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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

ANTONELLA SPINELLI PACIELLO

FALSIFICAÇÃO ATRAVÉS DE RASURA EM DOCUMENTO:


FALSIDADE IDEOLÓGICA OU MATERIAL?

Florianópolis
2016
ANTONELLA SPINELLI PACIELLO

FALSIFICAÇÃO ATRAVÉS DE RASURA EM DOCUMENTO:


FALSIDADE IDEOLÓGICA OU MATERIAL?

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Graduação em Direito, da
Universidade do Sul de Santa Catarina, como
requisito parcial para obtenção do título de
Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Aldo Nunes da Silva Jr., Major da Polícia Militar do Estado de Santa
Catarina e Professor de Direito Penal e Processual Penal na UNISUL

Florianópolis
2016
Dedico este trabalho aos meus pais, por todo
amor que me ofereceram ao longo de suas
vidas. Ao meu namorado, por me incentivar e
apoiar a todo momento. Aos meus familiares,
pelo carinho costumeiro.
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, pelos momentos em que a fé não me deixou


esmorecer e pelas oportunidades a mim concedidas.
Aos meus pais, por se sacrificarem para a realização de um sonho nosso.
Ao meu professor orientador Major – PM Aldo Nunes da Silva Júnior, por toda a
dedicação, paciência e instrução necessárias para a conclusão deste trabalho.
A todos os professores desta academia, por dedicarem seu tempo para transmitirem
o saber por eles adquirido.
A esta universidade, por consolidar a minha paixão pelo Direito.
“Teu dever é lutar pelo Direito, mas no dia em que encontrares em conflito o direito
e a justiça, luta pela justiça” (Eduardo Couture).
RESUMO

O trabalho busca analisar a questão da rasura com a finalidade de alterar fato juridicamente
relevante e sua tipificação no Direito Penal. A falsificação de documento é incriminada, pois
viola a fé pública, bem juridicamente relevante que diz respeito à veracidade de certidões e
documentos. O Código Penal Brasileiro tipifica a falsificação de documento público (art. 297
do CP), a falsificação de documento particular (art. 298 do CP), a falsidade ideológica (art. 299
do CP) e o uso de documento falso (art. 304 do CP). Os artigos 297 e 298 do CP criminalizam
a falsificação ou alteração de documento, seja ele público ou particular. Por vezes esbarra-se
em conflitos aparentes dessas normas penais, havendo para isso princípios a serem aplicados:
especialidade, subsidiariedade, consunção e alternatividade. A rasura em documento, tema do
trabalho, pode ser grosseira ou idônea. Caso seja grosseira e não engane a coletividade,
caracteriza-se o crime impossível (art. 17, CP) ou o estelionato (art. 171, CP), quando o agente
induz ou mantém outrem em erro. A rasura idônea, no entanto, é entendida pela doutrina e pela
jurisprudência majoritária como falsidade material. Isso se dá porque esta falsidade concerne
ao exterior do documento, necessitando de perícia para sua certificação. A rasura, portanto,
configura alteração no documento, elemento do tipo penal de falsificação de documento público
ou particular.
Palavras-chave: Rasura. Falsidade Material. Falsidade Ideológica.
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................... 9
2 DA FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO ....................................................................... 12
2.1 HISTÓRICO ....................................................................................................................... 12
2.2 CONCEITO DE DOCUMENTO ....................................................................................... 16
2.2.1 Falsificação de documento público .............................................................................. 17
2.2.2 Falsificação de documento particular .......................................................................... 19
2.3 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA..................................................................................... 21
2.4 FALSIFICAÇÃO SEGUIDA DO USO DO DOCUMENTO FALSO .............................. 22
2.5 CLASSIFICAÇÃO JURÍDICA .......................................................................................... 23
3 DA FALSIDADE IDEOLÓGICA ...................................................................................... 26
3.1 CONCEITO ........................................................................................................................ 27
3.2 DISTINÇÃO ENTRE A FALSIDADE MATERIAL ........................................................ 28
3.3 REQUISITOS DA FALSIDADE IDEOLÓGICA ............................................................. 29
3.4 USO DE DOCUMENTO FALSO (ART. 304) .................................................................. 30
3.5 CONFLITO APARENTE DE NORMAS .......................................................................... 32
3.5.1 Princípios aplicáveis ao conflito aparente de normas ................................................ 34
3.6 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA..................................................................................... 36
3.7 CLASSIFICAÇÃO JURÍDICA .......................................................................................... 37
4 A RASURA EM DOCUMENTO COM O FIM DE ALTERAR FATO
JURIDICAMENTE RELEVANTE ...................................................................................... 38
4.1 ANÁLISE DOUTRINÁRIA .............................................................................................. 39
4.2 ANÁLISE JURISPRUDENCIAL ...................................................................................... 41
4.2.1 A rasura como falsidade ideológica ............................................................................. 41
4.2.2 A rasura como falsidade material ................................................................................ 43
5 CONCLUSÃO...................................................................................................................... 50
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 52
9

1 INTRODUÇÃO

Como pré-requisito ao diploma do Curso de Direito da Universidade do Sul de


Santa Catarina, desenvolve-se este Trabalho de Conclusão de Curso sob o título de
“Falsificação Através de Rasura em Documento: Falsidade Ideológica ou Material?”
A escolha do tema se deve ao fato de que, apesar de inúmeras doutrinas e julgados
pacificarem o entendimento a respeito da rasura em documento, há divergência em algumas
decisões e dificuldade em diferenciar os institutos da falsidade ideológica e material inclusive
entre os acadêmicos do curso de Direito.
A Fé Pública é de suma importância para o Estado pois diz respeito à crença que os
indivíduos têm perante documentos e certidões emanados pelo Poder Público. Além de
documentos essencialmente públicos, há a tutela de documentos equiparados (art. 297, §2º, CP)
e até documentos particulares (art. 298, CP), pois estes produzem efeitos jurídicos que o Estado
também visa proteger.
Sem esta presunção de veracidade que se impõe a documentos, as relações jurídicas
ficariam conturbadas, implicando a cada indivíduo provar a autenticidade de documentos e
certidões a todo instante.
Estuda-se a Fé Pública na linha do tempo através do histórico de leis concernentes
à falsificação de documento, sendo a primeira que se tem conhecimento a “Lex Cornelia
testamentaria nummaria” em 78 a.C. Importa também estudar a falsificação de documento
público na história, no Direito e suas consequências.
O objetivo geral desta pesquisa é determinar se a falsificação através da rasura em
documento caracteriza falsidade material ou ideológica. Para tal, cuida-se dos objetivos
específicos: abordar os crimes contra a Fé Pública, identificar o crime de falsidade material,
identificar o crime de falsidade ideológica e analisar a rasura em documento com o fim de
alterar fato juridicamente relevante.
Portanto, no primeiro capítulo estudam-se os conceitos de Fé Pública e documento,
o histórico de falsificações e tipificações deste delito ao longo dos anos, a falsificação de
documento público, de documento particular, as classificações jurídicas das respectivas
falsidades, a consumação e tentativa destes crimes e a falsificação seguida do uso de documento
falso.
A este capítulo inicial cabe a identificação do crime de falsidade material, cuja
definição principal é a de modificação na estrutura do documento. Caso a falsificação seja
idônea, apta a iludir, cumpre à análise pericial a comprovação do delito.
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Em seguida, no segundo capítulo, identifica-se o crime de falsidade ideológica,


através de seu conceito, seus requisitos, classificação, consumação e tentativa, da divergência
entre esta falsidade e a falsidade material, os possíveis conflitos aparentes de norma e os
princípios aplicáveis, além de identificar o uso de documento falso (art. 304, CP).
No último capítulo adentra-se no cerne da temática proposta por este trabalho, por
meio da análise da rasura com o fim de alterar fato juridicamente relevante. Esta tarefa será
cumprida através da retomada de conceitos de falsidade material e ideológica, além de
apresentação de conceitos novos.
O capítulo responderá o objetivo geral proposto por este trabalho através da
identificação da rasura em documento como sendo falsidade material ou ideológica. Caso seja
falsidade material, cabe ainda a tipificação do delito como falsificação de documento público
(art. 297, CP) ou falsificação de documento particular (art. 298, CP).
Importante para o entendimento do terceiro capítulo, o fato juridicamente relevante
para a doutrina é aquele que provoca efeitos nas relações jurídicas e pode ofender direito de
outrem, ameaçando as tutelas do Direito Penal. Estas tutelas estatais se relacionam com as
garantias do Estado Democrático de Direito e estão sob observância da Teoria Finalista do
Direito Penal.
A Teoria Finalista da Ação foi adotada por nosso Código Penal e relaciona a
tipicidade de um fato ao dolo ou culpa, ao animus do agente. A análise da intenção do agente
dá causa, por exemplo, ao erro de tipo, em que objetivamente a conduta é punível, mas
subjetivamente não o é.
Em consonância com esta teoria, o último capítulo trará julgados em que o crime
se configura pela simples contrafação do documento, tendo em vista que o autor do delito agiu
com intenção de prejudicar. Se observará das decisões colhidas que muitas vezes o crime se
configurou independente da produção de dano.
O método de abordagem será o dedutivo, tendo o racionalismo como base, o qual
utiliza a razão para atingir o conhecimento necessário. Utiliza-se então o silogismo, na medida
em que duas premissas originarão uma terceira, logicamente decorrente (conclusão).
A pesquisa será bibliográfica com objetivo exploratório. Para isso, utiliza-se o
estudo de jurisprudência, artigos, legislação vigente e doutrinas, principalmente do Direito
Penal.
O trabalho, como mencionado, está dividido em três capítulos: Da Falsificação de
Documento, Da Falsidade Ideológica e A Rasura com o Fim de Alterar Fato Juridicamente
Relevante.
11
12

2 DA FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO

Com vistas a atingir os objetivos expectados, o primeiro capítulo tratará da


Falsificação de Documento, abrangendo sua tipificação, o objeto jurídico tutelado, o histórico
de falsidade documental, o conceito de documento e as falsificações de documento público e
particular.
Este capítulo abordará ainda a consumação e tentativa do crime de falsidade
documental, a falsificação seguida do uso do documento e a classificação jurídica do referido
delito.
Iniciando o estudo, a falsificação de documento insere-se como tipo penal descrito
no Capítulo III do Título X do Código Penal Brasileiro. O referido título abarca os Crimes
Contra a Fé Pública e é de suma importância para que haja credibilidade de documento nas
relações sociais.
Esta confiança que os cidadãos têm com os papeis públicos, ou seja, com a
autenticidade de documentos públicos, é chamada de fé pública. Portanto, se torna necessário
ao progresso que não haja a obrigação incessante de se provar a autenticidade de papeis e
documentos em transações ou demonstrações de um fato. (JESUS, 2012, p. 37).
Para Capez (2012, p. 342),

Toda vez que alguém, por exemplo, falsifica um documento público, isto é, cria
materialmente um documento semelhante ao verdadeiro, há uma quebra nessa
confiança geral, isto é, na crença de que os documentos emitidos pelo Poder Público
são legítimos. [...] as pessoas, assim, passam a desconfiar da presunção de veracidade
dos documentos, o que ocasiona verdadeira insegurança jurídica.

Por este motivo existe a tutela do objeto “fé pública”, que por vezes se estende de
forma secundária a outros interesses, como por exemplo no crime de moeda falsa, em que se
protege inclusive o patrimônio do sujeito passivo que porventura venha a receber a contrafeita
moeda. (JESUS, 2012, p. 37).

2.1 HISTÓRICO

No que tange ao histórico da proteção ao objeto jurídico do documento, volta-se a


78 a.C. para trazer à baila a lei mais antiga de que se tem conhecimento a respeito do delito de
falso, a Lex Cornelia testamentaria nummaria. (PRADO, 2008, p. 328)
Esta lei foi posteriormente chamada de Lex Cornelia de falsis, e previa punição para
a falsificação de documento particular, para a falsidade monetária e a falsidade dos testamentos.
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Não havia, contudo, distinção na lei entre falsidade pública e falsidade documental. (PRADO,
2008, p. 328).
Posteriormente, no Século VI, o Código Visigótico (Codex Legum Visigothorum),
previa como tendo efeitos jurídicos determinados documentos e vigeu na Península Ibérica,
influenciando os germânicos, principalmente os visigodos. (GUERREIRO, 2014, p. 2).
O Título V - Livro II do referido Código estipulava “[...] sanções para quem
falsificasse assinaturas ou documentos, por vontade própria ou mediante coação.”
(GUERREIRO, 2014, p. 3)
Ainda sobre o Código Visigótico:

Ora, perante a contemplação destes comportamentos num diploma que geria a ordem
pública, é evidente que a preocupação com os documentos que entravam em
circulação na esfera jurídica já se fazia sentir, especialmente os contratos e toda a
legislação que dissesse respeito à família (GUERREIRO, 2014. p. 3)

Já na era moderna, destacam-se as Ordenações Afonsinas, conjunto de leis


promulgadas em Portugal durante o reinado de Dom Afonso V por conterem um livro dedicado
exclusivamente aos delitos e penas, à imagem do que se possui hoje no Direito Penal.
(GUERREIRO, 2014. p. 4)
Sua importância se dá para o histórico de falsidades documentais na medida em
que:

[...] do (sic) título XXXVIII sob a epígrafe ‘Do que ufa de Efcripturas ou Teftemunhas
falfas fem cometendo alguma falfidade’, já era legislado, ainda que de forma muito
superficial, sobre o que nos dias de hoje se considera o crime de Falsificação ou
Contrafação de Documento. (GUERREIRO, 2014. p. 4).

