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Campo Grande MS
2023
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Campo Grande MS
2023
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BANCA EXAMINADORA
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Prof. Me. João Paulo Calves
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Prof. Jeferson Borges dos Santos Júnior
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Prof. Tiago Bunning Mendes
Campo Grande MS
2023
N385a Neto, Adelir Angelo Ceni.
Análise da ilegalidade da prova por erro no reconhecimento de
pessoas./Adelir Angelo Ceni Neto- Campo Grande: Centro
Universitário UNIGRAN Capital, 2023.
26 f.
CDU: 343.1(81)
1
Graduando em Direito pelo Centro Universitário Unigran Capital. E-mail: adelirneto.rl.adv@gmail.com
2
Mestre em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. E-mail: joao.calves@unigran.br
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1 INTRODUÇÃO.
O artigo trabalhado é resultado de uma pesquisa minuciosa e detalhada acerca da
prova do reconhecimento de pessoas no ordenamento jurídico brasileiro, levando em
conta os perigos contidos na sua realização de forma errônea, mediante a doutrinas e
jurisprudências que relatam sobre o tema.
Será apresentado como o reconhecimento de pessoas no processo penal é um dos
meios de prova da autoria de um ato delituoso, e que para a condenação criminal é preciso
estar comprovada a autoria do crime, bem como a materialidade do ato. Portanto uma das
formas trazidas pelo Código de Processo Penal para comprovar está autoria é o
procedimento expresso no artigo 226, o reconhecimento de pessoas. Entretanto, tem-se
uma série de fatores e modos a se fazer o procedimento, para que não se vicie a prova.
Em seguida será possível observar que o direito ao processo justo é uma das
garantias fundamentais previstas na Constituição Federal brasileira. Nesse sentido, é
dever do Estado garantir que as provas utilizadas em um processo sejam lícitas e obtidas
de forma regular, a fim de assegurar que a decisão final seja justa e equilibrada. No
entanto, a utilização de provas ilícitas pode comprometer a validade do processo e,
consequentemente, a justiça da decisão.
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levando-se em conta que esse julgador que determina a produção de prova vai decidir se
ela é urgente ou necessária.
Dessarte, não cabe mais esse agir de ofício, na busca de provas, por parte do
juiz, seja na investigação, seja na fase processual de instrução e julgamento.
Obviamente que não basta mudar a lei, é preciso mudar a cultura, e esse sempre
será o maior desafio. Não tardarão em aparecer vozes no sentido de que o art.
156, I deve permanecer, cabendo o agir de ofício do juiz quando a prova for
urgente e relevante. Tal postura constitui uma burla à mudança, mantendo
hígida a estrutura inquisitória antiga. Afinal, basta questionar: o que é uma
prova urgente e relevante? Aquela que o juiz quiser que seja. E a necessidade,
adequação e proporcionalidade, quem afere? O mesmo juiz que determina sua
produção. Essa é a circularidade inquisitória clássica, que se quer abandonar.
Fica a advertência para o movimento contrarreformista. (LOPES, 2020, p. 68)
Por fim, entendesse com o ensinamento dos doutrinadores que o correto e
adequado é reconhecer a revogação do 156 e todos os artigos que seguem essa linha de
pensamento, tendo em vista a incompatibilidade deles com o principio acusatório e a
redação do artigo 3º-A do Código de Processo Penal.
Digamos que houve um fato criminoso, a partir disso surge a obrigação do Estado
de apurar a autoria e a materialidade desse crime. A respeito dessa materialidade desse
fato, deve-se demonstrar a sua finalidade da identificação e a relação que se tem com o
reconhecimento de pessoas.
O jurista Guilherme de Souza Nucci (2020, p. 393) explica em seu estudo que a
identificação criminal é uma identificação por características únicas, como a colheita de
impressões digitais ou de materiais genéticos. Em outras palavras a identificação é a união
e a comparação de dados de um individuo juntamente com o fato criminoso, com o intuito
de criar uma identidade criminal do autor.
