Você está na página 1de 14

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO - UFRJ

CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS E ECONÔMICAS - CCJE


FACULDADE NACIONAL DE DIREITO - FND

LUIZA DINIZ SCARPA

ERRO JUDICIÁRIO EM MATÉRIA PENAL: UMA QUESTÃO DE COR?


ANÁLISE DAS CONDENAÇÕES INJUSTAS DE ANGELO GUSTAVO NOBRE,
JEFERSON PEREIRA E
RIO DE JANEIRO
2022
LUIZA DINIZ SCARPA

ERRO JUDICIÁRIO EM MATÉRIA PENAL: UMA QUESTÃO DE COR?


ANÁLISE DOS CASOS DE ANGELO GUSTAVO NOBRE E JEFERSON PEREIRA

Projeto de monografia apresentado como


requisito para aprovação na disciplina de
Monografia Jurídica I.

Orientador: Prof. Rafael Fonseca de Melo


RIO DE JANEIRO
2022
TERMO DE ACEITE DE ORIENTAÇÃO DE PROJETO DE PESQUISA E
MONOGRAFIA

Eu, _____________________________________________________, matrícula SIAPE


_______________, professor do curso de Graduação em Direito da Faculdade Nacional de
Direito (FND) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), confirmo o meu aceite em
orientar @ alun@ NOME COMPLETO DO ALUNO no desenvolvimento do seu projeto de
pesquisa e da monografia, requisitos necessários para aprovação nas disciplinas de
Monografia Jurídica.

Rio de Janeiro, _____ de _________________ de ________.

_____________________________________
Professor Orientador
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO 5
2 JUSTIFICATIVA 8
3 OBJETIVOS 9
4 METODOLOGIA 10
5 REVISÃO DE LITERATURA 11
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 14
7.1 Referências das fontes citadas neste projeto 14
7.2 Levantamento bibliográfico preliminar 15

1 INTRODUÇÃO

1.1 Apresentação do tema

O surgimento do direito penal se dá com o surgimento da própria sociedade. Em um


primeiro momento, em que ainda ausente o pacto do contrato social, que posteriormente
passaria a pautar as relações sociais, o direito penal fundamentava-se exclusivamente na
necessidade de vingança (JOLO. 2013). No entanto, com a evolução das relações sociais e a
criação do conceito de justiça, constituiu-se, na sociedade contemporânea, a ideia de um
direito penal garantidor dos direitos fundamentais e limitador do poder estatal.

A Constituição Federal de 1988 trouxe, em seu art. 5º, extenso rol de garantias
individuais, pautadas no princípio norteador da dignidade da pessoa humana. Nos termos do
caput do referido artigo, garante-se que todos os brasileiros são iguais perante a lei, sem
distinção de qualquer natureza. Nesse sentido, importante destacar que as redações dos incisos
XLI, XLII e LIV, garantem, respectivamente, a punição, por lei, de qualquer discriminação
atentatória dos direitos e liberdades fundamentais, a criminalização da prática do racismo, e o
direito do réu ao devido processo legal1.

Apesar de positivadas na Carta Magna, pode-se dizer que tais garantias ostentam
eficácia simbólica, de modo que, não raro, são proferidas decisões judiciais discriminatórias
(ADORNO, Sérgio. 1995). Isso porque, em uma sociedade com histórico escravocrata, que
perpetua o racismo estrutural, todos os sistemas sociais estarão, por consectário lógico,
inseridos também em uma lógica discriminatória – inclusive o judiciário.

Assim, tornam-se comuns as violações das garantias constitucionais da população


negra no curso do processo penal. O encarceramento em massa da população negra é mais um
dos indícios que apontam a perpetuação de uma estrutura judiciária racista. Segundo os dados
apurados pelo Departamento Penitenciário Nacional, no período de julho a dezembro de 2019,
66,69% das pessoas privadas de liberdade no país se autodeclararam negras ou pardas2.

