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CENTRO UNIVERSITÁRIO FAVENI

INTRODUÇÃO AOS ESTUDOS


LINGUÍSTICOS

GUARULHOS – SP
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 4

2 HISTÓRIA DO ESTUDO DA LINGUAGEM ............................................................ 5

2.1 Linguística moderna .............................................................................................. 8

2.2 Surgimento da Linguística Geral e seus precursores ............................................ 8

3 INTRODUÇÃO A LINGUÍSTICA .......................................................................... 11

3.1 O que significa linguística .................................................................................... 13

3.2 Linguística Moderna ............................................................................................ 14

3.3 Linguagem ........................................................................................................... 15

3.4 A Fala .................................................................................................................. 16

3.5 Linguagem verbal ................................................................................................ 17

3.6 Linguagem não verbal ......................................................................................... 18

4 FUNDAMENTOS E PRINCIPAIS TENDÊNCIAS TEÓRICAS .............................. 19

4.1 Abordagens estruturalista, gerativista, funcionalista e interacional da linguagem


22

4.1.1 Estruturalismo: língua e estrutura ..................................................................... 22


4.1.2 Gerativismo: linguagem e mente ...................................................................... 23
4.1.3 Funcionalismo: língua e função........................................................................ 25
4.1.4 Interacional: língua e interação ......................................................................... 25
5 PRINCÍPIOS FONÉTICOS.................................................................................... 26

5.1 Fonética e Fonologia ........................................................................................... 29

5.2 Fonética ............................................................................................................... 31

5.2.1 Fonética articulatória ......................................................................................... 31


5.2.2 Fonética auditiva ............................................................................................... 32
5.2.3 Fonética acústica .............................................................................................. 32
5.2.4 Fonética instrumental........................................................................................ 32
5.2.5 Fonema 33
6 CARACTERÍSTICAS DAS MUDANÇAS LINGUÍSTICAS ................................... 35

2
6.1 Modalidade linguísticas e variações .................................................................... 37

6.1.1 Diatópica: variações regionais ou geográfica ................................................. 38


6.1.2 Diacrônica: variações de linguística histórica ................................................... 39
6.1.3 Diastrática: variações de linguística social...................................................... 40
6.2 Variação de registro, estilística ou diafásica ........................................................ 40

6.3 Diferentes níveis de linguagem ........................................................................... 40

6.3.1 Linguagem Informal ........................................................................................ 41


6.3.2 Linguagem Formal ........................................................................................... 42
6.4 Preconceito linguístico ......................................................................................... 42

7 LINGUÍSTICA GERAL E LINGUÍSTICA APLICADA ........................................... 43

7.1 O ensino da segunda língua ................................................................................ 46

7.2 Abordagens norteadoras para o ensino da segunda língua ................................ 47

8 A LÍNGUA INGLESA AO LONGO DA HISTÓRIA ............................................... 50

8.1 Língua global ....................................................................................................... 53

8.2 Ascensão do inglês.............................................................................................. 55

9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................... 58

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1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno!

O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante


ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável - um
aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta, para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum é
que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as
perguntas poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão
respondidas em tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da
nossa disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à
execução das avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da
semana e a hora que lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

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2 HISTÓRIA DO ESTUDO DA LINGUAGEM

De acordo com Fiorin (2010), o interesse pela linguagem é muito antigo e se


expressa por meio de mitos, lendas, canções, rituais ou trabalhos eruditos que
buscam reconhecer essa capacidade humana. Ela remonta ao século IV a.C.,
quando os primeiros estudos ocorreram por questões religiosas que levaram os
hindus a estudarem sua língua, para que os textos sagrados reunidos no Veda não
sofressem modificações no momento de serem declamados. Gramáticos hindus,
incluindo Panini (século IV a.C.), se dedicaram a descrever e criar meticulosamente
modelos analíticos de sua língua, estes descobertos pelo ocidente no final do século
XVIII.
Os gregos atentaram-se em definir as relações entre o conceito e a palavra
que o designa, ou seja, tentaram responder a pergunta: haverá uma relação
necessária entre a palavra e o seu significado? Platão argumenta muito bem essa
questão no Crátilo de Platão (437 a.C), já Aristóteles avançou os estudos noutra
direção, tentando produzir uma análise precisa da estrutura linguística, principiou a
elaborar uma teoria da frase, a distinguir as partes do discurso e a enumerar as
categorias gramaticais. Dentre os latinos, destaca-se Varrão que, na esteira dos
gregos, dedicou-se à gramática, esforçando-se por defini-la como ciência e arte
(LYONS, 1987).
Os modistas na Idade Média, consideraram que a estrutura gramatical das
línguas é una e universal, em consequência, as regras da gramática são
independentes das línguas em que se realizam.
A religiosidade no século XVI, acionada pela Reforma, provoca a tradução
dos livros sagrados em numerosas línguas, apesar de manter-se a predominância
do latim como língua universal. O conhecimento de outras línguas até então
desconhecidas são trazidas por viajantes, comerciantes e diplomatas, sendo que
em 1502 surge o mais antigo dicionário poliglota, do italiano Ambrósio Calepino.
Em 1660, a linguagem se funda na razão, é a imagem do pensamento, e,
partindo dos princípios de análise estabelecidos, não se prendem a uma língua
particular, mas servem a toda e qualquer língua, surgindo, assim, o modelo para
grande número de gramáticas do século XVII, como a “Grammaire générale et
raisonnée de Port Royal”, ou Gramática de Port Royal, de Lancelot e Arnaud.

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O conhecimento de um número maior de línguas vai provocar, no século XIX,
o interesse pelas línguas vivas, pelo estudo comparativo dos falares, em detrimento
de um raciocínio mais abstrato sobre a linguagem, observado no século anterior. É
nesse período que se desenvolve um método histórico, instrumento importante para
o crescimento das gramáticas comparadas e da Linguística Histórica (FIORIN,
2010).
O pensamento linguístico contemporâneo, formou-se a partir dos princípios
metodológicos elaborados naquela época e que preconizavam a análise dos fatos
observados. No estudo comparado das línguas, comprova-se que as línguas se
transformam com o tempo, independentemente da vontade dos homens, seguindo
uma necessidade própria e manifestando-se de forma regular.

1.1 Surgimento da Linguística Histórica

A Linguística Histórica como área do conhecimento nasceu a partir da


publicação de Franz Boop em 1816. Esse grande estudioso da época, publicou sua
obra sobre o sistema de conjugação do sânscrito comparado ao grego, ao latim, ao
persa e ao germânico, sendo assim considerado o marco do surgimento da
Linguística Histórica. A descoberta de semelhanças entre essas línguas e de grande
parte das línguas europeias, demonstrou que existe entre elas uma relação de
parentesco, constituindo, portanto, uma família, a indo-europeia. Por meio da língua
indo-europeia que se pode chegar ao meio do método histórico-comparativo
(WHITNEY, 2010).
No seculo XIX ocorreu um grande progresso na investigação do
desenvolvimento histórico das línguas, o qual foi acompanhado por uma descoberta
fundamental e alterou, modernamente, o próprio objeto de análise dos estudos
sobre a linguagem, a língua literária até aquele momento.
Segundo Whitney (2010), a partir da publicação do livro intitulado “Do sistema
de conjunção do sânscrito comparado com o sistema de conjunção das línguas
gregas, latina, persa e germânica” de Franz Bopp, a comparação das línguas
permitiu determinar o parentesco de uma nação com outra e remontar de forma
segura às tradições mais antigas, razão pela qual ela interessava, sobretudo, ao
historiador e ao etnólogo. A partir daí Bopp nos faz prever este fenômeno cuja
aparente regularidade parecia permitir a fundação de uma ciência inteiramente à
6
parte. Esse fenômeno é a mudança linguística. À nova ciência cabia, então, mostrar
a ação das leis que fizeram com que idiomas saídos de um mesmo berço
evoluíssem em direções tão diversas. Esse estudo se referia, sobretudo, à fonética.
No século XIX, a referência à biologia no tratamento dos fatos humanos é
geral, e a teorização do novo objeto se dá a partir do modelo fornecido por essa
ciência. A linguagem é, então, entendida ao modo de um organismo vivo. Isso que
parecia uma metáfora inicialmente, termina mais tarde por ser tornar literal. Em
1863, August Schleicher, principal representante dessa tradição, afirma: "as línguas
são organismos naturais que, independentemente da vontade humana, crescem, se
desenvolvem, envelhecem e morrem. [...] A glótica ou ciência da linguagem é,
consequentemente, uma ciência natural". Nesse mesmo texto, Schleicher explica
seu famoso esquema da evolução das línguas indo-europeias, concebido sob a
forma de uma árvore genealógica:
A uma época remota da vida da espécie humana, houve uma língua primitiva
[...] a língua indo-germânica. Após ter sido falada por uma série de gerações,
série durante a qual o povo que a falava cresceu provavelmente e se
estendeu, ela adquiriu pouco a pouco em diferentes partes de seu domínio
um caráter diferente, de modo que, no final, duas línguas daí saíram. É
possível mesmo que muitas línguas tenham se formado e somente duas
sobrevivido e se desenvolvido; a mesma observação se aplica às divisões
ulteriores.

Essa inclusão dos estudos linguísticos no domínio das ciências naturais,


colocava um problema: a assimilação da língua comparada a organismos vivos, a
crença na existência de princípios e leis naturais que regem a história das línguas. A
ideia de árvore genealógica, conduziu a um apagamento total da dimensão humana
da linguagem e reduziu os estudos a um ramo da fisiologia. Essa visão da dimensão
humana manteve-se até o último quarto do século XIX e iria fazer parte dos estudos
da linguagem do ponto de vista da linguística naturalista (WHITNEY, 2010).
A linguística moderna nasce precisamente nesse momento, quando o sujeito,
sentido e sociedade são resgatados. A semântica, a geografia linguística, a
crioulística, a pragmática, mas também aquilo que seria chamado de fonologia e
todas as disciplinas vêm reintroduzindo aquilo que havia sido excluído dos estudos
da linguagem.
Para Whitney (2010), a linguagem não é um organismo natural, mas um
produto humano, e a linguística deve, por extensão, ser situada no interior das
ciências homem.

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2.1 Linguística moderna

A Linguística moderna, embora também se ocupe da expressão escrita,


considera a prioridade do estudo da língua falada como um de seus princípios
fundamentais. Com a divulgação dos trabalhos de Ferdinand de Saussure (1857-
1913), professor da Universidade de Genebra, no início do século XX, investigou-se
sobre a linguagem e a Linguística que, a partir desses estudos, passaram a ser
reconhecida como estudo científico. Dois alunos de Saussure, em 1916, publicam o
Curso de Linguística Geral, a partir de anotações de feitas em aula, numa obra que
se tornou fundadora da nova ciência (LYONS, 1987).
Considerado o pai da linguística moderna, Saussure foi o primeiro a mostrar
que a língua está presente na cultura humana desde os seus primórdios. Com ele,
a linguística ganhou autonomia como ciência. Ele entendia a linguística como um
ramo da ciência mais geral dos signos, e propôs que fosse chamada de Semiologia.
No passado, a linguística não era autônoma, mas sujeita às demandas de
outros estudos, como lógica, filosofia, retórica, história e crítica literária. O século XX
trouxe uma mudança central e completa nessa atitude, expressa na nova natureza
científica da linguística, centrada na observação dos fatos linguísticos (FIORIN,
2013).
O método científico pressupõe que a observação dos fatos precede o
estabelecimento de hipóteses, e que os fatos observados são sistematicamente
investigados por meio da experimentação e teoria apropriada. Um trabalho científico
consiste em observar e descrever fatos com base em certos pressupostos teóricos
formulados pela linguística, ou seja, os linguistas abordam os fatos guiados por um
referencial teórico particular, sendo assim, diferentes descrições e explicações
podem existir para o mesmo fenômeno, dependendo do referencial teórico escolhido
pelos pesquisadores (FIORIN, 2013; SAUSSURE, 1969).

2.2 Surgimento da Linguística Geral e seus precursores

O suíço Ferdinand Saussure foi o primeiro linguista a desenvolver estudos na


área. Os temas principais trabalhados em suas obras foram: língua, fala, signo
linguístico, significante, significado, sintagma, sincronia e diacronia. Seus estudos
foram essenciais para a linguística se tornar uma ciência autônoma. Saussure é
8
considerado o pai da linguística moderna, ele reorganizou o estudo sistemático da
linguagem e das línguas de maneira a tornar possíveis as realizações da linguística
do século XX. O marco do nascimento do estruturalismo foi a publicação do Cours
de linguistique générale (Curso de linguística geral), em 1916 (LYONS, 1987), obra
sobre a qual se construiu toda a linguística moderna, resultado de anotações de
aulas reunidas e publicadas por dois dos alunos de Saussure: Ch. Bally e A.
Sechehaye.
Na linguística, há vertentes que correspondem a diferentes níveis de análise:
a fonologia (estudo das unidades sonoras); a sintaxe (estudo da estrutura das
frases) e a morfologia (estudo das formas das palavras) que, juntas, constituem a
gramática e a semântica (FIORIN, 2013).
Para Saussure a linguística ganha seu objeto específico: a língua. A língua é
um “sistema de signos”, um conjunto de unidades que estão organizadas formando
um todo. É ele que considera o signo como a associação entre significante (imagem
acústica) e significado (conceito). É fundamental mencionar que não se pode
confundir a imagem acústica com o som; ela é psíquica e não física. Ela é a imagem
que fazemos do som no nosso cérebro. Saussure define língua como sendo parte da
linguagem:
Mas o que é a língua? Para nós, ela não se confunde com a linguagem; é
somente uma parte determinada, essencial dela, indubitavelmente. É,
simultaneamente, um produto social da faculdade de linguagem e um
conjunto de convenções necessárias, adotadas pelo corpo social para
permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos (SAUSSURE, 1969, p.
17).

