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Sumário

1. Contexto social, econômico e 2


cultural – Maraú e Bahia

2. Racismo estrutural e branquitude 4

3. Legislação 10

4. História e missão da escola 13

5. Educação como combate ao racismo 15

6. A perspectiva Antroposófica de 17
Rudolf Steiner e o futuro social

7. Como estamos nos organizando 20


contra o racismo

8. Medidas pedagógicas em casos de 21


racismo

9. Para estudar e se informar 23

10. Referências 28
O que eu quero do mundo? Qual
mundo queremos?

Com toda a certeza, quando uma


pergunta dessa natureza é feita,
conseguimos imaginar um mundo
pacífico, onde as pessoas são
respeitadas em sua individualidade,
independente da sua cor, gênero,
características físicas, classe social e
crenças. Com menos desigualdades,
em busca da dignidade humana.
1. Contexto social, econômico e cultural
Maraú e Bahia

Entre os anos de 1500 e 1867 foram extraídos forçadamente das


costas africanas cerca de 12,5 milhões de pessoas para serem
escravizadas. Foram quase quatrocentos anos de navios negreiros
transitando pelos mares em condições desumanas onde milhares
de africanos morreram
durante a travessia. Cerca
de 4,9 milhões foram
desembarcados no Brasil.
Além disso foram
dizimados os povos
indígenas nativos do
Brasil. No ano de 1500
eram cerca 4 milhões de
pessoas, hoje, cerca de 300
mil indígenas (segundo
dados do IBGE).

Ainda segundo o IBGE, no último censo,


56,1% da população brasileira é negra, o
que faz com que nosso país seja a maior
nação negra fora da África.

Nos perguntamos: é isso que vemos em nossa sociedade? Mais da


metade dos espaços de poder ou destaque são ocupados por
pessoas negras? Mais da metade dos médicos que você se
consulta, dos políticos do país, dos cargos importantes, escritores,
cientistas, nossos professores, são negros?

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Estamos na Bahia, um estado
brasileiro onde, segundo
dados da Superintendência
de Estudos Econômicos e
Sociais da Bahia, em 2018, cerca de
81,1% da população era composta
por negros.

Nossa escola está localizada na península


de Maraú, município que no ano de 2006
foi certificado como remanescente de
quilombo pela Fundação Cultural
Palmares. Comunidades remanescentes de
quilombos são oriundas daquelas que
resistiram à brutalidade do regime
escravocrata e se rebelaram se auto
organizando.

Hoje existem 3.495 comunidades quilombolas distribuídas por


todas as regiões do país segundo a Fundação Palmares.

Com aproximadamente 24.580 mil habitantes, a Península de Maraú


apresenta um IDH baixo – 0,593 (IBGE 2010), que equivale de países como
Timor Leste, Costa do Marfim e Zâmbia. O povoado de Barra Grande,
onde a Escola Comunitária Jardim do Cajueiro está localizada, tem
aproximadamente 6.000 habitantes e vive um contraste entre a
abundância de recursos naturais e a falta de políticas eficientes para o
desenvolvimento social. Com a expansão do fluxo turístico, o
desenvolvimento local vem sendo impulsionado. No entanto, essa
atividade não vem acompanhada de processos que fortaleçam a inclusão
sociocultural da população e dos grupos sociais.

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Pelo contrário, esse fluxo contribui para um processo de
desterritorialização, perda da identidade local, aumentando as
desigualdades, e consequentemente, a exclusão. Empregos e
recursos para saúde e educação não são suficientes para
atender as necessidades locais.

