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INSTITUTO DE GESTALT DE SÃO PAULO

VIRGINIA GARCÍA MACHADO

TRANSGENERIDADE
Uma forma de ser e de estar no mundo

Monografia apresentada como Trabalho de Conclusão de


Curso do curso de formação em Gestalt Terapia do Instituto
de Gestalt de São Paulo.

Orientador: Tatiana Salgado


Coorientador: Heloisa Hanada

São Paulo
2018
DEDICATÓRIA

Aos meus amigos, colegas e clientes, que me ensinam dia a dia que a autenticidade e
felicidade vão de mãos dadas
Ao meu companheiro de vida, Mikio, que me acompanha incondicionalmente no meu
caminho de formação profissional
Aos meus pais, que nunca deixam de acreditar em mim
AGRADECIMENTO

A Myrian Bove Fernandes, minha terapeuta querida, por seu olhar cheio de amor.
A Luiz Lilienthal, professor e supervisor, por me acompanhar neste recomeço.
Ao IGSP, instituto que me acolheu desde que cheguei a São Paulo, me brindando
todas as possibilidades para que hoje esteja fechando esta Gestalt.
A Ana Paula e Ceni, pela sua disponibilidade para ajudar em todos estes anos.
A minha amiga Mayra, que me auxiliou com a revisão do português.
“A normalidade é uma estrada pavimentada:
confortável de se andar, mas flores nunca
crescerão nela.”
(Vincent Van Gogh)
RESUMO

A temática da transgeneridade tem sido entendida desde construtos teóricos, como


pela medicina e as ciências sociais, muitas vezes contrapondo-se um ao outro. Neste
movimento polar entre biologia e cultura, onde fica a experiência vivida pela pessoa? Como
fazer para conciliar essas suposições teóricas com suas vivências? À luz da Gestalt-Terapia
podemos achar o caminho para que experiência e teoria achem um único destino possível: a
validação da existência do outro. Os relatos ouvidos trazem a tona a importância da aceitação
e reconhecimento social para sentirem-se pertencentes aos grupos os quais acontece a vida.
Isto implica a necessidade fundamental de trabalhar no campo, e a educação torna-se
ferramenta fundamental nessa caminhada.

Palavras-chave: Transgeneridade. Transexualidade. Gestalt-Terapia. Humanismo. Educação.


Diversidade.

RESUMEN

La temática de la transgeneridad ha sido entendida desde constructos teóricos , como


la medicina y las ciencias sociales, muchas veces contraponiéndose uno al otro. En este
movimiento polar entre biología y cultura ¿dónde queda la experiencia vivida por la persona?
¿Cómo hacer para conciliar esos supuestos teóricos con sus vivencias? A la luz de la Terapia
Gestalt podemos encontrar el camino para que experiencia y teoría encuentren un único
destino posible: la validación de la existencia del otro. Los relatos oídos traen a la luz la
importancia de aceptación y reconocimiento social para sentirse pertenecientes a los grupos
en los cuales sucede la vida. Esto implica la necesidad fundamental de trabajar en el campo, y
la educación se torna herramienta fundamental en ese caminar.

Palabras-clave: Transgeneridad. Transexualidad. Terapia Gestalt. Humanismo. Educación.


Diversidad.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO …………………………………………………………………8
1.1 Justificativa ………………………………………………………………………9
1.2 Objetivos …………………………………………………………………………9
1.2.1 Objetivo geral …………………………………………………………………….9
1.3 Metodologia ……………………………………………………………………..10
2 DIVERSIDADE SEXUAL ..…………………………………………………...10
2.1 Expressões da diversidade sexual…..……………………………………………10
2.1.1 Sexo biológico….………………………………………………………………...10
2.1.2 Orientação sexual .……………………………………….……………………….11
2.1.3 Identidade de gênero .………...……………………….…………………….……11
2.1.4 Expressão de gênero .……...……………………………………………….…….11
2.2 Transgêneros ..…...…………. .……………………….………………………….11
3 COMO E PARA QUE A GESTALT-TERAPIA ...…………………………...12
3.1 O campo organismo/ambiente .…………………………………………………..14
3.1.2 O campo organismo/ambiente em ação .…………………………………………14
3.1.3 Contato, Fronteira de contato e Ciclo de contato .………………….…………….14
3.1.4 Figura/fundo .………………………………………….…………………….……15
3.1.5 Ajustamento criativo .………………………………………….…………………15
3.1.6 Self .………………………………………….…………………………………...16
4 LIBERDADE DE GÊNERO .…………………………………………………. 16
5 A GT COMO VIA PARA PENSAR A TRANSGENERIDADE ...…………..19
5.1 Do biomédico ao queer …………………………………………………………..19
5.2 GT: o mapa não é o território .………………………………………………...….20
5.3 O processo socializador e os âmbitos socializantes.……………………………...23
5.3.1 Família …….…………………………………….………………………………. 23
5.3.2 Escola ………………………………………….…………………………………24
5.3.3 Trabalho ………………………………………….………………………………26
6 CONCLUSÕES.………………………………………….……………………...27
6.1 Considerações finais ……………………………………………………………..28
6.2 Propostas para desenvolvimento futuro ………………………………………….29
REFERÊNCIAS …………………………………………………………….…..30
1 INTRODUÇÃO

A discriminação é um fenômeno social que abrange diversas áreas da existência


humana se manifestando de diferentes formas em contextos sócio-históricos específicos. O
certo é que sempre se repete o desnível de poder entre as pessoas, que vulnera a dignidade, os
direitos humanos e as liberdades fundamentais, que atravessados por relações econômicas,
processos culturais e morais, acabam formando estereótipos e preconceitos, que inferiorizam a
determinados grupos e os condenam à exclusão social, arrastando consigo um lugar de
inferioridade e distanciamento dos centros de poder e recursos valorizados socialmente.
Atualmente, vemos diversos grupos populacionais que são alvo de discriminação e
atos de violência, como homossexuais, negros, mulheres, transexuais. Também vemos
movimentos de mudança cultural, porém com muita resistência e conflitos. A questão das
identidades de gênero é uma das áreas que sofrem atualmente mais resistências a mudanças e
exige toda uma desconstrução de valores e crenças relacionadas ao gênero, em uma sociedade
baseada em enfoques reducionistas sustentadas por um pensamento binário, mente-corpo,
indivíduo-sociedade, dentro-fora, que desembocam na dicotomia homem-mulher, masculino-
feminino, sexo-gênero, sendo esta última um dos principais obstáculos a atravessar por
pessoas que não se “ajustam” às normativas de gênero vigentes.
Na perspectiva da Gestalt-Terapia, promover saúde implica necessariamente realizar
um trabalho onde esse “ajuste” não seja uma mera adaptação passiva da pessoa a condições de
existências estabelecidas. O Ajustamento Criativo convida constantemente a estar aware à
pessoa e seu entorno, ao Campo, à Fronteira de Contato, pois é ali onde a semente da
mudança nasce e se desenvolve. É imprescindível pensar a sociedade como o campo onde a
vida se produz e se reproduz, onde as pessoas são capazes de modificar o seu entorno para
que o contato seja possível; entorno é mutável e está em constante transformação. O
ajustamento criativo permite ver que outras possibilidades existem, se criam, se desvelam, se
revelam.
É nessa fronteira organismo-ambiente que quero dar luz, para poder entender como
uma pessoa transgênero se ajusta criativamente visando à sua autorregulação, num campo
onde parece que as forças preponderantes não contribuem para criar um ninho de acolhimento
para as minorias. Embora existam evidências suficientes sobre o sofrimento padecido por este
grupo que leva a condições de exclusão e violência das mais diversas formas, o que daria um
longo trabalho de análise, estou escolhendo colocar o olhar, a atenção e o coração, mais uma
vez, neste grupo. Quero que a figura seja esta população, mas esta figura empoderada.
Acredito que vivemos tempos de mudanças, acredito que diversos movimentos vêm se
gerando e contribuindo para que haja lugares no mundo para todas as pessoas. Acredito que
os movimentos são multidireccionais, pois não acredito no dentro-fora. Considero
fundamental o trabalho com os grupos de pertencimento aos quais uma pessoa faz parte ao
longo da sua vida. Família, escola e trabalho se constituem então em três âmbitos
privilegiados para poder pensar um futuro inclusivo, onde as diferenças sejam potencialidades
de crescimento em favor da sociedade toda, valorizando a transformação que pessoas
transgênero promovem no contexto social e cultural, com sua existência.