Nesse mesmo esteio, a Coordenadoria de Defesa Criminal e da Diretoria de Estudos e


Pesquisas de Acesso à Justiça da Defensoria Pública do Rio de Janeiro publicou, em 11 de

1https://app.powerbi.com/view?
r=eyJrIjoiN2ZlZWFmNzktNjRlZi00MjNiLWFhYmYtNjExNmMyNmYxMjRkIiwidCI6ImViMDkwNDIwLTQ
0NGMtNDNmNy05MWYyLTRiOGRhNmJmZThlMSJ9

2 Art. 5º: Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes:
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;
XLII - a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos
da lei;
LIV - ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;
setembro de 2020, relatório que aponta que, entre 1 de junho de 2019 a 10 de março de 2020,
houve erro em pelo menos 58 casos de reconhecimento fotográfico, que resultaram em
acusações injustas e prisão de pessoas inocentes3. Dos 58 casos identificados pela Defensoria
Pública, em 40 deles os acusados se autodeclararam negros (pretos ou pardos).

Em maio de 2021, a Defensoria Pública do Rio de Janeiro publicou um segundo


relatório sobre o tema, com dados enviados por defensores públicos de outros estados. No
referido relatório, foram observados três requisitos: (1) o reconhecimento pessoal em sede
policial ter sido feito por fotografia; (2) o reconhecimento não ter sido confirmado em Juízo;
(3) a sentença ter sido absolutória4.

Os casos foram coletados entre os meses de junho de 2019 e março de 2020 e,


posteriormente, nos meses de novembro e dezembro de 2020. No total, foram 75 processos e
85 pessoas envolvidas. O documento apurou, mais uma vez, que a esmagadora maioria dos
acusados eram negros, totalizando 81% dos casos.

Ainda que os referidos relatórios tenham analisado casos em que o reconhecimento


fotográfico não foi confirmado em juízo, pode-se dizer que os dados apurados indicam, de
todo modo, a predominância de pessoas negras, quando se trata de acusações injustas.

Além disso, mesmo com a sentença absolutória, os reconhecimentos errados


produzem danos irreparáveis, uma vez que fundamentam, em grande parte dos casos, a prisão
preventiva do acusado. Desse modo, a violação das garantias constitucionais individuais
perdura até o momento da sentença absolutória, reforçando a já mencionada eficácia
simbólica dos direitos positivados na Carta Magna.

De igual forma, os casos concretos que se pretende analisar na presente pesquisa,


evidenciam a mesma realidade: jovens negros, condenados injustamente com base unicamente
em reconhecimento fotográfico.

3 https://www.defensoria.rj.def.br/uploads/imagens/d12a8206c9044a3e92716341a99b2f6f.pdf

4https://defensoria.rj.def.br/noticia/detalhes/11088-Relatorios-apontam-falhas-em-prisoes-apos-reconhecimento-
fotografico
Cumpre destacar que, para que seja feita uma análise mais aprofundada da estrutura
discriminatória por trás da problemática envolvendo a condenação injusta de pessoas, em sua
maioria negras, por reconhecimentos fotográficos equivocados, serão abordados, além do
conceito de racismo estrutural, temas como seletividade penal e pesquisas que evidenciam a
situação jurídica da população negra enquanto resquício de um passado escravocrata (CRUZ,
Eugeniusz. 2018).

Assim, o presente trabalho busca analisar, especificamente, as violações decorrentes


dos procedimentos de reconhecimento de pessoas adotados pela autoridade policial, no curso
das investigações, e o por quê de tais violações ocorrerem, sobretudo, contra a população
negra.

A problemática envolvendo o uso do reconhecimento de pessoas como principal prova


no processo penal é tema de grande relevância, já tendo sido apontado por diversos autores.
Destaca-se, como questão central, o fato de estudos mostrarem que a memória humana está
sujeita a falhas e alterações que impactam diretamente no reconhecimento do suspeito. Assim,
há grande debate acerca da possibilidade, ou não, de superar o standard probatório do
processo penal somente com base em prova dependente da memória, tal qual o
reconhecimento de pessoas (MATIDA, Janaína. 2021).