De acordo com Fiorin (2013), Saussure define a linguagem como sendo geral,
que pode estar presente em diferentes domínios e que é, simultaneamente,
individual e social, não se restringindo por uma unidade ou sistema. Saussure fez
distinções importantes, a primeira diz respeito à língua vs. fala. Para ele, a língua é
um sistema abstrato, um fato social, geral, virtual. A fala, ao contrário, é a realização
concreta da língua pelo sujeito falante, sendo circunstancial e variável.
Ele excluiu a fala do campo da linguística, relatando que ela depende do
indivíduo e não é sistemática. A outra distinção é a que separa a sincronia (o estado
atual do sistema da língua) e diacronia (sucessão, no tempo, de diferentes estados
da língua em evolução). Ele não considera a diacronia nos estudos da linguística,
pois segundo ele, é incompatível a noção de sistema e evolução. Reside aí a
9
importância dos conceitos de língua, valor e diacronia. É com eles que Saussure
institui a base da linguística como ciência (FIORIN,2010).
Segundo Martelotta (2009), Saussure concebe significado da fala como sendo
um ato individual de vontade e inteligência, no qual convém distinguir as
combinações pelas quais o falante realiza o código da língua no propósito de
exprimir seu pensamento pessoal, e um mecanismo psicofísico que lhe permite
exteriorizar essas combinações.
No século XX, quase que simultaneamente surgem distintas correntes de
estudo de semiótica. Nos Estados Unidos, numa tradição ligada ao empirismo, os
estudos foram propostos pelo filósofo e lógico Charles Sanders Peirce (1839-1914).
Além de filósofo, Peirce foi pedagogista, cientista, linguista e matemático, e deixou
sua contribuição para os avanços em diversas áreas do conhecimento. Seus
estudos foram essenciais para o progresso da semiótica e da filosofia.
A semiótica peirciana estuda os signos associados à lógica. Considera-se que
tudo no mundo é signo, como o ser humano, as suas ações, suas ideias e seus
objetos. Tudo isso por possuir uma visão pragmática, considerando válido somente o
conhecimento com aplicabilidade social.
Com viés racionalista, Saussure iniciou uma corrente pensando a partir das
estruturas da linguagem. Na União Soviética, os filólogos Potebnia (1835-1891) e
Viesselovski propuseram uma perspectiva mais culturalista. Essas são as matrizes
que desencadearam as principais vertentes de estudo contemporâneas (GREIMAS,
2016).
O russo Roman Jakobson (1896-1982) foi um importante estudioso da área,
considerado um dos maiores linguistas do século XX. Jakobson dedicou seus
estudos à comunicação e análise da estrutura da linguagem. Identificou seis funções
da linguagem correspondentes a cada um dos seis elementos: emotiva, poética,
fática, metalinguística, referencial e conativa. Em cada uma delas, predomina um
dos elementos da comunicação (WINCH, 2012).
Avram Noam Chomsky (1928), linguista, filósofo, sociólogo, cientista e ativista
político norte-americano, desenvolveu estudos sobre a cognição. Considerado o pai
da linguística moderna (Linguística e Gramatica Gerativa), seus estudos foram de
suma importância para o desenvolvimento da área da psicologia cognitiva. O modelo
de Chomsky foi reconhecido como dominante na época e, ainda hoje, tem respaldo

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entre os círculos de linguistas. Os estudos de Chomsky nos indicam que os seres
humanos apresentam uma predisposição genética que permite a aquisição da
linguagem. Assim, ele utiliza o termo “estado inicial” para caracterizar o que seria um
dispositivo de aquisição da língua.
Considerado um dos maiores defensores da linguagem como instinto
humano, Chomsky, em meados da década de 50, criou a Teoria Gerativa, que
afirma que a aquisição da língua é provinda de um órgão mental, como se fosse uma
faculdade psicológica presente em cada indivíduo. A faculdade de linguagem pode
ser razoavelmente considerada "um órgão linguístico" no mesmo sentido em que na
ciência se fala, como órgãos do corpo, em sistema visual ou sistema imunológico, ou
sistema circulatório. Compreendendo deste modo, que um órgão não é alguma coisa
que possa ser removida do corpo, deixando intacto o resto, um órgão é um
subsistema que é parte de uma estrutura mais complexa. Chomsky fala que a
"linguagem é um instinto humano instalado em nosso cérebro, ou seja, existe um
dispositivo ativado na mente quando a criança alcança certa idade, e por isso
lembramos apenas de certo momento de nossa infância" (apud PINKER, 2002).
Em sua teoria, Chomsky defende que todo ser humano possui uma
gramática internalizada. Com isso, ele quis dizer que em nossa mente possuímos
mecanismos que comportam estruturas de todas as línguas e os fonemas também,
cabendo ao indivíduo, ao adquirir a linguagem, selecionar o que será usado e excluir
o que não lhe servirá. Ou seja, para uma criança falar, ninguém precisa lhe ensinar,
pois ela já possui todas as estruturas essenciais para a aquisição da linguagem, e
ela consegue adquirir uma língua apenas observando algum falante dessa língua.
Portanto, quando uma criança observa a fala de um adulto, ela está observando as
regras que este utiliza na sua comunicação, logo, então, ela assimila e internaliza
esses dados e cria as próprias regras ao falar em repetição ao que foi observado.
Mas essa internalização simultânea só lhe é possível durante o seu período crítico,
ou seja, antes da puberdade, período em que nosso cérebro está propício para
aprender (PINKER, 2002).

3 INTRODUÇÃO A LINGUÍSTICA

Fiorin (2010), discorre um pouco sobre a história da língua e como ela foi

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construída ao longo do tempo. Dos mitos às mais elaboradas especulações
filosóficas, Fiorin sempre ressaltou o problema da origem da linguagem, seu
surgimento, seus primeiros passos. As crenças e as religiões atribuem para essa
fonte poderes divinos, animais e criaturas místicas imitadas pelo homem. Lendas,
mitos, canções e até antigos rituais atestam para esse interesse.
No que diz respeito à linguística comparativa, podemos reconstruir o passado
distante das línguas e derivar leis linguísticas específicas que nos permitem traçar a
vida das palavras, seus movimentos e transformações em diferentes línguas. Além
dessas investigações, a decifração do material arqueológico também revelou as
seguintes descobertas: inscrições em línguas passadas, nomes de deuses, nomes
de lugares, grupos étnicos, etc. (WHITNNEY, 2010).
Com contribuições significativas de arqueólogos e paleontólogos, a linguística
procura determinar como as línguas surgiram e desde quando os humanos falam.
Poderemos considerar que a linguagem teve um tempo de desenvolvimento com
progressão lenta e laboriosa, se transformando no sistema complexo de significação
e de comunicação que é hoje.
Ainda na antiguidade, os hindus eram conhecidos pela sua agudeza no
tratamento da linguagem verbal. Com a redescoberta do sânscrito (língua sagrada
da Índia antiga), no século XIX, apareceram os sofisticados estudos de linguagem
que os hindus tinham feito em épocas remotas. Os motivos pelos quais eles se
interessavam pela linguagem eram de caráter religioso, e estabeleceram pela
palavra uma relação íntima com as divindades, mas nem por isso seus estudos eram
menos rigorosos (PETTER, 2002).
Na Grécia antiga, os pensadores debateram por muito tempo se as palavras
imitavam as coisas ou se os nomes eram dados apenas por convenção. Estes
pensadores tinham discussões acaloradas sobre a própria organização da
linguagem. Perguntavam se as palavras se organizavam conforme a ordem
existente no mundo, seguindo princípios que têm como referência as semelhanças
ou as diferenças (FIORIN, 2013).
Conforme Fiorin (2013), em Roma, a preservação dos textos religiosos no
judaísmo, a difusão das novas religiões para os elitistas - como o cristianismo e o
islamismo - e o estabelecimento de tradições literárias vernáculas nos Estados-
nações da Europa renascentista, são exemplos do contexto em que a língua, a

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princípio, era uma ferramenta e que, a partir disso, tornou-se um objeto de estudo.
Os reflexos linguísticos medievais buscavam desenvolver uma teoria geral da
linguagem, baseada na autonomia da gramática sobre a lógica. Consideraram,
então, três modalidades (modus) manifestados pela linguagem natural: o modus
essendi (de ser), o intellingendi (de pensar) e o significandi (de significar).
Portanto, há uma enorme quantidade de evidências de que pessoas de
diferentes faixas etárias sempre prestaram atenção à linguagem. Mas foi somente
após a criação da linguística que esse surgimento da curiosidade humana tomou a
forma de uma ciência com seus próprios assuntos e métodos.
Na história da constituição da Linguística, há dois momentos chave: o século
XVII, sendo o século das gramáticas gerais, e o século XIX, com suas gramáticas
comparadas. No século XVII, os estudos da linguagem são fortemente marcados
pelo racionalismo. Os pensadores desta época concentram-se em estudar a
linguagem enquanto representação do pensamento e procuram mostrar que as
línguas obedecem a princípios racionais e lógicos.

3.1 O que significa linguística

Como o termo linguagem pode ter um uso muito pouco especializado,


podendo referir-se desde a linguagem dos animais até outras manifestações como
música, dança, pintura, pantomima, etc. Deve-se enfatizar que a linguística se
concentra apenas no estudo científico da linguagem humana. Nesse sentido, nota-
se que todas as línguas (verbais ou não verbais) possuem uma importante
característica em comum, o sistema de língua de signos utilizado para a
comunicação. Essa semelhança possibilitou pensar em uma ciência que estuda
todos os sistemas de signos. Saussure chamou isso de Semiologia e Peirce de
Semiótica (FIORIN, 2010).
Conforme citado por Fiorin (2010), a linguística é, portanto, parte dessa
ciência geral; estuda as modalidades de sistemas de signos, as línguas naturais,
como a forma de comunicação mais desenvolvida e difundida. Uma pintura, uma
dança ou um gesto, podem expressar de formas diversas um mesmo conteúdo
básico, mas só a linguagem verbal consegue traduzir com maior eficiência qualquer
um desses sistemas semióticos. As línguas naturais situam-se numa posição de

13
destaque entre os sistemas sígnicos pois possuem propriedades de flexibilidade e
adaptabilidade, que permitem expressar conteúdos bastante diversificados, como
emoções, sentimentos, ordens, perguntas, afirmações, e também possibilitam falar
do presente, do passado ou do futuro (PETTER, 2012).
Não confunda linguística com aprender muitos idiomas. Um linguista deve ser
capaz de “falar” uma ou mais línguas, saber como funcionam as línguas, suas
semelhanças e diferenças. A linguística é incomparável com os estudos gramaticais
tradicionais. Ao observar a linguagem em uso, os linguistas tentam descrever e
explicar os fatos, os padrões fonéticos, padrões gramaticais e vocabulários usados.
Não se avalia esse uso em relação a outros padrões, como o moral, estético ou
crítico. Esses julgamentos não são considerados pelo linguista, pois sua função é
estudar toda e qualquer expressão linguística como um fato merecedor de descrição
e explicação em um quadro científico adequado (MARTELLOTA, 2008).

3.2 Linguística Moderna

De acordo com Martelotta (2008), a linguística é definida na maioria dos


manuais especializados, como a disciplina que estuda cientificamente a linguagem.
Segundo o autor, essa definição pouco elucidativa por sua simplicidade, nos obriga
a fazer algumas considerações importantes. Primeiramente é necessário entender o
termo "linguagem", que nem sempre é empregado com o mesmo sentido, e também
delimitar o que significa estudar cientificamente a linguagem. Além disso, não
podemos esquecer que existem outras áreas do conhecimento interessadas em
estudar a linguagem à sua maneira. Isso permite contrastar a linguística com várias
ciências ou disciplinas relacionadas para esclarecer seus campos de atividade.
Segundo Fiorin (2013), a linguística moderna é estruturada como a ciência da
linguagem. Ao contrário da gramática, a linguística não pretende ser prescritiva (não
pretende prescrever modos de falar), mas descritiva e explicativa (o que é linguagem
e por que ela é?). Assim como os químicos não dizem que uma reação é certa ou
errada, ou os biólogos que uma determinada espécie não deveria existir ou que é
feia, ou os astrônomos que não classificam os corpos celestes como bons ou maus,
os linguistas não condenam uma forma particular de falar, mas procuram descrever
e explicar as construções, as formas. Por exemplo, explicar por que aparece o

14
chamado gerundismo, por que se usa o pronome ‘lhe’ em função de objeto direto em
lugar dos pronomes que serviriam para expressar essa função sintática: o, a, os, as.

3.3 Linguagem

Linguagem é o sistema através do qual o ser humano comunica suas ideias


e sentimentos, seja através da fala, da escrita ou de outros signos convencionais.
Fiorin (2010) compreende as línguas naturais, notadamente diversas, como
manifestações de algo mais geral: a linguagem. Tal constatação fica mais patente se
pensarmos em traduzi-la para o inglês, que possui um único termo language, usado
para os dois conceitos língua e linguagem.
É necessário, então, que se procure distinguir essas duas noções. O
desenvolvimento dos estudos linguísticos levou muitos estudiosos a proporem
definições da linguagem, próximas em muitos pontos e diversas na ênfase atribuída
a diferentes aspectos considerados centrais pelo seu autor. São apresentadas duas
propostas de texto: a de Saussure e a de Chomsky, que pressupõem uma teoria
geral da linguagem e da análise linguística (FIORIN, 2010).
Fiorin (2010), salienta o conceito de Saussure que considerou a linguagem
"heteróclita e multifacetada", pois abrange vários domínios e é, simultaneamente,
física, fisiológica e psíquica, que pertence ao domínio individual e social. Saussure
ainda destaca que a linguagem não se deixa classificar em nenhuma categoria de
fator humano, pois não se sabe como inferir sua unidade.
A linguagem envolve uma complexidade e uma diversidade de problemas que
suscitam a análise de outras ciências, como a Psicologia, a Antropologia, etc., além
da investigação linguística, não se prestando, portanto, para objeto de estudo dessa
ciência. Para tanto, Saussure separou uma parte de todas as línguas, a linguagem,
um objeto classificável unificado. A linguagem é o produto social da capacidade de
falar, o conjunto necessário de convenções adotadas pelos corpos sociais para
permitir que os indivíduos exerçam essa capacidade. (SAUSSURE,1969).
A língua é, para Saussure, "um sistema de signos", isto é, um conjunto de
unidades que se relacionam organizadamente em um todo. É "a parte social da
linguagem", exterior ao indivíduo, não podendo ser modificada pelo falante que

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obedece às leis do contrato social estabelecido pelos membros da comunidade,
(FIORIN, 2010).

