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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS

Faculdade Mineira de Direito

Unidade São Gabriel

Introdução ao Estudo do Direito I

O CASO DOS EXPLORADORES DE CAVERNA

Professor: Bruno Barbosa Madureira

Nome:
Ana Flavia Ribeiro de Mendonça
Camila Santos Rodrigues
Cíntia Antão de Santana
Jéssica Santiago Gonçalves

Paula Fernanda de Oliveira

Rita de Cássia Gonçalves Rocha

Thaynara Karina da Silva

Belo Horizonte, 12 de novembro de 2014


Sumário

Introdução.................................................................................... pag. 2

Fato............................................................................................... pag. 3

Posicionamento do Ministro Keen............................................. pag. 5

Referência Bibliografica.............................................................. pag. 7


Introdução

O caso é uma obra fictícia do autor livro de Lon L. Fuller, e prima por uma
análise mais profunda acerca do debate jurídico, se reveste de grande
relevância a compreensão da aplicação do Direito à vida humana, devido ao
surgimento de duas grandes correntes. Surgindo, então, um embate jurídico
entre Direito Natural e o Direito Positivo, em que de um lado estão os
defensores do jus-positivismo, isento de valor sociológico ou filosófico,
interpretando a norma jurídica pelo caráter formal, sem analisar as
circunstâncias que permeiam a órbita da conduta, e de outro, estão os
defensores do jus-naturalismo, do “direito justo”, com a preocupação em
observar não só o Direito como norma, mas também o Direito que transcende a
lei em busca de justiça, que não se contenta apenas em caracteres legais, mas
sim com os princípios e fatos ligados ao homem. Analisando também, a
correspectiva atitude de cada juiz em conformidade com cada uma destas
concepções ensejando o problema, através do Direito da Jurisprudência. Em
que são incumbidos de rever a sentença dada em primeira instância, e é
apresentada uma emaranhada rede de complicações.  
Fato

No ano de 4300 a suprema corte de Newgarth julgou um caso intrínseco.


Julgamento de quatro exploradores “amadores”, membros de uma Sociedade
Espeleológica (uma organização amadorística de exploração de cavernas ) e
sobreviventes de um desmoronamento que os reteve durante trinta e três dias
dentro de uma caverna. No período em que ficaram soterrados o estoque de
comida acaba, e a contragosto Whetmore sugere aos companheiros sortear em
lance de dados a vítima a qual serviria de alimento para os outros, para que
eles não padecessem de inanição. Porém no momento que antecede ao
lançamento dos dados ele desiste, e no entanto os demais o acusaram de
traição e procedem o jogo, chegando sua vez de lançar os dados um dentre
eles o jogou e visualizarou que ele obteve a pontuação menor, sendo então
Whetmore morto para servir de alimento para seus companheiros. A partir
deste homicídio, surge toda uma situação extremamente agônica que é o
tema central do consequente.  

Após serem condenados em primeira instância à forca, os quatro acusados


recorrem à Suprema Corte de Newgarth, que terá de forma final o destino dos
quatro desalentados em suas mãos, com todas as controvérsias e dúvidas de
consciência dos julgadores, sendo eles membros da Corte, os quais eram os
juízes Foster, Tatting, Keen e Handy, indicados pela posição e a visão em
relação ao caso imposto a eles, realizando a justiça sem debilitar a letra ou o
espírito da lei e não propiciar qualquer encorajamento à sua transgressão.

O primeiro a analisar o caso é o juiz Foster absorve os réus, baseando- se em


argumentos jus-naturalistas, afirmando que os acusados não poderiam ser
conduzidos a conclusão de que eram assassinos, e que todas as leis e seus
precedentes é inaplicável neste caso pois ele se encontra regido nas “leis
naturais”. Em que independe das variações do ordenamento da vida social que
se originam no Estado, ou seja, a partir desse ponto todas as disposições
legalizadas cessa de existir, quando não há possibilidade de coexistência dos
homens em sociedade, onde deve ser aplicada a máxima “CESSANTE
RATIONE LEGIS, CESSAT ET IPSA LEX” (“cessando a razão da lei, cessa a
própria lei”).
O juiz Tatting não aceita os argumentos de Foster, afirmando que são
incoerentes e irracionais, não acolhe a ideia de que os acusados não estavam
sobre a cobertura da “lei natural”, sobre a hipótese de legitima defesa, e expõe
as seguintes contradições: Quando estes homens passaram da jurisdição da
“lei legal” para a “lei natural”? Em que momento isto ocorreu? Foi após o
desmoronamento da rocha? Questionando até mesmo o critério de escolha da
vítima, considerando- as demasiadamente abstratas. Mas com toda a
contradição encontrada por Tatting, o mesmo recusa a votar por sentir-se
divido entre condenar os exploradores em aversão do crime cometido e ou
inocenta-los por simpatizar com os acusados pelo sofrimento que eles
passaram enquanto encavernados.