Ocorre que, poucos são os autores que buscam relacionar (i) racismo estrutural, (ii)
reconhecimento de pessoas enquanto prova no processo penal e (iii) condenações injustas.
Diante disso, a presente pesquisa busca ir além e questionar: de que forma o racismo
estrutural influencia o reconhecimento de um suspeito e, consequentemente, as condenações
injustas? Assim, busca-se demonstrar, também, o viés discriminatório por trás dos
procedimentos e decisões que levam à condenação de um inocente.

Nesse sentido, pretende-se construir uma argumentação que demonstre quais os efeitos
do racismo estrutural no reconhecimento de pessoas realizado em sede policial e,
consequentemente, de que forma tal estrutura discriminatória impacta nas condenações
injustas. Sendo assim, tal problemática insere-se na pergunta de partida do presente trabalho,
qual seja: "Quais os efeitos do racismo estrutural no procedimento de reconhecimento de
pessoas realizado em sede policial e, consequentemente, nos erros judiciários em matéria
penal?"
Para que o referido objetivo seja alcançado, serão analisados três casos recentes de
erros judiciários em matéria penal, que escancararam não somente a realidade do processo
penal brasileiro, como também a discriminação estrutural ainda enraizada no sistema
judiciário.

2 JUSTIFICATIVA

Conforme mencionado anteriormente, há poucas produções bibliográficas acerca da


relação entre o racismo estrutural e os erros judiciários em matéria penal, sobretudo aqueles
decorrentes de decisões fundamentadas unicamente em reconhecimento fotográfico.

Apesar de o erro judiciário em matéria penal ser tema de interesse crescente por parte
dos pesquisadores, grande parte dos trabalhos se restringe à análise técnica e objetiva das
variantes que influenciam o processo penal de modo a gerar uma condenação injusta. Dessa
forma, poucas produções buscaram se debruçar na análise do perfil das pessoas injustamente
condenadas, de forma específica, por um reconhecimento equivocado, e nas variantes que
justificam a predominância de jovens negros nos casos relatados.

Assim, considerando a relevância do tema, e a lacuna existente na bibliografia – no


que diz respeito à existência de trabalhos que busquem relacionar, de forma direta, o impacto
do racismo estrutural nos procedimentos de reconhecimento de pessoas realizados em sede
policial e, consequentemente, nas condenações injustas – o presente trabalho mostra-se
necessário para investigar a fundo as variantes que estão por trás dos erros judiciários em
matéria penal.

Diante disso, ao apresentar uma análise interseccional sobre como o racismo estrutural
impacta no reconhecimento de pessoas e consequentemente em condenações injustas, a
presente pesquisa pretende contribuir para preencher a lacuna existente na bibliografia.

3 OBJETIVOS

3.1 Objetivo geral


O principal objetivo da pesquisa é demonstrar de que forma o racismo estrutural se
relaciona com as condenações injustas no âmbito penal, sobretudo nas decisões condenatórias
fundamentadas no reconhecimento fotográfico realizado pela vítima em sede policial. Assim,
busca-se evidenciar que, apesar de muito ter se questionado a respeito da possibilidade de o
reconhecimento de pessoas, enquanto única prova, ser capaz de superar o standard probatório
do processo penal, poucas são as produções bibliográficas que buscaram ir a fundo, pensando
também na estrutura discriminatória por trás de tais problemáticas.

3.2 Questões a investigar

• Quais os procedimentos adotados para a realização do reconhecimento fotográfico?

• Existe um protocolo específico para a realização do reconhecimento fotográfico em sede


policial?

• De que forma o racismo estrutural opera no momento do reconhecimento?

• Quais procedimentos devem ser adotados para assegurar que o reconhecimento seja
confiável?

• Quais fatores podem influenciar o reconhecimento fotográfico pela vítima?

• De que forma a memória da vítima pode ser alterada e/ou influenciada por fatores externos?