2. Racismo Estrutural e Branquitude

O Termo raça está ligado ao ato de estabelecer classificações dentro de


uma espécie, utilizado principalmente para os animais. Na espécie
humana não existe raça. Ela foi atrelada ao ser humano no século 19 para
responder à pergunta latente da época: por que há desigualdade entre os
seres humanos?
A justificativa para tornar natural a histórica exploração de povos e suas
relações de poder, foi separar os humanos em diferentes raças
diretamente qualificadas como superiores e inferiores. A ciência provou
que biologicamente não há raça na espécie humana, e esse conceito foi
posteriormente atrelado à cultura. Existe uma valorização cultural dentro
da nossa miscigenação enquanto povo brasileiro. Por exemplo, uma
cultura é vista como civilizatória, ou seja, veio ensinar, trazer progresso
para as outras culturas, inferiores. Hoje sabemos que o termo raça se
tornou social, do ponto de vista da desigualdade e está diretamente
ligado ao racismo.
Associados ao conceito de raça estão os conceitos de preconceito,
racismo e discriminação:

“Podemos dizer que o racismo é uma forma sistemática de


discriminação que tem a raça como fundamento, e se
manifesta por meios de práticas conscientes ou
inconscientes que culminam em desvantagens ou privilégios
para indivíduos, a depender do grupo racial ao qual
pertençam.” (Almeida, Racismo estrutural 2020)

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Almeida afirma em seu livro Racismo Estrutural, que embora haja relação
entre os conceitos, o racismo estrutural difere do interpessoal, do
preconceito e da discriminação. O preconceito acontece na ordem do
pensamento, do julgamento, de uma ideia pré-concebida, baseada em
estereótipos e subjetividades, muitas vezes inconscientes. Por exemplo,
considerar pessoas negras violentas, incapazes ou inconfiáveis. A
discriminação ocorre no âmbito da ação, do tratamento diferenciado
com membros de grupos racialmente identificados, levando a
desvantagens. É preciso uma posição de poder para exercer a
discriminação, por exemplo, deixar de contratar uma pessoa para
determinado cargo por conta da sua cor.

O racismo estrutural transcende o âmbito da relação individual, ou seja, vai


além das ações cometidas no convívio entre pessoas de grupos étnicos
diferentes. Podemos dizer que as pessoas e instituições são racistas por que
a sociedade é racista e se mantém estruturada a partir de regras e padrões
racistas. Outro exemplo é que se tudo acontecer normalmente em
qualquer ação ou instituição, o resultado será racista. Algo precisa ser feito
efetivamente para combater o racismo, justamente por ser estrutural.

Por isso, Racismo estrutural é um conjunto de


práticas, falas, situações e hábitos presentes no
dia-a-dia da população que promove, mesmo que
sem consciência o preconceito e a discriminação
racial.

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O processo histórico da escravização do povo negro deixou muitas
marcas não só na história, mas em nossa memória, em nossa maneira
de ver o mundo e nas bases das estruturas da sociedade que vivemos.

Essa herança é visível em situações nas quais se manifestam


profundas desigualdades, estereótipos, preconceitos,
discriminação e o RACISMO.

Além disso atua para consolidar e fazer a manutenção de um sistema


que até hoje beneficia apenas uma parcela da população.

“[...] a sociedade escravista, ao transformar o


africano em escravo, definiu o negro como raça,
demarcou o seu lugar, a maneira de tratar e ser
tratado, os padrões de interação com o branco e
instituiu o paralelismo entre cor negra e posição
social inferior”. (Djamila Ribeiro em seu livro
Pequeno manual antirracista).

O racismo é, portanto, um sistema de opressão que nega direitos, traz


diversas consequências sociais, e não um simples ato de vontade do
indivíduo, por isso dizemos que ele é ESTRUTURAL.

“Consciente de que o racismo é parte da estrutura


social e, por isso, não necessita de intenção para se
manifestar, por mais que calar-se diante do racismo
não faça do indivíduo moral e/ou responsável,
certamente o silêncio o torna ética e politicamente
responsável pela manutenção do racismo. A mudança da
sociedade não se faz apenas com denúncias ou com
repúdio moral do racismo: depende, antes de tudo, da
tomada de posturas e da adoção de práticas
antirracistas”. (Silvio Almeida Racismo estrutural)

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E, por isso, obviamente, dentro de uma sociedade de bases estruturais
racistas, uma instituição que não trata de maneira ativa e como um
problema a desigualdade racial, irá facilmente reproduzir as práticas
racistas já tidas como “normais” em toda a sociedade. E sobre isso
Almeida diz que:

É o que geralmente acontece nos governos, empresas e


escolas em que não há espaços ou mecanismos
institucionais para tratar de conflitos raciais.
(Silvio Almeida Racismo estrutural)

Ainda sobre isso o autor afirma que é dever de uma instituição que se
preocupe com a questão racial investir na adoção de políticas internas
que visem:

a) Promover a igualdade e a diversidade em suas


relações internas e com o público externo – por
exemplo na publicidade;
b) Remover obstáculos para a ascensão de minorias em
posições de e direção e prestígios na instituição;
c) Manter espaços permanentes para debates e eventual
revisão de práticas institucionais;
d) Promover o acolhimento e possível composição de
conflitos raciais e de gênero.