1.1 JUSTIFICATIVA

Diversas teorias têm sido desenvolvidas sobre a temática que pretendo abordar. Muitas
delas em certa forma falam por mim, mas não tudo…
Do meu querido Prof. Alejandro Spangenberg, ouvi lá no ano 94, que “la Gestalt es
una forma de ser y de estar en el mundo”. Aprendi… e ainda tento apreender.
Desde meu lugar de mulher, companheira, amiga, cidadã, trabalhadora, tento
contribuir ao máximo na desconstrução do estabelecido e seguido acriticamente pelas pessoas
que muitas vezes se comportam como rebanho. Desde meu lugar de psicóloga sinto urgência
em começar a pensar e falar cada vez mais desta temática. Ainda temos colegas que têm
preconceitos tão enraizados que nem sequer os reconhecem como tal. Desde meu lugar de
gestalt-terapeuta, quando sai dos livros que mais falam da temática (que muito conhecimento
me proporcionaram) percebi que nossa teoria é maravilhosa para entender a temática. Aí
vieram de repente: self, campo, ajustamento criativo, fronteira de contato, enfim, todos esses
conceitos que trazem o movimento e a transformação.
Poderia justificar o meu trabalho baseada nas estatísticas de mortes, violências,
exclusões que transexuais sofrem, trabalho importantíssimo que considero que muita gente
faz, mas quero justificar a importância do meu trabalho desde este meu sentir gestaltista,
desde este outro olhar teórico. Hei de tentar colocar outro grãozinho de areia, conjugando
teoria e afetos, neste enorme universo que é formado pelas paixões humanas, onde fluem e
confluem amores, ódios, alegrias, raivas, tristezas, dores, plenitudes.

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo geral


Visualizar formas que as pessoas encontram de ser e de estar num mundo que muitas
vezes nega não só a sua presença, mas a sua existência. Descobrir caminhos onde as
diferenças se tornem potências passíveis de quantas representações de existências e
experiências sejam possíveis para um ser humano.

1.3 METODOLOGIA

Levando em conta a visão holística de homem e de mundo que a Gestalt nos


proporciona, onde o sentir, pensar e agir congruentemente, e a consequente confirmação do
campo, dão conta de saúde, trabalharei com informações provenientes de entrevistas, artigos,
relatos, como provocações para pensar elementos que contribuem, ou não, no processo de
ajustamento criativo das pessoas trans.
2 DIVERSIDADE SEXUAL

Dicio, Dicionário Online de Português, define diversidade como “pluralidade; reunião


do que contém vários e distintos aspectos, características ou tipos. Multiplicidade; conjunto
diverso. Característica ou estado do que é diverso; não semelhante”.
Diversidade sexual faz alusão à multiplicidade de práticas e manifestações afetivas e
sexuais presentes na sociedade. Isto é, inclui as diferentes orientações sexuais, tais como
homossexuais, bissexuais, assexuais, pansexuais, e identidades de gênero, transgênero,
cisgênero, intersexual, identidades não binárias. Supõe olhar para um leque de expressões
diferentes de como vivem as pessoas sua identidade, seus processos corporais, seus desejos,
suas relações.

2.1 EXPRESSÕES DA DIVERSIDADE SEXUAL

Conceitos fundamentais, que muitas vezes se confundem, é preciso esclarecer: sexo


biológico, orientação sexual, expressão de gênero e identidade de gênero.

2.1.1 Sexo biológico

O sexo biológico é aquele que se corresponde com os genitais. Fala das características
biológicas e anatômicas da pessoa ao momento do seu nascimento, podendo ser homem,
mulher ou intersexual, estes últimos são pessoas que desenvolvem características biológicas
e/ou anatômicas de ambos sexos.

2.1.2 Orientação sexual

Aqui se faz alusão ao “objeto de desejo” da pessoa. Se refere à capacidade de sentir


atração emocional, afetiva e sexual por outras pessoas. Podemos destacar: homossexualidade,
pessoas que se sentem atraídas por outras do mesmo gênero; heterossexualidade, a atração é
pelo gênero oposto; bissexualidade, pessoas que se sentem atraídas por os dois gêneros:
pansexualidade, a atração é pela forma de ser do outro, não pelo seu sexo ou gênero;
assexualidade, as pessoas não sentem atração sexual por qualquer outra pessoa.

2.1.3 Identidade de gênero


É a vivência interna e individual do gênero tal qual a pessoa sente intimamente, que
pode corresponder, ou não, com o sexo biológico dado no nascimento. Cisgênero se refere a
pessoas que se identificam com o sexo biológico, transgênero quando a vivência do gênero
não corresponde com o sexo biológico.

2.1.4 Expressão de gênero

É como a pessoa manifesta publicamente a sua identidade de gênero. Não tem a ver
com a experiência identitária do gênero, tem a ver com o que na sociedade tradicionalmente
se entende como referente ao universo feminino ou masculino, por exemplo, mulheres usam a
cor rosa e saia, enquanto homens usam a cor azul e calças. Corresponde aos estereótipos e
modelos de masculino e feminino que definem os papéis de gênero estabelecidos histórica e
culturalmente, que se expressam em ações de acordo com expectativas e normas sociais sobre
como a pessoa deve agir e sentir, diferenciando o que sentem mulheres e homens.

