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FACULDADE ADELMAR ROSADO

ESCOLA DO LEGISLATIVO WILSON BRANDÃO


PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO PENAL E DIREITO PROCESSUAL PENAL

AMANDA DO CARMO SILVA LIMA

CASO EVANDRO CAETANO: CONFISSÃO SOB TORTURA E A POSSIBILIDADE


DE REVISÃO CRIMINAL COMO COROLÁRIO DA PRESUNÇÃO DE NÃO
CULPABILIDADE.

TERESINA
2022
AMANDA DO CARMO SILVA LIMA

CASO EVANDRO CAETANO: CONFISSÃO SOB TORTURA E A POSSIBILIDADE


DE REVISÃO CRIMINAL COMO COROLÁRIO DA PRESUNÇÃO DE NÃO
CULPABILIDADE.

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao


Curso de Pós-graduação em Direito Penal e
Direito Processual Penal à Faculdade Adelmar
Rosado, como requisito parcial à obtenção do
título de Especialista.

Orientador: Prof.º Me. Francisco de Sousa Vieira


Filho
Coorientador: Prof.º Me. Adauto de Galiza Dantas
Filho
TERESINA
2022
RESUMO

O Caso Evandro Caetano, ocorrido em abril de 1992, na cidade de Guaratuba no


Estado do Paraná, resultou no tribunal do júri mais longo da história do judiciário
brasileiro. O crime teria sido motivado por rivalidade política em um suposto ritual
religioso. O menino de apenas seis anos desapareceu a caminho de casa e sete
pessoas foram acusadas, cinco delas confessaram o crime. Trinta anos depois,
resquícios de novas provas surgiram que podem mudar a história do caso e
escancarar erros judiciários e violações aos direitos humanos. Réus confessos e
condenados e as fitas das gravações de suas confissões sem cortes e sem edição
que podem sugerir a prática de tortura para a obtenção da confissão. O sistema
processual penal brasileiro é regido pelo princípio da presunção de inocência e pela
segurança jurídica de suas decisões. A repercussão midiática foi gigantesca,
pressionando as autoridades na solução do caso. Dito isto, o artigo analisa o Caso
Evandro Caetano e a confissão obtida por meio de tortura a dar ensejo a revisão
criminal. Perspectiva-se, aqui, verificar as particularidades doutrinárias a respeito da
temática supramencionada. Discutem-se os efeitos de uma confissão eivada de
ilegalidade, a confissão como meio de prova no processo penal e a possibilidade de
revisão criminal em casos de erros judiciários e de surgimento de novas provas.

Palavras-Chave: Caso Evandro. Confissão. Tortura. Revisão criminal.


ABSTRACT

The Evandro Caetano case, which occurred in April 1992 in the city of Guaratuba in
the State of Paraná, resulted in the longest jury court in the history of the Brazilian
judiciary. The crime would have been motivated by political rivalry in an alleged
religious ritual. The boy of only 06 years disappeared on the way home and 7 people
were charged, 5 of them confessed to the crime. Almost 30 years later, remnants of
new evidence have emerged that could change the history of the case and open up
legal errors and human rights violations. Confessed and convicted defendants and
the tapes of the recordings of their confessions without cuts and without editing that
may suggest the practice of torture to obtain confession. The Brazilian criminal
procedural system is governed by the principle of the presumption of innocence and
the legal certainty of its decisions. The media repercussion was huge, pressuring the
authorities in solving the case. That said, the article analyzes the Evandro Caetano
case and the confession obtained through torture to give rise to criminal review. The
perspective here is to verify the doctrinal particularities regarding the above-
mentioned theme. We discuss the effects of a confession full of illegality, confession
as a means of proof in criminal proceedings and the possibility of criminal review in
cases of judicial errors and the emergence of new evidence.

Keywords: Evandro Case. Confession. Torture. Criminal review.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...........................................................................................................5
2 PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA.......................................................7
3 CONFISSÃO COMO MEIO DE PROVA.................................................................15
4 REVISÃO CRIMINAL E O CASO EVANDRO........................................................22
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................25
REFERÊNCIAS..........................................................................................................28
5

1 INTRODUÇÃO

O desaparecimento de Evandro Ramos Caetano em 1992, na cidade de


Guaratuba no Estado do Paraná resultou em um dos julgamentos mais longos da
história brasileira. Não fosse a morte com crueldade e outros desaparecimentos na
mesma época de crianças, o caso não teria todas as particularidades hoje existentes.
Quase trinta anos depois, o judiciário precisou reapreciar a matéria, pois surgiram
evidências de que os réus foram, na época dos fatos, torturados
Inicialmente, propõe-se analisar o caso Evandro e a confissão como meio de
prova no processo penal. Assim, esta pesquisa bibliográfica de natureza qualitativa,
pretende analisar as consequências da tortura para a ação penal e os erros
judiciários que ensejam a revisão criminal das decisões judiciais.
Com a prática de torturas na Idade Média e em outras épocas da história
humana, havia obtenção da confissão do acusado ou investigado, o que não garantia
o conhecimento da verdade dos fatos, pois a admissão da culpa era forçada pelo
sofrimento físico e psicológico ocasionado pelas torturas.
A concepção da presunção de inocência rompe o paradigma do sistema
inquisitorial, pois agora o acusado era presumidamente inocente, o acusador que
deveria provar o alegado através do devido processo legal, garantidos o contraditório
e ampla defesa ao investigado.
A presunção de inocência recebeu amparo em diversos documentos
estrangeiros, como a Declaração Universal de Direitos do Homem e o Pacto de San
José da Costa Rica. No Brasil, a presunção de inocência recebeu status
constitucional com a promulgação da Constituição Federal de 1988, conhecida como
Constituição Cidadã e foi um importante instrumento para a redemocratização do
país.
É límpida a notoriedade a ser dada ao estudo do presente tema, pois
extremamente atual e urgente e que decorre do pedido de revisão criminal de um dos
julgamentos mais longos do país.
A dissertação sobre a confissão obtida por meio de tortura é pertinente pois
permite ponderar os limites da presunção de não culpabilidade, a ser assegurada
mesmo após o trânsito em julgado de sentença penal condenatória, permitindo que a
matéria seja rediscutida por intermédio de revisão criminal.
6

