Você está na página 1de 36

letramento

racial
organização : ericah azeviche
Este material foi produzido por Ericah Azeviche
para aula sobre Raça, Etnia e Identidade - PLP
Cubatão, sob coordenação de Paula Ravanelli.

INSTITUTO CAXANGÁ
www.caxanga.org
Abril de 2023
As organizações constroem narrativas sobre si
próprias sem considerar a pluralidade da
população com a qual se relacionam, que utiliza
seus serviços e que consome seus produtos.
Muitas dizem prezar a diversidade e a equidade,
inclusive colocando esses objetivos como parte de
seus valores, de sua missão e do seu código de
conduta. Mas como essa diversidade e essa
equidade se aplicam se a maioria de suas
lideranças e de seu quadro de funcionários é
composta quase exclusivamente de pessoas
brancas?

Cida Bento

Clique na imagem e saiba mais sobre


Cida Bento
1.
raça, etnia e
identidade
Raça
É comum que em formulários, questionários, pesquisas e
entrevistas, tenhamos que preencher nossa cor e raça
que é autodeclaratória, ou seja, cabe à pessoa definir
como se identica. Ainda que no campo das ciências
naturais a utilização do termo raça para se referir aos
grupos humanos seja contestado, no campo das ciências
sociais é o conceito para estudar, debater e criticar as
desigualdades existentes entre as raças na sociedade.

De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e


Estatística (IBGE) no sistema classificatório de cor e raça,
temos:

1. preta: descendentes de africanos e afro-brasileiros


2. brancas: descendentes de europeus
3. amarela: descendentes do Leste Asiático, como os
chineses, coreanos, japoneses e outros grupos
4. parda: não-brancos, o termo já foi utilizado para se
referir aos povos indígenas, atualmente é
comumente utilizado para identificar uma parcela da
população preta
5. indígena: povos indígenas e seus descendentes
Em Uma abordagem conceitual das noções de raça,
racismo, identidade e etnia, o antropópogo brasileiro-
congolês Kabengele Munanga reflete que não há problema
em classificarmos os seres humanos de acordo com as
características físicas, porém, a maneira como os europeus
se utilizaram desta classificação para hierarquizar as
pessoas, sim. Pois, se consideraram pertencentes a uma raça
superior. E, infelizmente, esta ficção colaborou e colabora
para que pessoas ajam com preconceito e discriminação
contra as pessoas que não são brancas, principalmente
contra as pessoas negras e povos indígenas.

A classificação hierárquica das raças resultou na raciologia.


Fantasiada de ciência, a raciologia teve um conteúdo mais
ideológico do que científico, pois legitimou sistemas de
dominação racial e extemínio de populações. E, a
diversidade humana foi usada para desvalorizar as
diferenças de tudo que não se assemelha ao europeu.

Com a desvalorizção da diversidade, a liberdade existencial


das pessoas pode ficar presa ou condicionada pela ideologia
racista.

É nesta perspectiva que dentre as várias violências, você ou


alguém que conheça já ouviu o termo "cabelo duro" ou
"cabelo ruim" simplesmente por não ser igual ao de
europeus. E, pessoas se referindo a candomblecistas como
se fossem malígnas, apenas por conhecerem outras formas
de conexão com o conhecimento.
O conteúdo de hierarquização das raças é bem perigoso,
pois é sempre utilizado para justificar consciente ou
inconscientemente grande parte das situações de
violências sociais, psicológicas e físicas.

Etnia
O teor da etnia é sócial, cultural, histórico e psicológico.
Um conjunto populacional dito raça “branca”, “negra” e
“amarela”, pode conter em seu seio diversas etnias.

Uma etnia é um conjunto de indivíduos que, histórica ou


mitologicamente, têm:
ancestral comum;
língua em comum;
mesma religião ou cosmovisão;
mesma cultura e,
moram geograficamente num mesmo território.

Algumas etnias constituíram sozinhas nações. Assim o


caso de várias sociedades indígenas brasileiras, africanas,
asiáticas, australianas, etc., que são ou foram etnias
nações.
Raça ou etnia?
Algumas pessoas fogem do conceito de raça e o substituem
pelo conceito de etnia, considerado como mais leve.