2.2 TRANSGÊNEROS

Em primeiro lugar é importante esclarecer que é fácil encontrar diversos textos falando
a respeito, onde a informação transmitida é diferente, já que este é um tema que possibilita
revisões teórico-conceituais que emergem do próprio campo.
Neste texto as seguintes conceptualizações concordam com o entendimento que se tem
no Ambulatório Transdisciplinar de Identidade de Gênero (AMTIGOS) do Instituto de
Psiquiatria do Hospital das Clínicas, pertencente à Faculdade de Medicina da USP. O
Psiquiatra Daniel Mori resume na sua fala os mais comuns1.
Falamos em transgêneros quando a pessoa assume e expressa uma identidade de
gênero diferente ao sexo biológico, podendo querer modificar, ou não, seu corpo por via de
hormônios, cirurgias de redesignação sexual, implantes de mamas, sem que isso pressuponha
uma orientação sexual determinada.
Transgeneridade é um termo guarda-chuva que abrange múltiplas experiências e
maneiras de sentir a identidade. A modo de exemplo temos:

Transexuais não se identificam com seu sexo biológico, querendo poder modificar ou

1
https://noticias.bol.uol.com.br/ultimas-noticias/brasil/2018/01/03/transgeneros.htm Acesso em
30/08/2018
não seu corpo.
Travestis vivenciam papéis de gênero femininos, mas podem não se reconhecer como
homens ou mulheres, e sim como de um terceiro gênero ou um não gênero. Por outra parte
deve salientar-se que este termo só existe na América Latina e implica uma série de
conceptualizações à respeito que implicam múltiplos atravessamentos.2
Crossdressers buscam vivenciar papéis de gênero diferentes e para isso usam
vestimentas e adereços diferentes aos do seu gênero. Não estruturam identidade transexual ou
travesti.
Não binários são pessoas cuja identidade de gênero não é completamente masculina
ou feminina, ou tem elementos das duas.

2
Para quem estiver interessado indico uma matéria feita pela Amara Moira:
http://midianinja.org/amaramoira/travesti-ou-mulher-trans-tem-diferenca/ Acesso em 30/08/2018
3 COMO E PARA QUE A GESTALT-TERAPIA?

A Gestalt é uma travessia, um caminho compartilhado,


uma senda, uma rota de volta a casa, um mistério que se
revela em relação, em companhia. É a emoção, a dor
profunda e agoniada do parto da vida, são as mãos
ensanguentadas que ajudam a nascer, é a paixão, a
coragem necessária para crer, para viver. É, portanto, uma
caminhada com coração, uma escolha, a coragem de
aceitar os erros, a força para começar de novo, a vontade
de mudar tudo, mesmo que seja um pouco. A Gestalt é
querer, mas querer de verdade; é poder maravilhar-se com
o cotidiano, percorrer os sótãos e os subsolos de nossa
vida, dispostos a desenterrar os mortos e plantar as
sementes. SPANGENBERG (1996, p.10)

A perspectiva filosófica da Gestalt permite entender a problemática da transgeneridade


no seu mais amplo espectro. O Paradigma Holístico que dá conta da teoria orienta “o
problema da compreensão dos fenômenos à inter-relação entre eles, em determinado
momento, e não a alguma causa original mais importante que outras”. (Spangenberg, 2006,
p.13)
A corrente Humanista, o Existencialismo e a Fenomenologia, configuram uma
cosmovisão que permite pensar a realidade e direcionar a práxis.
O Humanismo traz a possibilidade de focar no desenvolvimento do potencial da
pessoa. “É uma forma de devolver ao homem toda sua dignidade, seu direito ao respeito em
todas as suas dimensões: Direito de valorizar seu corpo e suas sensações, satisfazer suas
necessidades vitais fundamentais, expressar suas emoções; direito de construir sua unicidade,
respeitando a especificidade de cada um (direito à diferença); direito de se desenvolver e se
realizar, sem limitar-se ao “ter” e ao “fazer”, de criar seus próprios fins, de ultrapassar sem
cessar seus próprios limites, de elaborar seus próprios valores individuais, sociais e
espirituais”. (Serge e Anne Ginger, 1995, p.97).
O Existencialismo luta contra toda forma de entendimento do ser humano que o
considere independente das suas relações com o mundo. Ele é uma realidade completa e
inacabada condenado a realizar-se no meio de contradições da sua própria vivência, pois têm
consciência e liberdade. Assim se destaca o “primado da vivência concreta em relação a
princípios abstratos. Pode ser existencial tudo que diz respeito à forma como o homem
experimenta sua existência, a alume, a orienta, a dirige. A autocompreensão para viver, para
existir, sem se colocar em questões de filosofia teórica, é existencial: é espontânea, vivida,
não erudita; a singularidade de cada existência humana, a originalidade irredutível da
experiência individual, objetiva e subjetiva; a noção de responsabilidade de cada pessoa que
participa ativamente da construção de seu projeto existencial e confere um sentido original ao
que acontece e ao mundo que a rodeia, criando, inelutavelmente, a cada dia, sua relativa
liberdade”. (Serge e Anne Ginger, 1995, p.36).
A Fenomenologia procura reconciliar o que se supõe pela via da teoria com o que se
conhece através da experiência. A fenomenologia diz “que é mais importante descrever do
que explicar: o como precede o porquê; que o essencial é a vivência imediata, tal como é
percebida ou sentida corporalmente - até imaginada – assim como o processo que está se
desenvolvendo aqui e agora; que nossa percepção do mundo e do que nos rodeia é dominada
por fatores subjetivos irracionais, que lhe conferem um sentido, diferente para cada um; isso
conduz, particularmente, à importância de uma tomada de consciência do corpo e do tempo
vivido, como experiência única de cada ser humano, estranha a qualquer teorização
preestabelecida (Serge e Anne Ginger, 1995, p.36).

3.1 O CAMPO ORGANISMO/AMBIENTE

O campo é uma totalidade na qual as partes estão em relação e correspondência umas


com outras, sem ficar alguma delas à margem da influência do que acontece em outro lugar
do campo. A realidade é um grande campo unificado que está em constante mudança, apesar
de manter sua essência. Assim, o comportamento passa a ser analisado e entendido em função
do campo existente no momento em que ocorre e não apenas como resultado da realidade
interna do indivíduo (Ribeiro, 1994). A pessoa está no campo e o campo está na pessoa, nas
palavras de Selma Ciornai.
Na Gestalt Terapia a pessoa é percebida como um todo, sempre compreendida dentro
de um campo determinado, sendo parte, e em relação com ele. Assim, o campo que está se
reestruturando permanentemente, é dinâmico. Esta forma de ver se contrapõe à ideia de um
sujeito passivo que recebe influências do meio, e nos proporciona uma forma de representar
holisticamente fenômenos complexos.
Em definitiva, a definição de um organismo é a definição de um campo
organismo/ambiente (Perls; Hefferline; Goodman, 1951).

3.1.2 O campo organismo/ambiente em ação


Se o campo conforma uma perspectiva para a Gestalt Terapia, contato, fronteira de
contato, ciclo de contato, figura/fundo, ajustamento criativo, auto regulação organísmica e
self, explicam como a pessoa é co criadora de um campo de existência.

3.1.3 Contato, Fronteira de contato e Ciclo de contato.

A Gestalt Terapia para poder olhar o mundo interno, olha como está sendo a relação
da pessoa com o mundo, com os outros. O desenvolvimento acontece aqui e agora, em um
espaço e em um tempo, onde sempre há um outro e onde a pessoa pode satisfazer suas
necessidades. Este movimento acontece na fronteira de contato e determina o que chamamos
de contato. A experiência é o ato que acontece nessa fronteira, enquanto o contato é
awareness do campo, o conhecimento imediato e implícito dele. O contato facilita que a
pessoa esteja em concordância consigo mesma, conseguindo assim satisfazer suas
necessidades. “A awareness é um meio contínuo para manter-se atualizado com o próprio
eu”. (Polster; Polster, 2001, p.217).
“Basicamente o contato é a consciência ‘de’ e o comportamento ‘para’ com as
novidades assimiláveis, e a rejeição das novidades não assimiláveis. O que é difuso, sempre
igual, ou indiferente não é um objeto de contato”. (Polster; Polster, 2001, p.113).
O Ciclo de contato é um processo que começa com uma sensação e leva a mobilização
da energia para efetuar uma ação para assim satisfazer uma necessidade.