A pesquisa realizada neste trabalho pode ser classificada quanto ao objetivo


como exploratória, pois possui planejamento flexível, permitindo um levantamento
bibliográfico e análise de exemplos que favorecem a compreensão.
Em relação à abordagem teórica, classifica-se pela abordagem qualitativa,
porque busca o exato esclarecimento da aplicação do princípio da presunção de não
culpabilidade e seus desdobramentos em relação à revisão criminal.
Enquanto procedimento técnico, recebeu enfoque a pesquisa bibliográfica,
pois o material a ser utilizado já foi publicado, como livros e periódicos, levando em
consideração a qualidade e principalmente a veracidade das fontes eventualmente
utilizadas.
O primeiro capítulo aborda as concepções do tema no que concerne a
presunção de inocência e sua proteção constitucional e em pactos internacionais,
trazendo à baila a importância de sua interpretação em conjunto com os demais
princípios constitucionais, como a dignidade da pessoa humana. Trata ainda da
observância da presunção de não culpabilidade e suas regras no processo penal
brasileiro.
O segundo capítulo apresenta a confissão sob o aspecto histórico e social,
com a utilização de práticas de tortura, e como elemento probatório no sistema
processual penal. Além disso, o segundo capítulo considera a utilização da confissão
também extrajudicialmente, pois o julgador não pode ponderar somente a confissão
do acusado para lastrear as provas do processo, imperioso que a confissão seja
posta sob valoração com outros elementos contidos nos autos.
O terceiro e último capítulo aproxima-se da revisão criminal como ação
autônoma de impugnação e dos recursos previstos no Código de Processo Penal,
como a apelação, analisando os requisitos para a apresentação da revisão criminal,
as hipóteses que ensejam tal medida e a maneira que o caso Evandro se enquadra
naqueles aspectos penais e processuais autorizadores, uma vez que a confissão dos
réus fora obtida por meio de tortura.
O intuito, pois, é apresentar, de que modo a presunção de inocência rege o
sistema processual penal, a atuação estatal no deslinde de um fato como titular do
jus puniendi, e a validade da confissão no arcabouço probatório. Fato é que a
confissão não é mais a rainha das provas e deve ser valorada com outras provas
constantes no processo.
7

2 PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA

A presunção de inocência possui previsão constitucional no ordenamento


jurídico brasileiro. É um princípio basilar do processo penal determinando que
ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal
condenatória. Sob esse viés, apenas com o advento do trânsito em julgado da
sentença é possível afastar o estado de inocência.
As investigações policiais e a ação penal em si devem seguir a máxima de que
todos são presumidamente inocentes e somente a sentença penal transitada em
julgado tem a prerrogativa de determinar o contrário.
No direito romano já podia se identificar timidamente a aplicação da presunção
de inocência. Todavia, a concepção de presunção de inocência sofreu um retrocesso
com as Inquisições na Idade Média. Na Idade Média vigorava o sistema inquisitivo, o
investigado não tinha uma presunção de inocência, mas sim uma presunção de
culpa. Dessa forma, Ferrajoli (2002, p. 441) entende:

Apesar de remontar ao direito romano, o princípio da presunção da


inocência, até que, provem o contrário foi ofuscado, se não completamente
invertido, pelas práticas inquisitoriais desenvolvidas na Baixa Idade Média.
Basta recordar que no processo penal medieval a insuficiência da prova,
conquanto deixasse de subsistir uma suspeita ou uma dúvida de
culpabilidade, equivalia a uma semi-prova, que comportava um juízo de
semi-culpabilidade e uma semi-condenação a uma pena mais leve
(FERRAJOLI, 2002, p. 441).

Após a Segunda Guerra Mundial, a presunção de inocência recebeu enfoque


mundial com a Declaração Universal dos Direitos Humanos. As atrocidades ocorridas
na Segunda Guerra Mundial geraram a necessidade de positivação dos direitos sob
a perspectiva universal, que abrangesse todo ser humano sem qualquer distinção,
elevando-o ao status de dignidade tão somente por sê-lo humano, proibindo-se
castigos corporais.
Assim, dentre outros direitos, a Declaração Universal de Direitos do Homem
reafirmou e consagrou a presunção de inocência e em seu artigo 11, §1° dispõe que:

Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de ser presumida


inocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei,
em julgamento público, no qual lhe tenham sido asseguradas todas as
garantias necessárias à sua defesa.

Sendo o princípio da presunção de inocência explicitamente constitucional,


encontra previsão também no Pacto de San José da Costa Rica, na Declaração
8

Universal de Direitos Humanos e no Pacto Internacional sobre Direitos Civis e


Políticos.
Salutar a preceituação do Pacto de San José da Costa Rica a respeito da
presunção de não culpabilidade em seu art. 8°, § 2° “Toda pessoa acusada de um
delito tem direito a que se presuma sua inocência, enquanto não for legalmente
comprovada sua culpa.”
É nítido que a presunção de inocência passou por uma involução na Idade
Média, mas tomou novamente proporção nos séculos seguintes. Modernamente, a
presunção de inocência está sedimentada no ordenamento jurídico de vários países,
possuindo vastos documentos que atestam sua força e estima.

2.1 DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

A dignidade da pessoa humana foi consagrada na Declaração Universal de


Direitos Humanos em seu artigo 1°, in verbis: “Todos os seres humanos nascem
livres e iguais em dignidade e direitos. São dotados de razão e consciência e devem
agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.”
A dignidade visa a proteção do ser humano, sem qualquer distinção. Está
constitucionalmente elencada no artigo 1° da Constituição Federal e constitui-se
como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil.
Como princípio base do estado democrático de direito, a dignidade da pessoa
humana é o núcleo central da proteção dos direitos humanos. Na essência, todo ser
humano é livre e goza dos mesmos direitos básicos e, portanto, a dignidade está
intrinsicamente ligada à condição humana. Assim, a dignidade da pessoa humana
pode ser conceituada:

[...] podemos afirmar que a dignidade humana é o fundamento primário de


todo ordenamento jurídico-constitucional, cuja dignidade é admitida e
resguardada, através do reconhecimento dos direitos e garantias
fundamentais, como o respeito à liberdade, não discriminação, proteção à
saúde, direito à vida, acesso ao trabalho como condição social humana e
digna etc. Portanto, violadas quaisquer dessas garantias fundamentais,
estar-se-á violando a dignidade humana da pessoa (ALKIMIN, 2008, p. 41).

Contudo, os direitos humanos não surgiram em 1948 com a Declaração


Universal de Direitos Humanos. São frutos das lutas sociais no decorrer da história
humana. A Declaração Universal teve o papel de proporcionar a internacionalização
9

desses direitos. Portanto, imperioso a classificação dos direitos humanos por


dimensões que evidenciam essa evolução axiológica.
A primeira dimensão está relacionada aos direitos de liberdade. São aqueles
que surgem no contexto histórico do século XVIII e século XIX, final do Estado
Absolutista. O ser humano buscava um Estado Liberal, que não oprimisse o cidadão
e respeitasse os direitos e liberdades individuais do cidadão. Conhecidos também
como direitos civis e políticos e das liberdades negativas.
Já a segunda dimensão diz respeito aos direitos de igualdade em meados do
século XX em que a sociedade necessitava de uma atuação estatal mais
protecionista, oportunidade em que foram concebidas políticas públicas para a
efetivação dos direitos e a busca pela igualdade material.
Por fim, a terceira dimensão está relacionada com o fim da Segunda Guerra
Mundial, por volta de 1945, em razão das atrocidades ocorridas na guerra e pelas
graves violações de direitos, com a primazia dos direitos difusos, pertencentes a
todas as pessoas indistintamente, inspirada por um ideal maior de fraternidade.
Alguns estudiosos falam ainda em quarta e quinta dimensões.
Conclui-se que, não se pode conceber um processo penal sem a observância
dos direitos inerentes ao ser humano, máxime a presunção de inocência, que é um
princípio basilar do sistema processual penal e deve nortear a conduta do julgador
em relação ao réu. Por isso, o desrespeito de um direito, como a presunção de
inocência, viola, inevitavelmente, a dignidade da pessoa humana que é um
fundamento da República e parte integrante de um estado democrático.