• De que forma o racismo estrutural se faz presente nas sentenças proferidas no processo
penal?

4 METODOLOGIA

III.1 Modelo metodológico

O recurso metodológico a ser utilizado nesta monografia é o estudo aprofundado de


três casos concretos. Para tanto, serão adotadas, também, pesquisas bibliográficas e
jurisprudenciais que busquem fundamentar os conceitos utilizados e a hipótese da presente
pesquisa.

5 REVISÃO DE LITERATURA

Antes de apresentar a discussão que esse trabalho se propõe a traçar, faz-se necessário
delimitar alguns conceitos importantes, que serão abordados na construção da hipótese.
Assim, adotar-se-a os conceitos de racismo estrutural e racismo institucional trazidos por
Sílvio de Almeida no livro "Racismo Estrutural".

Segundo o autor, o racismo pode ser classificado a partir de três concepções


diferentes: individualista, institucional e estrutural. Tais concepções partem dos seguintes
critérios: a) relação entre racismo e subjetividade; b) relação entre racismo e Estado; c)
relação entre racismo e economia.

Desse modo, sobre a concepção institucional, Sílvio de Almeida afirma:

No caso do racismo institucional, o domínio se dá com o estabelecimento de


parâmetros discriminatórios baseados na raça, que servem para manter a hegemonia
do grupo racial no poder. Isso faz com que a cultura, os padrões estéticos e as práticas
de poder de um determinado grupo tornem-se o horizonte civilizatório do conjunto da
sociedade. Assim, o domínio de homens brancos em instituições públicas – o
legislativo, o judiciário, o ministério público, reitorias de universidades etc. – e
instituições privadas – por exemplo, diretoria de empresas – depende, em primeiro
lugar, da existência de regras e padrões que direta ou indiretamente dificultem a
ascensão de negros e/ou mulheres, e, em segundo lugar, da inexistência de espaços
em que se discuta a desigualdade racial e de gênero, naturalizando, assim, o domínio
do grupo formado por homens brancos.5

Para a presente pesquisa, interessa abordar justamente as práticas discriminatórias


perpetuadas no judiciário. Para tanto, o conceito de racismo institucional trazido por Sílvio de
Almeida faz-se essencial. Isso porque, nas palavras do próprio autor, "As instituições são

5 Almeida, Silvio Luiz de. Racismo estrutural / Silvio Luiz de Almeida. -- São Paulo : Sueli Carneiro ; Pólen,
2019. p.28.
apenas a materialização de uma estrutura social ou de um modo de socialização que tem o
racismo como um de seus componentes orgânicos. Dito de modo mais direto: as instituições
são racistas porque a sociedade é racista.".6

Nesse mesmo sentido, o autor define que o racismo é estrutural, pois faz parte da
própria estrutura social:

o racismo é uma decorrência da própria estrutura social, ou seja, do modo “normal”


com que se constituem as relações políticas, econômicas, jurídicas e até familiares,
não sendo uma patologia social e nem um desarranjo institucional. O racismo é
estrutural.7

Assim, delimitados os conceitos de racismo estrutural e racismo institucional, passar-


se-a a analisar as problemáticas envolvidas no reconhecimento de pessoas enquanto prova a
fundamentar uma sentença condenatória no processo penal.
Sobre esse tema, diversos são os autores que apontam a fragilidade das provas
dependentes da memória, tais quais o reconhcecimento de pessoas.

Nesse sentido, Lilian Stein, psicóloga e estusiasta da psicologia do testemunho, afirma


que a memória humana não funciona como uma máquina fotográfica, sendo passível de falhas
e alterações. Segundo ela, as falsas memórias ocorrem "quando a lembrança é alterada
internamente, fruto do próprio funcionamento da memória, sem a interferência de uma fonte
externa"8. Logo, o reconhecimento de pessoas, por se tratar de prova dependente da memória,
também pode ser falho.