E por fim, ainda usando Silvio Almeida como referência ao tema,


podemos refletir que o racismo é uma decorrência da própria estrutura
social, ou seja, do modo “normal” com que se constituem as relações
políticas, econômicas, jurídicas e até familiares.

O racismo é estrutural.
Comportamentos individuais e processos
institucionais são derivados de uma sociedade cujo
racismo é regra e não exceção.

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Mas, pensar o racismo de forma mais complexa e como parte da
estrutura não retira a responsabilidade individual sobre a prática de
condutas racistas, e não é um álibi para racistas. Pelo contrário:
entender que o racismo é estrutural, e não um ato isolado de um
individuo ou de um grupo, nos torna ainda mais responsáveis pelo
combate ao racismo e aos racistas.

A branquitude nos mostra os acessos sociais que a cor da pele garante, e


como coloca o sujeito numa posição de privilégios, vantagens e
credibilidade, tanto subjetivas quanto materiais. A brancura enquanto cor
de pele levou ao lugar de poder (a branquitude) a partir da apropriação
de ideia de raça construída para os seres humanos.

O racismo estrutural alavanca as


pessoas brancas, é uma máquina
que gera desigualdades cada vez
maiores.

Qual o lugar do branco na sociedade estruturalmente


racista? Qual seu papel dentro dela?

“Por mais antirracista que a pessoa branca seja ela se beneficia do


racismo, mesmo sem querer. Acabar com a branquitude não versa
sobre o extermínio das pessoas brancas, mas sobre o fim do
sistema social que as privilegia.”

“Pessoas brancas no Brasil são racistas, e pessoas negras


reproduzem o racismo – inevitavelmente internalizado – contra
elas mesmas...O papel da branquitude na luta antirracista é o
papel de quem criou o racismo, compreendendo que as pessoas
brancas críticas terão que construir por si sós esses caminhos.. no
seu próprio campo de atuação, territorial ou subjetivamente.”

(Barbara Carine no livro “Como ser um educador antirracista”)

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E você? Já pensou sobre a importância de AGIR
contra o racismo? O racismo cabe no mundo que
queremos construir?

Não basta não ter atos racistas, é preciso


lutar contra o racismo! É preciso ser
ANTIRRACISTA.

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3. Legislação

Linha do tempo da legislação referente as pessoas negras no Brasil.

Lei N° 1 de 1837:
Primeira lei da educação proíbe
negros de irem à escola.
Lei N° 601 de 1850:
Lei das Terras estipula que
negros não podem ser
Lei N° 2.040 de 1871: proprietários de terras.

Lei do Ventre Livre onde filhos


de mulheres escravizadas a partir
dessa data ficariam livres (a mãe Lei N° 3.270 de 1885:
continua sendo escravizada).
Lei do Sexagenário concedia
liberdade aos escravos com mais
de 60 anos de idade (quem
sobrevivia até essa idade nas
Lei N° 3.353 de 1888: condições em que os escravos
eram submetidos? A expectativa
Lei Áurea decreta, formalmente, o
de vida das pessoas escravizadas
fim da escravização em todo o
era de 25 anos segundo o estudo
Brasil, sem prever direito à
de Luiz Fernando V. Nogueira –
propriedade de terra. Ao todo,
estudo completo nas referências)
foram 388 anos de regime
escravocrata amparado legalmente
pelo estado.
Lei N° 847 de 1890:
Lei dos vadios e capoeiras que
permite a prisão de pessoas que
Lei N° de 1951:
andassem pelas ruas sem trabalho
Lei Afonso Arinos, norma contra o ou residência comprovada, bem
racismo no Brasil onde atos como os que estivessem jogando
resultantes de preconceitos de ou portando objetos relativos à
raça ou cor constituem capoeira (e a liberdade de dois
contravenção penal (ato delituoso anos atrás com a Lei Aurea? Qual
de menor gravidade que crime). a cor das pessoas encarceradas
naquela época? Quem ainda hoje
compõe a maioria da população
carcerária do país?)