2.2 PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL

Inicialmente, a Constituição Federal de 1988 consagrou o princípio no


ordenamento jurídico brasileiro em seu artigo 5°, inciso LVII, que determina a regra
da inocência, até o trânsito em julgado da sentença condenatória, in verbis: “ninguém
será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”.
Fato é que, uma vez encontrado no Título II da Constituição Federal, a
presunção de não culpabilidade é um direito fundamental e como tal goza de status
especial. Sobremaneira, no que diz respeito à alteração, um direito fundamental
constitui cláusula pétrea que está elencado no artigo 60, §4°, III, da Constituição.
Assim dispõe:
10

Artigo 60, § 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda


tendente a abolir:
I - a forma federativa de Estado;
II - o voto direto, secreto, universal e periódico;
III - a separação dos Poderes;
IV - os direitos e garantias individuais. (grifei)

As cláusulas pétreas constituem fundamento basilar de um estado


democrático de direito, pois trata de matérias indispensáveis para o bom
funcionamento do estado e a proteção dos cidadãos, possuindo um núcleo intocável,
apesar de ser pacífico o raciocínio da não existência de normas constitucionais
hierarquicamente superiores entre si.
A intocabilidade das normas contidas no dispositivo da Constituição Federal
reside no argumento de que estas constituem fundamento do valor das demais
normas. É o entendimento de Kelsen (1999, p. 217): “A norma que representa o
fundamento de validade de uma outra norma é, em face desta, uma norma superior”.
Uma vez que os direitos e garantias individuais estabelecem condutas
mínimas de proteção básica do ser humano, estes direitos também limitam a atuação
estatal com o fim precípuo de salvaguardar o indivíduo da possível tirania do sistema.
Sobre essas considerações, Barroso (2018, p. 114) ponderou:

Os direitos individuais configuram uma espécie de direitos constitucionais.


Tais direitos, talhados no individualismo liberal, protegem os valores ligados
à vida, à liberdade, à igualdade jurídica, à segurança e à propriedade.
Destinam-se prioritariamente a impor limitações ao poder político, traçando
uma esfera de proteção das pessoas em face do Estado. Deles resultam, em
essência, deveres de abstenção para a autoridade pública e, como
consequência, a preservação da iniciativa e da autonomia privadas
(BARROSO, 2018, p. 114).

Faz-se mister destacar que, em virtude da intangibilidade de uma norma de


direito fundamental, suas disposições não podem ser suprimidas nem mesmo por
meio de emenda constitucional, exigindo, portanto, a elaboração de uma nova ordem
constitucional. Não impede, todavia, que haja alterações extensivas na interpretação
desses direitos com o desígnio de ampliar o alcance dessas normas.
Em relação ao disposto no artigo 60, §4° da Constituição Federal, Lenza
(2019, p. 1066) destaca:

o texto apenas não admite a proposta de emenda (PEC) que tenda a abolir o
direito e garantia individual. Isso não significa, como já interpretou o STF,
que a matéria não possa ser modificada. O que não se admite é reforma que
11

tenda a abolir, repita-se, tais direitos, dentro de um parâmetro de


razoabilidade (LENZA, 2019, p. 1066).

Destarte, a presunção de inocência é uma conquista histórica dos povos,


através da luta e resistência à tirania estatal e, tal como entendido outros direitos
fundamentais, não pode ser alvo de interpretações que impliquem em retrocessos
em sua aplicabilidade.
A respeito da evolução e enfrentamento social em busca de direitos, Ihering
(2000, p. 22) em sua célebre obra “A luta pelo direito” declara: “Todo direito no
mundo foi adquirido pela luta;(...) esses princípios de direito que estão hoje em vigor
foi indispensável impô-los pela luta àqueles que não os aceitavam”.
Em relação à vedação do retrocesso na aplicação dos direitos, Lenza (2019, p.
2047) explana: “(...) deve ser observado o princípio da vedação ao retrocesso, isso
quer dizer, uma vez concretizado o direito, ele não poderia ser diminuído ou
esvaziado, consagrando aquilo que a doutrina francesa chamou de effet cliquet”.
Por fim, a presunção de inocência é um direito fundamental e dessa forma
goza de privilégios constitucionais. Dentre essas proposições, possui status de
cláusula pétrea e, portanto, faz jus à intangibilidade de seu núcleo. Em razão de seus
atributos, fruto das lutas sociais, a presunção de não culpabilidade deve ser
interpretada em seu sentido extensivo, não podendo, todavia, sofrer diminuição o
alcance da norma.
A tortura com o fim de obter a confissão, no entanto, representa uma quebra
ao princípio da presunção de inocência. Principalmente porque um dos pressupostos
extrínsecos da confissão é de que ela seja realizada de forma voluntária e livre e a
tortura corrompe a voluntariedade e a liberdade.
Ademais, não sendo a confissão uma prova absoluta no processo penal
brasileiro, além de ser proibida, imoral e desumana, a prática da tortura para que o
investigado confesse, também se mostra desnecessária. Ainda, a confissão por si só
não é capaz de condenar. O arcabouço probatório devidamente fundamentado é
legal e suficiente para a demonstração da verdade.
Portanto, a ausência de voluntariedade retira a validade da confissão que dela
depende para que produza seus efeitos jurídicos. A invalidade de uma confissão
obtida por meio de uma tortura irradia várias consequências para o curso processual,
levando em consideração a fase em que o processo se encontra.
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2.3 PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE INOCÊNCIA NO PROCESSO PENAL


BRASILEIRO

A presunção de inocência se encontra no rol de direitos fundamentais do


artigo 5°, da Constituição Federal, que determina a regra da inocência, até o trânsito
em julgado da sentença penal condenatória. Lima (2012, p. 11) conceitua o princípio
da presunção de não culpabilidade:

Consiste no direito de não ser declarado culpado senão mediante sentença


transitada em julgado, ao término do devido processo legal, em que o
acusado tenha se utilizado de todos os meios de prova pertinentes para sua
defesa (ampla defesa) e para a destruição da credibilidade das provas
apresentadas pela acusação (contraditório) (LIMA, 2012, p. 11).