Além disso, pesquisas têm mostrado que o reconhecimento equivocado é uma das
principais causas de erros judiciários em matéria penal. Levantamentos feitos pelo Inoccence
Project dos Nova Iorque mostraram que, em 75% dos 365 casos em que o projeto provou,
através de exames de DNA, a inocência de uma pessoa injustamente condenada, a principal
causa do erro foi o reconhecimento equivocado9.

6 Almeida, Silvio Luiz de. Racismo estrutural / Silvio Luiz de Almeida. -- São Paulo : Sueli Carneiro ; Pólen,
2019. p.31.
7 Almeida, Silvio Luiz de. Racismo estrutural / Silvio Luiz de Almeida. -- São Paulo : Sueli Carneiro ; Pólen,
2019. p.33.
8 STEIN, Lilian e outros. Falsas Memórias: fundamentos científicos e suas aplicações técnicas e jurídicas. Porto
Alegre: Artmed, 2010, p. 25.
Assim, Antonio Vieira, co-fundador e ex-presidente do Instituto Baiano de Direito
Penal e Processual, afirma que há, atualmente, uma hipervalorização da prova de
reconhecimento, o que se torna extremamente nocivo ao processo, tendo em vista a falta de
confiabilidade nas provas dependentes da memória:

É que, em boa parte dos casos, basta que o réu seja reconhecido para que,
indevidamente, se dê como satisfeito o standard de prova necessário à condenação,
passando uma ideia errônea de (hiper)suficiência da prova de identificação, o que é de
todo incompatível quando se tem em conta a quantidade de fatores que podem influir
na capacidade que uma vítima ou testemunha tenha de identificar corretamente o
autor do crime10.

Desse modo, o autor defende que não se possa superar o standard probatório
necessário para uma condenação somente com base no reconhecimento feito pela vítima e/ou
testemunha:

Como apontava Miranda Estrampes (2014, p. 144), no processo penal, a presunção de


inocência impõe a adoção de um standard probatório especialmente elevado, sendo
evidente que as altas porcentagens de erro nas identificações impedem que esse
standard seja atingido nos casos em que o reconhecimento seja a única prova ou a
prova de acusação mais relevante, tornando necessário o estabelecimento de uma
regra que exija sempre a presença de prova de corroboração, como parâmetro de
suficiência da prova de reconhecimento11.

Por fim, no que diz respeito ao impacto do racismo estrutural e institucional nos
reconhecimentos de pessoas e, consequentemente, nas condenações injustas, não há, ainda,
pesquisas que tenham se aprofundado no tema. No entanto, a advogada Dina Alves, tece
importantes apontamentos acerca do racismo na justiça penal brasileira:

De fato, a justiça penal é um lugar privilegiado de reprodução das desigualdades


raciais. Nela, as categorias «crime», «criminoso», «puníveis», «inocentes», «vítimas»

9 Dado apresentado por Barry Scheck, diretor do Innocece Project. Troubling Questions Surround Troy Davis
Execution Set for Monday. The Huffington Post. 24 Nov. 2008. Disponível em:
https://www.huffpost.com/entry/troubling-questions-surro_b_137514. Acesso em 14 fev. 2022.
10 VIEIRA, Antonio. Riscos Epistêmicos No Reconhecimento de Pessoas: contribuições a partir da
neurociência e da psicologia do testemunho. Bahia, 2019. p. 13.
11 VIEIRA, Antonio. Riscos Epistêmicos No Reconhecimento de Pessoas: contribuições a partir da
neurociência e da psicologia do testemunho. Bahia, 2019. p. 13.
não são categorias neutras, elas dão sentido aos entendimentos de raça que governa as
relações raciais no Brasil (CIRINO, 2006). Uma perspectiva crítica de raça diria
também que nossa posição social, nosso pertencimento racial e nossos privilégios
múltiplos definem cidadãos puníveis e inocentes12.

(...)