3.4 A Fala

O conjunto linguagem-língua contém outro elemento: a fala. Neste contexto a


fala é um ato individual, nela resulta das combinações feitas pelo sujeito falante
utilizando o código da língua, expressando-se pelos mecanismos psicofísicos (atos
de fonação) necessários à produção dessas combinações (SAUSSURE,1969).
A distinção linguagem/língua/fala se situa como o objeto de estudo da
Linguística para Saussure. Dela decorre a divisão do estudo da linguagem em duas
partes: uma, que investiga a língua, e outra, que analisa a fala. As duas partes são
inseparáveis, visto que são interdependentes, pois a língua é condição para se
produzir a fala, mas não há língua sem o exercício da fala. Há necessidade,
portanto, de duas linguísticas: a da língua e a da fala. Saussure focou em seu
trabalho a linguística da língua, produto social depositado no cérebro de cada um e
sistema supraindividual que a sociedade impõe ao falante (LYONS,1987). Os
adeptos do princípio de Saussure, procuraram explicar a própria linguagem
examinando as relações que unem os elementos do discurso e, assim, conseguir
determinar o valor funcional desses diferentes tipos de relações.
A língua é considerada uma estrutura constituída por uma rede de elementos,
em que cada um tem um valor funcional determinado. A teoria de análise linguística
que se desenvolveu, herdeira das ideias de Saussure, foi denominada
estruturalismo.
Todas as línguas naturais são, seja na forma falada, ou na forma escrita,
linguagens. Neste sentido, sua definição é que toda língua natural possui um
número finito de sons (e um número finito de sinais gráficos que os representam, se
for escrita). Mesmo que as sentenças distintas da língua sejam em número infinito,
cada sentença só pode ser representada como uma sequência finita desses sons
(ou letras) (PETTER, 2002).
Um linguista que descreve qualquer uma das línguas naturais determina quais
dessas sequências finitas de elementos são sentenças e quais não são, ou seja, o
que é dito e o que não é, naquela língua. A análise das línguas naturais deve

16
permitir determinar as propriedades estruturais que distinguem a língua natural de
outras linguagens. Chomsky acredita que tais propriedades são tão abstratas,
complexas e específicas que não poderiam ser aprendidas a partir do nada por uma
criança em fase de aquisição da linguagem. Essas propriedades já devem ser
"conhecidas" da criança antes de seu contato com qualquer língua natural e devem
ser acionadas durante o processo de aquisição da linguagem. Para Chomsky,
portanto, a linguagem é uma capacidade inata e específica da espécie, isto é,
transmitida geneticamente e própria da espécie humana (PETTER, 2002). Assim, a
linguagem tem propriedades universais e, para construir uma teoria geral da
linguagem baseada nesses princípios, esses pesquisadores se propuseram a
encontrar essas propriedades. Essa teoria é conhecida como generativismo.

3.5 Linguagem verbal

A língua como forma de expressão é composta por um conjunto de signos


criados voluntariamente a partir de uma convenção e que são aceitos como corretos
pelos falantes. São essas convenções da linguagem que diferenciam um grupo do
outro. Com isso, confirma a língua como um instrumento coletivo, de norma social.
Dessa forma, pode-se afirmar que a linguagem verbal é “[...] objetiva, definidora,
cerebral, lógica e analítica, voltada para a razão e a ciência, a interpretação e a
explicação [...]” (AGUIAR, 2004, p. 28). A linguagem verbal apresenta-se por duas
formas de linguagem, uma falada e outra escrita, que manifesta variações na forma
de se expressar.
Na linguagem oral, os recursos utilizados são diferentes da linguagem escrita,
começando pelo espaço. Na escrita, a presença física do interlocutor é inexistente.
Enquanto na oral ocorre um diálogo com o interlocutor, onde ambos muitas vezes
ocupam o mesmo ambiente. A fala, sendo o principal recurso da linguagem oral,
utiliza-se da altura e tom da voz e de outras características para a clareza do diálogo
e da comunicação.
As palavras são decifradas por partes, a partir da fala e da escrita, primeiro
um signo e depois o outro, formando assim unidades maiores. É ao final da uma
leitura ou da audição que temos o texto completo, a mensagem que se quer passar.
Na linguagem escrita, a forma de comunicação se dá por palavras que,

17
através de frases e textos, têm a intenção de informar a mensagem de maneira clara
e coerente para que o interlocutor compreenda. Assim, o sistema de sinais ‘alfabeto’
é o recurso principal da linguagem escrita no Ocidente, a partir dos fonemas,
representados pelos sons da fala (AGUAIR, 2004).
Para utilizarmos a linguagem verbal e necessário conhecer os vocábulos,
considerando ser um meio de comunicação em sociedade. A exemplo disso, um
bebê, antes de apreender a falar, vai se apropriando do código verbal a partir de
sons interpretados pelos adultos em um arremedo de fala infantil. É dessa forma que
surge, nesse caso, um sentimento de naturalidade da linguagem infantil.
Conforme Aguiar (2004), a linguagem verbal tem influência também no
aspecto psicoemocional do ser humano, pois afeta o estado de ânimo e as
emoções. Por exemplo, quando recebemos um elogio ou dizemos algo que valoriza
o outro, isso mexe com a autoestima e com o estado de espírito para um lado
positivo, alegre. Ao contrário, se criticamos ou discutirmos, ficamos tristes,
aborrecidos. Essas situações mostram o quanto a área intelectual e a afetiva estão
relacionadas. No entanto, são duas as linguagens que estão conectadas: a verbal e
não verbal.

3.6 Linguagem não verbal

A linguagem não verbal pode ser definida como sendo a linguagem “[...] das
imagens, das metáforas e dos símbolos, expressa sempre em totalidades que não
se decompõem analiticamente” (AGUIAR, 2004, p. 28). Na linguagem não verbal
não há presença de palavras, por isso ela segue outro tipo de código. Apesar da
ausência da palavra, existe uma linguagem que constrói a mensagem que se
pretende passar. Utiliza-se para isso outros instrumentos, como imagens, gestos e
sinais. Considera-se, também, como linguagem não verbal, a manifestação da
pessoa que recebe a mensagem, pois essa geralmente expressa corporalmente
diversas reações, como de atenção, agrado ou desagrado. Tanto o emissor quanto o
receptor da mensagem passada através de linguagem não verbal apresentam os
indícios de significados que devem ser compartilhados por quem passa ou recebe a
mensagem.
Cada tipo de linguagem não verbal tem sua própria forma de expressão, seus

18
códigos e suas finalidades, como o exemplo da Libras, que é normativa como a
escrita. As tecnologias digitais são um novo gênero de linguagem verbal e não
verbal, como o e-mail, os chats (bate-papo), os fóruns on-line (espaços de opinião e
debate), as redes sociais (Facebook, Instagram, Twitter, YouTube, WhatsApp...) e os
elementos comunicativos utilizados nessas tecnologias, como, por exemplo, os
emojis (ícones representados com carinhas que tem nome, ou significado oficial e é
utilizado em aplicativos e sistemas diferentes, principalmente no Facebook e no
WhatsApp), os links de hipertexto, entre outros (CASTRO, 2013).

4 FUNDAMENTOS E PRINCIPAIS TENDÊNCIAS TEÓRICAS

Os celtas são historicamente o primeiro povo registrado nas Ilhas Britânicas.


Estudos anteriores mostram vestígios da migração de outros povos que viveram na
região muito antes dos celtas, que influenciaram os dialetos das línguas indo-
europeias, mas, com os celtas, conhecemos a história como ela é. Eles se
estabeleceram na Grã-Bretanha por volta de 1.000 a.C. até 100 d.C., até a chegada
dos romanos nas Ilhas Britânicas (MOREIRA; GOMES; RESGALA, 2015).
A primeira invasão romana foi por volta do ano 5 a.C. Depois de muitas
invasões, aquele antigo grande império tomou conta da região e outras influências
começaram a aparecer na economia, na política, na sociedade em geral e, claro, na
língua. No entanto, o poder romano diminuiu com a ascensão de outras nações
europeias que também invadiram as Ilhas Britânicas. Povos do norte da Europa,
como os saxões, ali se estabeleceram após ataques violentos e sangrentos que
mataram parte da população local. Essa destruição dos saxões causou o fim da
cultura celta, das sobreposições e do dialeto germânico que deu origem ao inglês.
Desde então, a história da língua inglesa mostrou que havia Old English (inglês
Antigo), Middle English (inglês Médio) e Modern English (inglês Moderno). Este
último ainda é falado, assim como as mudanças dinâmicas pelas quais toda língua
natural deve passar. (MOREIRA; GOMES; RESGALA, 2015). A linha do tempo para
tais fenômenos é aproximadamente a seguinte:

• Old English (500-1100) — com forte influência celta e latina;


• Middle English (1100-1500) — com forte influência francesa;

19
• Modern English (de 1500 até agora) — padronização da língua inglesa.
Não devemos esquecer que o Cristianismo foi trazido para as Ilhas Britânicas
pela invasão romana, e São Patrício foi o missionário responsável pela conversão
dos celtas à religião cristã. Claro que esse processo deixou sua marca na língua
inglesa, nas línguas latina, romana e cristã, provocando a repetição do vocabulário
religioso e dos textos bíblicos.
Durante o período do inglês antigo, os conquistadores vikings também
influenciaram a língua inglesa, pois sua presença no território da Grã-Bretanha durou
mais de 200 anos. Como a língua viking era de origem germânica, essa influência
estava presente no inglês. Para os falantes de hoje, o inglês antigo é irreconhecível
na pronúncia e na escrita em comparação com o inglês moderno. No entanto, sua
pronúncia era próxima da grafia, que era diferente do inglês atual. Gramaticalmente,
os substantivos também eram masculinos e femininos – influenciados por línguas
como o latim, que tinha substantivos neutros, o inglês antigo também usava
substantivos neutros. Mesmo os verbos são conjugados e flexionados, o que o
inglês moderno não faz. Hoje, o inglês é conjugado no presente e no passado, e
outros tempos são formados com modais ou verbos auxiliares (CELCE-MURCIA;
LARSEN-FREEMAN, 1999).
A influência da língua inglesa não parou por aí. Após mil anos de invasão e
turbulência, os normandos franceses invadiram a Inglaterra e lá se estabeleceram
por mais de 200 anos. Mais uma vez, depois de muitas batalhas sangrentas e
mortes tanto do lado inglês quanto do francês, os normandos assumiram o controle
da Inglaterra. Por causa dessa conquista e de outras batalhas que venceu,
Guilherme, duque da Normandia, que liderou o massacre na famosa Batalha de
Hastings em 1066, ficou conhecido como Guilherme, o Conquistador.
Os acontecimentos levaram ao fortalecimento do cristianismo na região e à
adoção da língua dos conquistadores. Naquela época, a língua valorizada pelas
famílias reais inglesas era o francês, porque os próprios conquistadores e
seguidores não falavam inglês na época. O resultado foi aprender francês em busca
de ascensão social. Com a presença e o fortalecimento da língua francesa, teve
início o Middle English. No entanto, como aconteceu na época romana, os franceses
também perderam o poder após quase três séculos de domínio. O nacionalismo
inglês dominou e, por volta do século 15, quando o vocabulário se tornou mais rico,

20
o inglês se tornou a língua dominante e mais influente da região. Também
concorreram documentos escritos em inglês, deixando para trás o latim e o francês,
colaborando com o surgimento da literatura e lançando conceitos nas esferas
administrativa, política e social da organização inglesa (MOREIRA; GOMES;
RESGALA, 2015)
O inglês agora retém palavras de origem latina e as usa de maneira mais
formal. No entanto, devido à influência do francês, o inglês médio perdeu suas
inflexões mencionadas no inglês antigo. A pronúncia das vogais inglesas também
ocorreu nos séculos XV e XVI, o que mudou significativamente foi a pronúncia
dessas vogais e ditongos.
The Great Vowel Shift refere-se à mudança vocálica mais importante da
época, que causou a atual falta de correlação entre palavras escritas e faladas em
inglês, observada principalmente nas vogais. Por exemplo, nas palavras fine, mine e
shine, a vogal /i/ é pronunciada como /ai/, então o som /i/ representa um som ditongo
nesses casos. As palavras fit, istuda e rippida têm uma pronúncia curta de /I/, o que
difere das palavras carno, grade e meri, que, embora escritas com duas vogais, não
pronunciam o ditongo. Esta combinação sonora / ea / é pronunciada mais longa / i: /,
cuja duração é indicada foneticamente por dois pontos (:). O período do inglês
moderno foi uma época de padronização e unificação da língua inglesa, possibilitada
pela imprensa, o sistema postal, por volta de 1500, a concentração do centro
administrativo, político, social e econômico da Inglaterra e a educação média de
notas altas e distribuição ortográfica padronizada. Por exemplo, os verbos auxiliares
em inglês foram indubitavelmente introduzidos nos séculos XVI e XVII e ainda são
usados em negativas e perguntas em inglês. No século XVIII, outra desordem afetou
o inglês: a dupla negação, como a frase portuguesa “Eu não conheço ninguém aqui”,
em inglês "I don't know nobody here", foi considerada gramaticalmente incorreta
(MOREIRA; GOMES; RESGALA, 2015).
Quando chegou o século XIX, o colonialismo britânico começou a se firmar.
Desde então, os povos das Ilhas Britânicas deixaram seus territórios e continuaram
a conquistar outros territórios. Assim, eles retomaram não só sua cultura, mas
também sua língua, que passou a influenciar cada vez mais o mundo (MOREIRA;
GOMES; RESGALA, 2015). Não podemos negar que houve diversidade ao longo de
seus dois mil anos de história, o que pode tê-la tornado menos regular do que, por

21
exemplo, as línguas latinas. De qualquer forma, a posição do inglês como língua
global cresceria ainda mais com a ascensão dos Estados Unidos no século XX. Os
laços entre a Inglaterra e os Estados Unidos, que perduram até hoje, estendem-se
aos negócios e à política, mantendo até mesmo o idioma entre as duas nações
próximo ao entendimento, embora sotaques diferentes tenham dado aos seus
falantes nativos uma identidade distinta (CRYSTAL, 2003).

4.1 Abordagens estruturalista, gerativista, funcionalista e interacional da


linguagem

4.1.1 Estruturalismo: língua e estrutura

Desde Saussure, temos uma compreensão da linguagem como um sistema


de signos, um código que serve à comunicação e à troca de informações. Observe
que, nessa formulação, a presença do interlocutor é um componente da fala. O
entendimento de Saussure rompe com o entendimento oitocentista da linguística
comparada, onde a linguagem seria a expressão do pensamento, e assim abre uma
nova forma de trabalhar, pois a vê como um sistema em que apenas o signo adquire
sentido ou valor e se relaciona com outros signos ao seu redor.
No curso de Linguística Geral (SAUSSURE, 2012), temos algumas
características da linguagem: é a parte social da linguagem porque pertence à
comunidade, sendo externa ao indivíduo que não pode formá-la. Esses argumentos
apontam para a inclusão da linguagem em um campo de estudo que considera sua
relação com o mundo exterior, e mesmo a interdependência interna dos
componentes desse sistema.
É importante notar que para os estruturalistas a realidade e seus objetos
concretos não são importantes, não são considerados, pois a estrutura da linguagem
é considerada abstrata. Nesse ponto, pode-se afirmar que o estruturalismo não pode
pensar a referência entre linguagem e realidade, pois o referente está sempre dentro
do sistema dado. Outras coisas que revelam o retorno da linguagem sobre si mesma
e a determinação das combinações, onde todas as possibilidades já estão dadas,
fecham o conceito de linguagem, portanto, o conceito de interpretação, e não
permitem chegar ao nível das situações orais ou a natureza subjetiva de sua
construção de significado.