Keen, o terceiro juiz a analisar o caso, faz um ataque frontal ao argumento do


Juiz Foster argumentando que não existe lacuna na lei, o que por sua vez,
excluiria a possibilidade de aplicar a analogia (inclusão do princípio da legitima
defesa). Reforça a ideia de que a motivação de Foster foi de ordem moral e
pessoal e defende a de que o papel do Direito é julgar conforme à lei. O Juiz
Keen apresenta que o termo intencionalidade tem uma interpretação específica
na lei de Newgarth N.C.S.A (n. s.) § 12-A em que o texto exato é “Quem quer
que intencionalmente prive a outrem da vida será punido com a morte”. Nas
situações em que ela se aplica, é necessária uma reação espontânea e
impossível de ser evitada. De forma diferente, os exploradores tinham
consciência do ato que estavam praticando. E com base na lei, ele condena os
exploradores a morte.

E o quarto juiz a julgar o caso é Handy, que desenvolve o argumento de que o


Direito deve se aproximar dos usos e costumes dos povos, que deve existir
uma correspondência nas expectativas morais e éticas dos povos com as
decisões e o papel exercido pelo judiciário. Fundamenta seu voto fazendo
apelo a figura do Júri, mostrando que a própria lei penal prevê a possibilidade
do julgamento pelos seus próprios pares. De acordo com seus
desenvolvimentos, se o júri não tivesse sido dissolvido de forma especial e não
contasse com um profissional da área do Direito, certamente ele (o júri) teria
absolvido os exploradores. E portanto desse argumento ele julga que os réus
são inocentes.

Tem-se, então, o embate entre os diferentes pontos de vista, já citados, dos


quatro juízes representantes das diversas correntes jurídicas, o que é um
interessante exercício de argumentação calcado na defesa do que poderíamos
dizer ser o direito natural, principalmente por parte do juiz Foster, do
positivismo estrito, kelseniano, do juiz Keen, e de uma visão moderada do
magistrado Handy, além do non liquet representado pelo segundo a não se
pronunciar, o juiz Tatting.

Diante deste empate de votos, a decisão (1º instância) foi mantida e os


exploradores foram executados.

Posicionamento do Ministro Keen

Dentre o posicionamento dos juízes iremos abordar o voto do Meritíssimo


Keen, o qual baseia-se seus argumentos, na lei Commonwealt, seguindo uma
linha positivista-normativa, e nos leva a recordar primeiramente da necessidade
de se distinguir as jurisdições específicas do Poder Executivo e Judiciário
assim como na teoria citada por Montesquieu sobre a separação dos três
poderes, bem como se refere no Art. 24 da Constituição Federal: “São Poderes
da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o
Judiciário”. E seguindo este raciocínio, ele desaprova a menção feita pelo juiz
Truepenny no sentido de recomendar a clemência executiva, dado que esta
decisão caberia apenas ao chefe do executivo. No entanto, mantem-se
imparcial diante de um caso desse porte é algo autômato e improprio para as
funções, pragmaticamente falando, desempenhadas pelo poder jurídico.

Keen, por sua vez defende o Estado Positivo do Direito em que visa condensar
a em forma de lei escrita as normas por trás do texto que comina a sanção a
quem infringi-las. É um Direito amparado pelo documento legal, podendo o
Estado determinar a pena tão somente para o que está estabelecido nela,
sendo elas seguidas imprescritivelmente, em que os exploradores segundo o
código penal cometeram homicídio culposo e devem responder a este ato.

Como cidadão, o juiz admite claramente com base em preceitos próprios, que é
favorável à absolvição dos acusados pois segundo ele, os exploradores já
haviam sofrido o bastante para pagar por qualquer tipo de delito que possam
ter cometido, porém as atribuições de seu cargo não lhe concedem tal
prestígio, pois deve sempre manter necessariamente a observância das leis e
verificar os fatos ocorridos, deixando de lado o que diz a respeito se o que
estes homens fizeram foi “bom” ou “mau”, “justo” ou “injusto”. O necessário é
observar se os acusados são ou não culpados pela letra da lei, fazendo valer o
Direito do país. Contudo, para os positivas, o Direito deveria ser baseado
inteiramente em processos indutivos, na qual a lei seria sua representante
máxima.