Sucessoras das Ordenações Afonsinas no Brasil, as Ordenações Filipinas não


previam expressamente a existência de falsificação de documento particular, deixando este
delito a cargo de outra possível tipificação. (PRADO, 2008, p. 328).
No entanto, o Título LII do Livro V destas Ordenações tutela expressamente o
documento público, pois trata dos que falsificam sinal ou selo do Rei, ou outros sinais autênticos
ou selos. As penas previstas para estes crimes podiam ser degradação para o Brasil, perda de
bens para a coroa, degradação por dez anos para a África e até mesmo pena de morte.
(QUINTO..., 1202).
Avançando na linha do tempo, o Código Criminal do Império penalizava “[...]
genericamente a falsificação de ‘qualquer escritura, papel ou assinatura’, indistintamente”
(PRADO, 2008, p. 328), conforme se vê a seguir:
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Art. 167. Fabricar qualquer escriptura, papel, ou assignatura falsa, em que não tiver
convindo a pessoa, a quem se attribuir, ou de que ella ficar em plena ignorancia.
Fazer em uma escriptura, ou papel verdadeiro, alguma alteração, da qual resulte a do
seu sentido.
Supprimir qualquer escriptura ou papel verdadeiro.
Usar de escriptura, ou papel falso, ou falsificado, como se fosse verdadeiro, sabendo
que o não é.
Concorrer para a falsidade, ou como testemunha, ou por outro qualquer modo.
Penas - de prisão com trabalho por dous mezes a quatro annos, e de multa de cinco a
vinte por cento do dano causado, ou que se poderia causar. (BRASIL, 1830).

Mais adiante, o Título V – Capítulo II do Código Penal de 1890,

[...] no Título V, Capítulo II, tratando das falsidades no âmbito da tutela da fé pública,
já conferia tratamento diferenciado às falsidades de documentos públicos e
particulares, contemplando-as em seções distintas e, estranhamente, impondo penas
geralmente mais severas à falsificação de documentos privados. (PRADO, 2008, p.
328).

Abrem-se parênteses para mencionar que o referido Código fora escrito às pressas,
sendo esta a causa para o excesso de falhas e penas severas, culminando com a apresentação de
um novo projeto de Código apenas três anos depois. (CUANO; CUANO, 2001).
Destarte:

Por muito tempo as idéias (sic) de reformas ficaram sem êxito, e o Código foi
acrescendo de alterações e aditamentos, para sanar-lhes os defeitos, completá-lo às
novas condições práticas e cientificas. Essas leis esparsas retificadoras ou
complementares do Código, o desembargador Vicente Piragibe, complicou (sic) e
sistematizou em um corpo de disposições que denominou Consolidação das Leis
Penais, tornando oficial, por Decreto de 14 de dezembro de 1932.
(CUANO; CUANO, 2001).

Assim, de acordo com o Decreto, oficializou-se a Consolidação das Leis Penais,


cujo artigo 258 tratava do crime de falsidade de escrito ou papel particular, separado da
falsificação de documento público, como se vê no código vigente. (PRADO, 2008, p. 328).
Com relação à falsidade documental no Direito e na História, há inúmeros exemplos
de falsidades notáveis para ambas as áreas. Observa-se:
“Um deles, talvez o maior de todos, é o do Constitutum Constantini pelo qual o
imperador Constantino teria doado ao Vaticano, ou mais precisamente ao Papa Silvestre, o
Palácio de Latrão, Roma, além de todas as províncias e cidades da Itália e do Ocidente.”
(FRANCO, 1997, p. 226).
A esse respeito o livro Relações de Força, Ginzburg (2002, p. 64-65) alude não só
à ilegitimidade do documento, tendo em vista que Constantino era apenas administrador do
império, como também à falsidade deste. No capítulo “Lorenzo Valla e a doação de
Constantino”, Ginzburg explicita que “[...] a opinião que prevalece hoje entre os estudiosos é
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que o constitutum tenha sido redigido nas dependências da chancelaria pontifícia por volta de
meados do século VIII, para fornecer uma base pseudo legal às pretensões papais ao poder
temporal”.
Prosseguindo nas falsidades documentais históricas, há ainda a divisão do Novo
Mundo entre Espanha e Portugal através do Tratado de Tordesilhas. O já citado artigo de Franco
discorre a respeito da falsidade de autenticação do Tratado, tendo em vista que um pesquisador
descobriu ser falso o selo autenticador deste documento. Explica: “Isso porque o exemplar
encontrado em Santos, no Mosteiro do Carmo, revela que o selo aplicado a via arquivada na
Torre do Tombo é de Jaime, o Conquistador, que viveu no século XIII, dois séculos antes [...].”
(FRANCO, 1997, p. 229).
Episódio bastante lembrado no histórico brasileiro é o das cartas falsas atribuídas a
Artur Bernardes, que resultou em uma celeuma entre o então candidato à presidência e os
militares. Franco esclarece que a carta continha tratamento rude para com os militares e ainda
referência ao ex-presidente Hermes da Fonseca como “sargentão sem compostura”. (FRANCO,
1997, p. 229)
Tendo em vista a negação de autoria de Artur Bernardes, a carta fora submetida à
exames grafotécnicos, os quais divergiram em relação à falsidade. Segundo Franco,

Para reforçar seu instrumental defensivo, Artur Bernardes obteve de Rui Barbosa
parecer opinando pela falsidade, com base em presunções estritamente jurídicas, tais
como o de que só merece ser questionado o documento suspeito de falsidade se tiver,
pelo menos, procedência aceitável. (FRANCO, 1997, p. 230).

Mencionando bibliografia de Afonso Arinos de Melo Franco, traz uma passagem


em que “Melo Franco dá detalhes a respeito da participação de Irineu no episódio das ‘cartas
falsas’, quando o mesmo manteve contatos com os falsários e viu nas cartas algo ‘muito bom
para destruir a candidatura Artur Bernardes.’” (FRANCO, 1955, p. 126)
Franco (1997, p. 231) prossegue: “Outro falso atualmente confesso, e por isso
inquestionável, foi o famoso plano Cohen, com base no qual o general Góis Monteiro pediu a
Getúlio Vargas, e obteve, a ruptura da ordem constitucional e a instituição do Estado Novo”.
Para Mezzaroba (1992, p. 1) o plano foi fundamental no sucesso da instauração do
Estado Novo por Getúlio, tendo em vista a comoção e aprovação da população para a
implementação de medidas emergenciais que salvariam a nação.
Segundo o mesmo autor, “[...] o contexto geral, a gravidade maior do Plano Cohen,
está, justamente, na irresponsabilidade das autoridades da época, ao dar publicidade a um
documento, sabendo-se da sua falsidade.” (MEZZAROBA, 1992, p. 5).
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Assim, nota-se a importância que o Estado dá à tutela da fé pública e


particularmente do documento para prevenir acontecimentos que se assemelhem às celeumas
históricas aqui apresentadas.
Para melhor entendimento do delito de falsidade documental, a seção a seguir se
incumbirá de analisar o objeto material da tutela estatal.

2.2 CONCEITO DE DOCUMENTO

Antes mesmo de estudar o crime de falsidade documental, necessária se torna a


conceituação do objeto jurídico tutelado neste tipo penal, ou seja, a “coisa” sob a qual recai a
conduta delituosa do agente.
Nos parágrafos que seguem parte-se de uma premissa ampla para posteriormente
analisar-se o tema tendo em vista conceitos e subdivisões jurídico doutrinárias, que especificam
o tipo do documento.
Para a língua portuguesa o conceito de documento nada mais é do que “sm (lat
documentu) 1 Dir Instrumento escrito que, por direito, faz fé daquilo que atesta; escritura,
título, contrato, certificado, comprovante 2 Escrito ou impresso que fornece informação ou
prova”. (MICHAELIS, 2009).
Historicamente, “[...] a concepção de documento se definiu como prova dos fatos,
seguindo a inspiração do modelo de Lorenzo Valla. Este modelo foi validado pela concepção
cientificista de documento, e traduziu a afirmação da objetividade do conhecimento como
dado”. (KNAUSS, 2006, p. 102).
Lorenzo Valla fora um estudioso que passou a reunir provas para demonstrar a
falsidade da Doação de Constantino à Igreja. Deve-se destacar que Valla foi mencionado neste
trabalho (item 2.1) em oportunidade anterior, tendo dado nome ao capítulo do livro de Ginzburg
a respeito da descoberta de falsificação no Constitutum Constantini.
Para Mirabete (2009, p. 200),

A lei penal, porém, ao referir-se a documento, considera-o em sentido bem mais


restrito. Podemos conceitua-lo como toda peça escrita que condensa graficamente o
pensamento de alguém, podendo provar um fato ou a realização de algum ato dotado
de significação ou relevância jurídica

Consoante esta definição que alude a um sentido restrito de documento para o


direito penal, nota-se o artigo 232 do Código de Processo Penal, cujo conteúdo transcreve-se a
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seguir: “Art. 232. Consideram-se documentos quaisquer escritos, instrumentos ou papéis,


públicos ou particulares”. (BRASIL, 1941).
Deve-se, no entanto, atentar para o fato de que no Direito a “[...] característica
essencial do documento é a relevância jurídica do escrito, ou seja, que a expressão do
pensamento nele contido tenha possibilidade de gerar consequências no plano jurídico.”
(MIRABETE, 2009, p. 201)
Capez destaca ainda que o documento deve possuir a identificação do autor por
meio de assinatura, no entanto esta falta pode ser suprida quando pelo conteúdo do documento
pode-se entender a quem pertence a autoria. (CAPEZ, 2012)
Concluindo a temática, recorre-se à ideia de que futuramente os conceitos acima
apresentados se alterarão, haja vista que com a evolução da eletrônica e da informática o
documento deixará paulatinamente a forma escrita para se tornar digital, e consequentemente
as assinaturas e sinais, tanto públicos como privados, serão substituídos por certificações
eletrônicas. (GIRÃO, 2012, p. 114-115).

2.2.1 Falsificação de documento público

A falsificação de documento público insere-se no artigo 297 do Código Penal.


Doutrinariamente se classifica como falsidade material, excetuando os incisos do §3º, que
caracterizam a falsidade ideológica. (GIRÃO, 2012, p. 123).
A esse respeito, Rogério Greco demonstra contrariedade ao acréscimo dos
parágrafos 3º e 4º pela Lei 9.983/2000 ao delito de falsificação de documento público:

Isso porque, antes da mencionada alteração, o delito de falsificação de documento


público somente previa falsidade de natureza material. Agora, com os novos
parágrafos, o tipo penal foi transformado em uma figura híbrida, pois prevê, em seus
parágrafos, falsidade ideológica. (GRECO, 2016, p. 593).

Faz-se necessário destacar:

Art. 297 - Falsificar, no todo ou em parte, documento público, ou alterar documento


público verdadeiro:
Pena - reclusão, de dois a seis anos, e multa. (GRECO, 2016, p. 593).

Ao analisar-se o caput do artigo 297, depreende-se que as condutas incriminadas


neste tipo penal são a de falsificar (total ou parcialmente) documento público ou alterar
documento público verdadeiro. Neste sentido, Prado explana:
18

A ação de falsificar pode se concretizar por qualquer forma, mediante contrafação


(isto é, fabricação de uma cópia falsa, similar a um modelo verdadeiro), fabricação
(formação de um documento falso ao qual não corresponda um verdadeiro
semelhante) ou modificação, pelo acréscimo, adulteração ou supressão de partes do
conteúdo do documento (rasura de nomes, substituição de fotos, modificação de datas
etc.), de modo a adulterar seu sentido original, levando-o a exprimir coisa diferente
do que primitivamente atestava. (PRADO, 2008, p. 318).

Tal explicação é corroborada por Estefam, ao dizer que “[...] a conduta ‘falsificar’
tem o sentido de fabricar, contrafazer, formar”, já “[...] a conduta ‘alterar’ tem o sentido de
modificar documento verdadeiro, quer nele introduzindo dizeres, quer os subtraindo, de modo
que o documento não seja mais o primitivo.” (ESTEFAM, 2008, p. 314).
No entanto, “[...] é preciso que o documento sobre o qual incide a conduta do sujeito
seja verdadeiro. O documento já previamente falso não pode ser objeto do crime, porque nova
falsificação em documento que já era falso é inócua.” Porém, caso o autor do delito aperfeiçoe
a falsificação anteriormente inócua, permitindo que esta seja apta a enganar terceiros, o crime
se torna então penalizável. (PRADO, 2008, p. 320).
Nesta seara, “[...] caso o documento criado ou modificado não imite a verdade, mas
ainda sim cause dano patrimonial, é possível falar em outro crime, como estelionato.” (GIRÃO,
2012, p. 121).
Para motivos de classificação dos documentos públicos, a doutrina os divide em
formal e substancialmente público ou formalmente público, mas substancialmente privado.
Capez esclarece que esta distinção se dá basicamente pela natureza do conteúdo destes
documentos. (CAPEZ, 2012, p. 370).
Embora ambos sejam emanados por funcionário público, o documento
substancialmente público possui um conteúdo de natureza pública. O documento
substancialmente privado, no entanto, possui conteúdo de natureza particular (interesses
particulares). (CAPEZ, 2012, p. 370-371).
Importante salientar que a própria Lei elenca os documentos públicos por
equiparação (art. 297, §2º), quais sejam: o documento público emanado de entidade paraestatal,
o título ao portador ou transmissível por endosso, as ações de sociedade comercial, os livros
mercantis e o testamento particular.
São também documentos públicos “[...] os traslados, fotocópias com autenticação
e as certidões.” (JESUS, 2012, p. 83). Porém, “[...] as cópias não autenticadas (fotocópias,
xerox), no plano criminal, não são consideradas documentos”. (JESUS, 2012, p. 83).
Concernente ao sujeito ativo do delito, este pode ser qualquer pessoa, visto que a
falsificação de documento público se trata de crime comum. A exceção se encontra no §1º do
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art. 297, que trata do funcionário público no exercício de sua função. (ESTEFAM, 2008, p.
313).
Desta forma, “[...] no caso de ser o agente funcionário público e cometer o delito
prevalecendo-se de tal condição” haverá “[...] a exasperação de sexta parte da pena, por força
do §1º”. Já “as condutas incriminadas tanto no caput quanto nos §§ 3º. e 4º. do artigo 297 são
punidas com reclusão, de dois a seis anos, e multa. (PRADO, 2008, p. 324).
“Questão de interesse neste delito é a do concurso eventual de agentes, pois são
coautores do crime os intermediários entre o falsificador e o destinatário do documento
falsificado.” (GIRÃO, 2012, p. 121).
Quanto a análise do sujeito passivo, este é o Estado, detentor da Fé Pública tutelada.
Em decorrência desta legitimidade, a ação penal é pública incondicionada à manifestação da
vítima. (PRADO, 2008, p. 324).
Não se afasta, entretanto, a inclusão do “[...] particular eventualmente prejudicado
pelo documento público falsificado” no polo passivo. (ESTEFAM, 2008, p. 313).
O momento consumativo do delito merece análise, já que existem duas correntes
doutrinárias divergentes a esse respeito.
A primeira defende que a consumação se dá no momento da falsificação,
independente de resultado posterior. “Para a segunda, o uso que faz surgir o dano potencial é o
único apto a consumar o delito.” (GIRÃO, 2012, p. 121).
Por fim, a cominação da pena deste delito é de 2 (dois) a 6 (seis) anos, além da
multa, sendo esta aplicada em conjunto com a pena privativa de liberdade. Tendo isto em vista,
o procedimento é ordinário, não cabendo competência aos Juizados Especiais Criminais.
(GIRÃO, 2012, p. 122).