Porém, essa substituição não muda a realidade do racismo,


pois não destrói a relação hierarquizada entre culturas
diferentes, e por isso, faz sentido que estejamos atentas,
saibamos quem somos e como somos lidas socialmente
para que possamos criar defesas diante das inúmeras
violências que o racismo oferece.

Identidade
Noções de identidade acontecem quando tomamos
consciência e valorizamos nossas peculiaridades e
diferenças históricas, regionais, sociais, culturais, etc., e nos
percebemos como agentes históricas e culturais, e não
meramente como sujeitas biológicas ou raciais. É quando
nos definimos, e nçao quando outros grupos nos definem.

É importante entender que o biologismo erroneamente


propõe que pessoas negras e indígenas produzam cultura
negra ou indígena unicamente por nascerem negras ou
indígenas. Contudo, sabemos que não é assim. Pois, as
pessoas desenvolvem seus traços culturais quando dentro
de um determinado complexo cultural em que conjunto de
conhecimentos, valores, símbolos, ideias, costumes e
práticas são características comuns e compartillhadas.
Bora lá...
É importante que as pessoas não negras, brancas e que se
consideram brancas entendam que são beneficiadas pela
falsa ideia de superioridade originária de um movimento
racista em que tentaram convencer o Planeta que as
pessoas brancas são de uma raça superior às outras.

A falsa ideia de superioridade branca reflete na sociedade de


tal forma que as pessoas brancas possuem o privilégio de
aceitação e valorização, e acabam por ocupar espaços de
poder na sociedade, bem como cargos e posições de
decisão. Parece que quanto mais clara é sua pele, mais
aceita se é.

Muitas pessoas performam a branquitude para se sentirem


menos rejeitadas.

As populações negras estão no hanking dos índices de


vulnerabilidade social. A Lei Áurea proibiu a escravidão há
apenas 134 anos, e o Brasil possui uma dívida histórica para
com as pessoas descendentes das que foram sequestradas,
animalizadas, privadas de direitos sociais e escravizadas.

O racismo cria empecilhos e dificuldades de acesso aos


direitos das pessoas que são vítimas.
Atividades
1. PRA OUVIR, CANTAR E DANÇAR

No samba Identidade, de 1992, Jorge Aragão faz reflexão


sobre preconceito racial, raça e identidade, ressaltando a
valorização das culturas negras.

Elevador é quase um templo


Exemplo pra minar teu sono
Sai desse compromisso
Não vai no de serviço
Se o social tem dono, não vai...

Quem cede a vez não quer vitória


Somos herança da memória
Temos a cor da noite
Filhos de todo açoite
Fato real de nossa história

Se o preto de alma branca pra você


É o exemplo da dignidade
Não nos ajuda, só nos faz sofrer
Nem resgata nossa identidade

Clique no link abaixo para acessar a música no Youtube ou copie e cole


no seu navegador https://www.youtube.com/watch?v=FT6txAqRfok
2. CINEMA EM CASA - UM POUCO SOBRE AS CULTURAS
AFRO-BRASILEIRAS

O documentário Atlântico Negro, de Renato Barbieri e


Victor Leonardi mostra de maneira simples e profunda
como é importante entendermos a história e a memória
cultural afro-brasileira. E de como os portugueses
sequestraram não apenas pessoas, mas sim
conhecimento matemático, arquitetônico, metalúrgico,
agrônomo, astronômico, medicial, etc.

Documentário Atlântico Negro (1997), de Renato Barbieri e Victor


Leonardil. Cique no link abaixo para acessar ou copie e cole no seu
navegador https://www.youtube.com/watch?v=2I0gjOhcZ-o
3. CINEMA EM CASA - UM POUCO SOBRE AS CULTURAS
INDÍGENAS

A professora Célia Xakriabá comenta as mudanças


necessárias para a constituição de uma educação
indígena autônoma e autêntica, a partir de sua
experiência com a ressignificação do conceito de
educação para o povo Xakriabá. De acordo com sua fala,
um processo de educação diferenciado deve ser
pensado também como um processo de cultura, já que a
escolarização, por si só, é um dispositivo de colonização.
Célia fala ainda sobre a oralidade, a escrita como
manutenção da memória e a espiritualidade, e diz que a
escola indígena se encontra em todos os lugares, por
estar nas pessoas e no discurso oral, e não apenas em
textos escritos.