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Constituição Federal
de 1988:
Somente em 1988, 100 anos após a Lei N° 7.716 de 1989:
abolição, a constituição
brasileira reconheceu o racismo Lei Caó que define os crimes de
como crime, mas ainda racismo como inafiançáveis e
possibilitando os casos de se imprescritíveis.
enquadrarem como injúria racial,
onde não era prevista a prisão.
Foi fundada nesse ano também a
Lei Nº 12.288 de 2010:
Fundação Palmares, instituição
pública que promove a valorização Institui o Estatuto da Igualdade
da cultura negra no Brasil e que Racial, que prevê o
reconheceu a existência e os estabelecimento de políticas
direitos dos povos quilombolas, públicas para a correção de
assegurando o direito à desigualdades raciais e o
propriedade de seus territórios combate à discriminação e às
coletivos. (Art. 68 da C.F.) demais formas de intolerância
étnica.

Lei Nº 12.519 de 2011:


Institui o Dia Nacional de Zumbi
e da Consciência Negra.
Lei N° 14.532 de 2023:
Tipifica como crime de racismo a
injúria racial, com pena
aumentada para 2 a 5 anos de
reclusão. Enquanto o racismo é
entendido como crime contra a
coletividade, injúria é
direcionada ao indivíduo.

No âmbito educacional:

Lei N° 10.639 de 2003:


Institui a obrigatoriedade do Lei N° 12.711 de 2012:
estudo da história da África e
dos africanos, a luta dos negros Política de cotas em
no Brasil, a cultura negra instituições federais,
brasileira e o negro na formação determina que toda instituição
da sociedade nacional, resgatando pública de ensino superior
a contribuição do povo negro nas reserve 50% de suas vagas para
áreas social, econômica e estudantes oriundos de escolas
política pertinentes à História públicas, entre os quais há
do Brasil, para que se trabalhe percentuais para os
as questões étnico-raciais na autodeclarados “pretos”,
Educação Básica, tanto nas “pardos” (conforme critérios do
escolas públicas quanto IBGE), indígenas e pessoas com
particulares. deficiência.

11
As Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Educação das Relações Étnico-Raciais e para o
Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e
Africana têm como objetivo “o reconhecimento e as
reparações à correção de desigualdades raciais e
sociais, orientadas para oferta de tratamento
diferenciado com vistas a corrigir desvantagens e
marginalização criadas e mantidas por estrutura
social excludente e discriminatória” (Parecer CNE
no 3/2004).
A valorização implica reconhecimento, e
reconhecer significa buscar compreender os valores
e as lutas dos sujeitos, “ser sensível ao sofrimento
causado por tantas formas e desqualificação , como
apelidos depreciativos, brincadeiras, piadas de mau
gosto, sugerindo incapacidade e ridicularizando
traços físicos” (Parecer CNE no 3/2004).

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4. História e Missão da escola

A escola Comunitária Jardim do Cajueiro nasceu atendendo,


prioritariamente, crianças provenientes de famílias de baixa renda que
na sua maioria são negras, combatendo portanto desde sua origem o
racismo estrutural.

A falta de opções para a educação infantil, pouco suporte de políticas


públicas na área social voltada para essas famílias, além do baixíssimo
índice de desenvolvimento humano (IDH), já naquela época, chamou a
atenção de um grupo de amigos moradores e frequentadores de Barra
Grande ligados a educação e a pedagogia Waldorf em suas experiências
pessoais. Quanto mais o turismo crescia ficava evidente que o suporte
social não acompanhava o mesmo ritmo, deixando as famílias sem apoio
para seus filhos, enquanto se dedicavam aos trabalhos nos novos
empreendimentos turísticos.