2.2.2 Falsificação de documento particular

Tendo em vista que o documento público possui um maior resguardo do Estado,


tendo em vista possuir presunção de veracidade necessária à segurança jurídica, o documento
particular também é tutelado, apesar de possuir objeto material diferente, visando punir as já
citadas condutas do item anterior. (PRADO, 2008, p. 327).
Aqui, a segurança jurídica também seria afetada caso não houvesse adequação do
documento particular às normas legais vigentes. “É esta confiança na obediência de normas
públicas pelo documento particular que resta afetada no caso da falsidade do crime sob estudo.”
(GIRÃO, 2012, p. 124-125).
20

No mesmo sentido,

[...] impõe a exigência de veracidade e confiabilidade a toda manifestação de vontade


corporificada num documento capaz de produzir efeitos jurídicos, mesmo que restrito
às relações interindividuais e alheio às atividades ou interesses diretos do poder
público. (PRADO, 2008, p. 327).

Assim sendo, a função do Estado na tutela do documento particular é a de se manter


“[...] como garante das normas pelas quais devem pautar-se as relações interindividuais.”
(HUNGRIA, p. 22-23 apud PRADO, 2008, p. 320).
A falsificação de documento particular encontra-se então pautada no artigo 298 do
Código Penal, a seguir transcrito:
“Art. 298 - Falsificar, no todo ou em parte, documento particular ou alterar
documento particular verdadeiro: Pena - reclusão, de um a cinco anos, e multa.” (BRASIL,
1940).
O objeto material aqui tutelado pode ser caracterizado “[...], por um critério de
exclusão: é todo aquele que não esteja compreendido como documento público, ainda que por
equiparação” (PRADO, 2008, p. 329). Damásio ressalta ainda que “[...] o documento público,
quando nulo por vício de forma, é considerado documento particular.” (JESUS, 2012, p. 90).
Ressalva-se uma recente modificação no artigo 298, que acrescentou um parágrafo
único ao crime de falsificação de documento particular. Este parágrafo fora introduzido pela
Lei nº 12.737 de 2012 para equiparar a documento particular os cartões de débito ou crédito.
(BRASIL, 2012a).
Em decorrência do aumento no uso de cartões de crédito ou débito e da diminuição
de compras por meio de emissão de cheques, Greco explica que “[...] o número de falsificações
dessa modalidade equiparada de documento particular cresceu na mesma proporção, exigindo,
igualmente, uma resposta do legislador, a fim de preservar as relações de consumo.” (GRECO,
2016, p. 601).
Consoante à falsificação de documento público, a contrafação de documento
particular é um crime comum que pode ser realizado por qualquer pessoa e seu sujeito passivo
continua sendo o Estado. Também aqui a pessoa que sofrer o dano pode ser sujeito passivo
secundário e os elementos objetivos do tipo residem nos verbos “falsificar” e “alterar”. (JESUS,
2012, p. 89).
A diferença entre os dois tipos de falsificação (pública e particular) reside,
principalmente, na autoria do documento. Para Damásio, o documento particular “[...] não tem
21

formalidade especial, é feito por um particular, não sofrendo a intervenção de um funcionário


público.” (JESUS, 2012, p. 90).
Pode ocorrer no delito a existência de concurso eventual de agentes, pois “[...] são
coautores do crime os intermediários entre o falsificador e o destinatário do documento
falsificado.” (GIRÃO, 2012, p. 126).
“Não é preciso, pois, que o agente tenha sido impelido por um especial interesse de
prejudicar terceiro ou de obter vantagem como decorrência do falso, malgrado a potencialidade
para tanto seja essencial à existência do delito”. (PRADO, 2008, p. 330).
A pena prevista é de reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos e multa, e a competência
para julgar este crime é da Justiça Estadual. “Se houver seu posterior uso, poderá fixar-se a
competência da Justiça Federal na hipótese de ser lesado interesse da União, de suas autarquias
ou de suas empresas públicas.” (PRADO, 2008, p. 331).
Este delito segue os moldes do crime de falsificação de documento público no que
tange ao tipo da ação penal, que é pública e incondicionada. Mas difere do artigo 297 ao admitir
a suspensão condicional do processo, de acordo com a Lei 9.099/95. (PRADO, 2008, p. 331).
Por fim, a falsificação de documento particular aceita a mera possibilidade de
ocorrência de dano para o reconhecimento do delito. Isto se deve ao fato de que esta falsificação
pode ser de “perigo abstrato”, ou seja, existe risco de que o documento seja usado a qualquer
hora, provocando o dano. (GIRÃO, 2012, p. 126).

2.3 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

Visto que os crimes contra a fé pública abalam uma crença que a população tem
perante a veracidade dos documentos, a consumação destes delitos independe de prejuízo para
a vítima. Desta forma, caracterizam-se estes crimes como formais, e “[...] o eventual dano a
bens jurídicos individuais (liberdade pessoal, patrimônio etc.), provocado pela falsificação,
aberra da órbita do crime, e, por isso, não é requisito da consumação.” (AMARAL, 2000, p.
111).
Defendendo a existência de tentativa para os crimes formais, Sylvio do Amaral
explicita que “[...] o que propicia a concepção do conatus não é o fato de tratar-se de crime de
resultado, mas o de ser delito que se desenvolve através de um iter criminis, e este requisito é
contradiço também em crimes formais, como se sabe.” (AMARAL, 2000, p. 112-113).
Em consonância com este pensamento encontra-se Capez (2012, p. 373) ao dizer
que “[...] o conatus ocorrerá se, por exemplo, o agente, estando no início do processo de
22

formação da escritura pública falsa, tendo preenchido apenas algumas linhas, é surpreendido
por terceiro.”
O autor Sylvio do Amaral conclui que, com “[...] exceção da forma omissiva da
falsidade ideológica e dos crimes de uso de documento falso (que se aperfeiçoam com o
primeiro ato de uso), todos os crimes de falso, embora formais, admitem juridicamente a
tentativa”. (AMARAL, 2000, p. 115).
Em decorrência deste pensamento, Sylvio compara ainda, em nota de rodapé de sua
doutrina, os crimes de dano com os crimes de falso:

Ora, assim como em relação aos crimes de dano a tentativa ocorre no momento em
que para o bem jurídico atacado criou-se um perigo de dano, assim também,
paralelamente, para os crimes que se aperfeiçoam com a só possibilidade de prejuízo
(como a falsidade documental), é possível definir como tentativa a ação que chega a
representar um perigo de criar-se aquela possibilidade (o chamado perigo de perigo).
(AMARAL, 2000. p. 115).

Capez atenta para o fato de que “[...] é necessário que a falsificação seja apta a iludir
terceiro, que tenha potencialidade ofensiva, pois, se grosseira, absolutamente idônea a enganar,
não haverá o crime em questão.” (CAPEZ, 2012, p. 373).
Todavia, há divergência doutrinária a respeito do tema, sendo que a posição
favorável à existência de tentativa defende a natureza plurissubsistente do delito. Para a posição
contrária, “[...] é juridicamente impossível a tentativa do delito porque já se cuida de delito de
perigo, sendo que o ato anterior que não chega a causar perigo é irrelevante para a punição
penal.” (GIRÃO, 2012, p. 121).
Contudo, há consenso no sentido de que este crime é formal, sendo irrelevante a
produção de resultado danoso para a sua consumação, competindo à próxima seção a análise
do delito caso o agente que falsificou use o documento falso.

2.4 FALSIFICAÇÃO SEGUIDA DO USO DO DOCUMENTO FALSO

Quando da falsificação seguida do uso do documento falso, entende-se que a


falsificação absorve o outro crime. Neste sentido, preleciona Damásio:
“Se na mesma pessoa reúnem-se as figuras de falsário e usuário, ela responde por
um só delito: o de falsidade, que absorve o de uso (CP, art. 304). O uso, nesse caso, funciona
como post factum impunível, aplicando-se o princípio da consunção na denominada progressão
criminosa” (JESUS, 2012, p. 88).
23

Na jurisprudência juntada a seguir, destaca-se que, quando o autor e o usuário da


falsidade encerram-se sob a mesma pessoa, o delito de uso de documento falso é absorvido:

[...] CARÁTER IMPUNÍVEL DO USO POSTERIOR, PELO FALSIFICADOR, DO


DOCUMENTO POR ELE PRÓPRIO FORJADO - ABSORÇÃO, EM TAL
HIPÓTESE, DO CRIME DE USO DE DOCUMENTO FALSO (CP, ART. 304)
PELO DELITO DE FALSIFICAÇÃO DOCUMENTAL (CP, ART. 297, NO CASO),
DE COMPETÊNCIA, NA ESPÉCIE, DO PODER JUDICIÁRIO LOCAL - PEDIDO
INDEFERIDO. - O uso dos papéis falsificados, quando praticado pelo próprio
autor da falsificação, configura "post factum" não punível, mero exaurimento
do "crimen falsi", respondendo o falsário, em tal hipótese, pelo delito de
falsificação de documento público (CP, art. 297) ou, conforme o caso, pelo crime
de falsificação de documento particular (CP, art. 298). (BRASIL, 2004, grifo
nosso).

Na mesma seara, o julgamento da Sexta Turma do STJ alude a entendimento já


assentado em jurisprudência do STF:

HABEAS CORPUS. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO E USO DE


DOCUMENTO FALSO. INÉPCIA DA DENÚNCIA. INOCORRÊNCIA.
PRINCÍPIO DA ABSORÇÃO.CONSTRANGIMENTO EVIDENCIADO. [...] 3. O
entendimento sufragado pela jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é de
que se o mesmo sujeito falsifica e, em seguida, usa o documento falsificado,
responde apenas pela falsificação. 4. Ordem denegada. Habeas corpus concedido de
ofício, para trancar a ação penal quanto ao crime de uso de documento falso, devendo
prosseguir no que concerne às demais imputações. (BRASIL, 2012b, grifo nosso).

Em consonância e citando a jurisprudência supra, a Primeira Turma do Tribunal


Regional Federal da Quinta Região decide:

PENAL E PROCESSUAL PENAL. RECURSO EM SENTIDO ESTRITO DO MPF.


CRIMES DO ART. 297 E 304 DO CPB. USO DE DOCUMENTO FALSO
PRATICADO PELO PRÓPRIO AUTOR DA FALSIFICAÇÃO. CRIME DE FALSO
SUBSISTE. USO DO DOCUMENTO. POST FACTUM IMPUNÍVEL. [...] 3.
Questão que foi julgada pela Sexta Turma do STJ (Relator Ministro Og Fernandes),
que fixou o seguinte entendimento, no informativo de jurisprudência 452, ao apreciar
o HC 107.103-GO: (...). Para o Min. Relator, seguindo entendimento do STF, se o
mesmo sujeito falsifica documento e, em seguida, faz uso dele, responde apenas
pela falsificação. Destarte, impõe-se o afastamento da condenação do ora
paciente pelo crime de uso de documento falso, remanescendo a imputação de
falsificação de documento público. (RECIFE, 2013, grifo nosso).

Entende-se, portanto, que no concurso dos crimes de falsidade documental e uso de


documento falso, subsiste o delito de falsificação. Caso haja apenas o uso de documento falso,
o delito será tipificado no artigo 304 do Código Penal, conforme se observará mais adiante.

2.5 CLASSIFICAÇÃO JURÍDICA

Conforme o entendimento de Rogério Greco, o crime de falsificação de documento


público trata-se de:
24

Crime comum, tanto no que diz respeito ao sujeito ativo quanto ao sujeito passivo;
doloso (não havendo previsão para a modalidade de natureza culposa); comissivo
(podendo, também, nos termos do art. 13, §2º, do Código Penal, ser praticado via
omissão imprópria, na hipótese de o agente gozar do status de garantidor) e omissivo
próprio (§4º do art. 297); de forma livre (caput) e de forma vinculada (§§ 3º e 4º);
instantâneo; monossubjetivo; plurissubsistente; não transeunte. (GRECO, 2016, p.
594).