No que diz respeito à utilização adequada da nomenclatura de presunção de


inocência e presunção de não culpabilidade, apesar de alguns documentos
internacionais se referirem ao termo inocência, a nossa Carta Maior usou a
expressão culpado. As duas expressões não são dessa maneira inapropriadas,
havendo entendimento de serem elas sinônimos (LIMA, 2018).
No processo penal brasileiro, a presunção de inocência encontra respaldo no
artigo 283 do Código de Processo Penal, in verbis: “Ninguém poderá ser preso senão
em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária
competente, em decorrência de prisão cautelar ou em virtude de condenação
criminal transitada em julgado”.
Ocorre que, a salvaguarda de direitos, máxime a presunção de inocência,
pode encontrar óbices na sua concretização, em virtude do retrocesso ocorrido no
período da Inquisição. Dessa maneira, o processo penal contemporâneo entende a
presunção de inocência como uma regra tríplice: regra de tratamento, probatória e de
julgamento.
Assim, Lopes Júnior (2020) assevera que a presunção de inocência se
desdobra em três regras que devem ser observadas. A regra de tratamento
determina que o réu seja tratado como inocente, interna e externamente ao
processo, como corolário de um estado democrático e determinando a preservação
da imagem e intimidade do indivíduo.
Já a regra probatória impõe o ônus probatório à acusação, diferentemente do
que ocorre no processo civil em que há a distribuição da chamada carga probatória.
13

O réu somente será considerado culpado com uma decisão condenatória


passada em julgado, após um processo justo, garantidos a ampla defesa e
contraditório.
É salutar mencionar que a acusação terá o ônus probatório das alegações
contidas na denúncia ou queixa, conforme preleciona o art. 41, do Código de
Processo Penal. Isso significa que o réu deve somente defender-se daquilo
pretendido pelo acusador. Evidentemente, resulta absolvição a dúvida acerca dos
fatos alegados pela acusação.
Se cabe ao Estado o dever de punir em um estado democrático de direito,
pertence ao Estado o ônus da prova. A incumbência não é afastada e, portanto, o
cometimento de eventuais erros deve ser reparado, pois não se admite a utilização
de todo o aparato estatal para prática de violência contra os governados.
Finalmente, a presunção de inocência nos dizeres de Lopes Júnior (2020,
p.143) constitui também uma regra de julgamento, ou seja, “‘norma para o juízo’,
diretamente relacionada à definição e observância do ‘standard probatório’, atuando
no nível de exigência de suficiência probatória para um decreto condenatório”.
O princípio da presunção de não culpabilidade desdobra-se ainda em três
aspectos: (i) na instrução processual, como presunção relativa de inocência ou
culpabilidade; (ii) quando existir dúvida no momento de valoração da prova, avalia-a
em seu benefício; (iii) durante o processo penal, para o correto tratamento do
acusado no que diz respeito à conveniência da prisão processual (CAPEZ, 2018).
Dessa forma, a presunção de inocência possui dimensões interna e externa
que orientam a atuação do sistema judicial e da sociedade. Nesse mesmo sentido,
Beccaria (2015, p. 41) em sua digna obra Dos delitos e das penas reconheceu que
“Um homem não pode ser considerado culpado antes da sentença do juiz e a
sociedade só lhe pode retirar a proteção pública depois que já seja decidido ele
violado as condições com as quais tal proteção lhe foi concedida”.
Já o princípio do “favor rei” caracteriza-se por muitas vezes como um
desdobramento do princípio da presunção de não culpabilidade consistente no fato
de que a dúvida beneficia o acusado, na dúvida absolve-se o réu. Tourinho Filho
(2010, p.101) ensina que “o princípio do favor rei é o princípio base de toda
legislação processual penal de um Estado, inspirado na sua vida política e no seu
ordenamento jurídico por um critério superior de liberdade”.
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Ao longo dos anos, o sistema processual pátrio consagrou o princípio do nemo


tenetur se detegere, consistente no direito ao silêncio do investigado e da não
autoincriminação. Sobre esses imprescindíveis direitos determina Pacelli (2017, p.
35):

Atingindo duramente um dos grandes pilares do processo penal antigo, qual


seja, o dogma da verdade real, o direito ao silêncio, ou a garantia contra a
autoincriminação, não só permite que o acusado ou aprisionado permaneça
em silêncio durante toda a investigação e mesmo em juízo, como impede
que ele seja compelido – compulsoriamente, portanto – a produzir ou a
contribuir com a formação da prova contrária ao seu interesse (PACELLI,
2017, p. 35)

Assim, a presunção de inocência irradia pelo sistema processual penal normas


de tratamento e julgamento. Dessa maneira, o princípio terá grande relevância no
que concerne ao ônus probatório, principalmente na adoção dos meios de provas
pela acusação, como a confissão do acusado.
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3 CONFISSÃO COMO MEIO DE PROVA

A prova consiste nos instrumentos pelos quais as partes dispõem para


influenciar no processo e no seu julgamento, de forma que a prova é valorada pelo
juiz como maneira de demonstração da verdade. Assim, a doutrina afirma que a
prova:

(...) é o conjunto de atos praticados pelas partes, pelo juiz (CPP, arts. 156, I
e II, 209 e 234) e por terceiros (p. ex., peritos), destinados a levar ao
magistrado a convicção acerca da existência ou inexistência de um fato, da
falsidade ou veracidade de uma afirmação. Trata-se, portanto, de todo e
qualquer meio de percepção empregado pelo homem com a finalidade de
comprovar a verdade de uma alegação (CAPEZ, 2016, p. 370).

A presunção de inocência é um termo relativamente recente na história. Na


Inquisição, utilizava-se de práticas de tortura com o fim de obter a confissão e, uma
vez confesso, o crime restava solucionado. Ocorre que, a confissão era considerada
a “rainha das provas”, ou seja, possuía valor absoluto.
Nesse sentido, a confissão consiste na admissão de um fato desfavorável.
Atualmente, a confissão deve ser valorada com as demais provas e elementos
contidos nos autos. Não é necessária portanto a busca desenfreada do acusador
pela confissão.
Fato é que se revela perfeitamente possível condenação ainda que ausente
qualquer confissão do acusado. Isso significa que a confissão perdeu seu valor
absoluto, devendo ser considerada em conjunto com os demais elementos
probatórios. Dessa forma, Nucci (2018, p. 435) leciona:

confessar, no âmbito do processo penal, é admitir contra si por quem seja


suspeito ou acusado de um crime, tendo pleno discernimento, voluntária,
expressa e pessoalmente, diante da autoridade competente, em ato solene e
público, reduzido a termo, a prática de algum fato criminoso (NUCCI, 2018,
p. 435).