3.1.4 Figura/fundo

Cada sujeito que participa em uma situação o faz em função das suas necessidades e
estas se expressam através da emergência de uma figura. Quando uma configuração ainda não
está definida, está no fundo. As figuras emergem de um fundo onde inicialmente estavam
indiferenciadas. No processo da formação da figura é o fundo mesmo que lhe dá forma e
significado. Ou seja, a figura tem a ver com os interesses da própria pessoa. “O
desenvolvimento da awareness pode ser comparado ao surgimento de uma figura nítida, ao
passo que o estágio de assimilação e retração se assemelha à destruição da figura em meio ao
fundo homogêneo. Assim, sensação, awareness e ciclo de contato são o processo por meio do
qual uma figura emerge”. (Zinker, 2007, p.110).

3.1.5 Ajustamento criativo


A situação muda, a vida muda, a vida é transformação. A forma rígida numa vida que
é mudança contínua é discordante. Quando se fala em funcionar de acordo com a demanda de
uma situação para conseguir satisfazer as necessidades próprias, se está falando de
ajustamento criativo. O organismo consegue satisfazer as suas necessidades quando
ajustamento criativo o leva a interagir com o ambiente, a figura emerge e o ciclo de contato se
completa.
“Ajustamento e criação aparecem como dois polos complementares de um mesmo
processo: cada um deles é necessário ao outro para que se mantenha um equilíbrio saudável e
dinâmico (…) O ajustamento garante a dimensão do real e da adaptação, a criação abre para a
dimensão da fantasia e para a ampliação de possibilidades”. (Robine, 2006, p.53).
Perls e Goodman explicitam que na mesma operação que o homem é criador do
mundo é criado por ele.

3.1.6 Self

Gestaltistas têm diferentes entendimentos do self. Para Ponciano, por exemplo, “o self
é um sistema da personalidade, cuja função é colocar-se alternativamente como figura e/ou
como fundo nas relações com o mundo exterior.” (Ponciano, 2007, p.44)
Diferente à estrutura, há quem entenda o self como processo que determina a
capacidade de se ajustar à situação. De fato, o ajustamento criativo é uma função essencial
dele. Não se pensa no self como uma dimensão fixa, pois se faz presente quando acontece
uma interação na fronteira de contato.
Outros autores entendem o self como processo e estrutura. “O self, tal como entendido
pela Gestalt Terapia, manifesta-se por meio de funções que são indissociáveis, a não ser por
razões de ordem retórica, umas podendo ser privilegiadas em relação às outras, dependendo
do momento da experiência. Assim, aquilo que diz respeito a necessidades, apetites, instintos,
desejos, virá fundamentalmente da ‘função Id’. Aquilo que diz respeito às representações, isto
é, a experiência anterior e o conhecimento de si, será designado pelo conceito de “função
personalidade” do self. O engajamento desses dois modos de funcionamento do self na
atividade atual, ou seja, sua atualização nas escolhas e rejeições, na experiência de contato
organismo-ambiente, será gerado pelo self em sua função ego”. (Robine, 2006, p.61)
Seja entendido de um jeito ou de outro, o self é o responsável por avaliar as
possibilidades que estão presentes no campo e integrá-las à sua formação em prol de
satisfazer as necessidades do organismo.
4 LIBERDADE DE GÊNERO3

“Entre ser homem e ser mulher, eu prefiro ser eu.”


“Eu amo o pênis que eu tenho, então amo meu corpo exatamente do jeito que ele é.”
“Eu era bem feminina, bem feminino.”
“Eu lembro que era criança, pedindo para o papai do céu, acordar menino.”
“Você é um menino agora, e eu falo não pai, eu não quero ser um menino.”
“Eu não sou homem, eu sempre fui a Lara.”
“Pude, pela primeira vez, ser vista como Amara em público, eu senti liberdade.”
“As pessoas não estão acostumadas a ler o feminino num corpo sem peito.”
“Elas me olhavam e me chamavam de “traveco”, falavam que a Universidade não
era um lugar onde eu deveria estar.”
“Pessoas trans podem ter filhos, sim! Podem criar crianças, sim!”
“Eu estou aqui, querendo falar para as pessoas que eu existo.”
“Para minha família eu era um homem gay.”
“Era uma busca incansável por uma sexualidade, e na realidade não era um
problema de sexualidade, era um problema de identidade.”
“Fui tendo essa vivência lésbica e nunca era o bastante.”
“Antes por mais masculino que eu fosse eu era visto como uma mulher lésbica… eu
fui conhecer a palavra trans no 2010.”
“Eu fiz uma cirurgia de transgenitalização… uma questão de necessidade.”
“Voz engrossando, pelo nascendo, corpo mudando… a minha cabeça surtou.”
“Pessoas trans tem que se esforçar dobrado para poder legitimar a própria
identidade.”
“Meu cliente que já convivia comigo há um milhão de anos olhou para mim e falou,
‘oi, Luca, tudo bem?’ eu me senti tão acolhido, tão bem recebido.”
“Eu tinha um menino que gostaria que fosse criado como menino para jogar bola...”
“Eu acreditava que eu tinha que ser socializada no grupo das mulheres”
“Quando eu era criança eu entrava no quarto da minha mãe e tentava me maquiar.”
“Um dia antes de ir para a escola ela fura minha orelha, aquilo foi uma tortura.”

Mostrar a realidade de pessoas trans em seu cotidiano, buscando um movimento


reflexivo por parte das pessoas que possam a vir a ler este trabalho, faz parte do meu