Deve-se atentar para o parágrafo 4º do artigo 297, que prevê expressamente a


omissão própria, sendo esta a diferença encontrada entre a classificação jurídica da falsificação
de documento particular para a classificação do crime de falsificação de documento público.
Assim, a falsificação de documento particular é classificada por Greco como sendo
também um crime comissivo, comum, doloso, instantâneo, de forma livre, plurissubsistente,
não transeunte e monossubjetivo. (GRECO, 2016, p. 601).
Amaral (2000, p. 111) acrescenta ainda que os crimes de falsidade documental são
também formais, pois “[...] consumam-se independentemente de qualquer resultado danoso
para a vítima.” Damásio corrobora com este entendimento ao elucidar que, por serem formais,
os crimes de falso possuem como requisito a possibilidade do dano, “[...] não se exige, assim,
que terceiro, pessoa física ou jurídica, venha a sofrer, efetivamente, um prejuízo.” (JESUS,
2012, p. 42)
Bitencourt corrobora com os entendimentos supracitados ao explicar que a
falsificação de documento:

Trata-se de crime formal (que não exige resultado naturalístico para sua consumação),
comum (que não exige qualidade ou condição especial do sujeito), de forma livre (que
pode ser praticado por qualquer meio ou forma pelo agente), instantâneo de efeitos
permanentes (consuma-se de pronto, mas seus efeitos perduram no tempo),
unissubjetivo (que pode ser praticado por um agente apenas), plurissubsistente (crime
que, em regra, pode ser praticado com mais de um ato, admitindo, em consequência,
fracionamento em sua execução). (BITENCOURT, 2009, p. 324).

Apesar dos autores já citados nesta seção defenderem que a falsificação de


documento é crime formal (que independe de resultado posterior), há os que creem que apenas
o uso que acarreta o dano é apto a consumar o delito, fazendo parte de uma segunda corrente
de pensamento. (GIRÃO, 2012, p. 121).
Legitimando o ponto de vista da primeira corrente doutrinária encontra-se Sylvio
do Amaral, ao explanar:

É certo que não se concebe a tentativa nos delitos que unico actu perficiuntur, mas
não é exato que todos os crimes formais sejam dessa natureza, pois há muitos que se
compõem de vários atos. O que identifica o crime formal não é a sua eventual
unissubsistência, mas a desnecessidade legal de resultado para a consumação: pode
25

compor-se o delito de diversos atos, e, ainda assim, conceituar-se como formal.


(AMARAL, 2000, p. 113).

Para esclarecer, o crime formal “[...] não exige a produção do resultado para a
consumação do crime, embora seja possível a sua ocorrência” (CAPEZ, 2012, p. 288) e o crime
plurissubsistente “[...] é aquele que exige mais de um ato para sua realização.” (CAPEZ, 2012,
p. 290).
Após análise sobre a importância da tutela da fé pública, o conceito de documento,
os crimes de falsificação de documento público e privado, suas tentativas, consumações e
classificações, encerra-se o estudo da falsidade material para adentrar, no capítulo seguinte, no
estudo da falsidade ideológica.
26

3 DA FALSIDADE IDEOLÓGICA

O legislador brasileiro sentiu-se impelido a proteger também o conteúdo intelectual


do documento, tendo em vista que a inserção ou omissão de “[...] declaração diversa da que
devia ser escrita”1 ofende a fé pública, a exemplo dos outros crimes de falso tratados no capítulo
anterior. (BRASIL, 1940).
Entretanto, ao tipificar este crime, o Código Penal visa não só tutelar a fé pública,
como também proteger “[...] outros bens, como o interesse econômico, a paz social, a ordem
pública ou familiar, a honra, a liberdade etc.” (JESUS, 2012, p. 40).
Falso moral, falso intelectual ou falso ideal são formas que algumas doutrinas
abordam para se referirem à falsidade ideológica. Drummond defende ainda uma nomenclatura
diferente de todas as citadas, e explica: “A chamada falsidade ideológica talvez com maior
propriedade se chamasse falsidade expressional, o que pressuporia concomitância de declaração
de vontade e da adulteração desta por adulteração de sua primeira formalização gráfica.”
(DRUMMOND, 1944, p. 224)
No estudo do conceito de falsidade ideológica em outros países, há “[...] dissenções
entre os doutos, refletidas nas legislações, [...] que o Direito italiano e o argentino restringem
aos documentos públicos [...], relegando para o capítulo relativo às fraudes os casos incidentes
sobre documentos privados e passíveis de representação penal”. (AMARAL, 2000, p. 55).
O legislador pátrio, apesar da influência dos conceitos divergentes de Carrara e da
lei italiana,
Conceituou o falso ideológico com amplitude total, reconhecendo-o tanto em atos de
funcionário público – desde que o agente omita no documento declaração que dele
devia constar, ou nele insira, ou faça inserir, declaração falsa ou diversa da que devia
ser escrita (CP, art. 299). (AMARAL, 2000, p. 60).

Aprofunda-se, nas seções seguintes, o conceito de falsidade ideológica, sua


distinção perante a falsidade material, seus requisitos, o conflito aparente de normas, a análise
da consumação e tentativa, culminando com a classificação jurídica do delito.

1
Artigo 299 do Código Penal. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-
lei/Del2848compilado.htm>. Acesso em: 9 maio 2016.
27

3.1 CONCEITO

Antes mesmo de se identificar a diferença entre a falsidade material do capítulo


anterior e a falsidade ideológica deste capítulo, torna-se necessária a conceituação do crime
previsto no artigo 299 do Código Penal, através dos próximos parágrafos.
Primeiramente torna-se necessário entender que a falsificação ideológica “[...]
caracteriza-se por versar sobre o conteúdo intelectual do documento, sem afetar sua estrutura
material” (AMARAL, 2000, p. 52) Greco acrescenta que “[...] o documento, em si, é perfeito;
a ideia, no entanto, nele lançada é que é falsa.” (GRECO, 2016, p. 605).
Para Amaral (2000, p. 53), no falso ideal simula-se a verdade com base em um
documento inexistente. O conteúdo ideológico do documento não coaduna com a verdade, mas
a autoria documental condiz com a identidade de quem escreve, tornando o documento
extrinsecamente verdadeiro.
O objeto material do delito encontra-se no caput do art. 299, sendo ele o documento
público ou particular. É tipificado o documento: “[...] no qual o agente omitiu declaração que
nele devia constar, ou nele inseriu ou fez inserir declaração falsa ou diversa daquela que devia
ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar verdade sobre fato
juridicamente relevante.” (GRECO, 2016, p. 83).
Prossegue o autor ressaltando que o tipo penal “omitir, em documento público ou
particular, declaração que dele devia constar” caracteriza-se como omissivo próprio, pois o
agente possibilita a falsidade ideológica quando não fornece a declaração que devia consignar.
(GRECO, 2016, p. 606).
Para Carrara, a falsidade ideológica quando praticada por funcionário público trata-
se, na verdade, de falsidade material. Isso porque, para ele, a falsificação ideológica só pode ser
praticada por um particular. (AMARAL, 2000, p. 55).
Divergem deste conceito Bitencourt (2009, p. 327) e Delmanto et al. (2010, p. 860).
O primeiro defende que o sujeito ativo do crime “[...] é qualquer pessoa, independentemente de
qualidade ou condição especial. Sempre, no entanto, que o crime for praticado por funcionário
público, no exercício de suas funções e delas se prevalecendo, estará caracterizada causa
especial de aumento de pena.”
Já Delmanto et al. (2010, p. 860), explica que o sujeito ativo pode ser “[...] qualquer
pessoa, não precisando, necessariamente, ser quem redige o documento [...].”
28

Inicia-se, nas seções seguintes, a análise pormenorizada do delito de falsidade


ideológica, o qual entende-se incidir em fatos passíveis de gerar danos no âmbito jurídico, desde
que a falsidade seja apta a iludir o homem médio.

3.2 DISTINÇÃO ENTRE A FALSIDADE MATERIAL

Visto que a falsidade material concerne à forma extrínseca do documento,


refletindo também em seu conteúdo intrínseco, a falsidade ideológica, por sua vez, concerne à
ideia que o documento aborda, ao pensamento que este transmite. Bitencourt (2009, p.328)
esclarece que “[...] a falsidade ideológica versa sobre o conteúdo do documento, enquanto a
falsidade material diz respeito a sua forma. No falso ideológico, basta a potencialidade de dano,
independente de perícia.”
Concordando com a desnecessidade de perícia está Damásio, ao dizer que apenas a
falsidade material pode ser averiguada pericialmente, sendo que a falsidade ideológica deve ser
provada por outras formas. (JESUS, 2012, p. 39).
Ressalta-se o pensamento de Queiroz, defensor do conceito de que não há
contrafação ou alteração na falsidade ideológica, ao contrário da falsidade material. O que há,
no entanto, é um conteúdo inverídico na falsificação ideológica, apesar de se tratar de um
documento genuíno. (QUEIROZ et al. 2013, p. 768)
Nesse sentido:

AGRAVO DE INSTRUMENTO - ARGÜIÇÃO DE FALSIDADE IDEOLÓGICA -


INADEQUAÇÃO À PRETENSÃO DO AGRAVANTE - RECURSO IMPROVIDO.
A falsidade ideológica diz respeito aos vícios do consentimento ou sociais do ato
jurídico, autorizando a anulação do ato jurídico nas formas do CC 147, II. No falso
material, há alteração da forma do documento, sendo construído um novo, ou
alterado o que era verdadeiro, perquirindo-se acerca da veracidade do próprio
documento apresentado. A falsidade ideológica, por sua vez, provoca uma
alteração de conteúdo, que pode ser total ou parcial, perquirindo-se acerca da
falsidade das próprias informações e afirmações constantes no documento.
(MINAS GERAIS, 2008, grifo nosso).

Drummond, em seus comentários ao Código Penal, explica ainda:

Na falsidade ideológica, há uma expressão de vontade que se susta, que se suspende,


que se substitue (sic) por uma inverdade no momento mesmo de elaboração material
do documento. Na falsidade material, não há um declarante cuja declaração seria então
viciada, adulterada, por omissão ou acréscimo que contrarie, uma ou outro, declaração
feita na hora mesmo de ter expressão gráfica. (DRUMMOND, 1944, p. 224).

Depreende-se desta seção que na falsidade material há a alteração ou forja no


“exterior” (forma) do documento, tornando-o novo. A falsidade ideológica, no entanto, mantém
29

a forma do documento, alterando a ideia que este transmite (conteúdo falso). (BITENCOURT,
2008, p. 328).
Após a análise da distinção entre os dois tipos de falsidade (material e ideológica),
segue-se para a próxima seção, que tem o intuito de identificar os requisitos da falsificação
ideológica.

3.3 REQUISITOS DA FALSIDADE IDEOLÓGICA

Inicia-se o estudo dos requisitos da falsidade ideológica elencando os verbos do


tipo penal do artigo 299, quais sejam: omitir, inserir ou fazer inserir com a finalidade de
prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante. Desta
forma, caracteriza-se o agente por atuar com especial fim de agir. (GRECO, 2016, p. 606).
Neste sentido, concorda Bitencourt ao elucidar:

Com efeito, a falsidade somente adquire importância penal se for realizada com o fim
de prejudicar direito, criar obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente
relevante. Não ocorrendo qualquer dessas hipóteses, é de reconhecer a falta de justa
causa para a ação penal, pois se trata de conduta atípica (BITENCOURT, 2008, p.
328).

Damásio explica ainda que “[...] assim, são insuficientes à configuração delitiva a
vontade e a consciência de lesar a fé pública com a prática do falso”, o autor deve ter a intenção
de prejudicar outrem para caracterizar o delito. (JESUS, 2012, p. 40-41).
Conforme introduzido nesta seção, existem três verbos do tipo penal que
especificam a conduta. Estes verbos nada mais são do que as modalidades do crime de
falsificação ideológica.
Analisa-se inicialmente a modalidade de “[...] omitir, em documento público ou
particular, declaração que dele devia constar”, que caracteriza, como o próprio verbo alude,
uma conduta omissiva. (ANDREUCCI, 2013, p. 473).
Posteriormente há a modalidade de “[...] inserir, em documento público ou
particular, declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita” e a modalidade de “[...] fazer
inserir, em documento público ou particular, declaração falsa ou diversa da que devia ser
escrita”. Ambas caracterizam uma modalidade comissiva. (ANDREUCCI, 2013, p. 473).
Capez (2012, p. 388) corrobora com este entendimento e ainda acrescenta que o
delito em tela é crime de ação múltipla, possuindo várias ações nucleares do tipo penal. A
primeira é a de “omitir declaração,” que classifica como de falsidade imediata, “[...] pois o
agente que forma o documento é o mesmo que omite a informação."
30

Segue sua explicação com a modalidade de “inserir declaração falsa”, categorizada


também como de falsidade imediata, em que “o agente diretamente insere no documento a
declaração inverídica.” (CAPEZ, 2012, p. 388).
Posteriormente alude à ação de “inserir declaração diversa da que devia ser escrita,”
onde ocorre “[...] substituição de uma declaração verdadeira por outra igualmente verdadeira.”
(CAPEZ, 2012, p. 388).
A penúltima modalidade para Capez é a de “fazer inserir declaração falsa”, na qual
“[...] o agente induz terceiro a inserir a declaração falsa no documento”, ocorrendo desta forma
uma falsidade mediata, em que apenas ao declarante se atribui o crime. Também é falsidade
mediata a última ação nuclear típica, de “fazer inserir declaração diversa da que devia ser
escrita.” (CAPEZ, 2012, p. 388).
Importante notar a necessidade do dolo para caracterizar o crime de falsidade
ideológica e as modalidades em que este delito se subdividiu para o estudo. Em seguida,
observar-se-á o uso de documento falso, delito que está diretamente relacionado aos outros
crimes já explanados neste trabalho.