Assim relatado por Hans Kelsen (1998, pag. 86), como principal expoente
desse pensamento, em que defende a teoria de Keen: “Comprova-se esta sua
tendência [anti- ideológica] pelo fato de, na sua descrição do Direito positivo,
manter este isento de qualquer confusão comum Direito “ideal” ou “justo”. Quer
representar o Direito tal como ele é, e não como ele deve ser: pergunta pelo
Direito real e possível, não pelo
Direito“ideal” ou “justo”. Neste sentido é uma teoria do Direito radicalmentereali
sta, isto é, uma teoria do positivismo jurídico. Recusa-se a valorar o Direito
positivo. Como ciência, ela não se considera obrigada senão a conceber o
Direito positivo de acordo com a sua própria essência e acompreendê-
lo através de uma análise da sua estrutura. Recusa- se,
particularmente, a servir quaisquer interesses políticos, fornecendo-lhes as
“ideologias intermédio das quais a ordem social vigente é legitimada ou
desqualificada.”

A postura de Keen, na doutrina do grau de liberdade dos juízes, caracteriza-se


como limitação à subsunção. Essa posição consiste na aplicação exata da lei
pelos magistrados e surgiu no início do século XIX, na promulgação do famoso
Código Napoleônico. O legislador, portanto, estava incumbido de prever todos
os casos possíveis, possibilidade essa que estava resguardada na concepção
à época, que tentava aproximar o direito das ciências naturais.

A dificuldade no caso sub judice, segundo este juiz, é decorrente de


interpretações personalíssimas, assim como os argumentos de seus colegas,
que não faziam a separação dos aspectos legais e morais. Utilizando o
discurso de seu colega Foster, Keen observa que a ideia de que a lei traria em
si um propósito que poderia justificar sua própria inobservância, configuraria
um ato legislativo arbitrário do judiciário, desrespeitando o princípio da divisão
dos poderes.

Ainda questionando o discurso de Foster, Keen argumenta que o hábito da


revisão legislativa é arraigado na tradição profissional dos juízes e consiste em
descobrir se o legislador omitiu algo e, a partir de então, preencher a lacuna
deixada na lei, ou seja, o QUOD ERACT FACIENDUM (“o que (se deve)
fazer?”).  O que está explícito na constante do art. 4º da LIIC do Código Civil:
“Quando a lei for omissa, o juiz decidirá o caso de acordo com a analogia, os
costumes e também com os princípios gerais do Direito”. Partindo do
pressuposto que a pretensão de se encontrar um propósito para a lei é ilusória.
No entanto, interpretar a lei ou mesmo agir contra ela (contra legem), não
significa legislar, nem utilizar atos arbitrários. Nader (2005, p. 172) destaca que
“a contra legem é prática não admitida no
plano teórico, contudo, é aplicada e surge quase sempre em face de leisanacrô
nicas e injustas”.

Podendo afirmar que a excludente da legítima defesa (o indivíduo tem a sua


vida ameaçada de forma agressiva, reagindo sem intenção, e que está
bastante claro que neste caso não se situa no âmbito da exceção) frisada nos
raciocínios de Foster e Tatting, o presente juiz afirma que não se enquadra ao
caso, visto que Whetmore não fez nenhuma ameaça contra a vida dos réus. A
condição extrema a que os exploradores estavam expostos não era uma séria
ameaça à vida dos cinco? A falta de alimentos, a desesperança, a solidão, o
desgaste físico e psicológico, todos esses fatores foram cruciais na ameaça às
suas vidas.
E para ser mais preciso, ele completa seu discurso, relatando que “Uma
decisão rigorosa nunca é popular” o que causa uma aversão ao povo, para que
sintam responsabilidade em face da lei, em relação as sentenças severas por
um valor moral.

Em sua conclusão final, a qual o seu voto foi favorável à condenação, Keen. J,
mesmo contra o seu instinto de cidadão, fez a sua decisão através dos fatos
ocorridos e observando o que a lei estava querendo dizer sobre o ocorrido. O
juiz Keen agiu de forma correta ao condenar os réus, pois o seu
comportamento foi de acordo com o seu cargo exercido sobre a magistratura
que tem como finalidade fazer Justiça.
REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA

http://www.recantodasletras.com.br/resenhasdelivros/2624680

FULLER, Lon. L. O Caso dos Exploradores de Cavernas. Tradução de


Plauto Faraco de Azevedo. Porto Alegre: Sérgio Antônio Fabris Editor,
1993.
KELSEN, Hans. Teoria Pura do Direito.6 ed. - São Paulo : Martins
Fontes, 1998.

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