O olhar preocupado
com as crianças locais
foi o impulso
necessário para que
fosse colocado em
prática esse lindo e
necessário projeto
social educacional.
Com a convicção de
que a educação e a
Pedagogia Waldorf
poderiam fazer
diferença oferecendo às pessoas deste lugar a esperança da construção
de uma vida melhor e de um futuro mais digno.

13
Os recursos eram
pouquíssimos, mas a semente
germinou. Acalentada como
um sonho, esta convicção
ganhou o nome de Escola
Comunitária Jardim do
Cajueiro. Com muita emoção,
coragem e determinação, no
dia 06 de março de 2006,
recebíamos, numa casa
emprestada, nossas primeiras
24 crianças, na faixa etária de 3
à 6 anos de idade.
Amigos e simpatizantes deste sonho tornaram-se “padrinhos” de algumas
crianças, ajuda que se tornou crescente e fundamental para a existência da
Escola.

Em 2009, nossa escola foi reconhecida pela Federação das Escolas Waldorf
do Brasil (FEWB), tornando-se federada.

Até 2012, ocupamos quatro diferentes locações, até que, por meio de
doações, foi iniciada a construção de nossa sede própria.O terreno foi uma
doação da Prefeitura de Maraú em reconhecimento a importância da Escola
- Utilidade Pública Municipal de Maraú – Lei nº 027 de 20/06/2011.

Em 2017 a escola recebeu o certificado de entidade beneficente de


assistência social pelo CEBAS.

Com passar do tempo, famílias de outros contextos sociais vieram para


agregar esse projeto, que hoje tem como meta destinar 50% das vagas
para crianças em situação de vulnerabilidade socioeconômica, que na sua
maioria são negras.
Hoje a escola cresceu e abarca desde o jardim de infância até o 9º ano do
Fundamental 2, comportando 160 estudantes e 33 funcionários diretos. A
nossa missão se ampliou e agora é: “Oferecer educação por meio da
Pedagogia Waldorf, integrando a diversidade econômica, social e cultural
para um atuar consciente no mundo.”
14
5. Educação como combate ao racismo

A educação é um direito de todos. O Brasil de hoje, graças aos


esforços realizados nas últimas décadas, está muito próximo de ter
todas as suas crianças na escola, diferente do que era no passado
onde a educação era um direito de todos os cidadãos, com exceção
das pessoas negras..

Mas apenas tornar educação um direito não é suficiente

É preciso o compromisso social de


assegurar uma educação integral,
inclusiva, democrática e de
qualidade. Essa educação deve ser
acessada por todos, sobretudo as
crianças e adolescentes negros,
tendo assegurada a permanência
estudantil, que possibilite de fato
frequência na escola, do início ao
fim do ciclo.
15
A educação que queremos
construir precisa promover
o respeito às diferenças
culturais, trazer reflexões e
conscientização, passando
pelo reconhecimento, a
promoção e a valorização
dos povos indígenas,
culturas africanas e afro-
brasileiras: matriz
fundamental na
constituição da nossa
sociedade.

Buscamos que essa educação ajude a fortalecer no coração, mente, e


ação de todos, o ideal da igualdade de oportunidades, para que
possamos chegar àquele mundo que sonhamos e queremos!

16
6. A perspectiva Antroposófica de Rudolf Steiner e o
futuro social

O que vivemos hoje foi moldado e construído


pela história.

Rudolf Steiner, criador da Antroposofia e da


Pedagogia Waldorf, viveu de 1861 a 1925, num
momento histórico auge do capitalismo
industrial, materialismo e cientificismo, que
culminou na primeira Guerra Mundial. Após a
colonização das Américas e a escravização
dos povos africanos e nativos, os países mais
ricos do mundo queriam ainda mais poder.

