para a busca
de um conceito de vulnerabilidade sociodemográfica, como corretamente
colocam os estudos desenvolvidos pelo Celade–Cepal (CELADE, 2002). Esta
busca coloca, necessariamente, a família no centro das reflexões, uma vez
que “la vulnerabilidad demográfica se definió a escala de unidades domésti-
cas (hogares o grupos que comparten una vivienda dependiendo de la fuente
de datos)” (CELADE, 2000). Nesta linha de raciocínio, os estudos do Celade
levaram ao desenvolvimento de um índice de vulnerabilidade demográfica
composto pelas seguintes dimensões e pelos indicadores :
1. Número de niños menores de 15 años
a. Viviendas con cuatro o más niños menores

2. Dependencia demográfica
a. Viviendas sin independientes
b. Con más de uno y menos de tres dependientes
c. Con tres y más dependientes

3. Jefatura de hogar femenina


a. Jefa mujer y presencia de niños menores de 15 años

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4. Jefatura de hogar adolescente
a. Con hijos (el jefe es mujer)
b. Con niños menores de 15 años (el jefe es hombre)
c. Con jefe unido, casado o en convivencia

5. Jefe del hogar anciano


a. Con dos o más menores de 15 años

6. Presencia de adolescentes con hijos


a. Todas las viviendas en que se registre esta situación

7. Uniparentalidad
a. Con presencia de hijos menores de 15 años
b. Con siete o más personas en la vivienda (CELADE, 2000)

Em pelo menos duas situações, seria necessária uma reflexão maior. Em


primeiro lugar, com relação aos domicílios de chefia feminina e, em segundo
lugar, com relação à chefia idosa. Como já demonstraram Gonzáles de la Rocha
et al., a partir de dados de diferentes países latino-americanos, as estratégias
familiares dos domicílios de chefia feminina são distintas e podem permitir a
compensação dos diferenciais de renda pela mobilização da rede de parentesco,
seja formando estruturas familiares complexas em um mesmo domicílio, seja
mantendo fortes vínculos com parentes e, assim, estabelecendo redes de soli-
dariedade entre domicílios (GONZÁLES DE LA ROCHA, 1999). Estas constatações
são corroboradas por dados a respeito do Brasil (BILAC, 2002).
Por outro lado, como os estudos de Camarano et al. vêm demons-
trando, pelo menos no caso do Brasil, os idosos, de um modo geral, não são,
via de regra, encargos necessários para os filhos, mas, ao contrário, fonte
de suporte:
Além do aumento da proporção de filhos adultos morando com pais idosos,
tem-se observado ao longo das décadas de 80 e 90, um crescimento na
proporção de crianças menores de 14 anos morando no domicílio, na condição
de “parentes ou agregados” do chefe do domicílio provavelmente netos.
Observa-se que essa proporção aumenta com a idade da criança e aumentou
entre 1981 e 1997, especialmente entre os chefes homens [...] Em 1981, por
exemplo, 3,8% das pessoas que residiam em domicílios chefiados por homens
idosos eram crianças menores de 14 anos classificadas como “parentes ou
agregados” do chefe do domicílio. Em 1997, a proporção correspondente foi
de 4,3% (CAMARANO; GAHOURI, 1999, p.296).

Na seqüência, a autora observa ainda que este aumento foi maior nas
famílias de menor renda. Naquelas com renda inferior a três salários míni-
mos, a proporção de parentes ou agregados menores de 14 anos passou de
6,6% em 1981 para 7,5% em 1997. As autoras sugerem que pode haver