Desse modo, um dos elementos mais importantes a ser valorado pelo julgador
na análise dos fatos e documentos é a confissão, pois a confissão reverbera sobre
várias perspectivas. O ato de confessar não é habitual na maioria dos casos, levando
em conta que além do receio do julgamento da sociedade, prevalece a
autopreservação, que é uma característica inerente ao ser humano.
16

3.1 ESPÉCIES E REQUISITOS DA CONFISSÃO

Quanto ao local ou perante autoridade a qual é feita, a confissão pode ser


judicial ou extrajudicial. Judicial é aquela realizada perante a autoridade judiciária
competente para julgamento do feito. A extrajudicial é aquela produzida no âmbito da
fase de inquérito policial, fora do processo, ou também perante autoridade não
judiciária, como aquela realizada em procedimento administrativo.
Já quanto aos efeitos, pode ser simples, complexa ou qualificada. A confissão
simples é aquela feita unicamente naquilo contido na acusação, sem resultar em
alterações. A confissão complexa por seu turno é o reconhecimento de vários fatos
imputados. A qualificada consiste na confissão dos fatos, porém com modificações
em que o confitente alega algo favorável que diminua ou o isente de pena.
Em relação à forma, a confissão pode ser expressa ou tácita. A expressa é
aquela realizada por meio escrito ou verbal e é a única permitida no processo penal,
pois a confissão tácita ou ficta decorre da não impugnação dos elementos constantes
na inicial, ferindo sobremaneira a presunção de inocência porque não busca a
realidade.
Por fim, quanto à abrangência subjetiva, pode ser individual ou delatória.
Individual quando o confitente o faz exclusivamente em relação aos seus atos. O que
não ocorre com a delatória, que além de confessar seus próprios delitos, o acusado
aponta outros possíveis envolvidos com a prática delituosa.
A confissão é dotada de validade tão somente se cumpridos os requisitos
extrínsecos e intrínsecos de sua formação. Os requisitos intrínsecos são aqueles
inerentes ao ato, que não se distanciam do seu conteúdo, ligados à sua matéria. São
eles (TÁVORA, 2019):
a) Verossimilhança: verificação do ato com a realidade, sem afronta ao
bom senso, à lógica;
b) Certeza: a confissão deve imprimir no juiz um sentimento de certeza;
c) Clareza: feita de forma tal que não resulte em ambiguidades ou
contradições;
d) Persistência: o acusado precisa manter sua versão dos fatos,
persistindo na narração dos fatos conforme o alegado anteriormente;
17

e) Coincidência: a confissão do acusado necessita coincidir com os


demais elementos contidos nos autos, havendo um diálogo entre as provas para o
convencimento do julgador.
Os requisitos extrínsecos por sua vez referem-se às normas procedimentais.
Dentre eles, estão:
a) pessoalidade: não é possível a confissão por procuração, devendo o
acusado confessar pessoalmente.
b) ser expressa: não é cabível confissão ficta ou tácita.
c) feita perante a autoridade competente.
d) precisa ser voluntária e livre, não se admite tortura para a obtenção da
prova.
e) saúde mental: somente tem validade a confissão aquele que está em
pleno gozo de sua capacidade mental.
Na ausência desses requisitos, a confissão não possui validade jurídica.

3.2 CONFISSÃO NA FASE DE INQUÉRITO POLICIAL

Na Inquisição, a confissão era considerada a “rainha das provas”. Uma vez


obtida, independentemente da maneira empreendida, o acusado era considerado
culpado e recebia a sua pena. Atualmente, não há mais a possibilidade de abordar a
confissão como “rainha das provas”.
O inquérito policial possui grande valor para o sistema judicial criminal.
Todavia, resta claro à vista do disposto no art. 155 do CPP que este constitui
instrumento de informação no convencimento do juiz. Os elementos obtidos a partir
da fase inquisitorial são informativos, pois produzidos sem a garantia do contraditório
e ampla defesa e, portanto, a confissão obtida neste âmbito não pode ser
considerada prova.
O célebre doutrinador Nucci (2015, p.185) determina que a confissão realizada
no inquérito precisa:

(...) ser vista com reservas: primeiro porque a prova colhida na fase
extrajudicial tem caráter eminentemente informativo, servindo ao titular da
ação penal e não e destinando por via direta ao Estado-juiz; em segundo
lugar, porque o material foi colhido sem qualquer amparo nos direitos
individuais, tais como ampla defesa e contraditório (NUCCI, 2015, p. 185).
18

Uma vez que, a confissão produzida no inquérito policial não é tida como
prova no processo penal, mas apenas como elemento de convicção do julgador, sua
validade fica restrita à confirmação perante o juiz e à análise dos elementos e provas
produzidas no inquérito e ratificadas no andamento processual penal.
Nesse mesmo sentido, assevera Lopes Júnior (2020, p. 724): “a confissão não
é mais, felizmente, a rainha das provas, como no processo inquisitório medieval. Não
deve mais ser buscada a todo custo, pois seu valor é relativo e não goza de maior
prestígio que as demais provas”.
É o entendimento também de Capez (2018, p. 120): “a confissão extrajudicial,
por exemplo, terá validade como elemento de convicção do juiz apenas se
confirmada por outros elementos colhidos durante a instrução processual”. Dessa
maneira:

A confissão do acusado, mesmo que judicial, não pode ser considerada


exclusivamente como fundamento para a condenação, devendo o juiz
confrontá-las com as demais provas dos autos, consoante exegese do art.
197 do Código de Processo Penal (TJPR – 2ª C. - AP 0522345-8 – rel. José
Laurindo de Souza Netto – j. 26.3.2009 – DOE 17.4.2009).

O juiz deve valorar a confissão em conjunto com as demais provas contidas


nos autos. Não pode, portanto, a condenação basear-se tão somente na confissão
realizada pelo acusado no decorrer do processo, como se depreende do artigo 155 e
artigo 200, ambos do Código de Processo Penal.

3.3 VALIDADE DA CONFISSÃO EM JUÍZO

Na confissão em juízo é salutar o conhecimento dos motivos determinantes da


confissão e suas circunstâncias, de modo que o Código de Processo Penal em seu
art. 190 é claro ao lecionar que se o acusado confessar a autoria do crime “(...) será
perguntado sobre os motivos e circunstâncias do fato e se outras pessoas
concorreram para a infração, e quais sejam”.
Com a reforma ocorrida no Código Penal em decorrência da Lei n. 7.209/1984,
a confissão passou a ser considerada atenuante genérica, desde que cumpridos
determinados requisitos, todavia, mais brandos que os requisitos anteriores à
reforma. Nesse sentido, o art. 65, inciso III, letra “d”, prevê que sempre atenuam a
19

pena ter o agente “confessado espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do


crime”.
O uso da expressão “espontânea” como requisito para atenuação da pena do
agente reside ao que se entende na voluntariedade da confissão realizada pelo
acusado, livre de qualquer manipulação alheia. Esse tem sido o entendimento do
Superior Tribunal de Justiça no julgamento de Habeas Corpus 22095 MS
2002/0054856-1:

HABEAS CORPUS. INCIDÊNCIA DA ATENU-ANTE PREVISTA NO ART.