Em 1885, ocorreu na Alemanha, a Conferência de Berlim, onde as


potências europeias organizaram a invasão do continente Africano e
Sudeste Asiático para dominar as regiões e explorar suas riquezas,
aquecendo o processo industrial e os mercados. Esses países dividiram a
África entre si e invadiram (o mapa da África ainda é esse até hoje). Foi
definido também o fim do tráfico negreiro, porém a justificativa para
acabar com a escravidão tinha interesses claramente econômicos.
17
Rudolf Steiner pensando sobre o que estava acontecendo e aonde tudo
isso levaria o ser humano, escreveu o livro “O Futuro Social” onde propôs
uma nova maneira de organização social que superasse a ideia de
superioridade de um povo acima de outro, das coisas acima das pessoas.
Que ia contra a destruição cultural e espiritual dos povos dominados, a
exploração material desmedida com a industrialização, enfrentando a
lógica do liberalismo econômico que resultou em guerra, destruição,
massacres e miséria.

Chamada de “Trimembração do Organismo Social” a proposta


reestrutura a sociedade para construir o futuro que buscamos através de
três esferas: espiritual-cultural, jurídico-política e econômica.

No âmbito espiritual-cultural é preciso liberdade, cada povo com suas


crenças e cultura preservadas mantendo suas raízes. No jurídico-político,
é fundamental igualdade, pois todos somos seres humanos e devemos
ter os mesmos direitos independente de cor, raça, sexo, etc. Por fim no
âmbito econômico, é essencial fraternidade, pois há entre os indivíduos
condições e necessidades variadas.

Há mais de 100 anos R.Steiner percebe e nos mostra


algo que precisamos buscar ainda hoje. Quando ele
criou a pedagogia Waldorf foi pensando a Escola a
serviço dessa transformação social, incluindo o
currículo, a metodologia e toda a sua organização.

18
A pergunta que fica é:

Como eu ATUO para promover esses três âmbitos


na escola, enquanto indivíduo?

Como a escola faz viver, na prática, a Trimembração


do organismo social, enquanto instituição?

Em seu livro “A questão pedagógica como questão social” R.Steiner diz


que se a criança do primeiro setênio desenvolver forças da imitação com
qualidade, ela ganha, na vida adulta, forças para o impulso da liberdade
cultural e espiritual.

Que se, no segundo setênio, a criança aprender através do amor com


confiança e entrega, ela guardará em si a semente, que na vida adulta,
germinará garantindo forças para igualdade de direitos.

No terceiro setênio se a educação acender uma fogueira de vontade


interior nesse jovem e trouxer interesse pelo mundo e pelo aprender, faz
com que, na vida adulta, ele atue para a fraternidade econômica.

Assim a escola Waldorf poderá fazer de fato essa


transformação social do futuro.

Nós estamos educando para a transformação


social, uma educação humanizadora em
busca de um mundo melhor!

19
7. Como estamos nos organizando contra o racismo

Nesse contexto, entendemos que é necessária uma postura firme


em prol da mudança estrutural da nossa sociedade. Acabar com o
racismo é um processo longo e a educação é fundamental para essa
transformação.
Como uma instituição preocupada com a importância dessa
questão e consciente do contexto em que está inserida, temos como
norte o mundo que queremos viver, e um compromisso com a
criação de uma realidade mais justa e fraterna.

Essa educação precisa ser antirracista,


contemplando todas as ancestralidades
brasileiras.

Além disso, o racismo atravessa todos os


âmbitos da escola e precisa ser pensado
como um todo para um atuar efetivo.

20
O Coletivo Encruzilhadas foi
criado por professores e
funcionários da escola
sensibilizados e mobilizados pela
luta de combate ao racismo, o
estudo da adaptação curricular e
manifestações sociais e culturais
afro-indígenas.
Essa cartilha é uma das ações
promovidas pelo coletivo que
também se tornou uma das
comissões de trabalho da escola.

8. Medidas pedagógicas em caso de racismo

MAS, E QUANDO ATITUDES


RACISTAS ACONTECEM NA ESCOLA?

Sabemos da limitação da capacidade de


transformação da legislação e de ações punitivas no
âmbito escolar, mas sabemos também que elas podem –
quando aplicada de maneira justa e adequada – regular
ações e atitudes discriminatórias e de agressão.

21
Dessa forma, adotamos na nossa escola as seguintes
medidas quando houver atos racistas, de acordo com as
diferentes idades:

Jardim de Infância:
Conversas e orientações com as famílias das crianças
envolvidas.