Célia Xakriabá – Culturas indígenas (2017)


Clique no link abaixo para acessar ou copie e cole no seu navegador
https://www.youtube.com/watch?v=GqQ1JEu4r18
Referências
Para os conceitos sobre Raça, Etnia e Identidade, foram
reunidos trechos da pesquisa do professor doutor
Kabengele Munanga.

Clique no link abaixo para acessar o conteúdo completo


de UMA ABORDAGEM CONCEITUAL DAS NOÇÕES DE
RACA, RACISMO, IDENTIDADE E ETNIA:
https://www.geledes.org.br/wp-
content/uploads/2014/04/Uma-abordagem-conceitual-das-
nocoes-de-raca-racismo-dentidade-e-etnia.pdf

Indicação de leituras,
clique nas imagens e
saiba mais.

Clique na imagem e saiba mais sobre


kABENGELE MUNANGA
2.
racismo,
injúria racial e
denúncia
Estatuto da Igualdade Racial
A Lei nº 12.288, de 20 de julho de 2010 institui (é) o
Estatuto da Igualdade Racial, destinado a garantir à
população negra a efetivação da igualdade de
oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais,
coletivos e difusos e o combate à discriminação e às
demais formas de intolerância étnica. Os trechos a
seguir, estão dispostos neste documento.

O que é racismo?
Toda distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada
em raça, cor, descendência ou origem nacional ou étnica
que tenha por objeto anular ou restringir o reconhecimento,
gozo ou exercício, em igualdade de condições, de direitos
humanos e liberdades fundamentais nos campos político,
econômico, social, cultural ou em qualquer outro campo da
vida pública ou privada.

O que é desigualdade racial?


Toda situação injustificada de diferenciação de acesso e
fruição de bens, serviços e oportunidades, nas esferas
pública e privada, em virtude de raça, cor, descendência ou
origem nacional ou étnica.
O que é desigualdade de gênero e
raça?
Assimetria existente no âmbito da sociedade que acentua a
distância social entre mulheres negras e os demais
segmentos sociais.

O que é injúria racial?


A injúria racial consiste em ofender a honra de alguém,
valendo-se de elementos referentes à raça, cor, etnia,
religião ou origem.

Como identificar a prática do


racismo?
O crime de racismo acontece em situações cotidianas, de
maneiras escrachadas ou de forma camuflada, e até
mesmo em tons de brincadeiras. Quase nunca uma pessoa
racista admite seu preconceito. Estando ou não evidente, a
vítima tem o direito de denunciar qualquer forma de
constrangimento e humilhação.
O racismo é crime!
Trate crime como crime...
com alterações previstas pela Lei nº 14.532, de 2023

Racismo Injúria Racial

O crime de racismo atinge A injúria racial consiste em


uma coletividade ofender a honra de alguém,
Alvo indeterminada de indivíduos, valendo-se de elementos
discriminando toda a referentes à raça, cor, etnia,
integralidade de uma raça. religião ou origem.

Não é possível responderem ao processo


Fiança em liberdade, a partir do pagamento de
fiança arbitrada pelo Delegado de Polícia

Art. 1ºda Lei nº 7.716, de 5 de Art. 1º A Lei nº 7.716, de 5 de


janeiro de 1989 (Lei do Crime janeiro de 1989 (Lei do Crime
Racial): Racial):

Art. 1º Serão punidos, na Art. 2º-A Injuriar alguém,


Base legal
forma desta Lei, os crimes ofendendo-lhe a dignidade
resultantes de discriminação ou o decoro, em razão de
ou preconceito de raça, cor, raça, cor, etnia ou
etnia, religião ou procedência procedência nacional.
nacional.

Reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa.