65, III, "D", DO CÓ-DIGO PENAL. REQUISITOS MERAMENTE OB-
JETIVOS. DISTINÇÃO ENTRE ESPONTANEI-DADE E VOLUNTARIEDADE.
IRRELEVÂNCIA EM FACE DA REFORMA DO CÓDIGO PENAL DE 1984. 1.
A reforma do Código Penal de 1984 modificou a base de reconhecimento da
atenuante prevista em seu art. 65, III, "d", procurando o legislador beneficiar
o agente que colabora com a celeridade da justiça na busca da verdade real,
conforme se depreende da respectiva Exposição de Motivos item 55:
"Beneficia-se, como estímulo à verdade processual, o agente que confessa
espontaneamente, perante a autoridade, a autoria do crime , sem a
exigência, em vigor, de ser a autoria 'ignorada ou imputada a outrem".
2. A confissão espontânea prevista no texto legal hoje é de caráter
meramente objetivo, não fazendo a lei referência alguma a motivos ou
circunstâncias que cercaram a prática do crime, incidindo a atenuante,
assim, todas as vezes em que o acusado admitir sua participação na ação
delituosa. 3. Ordem concedida.
(STJ - HC: 22095 MS 2002/0054856-1, Relator: Ministro Paulo Gallotti, Data
de Julgamento: 12/11/2002, Data de Publicação: DJ 04.08.2003 p. 433
REVFOR vol. 370 p. 374).

Sobre a voluntariedade e espontaneidade da confissão, Nucci (1999, p. 158)


assinala:

Em matéria penal, voluntário quer significar derivado de vontade própria,


sem coação, mesmo que motivado por interesse egoístico (por exemplo,
receber redução na pena ou fazer acordo com a Promotoria, quando isso for
possível) ou sugestionado por terceiros (a pedido de um parente ou do
advogado, mesmo que, no íntimo, não deseje fazê-lo). Por outro lado,
espontâneo significa derivado da vontade própria, mas com sinceridade de
propósito, que emana do íntimo; algo que brota do desejo do próprio
acusado, evidenciando arrependimento (resipiscência) (NUCCI, 1999, p.
158).

Entretanto, a atenuação da pena em virtude da confissão espontânea não


pode fixar a pena abaixo do mínimo legal, conforme exegese da Súmula 231 do
Superior Tribunal de Justiça, in verbis: “a incidência da circunstância atenuante não
pode conduzir à redução da pena abaixo do mínimo legal”.
Importante mencionar que a confissão qualificada que ocorre quando o réu
confessa o crime, porém alega uma circunstância que atenua ou o isente de pena,
20

não impede a concessão do benefício atenuante da pena, pois a exigência consiste


em realizar a confissão de forma voluntária perante a autoridade competente. O
Superior Tribunal de Justiça em Agravo Regimental no HC: 311945 MS
2014/0333645-9 já firmou entendimento nesse sentido:

AGRAVO REGIMENTAL NO HABEAS CORPUS. AMEAÇA E LESÃO


CORPORAL COMETIDOS EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA.
CONFISSÃO QUALIFICADA.
POSSIBILIDADE DE RECONHECIMENTO DA ATENUANTE.
CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. RECURSO IMPROVIDO.
1. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça admite que mesmo
quando o autor confessa a autoria do delito, embora alegando causa
excludente de ilicitude ou culpabilidade - a chamada confissão qualificada -,
deve incidir a atenuante descrita no artigo 65, inciso III, alínea "d", do Código
Penal.
2. Assim, tendo o paciente confessado o crime, mostra-se irrelevante ter
agregado ao fato criminoso a tese da legítima defesa, sendo, portanto,
devido o reconhecimento da referida atenuante.
3. Agravo regimental improvido
(STJ - AgRg no HC: 311945 MS 2014/0333645-9, Relator: Ministro Leopoldo
De Arruda Raposo (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/PE), Data de
Julgamento: 30/06/2015, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe
25/08/2015)

Ademais, o Superior Tribunal de Justiça editou a Súmula nº 545 determinando


que na possibilidade de o juiz utilizar a confissão do réu como elemento para sua
convicção, o réu obrigatoriamente terá direito à atenuante correspondente à
confissão, nos seguintes termos: “Quando a confissão for utilizada para a formação
do convencimento do julgador, o réu fará jus à atenuante prevista no artigo 65, III, d,
do Código Penal”.
Nesse sentido, para que a confissão realizada em juízo seja utilizada como
meio de prova para o convencimento e consequentemente como atenuante, faz-se
mister sua voluntariedade, consistente na não imposição da confissão por terceiro
alheio ao crime, desde que seja perante autoridade competente determinada por lei e
após análise de outros meios de prova em conjunto.
Não é possível ignorar que a confissão possui consequências para o
investigado e para a sociedade. Do ponto de vista da defesa, a confissão representa
uma causa de diminuição de pena, no entanto, pode causar um efeito negativo por
exemplo no tribunal do júri, onde prevalece o julgamento de pessoas comuns que
condenam ou absolvem sem necessidade de motivação.
Sob a perspectiva do tribunal do júri, os jurados não apresentam a motivação
do voto e, a defesa deve sempre pautar-se no funcionamento e estrutura dos fatos
21

sociais. O imaginário popular recai sobre a suposição de que quem confessa


geralmente é culpado.
No sentido estritamente leigo, o trabalho da defesa será tentar desfazer os
conceitos e pré-conceitos dos jurados a respeito do réu e, para isso, adentrar naquilo
que convenceria a maioria: quem é torturado confessa até o mais grave dos crimes,
para cessar a violência perpetrada.
22

4 REVISÃO CRIMINAL E O CASO EVANDRO

A revisão criminal possui previsão no Código de Processo Penal na parte


referente aos recursos e tem como objetivo a reforma de uma decisão judicial.
Apesar de prevista na parte dos recursos, a revisão criminal consiste em uma ação
autônoma de impugnação. A revisão criminal permite a modificação de uma decisão
judicial injusta ou eivada de erro, ilegitimidade, ilicitude. A respeito do objetivo da
revisão criminal, Pacelli (2019, p. 1228):

A ação de revisão criminal tem precisamente este destino: permitir que a


decisão condenatória passada em julgado possa ser novamente
questionada, seja a partir de novas provas, seja a partir da atualização da
interpretação do direito pelos tribunais, seja, por fim, pela possibilidade de
não ter sido prestada, no julgamento anterior, a melhor jurisdição (PACELLI,
2019, p. 1228).

É a possibilidade de desconstituir o trânsito em julgado que demonstra a


seriedade e corrobora a excepcionalidade da revisão criminal. Levando em
consideração que a revisão criminal é medida extremamente excepcional, o próprio
Código de Processo Penal em seu artigo 621 estabeleceu as hipóteses autorizadoras
da apresentação de revisão criminal:

Art. 621. A revisão dos processos findos será admitida:


I - quando a sentença condenatória for contrária ao texto expresso da lei
penal ou à evidência dos autos;
II - quando a sentença condenatória se fundar em depoimentos, exames ou
documentos comprovadamente falsos;
III - quando, após a sentença, se descobrirem novas provas de inocência do
condenado ou de circunstância que determine ou autorize diminuição
especial da pena.