Ensino Fundamental 1 - 1º à 5º ano


O ato racista será tratado como agressão grave e terá a
mesma medida pedagógica como tal: Suspensão de 1 a 3
dias. A família será convocada para uma reunião e
convidada a refletir sobre o racismo e como abordar esse
tema em casa.

Ensino Fundamental 2 - 6º à 9º ano


O acontecimento será tratado como ato racista. O aluno
será suspenso por 1 a 3 dias e deverá fazer um trabalho
sobre o tema com o envolvimento das famílias.

Em todos esses casos, entendemos como prioritário e


fundamental que a vítima do racismo e sua família
recebam acolhimento da escola. Assim, família será
convidada para uma conversa a respeito do tema, a ser
realizada em conjunto com o Coletivo Encruzilhadas e
o professor.

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9. Para estudar e se informar

LIVROS
1. “Mulheres, Raça e Classe”, por Angela Davis 2.
“Pequeno Manual Antirracista”, por Djamila
Ribeiro
3. “O Genocídio do negro brasileiro: Processo de
um Racismo Mascarado”, por Abdias do Nascimento
4. “Quarto de Despejo”, por Carolina Maria de
Jesus
5. “Do silêncio do lar ao silêncio escolar”, por
Eliane dos Santos Cavalleiro
6. “O perigo de uma história única”, por
Chimamanda Ngozi Adichie
7. “Racismo linguístico: os subterrâneos da
linguagem e do racismo”, por Gabriel Nascimento
8. “Claros e escuros: Identidade, povo, mídia e
cotas no Brasil”, por Muniz Sodré
9. “Reinventando a educação: Diversidade,
descolonização e redes”, por Muniz Sodré
10. “O quilombismo”, por Abdias Nascimento
11. “Racismo Estrutural”, por Silvio de Almeida
12. “Um defeito de cor”, por Ana Maria Gonçalves
13. “Filosofias Africanas”, por Nei Lopes e Luiz
Antônio Simas
14. “O corpo encantado das ruas”, por Luiz
Antônio Simas
15. “Peles Negras, máscaras brancas” por Frants
Fanon

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LIVROS
16. ”Racismo, sexismo e desigualdade no Brasil”,
por Sueli Carneiro
17. “O pacto da branquitude”, por Cida Bento,
Alceu Chiesorin Nunes, e outros.
18. “O fascismo da cor: Uma radiografia do racismo
nacional”, por Muniz Sodré
19. “Lugar de negro”, por Lélia Gonzalez e Carlos
Hasenbalg
20. “Por um feminismo afro-latino-americano”, por
Lélia Gonzalez, Flavia Rios, e outros
21. “Mitologia dos orixás”, por Reginaldo Prandi e
Pedro Rafael
22. “Como o racismo criou o Brasil”, por Jessé
Souza
23. “Pedagogia Das Encruzilhadas”, por Luiz Rufino
24. “Quem tem medo do feminismo negro”, por
Djamila Ribeiro
25. “Olhos d`água”, por Conceição Evaristo
26. “A democracia da abolição” por Angela Davis
27. “A liberdade é uma luta constante” por Angela
Davis

FILMES, DOCUMENTÁRIOS E VÍDEOS:


NETFLIX
1. A Voz Suprema do Blues
2. A História do Cinema Negro nos EUA
3. Afronta!
4. Uma Jornada Gastronômica
5. Eu Não Sou Seu Negro

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FILMES, DOCUMENTÁRIOS E VÍDEOS:
6. Quem Matou Malcolm X
7. Quincy
8. Cara Gente Branca
9. Ela quer tudo
10. Nós
11. Minha História
12. Self Made: A vida e a história de Madam CJ
Walker
13. Infiltrado na Klan
14. Olhos que condenam
15. Brooklyn Nine-Nine