Quanto o reconhecimento do acusado, Guilherme de Souza Nucci ensina que:
Pode ocorrer que ele não tenha o nome ou os demais elementos que o
qualificam devidamente conhecidos e seguros. Há quem possua dados
incompletos, não tenha nem mesmo certidão de nascimento, ou seja, alguém
que, propositadamente, carregue vários nomes e qualificações. Contenta-se a
ação penal com a determinação física do autor do fato, razão pela qual se torna
imprescindível a sua identificação dactiloscópica e fotográfica, o que,
atualmente, é expressamente previsto na Lei 12.037/2009. (NUCCI, 2020, p.
444)
Desse modo, há diferentes vertentes que refutam o entendimento de Nucci, com o
argumento de que por se tratar de um procedimento de potencial constrangimento ao
investigado, somente será admitido a identificação criminal para aquele que não tiver
identificação civil, nesse pensamento a doutrina de Paulo Rangel:
A identificação criminal sempre foi um constrangimento para as pessoas que a
ela se submetiam. Agora, nos termos da Constituição, este constrangimento só
será admitido para aquele que não tiver identificação civil, mesmo assim
deverá a autoridade encarregada de realizar a identificação criminal adotar
providências necessárias para evitar qualquer tipo de constrangimento ao
investigado. (RANGEL, 2015, p. 169)
O entendimento do Supremo Tribunal Federal em sua súmula de número 568,
entendia anteriormente a CF/88 que “A identificação criminal não constitui
constrangimento ilegal, ainda que o indiciado já tenha sido identificado civilmente”.
Entretanto o referido enunciado sumular não foi recepcionado pela Carta Magna
de 1988, isso porque a Constituição Federal é explicita em seu texto sobre o referido tema,
conforme o artigo 5º, inciso LVIII: "o civilmente identificado não será submetido a
identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei".
De acordo com a Lei de Execução Penal (Lei 12.037, de 1.º de outubro de 2009,
alterada pela Lei 12.654/2012), será autorizado a identificação quando houver uma
incerteza concreta sobre veracidade e da validade dos fatos e documentos apresentados.
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Assim como diversos juristas que corroboram o entendimento, o Aury Lopes Jr.
(LOPES, 2020, p. 773) crítica a não utilização de forma rigorosa do disposto no artigo
226, do Código de Processo Penal:
Tais cuidados, longe de serem inúteis formalidades, constituem condição de
credibilidade do instrumento probatório, refletindo na qualidade da tutela
jurisdicional prestada e na própria confiabilidade do sistema judiciário de um
país.
Por sua vez torna-se importante corroborar esse entendimento do ilustre jurista
com a pacíficas jurisprudências dos tribunais que entendem que o não cumprimento
dessas regras previstas no artigo 226, do CPP, são meras recomendações e por si só, não
configuram a nulidade do ato. Veja-se:
PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM
RECURSO ESPECIAL.ROUBO MAJORADO PELO CONCURSO DE
PESSOAS. TESE DE VIOLAÇÃO DO ART.226 DO CÓDIGO DE
PROCESSO PENAL. NÃO OCORRÊNCIA. DECISÃO HARMÔNICA
COM A JURISPRUDÊNCIA DESTA SUPERIOR CORTE DE JUSTIÇA. 1.
A jurisprudência sedimentada desta Corte é a de que "as disposições contidas
no art. 226 do Código de Processo Penal configuram uma recomendação legal,
e não uma exigência absoluta, não se cuidando, portanto, de nulidade quando
praticado o ato processual (reconhecimento pessoal) de forma diversa da
prevista em lei" (AgRg no AREsp n. 1.054.280/PE, relator Ministro
SEBASTIÃO REIS JÚNIOR, SEXTA TURMA, julgado em 6/6/2017, DJe de
13/6/2017). 2. Além disso, a autoria ficou comprovada, em juízo, por meio de
prova testemunhal, e não apenas no reconhecimento judicial do agravante. 3.