Para desvendar a lógica racial do sistema de justiça penal, é preciso ir além da


descrição de sua composição demográfica, de seus desdobramentos nas narrativas
judiciais e do entendimento de como o racismo tem espaço e atuação no imaginário e
nas práticas institucionais13.

(...)

A igualdade formal preconizada pela Constituição Federal garante a todas as pessoas


os direitos fundamentais e sociais de forma isonômica. Mas, o poder judiciário
reconhecer a existência do racismo institucional é um passo fundamental, pois mesmo
na igualdade formal, em que todos e todas são iguais perante a lei, existem mecanis-
mos «invisíveis» de discriminação que fazem com que algumas pessoas sejam menos
iguais ou menos humanas, ou não humanas. As práticas rotineiras de policiamento de
comunidades predominantemente negras e o crescimento nas estatísticas prisionais de
mulheres negras, bem podem ser lidos como um diagnóstico da insidiosa persistência
do racismo e da colonialidade da justiça criminal no Brasil contemporâneo 14.

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

7.1 Referências das fontes citadas neste projeto

STEIN, Lilian. M.; ÁVILA, Gustavo. N. Avanços científicos em Psicologia do Testemunho


aplicados ao reconhecimento pessoal e aos depoimentos forenses. Brasilia: Secretaria de
Assuntos Legislativos, Ministério da Justiça (Série Pensando Direito, No. 59)., 2015.
Disponível em: http://pensando.mj.gov.br/wp-content/uploads/2016/02/PoD_59_Lilian_web-
1.pdf. Acesso em 14 de fevereiro de 2022.
12 ALVES, Dina. Rés negras, juízes brancos: Uma análise da interseccionalidade de gênero, raça e classe na
produção da punição em uma prisão paulistana. São Paulo, 2017. p. 10.
13 ALVES, Dina. Rés negras, juízes brancos: Uma análise da interseccionalidade de gênero, raça e classe na
produção da punição em uma prisão paulistana. São Paulo, 2017. p. 15.
14 ALVES, Dina. Rés negras, juízes brancos: Uma análise da interseccionalidade de gênero, raça e classe na
produção da punição em uma prisão paulistana. São Paulo, 2017. p. 21.
VIEIRA, Antonio. Riscos epistêmicos no reconhecimento de pessoas: o que aprender com a
reforma do Código Processual Penal Uruguaio.

MATIDA, Janaina; CECCONELLO, William W. Reconhecimento fotográfico e presunção de


inocência. Revista Brasileira de Direito Processual Penal, Porto Alegre, vol. 7, n. 1, p. 409-
440, jan./abr. 2021.

Almeida, Silvio Luiz de Racismo estrutural / Silvio Luiz de Almeida. -- São Paulo : Sueli
Carneiro ; Pólen, 2019.

CRUZ, Eugeniusz. Passagens. Revista Internacional de História Política e Cultura Jurídica


Rio de Janeiro: vol. 10, no3, setembro-dezembro, 2018, p. 464-484.

http://www.biblioteca.pucminas.br/teses/Direito_MaschioCV_1.pdf
https://www.defensoria.rj.def.br/uploads/imagens/d12a8206c9044a3e92716341a99b2f6f.pdf

https://sistemas.rj.def.br/publico/sarova.ashx/Portal/sarova/imagem-dpge/public/arquivos/
consolida%C3%A7%C3%A3o_relat
%C3%B3rio_CONDEGE_e_DPERJ_reconhecimento_fotogr%C3%A1fico.pdf

https://www.historia.uff.br/revistapassagens/artigos/v10n3a72018.pdf

7.2 Levantamento bibliográfico preliminar

BADARÓ, Caio. A prova testemunhal no Processo Penal brasileiro: uma análise a partir da
epistemologia e da psicologia do testemunho. Revista Brasileira de Ciências Criminais, ano
27, v. 156, 2019.

BADARÓ, Gustavo Henrique. Processo penal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 4 ed. 2016.

BADARÓ, Gustavo Henrique. Epistemologia judiciária e prova penal. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 2019.

Você também pode gostar