3.4 USO DE DOCUMENTO FALSO (ART. 304)

O legislador pátrio reuniu todos os delitos de falsidade documental para tipificar o


crime de uso de documento falso, modalidade em que o autor utiliza conscientemente a
contrafação. (AMARAL, 2000, p. 165).
Andreucci acrescenta que “o uso de documento falso, portanto, é um crime
remetido, ou seja, um crime que, para sua perfeita caracterização, faz alusão a outro crime, no
caso, o de falso.” (ANDREUCCI, 2013, p. 480).
Importante destacar que o uso do documento falso deve vir acompanhado de dolo,
da mesma forma que a falsificação de documento. Mesmo sendo a falsificação grosseira e
prejudicial, não há que se falar em uso de documento falso caso haja imperícia, imprudência ou
negligência. (AMARAL, 2000, p. 166).
A respeito da falsificação grosseira, tem-se que “para a caracterização do crime, é
necessária a imitação da verdade, ou seja, a imitatio veri, uma vez que a utilização de documento
grosseiramente falsificado não tipifica o delito.” (ANDREUCCI, 2013, p. 480).
Ainda acerca de requisitos, Sylvio do Amaral esclarece:

[...] não é, porém, imprescindível que o usuário aja com o mesmo objetivo que animou
o autor do falsum. Assim, especialmente nas hipóteses dos arts. 299 e 301, pode
31

acontecer de usar o agente o documento falso sem consciência do dolo específico que
inspirou a ação do falsário (no primeiro exemplo) ou das particulares qualidades do
atestado ou da certidão (no segundo caso). (AMARAL, 2000, p. 166-167).

Entende-se, portanto, que entre a falsificação e o uso não há necessidade de


uniformidade na consciência e na vontade dos agentes. Também não há necessidade de, para a
consumação do crime do artigo 304, o uso de documento falso provocar prejuízo ou resultar
em proveito para o autor. (AMARAL, 2000, p. 167).
Andreucci concorda quando diz que “[...] o crime se consuma com o efetivo uso do
documento falso, independentemente da obtenção de proveito ou da produção de dano.” O
mesmo autor ainda aduz ao fato de que “o uso pode ser de qualquer natureza, judicial ou
extrajudicial” e não admite tentativa. (ANDREUCCI, 2013, p. 480).
Classifica-se o delito como comissivo, ou seja, dependente da efetiva utilização do
documento. Esta classificação foi fundamental para precedentes jurisprudenciais que “[...] tem
se posicionado no sentido de que o documento falso encontrado em revista policial ou retirado
do bolso do portador, por ocasião de prisão, não configura o crime de uso de documento falso.”
(ANDREUCCI, 2013, p. 480).
Neste sentido:

PENAL. USO DE DOCUMENTO FALSIFICADO. CARTEIRA NACIONAL DE


HABILITAÇÃO TIPICIDADE. POSSE. I – A simples posse de documento falso não
basta à caracterização do delito previsto no art. 304 do Código Penal, sendo necessária
sua utilização visando atingir efeitos jurídicos. O fato de ter consigo documento falso
não é o mesmo que fazer uso deste. II – Se o acusado em nenhum momento usou ou
exibiu a documentação falsificada, tendo a autoridade policial tomado conhecimento
de tal documento após despojá-lo de seus pertences, não se configura o crime descrito
no art. 304 do Código Penal. Recurso desprovido. (BRASIL, 2002).

Corroborando o entendimento de que o delito em tela só se caracteriza através do


efetivo uso e consequente dolo do agente:

APELAÇÃO CRIME – [...] CRIME DE USO DE DOCUMENTO FALSO (ART. 304


DO CP) - ABSOLVIÇÃO - CRIME QUE EXIGE USO EFETIVO DO
DOCUMENTO, NÃO BASTANDO PARA SUA CONFIGURAÇÃO, SEU MERO
PORTE E/OU POSSE - AUSÊNCIA DE PROVA DE USO EFETIVO PELO RÉU
DO DOCUMENTO FALSIFICADO, NO MOMENTO DA PRISÃO. (PARANÁ,
2011).

No entanto, encontra-se também jurisprudência em sentido oposto:

USO DE DOCUMENTO FALSO - CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃO


(CNH) - Prova segura de que o réu tinha plena ciência da falsidade do documento
apresentado - Configuração do crime, mesmo que a exibição do documento falso
tenha se dado por solicitação de agente policial - Pena e regime prisional fixados com
critério e corretamente - Recurso desprovido. (SÃO PAULO, 2015).
32

Ainda no entendimento de que a simples ciência da falsidade do documento


caracteriza o crime e afastando argumento de autodefesa do acusado:

RECURSO ESPECIAL. PENAL E PROCESSUAL PENAL. CRIME DE USO


DEDOCUMENTO FALSO. APRESENTAÇÃO DE CÉDULA DE IDENTIDADE
FALSIFICADA À AUTORIDADE POLICIAL, POR SER O RÉU FORAGIDO DA
JUSTIÇA PAULISTA. ATIPICIDADE DA CONDUTA RECONHECIDA PELO
TRIBUNAL A QUO. CONDUTA CARACTERIZADA NOS TERMOS DO ART.
304 DO CÓDIGO PENAL. RECURSO MINISTERIAL PROVIDO. 1. Portar
documento falso para ocultar o fato de ser foragido da Justiça não configura a hipótese
de autodefesa, consagrada no art. 5.º, inciso LXIII, da Constituição Federal, mas sim
da prática delitiva tipificada no artigo 304 do Código Penal. Precedentes. 2. Recurso
ministerial provido para, cassando o acórdão recorrido, determinar que o Tribunal a
quo, considerando a tipicidade da conduta, prossiga no julgamento da apelação
criminal. (BRASIL, 2011).

O uso de documento falso ficou desta forma demonstrado pelo dolo (apesar da
demonstração de jurisprudências em sentido contrário) e pela necessidade de a falsificação ser
apta a iludir a outrem. Na seção que segue, conceitua-se os delitos de falsidade material,
ideológica e uso de documento falso, e discute-se os conflitos aparentes de normas e os
princípios existentes para saná-los.

3.5 CONFLITO APARENTE DE NORMAS

Sucinto, Mirabete esclarece que o conflito aparente de normas ocorre “[...] quando
a um mesmo fato supostamente podem ser aplicadas normas diferentes, da mesma ou de
diversas leis penais.” (MIRABETE, 2010, p.106).
A importância de se afastar esse conflito é decidir qual norma incriminadora deve
ser aplicada ao fato concreto, para que estas normas não atuem sobre o mesmo caso e
consequentemente afetem o princípio do non bis in idem. (MIRABETE, 2010, p. 106).
Corrobora Damásio:

O problema apresenta enorme relevância prática porque, quando aparece, tratando-se


de concorrência de preceitos primários das normas incriminadoras, a solução irá ligar
o agente a uma ou a diversas sanctiones juris, e as penas nem sempre são iguais,
qualitativa e quantitativamente. (JESUS, 2012, p. 149).

Damásio orienta que o conflito aparente de normas não se confunde com concurso
material de crimes, pois “neste existe concorrência real de normas: há violação de várias normas
ou violação sucessiva da mesma lei repressiva”. Já no conflito aparente de normas, “[...] a
prática delituosa única se amolda a várias normas repressivas, mas estas possuem entre si
relação de hierarquia ou dependência, de forma que somente uma é aplicável.” (JESUS, 2012,
p. 149-150)
33

Há que se falar ainda em divergência quanto à questão da falsificação seguida do


uso do documento falso. Para Greco, o uso do documento pelo autor da falsidade ideológica
enseja na tipificação do artigo 304 do Código Penal, devendo este responder apenas pelo crime-
fim (o uso). (GRECO, 2016, p. 609).
Em contraposição, conforme mencionado em capítulo anterior, há jurisprudência
do Supremo Tribunal Federal defendendo que nos casos de falsificação seguida de uso do
documento falso, o autor responde somente pela falsificação (artigo 297 do Código Penal).
(ANDREUCCI, 2013, p. 480).
Divergindo de ambos os autores supra e representando o entendimento de sua época
(logo após a promulgação do Código Penal), está Drummond:

A solução que adotamos – reconhecer no caso a existência de dois crimes (o de


falsificar e o de usar), encontra amparo ainda na sistemática do Código, segundo a
qual só se nega existência autônoma a algum fato criminoso, em relação a outro, na
expressa hipótese de entrar êle (sic) como elemento integrante dêsse (sic) outro crime.
(DRUMMOND, 1944, p. 218).

Nota-se conflito aparente de normas também quando o autor falsifica documento


público visando atribuir-se falsa identidade, já que a conduta pode se classificar tanto no tipo
penal do artigo 297 como no tipo do artigo 307. Entende Capez que: “referido conflito deve ser
solucionado por influxo do princípio da subsidiariedade, subsistindo tão somente a norma do
art. 297, ante sua maior gravidade, ficando a falsa identidade como figura típica subsidiária”.
(CAPEZ, 2012, p. 379).
Capez (2012, p. 379) prossegue elucidando que “a questão é controvertida na
jurisprudência, mas o Supremo Tribunal Federal já decidiu pela configuração do delito do art.
297”, cuja ementa permite-se destacar a seguir:

Habeas corpus". Substituição de fotografia em documento público de identidade.


Tipificação. - Sendo a alteração de documento público verdadeiro uma das duas
condutas típicas do crime de falsificação de documento público (artigo 297 do Código
Penal), a substituição da fotografia em documento de identidade dessa natureza
caracteriza a alteração dele, que não se cinge apenas ao seu teor escrito, mas que
alcança essa modalidade de modificação que, indiscutivelmente, compromete a
materialidade e a individualização desse documento verdadeiro, até porque a
fotografia constitui parte juridicamente relevante dele. "Habeas corpus" indeferido.
(BRASIL, 1998).

Consoante à falsidade ideológica, Sylvio do Amaral preleciona, ao se referir ao


documento público, que este “[...]exprime, sempre, ou uma declaração de vontade (do cidadão
ou do Estado), ou uma atestação (ou certificação) da verdade.” (AMARAL, 2000, p. 89).
Destarte, o falso ideológico nem sempre se enquadra no artigo 299, tendo em vista
que o documento possuidor da forma de atestado (atestação) ou certidão (certificação) foge da
34

esfera dos artigos 299 e 297, sendo tipificado especificamente pela doutrina pátria no artigo
301. (AMARAL, 2000, p. 89).

3.5.1 Princípios aplicáveis ao conflito aparente de normas

Tendo em vista que já foram citados os conflitos aparentes de norma do tema


abordado, nos resta demonstrar nos próximos parágrafos o rol de princípios existentes para a
dissolução destas antinomias: o princípio da especialidade, da subsidiariedade, da consunção e
da alternatividade. (MIRABETE, 2010, p. 106).

a) Princípio da especialidade

Damásio preleciona que uma norma é especial quando elenca todos os elementos
do tipo de uma norma geral e ainda acrescenta outros (de natureza objetiva ou subjetiva),
especializando e consequentemente aumentando a severidade desta. (JESUS, 2012, p.152).
Prossegue o autor a respeito da desnecessidade de confronto concreto entre as leis
do conflito aparente de normas: “[...] a prevalência da norma especial sobre a geral se estabelece
in abstracto, pela comparação das definições abstratas contidas nas normas.” (JESUS, 2012 p.
150).
E sentencia:

Dessa forma, se a lei especial, incriminando certos fatos, ou considerando


determinadas figuras típicas sob ângulo diferente, ditar preceitos particulares para a
sua própria aplicação, em contraposição às normas do Código, o conflito apenas
aparente de normas será resolvido pelo princípio da especialidade. (JESUS, 2012, p.
152).

Este princípio se difere dos seguintes por estabelecer um confronto em abstrato das
leis, enquanto os outros dependem de uma comparação em concreto das normas definidoras de
um mesmo fato. (JESUS, 2009, p. 108-109)

b) Princípio da subsidiariedade

Damásio prevê que no princípio da subsidiariedade ocorre a absorção da lei de


menor gravidade pela lei de maior gravidade. O autor subdivide este princípio em
subsidiariedade expressa ou subsidiariedade implícita (a norma não vincula seu uso à
inexistência da infração principal). (JESUS, 2012, p. 152-153).
35

Desta forma, “ocorre a subsidiariedade expressa (ou explícita) quando a norma, em


seu próprio texto, subordina a sua aplicação à não-aplicação de outra, de maior gravidade
punitiva”. E então, “há subsidiariedade implícita (ou tácita) quando uma figura típica funciona
como elementar ou circunstância legal específica de outra, de maior gravidade punitiva, de
forma que esta exclui a simultânea punição da primeira: ubi major minor cessat”. (JESUS,
2012, p. 153-154).

c) Princípio da consunção

Mirabete sintetiza este princípio dizendo que “[...] consiste na anulação da norma
que já está contida em outra; ou seja, na aplicação da lei de âmbito maior, mais gravemente
apenada, desprezando-se a outra, de âmbito menor.” (MIRABETE, 2010, p. 107).
Reitera Fernando Capez que “há uma regra que auxilia na aplicação do princípio da
consunção, segundo a qual, quando os crimes são cometidos no mesmo contexto fático, opera-
se a absorção do menos grave pelo de maior gravidade.” (CAPEZ, 2012, p. 98).
Colhe-se jurisprudência que exemplifica o princípio da consunção:

APELAÇÃO CRIMINAL. CRIMES DE FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO


PÚBLICO E USO DE DOCUMENTO FALSO. ARTS. 297, CAPUT E 304 DO
CÓDIGO PENAL. CONFECÇÃO DE CERTIDÕES NEGATIVAS DE DÉBITO DO
INSS CONTRAFEITAS PARA SEU SUBSEQUENTE USO EM LICITAÇÕES.
MATERIALIDADE DOS DELITOS COMPROVADA. AUTORIA DA
CONTRAFAÇÃO PELO RESPONSÁVEL CONTÁBIL DA EMPRESA E PELO
REPRESENTANTE LEGAL DESTA. CRIME DE USO PRATICADO, PORÉM,
APENAS POR ESTE ÚLTIMO.CONDENAÇÃO DO PRIMEIRO PELO CRIME
DO ART. 297 DO CP, E DO SEGUNDO PELO ART. 304 DO CP.INCIDÊNCIA
DO PRINCÍPIO DA CONSUNÇÃO. ABSORÇÃO DO CRIME-MEIO (FALSO)
PELO CRIME-FIM (USO DE DOCUMENTO FALSO) PELO REPRESENTANTE
DA EMPRESA. PRECEDENTES. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO.
Quando a falsificação do documento é apenas meio ou fase necessária para a
sonegação fiscal, não configurando crime autônomo, aplica-se o princípio da
consunção. (PARANÁ, 2013).