3
Serie exibida pelo canal GNT, segunda temporada. Acesso em 30/08/2018
compromisso com a vida. No meu critério, os depoimentos, que podem se assistir na série,
estimulam a desconstrução de ideias que estão presentes na sociedade e que muitas vezes são
sequer questionadas. Tenho intuito de provocar reflexões sobre a temática e dar visibilidade a
esta realidade presente no nosso mundo, e muitas vezes invisibilizada. Necessidade de
modificação corporal, situações de preconceito, abandono, descoberta como transgênero,
aceitação ou não da família, percepção de si mesmo, são temas abordados. Falas sobre
orientação sexual, identidade de gênero, cirurgias, roupas, modificações corporais,
reconhecimento social, brincadeiras e jogos de criança, discriminação, violência, aparecem
em todos os vídeos.
Assim como as pessoas que não tem informações sobre a temática, confundem muitas
vezes orientação sexual com identidade de gênero, pode se observar a mesma confusão nas
pessoas trans, ao começo do seu questionamento. Isto tem a ver com o mandato
heteronormativo, que impera em nossa sociedade, e que em um primeiro momento faz pensar
que sentir-se de um gênero implica necessariamente a atração pelo gênero oposto. A
“confusão” aumenta quando pessoas trans se sentem atraídas por pessoas do seu mesmo
gênero, “Como assim? ‘Virou homem’ e agora gosta de homens?”. Parece quase inconcebível
essa possibilidade quando não se tem a informação do que é ser trans. Quando informamos
que a possibilidade de existência como trans se trata de uma questão de identidade, a
“confusão”, embora nem sempre esclarecida, admite-se a possibilidade de ser trans e
homossexual, bissexual, heterossexual.
No processo de construção da identidade das pessoas trans, podemos pensar que
elementos específicos como estigmatização e estereótipos, e formas de lidar com isto, se
destacam. A auto percepção, não confirmada pelo meio, faz necessária, muitas vezes, uma
corporificação do seu sentir, a través de processos de terapias hormonais, cirurgias, etc. A
construção da identidade de gênero, implica fatores genéticos, biológicos, hormonais,
psicológicos, sociais, culturais, o que me faz pensar que é na fronteira de contato que
acontece. A percepção que as pessoas têm de si mesmo, precisa da confirmação ou
reconhecimento do outro. A identidade de gênero das pessoas trans, o reconhecimento que a
pessoa tem de si, como masculino ou feminino, independente da sua genitália, não é uma
questão particular, entanto existe uma necessidade de reconhecimento do seu contexto social,
que habilite o pertencimento como lugar de ser e estar no mundo com os outros.
Entre a experiência profunda de mal estar que provoca o corpo em muitas pessoas
trans e o não reconhecimento de essa forma de existência na sociedade, a necessidade de fazer
intervenções cirúrgicas para “pertencer” ao gênero identitário e deixar de ser estigmatizados,
torna-se uma busca constante de “concordância” entre gênero e corpo. Porém, até onde é
preciso recorrer a esse tipo de transformações, é particular e único para cada pessoas,
existindo também pessoas que não sentem essa necessidade.
No processo de socialização entra-se em contato com o que está estabelecido,
instituído, para a vida em sociedade. Nessas interações a pessoa se constrói influenciada pelo
que vem de “fora”, para acabar, muitas vezes reproduzindo comportamentos, formas de ver o
mundo. Pessoas trans descobrem desde cedo que não correspondem às expectativas que se
tem sobre eles, sem entender muitas vezes, o motivo de não ser aceitos, repreendidos,
tripudiados. Quando finalmente conseguem entender o que está acontecendo, na tentativa de
configurar-se conforme a sua auto percepção, acabam sentindo a necessidade de poupar-se do
estigma que carregam, esperando que o reconhecimento social venha quando mais
caraterísticas tenham em concordância com o gênero que se identificam: voz, roupas,
costumes, corpo, cabelo. Me questiono, quantas dessas pessoas fariam tantas mudanças se a
sociedade confirmasse a sua vivência, sem necessariamente tem de recorrer a essas mudanças.
O campo social demanda determinados comportamentos, atitudes, papéis a
desenvolver por parte das pessoas. De alguma forma, quanto mais a pessoa “encaixa” nestes
preceitos, mais reforçada sente a sua identidade. E não estou dizendo que esteja certo ou não,
estou simplesmente visualizando como a identidade de uma pessoa se configura na fronteira
de contato.
As pessoas trans, que sentem pertencer ao gênero oposto ao atribuído no seu
nascimento (pelo sexo biológico) muitas vezes procuram vivenciar papéis do gênero que se
identificam desde cedo, sendo repreendidos. O olhar do outro sobre elas, que em determinado
momento é vivido como desaprovação, de alguma maneira leva a que estas pessoas, mesmo
tendo certeza do que são, acabem sentindo a necessidade de se “adequar” às características do
gênero que se reconhecem, para vivenciar uma espécie de “completude”, “verdade”.
5 A GT COMO VIA PARA PENSAR A TRANSGENERIDADE.

5.1 DO BIOMÉDICO AO QUEER

O saber médico se encarrega de “definir” o que é transexualidade se apoiando e


naturalizando a dicotomia sexo-gênero, afirmando que determinado sexo biológico é passível
de um gênero social. Efetivamente é isso que norteia as cirurgias de redesignação sexual.
Pessoas que experimentam uma profunda experiência de não “encaixar” nas expectativas de
gênero, onde sexo e gênero tem uma única forma de ser concebida como “normal”. Mas há
também quem aceite o modelo biomédico por ser a única forma de transitar de maneira mais
“amena” num mundo binário, onde não existem outras possibilidades de existência aceitas.
Pode também ter a ver com uma estratégia para conseguir um reconhecimento legal que
facilite a sua vida evitando situações humilhantes das quais são, frequentemente, vítimas.
Outro grupo de pessoas trans, cada vez mais, tem se organizado em coletivos e
desafiam o modelo biomédico e a correspondente dicotomia entre sexo-gênero. Este grupo,
embora rejeite a identidade de gênero que lhe foi dada, não se consideram passíveis de ser
considerados dentro de um tratado de psiquiatria. Este desafio se apoia na Teoria Queer, onde
sexo e gênero são considerados puras construções sociais, efeitos de práticas discursivas sem
nenhuma ancoragem biológica. A dicotomia sexo-gênero é sentida como uma configuração
arbitrária e cultural, uma construção social que funciona como motivo para o não
reconhecimento da cidadania das pessoas trans. O corpo, para elas, é uma realidade maleável
que vai além das fronteiras marcadas pela heteronormatividade e a rígida separação entre os
sexos.
Estas duas abordagens do fenômeno da transexualidade, são ao meu entender,
importantes ferramentas para começar a entrar em contato com o tema. O modelo biomédico
que ostenta o poder-saber “científico”, entende sexo-gênero como uma dicotomia natural e é
inegável a sua presença e efeitos no campo organismo-ambiente. As Ciências Sociais, por sua
vez, reivindicam o entendimento dessa dualidade como uma construção cultural, histórica e
socialmente geradas.