Agravo regimental desprovido. (STJ – AgRg no AREsp: 1520565 SP
2019/0169505-7, Relator: Ministro ANTONIO SALDANHA PALHEIRO,
Data de Julgamento: 10/09/2019, T6 - SEXTA TURMA, Data de Publicação:
DJe 18/09/2019).
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O interesse não é “descobrir mentiras”, até porque, não se tem como distinguir com
certeza as memórias reais das falsas memórias, ou seja, não há o que se falar em mentira
quando trata-se desse assunto, por que no caso em questão, a pessoa não sabe se aquilo
realmente aconteceu ou não, por isso o nome, falsas memórias.
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5 CONCLUSÃO.
O presente trabalho buscou de forma pratica demonstrar a necessidade de controle
sobre os procedimentos de identificação de pessoas na esfera criminal do direito, tendo
em vista os riscos contidos na produção errônea deste meio probatório, levando em conta
que seu procedimento não é seguido de forma rigorosa.
Claramente, o objetivo de uma ação penal é demonstrar ao juiz os elementos que
provarão a ocorrência ou não de um ato criminoso. Por esta razão, as pessoas passaram a
acreditar no mito de que os eventos podem ser recriados exatamente da mesma forma que
aconteceram antes. A investigação para descobrir a verdade iniciou um procedimento de
investigação interrogativa.
Outra questão relacionada ao instituto do reconhecimento de pessoas é a
banalização e não aplicação de prazos legais nos procedimentos previstos em lei, bem
como o entendimento jurisprudencial de que o não cumprimento ao disposto legal no
artigo 226 do Código de Processo Penal, não enseja nulidade, já que é visto apenas como
regra de procedimento.
Agora, entende-se que a observância da forma é necessária e não permite que os
juízes criem espaço para processo informal caso a caso. É, portanto, imperativo detalhar
essas normas, e os tribunais precisam tratá-las com rigor e uniformidade, não apenas
como mera recomendação procedimental, afinal, o devido processo legal é a garantia
fundamental do réu.
A finalidade do presente artigo foi iniciar uma reflexão crítica acerca do valor
probatório do reconhecimento de pessoas no ordenamento jurídico levando em
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consideração como ele é tratado, assim como mostrar os riscos decorrentes da não
utilização do procedimento a rigor.
Nesse contexto, também foi discutido a questão das falsas memórias, mostrando
que a memória é a capacidade que o cérebro possui de recordar de fatos ocorridos, mas
pode haver alterações nessas memórias caso ocorra cargas emotivas ou um grande lapso
de tempo.
Ainda houve uma analise do julgamento da Sexta Turma do Superior Tribunal de
Justiça que reconheceu que o rito legal para o reconhecimento de pessoas deve ser
interpretado como de observância obrigatória e que a sua inobservância dá ensejo à
nulidade da prova, mas também foi apresentado diversos outros entendimentos
jurisprudenciais apresentando que o artigo 266 do CPP se trata apenas de uma hipótese.
Diante do exposto, é evidente a importância da defesa do cumprimento rigoroso e
integral da previsão legal desse instrumento, para gerar mais confiabilidade como meio
de prova no devido processo penal.
REFERÊNCIAS
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2015.
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LIMA, Renato Brasileiro de. Manual de Processo Penal: volume único. 8ª ed. rev.,
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LOPES, Aury. Direito processual penal. 16ª ed. – São Paulo: Saraiva Educação, 2019.
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LOPES, Aury. Direito processual penal. 17ª ed. São Paulo: Saraiva, 2020.
NUCCI, Guilherme de Souza. Curso de Direito Processual Penal. 17ª ed. Rio de
Janeiro: Forense, 2020.
NUCCI, Guilherme de Souza. Código de Processo Penal Comentado. 19ª ed. Rio de
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OLIVEIRA, Eugênio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 24ª ed. São Paulo: Atlas,
2020.
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T. de Camargo Aranha. São Paulo: Saraiva, 1997.