Pode-se então notar que este princípio é aplicado pela jurisprudência no crime de
falsificação (artigo 297 do CP) seguida do uso do documento (artigo 304 do CP).

d) Princípio da alternatividade

O princípio da alternatividade é, para alguns autores, a quarta opção existente para


dirimir um conflito aparente de normas. Para Capez, “a alternatividade nada mais representa do
que a aplicação do princípio da consunção, com um nome diferente”. (CAPEZ, 2012, p. 100).
36

Todavia, Damásio explica que neste princípio “[...] a norma penal que prevê vários
fatos alternativamente, como modalidades de um mesmo crime, só é aplicável uma vez, ainda
quando os ditos fatos são praticados, pelo mesmo sujeito, sucessivamente.” (JESUS, 2009).
Capez esclarece ainda que o princípio da alternatividade está relacionado aos
“[...]chamados tipos mistos alternativos, os quais descrevem crimes de ação múltipla ou de
conteúdo variado.” (CAPEZ, 2012, p. 99).

3.6 CONSUMAÇÃO E TENTATIVA

Conforme estudado na última seção, é fundamental que para a consumação do


delito haja dolo. O autor da falsificação ideológica deve então agir com o intuito de criar
obrigação, inserir ou fazer inserir declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita, omitir
declaração que devia constar no documento, ou alterar verdade sobre fato juridicamente
pertinente. (GRECO, 2016, p. 607).
Existem duas modalidades de falsidade ideológica para Greco, sendo que a primeira
é consumada “[...]quando da confecção do documento, público ou particular, sem a declaração
que dele devia constar, em virtude da omissão dolosa do agente.” Para a consumação da segunda
modalidade, o agente deve inserir ou fazer inserir, “[...] em documento público ou particular,
declaração falsa ou diversa da que devia ser escrita.” (GRECO, 2016, p. 607).
Quanto à tentativa, há conceituação doutrinária no sentido de que só é admitida na
modalidade de inserir ou fazer inserir. Detentor deste ponto de vista, o autor Andreucci reforça
que “admite-se tentativa apenas nos casos de inserção ou induzimento à inserção. Na conduta
omissiva não se admite a tentativa, pois se trata de crime omissivo próprio”. (ANDREUCCI,
2013, p. 474).
Prado corrobora com o entendimento de Andreucci a respeito da modalidade
omissiva:

A tentativa, na forma omissiva, é inadmissível, porquanto se trata de delito omissivo


próprio. Destarte, ou o agente deixa de incluir a afirmação verdadeira exigível quando
deveria consigná-la, e já estará consumado o delito, ou ainda pode fazê-la e não se
cogita de tentativa. (PRADO, 2008, p. 338).

No entanto, defende que a tentativa só é admitida na forma comissiva sob a


modalidade de fazer inserir, e explicita:

[...] na modalidade de inserir, tratando-se de falsidade imediata, como o agente é o


autor direto do documento, enquanto não completado e aperfeiçoado este, poderá ele
retirar o conteúdo mendaz ou retificá-lo a fim de restabelecer a verdade, e não terá
havido tentativa. Realmente, nesta última hipótese poderia haver, quando muito, a
37

figura da desistência voluntária ou do arrependimento eficaz, que constituem causas


pessoais de exclusão de pena, e não chegam a constituir tentativa punível, nos termos
do artigo 15 do Código Penal. (PRADO, 2008, p. 339).

Entende-se, portanto, que para haver consumação do delito, o agente deve atuar
com a intenção de contrafazer fato juridicamente relevante, lesar direito ou gerar obrigação.
Quanto à tentativa, ocorre na modalidade comissiva do crime, apesar de haver entendimento no
sentido de que só existe dentro desta modalidade sob a forma de “fazer inserir.”

3.7 CLASSIFICAÇÃO JURÍDICA

Da mesma forma que se estudou a classificação jurídica do crime de falsidade


material do capítulo antecedente, dar-se-á ensejo à análise da falsidade ideológica nos
parágrafos que seguem, com o intuito de posteriormente diferenciar os dois institutos.
Trata-se, portanto, de “crime comum, tanto no que diz respeito ao sujeito ativo
quanto ao sujeito passivo; doloso (não havendo previsão para a modalidade de natureza
culposa); comissivo e omissivo próprio (podendo, também, nos termos do art. 13, §2º, do
Código Penal, ser praticado via omissão imprópria, na hipótese de o agente gozar do status de
garantidor); de forma livre; instantâneo; monossubjetivo; plurissubsistente; não transeunte.”
(GRECO, 2016, p. 607).
Sobre ser a falsidade ideológica um crime classificado como formal, em que se
antecipa a consumação, Sylvio do Amaral preleciona:

[...] imprescindível que, integrando o elemento subjetivo do delito, se demonstre um


fim determinado a mover o agente; mas essa parcela do elemento subjetivo não
encontra correspondência entre os requisitos materiais do crime, de tal modo que este
se tem por perfeito ainda quando não chegou a consumar-se materialmente o objetivo
final do agente. (AMARAL, 2000, p. 93).

Com relação ao objeto material da norma incriminadora, este é o documento


público ou particular. Ressalva-se o pensamento de Sylvio do Amaral em que “a falsidade
ideológica em documento público, prevista no art. 299, restringe-se, pois, às declarações de
vontade, do particular ou do Estado.” (AMARAL, 2000, p. 89).
Apesar de o sujeito ativo poder ser qualquer um, existe aumento de sexta parte da
pena caso este seja funcionário público e cometa o crime prevalecendo-se de seu cargo,
conforme se observa no início do parágrafo único. (ANDREUCCI, 2013, p. 473).
Parte-se nesse momento para o último capítulo, que abarcará a celeuma levantada
por este trabalho, qual seja, a caracterização da rasura em documento como sendo falsidade
material ou ideológica.
38

4 A RASURA EM DOCUMENTO COM O FIM DE ALTERAR FATO


JURIDICAMENTE RELEVANTE

Por derradeiro, o último capítulo visa esclarecer a premissa deste trabalho, através
da observância dos capítulos anteriores (premissas maiores) para atingir uma solução lógica da
temática.
Inicia-se esta tarefa por meio da conceituação da palavra “rasurar” na língua
portuguesa, conforme se depreende do dicionário: “v.t. Fazer rasura, reduzir a rasuras, raspar,
rabiscar; emendar (a escrita) ”. (DICIONÁRIO ON-LINE, 2016).
Todavia, importa a este capítulo entender a rasura em documento com o fim de
alterar fato juridicamente relevante. “É que a alteração consumada, para fundamentar a figura
delituosa, precisa ser de verdade juridicamente relevante para o agente ou para a vítima, ou para
ambos.” (AMARAL, 2000, p. 65)
O fato juridicamente relevante é aquele que o Estado tutela com o intuito de afastar
qualquer ameaça à coletividade. Capez explica que “[...] nenhuma conduta pode,
materialmente, ser considerada criminosa se, de algum modo, não colocar em perigo valores
fundamentais da sociedade”. (CAPEZ, 2012, p. 29).
Sobre estes valores fundamentais, entende-se que:

[...] do Estado Democrático de Direito parte o princípio da dignidade humana,


orientando toda a formação do Direito Penal”. Assim, a dignidade humana [...] orienta
o legislador no momento de criar um novo delito e o operador no instante em que vai
realizar a atividade de adequação típica. (CAPEZ, 2012, p. 25).

Para que haja a relevância jurídica citada, a rasura deve ser apta a iludir o homem
médio. Por homem médio se entende “[...] a coletividade (conceito abstrato, que se representa
pelo homem de inteligência e capacidade de observação estritamente comuns), visto ser a
falsidade crime contra a fé pública, e não contra a fé privada de um ou outro indivíduo.”
(AMARAL, 2000, p. 70)
Denomina-se falsidade grosseira aquela que não engana a coletividade, conforme
se entende:

APELAÇÃO CRIMINAL - FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO, USO


DE DOCUMENTO FALSO E FALSIDADE IDEOLÓGICA – [...]- ATIPICIDADE
DA CONDUTA - FALSIFICAÇÃO GROSSEIRA - AUSÊNCIA DE
POTENCIALIDADE LESIVA PARA OFENDER A FÉ PÚBLICA -
INEXISTÊNCIA DO DELITO DE FALSIDADE IDEOLÓGICA - DOCUMENTO
ADULTERADO E NÃO IDEOLOGICAMENTE FALSO – [...]. Grosseira é a
adulteração empreendida sem nenhum cuidado, com rasuras e alterações
visíveis, incapaz, portanto, de embair o homem prudente. A falsidade ideológica
39

caracteriza-se pela existência de um documento formalmente verdadeiro, mas que


possui conteúdo falso, o que não se verificou na espécie, vez que os documentos
apresentados foram objeto de grosseira adulteração. (MATO GROSSO, 2011, grifo
nosso).

Vale ratificar, portanto, que a rasura incapaz de enganar, “[...] facilmente


reconhecível a olho desarmado, não constitui material do falso e se, por alguma circunstância
excepcional, o agente consegue êxito, o crime a identificar será outro, o do estelionato.”
(CUNHA, 2016, p. 682)
Sendo inapta a iludir, “[...] a falsificação inócua, sem qualquer repercussão na órbita
dos direitos ou das obrigações de quem quer que seja, não constitui ilícito penal, embora
contenha em si ostensivamente o requisito da alteração da verdade documental.” (AMARAL,
2000, p. 65).
Após o estudo destes conceitos, pode-se então seguir para a análise doutrinária e
jurisprudencial da rasura como elemento alterador de fato juridicamente relevante e sua
tipificação no Direito Penal.

4.1 ANÁLISE DOUTRINÁRIA

Retomando os capítulos anteriores temos que a falsidade ideológica diverge da


material porque sua ideia é falsa, apesar de possuir forma verdadeira. A falsidade material
caracteriza uma contrafação do documento em si mesmo, de forma total ou parcial. (GRECO,
2016, p. 593)
Nota-se que na falsidade ideológica (delito do artigo 299, CP), “[...]o documento é
formalmente verdadeiro, mas seu conteúdo, a ideia nele lançada, é divergente da realidade. Não
há contrafação ou alteração de qualquer espécie. O sujeito tem autorização para criar o
documento, mas falsifica seu conteúdo”. (MASSON, 2013, p. 488)
Ao contrário, na falsificação de documento público e de documento particular
(artigos 297 e 298 do Código Penal) os elementos do tipo são a falsificação total, parcial ou a
alteração de documento. Nestes delitos, há a modificação da estrutura do documento, também
chamada de falsidade material. (MASSON, 2013, p. 488)
A título de exemplo, “aquele que, no espaço existente entre a última linha de uma
carta verdadeira e a assinatura do missivista, intercala toda uma frase, por maior que seja,
comete pura e simplesmente uma alteração de documento, do mesmo modo que se
acrescentasse apenas uma letra ou um algarismo”. (DO AMARAL, 2000, p. 52)
40

Posto isso, Sylvio do Amaral se importa em aprofundar a explicação acerca do


instituto de falsidade material, onde destacamos a rasura em documento:

A falsificação material incide sobre a integridade física do papel escrito, procurando


deturpar suas características originais através de emendas ou rasuras, que substituem
ou acrescentam no texto letras ou algarismos – é a modalidade de falso material
consistente na alteração de documento verdadeiro. (DO AMARAL, 2000, p. 49-50)

Ao explicar a falsificação de documento e seus elementos, Queiroz perpetua o


entendimento supra: “a alteração é a modificação feita no documento autêntico, já
definitivamente formado, através de rasura, acréscimo ou qualquer outra forma eficaz, de modo
a nele introduzir ou substituir letras, palavras ou números que alterem ponto relevante”.
(QUEIROZ, 2013, p. 773)
Analisando agora a falsidade ideológica sob o ponto de vista da rasura:

Na falsificação ideológica não há rasura, emenda, acréscimo ou subtração de letra ou


algarismo. Há apenas, uma mentira reduzida a escrito, através de documento que, sob
o aspecto material, é de todo verdadeiro, isto é, realmente escrito por quem seu teor
indica. (DO AMARAL, 2000, p. 52-53)

Corroborando com esta compreensão, Masson (2013, p. 495) preleciona que na


falsidade ideológica “não há modificação na estrutura do documento (público ou particular),
pois ele é elaborado, preenchido e assinado por quem estava autorizado a fazê-lo”.
Acerca da rasura, prossegue:

O ponto marcante da falsidade ideológica repousa no conteúdo falso lançado pela


pessoa legitimada para a elaboração do documento. Logo, se vem a ser adulterada a
assinatura do responsável pela emissão do documento, ou então efetuada assinatura
falsa, ou finalmente rasurado ou modificado de qualquer modo seu conteúdo, estará
caracterizada a falsidade material. (MASSON, 2013, p. 488)

Somente a falsidade material se constata por perícia, sendo este o motivo pelo qual
vislumbra-se a rasura como falsificação de documento público ou privado. A falsidade
ideológica, por não alterar a integridade física do papel, deve ser comprovada de outras formas.
(JESUS, 2012, p. 39)
Partilha deste entendimento o autor Mirabete quando diz que a falsidade material,
“[...] como crime que deixa vestígios, deve ser demonstrada através do competente exame de
corpo de delito. Somente quando a perícia for impossível, por terem desaparecido os vestígios
ou qualquer outra causa, a prova da materialidade do crime pode ser suprida por testemunhos”.
(MIRABETE, 2009, p. 204)
41

Masson (2013, p. 475) pormenoriza o procedimento necessário para a comprovação


da autoria do fato:

Em regra, a perícia inerente à falsificação de documento público destinada à prova da


materialidade do fato consiste no exame documentoscópico. E, sempre que possível,
deverá ser também realizado o exame grafotécnico, com o escopo de apurar, com base
na comparação dos padrões gráficos, se determinada pessoa realmente foi a autora do
documento, relativamente à assinatura nele lançada e ao seu conteúdo. Suas balizas
encontram-se no art. 174 do Código de Processo Penal.