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uma relação entre a universalização da Seguridade Social (previdência e as-
sistência) e a nova posição de suporte familiar que os idosos brasileiros vêm
desempenhando. Com a mudança das regras da economia e, por conseguinte,
do mercado de trabalho, nos anos 1990, um idoso com rendimentos fixos de
aposentadoria ainda que irrisórios e um pequeno patrimônio construído ao
longo da vida, na maioria das vezes resumindo-se à casa própria, constitui,
nos dias de hoje, uma situação mais segura do que a enfrentada por muitos
trabalhadores jovens às voltas com as dificuldades de obtenção do primeiro
emprego, com a insegurança do trabalho informal, com o fantasma recorrente
do desemprego.
De todo modo, seria importante conhecer um pouco melhor as experiên-
cias de socialização das crianças em tais espaços.
Estas considerações remetem a um outro ponto importante. Trata-se da
importância do parentesco nas famílias brasileiras: os processos de amplia-
ção/contração dos arranjos de residência constituem estratégias familiares que
respondem a constrangimentos cambiantes de várias ordens (demográficos,
sociais, culturais, econômicos) e de vários níveis. Neste sentido, a possibilidade
de ampliação permanece, ainda que em estado de latência, ao longo do ciclo
de vida familiar. No Brasil, ao que tudo indica, a modernização da família não
significa a passagem de um modelo “extenso” para um modelo “nuclear”, mas
o predomínio de um padrão de residência nuclear com recorrência sistemática
à ampliação. Se não resta dúvida de que o desejável, na maior parte do
tempo, é o padrão “uma casa para uma dona de casa e um pai de família”, as
condições de vida da grande maioria da população são instáveis o suficiente
para impedir que este padrão generalize-se, atingindo níveis europeus.
Deste modo, tudo indica que a consagração do modelo família nuclear
como protótipo da família da modernidade ignorou o fato de que os parentes
continuam a desempenhar um papel fundamental na vida familiar do brasileiro.
Um equívoco ainda estimulado por certas contingências metodológicas que
organizam pesquisas domiciliares ou recenseamentos. Em primeiro lugar, no
nível do próprio domicílio, a utilização acrítica do conceito de família censitária
como equivalente ao conceito de família, em uma acepção mais sociológica,
tem levado a uma percepção errônea do panorama geral da família brasileira,
minimizando a importância do parentesco na configuração dessas famílias,
exagerando a ocorrência daquelas monoparentais, isoladas de chefia feminina
(e, por conseguinte, da pobreza feminina) e sobreestimando a ocorrência de
famílias nucleares entre nós. Em segundo lugar, tais pesquisas, obrigatoria-
mente, limitam a família aos limites do domicílio. Torna-se, assim, imperativo
que sejam realizadas pesquisas específicas (surveys ou trabalhos qualitativos)
que procurem esclarecer as relações entre os domicílios, no sentido de captar
eventuais relações de suporte e de ajuda mútua.

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Em suma, famílias reais não são organismos absolutamente funcionais,
formados por papéis de sexo e de geração complementares que se combinam
harmonicamente para garantir que o todo (a família) persista. Famílias reais
são configurações complexas de relações de gênero e de geração, envolvendo
poder, interesses pessoais opostos e também, mas não apenas, grande dose
de solidariedade, expressa em obrigações e direitos recíprocos, porém nem
sempre simétricos e na mesma quantidade. Alguns membros terão mais
direitos e outros mais obrigações, e nesta distribuição está contida uma
distribuição de poder (THERBORN, 2006). As relações de interdependência
entre seus membros conformam, portanto, relações contraditórias com uma
imensa carga conflitiva, as quais, ao mesmo tempo em que oferecem proteção
e cuidados, são também potencialmente violentas.
E não poderia ser de outro modo, uma vez que nas famílias ecoam, de
forma ampliada, todas as crises, mudanças, processos que porventura ocor-
ram em outras esferas da vida social: os efeitos das políticas econômicas, as
vicissitudes do emprego, a situação do sistema escolar. Na verdade, a famosa
“crise da família” que o pensamento conservador insiste em propalar como
sendo a raiz de todos os males das sociedades contemporâneas, em grande
medida é a forma pela qual a esfera da reprodução responde a problemas
colocados pela sociedade inclusiva e não, como se pretende, ao esvaziamento
da instituição familiar enquanto organizadora da reprodução humana. Neste
ponto, parece ter razão Gören Therborn, para quem a capacidade de mudança
autônoma da instituição familiar é muito restrita, limitando-se aos ajustes aos
“bons e maus tempos” (THERBORN, 2006, p.432 et passim). As grandes mu-
danças históricas na instituição familiar tiveram causas exógenas, em resposta
a mudanças sociais mais profundas, a movimentos estruturais.2

O capital social: resposta à vulnerabilidade das famílias?