22
Saussure optou por não se debruçar sobre essas questões, mas considerou
suas possibilidades ao distinguir entre linguagem e fala, isto é, uso coletivo e uso
individual; entre sincronia e diacronia. Em síntese, ao propor a dicotomia, Saussure
não negava a possibilidade de trabalhar com as coisas que deixou, tanto quanto
propunha a criação de um campo de estudo denominado semiologia que analisaria
diversos tipos de coisas não linguísticas.
Os formalistas sempre tentam se opor a esse pressuposto saussuriano (de
que para lidar com as relações internas de um sistema abstrato - a linguagem - é
preciso distanciar-se de tudo que lhe é próprio). Principalmente, Saussure tentou
evitar um retorno ao conceito de linguagem como referência, o que reduziria a
complexidade do sistema à ideia de que as palavras existem para representar
objetos da realidade, ou seja, relacionar-se com eles, o que também requer
percepção de que as palavras têm um significado predefinido. Então devemos
entender que a inovação de Saussure foi tratar a língua como um sistema abstrato a
ser estudado segundo suas estruturas internas, de modo que a fonologia, a
morfologia e a sintaxe avançaram muito a partir da análise.
Além de Saussure, o linguista Roman Jakobson também deixou importantes
obras da fonologia à gramática, da aquisição da linguagem aos estudos das afasias.

4.1.2 Gerativismo: linguagem e mente

Na efervescência dos estudos estruturalistas, surgem estudos generativos


que enfatizam a relação entre linguagem e mente, pois se acredita que as regras e
princípios linguísticos estão enraizados na mente humana. O formalismo se situa no
campo de pesquisa da tradição empírica porque acredita em sua existência “[...] um
mecanismo mental inato de aquisição [...]” (RAPOSO, 1992, p. 36) de língua,
colocando a questão da ordem biológica da faculdade de linguagem. Também
ocorre a volta da noção de língua como expressão do pensamento, ou seja, de
simetria entre referente e mundo. Dessa forma, a interpretação seria, simplesmente,
a compreensão do dizer, tal como ele fora proferido, isto é, literalmente.
Segundo Chomsky, apenas os membros da espécie humana adquirem e
falam línguas naturais espontaneamente, o que é uma das razões do sucesso
evolutivo de nossa espécie. É importante notar que ele, como todos os teóricos
dessa linha, não está interessado no significado social da linguagem, mas na

23
aquisição da linguagem, na capacidade humana de produzir linguagem, focando
seus estudos na competência natural do falante, e não subestimar a importância do
uso da linguagem desse orador ideal.
Como esta teoria olha para a linguagem do ponto de vista biológico, sua
aquisição é uma questão de amadurecimento e desenvolvimento do "órgão" mental
e não de aprendizagem. Portanto, cada falante teria em sua mente um conjunto de
princípios inerentes, que seriam uma gramática universal, e por meio dos quais ele
poderia desenvolver o mecanismo da linguagem. Definindo melhor o conceito de
gramática universal, descobrimos que ela é a soma dos princípios linguísticos
característicos da espécie humana. O objetivo central da pesquisa generativa é
conhecer a natureza exata e as propriedades dessa gramática.
Segundo essas ideias, o ensino da língua materna baseado em regras fora da
gramática interna do falante seria desnecessário e prejudicial ao aprendizado
natural. Como a criança já conhece a estrutura da língua quando a usa, não seria
necessário introduzi-la na gramática.
Chomsky observa o problema com o modelo de dados primários (gramática
geral) e gramática final (adulto), dizendo que esse modelo é idealista porque ignora
a lacuna quantitativa e qualitativa que existe entre os dados primários e o sistema
final: o conhecimento de um adulto, sua gramática embutida. Assim, o curso do
processo de maturação dos órgãos da linguagem não é idêntico para todas as
pessoas, ainda mais porque depende de aspectos que não são apenas mentais.
Podemos pensar que o autor está pensando em externalizar o desenvolvimento da
linguagem.
No entanto, isso não é verdade, pois Chomsky também defende a
independência dos princípios formais da gramática, semântica e pragmática
internalizada. A questão importante aqui é a possibilidade de criar significado sem
considerar aspectos fora da estrutura mental da linguagem. Outro aspecto
importante dos estudos formalísticos de Chomsky é sua aplicação ao estudo da
inteligência artificial, possibilitada pelos avanços científicos que permitiram que os
estudos da aquisição da linguagem humana fossem utilizados para desenvolver
outras formas de linguagem.

24
4.1.3 Funcionalismo: língua e função

O funcionalismo é um ramo da linguística que vê a linguagem relacionada ao


seu uso, segundo essa teoria, o significado das palavras estaria relacionado às suas
condições de funcionamento. Maria Helena de Moura Neves (1997) iniciou essa
pesquisa linguística no Brasil com sua obra A Gramática Funcional. No entanto, os
pontos de partida do pensamento funcionalista estão no estudo da pragmática: atos
de fala, intencionalidade, relação entre falantes. A seguir, você conhecerá
brevemente os principais autores desse campo de pesquisa, que levou ao
desenvolvimento da linguística textual, por exemplo (ou teoria do texto).
Segundo Rodolfo Ilari (2003), outro propósito dos funcionários é explicar as
características formais da linguagem por meio das funções que desempenham. Na
segunda metade do século XX, o linguista inglês M.A.K. Halliday entende que cada
frase cumpre simultaneamente três funções, que ele chamou de ideacional,
interpessoal e textual, consistindo em (ILARI, 2003):
✓ Ideacional: fornecer representações do mundo.
✓ Interpessoal: instaurar diferentes formas de interlocução como perguntar,
afirmar, ordenar, assumir graus diferentes de comprometimento em relação
àquilo que se diz.
✓ Textual: monitorar o fluxo de informação nova em um determinado contexto.
Outro conceito-chave de funcionamento é o conceito de escolha. De acordo
com esse conceito, o falante constrói seu enunciado escolhendo entre várias
possibilidades oferecidas pelo sistema linguístico (após produzir qualquer frase,
escolhemos simultaneamente palavras, estruturas gramaticais, contornos
entoacionais, etc.). Compreender o significado de uma frase é, portanto, equivalente
a entender por que certas opções foram escolhidas e outras rejeitadas. Pelo seu
valor de seleção, a funcionalidade eleva o papel do locutor e as características da
mensagem que ele produz, e cria uma abertura importante no estudo do texto e do
estilo.

4.1.4 Interacional: língua e interação

De acordo com Richter (2000), a aprendizagem de línguas com uma


abordagem interativa é o resultado da interação entre o programa nativo do aprendiz
e a linguagem produzida na conversa do aprendiz com um interlocutor fluente.
25
Embora o interacionismo considere a programação inata da linguagem, ele difere da
teoria inata principalmente porque diz que memória, percepção, pensamento,
significado e afetividade devem estar interligados para possibilitar o aprendizado da
língua. Para pesquisadores interacionistas, a linguagem é uma das manifestações
da cognição humana.
A maneira como uma criança adquire a linguagem verbal, por exemplo, é por
meio de estruturas semânticas subjacentes, não por meio da assimilação de
estruturas sintáticas superficiais, que, segundo Richter, são justificadas pelas
relações de objetos específicos. A aprendizagem semântica da qual estamos
falando depende da cognição do aluno e, com base nessa abordagem teórica, o
desenvolvimento cognitivo da linguagem se deve mais à complexidade das
estruturas sintáticas. Assim, acreditamos que o desenvolvimento cognitivo se baseia
em dois fatores: I) sistemas cognitivos inatos ou existentes (adquiridos e estruturais)
responsáveis pelo aumento gradual das habilidades de interpretação e
comunicação; II) sistemas nativos de aprendizagem gramatical, que seriam o ponto
de contato entre a interação e a natividade relacionada ao crescimento da
capacidade de perceber, processar e organizar informações.
Ressalte-se que, do ponto de vista do desenvolvimento cognitivo, o
significado refere-se à forma, que deve ser considerada na prática docente de
línguas e o ensino das funções da língua deve estar direcionado para suas formas
possíveis.

5 PRINCÍPIOS FONÉTICOS

De início, vale ressaltar que existem diferenças entre aprender a ler e


escrever. Antes de ir para a escola, as crianças já preparam suas hipóteses de
escrita. À medida que crescem, começam a decodificar símbolos gráficos e a
reconhecer palavras. No entanto, essa decodificação não garante que eles tenham
habilidades de leitura e escrita competentes, pois a alfabetização implica um
processo mais complexo: diz respeito à capacidade de uma pessoa ler e escrever
em diferentes contextos comunicativos.
Nesse sentido, os alfabetizadores costumam estar mais interessados em
classificar a leitura e a escrita de seus alunos como corretas ou incorretas conforme

26
a gramática tradicional. Um professor em busca de um processo de alfabetização
entende que o aluno ainda não conhece todo o sistema gráfico e está atento aos
diversos contextos que fazem a criança escrever de acordo com seu dialeto regional
e social. Isso significa que o processo de alfabetização considera os textos
espontâneos dos alunos e observa as conexões que eles fazem entre a realidade
fonética e o uso ortográfico. É assim que se considera o esforço da criança em
combinar ortografia e fonologia, ou seja, letra e fonema. Como nem sempre há uma
conexão direta entre o som e a ortografia, a conexão não é totalmente previsível - no
entanto, não é aleatória. Conforme as palavras de Magda Soares (2003, p. 18
documento on-line):
[...] escrever é registrar sons e não coisas. Então, a criança vai viver um
processo de descoberta: escrevemos em nossa língua portuguesa e em
outras línguas de alfabeto fonético, registrando o som das palavras, e não
aquilo a que as palavras se referem. A partir daí a criança vai passar a
escrever abstratamente, colocando no papel as letras que ela conhece,
numa tentativa de, realmente, escrever “casa”, sem o recurso de utilizar
desenhos para dizer aquilo que quer. Então, depois que a criança passa
pela fase silábica para registrar o som (o som que ela percebe primeiro é a
sílaba), ela vai perceber o som do fonema e chega o momento em que ela
se torna alfabética.

No entanto, quando uma criança se torna alfabetizada, ela deve aprender a


ler e escrever segundo as regras ortográficas. Afinal, ela começa com a necessidade
de adotar um sistema alfabético, bem como sistemas de ortografia e escrita. Como
esses sistemas não possuem base lógica, a criança deve passar por um processo
de aprendizagem, ou seja, trabalhar sistematicamente as relações entre fonemas e
grafemas. Essa relação indica que as primeiras hipóteses de escrita das crianças
estão intimamente relacionadas à oralidade. Assim, em seus escritos, as semivogais
de alguns ditongos geralmente não aparecem (em palavras como louco, a semivogal
‘u’ é suprimida porque não é pronunciada fortemente); a palavra muito aparece
nasalizada (muinto); a vogal ‘o’ no final da palavra é substituída por ‘u’, por exemplo
(bolo se torna bolu).
Essas estruturas ilustram a necessidade de vincular a alfabetização com o
reconhecimento da variedade linguística. Se um professor não prestar atenção em
como os alunos falam, eles podem aumentar sua dificuldade em aprender as
relações entre letras e sons. Também existe o risco de apenas codificadores e
decodificadores de sinal serem ensinados. Para promover a leitura e a escrita
complexas, é necessário atentar para as representações gráficas e alfabéticas da

27
língua portuguesa.
Segundo Cagliari (1997), tudo o que é ensinado na escola está diretamente
relacionado à leitura. Portanto, é essencial para o desenvolvimento e manutenção
da aprendizagem, e assim o aluno deve estar pronto para ler o mundo. Nesse
sentido, a ortografia deve ser tratada pela leitura e a pronúncia correta não deve ser
uma prioridade - embora o ensino também seja importante.
Faraco e Moura (2006) defendem que o sistema gráfico português é
constituído por letras que representam maioritariamente unidades fonéticas, mas
não são o único critério para reconhecer a grafia de uma palavra. Afinal, a história
etimológica pode determinar a ortografia. No entanto, o maior obstáculo para
combinar ortografia e fonemas é a pronúncia diferente das palavras, que surge em
função de mudanças de tempo, regiões, faixa etária do falante, etc. Nesse sentido,
esse panorama complexo afeta o processo de alfabetização da criança.
Como a mudança da língua é contínua e dinâmica, sua regularidade é
aleatória, o que afeta o processo de aprender a soletrar conforme o chamado padrão
civilizado. A linguagem falada é muito mais utilizada, oferece acesso mais fácil e
rápido e atinge as mais diversas situações; linguagem escrita requer algum tipo de
ensino. Portanto, as duas variedades linguísticas que mais se chocam no processo
de alfabetização são a chamada língua vernácula e a língua cultural. A linguagem
cultural tem prestígio social e segue as regras estabelecidas pela gramática
tradicional, e a linguagem popular é usada em situações informais e não segue as
normas comuns.
Um aluno que passa pelo processo de alfabetização aprende a reconhecer
essas diferenças e passa a considerá-las como aspectos definidores na
interpretação do texto, do discurso, da informação. Além disso, ele pode se
comunicar em diferentes contextos e entender diferentes referências de mensagens.
Sendo assim, é possível trabalhar com o conceito de letramento porque a gramática
normativa organiza diretrizes para a representação escrita da língua. Essa opção
tem prestígio social e, cabe à escola garantir o acesso a esse conhecimento. Dessa
forma, é possível criar uma base para os alunos que os farão desfrutar dos
benefícios da educação formal.
Mas ensinar a variedade padrão não é apenas isso. Uma razão para tal é a
importância do mito do declínio da língua, porque o conceito de fracasso escolar

28
anda de mãos dadas com o conceito de proficiência linguística. Nesse sentido, a
escola deve considerar a língua principal como segunda opção e como parâmetro de
comparação com outras. Portanto, não reforça as diferenças criadas socialmente e
oferece igualdade de condições a todos os alunos de acordo com suas dificuldades
individuais. É claro que todas as crianças que passam pelo processo de
alfabetização terão dificuldades inerentes àquelas que ingressam no sistema escrito
da língua. No entanto, sabe-se que uma criança que ouve e pronuncia as palavras
de maneira diferente da pronúncia normal pode soletrar as palavras corretamente.
É por isso que a alfabetização é determinada pela proximidade da fala e da
escrita: um aluno que interage em uma comunidade que fala uma língua escrita tem
maiores chances de sucesso na aplicação das regras ortográficas. Basicamente,
pode ser difícil para todos os usuários de português saber com quais letras a palavra
‘exceção’ é escrita já que o fonema /s/ é representado por grafias diferentes. No
entanto, todos os falantes pronunciam esta palavra da mesma forma. No entanto,
alguns falantes pronunciam palavras com mudança fonêmica, e tal diversidade cria
dificuldades em identificar um padrão de escrita para o idioma. Observe alguns
exemplos:

Buginganga: bugiganga – Abóbra: abóbora – Flauda: fralda – Dible: drible –


Estrupo: estupro – Boeiro: bueiro – Carangueijo: caranguejo – Prazeirosamente:
prazerosamente – Salchicha: salsicha – Supertição: superstição.