5.2 GT: O MAPA NÃO É O TERRITÓRIO4

Neste movimento polar entre biologia e cultura, onde fica a experiência vivida pela
pessoa?
Como fazer para reconciliar essas suposições teóricas com as vivências das pessoas?
À luz da GT podemos achar a via para que experiência e teoria achem um único
caminho.
Anteriormente foi citado o que os autores Serge e Anne Ginger consideram que a GT
teve como base a fenomenologia na sua teoria. Temos então que o essencial é a vivência
imediata percebida corporalmente no processo que está acontecendo aqui e agora. A
experiência é única de cada ser humano, e o sentido conferido a ela está imerso em fatores
subjetivos independentes de teorizações. A experiência como ponto inicial funciona como
forma de encontrar o “verdadeiro” sentido, sem tentar entender os fatos a partir daquilo que é
dito sobre eles.
Na minha experiência com pessoas transexuais, tenho me encontrado com pessoas que
procuram um entendimento de si através do discurso científico buscando uma legitimação do
seu sentir. Outras pessoas tentam explicar o seu sentir a través de teorias sociais.
Sem desconhecer que os discursos que provêm da medicina e do campo social estão
presentes no campo organismo-ambiente, se faz necessário reconhecer que determinadas
realidades individuais resistem ou transcendem a eles. Resistem aos conceitos que pretendem
dar conta delas esgrimindo uma espécie de verdade, limitando a possibilidade de ação
individual apoiada na experiência do corpo vivido e sentido.
Há pessoas transgêneras que não formam parte de um nicho com fronteiras rígidas
onde as necessidades estão determinadas a priori entorno as conceptualizações que as teorias
fazem sobre eles. A modo de exemplo, algumas sentem necessidade de cirurgias para se sentir
em “concordância” com o sexo, tem outras que a sua vivência as faz sentir “concordantes”
independentemente da anatomia biológica. Tenho me encontrado com pessoas onde as
experiências vividas são múltiplas, indo muito além do que medicamente se concebe como
transexual: uma pessoa que sente sua identidade de gênero em discordância com seu sexo
biológico.
O corpo vivido não é uma realidade física independente do campo social e afetivo
onde a pessoa vive, mas sim uma realidade contextual que remete a um entrosamento de
pertencimentos e reconhecimentos. Talvez no início existiu um mal estar com o seu corpo,
mas ao conseguir uma integração, facilitada pelo reconhecimento dos outros, sua aparência
deixa de ser um empecilho para ser e estar no mundo, sentindo-se plena. Todos estes fatores
encontram-se presentes no campo e a experiência encontra-se influenciada pelos discursos.
Podemos pensar então que a realidade, vista fenomenologicamente é relacional e
construída nesse campo organismo-ambiente. Temos assim o espaço necessário para
reconhecer a existência da multiplicidade de realidades que se apresentam como válidas em
um campo, o mesmo campo do qual todos somos parte. Entrar em contato com introjetos que,
sem percebermos, estão determinando nosso sentir, que engolimos sem mastigar e digerir, que
são ideias que não nos pertencem, nos dá a possibilidade de transitar pelo território e a
oportunidade de agir com liberdade e responsabilidade. É necessário sair do mapa para
experimentar o território num movimento de, mais que tolerância e aceitação, reconhecimento
e integração das pessoas transexuais como seres que transitam este tramo da vida junto a nós.
O mapa não considera as possibilidades de ajustamento criativo, não considera todos
os elementos do campo, as possibilidades de caminhos alternativos que facilitam o trânsito, os
caminhos abertos pelas pessoas para uma melhor movimentação. O mapa é um a priori, e uma
suposição do que a terra encarna e a fenomenologia nos convida a descobrir aquilo que
acontece na experiência de transitar, lugar onde ideias preconcebidas não acham lugar.
É nos fenômenos humanos que o humanismo aponta na hora de conhecer, quebrando
assim com a uniformidade das formas de ser e de estar no mundo, admitindo a diversidade de
experiências atreladas à singularidade de cada pessoa e seu potencial, a possibilidade de
aprofundar no crescimento e autoconhecimento através da própria experiência.
A GT enfatiza que a vivência concreta vai muito além da abstração e a experiência
humana é única e intransferível. A pessoa está em constante transformação, redescobrindo-se,
e a essência da natureza humana está sempre refazendo-se na experiência concreta o que faz
dela algo único e intransferível. É responsabilidade dela a busca pelo sentido e a construção
do seu projeto existencial, como vive a sua vida e exerce, ou não, sua própria liberdade. A GT
considera que o ser humano está em constante processo de vir a ser, se auto-atualizar, se
construir, e isto é o que importa. Assim, os processos pessoais se refletem nos sociais e vice-
versa.
No meu critério, já nas bases filosóficas da GT é possível encontrar um caminho
experiencial, único, diferente e intransferível de como podemos “baixar a terra” a ideia de que
a transgeneridade não constitui nenhuma categoria onde as respostas para ela possam se
encontrar nas teorias biomédicas ou das ciências sociais. Experiência, vivência, liberdade,
originalidade, responsabilidade, por si só, constituem o argumento necessário para entender a
temática. Se o ser humano é entendido e explicado através dessa filosofia, fica claro que a
transgeneridade é passível desse entendimento. A diversidade está contemplada e justificada
filosoficamente pela originalidade, pelo respeito à experiência, por acreditar na potencialidade
do ser humano.
Entrelaçadas com as bases filosóficas temos também os preceitos teóricos da GT que
nos ajudam a entender desde um outro lugar a transgeneridade.
Do exposto anteriormente podemos dizer que a GT é uma terapia do aqui e agora, do
presente, por considerar que este é o único tempo possível para que a experiência aconteça.
Procura que a pessoa flua e possa conseguir um bom contato com o ambiente para ter uma
sensação de satisfação da sua existência. É uma terapia da relação onde o fundamental é a
pessoa em relação com o entorno, daí o entendimento organismo-ambiente. O ser humano é
com o ambiente, ele se cocria e é em determinado entorno, e a experiência acontece em um
entorno que pode confirmá-la ou não.
A GT não tem ideias preconcebidas sobre a forma de viver das pessoas, e includente e
a diversidade dos seres humanos são contemplados nela. Mais que a mudança, procura que as
necessidades, responsáveis pela formação das gestalten, sejam satisfeitas, sendo o motor da
transformação com destino à realização do ser humano. Falar em necessidades implica estar
em contato consigo mesmo para saber o que é meu e o que não. A “autenticidade” da
necessidade é possível perceber só estando em contato com o próprio corpo, com as sensações
e sentimentos, tem a ver com a espontaneidade e não com a automaticidade.
A fronteira de contato, o lugar onde se experimenta o organismo em relação ao
ambiente, tem a ver com o crescimento da pessoa, é o que possibilita a mudança em cada
encontro, propiciada pelo ajustamento criativo, função essencial do self, nas diferentes
situações da vida. Quando necessidades entram em conflito, a melhor forma a conseguir é
aquela que tem a ver com soluções que sejam as melhores possíveis para harmonizar a
situação. Isto implica estar em contato consigo mesmo e com a situação. Neste processo
muitas vezes a forma que o conflito não se produza é considerar a situação total e perceber
que minha própria realidade, embora o ambiente não aceite, só admitirá a minha
autenticidade; não estou “contra do outro” e sim a “favor de mim”, segundo a auto regulação
organísmica. Mas que para isso aconteça, é necessário que a pessoa conte com um
autosuporte suficiente para ser e estar em um entorno que não confirma a sua vivência,
desatando muitas vezes uma maré de adversidades.
A transgeneridade, atravessada por diversos tipos de valores, religiosos, sociais,
morais, transcorre muitas vezes em grupos onde não é aceita, tolerada, e muito menos
confirmada. Se queremos viver num mundo mais harmonioso, a responsabilidade intrínseca
do campo social, cocriador do campo organismo-ambiente, é não só aceitar a diversidade
sexual, é facilitar a inclusão dessas pessoas em cada grupo onde elas transitam.
Acredito que cada vez é mais importante uma mudança de paradigma, que oriente à
pessoa para seu desenvolvimento total como ser humano, achando novas formas de ser, estar
e se vincular com autenticidade no mundo. A GT propõe um modo de relacionamento
autêntico que atende ao processo que acontece aqui e agora, onde emoção, conhecimento e
conduta fazem parte da experiência com a qual há de se entrar em contato. Família, escola e
trabalho tornam-se então fundamentais na hora de pensar a problemática.

5.3 O PROCESSO SOCIALIZADOR E OS ÂMBITOS SOCIALIZANTES

A construção da identidade está necessariamente integrada ao processo de socialização


das pessoas através dos diferentes espaços nos quais ela é inserida sendo determinante em
como ela enxerga o ambiente e a si mesma.