Contudo, já há entendimento jurisprudencial que dispensa a perícia “[...] quando se


trata de substituição de fotografias em carteira de identidade, quando o elemento material do
delito consta dos autos, podendo ser a todo momento visto e examinado pelo juiz, e quando a
falsificação se apura através de outras provas”. (MIRABETE, 2009, p. 204)
Demonstrou-se, através das doutrinas colhidas, o entendimento de que a rasura está
contida na falsidade material, a qual depende de perícia para ser comprovada, ao contrário da
falsidade ideológica, que não se materializa através de vestígios no documento e independe de
prova pericial.
Para ponderar a questão suscitada por este trabalho, partiremos para a próxima
seção, que finalizará este capítulo com jurisprudências relevantes à falsidade material ou
ideológica e à rasura de documento.

4.2 ANÁLISE JURISPRUDENCIAL

Esta seção cuidará da análise de julgados acerca da rasura de fato juridicamente


relevante e sua tipificação. Para melhor compreensão, subdivide-se a análise em “A rasura
como falsidade ideológica” e “A rasura como falsidade material”.
Inicia-se, portanto, com as decisões que contém entendimento diverso do exposto
por este trabalho até o momento.

4.2.1 A rasura como falsidade ideológica

Há que se analisar o entendimento de que a rasura caracteriza falsidade ideológica.


Para tal, selecionam-se dois julgados que confrontam o entendimento doutrinário apresentado
na seção anterior (4.1 ANÁLISE DOUTRINÁRIA).
As decisões a seguir dizem respeito a crimes militares, os quais são previstos no
Decreto-Lei n° 1.001, de 21 de outubro de 1969 (Código Penal Militar). Os delitos de
42

falsificação de documento e de falsidade ideológica que ameaçarem a administração ou o


serviço militar estão inseridos, respectivamente, no artigo 311 e 312 do referido Código.
(GRECO, 2016).
Abrem-se parênteses para mencionar que no Código Penal Militar a pena cominada
à falsificação de documento é de dois a seis anos de reclusão, enquanto a falsidade ideológica
é punida “[...] com pena de reclusão, até cinco anos, se o documento é público, e de reclusão,
até três anos, se o documento é particular.” (GRECO, 2016, p. 613).
Observe-se o primeiro acórdão:

APELAÇÃO CRIMINAL - FALSIDADE IDEOLÓGICA - CRIME MILITAR -


RASURA EM ATESTADO MÉDICO - FALSIFICAÇÃO GROSSEIRA -
INOCORRÊNCIA - DILIGÊNCIAS NECESSÁRIAS - RECURSO IMPROVIDO.
(MATO GROSSO DO SUL, 2008).

Nesta decisão, o apelante foi denunciado por rasurar atestado médico e pugnou pelo
reconhecimento de falsificação grosseira. A 1ª Turma Criminal afastou a tese e manteve a
condenação pelo crime de falsidade ideológica.
Também reconheceu a falsidade ideológica o julgado infra:

EMENTA APELAÇÃO CRIMINAL – FALSIDADE IDEOLÓGICA – INSERÇÃO


DE ALTERAÇÃO GRÁFICA EM CAMPO DATA/HORA DE DOCUMENTO
PÚBLICO, COM A FINALIDADE DE ALTERAR A VERDADE SOBRE FATO
JURIDICAMENTE RELEVANTE – ALTERAÇÃO COMPROVADA EM EXAME
DOCUMENTOSCÓPICO – AUTORIA MEDIATA OU IMEDIATA QUE SÓ
INTERESSARIA AO APELANTE, PARA SE LIVRAR DE PUNIÇÃO
ADMINISTRATIVA – ACERVO PROBATÓRIO COERENTE E CONVERGENTE
– MANUTENÇÃO DA SENTENÇA DE PRIMEIRO GRAU – NEGADO
PROVIMENTO AO RECURSO. (MINAS GERAIS, 2016).

A apelação do Tribunal de Justiça Militar de Minas Gerais consiste na manutenção


da sentença de primeiro grau que condenou o acusado pela prática do crime previsto no artigo
312 do CPM, tendo em vista que “[...] o denunciado preencheu o documento público com
informações inverídicas, omitindo o atraso para tentar se livrar de possível punição
administrativa.”
No entanto, o inteiro teor do acórdão traz a seguinte informação: “Está
perfeitamente nítido que o horário de 06h30min foi rasurado para 05h30min, sobrepondo o
número 5 (cinco) de forma forçada, em cima do número 6 (seis) ”.
A esse respeito, a doutrina se opõe: “Na falsidade ideológica (ou pessoal) o vício
incide sobre as declarações que o objeto material deveria possuir, sobre o conteúdo das idéias
(sic). Inexistem rasuras, emendas, omissões ou acréscimos.” (JESUS, 1994, p. 771).
43

Ver-se-ão, na seção seguinte, decisões cujo entendimento está em consonância com


o da doutrina amealhada, observando-se a rasura como falsidade material, e não ideológica.

4.2.2 A rasura como falsidade material

O colendo Tribunal de Justiça de Santa Catarina dá início à análise jurisprudencial


que se faz nesta seção, através de julgado que consolida o entendimento doutrinário já citado
neste capítulo:

APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME CONTRA A FÉ PÚBLICA. ALTERAÇÃO DE


DOCUMENTO PÚBLICO VERDADEIRO (CP, ART. 297, CAPUT). [...]
ALEGAÇÃO DE AUSÊNCIA DE DOLO E DE PREJUÍZO. IMPOSSIBILIDADE.
[...]. CRIME FORMAL QUE SE CONFIGURA DA SIMPLES ALTERAÇÃO DO
DOCUMENTO VERDADEIRO INDEPENDENDO DE PREJUÍZO A OUTREM.
PLEITO DE INCIDÊNCIA DO ERRO DE TIPO E ERRO DE PROIBIÇÃO.
APLICAÇÃO DO ART. 21, CAPUT, PRIMEIRA PARTE, DO CÓDIGO PENAL.
IMPOSSIBILIDADE. DOLO RECONHECIDO. CONHECIMENTO DE QUE O
ATO DE RASURAR DOCUMENTO INCORRERIA EM CRIME. SENTENÇA
MANTIDA. - O agente que rasura documento público utilizando-se de elementos
químicos para apagar dados anteriores e preenche com novas informações, comete o
crime do art. 297, caput, do Código Penal. (SANTA CATARINA, 2015).

No acórdão supra o acusado fora denunciado pelo crime do artigo 297, caput, do
Código Penal por alterar certificado de registro de veículo, com o intuito de modificar o nome
do comprador disposto no referido documento público.
Posteriormente o veículo em questão foi vendido e, no ato da transferência, agentes
da polícia civil encaminharam o registro (que estava em nome do acusado) para a perícia, a qual
confirmou a adulteração.
Devido a este fato o autor da falsificação foi condenado no juízo a quo à pena de 2
(dois) anos de reclusão pelo incurso na sanção do art. 297, caput do CP. Observando o artigo
44 do Código Penal (das penas restritivas de direito) esta condenação fora substituída por
limitação do final de semana, prestação pecuniária e o pagamento de 10 (dez) dias multa.
Assim, apelou o autor pela inexistência de dolo e prejuízo para o Estado ou terceiros
e, subsidiariamente, pela incidência de erro de tipo e proibição, pois “não sabia que rasurar
documento público verdadeiro é crime.” (SANTA CATARINA, 2015).
A votação unânime do Tribunal foi pelo desprovimento da apelação pois “[...] a
falta de efetivo prejuízo não tem o condão de arredar a culpabilidade do apelante, pois o crime
de alteração de documento verdadeiro é formal, configura-se com a simples alteração.”
(SANTA CATARINA, 2015).
44

Neste diapasão, tem-se Capez conceituando o crime formal: “[...] o tipo não exige
a produção do resultado para a consumação do crime, embora seja possível a sua ocorrência.
Assim, o resultado naturalístico, embora possível, é irrelevante para que a infração penal se
consume.” (CAPEZ, 2012, p. 288).
Quanto a alegação de erro de tipo e de proibição pela defesa, cabe aqui a
conceituação de cada um destes termos, antes mesmo de chegar-se na decisão do acórdão a esse
respeito.
Erro de tipo nada mais é do que a ausência da finalidade típica, “[...] quando o
agente não sabe que está realizando um tipo objetivo, porque se enganou a respeito de um de
seus elementos”. (MIRABETE, 2010, p. 155).
Já no erro de proibição, o agente, “[...] em virtude de uma equivocada compreensão
da norma, supõe permitido aquilo que era proibido”. Este erro é estudado no instituto da
culpabilidade. (CAPEZ, 2012, p. 349).
No entanto, as alegações de erro de tipo e erro de proibição também não foram
acolhidas pelo julgado, “[...] isso porque o conjunto probatório confirma a intenção do apelante,
presente, desta forma, o elemento subjetivo do dolo.” (SANTA CATARINA, 2015).
A rasura restou caracterizada no decisum pela utilização de elementos químicos
para a ocultação de informação e posterior inserção de novo conteúdo. Após, tipificou-se a
rasura no artigo 297 do CP, a então falsidade material.
Apenas para enfatizar o entendimento acerca da desnecessidade de dano no crime
formal que é a falsificação de documento público:

PENAL. FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO. DIPLOMA


UNIVERSITÁRIO.APTIDÃO LESIVA. PRODUÇÃO DO RESULTADO
PRETENDIDO. OBJETO APROPRIADO À CONFIGURAÇÃO DO CRIME.
RECURSO NÃO CONHECIDO. 1. Para a caracterização do crime previsto no art.
297 do Código Penal, basta que a falsificação tenha aptidão para lesionar a fé pública,
sendo dispensável, assim, a comprovação de efetivo dano. 2. Na hipótese, o
documento falsificado pelo acusado não só era hábil a ofender a fé pública, como
efetivamente o fez, logrando o agente obter o resultado que pretendia com a
falsificação, uma vez que o falso diploma de farmacêutico lhe propiciou a retirada da
Carteira de Identificação Profissional. 3. Dessa forma, não há falar em crime
impossível por impropriedade absoluta do objeto na espécie, sendo inaplicável o
disposto no art. 17 do Código Penal. 4. Recurso não conhecido. (BRASIL, 2006).

A ementa reiterou o julgado anterior ao mencionar a desnecessidade de


“comprovação de efetivo dano” pela falsificação do artigo 297 e não reconheceu o recurso
quanto à alegação de crime impossível por impropriedade absoluta do objeto levantada pela
defesa.
45

O crime impossível é previsto no artigo 17 do Código Penal e ocorre nos casos em


que “[...] de forma alguma o agente conseguiria chegar à consumação, motivo pelo qual a lei
deixa de responsabilizá-lo pelos atos praticados.” (MIRABETE, 2010, p. 151).
Trata-se de “[...] causa geradora de atipicidade, pois não se concebe queira o tipo
incriminador descrever como crime uma ação impossível de se realizar.” (CAPEZ, 2012, p.
280).
Desta forma, na impropriedade absoluta do objeto material alegada “[...] a coisa
sobre que recai a conduta é absolutamente inidônea para a produção de algum resultado lesivo”.
No entanto, o acusado logrou êxito em seu intuito de obter a Carteira de Identificação
Profissional, motivo pelo qual o recurso não foi conhecido.
Também afastando a tese de crime impossível, colhe-se:

CRIME CONTRA A FÉ PÚBLICA. CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃO.


FALSIFICAÇÃO DE DOCUMENTO PÚBLICO VERIFICADA QUANDO DE
SUA RENOVAÇÃO. LAUDO PERICIAL ATESTANDO RASURA E INSERÇÃO
DE CARACTERES FALSOS NO CAMPO DA CATEGORIA. CÓPIA DO
PROCESSO FORNECIDO PELO DETRAN ATESTANDO APENAS UMA
CATEGORIA COMO PRETENDIDA. [...]. AUTORIA E MATERIALIDADE
COMPROVADAS. DELITO PERFEITAMENTE CONFIGURADO.
ABSOLVIÇÃO INVIÁVEL. CRIME IMPOSSÍVEL. REALIZAÇÃO DE
RASURAS EM CARTEIRA ORIGINAL. FALSIFICAÇÃO NÃO PERCEPTÍVEL
POR QUALQUER PESSOA [...]. FALSIFICAÇÃO CONSUMADA. ATO
PRATICADO COM O INTUITO DE OBTER TAL PERMISSÃO. [...]
CONDENAÇÃO MANTIDA. SANTA CATARINA, 2008).