Em conclusão, quanto mais as crianças se envolverem em práticas


interativas que lhes permitam ler o mundo, mais preparadas estarão para os
desafios da aquisição da ortografia. Além disso, é necessário estabelecer
inicialmente uma hipótese sobre a correspondência direta de letras e sons.
Consequentemente, falantes de versões linguísticas menos valorizadas têm as
mesmas habilidades de alfabetização e numeramento.

5.1 Fonética e Fonologia

A linguagem é a ferramenta mais perfeita para a comunicação humana. No


uso diário, é uma parte tão natural e necessária da vida humana, que sua
característica complexa não é percebida. Falantes de uma língua transmitem

29
significados (pensamentos, sentimentos, emoções) por meio dos sons da fala e se
comunicam socialmente sem compreender sua organização interna, o sistema que a
constitui.
Cada língua determina de uma maneira sistemática os sons, tornando-se
objeto de estudo da fonologia. Contudo, na fonética, o objeto de estudo é a realidade
física dos sons produzidos pelos falantes de uma língua. A fonética e a fonologia
são, portanto, os ramos da linguística responsáveis pelo estudo dos sons da fala.
Por compartilharem o mesmo fenômeno que seus objetos de estudo, são
consideradas ciências relacionadas. No entanto, esse mesmo objeto é visto de
diferentes perspectivas (MASSINI-CLAGLIARI; CAGLIARI, 2012).
A fonética como ciência trabalha com os próprios sons, como eles são
produzidos, percebidos e quais aspectos físicos estão envolvidos em sua realização.
A fonologia, por outro lado, lida com a função e a organização desses sons em
sistemas. Em geral, a fonética analisa a formação de sons como "s", "m" e "r" de
acordo com suas correlações articulatórias, acústicas e perceptivas, enquanto a
fonologia se concentra em analisar as possibilidades de combinação desses sons. A
estrutura interna da língua impede combinações (SOUZA; SANTOS, 2016).
Assim, enquanto a fonética como ciência é principalmente de natureza
descritiva, a fonologia é uma ciência explicativa e interpretativa orientada para a
análise da função linguística dos sons nos sistemas (MASSINI-CLAGLIARI;
CAGLIARI, 2012). Por constituírem duas abordagens diferentes de um mesmo
objeto de pesquisa (os sons da fala), a forma de ver, analisar e transcrever os fatos
linguísticos do foneticista difere da do fonólogo. É por isso que a transcrição fonética
dos segmentos é apresentada entre colchetes [ ] e a transcrição fonológica
(fonêmica) com barras simples // (MASSINI-CLAGLIARI; CAGLIARI, 2012). Em vista
disso, podemos classificar em dois níveis de reprodução sonora: nível fonético e
nível fonológico.
Ainda que os sons estejam presentes no curso da fala, eles são abordados
como entidades separadas para fins de análise. Isso porque, ao reconhecer as
mensagens, os falantes as interpretam como entidades que operam com base em
um sistema fonológico. Como os sons são meios de transmitir significado, os
falantes de uma língua não os utilizam ou percebem com base em todas as suas
sonoridades, mas com base na função que cumprem na língua.

30
A fonética compreende os sons produzidos pelos falantes de línguas em toda
a sua diferença, enquanto a fonologia desconsidera essa diferença para perceber o
sistema característico da língua. A fonética pode auxiliar a fonologia referindo-se aos
sons como uma realidade perceptível.

5.2 Fonética

A fonética é a ciência que fornece métodos para descrever, classificar e


transcrever os sons da fala, principalmente os sons utilizados na linguagem humana
(SILVA, 2003). Portanto, podemos pensá-la como a ciência do aspecto material dos
sons, independentemente da função que possam ter em uma determinada língua.
Portanto, os métodos de pesquisa fonética estão mais próximos das ciências
naturais (MORI, 2012). As principais áreas de pesquisa da fonética são (SILVA,
2003):

✓ Fonética articulatória;
✓ Fonética auditiva;
✓ Fonética acústica;
✓ Fonética instrumental.
Como a fonética articulatória é o campo de estudo mais antigo e, portanto, o
mais firmemente enraizado na tradição da fonética linguística enraizada na pesquisa
clássica (MASSINI-CLAGLIARI E CAGLIARI, 2012), a maioria dos livros existentes é
dedicada a uma descrição detalhada deste subcampo em detrimento de outros. Aqui
descrevemos todos os aspectos desta ciência em geral.

5.2.1 Fonética articulatória

Inclui o estudo da produção da fala do ponto de vista fisiológico e articulatório


(SILVA, 2003). Segundo Souza e Santos (2016), a dimensão articulatória é aquela
que considera o que acontece no trato vocal ao fazer chamadas. Nesse sentido,
compreender o mecanismo de produção da fala (órgãos e estruturas) é essencial
para uma adequada descrição articulada do fone.
Considerando os limites fisiológicos impostos ao trato vocal, podemos dizer
que a gama de sons que podem ser encontrados nas línguas naturais é limitada. De
fato, um conjunto de cerca de 120 símbolos é suficiente para classificar consoantes
31
e vogais em línguas naturais. Todas as línguas naturais têm consoantes e vogais -
então a fonética articulatória está interessada em explicar como esses sons são
produzidos com a maior precisão possível. (SILVA, 2003).

5.2.2 Fonética auditiva

A pesquisa de percepção da fala é na maioria das vezes uma tentativa de


identificar as pistas acústicas que os falantes usam para fazer julgamentos fonéticos.
Por exemplo, quais são os sinais acústicos que permitem a um falante identificar que
a consoante [b] ocorreu na palavra "bye" (ou, por exemplo, na palavra "barco")? A
compreensão da percepção da fala avançou significativamente com melhorias na
análise acústica da fala e na síntese de fala da máquina.
A capacidade de analisar um sinal acústico e a capacidade de produzir
amostras de fala sintetizadas se complementam na compreensão atual de como as
pessoas percebem a fala. Aprendendo a perceber a fala humana, podemos
desenvolver melhor máquinas capazes de interpretar e tomar decisões linguísticas
com base em sinais acústicos (KENT; READ, 2015).

5.2.3 Fonética acústica

Inclui o estudo das características físicas dos sons da fala e sua transmissão
do falante ao ouvinte (SILVA, 2003). A acústica da fala é difícil de entender, apesar
da fisiologia e das observações. O completo entendimento da acústica da fala requer
que os parâmetros acústicos sejam relacionados a modelos fisiológicos
(mecanismos envolvidos na produção do trato vocal de vogais e consoantes) e
julgamentos perceptivos baseados no sinal acústico (KENT; READ, 2015).

5.2.4 Fonética instrumental

Isso inclui o estudo das características físicas da fala, considerando o apoio


de instrumentos de laboratório (SILVA, 2003). Este ramo da fonética dá suporte ao
anterior e fornece suporte técnico para sua implementação. O software de análise
acústica é um exemplo de instrumento desenvolvido para auxiliar o fonético na
realização da análise. Por exemplo, o uso do ultrassom tem sido útil para descrever
configurações de articulação mais precisas. Aparelhos de monitoramento da fala e
eletroencefalografia para testes de processamento da fala e eletroglotógrafos têm

32
sido amplamente utilizados para estudar as funções oscilatórias das cordas vocais
durante a produção da fala.

5.4 Fonologia

A organização da cadeia sonora da fala é guiada por alguns princípios. Tais


princípios agrupam segmentos consonantais e vocálicos em cadeias e determinam a
ordem das sequências sonoras possíveis em uma determinada língua. Os falantes
têm intuições sobre os conjuntos de sons permitidos e excluídos em sua língua
(SILVA, 2003). Nesse sentido, a fonologia estuda diferenças sonoras que se
correlacionam com diferenças de significado (por exemplo, [p]ato/[m]ato), ou seja,
estuda relacionados à função que desempenham em um determinado idioma, às
diferenças de significado e sua importante relação na formação de sílabas,
morfemas e palavras. A fonologia também se refere à parte da teoria geral da
linguagem humana que trata das propriedades universais do sistema de sons das
línguas naturais (para os sons que podem ocorrer nas línguas naturais) (MORI,
2012).

5.2.5 Fonema

Cada língua tem um certo número de unidades sonoras, cuja tarefa é


determinar a diferença de significado de uma palavra em relação a outra. Por
exemplo, a palavra ['kasa] "caça" se distingue de ['kaza] "casa" por dois fonemas
diferentes [s] e [z]. Esses tipos de segmentos que permitem distinguir o significado
em uma língua são chamados de fonemas. Assim, /s/ e /z/ são dois fonemas em
português, pois quando usados no mesmo contexto fonológico (mesmo lugar na
sílaba) distinguem itens lexicais em português (MORI, 2012).
Esses segmentos, chamados de fonemas, são partes constituintes da
linguagem humana, caracterizados pelo fato de serem as menores partes discretas
do sistema linguístico e serem linearmente organizados em diferentes línguas. O fato
de os segmentos serem as menores unidades de análise não significa que não
possam ser decompostos em unidades menores. Os fonemas são compostos de
funções que vêm juntas. Se tomarmos como exemplo o fone [p], este fonema possui
as seguintes propriedades, entre outras (SOUZA; SANTOS, 2016):
✓ [p]:
33
✓ + Consonantal
✓ − Vocálico
✓ − Nasal
✓ − Sonoro
Não é possível produzir uma batida após a outra (ou seja, produzi-las de
forma linear e contínua, o que permitiria a segmentação) - todas as batidas juntas
são necessárias para formar o som [p]. Mas é possível substituir o valor da linha. Se
a palavra [−sonoro] for substituída pela palavra [+sonoro], o som resultante é o
fonema [b] (SOUZA; SANTOS, 2016).
Sendo a linguagem um sistema de signos, podemos basicamente estudar
apenas os significados (por exemplo, focando apenas em suas propriedades físicas
ou materialidade), estudar as conexões existentes entre o significante e o
significado, ou o nível de expressão e conteúdo, é natureza mais claramente
linguística, porque diz respeito à relação básica dos sistemas de linguagem: a
função semiótica. Assim, os sons não são vistos simplesmente como sons em si
mesmos, mas como relações entre eles e relações que os conectam no nível do
conteúdo (SOUZA; SANTOS, 2016). Assim, um dos objetivos da fonologia é criar
sistemas fonológicos de línguas, ou seja, um conjunto de elementos abstratos
interconectados que os falantes usam para distinguir e delimitar as unidades
funcionais de sua língua (MORI, 2012).
O procedimento usual para identificar fonemas é procurar por duas palavras
significativas diferentes que compartilhem uma cadeia de som idêntica. Assim,
definimos /f/ e /v/ como fonemas separados em português (observe o uso de cruzes
na transcrição de fonemas) porque as palavras "faca" e "vaca" representam uma
oposição fonêmica. Dizemos que o par mínimo "faca/vaca" caracteriza os fonemas
/f, v/, por outro lado, em um ambiente idêntico. Algumas palavras são suficientes
para caracterizar dois fonemas (SILVA, 2003).
Em geral, dois sons diferentes, mas fisicamente semelhantes, podem agir
como se fossem elementos iguais ou diferentes. É a isso que Saussure se referia
quando desenvolveu o conceito de valor, que está relacionado a todo sistema
linguístico. O mesmo som encontrado em diferentes sistemas linguísticos pode
representar diferentes valores dependendo de sua relação com outros elementos
existentes. Assim, o valor de um elemento não é apenas o que ele é, mas também o

34
que ele não é, ou seja, de quais outros elementos ele é e de quais ele difere
(SOUZA; SANTOS, 2016).
Em conclusão, pode-se dizer que toda língua tem um número limitado de
sons cuja tarefa é distinguir o significado de uma palavra em relação a outra. Os
sons que desempenham esse papel são chamados de fonemas e ocorrem em séries
sintagmáticas que se combinam de acordo com as regras fonológicas de cada língua
(MORI, 2012).