AMAZON PRIME
1. The Black Power Mixtape 1967–1975 92011
2. Uma Noite em Miami

GLOBOPLAY
1. Doutor Gama
2. Meu nome é liberdade
3. Mulheres no movimento
4. Medida provisória
5. A cor do poder
6. Suburba
7. Cidade dos Homens
8. Ana Bolena
9. For life, buscando por justiça
10. Cidade de Deus
Documentários
1. Motriz: roda de afeto
2. Mokambo
3. A morte branca do feiticeiro negro
4. Santo forte

25
FILMES, DOCUMENTÁRIOS E VÍDEOS:
5. A última abolição
6. Menino 23
7. Sobre nós
8. Eu nao sou negro
9. Dentro da minha pele
10. Samba de Santo
11. Cavalo de Santo
12. O caso do homem errado
13. Para onde vamos?
14. Sementes: mulheres pretas no poder

DISNEY +
1. Pantera Negra
2. Estrelas Além do Tempo

PODCASTS:
1. Projeto Quirino, história do Brasil
2. Mano a Mano, entrevistas: política, música e
religião
3. Boletos pagos com Nath Finanças, economia e
educação financeira
4. Vidas negras, a trajetória e a obra de
personalidades da história e da atualidade.

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INSTAGRAM:
1. @serantirracista
2. @waldorfantirracista
3. @uma_intelectual_diferentona
4. @pretitudes
5. @negrasprimaveras
6. @casere_
7. @nofrontempoderamento
8. @parentalidade_preta
9. @feirapretaoficial

27
10. Referências

INSTITUTO SOCIOAMBIENTAL:
https://pib.socioambiental.org/pt/Quem_s%C3%A3o

IPATRIMONIO, Maraú Quilombo Quitungo, tombamento:


https://www.ipatrimonio.org/marau-quilombo-
quitungo/#!/map=38329&loc=-14.101681675080613,-39.0230166
2429471,17

Prefeitura de Maraú – município remanescente de quilombo:


https://prefeitura.marau.ba.gov.br/noticias/secretaria-
de-educacao/marau-sede-e-tambem-uma-comunidade-
quilombola-certificada-pela-fundacao-palmares/
http://www.historica.arquivoestado.sp.gov.br/materias/ant
eriores/edicao51/materia01/

IBGE
https://www.ibge.gov.br/cidades-e-estados/ba/marau.html

História da Educação do negro e outras histórias –


Ministério da Educação
http://etnicoracial.mec.gov.br/images/pdf/publicacoes/his
toria_educacao_negro.pdf

Dados sobre comunidades remanescentes de quilombos hoje


no Brasil:
https://www.palmares.gov.br/wp-
content/uploads/2015/07/quadro-geral-por-estados-e-
regioes-30-06-2022.pdf

Expectativa de vida e mortalidade de escravos – Governo


do Estado de SP por Luiz Fernando Veloso Nogueira:
https://cpisp.org.br/direitosquilombolas/observatorio-
terras-quilombolas/quilombolas-
brasil/#:~:text=As%20comunidades%20remanescentes%20de%20q
uilombo,e%20de%20sua%20a%C3%A7%C3%A3o%20pol%C3%ADtica.

28
NEI LOPES e LUIZ ANTONIO SIMAS. Filosofias Africanas.

DJAMILA RIBEIRO. Pequeno Manual Antirracista.

SILVIO ALMEIDA. Racismo Estrutural.

SECRETARIA DO PLANEJAMENTO, GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA.


Textos para discussão n.17. Panorama socioeconômico da
população negra da Bahia.

ALINE NUNES RANGEL. Legislação Educacional e a questão


étnico-racial, desafios para uma educação antirracista no
Brasil. URFB/2020

IBGE:
https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ba/marau/pesquisa/23/2
5888?detalhes=true
https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ba/marau/panorama
https://educa.ibge.gov.br/jovens/conheca-o-
brasil/populacao/18319-cor-ou-raca.html

BARBARA CARINE. Como ser um educador antirracista

RUDOLF STEINER. O Futuro Social

RUDOLF STEINER. A questão pedagógica como questão socia

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Realização:
Escola Comunitária Jardim do Cajueiro

Equipe:
Conteúdo: Comissão Encruzilhadas
Arte e diagramação: Andrea Campos
Fotos: Muzila Ferraz

Apoio

A Caminhação

Maraú - BA
2023

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