Pena A pena é aumentada de metade se o crime for cometido
mediante concurso de 2 (duas) ou mais pessoas.
Quem pratica um crime é
uma pessoa criminosa, denuncie!

Ao ser vítima ou presenciar um ato de racismo:

1. Verifique se as pessoas que presenciaram o ato


aceitam ser testemunhas;
2. Anote os nomes, telefones e e-mails para futuros
contatos;
3. Quando possível, registre em áudio e/ou vídeo,
imprima ou fotografe provas que considere
relevantes para a comprovação do fato;
4. Procure a Delegacia de Polícia mais próxima e
registre a ocorrência.;
5. Conte a história com o máximo de detalhes que
lembrar e forneça os nomes e contatos das
testemunhas. Solicite ao policial civil para incluir no
boletim de ocorrência que deseja que o autor seja
processado.

Não há prazo prescricional, ou seja,


você pode denunciar a qualquer momento.
Repare e denuncie quem :
Impedir ou obstar o acesso de alguém, devidamente
habilitado, a qualquer cargo da Administração Direta
ou Indireta, bem como das concessionárias de serviços
públicos, por motivo de discriminação de raça, cor,
etnia, religião ou procedência nacional, obstar a
promoção funcional;

Negar ou obstar emprego em empresa privada, por


motivo de discriminação de raça ou de cor ou práticas
resultantes do preconceito de descendência ou origem
nacional ou étnica;

Deixar de conceder os equipamentos necessários ao


empregado em igualdade de condições com os demais
trabalhadores;

Impedir a ascensão funcional do empregado ou obstar


outra forma de benefício profissional;

Proporcionar ao empregado tratamento diferenciado


no ambiente de trabalho, especialmente quanto ao
salário;

Impedir o acesso às entradas sociais em edifícios


públicos ou residenciais e elevadores ou escada de
acesso aos mesmos;
Repare e denuncie quem :
Quem em anúncios ou qualquer outra forma de
recrutamento de trabalhadores, exigir aspectos de
aparência próprios de raça ou etnia para emprego cujas
atividades não justifiquem essas exigências;

Recusar ou impedir acesso a estabelecimento comercial,


negando-se a servir, atender ou receber cliente ou
comprador;

Recusar, negar ou impedir a inscrição ou ingresso de aluno


em estabelecimento de ensino público ou privado de
qualquer grau;

Impedir o acesso ou recusar hospedagem em hotel,


pensão, estalagem, ou qualquer estabelecimento similar;

Impedir o acesso ou recusar atendimento em restaurantes,


bares, confeitarias, ou locais semelhantes abertos ao
público.

Impedir o acesso ou recusar atendimento em


estabelecimentos esportivos, casas de diversões, ou clubes
sociais abertos ao público;

Impedir o acesso ou recusar atendimento em salões de


cabeleireiros, barbearias, termas ou casas de massagem ou
estabelecimento com as mesmas finalidades;
Repare e denuncie quem :
Impedir o acesso ou uso de transportes públicos, como aviões,
navios barcas, barcos, ônibus, trens, metrô ou qualquer outro
meio de transporte concedido;

Impedir ou obstar o acesso de alguém ao serviço em qualquer


ramo das Forças Armadas;

Impedir ou obstar, por qualquer meio ou forma, o casamento ou


convivência familiar e social;

Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de


raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional;

Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas,


ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz
suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo, por
intermédio dos meios de comunicação social ou publicação de
qualquer natureza, por intermédio dos meios de comunicação
social, de publicação em redes sociais, da rede mundial de
computadores ou de publicação de qualquer natureza;

Quem obstar, impedir ou empregar violência contra quaisquer


manifestações ou práticas religiosas;

Qualquer atitude ou tratamento dado à pessoa ou a grupos


minoritários que cause constrangimento, humilhação, vergonha,
medo ou exposição indevida, e que usualmente não se
dispensaria a outros grupos em razão da cor, etnia, religião ou
procedência.
E quando o racismo acontece na
internet?
Internet também é vida real, denuncie !