6 CARACTERÍSTICAS DAS MUDANÇAS LINGUÍSTICAS

São chamadas de variações linguísticas as diferentes formas de falar o


idioma de uma nação, visto que a língua padrão de um país não é homogênea. O
sistema de línguas é formado por um conjunto de variantes que podem ser
socioculturais, estilísticos, regionais, etários e ocupacionais. Isso faz com que cada
grupo social, de diferentes ocupações, faixas etárias e regiões, criem o seu próprio
dialeto, que é a sua forma de comunicação coloquial. Desta maneira, é possível
perceber que as variações linguísticas estão presentes nas comunicações verbais
das pessoas, em diferentes partes do mundo. Elas ocorrem sob influências dos
contextos social, regional e histórico, em que tais processos de construção da fala
ajudam a caracterizar como o sujeito vai se comunicar com o seu grupo.
Segundo Faraco, (2008) uma língua viva sempre apresenta variações, isso
significa que, enquanto uma língua tiver falantes nativos, ela será dinâmica e
heterogênea. De acordo com Cecato (2017), descreve que a língua muda para se
conservar e é exatamente isso que acontece. Para entender de maneira mais
concreta essa afirmação, é possível comparar a língua a uma construção: sem
revisões periódicas, ela desmorona. Pode parecer paradoxal afirmar que a língua
muda para se conservar, mas é exatamente o que acontece.
Esse é um cenário que nos ajuda a entender o processo de mudança de
maneira geral. No âmbito das mudanças linguísticas, é importante exemplificar as
causas mais evidentes e como a mudança pode ser percebida no cotidiano. Para
tornar a compreensão desses aspectos mais clara, podemos empregar como
exemplo as hipóteses para descrever as mudanças ocorridas no português brasileiro
(PB): a hipótese evolucionista, que trabalha com a pressuposição de que a língua se

35
comporta como um ser biológico, obedecendo a um determinismo linguístico (o meio
determinaria a mudança); a hipótese crioulista, que fundamenta o contato entre a
língua do colonizador (português) e as línguas dos colonizados (africanos e
ameríndios) como criador de certas particularidades da nossa língua; e a internalista
(mais difundida que as outras), que propõe uma explicação interna ao sistema da
língua para as mudanças ocorridas (CECATO, 2017).
Cecato (2017), afirma que os estudiosos desses aspectos da língua
costumam dividir as mudanças em dois grupos: mudança linguística e mudança
gramatical ou lexical. O importante, nesse caso, é estar atento ao fato de que,
dependendo do estágio dos estudos linguísticos, uma ou outra explicação receberá
maior crédito. Também é interessante compreender que as leis que explicam as
mudanças sonoras são um resumo do que aconteceu em determinada área e em
determinado grupo de falantes, assim como a explicação com base em analogia e
empréstimo recobre apenas determinado conjunto de mudanças.
Outro conceito importante a ser abordado em relação às mudanças na língua
é a variação linguística, condicionada por: mudança gramatical ou lexical. Essa
mudança se dá quando um item lexical (palavra) ganha ou perde valor de uso na
própria língua. Afirma-se, por exemplo, que ele passa por processos de
gramaticalização quando assume outras funções que não desempenhava antes,
elementos como momento histórico e espaço geográfico. Podemos dividir os
estudos relacionados à variação linguística entre duas disciplinas essenciais: a
dialetologia e a sociolinguística. Os dialetólogos selecionam um recorte geográfico,
aplicam métodos de estudo para levantamento de características e, com base nos
resultados obtidos, são responsáveis por elaborar os atlas linguísticos, que contém o
mapeamento de sotaques e dialetos de determinado local. No Brasil, temos o Atlas
Linguístico do Brasil (Alib).
Enquanto a sociolinguística faz um recorte um pouco diferente da comunidade
de falantes a ser pesquisada: a extensão territorial abarcada é bem menor do que
aquela utilizada para compor um atlas. Além disso, há o emprego de outros métodos
de pesquisa, os quais procuram descrever se os falantes mudam o registro utilizado
conforme o gênero, a faixa etária, o nível sociocultural e o grau de formalidade. A
partir dos resultados obtidos, costuma-se fazer análises descrevendo regras que

36
promovem a variação do sistema, considerando fatores linguísticos e
extralinguísticos.

6.1 Modalidade linguísticas e variações

A linguagem é a ferramenta que nos permite comunicar, expressar


sentimentos, conhecimentos, expor nossas opiniões e, principalmente, nos insere no
convívio social. A língua é um mecanismo mutável e sofre variações segundo o
contexto social, histórico, geográfico e cultural em que é utilizada. Em um mesmo
país, com um único idioma oficial, a língua é passível de alterações feitas através do
uso por seus falantes. Essas variações conseguem conferir identidade ao
determinado grupo que as provocou, seja através do passar do tempo, nos
diferentes locais ou de acordo com fatores sociais e culturais.
Segundo Neves, (2023) a variação linguística é a mudança que a língua
apresenta devido à sua capacidade de transformação e adaptação. As línguas
apresentam variações porque são utilizadas por falantes inseridos em sociedades
complexas formadas por diferentes grupos sociais com diferentes práticas culturais e
níveis de escolaridade. Trata-se, pois, de objeto de estudo da Sociolinguística, ramo
que estuda como a divisão da sociedade em grupos – com diferentes culturas e
costumes – dá origem a diferentes formas de expressão da língua, as quais, embora
se baseiem nas normas impostas pela gramática prescritiva, adquirem regras e
características próprias
As variações linguísticas ocorrem nos âmbitos geográficos, temporais, sociais
e situacionais como, por exemplo:

• Variações diatópicas (regional ou geográfica): São variações da língua que


existem em diferentes lugares e regiões.
• Variações diacrônica (históricas): Variações linguísticas que existiram em
diferentes épocas, das mais antigas às mais modernas. Estão ligadas à
dinâmica da língua, que sofre transformações através do tempo. Esses tipos
de transformações podem se dar no âmbito da ortografia, como, por exemplo,
a palavra farmácia, antigamente, era escrita com ph ao invés do f. Outro
exemplo é no caso de palavras e expressões, como “janota e arrastar a asa”,
essas palavras caíram em desuso com o passar do tempo e hoje são
37
consideradas obsoleto. As gírias e expressões utilizadas pelos jovens ou
determinados grupos sociais, como os funkeiros e surfistas, vão sendo
também substituídas por outras com o passar do tempo.
• Variações situacionais (diafásica): variações linguísticas existentes conforme
a situação, o ou contexto do ato comunicativo, do mais informal ao mais
informal (NEVES, 2023).

6.1.1 Diatópica: variações regionais ou geográfica

Neves (2023), exemplifica o conceito sobre as variações de diatópica, que


também conhecidas como variações regionais ou geográficas, são influenciadas
pelo local de residência do falante e variam conforme a região. Esse tipo de
diferença ocorre porque diferentes regiões possuem diferentes culturas, diferentes
costumes, costumes e tradições, e diferentes estruturas linguísticas. Existem
palavras diferentes para o mesmo conceito em variações diatópicas como:

• Aipim, mandioca, macaxeira;


• Abóbora, jerimum, moranga;
• Sacolé, dindim, geladinho;
• Totó, pebolim, matraquilhos;
• Fruta-do-conde, pinha, ata, anoma.

Diferentes sotaques, dialetos e falares:


• dialeto caipira;
• dialeto gaúcho;
• dialeto baino;
• dialeto carioca;
• dialeto montanhês;
• dialeto nordestino.

Reduções de palavras e perda ou troca de fonemas:


• véio (velho);
• oiá (olhar);
• muié (mulher);

38
• cantá (cantar);
• enxovar (enxoval);
• oncotô (onde estou);
• pertim (pertinho);
• vambora (vamos embora).

6.1.2 Diacrônica: variações de linguística histórica

Variações diacrômicas também são conhecidas como variações históricas.


Estas variações ocorrem conforme as diferentes épocas dos falantes e permitem
distinguir entre o português antigo e moderno e algumas palavras que já não estão
em uso. A seguir, exemplos de variações diacrônicas (NEVES, 2023).

Palavras que caíram em desuso:


• vossemecê;
• botica;
• comprir;
• anóveas;
• asinha;
• sisa;
• suso.

Grafias que caíram em desuso:


• flôr;
• côr;
• seqüencia;
• pingüim
• pharmácia;
• therapeutico:
• annos;
• alliar;
• analyse.

Vocabulário e expressões típicas de uma determinada faixas etária:

39
• Você é um chato de galocha!
• Ele é maior barbeiro
• Vai catar coquinho
• Este quindim está supimpa!
• Acho que tem uma marmota aì...
• Ele deu uns tabefes no primo.

6.1.3 Diastrática: variações de linguística social

Variações diastráticas, também classificada como variação social, é a


variação que ocorre de acordo com os costumes e culturas de diferentes grupos
sociais. Diferenças desse tipo surgem porque diferentes grupos sociais têm
diferentes sistemas de conhecimento, comportamento e comunicação. Aqui está um
exemplo de uma variação diastólica (NEVES, 2023).

Gírias próprias de um grupo com interesse comum, como skatistas:


• Prefiro freetyle.
• O gringo tem um carrinho irado.
• O silk do skate tá insano.

6.2 Variação de registro, estilística ou diafásica

A variação de registro, estilística ou diafásica (diá do grego = phasis = expressão,


modo de falar) mostra a condição de um mesmo falante usar formas diferentes
dependendo da situação de comunicação em que se encontra, ou seja, suas
escolhas são feitas durante o processo de interação com o outro. E podem ser
caracterizados pelos meios usados para a comunicação como a própria fala, o e-
mail, o jornal, a carta, etc., (PAULISTA, 2016).

6.3 Diferentes níveis de linguagem

Se considerarmos que linguagem pode ser todo e qualquer tipo de


mensagem que conduza uma comunicação (verbal, visual, auditiva, etc.), podemos
começar a compreender que a linguagem se manifesta e ocorre em diferentes

40
níveis. Dentro da mesma lógica, também sabemos que existem variações na língua
para que ela se adéque a determinados contextos e que essas variações são de
diferentes classes. As variáveis a respeito da forma de produção linguística e as
apresentadas pela língua constituem os níveis de linguagem. Alguns linguistas
consideram níveis de linguagem apenas a diferença que se dá entre a forma
material que a língua é produzida (de forma oral ou escrita); outros, contudo,
caracterizam como níveis de linguagem as diferentes variações linguísticas numa
mesma língua. Nesta seção, portanto, consideraremos como níveis de linguagem as
duas acepções, de forma que compreenda as concordâncias entre emissor e
receptor para que uma mensagem seja compreendida, considerando tanto o meio
de produção linguística como as variações dela (CORTINA, 2018).

6.3.1 Linguagem Informal

É o tipo de linguagem mais natural e espontâneo, uma vez que não há,
necessariamente, uma preocupação em seguir uma norma culta da língua. Esse
nível de linguagem é utilizado quando a função da linguagem é mais importante do
que sua forma, de modo que a estruturação e as escolhas lexicais não seguem, à
risca, normas de formação. Exemplo desse nível são as conversas informais entre
amigos e qualquer outro tipo de linguagem utilizada de forma espontânea.
Geralmente, o nível coloquial de linguagem que também é conhecido como
popular (ou informal) é de apropriação de todos os falantes de uma língua, o que
não ocorre no nível formal (do qual somente alguns falantes se apropriam).
Como exemplo do nível coloquial, temos as gírias, expressões utilizadas por
determinados grupos sociais, em um certo recorte de tempo, mas não são aceitas
pelo nível da linguagem formal.

• Fala, garoto! Beleza?


• Rola um cineminha hoje?
• Cadê Pedro? Cê viu ele?
• Tá olhando para onde?
• Valeu, Luísa?

41
6.3.2 Linguagem Formal

De acordo com Cortina (2018), a linguagem culta é aquela considerada


canônica e ensinada nas escolas, respeitando regras gramaticais, formulações,
padrões, etc. Utilizada por pessoas consideradas “mais instruídas”, sendo
necessário o conhecimento de normas, regras e convenções. Por ser uma língua
que respeita regras e padrões, pode ser considerada rebuscada. Esse tipo de língua
é comumente encontrada na literatura e na grande maioria dos textos escritos.
O nível da linguagem culta diz respeito não somente às escolhas lexicais,
mas a toda e qualquer norma de formação dentro da língua. A utilização da norma
culta se torna um filtro social, uma vez que seu uso é limitado apenas por pessoas
com grau de instrução formal. Em consequência, algumas situações
comunicacionais podem tornar-se mais complexas para o grupo de pessoas sem a
apropriação da norma culta. É por essa razão que alguns textos e situações
comunicativas se tornam complexos para falantes que não se apropriam da
linguagem culta. No que se refere ao sentido, a norma culta pode se tornar um fator
complicador em situações comunicacionais entre alguém que a utilizou em uma
determinada situação na qual seu receptor não conhece esse tipo de língua. Um
exemplo é a linguagem jurídica ou médica, bastante rebuscada e confusa para quem
não tem instrução formal.

• Bom dia! Tudo bom com você?


• Querem ir ao cinema hoje?
• Onde está Srª Claudia? Você viu-a?
• Nós gostamos dele.
• Está olhando para onde?
• Muito obrigada, Luísa!

6.4 Preconceito linguístico

A área encarregada de estudar as variações linguísticas é a sociolinguística,


que não só analisa e estuda os diferentes tipos de variação como também
questiona as consequências culturais e sociais provenientes de variações.
Entre essas consequências, está o preconceito linguístico, que julga que uma
42
variação linguística é superior a outra. Sobre esse preconceito que surge o mito
de que "existem formas erradas de se falar", o que não é, puramente, verdade
(CORTINA, 2018).
Existem, obviamente, formas diferentes de se falar; contudo, o objetivo da fala
é criar um contexto comunicativo e transmitir uma mensagem. O modo de
transmiti-la pode variar e, de acordo com convenções, pode ser mais ou menos
apropriado para um determinado contexto. Entretanto, julgar que uma pessoa
"fala errado" porque ela se apropria de uma variação linguística diferente
da que estamos habituados é um erro grande, pois cada variação é
consequência de fatores históricos e culturais distintos.

7 LINGUÍSTICA GERAL E LINGUÍSTICA APLICADA

A Linguística é uma ciência cujo principal objeto de pesquisa é a linguagem.


No início do século passado, a abordagem da pesquisa em linguagem diferia da
pesquisa atual (ORLANDI, 2009). O desenvolvimento histórico da linguagem
interessa à filologia, profissão que estuda o registro das línguas e sua aparição em
textos escritos para apresentar a literatura e a cultura da época. Mesmo um linguista
profissional aprendendo um idioma já se concentrou na forma como o idioma é
falado e analisou os problemas decorrentes do uso do idioma.
O estudo da linguística é dividido em pelo menos dois grupos previamente
estudados: linguística sincrônica x linguística diacrônica e linguística teórica x
linguística aplicada. A linguística sincrônica descreve a linguagem em um momento
específico no tempo. A linguística diacrônica descreve uma língua com base em seu
desenvolvimento histórico, portanto, considera as mudanças na estrutura da língua.
O objetivo da linguística teórica é construir uma teoria geral do uso da linguagem.
Um dos objetivos da linguística aplicada é aplicar métodos de aprendizagem de
línguas descobertos durante a pesquisa linguística científica.
Muitas pessoas se interessam pelo estudo das línguas, seja através da
literatura, história, filosofia, ou outros interesses que nos façam conhecer e
compreender melhor a língua que falamos. A Linguística nos ajudou e nos ajuda a
entender melhor como funciona a língua que falamos. Entretanto, não é responsável
por explicar como funciona a regra da gramática em uma determinada língua, pois

43
este campo não prescreve ou dita regras de correção linguística, mas se interessa
em explicar a linguagem humana falada (ORLANDI, 2009) e "[...] tudo o que faz
parte de uma língua é de interesse da linguística". Este “todos” referem-se à
linguagem escrita e principalmente falada.
Em Orlandi (2009), há outra compreensão do que são consideradas as
tarefas básicas da natureza da linguagem. Esta função refere-se a um modelo de
comunicação onde existe um remetente que transmite uma mensagem a um
destinatário utilizando um canal para enviar essa mensagem.
Essa mensagem, por sua vez, é transmitida com códigos. Veja um esquema
simplificado na Figura 1.