O caso Evandro então poderia se amoldar não tão somente na hipótese de a


sentença condenatória se fundar em depoimentos, exames ou documentos
comprovadamente falsos, uma vez que os réus foram torturados com a finalidade de
obtenção de confissão, mas também quando se descobrirem novas provas de
inocência do condenado, após a sentença, pois surgiram as gravações de seus
interrogatórios sem edição e sem cortes posteriormente à condenação pelo tribunal
do júri.
A dignidade da pessoa humana é um direito fundamental e indubitavelmente
que a condenação com base em erro judiciário, um erro estatal que é aquele detentor
do jus puniendi, viola sobremaneira a dignidade e os direitos humanos, desse
23

pressuposto que decorre a justificativa para a possibilidade de que as decisões


judiciais sejam revistas.
Esse é o entendimento de Marcão (2018, p. 797):

Não há dúvida de que a dignidade da pessoa humana configura garantia


fundamental (CF, art. 1º, III), e que a imposição de pena criminal decorrente
de condenação que materializa erro judiciário fere mortalmente esta e outras
garantias dispostas na Carta Magna e também em tratados internacionais,
daí concluirmos que a revisão criminal se apresenta nesse cenário como
valioso instrumento jurídico destinado a assegurar a plenitude das garantias
fundamentais malferidas por uma condenação criminal descabida em alguma
medida (MARCÃO, 2018, p. 797).

Nesse caso, a ação de impugnação visa desconstituir a sentença penal


desfavorável ao réu transitada em julgado. O trânsito em julgado advém do preceito
que as decisões devem irradiar segurança jurídica, impossibilitando sua modificação.
No entanto, em caso de erro judiciário ou o surgimento de novas provas aptas a
absolver ou diminuir a pena do réu, o trânsito em julgado pode ser desfeito para que
a decisão seja revista para garantia dos preceitos fundamentais frente à segurança
jurídica.
Fato é que o surgimento das fitas das gravações contendo as confissões dos
acusados no caso Evandro com indícios de prática de tortura é requisito hábil a
ensejar o pedido de revisão criminal com a finalidade de desconstituir o trânsito em
julgado e reformar a decisão que os condenou. Porém, é cediço que não há, do
ponto de vista técnico, causa jurídica ganha. Faz-se mister uma nova análise
minuciosa dos autos, com a valoração das provas e sempre com respeito aos direitos
fundamentais dos réus.
Considerado um dos crimes mais emblemáticos do Estado do Paraná, o
ocorrido em 1992 na cidade de Guaratuba é sempre rememorado, não somente pelo
ato criminoso, mas também pelos fatos e mitos que permeiam o desenrolar do
trâmite processual. O crime ocorrido numa cidade pequena do litoral paranaense
recebeu novamente enfoque com o lançamento de uma série que teve mais de 6
milhões em todo o território nacional e acabou servindo de base para um pedido dos
acusados de revisão criminal.
Em 6 de abril de 1992, Evandro Ramos Caetano, na época com 6 anos de
idade, desapareceu a caminho de casa. Alguns dias depois, o corpo de uma criança
foi encontrado em uma região afastada, sem os órgãos e sem os dedos. O caso
então recebeu atenção da mídia da época e repercussão nacional, que passou a
24

acompanhar as investigações, inclusive com reportagem completa do Jornal


Nacional da TV aberta Rede Globo.
As investigações foram concluídas exatamente um mês após o ocorrido.
Foram apresentados 7 suspeitos, 5 deles confessos, entre eles a esposa do prefeito
da cidade de Guaratuba e sua filha. O estado que se encontrava o corpo alimentou
as crendices da cidade de que havia sido resultado de um ritual religioso e macabro,
motivo pelo qual o fato ficou conhecido como “As Bruxas de Guaratuba”. Ademais,
acreditava-se que o fato se deu por rivalidade política.
Conhecido como o júri mais longo da história brasileira, o primeiro julgamento
do caso ocorreu em 1998. Ao final daquele júri, os acusados foram absolvidos. No
entanto, posteriormente o primeiro julgamento foi anulado e os acusados foram
submetidos a novo júri. Até o presente, cinco julgamentos foram realizados e quase
trinta anos depois novos documentos surgiram e trouxeram um viés diferente do
caso.
As fitas que gravaram a suposta confissão dos acusados foram encontradas,
sem cortes e sem edição, com indícios de prática de tortura e com respaldo nas fitas,
a defesa dos acusados pretende obter a revisão criminal.
Há sinais de que o Estado agiu erroneamente ao processar e condenar
pessoas com base em confissões obtidas por meio de tortura, ignorando as
declarações dos acusados em que constavam terem sidos torturados.
Fato é que o jus puniendi pertence ao Estado e como tal deve ser realizado
sob a égide do processo penal e seus princípios. A comoção pública e a pressão
midiática não desincumbem o Estado de garantir os direitos daqueles que estão sob
seu julgo, máxime a presunção de inocência, princípio basilar do sistema processual
penal brasileiro.
A incolumidade física do investigado deve ser assegurada pelo Estado e seus
agentes, sobremaneira que a prática de tortura corrompe a saúde do investigado
como também macula o processo criminal, rompendo os direitos fundamentais e a
segurança jurídica.
25

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Infere-se, portanto, que o Caso Evandro ainda que com condenações


transitadas em julgado, não foi totalmente solucionado.
O Estado é a entidade detentora da melhor, bem como mais eficiente condição
para julgar e aplicar a pena ou para absolver uma pessoa. Incumbe ao Estado
garantir a incolumidade de quem está sob seu julgo. Nesse sentido, ao Estado não
compete tão somente impedir violações causadas por outrem ao investigado ou
acusado, mas precipuamente de não os cometer.
Por essa razão, utiliza-se a revisão criminal para que as decisões judiciais
sejam revistas e os erros judiciários reconhecidos, pois a busca pelos culpados
jamais pode sobrepor aos direitos fundamentais, como a presunção de inocência e a
dignidade. Necessária se apresenta uma análise minuciosa dos autos e dos
elementos probatórios para que seja dada uma resposta jurisdicional satisfatória ao
ocorrido.
Importante mencionar que no ano de 2022, o Governo do Estado do Paraná,
publicou uma carta assinada pelo secretário estadual de Justiça, Trabalho e Família,
Ney Leprevost, com um pedido de desculpas à Beatriz Abagge, ré no caso Evandro
Caetano.
Imperioso concluir que um crime/desaparecimento com esse alcance não
termina com a prisão ou condenação dos acusados, ele continua entranhado no
imaginário popular e nos envolvidos, refletindo sobre várias gerações, resultando em
várias teorias que ora condena e ora absolve os réus, mas em nenhuma delas a
história tem realmente um fim. A solução jurídica será dada tão logo a revisão
criminal seja decidida, resta que a verdade dos fatos somente sabe: os que
morreram e os que ficaram.
A pesquisa científica em questão abordou a compatibilidade do princípio da
presunção de inocência com a confissão sob tortura, a revisão criminal e a
segurança jurídica, apresentando as nuances do princípio constitucional, previsto no
artigo 5º, inciso LVII, da Constituição Federal, diante do caso Evandro Caetano.
Inicialmente, a pesquisa apresentou o conceito e evolução histórica do
princípio da presunção de não culpabilidade que recebeu respaldo no ordenamento
jurídico brasileiro por meio da promulgação da Constituição Federal de 1988, após a
consagração do princípio em documentos internacionais, como a Declaração
Universal dos Direitos do Homem e o Pacto de San José da Costa Rica.
26