1. Reúna provas, tire prints e recolha o maior número


de material possível;
2. Faça a queixa na delegacia;
3. Denuncie a pessoa usuária na rede social em que
houve o racismo;
4. Acesse o portal da Safernet e escolha o motivo da
denúncia. Envie o link do site em que o crime foi
cometido e insira alguma observação. Após esses
passos, será gerado um número de protocolo que
você vai usar para companhar o processo.
Nunca sofri racismo.
Como posso ajudar?
Ao presenciar, tente filmar o ocorrido e se ofereça para ir
à delegacia com a vítima.

Olhe para si, entenda que o racismo é ensinado de várias


maneiras e que provavelmente você também é uma
pessoa que reproduz o racismo. Então, esteja atenta!

Compartilhe este material, dentre outros disponíveis nas


redes, e apoie conteúdos que buscam combater o
racismo.

Apoie financeiramente projetos e organizações sem fins


lucrativos que realizam atividades de impacto positivo na
vida das pessoas.

Quando alguma pessoa perceber o racismo em você,


busque compreender como não repetir mais o ato, ao
invés de se sentir agredida.

Apoie a diversidade =)
Lei do racismo

A Lei 7.716/89, conhecida com Lei do Racismo, pune todo


tipo de discriminação ou preconceito, seja de origem, raça,
sexo, cor, idade. Recentemente, houve uma atualização
importante e a mudança foi sancionada pelo presidente
Lula em janeiro de 2023.

Leia o texto abaixo publicado pela Secretaria de


Comunicação Social do Governo Federal:

LEI QUE TIPIFICA INJÚRIA RACIAL COMO CRIME DE


RACISMO ENTRA EM VIGOR
Publicado em 12/01/2023 11h42 Atualizado em 12/01/2023 14h55
Sanção aconteceu na noite da quarta (11), ao final da cerimônia de posse das ministras
Anielle Franco e Sonia Guajajara

Mudança foi sancionada pelo presidente Lula e já está em


vigor; crimes previstos na Lei terão penas aumentadas
quando ocorrerem em contexto ou com intuito de
descontração, diversão ou recreação ou quando forem
praticados por funcionário público.
A Lei nº 14.532/2023, que equipara a injúria racial ao crime de
racismo, foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União
nesta quarta-feira (11/01). Sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula
da Silva ao final da cerimônia de posse das ministras Anielle Franco
(Igualdade Racial) e Sonia Guajajara, (Povos Indígenas), realizada no
Palácio do Planalto, a legislação já está em vigor.

A norma altera a Lei do Crime Racial (7.716/1989) e o Código Penal


(Decreto-Lei nº 2.848/1940) para tipificar como racismo a injúria
racial. A mudança aprofunda a ação de combate ao racismo, porque
cria elementos para interpretação dos contextos e evidencia
algumas modalidades de racismo que não eram, propriamente,
evidentes. A agressão a atletas, juízes, torcedores e torcidas, em um
ambiente de prática de esportes, é compreendido como racismo
esportivo. O deboche ou as piadas ofensivas disfarçadas de humor
caracterizam o racismo recreativo. O preconceito e a desqualificação
das religiões afrobrasileiras é racismo religioso.

A mudança prevê pena de suspensão de direito em caso de racismo


praticado no contexto de atividade esportiva ou artística, e reclusão
para o racismo praticado por funcionário público, bem como para o
racismo religioso e recreativo. Conforme a nova Lei, "injuriar alguém,
ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro, em razão de raça, cor, etnia
ou procedência nacional" pode gerar pena de reclusão (de dois a
cinco anos) e multa.
A pena será aumentada quando o crime for cometido por duas ou
mais pessoas. A legislação orienta que, na interpretação da norma,
os juízes considerem como "discriminatória qualquer atitude ou
tratamento dado à pessoa ou a grupos minoritários que cause
constrangimento, humilhação, vergonha, medo ou exposição
indevida, e que usualmente não se dispensaria a outros grupos em
razão da cor, etnia, religião ou procedência".