5.3.1 Família

A família, independentemente da estrutura, é o primeiro grupo onde um ser humano


vivencia e experimenta a relação como o outro. É o primeiro espaço compartilhado onde
entram em jogo valores, intimidade, autonomia, confiança, respeito, poder. Os valores
familiares condicionam e determinam as formas de relação, embora possam ser não
compartilhados por todos os membros, pois, em primeira instância, são valores pessoais. Para
a GT é na fronteira de contato onde esses valores pessoais se encontram e acontece o
aprendizado, é onde se tem a oportunidade de crescer, incluir, aceitar, cocriar.
Os relatos de transexuais expulsos pela família ao saber da sua condição, são
recorrentes e múltiplos. Nas entrevistas escolhidas a aposta foi por maior quantidade de
relatos de famílias que aceitaram e acompanharam o processo dos filhos e filhas, em
detrimento das que rejeitaram. Pode-se entrar em contato com vidas que continuam caminhos
menos dificultosos que os que são rejeitados. Filhos e filhas que encontram na família o apoio
necessário, e fundamental, para ser e estar em um mundo maioritariamente hostil e agressivo
frente a sua condição de transexual. Transgêneros que estão conseguindo explorar as suas
potencialidades, direito básico de uma pessoa no mundo. A pesar disso, há um triste relato de
um assassinato de uma moça por “pura transfobia” … tem diversos estudos que apontam o
Brasil como o país que mais mata transexuais e travestis no mundo4

4
Dados se encontram no seguinte link https://antrabrasil.org/mapadosassassinatos/ Acesso em

30/09/2018
Em alguns vídeos podemos ver depoimentos onde transexualidade e prostituição,
caminham juntos, é a primeira associação dos pais, como se não existisse outra possibilidade.
Uma espécie de automaticidade se dispara na hora de pensar uma filha transexual achando
que o destino é se prostituir. Acontece com as trans mulheres, e isso fala muito do
entendimento social acrítico que existe. As mesmas pessoas que fazem essa associação,
muitas vezes não se questionam os motivos disso. A experiência de ter uma filha trans lhes dá
a oportunidade de pensar a temática e entender que é possível outra forma de se viver, que
não necessariamente o destino vai ser a prostituição, e que em muitos casos depende deles que
isso não aconteça.
A temática é experimentada, geralmente, de forma muito dolorosa pela a família,
sobretudo no início, mas logo que começam a se informar, a entender que a possibilidade de
existir como uma pessoa trans está no mundo, o processo de aceitação leva ao
acompanhamento dos seus filhos, brindando o suporte necessário para alguém que num início,
talvez, não conte com um autosuporte.

5.3.2 Escola

Se a criança, pela vivência que teve na família, não teve a oportunidade de


desenvolver ferramentas para manter uma relação satisfatória com o entorno, vão ser ainda
mais importantes para a sua vida outras relações onde possa entrar em contato e ter awareness
que ajudem a entender as causas do seu sofrimento com o meio.
A escola se converte então, na primeira oportunidade de estar num grupo onde
experimentar outros caminhos que contribuam à autorregulação, que ajudem à pessoa a
descobrir o que acontece dentro dela e explorar como pode seguir ajustando-se criativamente
no mundo. Para isso é necessário que as emoções sejam incluídas no processo de aprendizado,
integrando pensamentos e sentimentos, respeitando a diversidade dos seres humanos, sem
colocar objetivos acadêmicos antes que os pessoais. Liberdade e responsabilidade, tão
trabalhados nos consultórios dos gestalt terapeutas, são também facilitadores das relações
interpessoais, que necessariamente devem ser transmitidos no contexto educativo se
aspirarmos a um crescimento e desenvolvimento pessoal. Mais que transmitidos, aproveitar o
contexto grupal para vivenciar relacionamentos de confiança, aceitação, inclusão. Isto implica
a possibilidade de sentir-se e mostrar-se como se é, ser genuínos, autênticos, reconhecendo as
necessidades próprias e do entorno, encontrando, quando for necessário, novos caminhos para
a autorregulação. O diálogo e intercambio de ideias, é a possibilidade de crescer junto com o
outro, e isso só é possível se o outro se sente respeitado como “um outro” diferente de mim.
Se desde a instituição educativa se favorece este modo de relação entre docentes, pais
e alunos, os conflitos interpessoais podem ser abordados de maneira mais harmônica, pois
contribui com humanidade na relação, sem tentar “integrar” as pessoas uniformizando-as,
mas sim dando cabida à especificidade de cada um.
No aqui e agora está tudo o que tenho para começar a construir, pois não posso
começar a fazê-lo desde o que não há. A realidade individual e as emoções de cada pessoa
tem de ser aceitas sem julgamentos baseados em a prioris do que “tem que ser” para então
favorecer um ambiente seguro que possibilite a experimentação e o encontro, onde as
emoções e sentimentos possam ser acolhidos.
No contexto escolar, as crianças e adolescentes, mas que formação, procuram muitas
vezes um sítio seguro onde confiar. O sentimento de pertencimento a subgrupos de colegas,
possibilita cumplicidade, lealdade, liderança, assim como o compartilhamento de gostos e
ideais. Aqueles que não cumprem com esses valores, são excluídos, rejeitados, e até agredidos
muitas vezes, podendo causar profundas feridas emocionais e sendo afetada a sua autoestima.
Muitas vezes transgêneros passam por essas situações, vêm de famílias que não concordam
com sua identidade de gênero e encontram na escola valores tão rígidos quanto na família,
sem considerar suas necessidades reais.
Reconhecer essas necessidades, além de questões legais, regulamentações que possam
ser estabelecidas em favor da sua individualidade, implica que os docentes possam ter, em
primeiro lugar informação sobre a temática, e junto com isso a capacidade de gestionar as
diferenças na fronteira de contato, onde seja possível habitar uma relação cálida e de
confiança, numa atmosfera acolhedora e inclusiva onde o contato permita satisfazer as
necessidades e alcançar a autorregulação organismo-ambiente.
Das entrevistas assistidas, pode se inferir uma realidade bastante comum das pessoas
transexuais: ficarem fora do sistema educativo. Seja por abandono escolar ou por falta de
respostas adequadas das instituições educativas para com as pessoas que não “encaixam” nos
seus a prioris, chegando até a expulsão em alguns casos. Por parte do Estado, o MEC acabou
tirando da base nacional curricular do ensino médio menções às expressões “identidade de
gênero” e “orientação sexual”, o motivo segundo eles foi que a redação do documento
apresentava “redundâncias”, mas se sabe que foi por pressão de comunidades religiosas
evangélicas. Pouco tempo depois, num pequeno avanço do MEC, se aprova o uso do nome
social nas escolas de educação básica de todo o Brasil.
Lamentavelmente na maioria das vezes a escola, longe de se constituir num lugar de
acolhimento, torna-se uma espécie de carimbo instituinte da intolerância e preconceito. Mas
felizmente novos tempos estão chegando, e chegam da mão dos próprios alunos, tolerantes,
inclusivos e cada vez menos preconceituosos. Neste sentido, embora não sejam a maioria, há
escolas comprometidas com a realidade atual que empreendem movimentos em prol de
facilitar o ajustamento criativo para todas as partes envolvidas na temática.
Mas também temos nos depoimentos pessoas que contaram com o apoio da sua
família e sem ficar por fora do sistema educativo, obtiveram, ou estão obtendo, as ferramentas
necessárias para alcançar a tão necessária autonomia para todos os seres humanos, de uma
forma que eles achem digna, afinal de contas se prostituir por não ter outra possibilidade de
sobrevivência, sem se sentir bem com isso, há de ser uma profunda experiência de, no
mínimo, injustiça social. E tanto a nível educativo como social, nos casos em que os pais
travam uma “luta” em favor do seu filho ou filha, aceitando e reivindicando a experiência
deles, a possibilidade de escolhas sobre como querem ganhar a sua vida, se ampliam.