Este (des)entendimento da natureza da organização familiar termina por


afetar também a forma como é percebida a relação entre ativos domiciliares
(assets) e vulnerabilidade social das famílias. Há vários modos de se consi-
derarem tais ativos, mas a mais freqüente, na literatura especializada, é sua
distribuição nas formas de capital: humano, financeiro e social. Em termos
resumidos, o capital físico compreenderia a posse de bens duráveis como mo-
radia, terras, animais, meios de transporte, assim como o capital financeiro,
representado por poupança e crédito. O capital humano compreenderia o valor
agregado à capacidade de trabalho por investimentos em saúde e educação.

2
Não é por acaso que mesmo teorias sociológicas do mainstream associam o surgimento da família
nuclear ocidental à urbanização, à industrialização e à destruição de formas antigas de produção
(Goode, por exemplo), ou seja, a grandes mudanças societais (GOODE, 1969).

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E, finalmente, o capital social seria formado por “relações interpessoais de
apoio mútuo geradas com base em princípios de reciprocidade como ocorre,
por exemplo, na organização familiar, na comunidade, nos grupos étnicos ou
na religião” (KAZTMAN, 1999, p.167).
Dentre todos estes ativos passíveis de mobilização pelos membros da
família, o de entendimento mais ambíguo, de captura mais difícil e o mais
polêmico é o capital social3 – passível de ser produzido de formas diversas,
em todas as camadas sociais, a partir da mobilização de sociabilidade forte e
de redes sociais. Há aí alguns problemas sérios para a análise da família.
Algumas das análises clássicas de capital social (Coleman, Putnam), ao
mesmo tempo em que reconhecem a unidade familiar como lócus importante
de produção/consumo e transmissão de capital social para a formação de capi-
tal humano, tratam-na de forma extremamente conservadora. Para ambos,
as unidades familiares não são todas igualmente produtoras de capital social;
algumas o são mais do que outras. Assim, para Coleman, por exemplo, as
famílias monoparentais e as nucleares de dupla renda levam a um deficit de
capital social para as crianças (deficiência estrutural), uma vez que não têm
condições de dar-lhes a devida atenção, comprometendo, assim, as relações
primordiais geradas pelo nascimento de um filho, alienando a criança de direitos
que esta teria dentro da família, para realocá-los fora dela. A degeneração do
capital social começaria, assim, na mudança da família, nas alterações dos
papéis familiares, e, principalmente, do papel feminino, com a mulher pas-
sando a partilhar com o marido a responsabilidade pelo provimento do lar
(COLEMAN, 1988; COLEMAN, 1993).
Também para Putnam, as famílias podem ser consideradas exemplos de
capital social bonding. O autor relaciona a família nuclear com altos níveis de
confiança social e engajamento cívico. De sua perspectiva, as mudanças na
família, assim como o trabalho feminino, levam à descapitalização. As donas
de casa dos anos 1950 foram as melhores capitalistas sociais possíveis, por
meio dos cuidados com os filhos em tempo integral e do engajamento em
trabalhos comunitários (PUTNAM, 2000; LEIGH; PUTNAM, 2002).
Fica muito clara, nestas colocações, a total desconsideração das relações
de gênero (e, portanto, de poder) na estruturação das famílias, assim como
de sua natureza histórica e socialmente construída. Esta percepção escapa até
mesmo aos estudiosos de família, como Astone et al., que procuram adequar ou
“corrigir” os quadros conceituais de capital social visando uma nova e específica

3
Note-se que, nesta acepção, a noção de capital social pouco tem a ver com a famosa formulação
de Bourdieu, que o considera um instrumento de reprodução da classe dominante e do capital
econômico desta classe. Na verdade, ambas as concepções partilham apenas a idéia geral de que
o capital social é constituído por redes de relações das quais resulta alguma benesse social para os
indivíduos envolvidos (BOURDIEU, 1986).

