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Um Conceito Multifacetado
Salamanca, ES
2019
Jackeline Susann Souza da Silva
ACESSIBILIDADE EDUCACIONAL
Um Conceito Multifacetado
Versão Digital
3° Edição Revista
Copyright © 2019
Todos os direitos reservados.
Jackeline Susann Souza da Silva
Parte I
Conceituando a Acessibilidade no Contexto Histórico, Político e Legal
Emergência Histórica e Primeiras Definições de Acessibilidade
Modelo Médico da Deficiência e a ausência da Acessibilidade na integração
educacional
Influência do Paradigma da Inclusão nas Diretrizes de Acessibilidade
Parte II
Uma sociedade desenhada para as diferenças humanas
Desenho Universal
Dignidade Humana e Adaptação Razoável
Equidade de Oportunidade
Parte III
Tipos de Acessibilidade: Transcendendo os Limites do Discurso Oficial
em Direção a uma Concepção Cultural
Tipos de Acessibilidade no Contexto Educacional
Acessibilidade Atitudinal
Acessibilidade Pedagógico-Curricular
Acessibilidade Comunicacional e Informacional
Acessibilidade Arquitetônica
Considerações finais
Referências
INTRODUÇÃO
Considerando esses pontos gerais, este livro tem como objetivo introduzir o
conceito de acessibilidade no contexto educacional. Este conceito é aqui
explanado de diferentes perspectivas: nas diretrizes mundiais como na
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU, 2006), no
campo do Direito e da Educação e no contexto da cultura, das relações de
poder, das diferenças e da identidade.
Este livro faz uma correlação entre o que diz o discurso oficial e sua
aplicabilidade na vida cotidiana em que inclusão, exclusão e acessibilidade
não são vistas como conceitos objetivos, contínuos e lineares, mas como
princípios indissociáveis e interdependentes, particularmente quando se trata
da interação entre pessoas, ambientes e tecnologias.
A acessibilidade nasceu e vem se ampliando no movimento protagonizado
pelas próprias pessoas com deficiência. Assim, neste texto, este conceito é
pensado como um princípio desenvolvido, sobretudo, com base nas
especificidades da vida desse grupo social.
Da segunda metade do século passado até essa década houve grande avanço
e conquista legal para as pessoas com deficiência. Hoje as políticas
reconhecem a deficiência não apenas como uma características individual e
biológica, mas como uma marca construída em meio às barreiras sociais. Tais
transformações tiveram grande impacto nos sistemas de ensino comum do
país, sobretudo, com a introdução do princípio de acessibilidade nas pautas
nacionais e internacionais, conforme discutido neste capítulo.
Em 1971, a Lei n° 5692 (art. 9°) revogou a LDB de 1961 e estabeleceu que
os alunos com “deficiências físicas ou mentais, os que se encontrem em
atraso considerável quanto à idade regular de matrícula e os superdotados”
teriam o direito a um ‘tratamento especial’. Mas, assim como a primeira
LDB, esta nova lei não trouxe especificações sobre a mudança do sistema de
ensino formal para receber os estudantes com deficiência.
A década de 1990 foi marcada pelo resgate e avanço das discussões acerca
dos direitos humanos. O discurso internacional (ONU, 1990, 1993, 1994)
passou a defender inclusão, liberdade, igualdade e democracia. Por isso,
metas para (re)formulações legislativas e propostas para ação afirmativa em
prol de grupos vulneráveis foram focos da política educacional brasileira. Foi
neste momento que a palavra acessibilidade inseriu-se na legislação nacional,
conforme apresentado a seguir.
As pessoas com mobilidade reduzida são aquelas com idade igual ou superior
a 60 anos, gestantes, pessoas com criança de colo e todas as pessoas sem
deficiência que em determinado momento de sua vida, apresentem uma
condição temporária de impedimento físico ou redução da mobilidade
(BRASIL, 5296/2004, Art. 5°). A flexibilidade da lei de acessibilidade ao
ampliar o público beneficiário permite a interpretação de que todas as
pessoas, em algum momento da vida, sentirão a necessidade de serem
contempladas pela acessibilidade seja em razão, por exemplo, de gravidez,
acidente ou por chegar à terceira idade. Esta é uma forma de assumir,
portanto, a relevância da acessibilidade na vida da população em geral.
PARTE II
Uma Sociedade Desenhada para as Diferenças Humanas
Desenho Universal
As pessoas com deficiência têm sido por séculos expostas a sólidas barreiras
e mantidas em uma posição de desigualdade com relação às pessoas sem
deficiência. Reduzidas à condição de ‘coisa’, este grupo social
sistematicamente vive experiências de discriminação, preconceito,
exploração, negligência, abandono, segregação e isolamento (AINSCOW,
1993; FERREIRA, 2006; ALBINO; 2010; SOARES, 2010; DANTAS, 2011;
MELLO, FERNANDES, 2013), as quais juntas atentam contra a sua
dignidade humana, representam a violação de seus direitos constitucionais e
comprometem a realização do seu direito à cidadania.
Equidade de Oportunidade
Acessibilidade Atitudinal
A atitude é um comportamento pessoal comum aos indivíduos, uma
tendência interna que fundamenta uma reação favorável ou desfavorável, com
graus diferentes, a objetos, situações, proposições e pessoas (GUILFORD,
1954). Por exemplo, indagar pessoas distintas sobre o que acham a respeito
de uma pessoa com deficiência intelectual ter acesso ao ensino superior,
seguramente, suscitará reações de espanto e descrença ou até de apoio e
defesa deste direito.
Nesta linha, Eagly e Chaiken (2007, p.1) definem atitude como uma
tendência psicológica que se manifesta por meio de um processo avaliativo
de uma entidade em particular com algum grau de posição favorável ou
desfavorável:
No caso das pessoas com deficiência, a mudança de atitude tem a ver tanto
com a percepção da comunidade escolar sobre esses estudantes e também
com a visão das pessoas sem deficiência sobre elas mesmas, no qual deve-se
investir em um movimento constante de desestabilização dos princípios da
(a)normalidade e capacitismo (MELLO, FERNANDES, 2013; SILVA,
2014).
Acessibilidade Pedagógico-Curricular
Acessibilidade Arquitetônica
Nesta linha, o Plano Viver sem Limites, lançado em 2011 através do Decreto
7.612, indica como eixos principais (I) o acesso à educação; (II) a atenção à
saúde; (III) a inclusão social e (IV) a acessibilidade. Nessas áreas, o Plano
previu o investimento de 7,5 bilhões até 2014. Em seu texto, ao tratar da
acessibilidade, o decreto determinou novamente ‘a construção de um sistema
educacional inclusivo’, assim como a garantia de equipamentos para
acessibilidade, incluindo transportes acessíveis.
...
Nesta linha, este livro trouxe a discussão sobre acessibilidade atitudinal que
tem relação com a conduta individual e coletiva antidiscriminatória. Neste
caso, são incentivados novos valores culturais que se baseiam na
desconstrução de preconceitos, discriminações e estigmas que têm
consequências nocivas para pessoas com deficiência e outros grupos
estereotipados. Na escola, a acessibilidade atitudinal deve coibir qualquer
tipo de discriminação em relação às pessoas com deficiência por meio da
conscientização da comunidade a respeito dos direitos deste grupo social.
ALBINO, I. B. Acesso e Permanência na Universidade Federal do Rio Grande do Norte sob o Ponto
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