O texto também define que "se qualquer dos crimes for cometido
por intermédio dos meios de comunicação social, de publicação em
redes sociais, da rede mundial de computadores ou de publicação
de qualquer natureza" ou mesmo "se qualquer dos crimes for
cometido no contexto de atividades esportivas, religiosas, artísticas
ou culturais destinadas ao público", a pena é de reclusão (de dois a
cinco anos), além da proibição de frequência por três anos aos locais
destinados a práticas esportivas, artísticas ou culturais destinadas ao
público, conforme o caso.

AGRAVANTE — Os crimes previstos na Lei terão penas aumentadas


de um terço (1/3) até a metade, quando ocorrerem "em contexto ou
com intuito de descontração, diversão ou recreação". Da mesma
forma, terão as penas aumentadas os crimes praticados por
funcionário público, conforme definição prevista no Código Penal,
"no exercício de suas funções ou a pretexto de exercê-las".
Referências
Para entendermos algumas definições importantes ao
nosso debate político e pleno exercício da Cidadania,
dispomos de trechos do Estatuto da Igualdade Racial e da
Cartilha Conheça seus Direitos. Aqui, temos uma matéria
sobre a atualização da Lei do Racismo, e conteúdos
disponíveis nas Leis.

Clique nos links abaixo para acessar os conteúdos


completos:

Estatuto da Igualdade Racial


https://www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-por-temas/igualdade-
etnico-racial/publicacoes/estatuto_igualdade_digital-defeso.pdf

Cartilha Conheça seus Direitos - Discriminação Étnico-


Racial
https://www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-por-temas/igualdade-
etnico-racial/publicacoes/cartilha_discriminacao-etnico-
racial_defeso.pdf

Lei que tipifica injúria racial como crime de racismo entra


em vigor
https://www.gov.br/secom/pt-br/assuntos/noticias/2023/01/lei-que-
tipifica-injuria-racial-como-crime-de-racismo-entra-em-vigor

LEI Nº 7.716, DE 5 DE JANEIRO DE 1989


https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L7716.htm

LEI Nº 14.532, DE 11 DE JANEIRO DE 2023


https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2023-
2026/2023/Lei/L14532.htm#art1
3.
estereótipos existem
para serem quebrados
Estereótipos
A base do racismo é desvalorizar culturas e tentar
dominá-las. O racismo não é uma ação sem pretexto,
muito pelo contrário, o objetivo racista é subjulgar e
tornar o outro subserviente.

Produzir etereótipos sobre pessoas negras e povos


indígenas não soa graça em piadas, é crime. E muitas
vezes, reproduzimos estes etereótipos. Por isso, é
importante se atentar.

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) disponibilizou uma


cartilha com orientações para abolir ou substituir
expressões com origem racista.

A cartilha reúne de maneira didática “Expressões


racistas: porque evitá-las”com 40 termos e frases que
carregam um histórico de discriminação racial.
Não são só palavras
Abaixo temos as 40 expressões de cunho racista.
As explicações, origens e sugestões de substituição estão
na cartilha.

A coisa tá preta
Barriga suja
Boçal
Cabelo ruim
Chuta que é macumba!
Cor de pele
Criado-mudo
Crioulo
Da cor do pecado
Denegrir
Dia de branco
Disputar a negra
Esclarecer
Escravo
Estampa étnica
Feito nas coxas
Galinha de macumba
Humor negro
Inhaca
Inveja branca
Lista negra
Magia negra
Macumbeiro
Meia-tigela / de meia-tigela
Mercado negro
Mulata
Mulata tipo exportação
Não sou tuas negas!
Nasceu com um pé na cozinha
Nega maluca
Negra com traços finos
Negra de beleza exótica
Negro de alma branca
Ovelha negra
Preto de alma branca
Quando não está preso está armado
Samba do crioulo doido
Serviço de preto
Teta de nega
Volta pro mar, oferenda!

O conteúdo da cartilha é muito completo e importante.


Resumir para trazer pra cá é uma tarefa quase que
impossível, rs.

Então, o convite é: clique aqui e acesse!

Expressões racistas : porque evitá-las


Brasil. Tribunal Superior Eleitoral | 2022
e-bibliografia
ARAGÃO. Jorge, Identidade 1992. Disponível em:
https://www.youtube.com/watch?v=FT6txAqRfok.
(Acesso em 17 de abril de 2023).