Em seguida, a presente pesquisa analisou a confissão do acusado, seus


aspectos históricos, a adoção de práticas de tortura para sua obtenção e sua
validade na fase de inquérito, bem como a utilização da confissão como meio de
prova no processo penal brasileiro.
O estudo acerca da validade da confissão na fase de inquérito mostrou-se
salutar para o projeto de pesquisa, na medida em que revela requisitos que são
observados também na confissão a ser valorada em juízo e no âmbito do tribunal do
júri, pois os jurados são leigos em matéria jurídica.
Ainda, foram abordados os posicionamentos dos tribunais a respeito da
confissão, restando demonstrado que esta pesquisa não esgota em si mesma e,
consubstanciando o entendimento científico, o conhecimento humano é infinito.
Embora a finalidade do presente projeto não consista numa abordagem
jurisprudencial sobre o acordo, isso não obsta a realização de outros estudos com
esse enfoque.
Por fim, foi apresentada a conceituação da revisão criminal, descrito os
requisitos para sua apresentação, ainda, analisou-se o caso Evandro Caetano, seus
desdobramentos e a maneira pelo qual o caso se encaixava nas hipóteses
autorizadoras da revisão criminal.
A exigência de confissão formal e circunstanciada para a realização do acordo
recebe críticas em relação à provável violação ao princípio da presunção de
inocência.
É forçoso concluir, relativamente ao caso Evandro Caetano, que foram
cometidos inúmeros erros do Estado no dever de garantir os direitos fundamentais,
máxime da presunção de inocência, pois foi utilizada a máquina estatal para práticas
de violência, uma vez que a tortura macula qualquer manifestação voluntária de
vontade ou consciência e que por intermédio da revisão criminal é possibilitado aos
réus rediscutir a matéria ainda que tenha sobrevindo o trânsito em julgado.
Imperioso concluir que um crime/desaparecimento com esse alcance não
termina com a prisão ou condenação dos acusados, ele continua entranhado no
imaginário popular e nos envolvidos, refletindo sobre várias gerações, resultando em
várias teorias que ora condena e ora absolve os réus, mas em nenhuma delas a
história tem realmente um fim. A solução jurídica será dada tão logo a revisão
criminal seja decidida, resta que a verdade dos fatos somente sabe: os que
morreram e os que ficaram.
27

Sugere-se aos operadores do direito uma análise axiológica dos institutos


jurídicos, pautando-se no estrito respeito aos direitos e garantias fundamentais, com
enfoque nos sujeitos para quais se direciona o processo penal, ainda que o clamor
social exija uma solução urgente.
28

REFERÊNCIAS

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Personalidade do Trabalhador. Curitiba: Juruá, 2008.

BARROSO, Luís Roberto. Curso de Direito Constitucional Contemporâneo: os


conceitos fundamentais e a construção do novo modelo. 7ª ed. São Paulo:
Saraiva Educação, 2018.

BECCARIA, Cesare. Dos Delitos e das Penas. 2. ed. São Paulo: Edipro, 2015.

BRASIL. Código de Processo Penal. decreto lei nº 3.689, de 03 de outubro de


1941. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/CCIVIL/Decreto-Lei/Del3689.htm.
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BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: D.O. 5 de outubro de


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provimento ao agravo regimental. Acórdão da 5ª Turma do STJ. AgRg no HC:
311945 MS 2014/0333645-9. Relator: Ministro Leopoldo De Arruda Raposo
(Desembargador convocado do TJ/PE), Data de Julgamento: 30/06/2015. Data de
Publicação: DJe 25/08/2015). Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br. Acesso
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BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Súmula nº 231. A incidência da circunstância


atenuante não pode conduzir à redução da pena abaixo do mínimo legal. Terceira
Seção. Julgado em 22/09/1999. DJ 15/10/1999. Disponível em:
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são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiça, por unanimidade, não conhecer do pedido e conceder "Habeas
Corpus" de ofício, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Acórdão da 5ª Turma.
HC: 442782 SP 2018/0070373-5. Relator: Ministro Ribeiro Dantas. Data de
Julgamento: 24/05/2018. Data de Publicação: DJe 30/05/2018. Disponível em:
https://www.jusbrasil.com.br. Acesso em: 03 jun. 2022.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Vistos, relatados e discutidos os autos em que


são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior
Tribunal de Justiça: A Sexta Turma, por maioria, denegou a ordem, nos termos do
voto da Sra. Ministra Relatora. Acórdão da 6ª Turma do STJ. HC: 408140 MS
2017/0171243-3. Relator: Ministra Maria Thereza De Assis Moura. Data de
29

Julgamento: 03/10/2017. Data de Publicação: DJe 24/11/2017. Disponível em:


https://www.jusbrasil.com.br. Acesso em: 09 jun. 2022.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Vistos, relatados e discutidos os autos em que


são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiça, por unanimidade, não conhecer do pedido e conceder "Habeas
Corpus" de ofício. Acórdão da 5ª Turma do STJ. HC: 581967 SC 2020/0115342-8.
Relator: Ministro Ribeiro Dantas, Data de Julgamento: 23/06/2020.
Data de Publicação: DJe 26/06/2020. Disponível em: https://www.jusbrasil.com.br.
Acesso em: 07 jun. 2022.

BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Vistos, relatados e discutidos estes autos,


acordam os Ministros da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na
conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por maioria, conceder
parcialmente a ordem de habeas corpus, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Acórdão da 6ª Turma do STJ. HC: 22095 MS 2002/0054856-1. Relator: Ministro
Paulo Gallotti, Data de Julgamento: 12/11/2002, Data de Publicação: DJ 04.08.2003
p. 433 REVFOR vol. 370 p. 374. Disponível em:
https://www.jusbrasil.com.br. Acesso em: 23 jun. 2022.

BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais. Vistos etc., acorda, em


Turma, a 6ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, na
conformidade da ata dos julgamentos, em dar parcial provimento ao Recurso. APR:
10433140146252001, Minas Gerais. Relator: Denise Pinho da Costa Val. Data de
Julgamento: 16/06/2015, Data de Publicação: 26/06/2015. Disponível em:
https://www.jusbrasil.com.br. Acesso em: 23 jun. 2022.

BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado do Paraná– TJPR. AP 0522345-8, Rel.


Ministro José Laurindo de Souza Netto, Segunda Câmara Criminal, julgado em
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