Figura 1 – Elementos da Comunicação

Fonte: bit.ly/2G0C20q

Com base nesse modelo, classificamos as funções da linguagem da seguinte


forma:
✓ Expressiva, voltada para o editor;
✓ Conativo, focado no receptor;
✓ Referência, que tem como foco o objeto da comunicação;
✓ Fática, focado no canal que conecta o emissor e o receptor na mensagem;
✓ Poético, central na mensagem;
✓ Metalinguística, centrada no código (ORLANDI, 2009)

44
Figura 2 - Funções da Linguagem

Fonte: bit.ly/3xloYQG

Aprender um idioma nos leva a muitos caminhos. Por exemplo, estudar


linguística e métodos linguísticos nos leva a esses diferentes caminhos de análise da
linguagem. Nos trabalhos de pesquisa relacionados à linguagem, não se segue a
pesquisa categórica da teoria, conforme o modelo, apenas porque se pensa a
linguagem de várias maneiras, desde a ciência fundada por Saussure, enfatizando a
estrutura e a gerativismo no trabalho de pesquisa, focado no sistema linguístico.
Depois houve uma ruptura nessa reflexão da linguística e passaram a estudar outra
direção, geração-transformação, com outras áreas de pesquisa, como a
sociolinguística, a etnolinguística, etc.
A Linguística lida com o conhecimento da linguagem e das línguas humanas.
Uma determinada parte da língua, português ou inglês, é selecionada, por exemplo,
o uso dessas línguas no espaço e no tempo, identificando unidades de análise para
estudar sons, fonologia, vocabulário, morfologia, frases, sintaxe, semântica, texto,
etc. (MATEUS; VILLALVA, 2006).
A aprendizagem de línguas também é objeto de pesquisa da linguística, mais
precisamente da linguística aplicada. Além dos estudos de linguística aplicada, há
também outros estudos de linguagem - a teoria da expressão e o generativismo são
exemplos nesse campo. A aquisição da língua inclui duas áreas: aprendizagem da
língua materna e aquisição da segunda língua.

A aquisição da língua é um processo desencadeado de forma involuntária


em todas as crianças que atua de forma muito semelhante, apesar das
diferenças entre línguas aprendidas existirem. O processo de aquisição de

45
linguagem pode ser visto face aos dados linguísticos a que a criança tem
acesso. Este processo decorre num breve espaço de tempo e envolve uma
grande complexidade de operações (MATEUS; VILLALVA, 2006).

Segundo Mateus e Villalva (2006), o ensino de línguas é um dos campos


aplicados da linguística. Os autores falam sobre a hierarquia da aprendizagem, que
surge da complexidade dos fenômenos linguísticos. Com a ajuda dessas
informações, são criadas estratégias ou soluções adequadas para o problema de
consolidar as habilidades linguísticas do aluno. Nesta fase, o ensino da língua
materna é separado do ensino da língua estrangeira.
Língua materna é uma língua nativa que não é ensinada a falar. O que se
ensina ou se aprende é o uso santificado dessa língua com base, por exemplo, nas
regras da gramática. Uma língua estrangeira requer habilidades linguísticas
diferentes daqueles que não falam sua língua materna. Segundo Mateus e Villalva
(2006), na fase inicial de aquisição de uma segunda língua, a aprendizagem ocorre
por meio da similaridade da língua materna. Na aprendizagem, também há diferença
no controle da escrita e da fala. Essas duas competências envolvem diferentes
funções de linguagem.
A formação de professores de línguas e o campo da tradução também são
temas interessantes na linguística aplicada. E como vimos desde o início desta
seção, a linguística representa o início do estudo da linguística, referindo-se à
linguagem histórica e à própria linguagem. Seus estudos se desenvolveram e outras
áreas surgiram, como a linguística aplicada, o qual é um campo de estudo
independente da linguística aplicada.

7.1 O ensino da segunda língua

A língua é uma ferramenta para criar identidade, entender como valorizar


diferentes culturas e modos de vida e entender como se relacionar com as
mudanças no uso da língua sem desencadear preconceitos ou valores em favor de
outra língua.

Para a Linguística Aplicada, a Língua é compreendida com uma prática


social; logo o estudo da Língua implica o estudo da sociedade e da cultura
das quais ela faz parte. Essa perspectiva requer sua observação no uso que
se faz dela distintos contextos socioculturais por sujeito socialmente e
historicamente situados; dessa forma, não homogêneos (LOPES, 2006).

46
Nesse sentido, olhar para os desafios linguísticos e pensar sobre a estrutura
da sociedade é um esforço para mitigar preconceitos e desigualdades, pois um
determinado tipo de linguagem é construído por meio da interação social e de
aspectos geográficos e culturais. Cuidar do sujeito em seu contexto sócio-histórico é
estar atento aos desafios da educação, que priorizam a cultura e o ambiente social
da residência do aluno para unir os grupos sociais e fortalecer a existência e a
importância da educação em idiomas diferentes. De acordo com Cipriano (2018,
p. 112):
A abordagem de que há uma “língua mãe” sugere a existência das “línguas
filhotes”, das “irmãs bastardas” e ainda da “língua madrasta”. Tal
configuração atua com poder letal contra as línguas quando, por exemplo,
um indivíduo tem vergonha da sua própria língua, por esta não ser a “ideal”
para o mundo. Se existe o ódio para com as línguas mistas, isto é a versão
disfarçada do ódio à mistura das raças e das miscigenações (CIPRIANO,
2018).

As variedades linguísticas fazem parte do contexto social em que as pessoas


estão inseridas, e valorizar a diversidade cultural faz parte do processo de ensino e
aprendizagem sendo fundamentais para aprender diferenças.

7.2 Abordagens norteadoras para o ensino da segunda língua

O método de gramática e tradução (AGT) envolve o ensino de uma segunda


língua a partir da língua materna e pode ser entendido como o método de ensino
mais antigo e mais utilizado ao longo da história do ensino de línguas estrangeiras.
Segundo Souza (2003, p. 31), "a abordagem da AGT em gramática e
tradução consistia na preparação de um material composto principalmente por
extratos de obras sacras, explicações gramaticais detalhadas e inúmeros exercícios
de gramática e tradução". A estratégia de ensino correspondia, portanto, à leitura e
tradução de textos e estudos gramaticais da língua materna para a língua
estrangeira e da língua estrangeira para a língua materna para compreender a
estrutura da língua.
De acordo com Leffa (1998, p. 4):

Basicamente, a AGT consiste no ensino da segunda língua pela primeira.


Toda a informação necessária para construir uma frase, entender um texto
ou apreciar um autor é dada por explicações na língua materna do aluno.
Os três passos essenciais para a aprendizagem da língua são: (a)
memorização prévia de uma lista de palavras, (b) conhecimento das regras
necessárias para juntar essas palavras em frases e (c) exercícios de
47
tradução e versão (tema). É uma abordagem dedutiva, partindo sempre da
regra para o exemplo (LEFFA, 1998).

O AGT tem sido importante no ensino e aprendizagem de segunda língua,


embora haja muitas críticas aos métodos usados. No entanto, devido às mudanças
tecnológicas e sociais, surgiram novas necessidades e a AGT foi reconceituada e
reformulada, conduzindo a novas abordagens metodológicas.
O principal aspecto da abordagem direta, ou método direto, é o entendimento
de que uma segunda língua se aprende por meio de uma segunda língua,
separando o ensino e a aprendizagem da língua materna e considerando os sinais,
gestos, vocabulário e repetição constante como os principais recursos em adquirir
um segundo idioma sem considerar a necessidade de tradução. Segundo Leffa
(1998, p. 6):
O princípio fundamental da AD é de que a L2 se aprende através da L2; a
língua materna nunca deve ser usada na sala de aula. A transmissão do
significado dá- -se por gestos e gravuras, sem jamais recorrer à tradução. O
aluno deve aprender a “pensar na língua”. A ênfase está na língua oral, mas
a escrita pode ser introduzida já nas primeiras aulas (LEFFA, 1998).

A abordagem direta é tão antiga quanto a AGT; no entanto, é criticado pelo


pequeno número de professores fluentes, nativos ou qualificados e pela diferença
entre a língua materna natural de uma criança e o aprendizado de uma segunda
língua. Ao aprender uma primeira língua, a criança convive com a língua que está
sendo aprendida em diferentes contextos e possui diferentes processos cognitivos,
como memória, emocional e social, nos quais o aluno de língua estrangeira não está
envolvido.
O método ou abordagem áudio linguagem foi criado nos Estados Unidos e foi
praticamente um remake da abordagem direta porque visava acelerar a aquisição de
múltiplos idiomas por meio de estratégias de fala e escuta, promover transações e
negociações em benefício dos militares dos EUA. De acordo com Leffa (1998, p. 12):

Estava restabelecida a ênfase na língua oral. No momento em que se


equiparava a fala com a língua, o que não fosse fala também não era
língua. Daí que ensinar a leitura não era ensinar a língua, já que a escrita
era uma fotografia muito malfeita da fala. A implicação pedagógica dessa
premissa era de que o aluno deveria primeiro ouvir e falar, depois ler e
escrever; como acontece individualmente na aprendizagem da língua
materna e como acontece com os povos em geral, que só aprendem a
escrever muito após terem aprendido a falar (LEFFA, 1998).

A principal proposta dessa abordagem é melhorar a compreensão oral e


auditiva de forma que a escrita e a leitura não sejam consideradas no processo de
48
aquisição da segunda língua, ou seja, a língua é aprendida por meio da prática e da
repetição. O objetivo da abordagem de comunicação foi ampliar e repensar a
abordagem áudio-linguagem, partindo do princípio do ensino da língua por meio de
técnicas de construção de habilidades: ler, falar, escrever e ouvir, entendendo a
interdependência da linguagem e da comunicação: "O objetivo é não para descrever
a forma da linguagem, mas o que é feito pela linguagem" (LEFFA, 1998).
Assim, ler, falar, escrever e ouvir tiveram que ser integrados em situações
reais de comunicação para desenvolver estratégias reais de uso da linguagem; os
temas discutidos nas aulas devem estar relacionados com a vida do aluno para
fazerem parte do seu dia a dia. No ensino e aprendizagem, o objetivo foi agregar
textos baseados na língua ensinada, que estimulem a comunicação em sala de aula
e façam o professor atuar como estimulador e iniciador da aprendizagem dos alunos.
A abordagem comunicativa pode ser entendida como o uso da linguagem em
situações cotidianas, onde a gramática é explicada em um momento da aula.
Segundo Almeida Filho (2007, p. 82), a abordagem comunicativa não é um conjunto
de técnicas ou um modelo de design, mas a adoção de princípios mais amplos, com
foco no processo, em determinadas formas de aprendizagem e no ensino de uma
segunda língua". Além disso, a abordagem comunicativa “[...], segundo este autor,
organiza as experiências de aprendizagem em atividades/tarefas que satisfaçam o
real interesse e/ou necessidade do aluno, para que ele possa utilizar a língua-alvo
para atividades autênticas na comunicação com outros falantes-usuários desta
língua” (ALMEIDA FILHO, 2013).
O papel da abordagem comunicativa no ensino e aprendizagem é fazer com
que o aluno compreenda a língua e seus usos em contextos sociais e em diferentes
situações de vida. As habilidades de comunicação devem estar alinhadas com o
desenvolvimento do ensino e aprendizagem e focar nas habilidades: ler, falar,
escrever e ouvir. De acordo com Souza (2003, p. 40):

A abordagem comunicativa se caracteriza por: considerar a competência


comunicativa como objetivo central do processo ensino/aprendizagem; a
interação entre os aprendizes como o objetivo da prática didática; a ênfase
nas estratégias de negociação de significados visando o desenvolvimento
da interação e, finalmente, a busca pela integração das quatro habilidades
de forma conjunta e harmônica (SOUZA,2003).

Para ensinar a expressão oral e escrita no ambiente escolar e nas situações


cotidianas dos alunos, é necessário, portanto, pensar no planejamento de atividades
49
relacionadas à compreensão, produção oral e produção escrita, com base na “[...]
escola”, uma atividade sistematicamente organizada em torno de um gênero textual,
falado ou escrito” (SCHNEUWLY; DOLZ, 2004).
Usamos textos falados ou escritos para comunicar e adaptamo-nos a
diferentes situações de comunicação, pelo que os gêneros textuais são criados
conforme as necessidades específicas de comunicação. Nesse sentido, deve-se
ressaltar que o professor deve dominar as funções de organização da sequência
didática e planejamento das práticas. Segundo Dolz, Noverraz e Schneuwly (2004),
o objetivo da sequência didática é justamente ajudar o aluno a adquirir melhor o
gênero textual para que ele possa escrever ou falar de forma mais adequada na
comunicação dada a situação”.
A sequência didática é apresentada como método de sistematização do
planejamento didático e como importante iniciador do processo de ensino e
aprendizagem, pois promove o ensino de gêneros voltados para a interação e
comunicação no ambiente escolar.

8 A LÍNGUA INGLESA AO LONGO DA HISTÓRIA

Com uma história de aproximadamente 1.500 anos, a origem e o


desenvolvimento da língua inglesa se dividem em três períodos distintos:

Old English - a primeira forma do idioma, em voga entre os séculos V e XI;


Middle English - seu desenvolvimento médio, dos séculos XI ao XVI;
Modern English - a forma moderna do idioma, do século XVI aos dias atuais.