Barbieri, 1997. Milla Barclay. Documentário Atlântico


Negro de Renato Barbieri e Victor Leonardi. YouTube, 28
de set. de 2020

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, de


05.10.1988. Brasília, 1988. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.ht
m#:~:text=I%20%2D%20construir%20uma%20sociedade%20livre,
quaisquer%20outras%20formas%20de%20discrimina%C3%A7%C
3%A3o. Acesso em: 3. out. 2022.

BRASIL, Lei 12.288/10. Estatuto da Igualdade Racial. Brasília, DF:


Presidência da República, 2010. Versão digital, Sistema Nacional
de Promoção da Igualdade Racial. Disponível em
https://www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-por-temas/igualdade-
etnico-racial/publicacoes/estatuto_igualdade_digital-defeso.pdf
Acesso em: 4. abril. 2023.

BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Expressões racistas :


como evitá-las. Brasília: Tribunal Superior Eleitoral, 2022. 55
p. Disponível em
https://bibliotecadigital.tse.jus.br/xmlui/handle/bdtse/11048
Acesso em 19.abr.2023.
Cartilha Discriminação Étnico-Racial. Brasília, 2022.
Disponível em:
https://www.gov.br/mdh/pt-br/navegue-por-
temas/igualdade-etnico-
racial/publicacoes/cartilha_discriminacao-etnico-
racial_defeso.pdf. Acesso em 4. out. 2022.

Itaú Cultural, 2017. Célia Xakriabá – Culturas indígenas.


Depoimento gravado durante o evento Mekukradjá –
Círculo de Saberes: Língua, Terra e Território.YouTube, 25
de fev. de 2019

LEI Nº 7.716, DE 5 DE JANEIRO DE 1989. Disponível em:


https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L7716.htm
Acesso em: 18.abr.2023.

LEI Nº 14.532, DE 11 DE JANEIRO DE 2023. Altera a Lei nº


7.716, de 5 de janeiro de 1989 (Lei do Crime Racial), e o
Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código
Penal). Disponível em:
https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2023-
2026/2023/Lei/L14532.htm#art1 Acesso em: 18.abr.2023.

MUNANGA, Kabengele. Uma abordagem conceitual das


noções de raça, racismo, identidade e etnia. Programa de
educação sobre o negro na sociedade brasileira.
Tradução . Niterói: EDUFF, 2004. . Disponível em:
biblio.fflch.usp.br/Munanga_K_UmaAbordagemConceitu
alDasNocoesDeRacaRacismoIdentidadeEEtnia.pdf.
Acesso em: 16 abr. 2023.
Portal do Governo Federal, 2023. Disponível em:
https://www.gov.br/secom/pt-
br/assuntos/noticias/2023/01/lei-que-tipifica-injuria-racial-
como-crime-de-racismo-entra-em-vigor Acesso em: 1
abr. 2023. Sem autor: Lei que tipifica injúria racial como
crime de racismo entra em vigor.

SaferNet Brasil, 2023. Disponível em:


https://new.safernet.org.br/denuncie Acesso em: 17 abr.
2023. Sem autor: Denúncias anônimas de crimes e
violações contra os Direitos Humanos na Internet.
Ericah Azeviche

Filha de famílias pernambucanas, pós-graduanda em


Gestão de Projetos pela USP e bacharela em Comunicação
das Artes do Corpo pela PUC-SP. Analista de projetos no
Instituto Iris. Comunicóloga, estudiosa de semiótica da
cultura, pensamento complexo e realidade sistêmica.
Professora de Cosmologia Iorubá nas Artes Visuais. Artista,
intérprete de samba e música popular. Foi assessora
parlamentar do primeiro gabinete negro do Brasil, na 19ª
Legislatura, na Assembleia Legislativa do Estado de São
Paulo. Consultora e conferencista sobre raça, gênero,
diversidade, e culturas brasileiras. Diretora vice-presidente
da Nova Frente Negra Brasileira, coordenadora do
Promotoras Legais Populares - Cubatão e diretora de
programas sociais no Instituto Caxangá.

Você também pode gostar