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leitura, pela qual “a formação da família está entre os mais importantes tipos
de investimento em capital social feitos em todas as sociedades” (ASTONE
et al., 1999, p.6). Usando extenso material etnográfico para comprovar sua
tese, que, em grandes linhas, tenta reintegrar a concepção de capital social
às teorias da troca social, nos termos de Homans e Lévy-Strauss, os autores
recorrem, por exemplo, à diversidade das culturas para explicar por que
há usualmente diferenças sistemáticas por gênero e idade nas obrigações
mútuas entre as pessoas em uma relação familiar. Por exemplo, nos Estados
Unidos contemporâneo, os idosos que têm esposa, filhas e irmãos vivos
tendem a permanecer fora das instituições mais tempo do que aqueles que
não os tem, enquanto que ter um filho não faz diferença na taxa de pessoas
institucionalizadas (FREEDMAN, 1996).

[...]

Estes resultados significam que nos Estados Unidos, o cuidado filial necessário
para se manter o idoso fora da instituição é fornecido principalmente pelas
filhas e não pelos filhos. Em contraste, em muitos lugares da Ásia, a tarefa
de cuidar dos pais idosos cabe aos filhos (algumas vezes ao filho de uma
ordem específica de nascimento) e não às filhas. A maior quantidade de
capital social proporcionada pelos filhos em relação às filhas resulta em forte
preferência pelo filho homem em grande parte da Ásia. Esta preferência
pelo filho, por sua vez tem conseqüências nos níveis de fecundidade, e na
mortalidade infantil e na infância. (ASTONE et al., 1999, p.21).

O que os autores não mencionam é que o trabalho envolvido no cuidado


com os idosos não será realizado pelos filhos homens, mas por suas esposas.
Tal fato, aparentemente, está na base da chamada “revolução silenciosa”
que as mulheres estão fazendo no Japão, recusando-se a casar-se e a ter
filhos.4
Obviamente, as encarregadas do trabalho de produção e acumulação
do capital social serão as mulheres, através da tecedura e do fortalecimento
das redes de parentesco e de apoio mútuo, de informações, numa visão que
permanece naturalizada e essencialista das mulheres “naturalmente” inclinadas
ao papel de cuidadoras, ou à realização do chamado “trabalho emocional” ou
“trabalho afetivo” (NEGRI; HARDT, 1999), como preferem denominar outros
autores. Mesmo em um trabalho como o de Moser, que é muito cuidadosa
na observação empírica das atividades femininas, a dimensão de poder/sub-
missão de gênero envolvida na produção do capital social é pouco explorada,
embora a maior parte dos exemplos usados por ela refira-se à atividade das
mulheres, sem maiores reflexões críticas. E é inegável que este processo
de produção, dentro da família e fora dela, em nível comunitário, envolve