O inglês ocorre nas línguas faladas pelos povos germânicos que ocuparam a
área da atual Inglaterra desde o século V, com destaque para os anglos e saxões.
Desde então, o idioma que começou a aparecer nas Ilhas Britânicas foi
originalmente chamado de "Old English", "Anglo-Saxon" ou mesmo "English", que
significa "língua dos ângulos".
Sem precedentes, a língua inglesa conquistou cada vez mais espaço em
diversas áreas do conhecimento. Além disso, não há registro histórico de nenhuma
outra língua ter atingido o nível desta língua, e atualmente ela possui mais falantes
estrangeiros do que falantes nativos. Ao longo dos séculos, o inglês ocupou vários
50
papéis, desde um idioma falado pela sociedade inglesa desfavorecida no século XIX
até um idioma global (LE BRETON, 2005), ou inglês como língua franca
(RAJAGOPALAN, 2005), no século XXI.
O vocabulário da língua se desenvolve pouco a pouco e, com a introdução do
cristianismo, as palavras latinas e gregas são as primeiras a influenciar. Os últimos
conquistadores escandinavos, que falavam nórdico (nórdico antigo, que
provavelmente se assemelhava ao dialeto falado pelos povos anglo-saxões),
também influenciaram a língua inglesa. O inglês antigo é um idioma, que foi
preservado em várias fontes, como livros de runas, traduções complexas da Bíblia e
vários fragmentos.
Alguns eventos históricos foram decisivos para o "crescimento" da língua
inglesa, e esse "crescimento" pode ser explicado tanto pelo viés estatístico quanto
pela geopolítica. Naturalmente, a população humana cresceu e o idioma que eles
falavam também - o que tornou o idioma mais representativo e diplomático
internacionalmente.
Do berço da língua inglesa à Inglaterra, começamos nossa discussão com a
Batalha de Hastings em 1066. Foi, sem dúvida, um dos eventos históricos políticos
mais importantes, tanto em termos da constituição do Reino da Inglaterra quanto de
sua futura introdução. A Batalha de Hastings foi travada em 1 de outubro de 1066,
perto de Hastings, Inglaterra, entre os exércitos inglês e normando. O resultado foi
uma vitória devastadora para os normandos e a morte do governador militar inglês,
encerrando quase duzentos (200) anos de domínio normando no reino inglês
(BLOCK, 2006).
O próximo estágio da língua, o inglês médio, provavelmente começa com a
Batalha de Hastings, onde o rei Guilherme, o Conquistador, estabeleceu suas
próprias leis, sistema de governo e idioma francês. Dessa forma, novas palavras são
incorporadas à linguagem falada das pessoas comuns, ou seja, servos e escravos.
Mais tarde, muitas das novas expressões foram usadas na corte e no militarismo,
alcançando um alto status social. Para Block (2006), aquela batalha representou não
só uma grande reorganização política como também mudou os rumos da língua
inglesa, pois foi a última invasão “linguística”, neste caso de origem normanda, que a
região presenciou.
A principal diferença entre o inglês antigo e o inglês médio está na gramática,

51
especialmente nas áreas sintática e analítica. O inglês moderno, conhecido através
das obras de William Shakespeare, geralmente data de 1550, quando a Grã-
Bretanha se tornou um império colonial que se espalhou por todos os continentes.
Em geral, a diferença entre o inglês antigo e o inglês moderno é a forma
escrita, a pronúncia, o vocabulário e a gramática. Comparado ao inglês moderno, o
inglês antigo é quase irreconhecível em termos de pronúncia, vocabulário e
gramática. Para um falante nativo de inglês moderno, menos de 15% das 54
palavras do Pai Nosso são reconhecíveis por escrito e provavelmente nenhuma
seria reconhecível quando falada. Em outro exemplo, a palavra "stan" corresponde a
"stone" no inglês moderno.
Essa diferença entre a forma original do inglês e sua forma atual é explicada
por 1.500 anos de desenvolvimento durante os quais o inglês foi influenciado por
outras línguas, incluindo celta, latim e francês. Sem falar no vocabulário acumulado
das mais diversas línguas pelo mundo com a expansão do Império Britânico no
século XIX e a posterior expansão dos Estados Unidos.
A língua inglesa começa a tomar novos rumos no século XVI - quando
fracassaram as primeiras tentativas de colonizar o continente norte-americano. Os
ingleses que vieram para o "Novo Mundo" não eram um grupo homogêneo, mas
pertenciam a diferentes grupos sociais, principalmente de classes sociais mais
baixas ou mesmo pessoas indesejáveis à coroa inglesa.
A própria London Company declarou em 1625 que seu objetivo era "remover
o fardo dos pobres, materiais ou combustível para rebeliões perigosas e, assim,
deixar mais recursos para o sustento daqueles que permanecem no país". [...]
(BLOCK, 2006). Quando esses imigrantes se estabeleceram em diferentes áreas da
Costa Leste dos Estados Unidos, eles trouxeram consigo uma cultura própria, uma
cultura que se misturou à cultura nativa e se adaptou à nova realidade que esses
imigrantes encontraram na nova área. Isso dá origem a uma nova variante linguística
do inglês - a primeira de muitas que surgiram ao longo dos séculos. Isso mostra
como o inglês, embora inicialmente "negado" pelos governantes normandos, se
destacou até atingir o status de língua oficial da nação. Isso por si só fala da
supremacia que o idioma terá no futuro. Mas, para Le Breton (2005, p. 1 -15), o fato
de o inglês ocupar um lugar importante em relação a outras línguas se deve a
algumas peculiaridades, tais como:

52
De modo semelhante à maioria das línguas modernas, talvez até mais que
as outras, o inglês é uma língua compósita, que reúne contribuições celtas,
latinas, francesas, germânicas, para falar exclusivamente das principais [...]
A língua inglesa, que era uma língua nacional nos séculos XVI e XVII,
tornou-se língua imperial nos séculos XVIII e XIX e, por fim, língua mundial
durante a segunda metade do século XIX (LE BRETON, 2005, p. 14-15).

Assim, é notória a influência da língua inglesa no mundo atual. O mesmo


autor acrescenta que o inglês domina quase todos os campos profissionais, além de
ser a língua dos livros, dos esportes, da diplomacia, da música, das ciências, para
citar apenas alguns dos principais campos e situações em que o inglês é
fundamental entender indivíduos ou atores às vezes nesses contextos.

8.1 Língua global

Que a língua é a identidade de uma nação parece ser uma verdade


amplamente aceita. Mas, o que é linguagem? Segundo o linguista suíço Ferdinand
de Saussure (2012), a língua é um produto social que inclui um conjunto de práticas
que os falantes adotam e consideram necessárias porque permite que as pessoas
se comuniquem.
A linguagem é o que dá voz a pessoas de diferentes lugares e crenças,
incorpora e expressa o que as pessoas querem comunicar. Os estudos da primeira
língua datam do século IV a.C. e inicialmente focado em questões religiosas. Mais
tarde, o interesse pela pesquisa linguística começou a se expandir: por exemplo, os
gregos se interessaram pelo conceito de palavra, ou seja, definir o seu significado.
Passaram-se anos desde o primeiro interesse pelos estudos da linguagem, quando
no século XX a disciplina ganhou uma base mais científica através das pesquisas de
Ferdinand de Saussure e surgiu como um campo de pesquisa: a linguística (FIORIN,
2019).
Geograficamente e historicamente, além dos aspectos religiosos, políticos,
econômicos e sociais moldaram e influenciaram a língua que cada nação fala hoje.
Assim, toda nação colonizada herdou a língua de seu colonizador ou pelo menos
usa a língua de seu colonizador como língua oficial. Por exemplo, os Estados Unidos
e a Austrália foram colônias da Inglaterra, e a língua nativa desses países é o inglês.
O Brasil foi colonizado por Portugal e a língua nativa do nosso país é o português. E

53
também espanhol, francês, etc. A história conta como e por que alguns povos foram
colonizadores e outros, mas o fato é que a língua foi determinante nesse jogo de
poder (FIORIN, 2019).
E, quantas línguas existem no mundo? É difícil definir, mas existem milhares
de idiomas. Desde o surgimento da linguagem humana, muitas línguas nasceram e
morreram, e essa dinâmica dificulta o cálculo do número de línguas faladas no
mundo (CRYSTAL, 2012). Sabemos que o inglês é uma língua global e também é a
língua nativa ou nativa de britânicos, norte-americanos, australianos, etc. e é
também a segunda língua de muitas nações que escolheu aprender e estudar inglês
para se comunicar com outras nacionalidades (CRYSTAL, 2003). São esses
diferentes povos e culturas que usam o inglês para se comunicar entre si que o
tornam um idioma verdadeiramente global, não um monte de matérias-primas.
Portanto, não devemos esperar que um idioma se torne global devido ao
número de falantes, porque, se isso acontecesse, o mandarim seria o idioma global
hoje porque tem 1,1 bilhão de falantes nativos, sendo considerado a versão
linguística dominante da maioria dos idiomas, o país mais populoso do planeta
(ETHNOLOGUE, 2020). No entanto, quando pensamos em uma língua global, não
estamos lidando apenas com fatores numéricos, mas também com o papel
específico da língua em diferentes países.
Segundo Crystal (2003), uma língua global também apresenta riscos em
termos de poder linguístico, pois, um falante nativo de inglês sempre tem mais
vantagens em relação a um estrangeiro aprendendo inglês como segunda língua
que dificilmente é tão fluente quanto um falante nativo, principalmente na academia.
Na opinião do autor, a única chance de um falante de língua estrangeira superar
essa desvantagem linguística é conseguir ler inglês desde cedo na escola.
Outro risco que Crystal (2003) menciona está relacionado à complacência
linguística: devido à importância do inglês hoje, há adultos que podem perder a
motivação para aprender uma segunda língua, por acharem que basta saber inglês.
E, o pior é que esse fenômeno acontece tanto com falantes nativos quanto com não
nativos. Isso é contrário à história recente da humanidade porque apenas algumas
décadas atrás, a pessoa média estatisticamente falava mais de três idiomas
(DIAMOND, 2014).
Uma última ameaça mencionada por Crystal (2003) é a morte da língua, pois

54
uma língua soberana pode fazer desaparecer as línguas minoritárias. Por causa de
as línguas serem inerentemente dinâmicas e adquirem características que as
afetam, esta minoria de falantes absorve os efeitos da língua global, moldando e
diluindo a sua língua materna até esta desaparecer.
São questões em aberto que ainda merecem muita discussão. Não podemos
afirmar que o poder linguístico, a satisfação linguística e a morte linguística afetam
totalmente as línguas que não são consideradas globais. Sabemos que cada pessoa
tem sua própria identidade, e essa identidade deriva de características expressas
em sua cultura, expressas por meio da linguagem (ANTUNES, 2009).
Como vimos até agora, uma língua global tem muitos motivos. Aproveitando a
influência dessa linguagem global, é preciso entender seus riscos. Por exemplo, os
países europeus valorizam sua cultura e identidade, e mesmo que tenham
consciência de aprender inglês e de sua importância como língua global, não deixam
que isso lhes tire a identidade: francês na França, alemão na Alemanha, italiano na
Itália, e assim por diante.

8.2 Ascensão do inglês

Normalmente, a primeira coisa que aprendemos em um idioma é o


vocabulário. Então aprendemos a fazer combinações porque a linguagem não
consiste em palavras isoladas. Formamos frases a partir das combinações que
aprendemos a fazer. Começamos com os simples e depois seguimos e começamos
a formar frases mais complexas, como frases compostas. A partir daí, podemos
conversar habilmente em alguns idiomas como falantes nativos e com estrangeiros
que falam outros idiomas.
O inglês é considerado a língua mais aprendida no mundo e existem
dificuldades em aprendê-la (CRYSTAL, 2003). Para alguns, aprender inglês é uma
alegria porque gostam da sonoridade do idioma e querem viajar e ter independência
para se comunicar, o que aumenta a importância do idioma. Para outros, o inglês é
uma pedra no sapato. O fato é que, o inglês é considerado um idioma global, ou o
idioma mais comum do mundo. Mas, não é soberano para sempre pelos motivos já
discutidos na seção anterior. Ascensão e queda de diferentes nações e suas
culturas não são previsíveis. A situação com a Inglaterra não difere e isso não é uma

55
previsão, mas a ordem natural da história. Isso não significa que os dias da língua
inglesa estão contados; no entanto, o futuro desta linguagem deve ser visto
objetivamente.
Crystal (2003) levanta a questão do status do inglês como língua global e seu
futuro. Como já foi dito, não podemos prever com precisão a ascensão e queda de
um idioma porque está relacionado à cultura e à identidade de um povo.
Mencionamos anteriormente que o latim influenciou o inglês e todos nós
aprendemos sobre a ascensão e queda de Roma na escola. Isso significa que a
história está repleta de ascendentes, colonizadores e colonizadores, influenciadores
e influenciadores. Cada era da história marca a vitória e a derrota dependendo das
diferentes circunstâncias das nações conquistadoras e das outras nações
conquistadas.
Analisando as condições da língua inglesa, entretanto, ela não parece perder
sua posição como língua global, pois ainda ocupa uma posição favorável. Uma
suposição é a existência da língua inglesa em diferentes partes do mundo,
influenciada pela cultura de cada local. Como argumenta Crystal (2003), o latim era
considerado uma língua estável porque seu mundo era a Europa, de modo que
poderia permanecer linguisticamente fixo. Em nossa experiência, não podemos dizer
o mesmo em inglês, não é?
E pode-se dizer que a difusão do inglês enfraqueceria a estabilidade da
língua. Acabamos de ver que existem diferenças entre o inglês britânico e o
americano. Sabemos também que o inglês é falado e tem estatuto de língua oficial
nos países do continente africano. Será que os falantes de inglês nesses países
africanos seguem as regras gramaticais e usam o vocabulário, exatamente como os
ingleses? A resposta é não.
Em geral, o inglês muda em cada campo em que entra, mudando para cada
pessoa que o fala e se moldando conforme as necessidades de cada lugar. Isso é
natural, porque como a língua é falada por tantas pessoas em tantas partes
diferentes do mundo, a mudança é inevitável. Falantes de inglês como segunda
língua (L2) desenvolvem seu inglês porque querem falar sobre sua cultura, história e
experiências. Ao contrário dos falantes nativos de inglês que não conhecem o outro
lado da língua falada por estrangeiros, os falantes de segunda língua modificam o
inglês à sua maneira. No entanto, continuamos a aprender inglês padrão enquanto

56
frequentamos uma escola de idiomas.
De qualquer forma, como mostra Crystal (2205), a experiência de na África do
Sul, alguns países, como os do continente africano, adotaram o inglês como língua
oficial e passaram a utilizá-lo conforme suas necessidades, modificando-o em um
novo inglês. Nas palavras do autor:

Queremos expressar nossa identidade através da língua e nos comunicar


inteligivelmente através dela. Queremos ser diferentes e iguais. E a coisa
mais esplêndida sobre o uso da língua pelos seres humanos é o fato de isso
ser perfeitamente possível. É o tipo de situação com que o cérebro
multifuncional lida muito bem. Podemos ter nosso bolo e comê-lo. Uma das
principais descobertas da linguística do século XX foi demonstrar a
capacidade extraordinária do cérebro para a língua. Uma das
consequências foi a observação de que o bilinguismo e o multilinguismo são
a condição humana normal. Muito mais da metade das pessoas no mundo,
talvez dois terços, é bilíngue (CRYSTAL, 2005, p. 48).

Com essas palavras, encerramos aqui a última aula desta disciplina. O


percurso realizado possibilitou a você, prezado(a) aluno(a) conhecimentos
propedêuticos dos estudos linguísticos. Desejamos bons estudos e uma boa
avaliação dos conteúdos.

57
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