5.3.3 Trabalho

O âmbito do trabalho, na vida adulta, oferece a possibilidade do desenvolvimento


profissional, da posta em cena das potencialidades e a conquista da independência financeira.
Assim, se constitui um espaço ideal para trabalhar situações de inclusão dessas pessoas.
Se bem não existem dados oficiais sobre o assunto, é uma constatação que a maioria
das empresas não contrata trans para seu staff. Além de falta de formação decorrente da
exclusão do sistema educativo em etapas prévias a inserção laboral, as resistências que
experimenta esta população na hora de ser aceitas num emprego, são preocupantes. A
identidade de gênero acaba não sendo uma temática da vida privada (como deveria ser) mas
acaba tendo vinculação em todos os lugares onde a pessoa desenvolve suas atividades e as
dificuldades também acontecem no momento que é preciso se relacionar e integrar no âmbito
do trabalho, onde se busca auto realização e crescimento.
A baixa escolaridade, recorrente dos estágios anteriores da vida, somado ao
preconceito, faz com que muitas pessoas trans não tenham uma oportunidade de trabalho. Nas
entrevistas escolhidas, os relatos são prévios as últimas conquistas dos movimentos que
reivindicam o respeito e reconhecimento da sua identidade de gênero, que foram em avanço,
do uso do nome social à possibilidade de mudar o nome de registro no cartório, mediante
trâmite simples e sem ter que recorrer a um juiz. Algumas empresas já incluem transexuais
entre seus colaboradores, mas são muito poucas em relação à quantidade. Segundo a
Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), 90% das transexuais e travestis se
prostituem no Brasil. Certamente isto revela a dificuldade em arranjar emprego formal.
Estas últimas conquistas legais trazem esperança de que um mundo melhor será
possível, mas a tarefa fundamental é trabalhar com os colaboradores das empresas, para que a
pessoa transexual não vivencie, mais uma vez, preconceito e discriminação, e para que nessa
inserção o ajustamento criativo seja fato, como processo de transformação organismo-
ambiente.
Fatores sociais, familiares, educativos e profissionais, deveriam confluir em função do
desenvolvimento das potencialidades da pessoa. Embora os dirigentes governamentais tenham
responsabilidades normativas concretas para promulgar direitos das pessoas trans, é preciso
sim um trabalho de sensibilização da população geral.
6 CONCLUSÕES

Na GT os modelos de como "tem que ser" uma pessoa, rejeitando partes próprias para
encaixar em modelos preestabelecidos no campo, baseados em introjetos e projeções, faz do
ser humano, no mínimo, alguém incompleto e insatisfeito. A integração inclui o
reconhecimento das próprias necessidades dentro de um campo. Um organismo saudável está
em contato consigo mesmo e com o meio, e se ajusta criativamente no mundo experimentado
uma relação harmoniosa com o ambiente. Através deste trabalho podemos visualizar que a
única saída possível para que definitivamente a questão da transgeneridade seja entendida
como uma forma mais de ser e estar no mundo, incluída, respeitada e com os mesmos direitos
de qualquer pessoa, é por meio da educação.
Os órgãos governamentais tem o dever de contemplar a todos os cidadãos gerando leis
que estimulem e contemplem todas as formas de diversidade possível. Alguma coisa está
sendo feita, porém, ante as circunstâncias atuais, onde as polaridades a nível político se
marcam fortemente, lamentavelmente isto tem sido causa de ganho de votos. Assim, tem se
estimulado, ao meu ver, discursos e práticas que depreciam as causas LGBT. Porém, quando
uma polaridade emerge, a outra cobra forças para se manifestar. É isso que está acontecendo
nesta espécie de retrocesso. Há uma força que punge por emergir e reivindicar existências
diversas, dizendo “estamos aqui”, “somos”, “existimos”.
Há de se aproveitar essa força para se colocar na frente de pessoas que negam a sua
forma de ser e estar no mundo, um movimento resiliente de todos os que acreditamos num
mundo inclusivo e equitativo, deve avançar por meio da educação. Educação de adultos,
jovens e crianças. Educação de profissionais e leigos.
O movimento há de ser multidirecional. Ao mesmo tempo que fomentar a circulação
da informação entre adultos há de se incluir nas escolas a temática. A separação entre escola e
sociedade precisa sim ser eliminada, pois o ser humano é uma totalidade e as crianças e
jovens são, muitas vezes, aqueles que levam para a sua família novidades que ressignificam
valores, ideias, crenças familiares. Famílias mais flexíveis se deixam penetrar pelo novo que
seus filhos possam trazer, e a configuração familiar muda. Trabalho de “formiga” dirão
alguns, mas acho que é a única forma possível de ir transformando o mundo num lugar mais
amoroso, mais ameno, mas compassivo, menos cruel.
Não é possível, para mim, entender o ser humano sem olhar para o campo, é só assim
que conseguiremos transformar a sociedade num ninho de acolhimento para a diversidade.
6.1 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quando comecei a pensar este trabalho, há 9 meses atrás, as condições do campo


social não estavam ainda sendo tão afetadas pelo processo das eleições que estão acontecendo
neste mês. Ao longo do processo de pesquisa e análise, uma espécie de convulsão social tem
acontecido na direção oposta ao respeito e acolhimento das pessoas trans. Pessoas tem se
sentido legitimadas a expressar ódio e preconceito livremente em diversos âmbitos, e tanto no
consultório como fora dele, tenho ouvido relatos onde o medo se faz presente nas pessoas
LGBT, tirando deles a possibilidade de se sentir livres nas ruas. Aparentemente há um
retrocesso em marcha acontecendo, com a intenção clara de que “voltem para o armário” pois
a “família de bem” não tolera estas formas de existência. Quero acreditar que essa força do
movimento contra a diversidade, vai ser transmutada em favor de um processo resiliente, onde
a causa possa estar cada vez mais fortalecida.
Por último, me pergunto, e nós, os psicólogos, o que faremos? Tentaremos, em
primeiro lugar, sermos responsáveis pelas opiniões que emitimos em todos os âmbitos de
nossa vida. A ressonância das nossas palavras, às vezes, é muito maior do que percebemos.
Devemos ser o suficientemente éticos para olhar para dentro e, também neste caso, admitir
nossos próprios preconceitos, nossas próprias impossibilidades. Acolher o outro desde o
amor, desde o respeito e crédito pela sua experiência, quando muitas vezes ele chega
“sucateado” pelo mundo é nossa responsabilidade e nosso compromisso.

6.2 PROPOSTAS PARA DESENVOLVIMENTO FUTURO

Neste trabalho tento me aproximar à transgeneridade desde a abordagem gestáltica,


focando principalmente nas pessoas transexuais. Como foi explicitado a transgeneridade é um
termo guarda-chuva que abrange uma grande diversidade de outras formas de se identificar.
Fica aqui a proposta sobre o estudo dessas outras formas, como ser a não-binaridade por ser
esta, uma forma que cada vez mais vem aparecendo nos lugares de atendimento sobre
identidade de gênero.
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