4
Observação de Ana Amélia Camarano, em palestra proferida sobre a dinâmica demográfica
japonesa (NEPO, 2004).

60 GÊNERO, VULNERABILIDADE DAS FAMÍLIAS E CAPITAL SOCIAL: ALGUMAS REFLEXÕES


profundas assimetrias e desigualdades entre os atores, entre produtores e
receptores do capital social acumulado. Homens e mulheres não participam
das mesmas redes nas mesmas condições e, eventualmente, participarão de
redes distintas em distintos espaços sociais.
A crítica feminista em relação ao conceito é, muitas vezes, radical
(ADKINS, 2005; FRANKLIN, 2005; FRANKLIN; THOMPSON, 2005). O ponto
mais importante desta crítica diz respeito à utilização política do conceito nos
países pobres, onde seu desenvolvimento e sua aplicação em programas de
desenvolvimento comunitário foram estimulados no clima “pós-consenso de
Washington”, quando as terríveis conseqüências das políticas de ajuste es-
trutural sobre a população fizeram-se sentir. Neste contexto, o pensamento
feminista chama a atenção para algumas dimensões fundamentais.
Antes de mais nada, cabe reconhecer que as mulheres são freqüente-
mente figuras “centrais às formas de capital social que as agências de desen-
volvimento e os governos estão desejosos de mobilizar para seus programas
de alívio da pobreza e desenvolvimento comunitário” (MOLYNEUX, 2002).
Particularmente no caso dos países pobres, em especial da América Latina,
as evidências empíricas de diferentes nações mostram que as mulheres das
camadas de baixa renda são aquelas que têm os mais fortes laços comuni-
tários e de parentesco e, com freqëncia, estão também engajadas em ativi-
dades de ajuda mútua, através de redes informais. No caso brasileiro, não é
desconhecida, por exemplo, a importância das mulheres nas associações de
bairro. Porém, como aponta Molyneux, este reconhecimento da contribuição
feminina ao tecido social, mesmo por parte das organizações voltadas ao
desenvolvimento comunitário, ajudou a criar uma série de expectativas sobre
elas que têm alguns efeitos perversos:
Em primeiro lugar, a naturalização da relação mulher–cuidados tornam-
nas alvos preferidos do recrutamento de trabalho voluntário, isto é, trabalho
não remumerado, considerado uma extensão de suas responsabilidades para
com a família e a comunidade. A análise do custo–benefício de tais empreitadas
não leva em conta os custos de oportunidade do tempo feminino (GIDEON,
1998, p.308, apud MOLYNEUX, 2002). Os estudos sobre capital social dificil-
mente reconhecem que sua manutenção, portanto, ocorre a um custo alto
para as mulheres, reduzindo suas possibilidades de trabalho remunerado e
obrigando-as a um esforço excessivo de combinar tal trabalho com os cui-
dados dos filhos, no caso de ausência de serviços voltados à atenção infantil
(creches ou outros).
Em segundo lugar, é inegável que a mobilização das redes de paren-
tesco, de vizinhança e outras, operadas fundamentalmente por mulheres,
em resposta ao empobrecimento e deterioração das condições de vida resul-
tantes das políticas de ajuste estrutural, desempenham papel fundamental