Neste caso, o Ministério Público ofereceu denúncia contra o apelante, incurso nas
sanções do artigo 297 do Código Penal, por apresentar carteira de habilitação com categoria
diversa daquela permitida originalmente.
No momento da apresentação do documento para renovação, a funcionária da
Delegacia Regional de Polícia visualizou a alteração e encaminhou a CNH para análise pericial.
Comprovou-se que o autor rasurou a categoria “C” (caminhão) para que se assimilasse à
categoria “A2” (motocicleta).
O denunciado inconformou-se com sua condenação, que inicialmente foi a pena de
dois anos de reclusão em regime aberto e pagamento de 10 (dez) dias multa, posteriormente
substituída (art. 44, CP, das penas restritivas de direitos) por prestação de serviço à comunidade
e suspensão por 2 (dois) anos da habilitação para dirigir qualquer tipo de veículo.
Recebendo a apelação o TJSC não acolheu a tese defensiva de “falsificação
grosseira”, porque somente após a constatação da escrivã de polícia e de laudo da perícia se
comprovou a “[...] raspagem de caracteres da carteira original e inserção de dados falsos.”
46

Devido a isso, a alegação de crime impossível restou afastada, tendo em vista que
“[...] o reconhecimento imediato da falsidade do documento por parte de policiais não implica
entender-se por grosseira a falsificação, já que estes são treinados para detectar contrafações.”
(JORGE, 2007, p. 427).
Acerca da rasura visível, destaca-se julgado que entende pela absoluta
impropriedade do objeto:

FALSIDADE DE DOCUMENTO PÚBLICO. DIFERENCAS ENTRE ESTE


DELITO E O DE FALSIDADE IDEOLOGICA. SE O "FALSUM" E VISIVEL
"ICTU OCULI", O DOCUMENTO NAO TEM IDONEIDADE MATERIAL,
ESPECIALMENTE PORQUE RASURADO NO PONTO ESSENCIAL E NAO
RESSALVADA A RASURA. CRIME IMPOSSIVEL, POR ABSOLUTA
IMPROPRIEDADE DE OBJETO. ABSOLVICAO DECRETADA. (RIO GRANDE
DO SUL, 1992).

A ementa tratou do caso da falsidade “ictu oculi”, ou seja, a falsidade a olhos vistos,
incapaz de enganar. Portanto, considerou o crime como sendo impossível (previsto no artigo
17 do Código Penal), conforme já se detalhou nesta seção.
A esse respeito, a doutrina elucida que “[...]a falsificação grosseira, de acordo com
a posição majoritária de nossa doutrina, afasta a configuração do delito de falsidade de
documento público, tendo em vista a sua incapacidade para iludir um número indeterminado de
pessoas.” (GRECO, 2016, p. 592).
Assim, “[...] não podendo causar prejuízo moral ou econômico a ninguém, a
conduta será atípica”. (JORGE, 2007, p. 388).
Na mesma seara:

USO DE DOCUMENTO FALSO - CARTEIRA NACIONAL DE HABILITAÇÃO


COM ADULTERAÇÃO NA DATA DE VALIDADE DO EXAME MÉDICO -
RASURA E DANIFICAÇÃO DO PAPEL - FALSIFICAÇÃO GROSSEIRA -
CRIME INEXISTENTE - ABSOLVIÇÃO - APELO PROVIDO.É inexistente o
crime, por absoluta ineficácia do meio empregado, a conduta de usar documento falso
(art. 304 do CP), ou seja, carteira nacional de habilitação com adulteração na data de
validade do exame médico, se a falsificação é grosseira, pois efetivada com rasura que
chegou a danificar o papel, e por isso facilmente perceptível a olho nu, portanto,
incapaz de causar dano à fé pública por ilusão ou engano tanto do homem comum
como da autoridade de trânsito a cuja exibição o documento é destinado como prova
de habilitação para dirigir veículos automotores. (SANTA CATARINA, 2004).

Aqui a falsificação grosseira também gerou absolvição, sob a alegação de se tratar


de “crime inexistente” por absoluta ineficácia do meio empregado. Este crime também se
nota“[...] quando para a prática de estelionato o agente utiliza como fraude meio inidôneo para
iludir, como ocorre, por exemplo, no uso para esse fim de falsificação grosseira, perceptível a
47

qualquer pessoa, ou em que não existe a preocupação da imitatio veri.” (MIRABETE, 2010,
152).
Essa falsificação “efetivada com rasura que chegou a danificar o papel”, como visto,
não caracteriza um crime de falso. Portanto, a utilização deste documento também não está
configurada como o delito do artigo 304, sendo este o motivo da absolvição do autor. (GRECO,
2016, p. 640)
A seguir junta-se ementa acerca de laudo pericial em título de crédito:

APELAÇÃO CRIMINAL. CRIME CONTRA A FÉ PÚBLICA. FALSIFICAÇÃO


DE DOCUMENTO PÚBLICO. SENTENÇA CONDENATÓRIA. RECURSO DA
DEFESA. PLEITO ABSOLUTÓRIO POR INSUFICIÊNCIA DE PROVAS.
IMPOSSIBILIDADE. MATERIALIDADE DO CRIME E AUTORIA
DEVIDAMENTE COMPROVADAS. CONFISSÃO DOS RÉUS CORROBORADA
PELO LAUDO PERICIAL GRAFOTÉCNICO, QUE CONFIRMA A
FALSIFICAÇÃO DA NOTA PROMISSÓRIA. TÍTULO DE CRÉDITO
EQUIPARADO A DOCUMENTO PÚBLICO (ART. 297, § 2º, DO CP). (SANTA
CATARINA, 2015b).

Interessa primeiramente relembrar que o art. 297, § 2º do Código Penal alude a


documentos equiparados aos públicos, conforme se analisa: “§ 2º - Para os efeitos penais,
equiparam-se a documento público o emanado de entidade paraestatal, o título ao portador ou
transmissível por endosso, as ações de sociedade comercial, os livros mercantis e o testamento
particular.” (BRASIL, 1940).
Amaral (2000, p. 25) explica que o título ao portador ou transmissível por endosso
“[...] giram intensamente no seio da coletividade, sempre graças à fé que inspiram. Embora
sejam documentos tipicamente privados, a confiança que tradicionalmente infundem
recomenda a maior severidade da lei penal em face da sua adulteração.”
Nesta apelação os autores foram denunciados por falsificarem nota promissória, de
acordo com o art. 297, § 2º do Código Penal (falsificação de documento público). Em razão
disso foram condenados a 2 (dois) anos de reclusão e ao pagamento de 10 (dez) dias-multa,
substituídos por penas restritivas de direito (prestação pecuniária e prestação de serviços à
comunidade).
Desta feita, os denunciados interpuseram recurso de apelação sob a alegação de que
as provas são insuficientes para a condenação, além da ausência de dolo e do erro de tipo.
Por alterar a forma material do documento, como toda falsidade material, o título
de crédito foi submetido à perícia. Assim, a alegação de insuficiência de provas foi afastada sob
o pretexto de que a nota promissória em questão obteve laudo pericial positivo para a rasura e
autoria dos apelantes.
48

A alegação de ausência de prejuízo também foi afastada, pois, de acordo com o


voto, “[...] neste tipo penal (artigo 297, § 2º, do CP), ou seja, crime de falsificação de documento
público ou equiparado, o sujeito passivo é o Estado, secundariamente a vítima prejudicada, a
qual, inclusive, teve sua assinatura falsificada.” (BRASIL, 1940).
A respeito da ausência de dolo e erro de tipo, o parecer foi que os autores tinham
conhecimento de que o ato praticado era crime, sendo que um dos autores possuía experiência
no mercado comercial e o outro era formado em ciências contábeis. Desta forma, a decisão
alegou vontade dos autores em obter vantagem financeira.
Ex positis, verifica-se o julgado:

REVISÃO CRIMINAL - CRIMES CONTRA A FÉ PÚBLICA - FALSIFICAÇÃO


DE DOCUMENTO PÚBLICO E FALSIDADE IDEOLÓGICA – [...] - PRINCÍPIO
DA CONSUNÇÃO ENTRE OS DELITOS DE FALSIDADE DE DOCUMENTO
PÚBLICO E IDEOLÓGICA - INADIMISSIBILIDADE - DELITOS
CONSUMADOS EM CONTEXTOS FÁTICOS DISTINTOS - PRÁTICA DE DUAS
CONDUTAS DIVERSAS - CRIME DE FALSIDADE MATERIAL QUE NÃO
CONFIGURA MEIO PARA O DE FALSIDADE IDEOLÓGICA - CONDENAÇÃO
MANTIDA - FALSIFICAÇÃO GROSSEIRA - NÃO CONFIGURADA -
DESCLASSIFICAÇÃO PARA O DELITO DE ESTELIONATO – INCABÍVEL.
(MATO GROSSO, 2013).

Na revisão criminal supra, a parte foi condenada na primeira instância à pena de 4


(quatro) anos, 2 (dois) meses e 80 (oitenta) dias multa por incurso nos artigos 297 e 299 do CP.
Pugnou pela desclassificação do referido decisum para o delito de estelionato (art. 171, CP) e
consequente aplicação da regra do concurso formal.
O acusado alegou o princípio da consunção para que a decisão fosse desconstituída,
excluindo da condenação a falsidade ideológica (art. 299, CP). Alegou ainda “falsificação
grosseira”, pedindo afastamento da tipicidade do artigo 297 do CP.
Haja vista a necessidade de perícia para comprovar a falsidade do documento,
entendeu o Tribunal que a falsificação não era grosseira, adentrando na seara da falsificação
material.
O Tribunal entendeu ainda que o agente praticou os dois delitos da condenação, o
de inserção de “[...] informação e assinatura falsa em documento particular de prestação de
serviço” e o de falsificação do “[...] reconhecimento de firma e o carimbo da escrevente do
cartório”.
Portanto, conceitua-se o concurso formal, que ocorre quando “[...] o agente, com
uma única conduta, causa dois ou mais resultados.” Possui como requisitos uma conduta única
que dê origem a dois ou mais fatos típicos. (CAPEZ, 2012, p. 553).
49

Com relação ao princípio da consunção, vale relembrar que ocorre quando um fato
maior “[...] absorve, engole, consome o fato menor, de modo que somente sobra a norma que o
regula”, sendo importante que ocorra sob o mesmo contexto. (CAPEZ, 2012, p. 99).
Considerando os conceitos acima, afastou-se a possibilidade de concurso formal e
da aplicação do princípio da consunção sob a alegação de que os crimes praticados são
autônomos e consumaram-se em diferentes contextos fáticos.
50

5 CONCLUSÃO

No primeiro capítulo o trabalho explorou a importância da Fé Pública e sua tutela


para o Estado, o conceito de documento, a falsificação de documento público e particular, a
consumação e tentativa dos referidos crimes, a classificação destes e a falsificação seguida do
uso.
Os artigos estudados encontram-se no Título X do Código Penal Brasileiro, o qual
tutela a Fé Pública, primordial para a confiança nas relações jurídicas do Estado. Sem esta
crença, ficaria restado comprovar a todo instante a veracidade de documentos, públicos ou
privados.
Logo, impende ao Estado afastar toda e qualquer ameaça a essa confiança através
da tipificação, por exemplo, dos delitos de falsificação de documento público, falsificação de
documento particular, falsidade ideológica e uso de documento falso.
Depreende-se do estudo destes crimes que, dentre as falsificações estudadas, a
falsificação de documento público é a que possui maior severidade em sua pena (reclusão de
dois a seis anos e multa), pois a legislação pátria entende pela primazia do público sobre o
particular.
Na observância do delito do artigo 297 do CP, destaca-se que este é crime comum
e formal, que independe de resultado. A falsificação de documento público reside nos verbos
falsificar - criar um novo documento para que pareça verdadeiro - e alterar – modificar,
conforme o interesse do agente, um documento que já é verdadeiro.
Também crime comum e formal, a falsificação de documento particular (artigo 298,
CP) elenca os mesmos núcleos verbais do artigo antecedente, embora tenha como objeto
material o documento particular. A este objeto fora recentemente equiparado o cartão de crédito
e débito, ressalta-se.
A falsificação de documento seguida do uso mostra-se pacificada na doutrina e na
jurisprudência como exaurimento do crime de falsidade (STF - HC: 84533), punindo-se apenas
a contrafação do documento.
Para o segundo capítulo abarcou-se a falsidade ideológica e seus requisitos, sua
classificação, consumação e tentativa, sua distinção perante a falsidade material, o conflito
aparente de normas e princípios aplicáveis e o uso de documento falso (art. 304, CP).
A falsidade ideológica é crime tratado no artigo 299 do Código Penal e incrimina -
através dos verbos omitir, inserir ou fazer inserir e alterar - a modificação na essência do
documento.
51

Aí reside a diferença desta falsidade para a falsidade material. A falsidade


ideológica, como o próprio nome diz, busca modificar a ideia que o documento transmite, sem
que para isso a parte física do documento se altere (como nos casos de falsidade material).
O uso de documento falso (artigo 304 do CP) depende dos crimes de falsificação,
tendo em vista que as penas deste delito são cominadas à falsificação ou à alteração. Este uso,
como visto, deve ser consciente e voluntário.
Operou-se consequentemente o esclarecimento do conflito aparente das normas do
artigo 304 e da falsificação seguida do uso de documento falso pelo próprio agente. Este conflito
é dirimido pela simples definição de que no uso de documento falso do art. 304 o agente não
atua com o mesmo objetivo que o falsificador, ao contrário da falsificação seguida do uso.
Os conflitos aparentes de normas possuem amparo doutrinário para sua resolução.
Por isso, citam-se os princípios aplicáveis a estes casos: princípio da especialidade, princípio
da subsidiariedade, princípio da consunção e princípio da alternatividade.
Por fim, ao último capítulo coube responder o tema proposto por este trabalho, qual
seja, a rasura em documento com o fim de alterar fato juridicamente relevante, sua análise
doutrinária e jurisprudencial.
Conclui-se que a rasura caracteriza alteração de documento já existente para a
inserção de informação que interesse ao autor do falso. A alteração, como já mencionado,
caracteriza o tipo penal da falsidade material, em que a parte externa do documento é
modificada.
Comprovou-se através de excertos da doutrina e de julgados que a rasura, quando
passível de iludir a coletividade, constitui o crime de falsidade material. A rasura grosseira, no
entanto, foge do âmbito da falsidade documental e pode ser tipificada no delito de estelionato
(art. 171, CP) ou ser considerada crime impossível (art. 17, CP).
52

REFERÊNCIAS

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