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na sobrevivência das famílias, como a literatura latino-americana das últimas
décadas tem mostrado (CHANT, 1991; GONZALES DE LA ROCHA, 1994;
CHANT, 1997; GONZALES DE LA ROCHA, 1999; GONZALES DE LA ROCHA,
2001; CHANT, 2006). Porém, por si só, esta mobilização não substitui políticas
macroeconômicas, nem recursos. Na verdade, a produção e manutenção de
capital social, assim como sua erosão, seriam criticamente dependentes de
políticas mais amplas que fortalecessem a capacidade dos agentes de entabu-
lar associações de suporte mútuo sustentáveis em longo prazo (MOLYNEUX,
2002). O trabalho comparativo de Moser, neste sentido, é paradigmático, por
mostrar a diversidade de formas, a quantidade e variedade das possibilidades
de manutenção ou não de capital social em condições de extrema pobreza
(MOSER, 1998).
Uma outra linha de críticas aborda diretamente a questão de em que
medida as relações produtoras de capital social são também relações de poder.
Portes já levantou esta questão ao apontar o caráter includente/excludente
das redes sociais, acrescentando, ainda, o fato de que determinadas redes
ricas em capital social não se formam visando o bem público, mas exatamente
o contrário (PORTES, 1998). As redes sociais são, portanto, mais ambíguas
e mais complexas do que colocam, via de regra, os analistas do capital so-
cial. Da perspectiva de gênero e da família, caberia verificar em que medida
os processos de inclusão/exclusão passam pelo corte do gênero e quais
os impactos disto sobre a redução da vulnerabilidade das famílias e sobre
a posição relativa de homens e mulheres a partir dela. Pode-se pressupor
que as mulheres serão mais presentes nas “redes de laços fortes”, como as
chama Kaztman, mais densas, mais homogêneas, como as de parentesco e
vizinhança, dirigidas à sustentação dos níveis de consumo e cujo “fechamento”
entre iguais dificultaria sua incorporação a uma estrutura de oportunidades
mais ampla. Já os homens estariam mais inseridos nas redes de laços débeis,
mais fluidas, heterogêneas, porém ricas de informação mais diversificada e,
portanto, mais abertas a amplas estruturas de oportunidades, como sóem ser
as redes de trabalho – e também os bares. Mas este é um pressuposto a ser
verificado empiricamente, mesmo porque é bem possível que certas redes, que
poderiam ser consideradas de “laços fortes”, tenham efeitos inesperados: no
Brasil, por exemplo, nos anos 1970 e início dos 1980, a participação feminina
nas associações de bairro acabou por conduzir as mulheres à movimentos
sociais mais abrangentes – reivindicações por creches, por escolas, por pos-
tos de saúde, pela casa própria, as quais desembocaram nos movimentos
pela (re)democratização do país (CARDOSO, 1984). Em primeiro lugar, tais
movimentos exemplificam, de modo muito claro, que a experiência política e
econômica das décadas de 70 e 80 terminaram por criar demandas e expecta-
tivas nos setores populares com relação à cidadania social – na medida em

62 GÊNERO, VULNERABILIDADE DAS FAMÍLIAS E CAPITAL SOCIAL: ALGUMAS REFLEXÕES


que passam a reivindicar a satisfação de necessidades básicas, não enquanto
privilégio ou concessão, mas como direito legítimo a ser cobrado do Estado.
Mas sugerem também a possibilidade de transformação interna das redes, na
medida em que seus próprios objetivos se tornam mais amplos.

À guisa de conclusão

A abordagem “ativos-vulnerabilidade”, em suas diferentes versões, tem


a vantagem inequívoca de uma visão menos determinista e mais complexa
das situações de pobreza estrutural. Por esta abordagem, na feliz síntese de
Moser, procura-se identificar “o que os pobres têm, antes do que o que não
têm”, e o olhar do pesquisador volta-se para as estratégias e soluções encon-
tradas/criadas pela própria população investigada.
Não é, porém, uma abordagem livre do risco de equívocos. Neste texto,
procurou-se apontar alguns deles: uma visão excessivamente funcionalista
da família que ignora a natureza contraditória das relações familiares e seu
potencial conflitivo, a ênfase na racionalidade econômica na orientação das
ações sociais, que deixa de lado a possibilidade de lógicas outras, nas quais
afetos e valores têm importância decisiva, e a desconsideração das relações
de gênero enquanto relações de poder.
Do arsenal teórico mobilizado, o conceito mais problemático parece ser
o de capital social. Muito já se escreveu sobre ele. Considerado por uns como
um conceito de vanguarda que busca fugir do economicismo na explicação
das ações sociais, celebrado pelos seguidores da “Terceira Via” e do “Novo
Trabalhismo”, por outros é extremamente criticado, exatamente porque
atribuir-lhe demasiada importância pode contribuir para ocultar ou justifi-
car a ausência, ou a ineficiência, das políticas públicas e responsabilizar os
pobres por sua pobreza. No que diz respeito à análise da família, o conceito
de capital social será de pequeno valor heurístico se não conseguir lidar com
a profunda desigualdade entre homens e mulheres, em sua produção e sua
acumulação.

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