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NOÇÕES GERAIS
Olá, caríssimo(a) cidadão(ã), aluno(a)! Como está? Esperamos que esteja bem!
Quando concluir esta aula você terá uma noção geral de como ocorre a tipicidade
objetiva no Direito Penal Brasileiro e estará apto a aprofundar o tema nas demais
aulas que teremos!
Bons estudos!
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CURIOSIDADES | DISCUSSÕES ATUAIS | ELEMENTOS PERIFÉRICOS
Da lição de Fragoso deflui que não basta pensar na expressão formal da norma.
Não basta pensar na proibição que ela encerra como algo cogente e ao mesmo
tempo indiscutível. É necessário perscrutar a respeito dos valores que estão por
trás da norma, no bem jurídico protegido e na capacidade da norma em expressar
esta proteção. É importante situar o bem jurídico como razão de ser da norma,
como “um valor da vida humana que o direito reconhece, e a cuja preservação é
disposta a norma jurídica” [49].
Ora, seguindo essa linha de raciocínio, tem-se que o aborto – possível prática ilícita
que decorreria da conduta não autorizada de interrupção da gravidez -, tem por
objetividade jurídica a proteção da vida do feto.
Na hipótese em apreço trata-se da gestação de um feto anencéfalo, ou seja, sem
cérebro. Trata-se de um ser destituído de qualquer possibilidade de vida extra-
uterina, consoante a unânime opinião da ciência médica, justamente pela falta de
atividade cerebral. A ausência de atividade cerebral é considerada, para fins
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jurídicos, o conceito legal de morte que ampara a possibilidade de iniciar-se o
procedimento de retirada dos órgãos de doadores.
Morte e vida são antônimos, tanto do ponto de vista natural quanto jurídico. Se a
falta de atividade cerebral representa morte, inclusive como conceito jurídico e se
morte é o contrário da vida, devemos concluir que não é possível proteger o bem
jurídica vida onde ela não existe. É por isso que ao disparar em um cadáver, o
agente comete o crime de vilipêndio de cadáver (contra o sentimento de respeito
aos mortos) e não um homicídio (atentado contra a vida).
Se não há qualquer possibilidade de se falar em atividade cerebral e, portanto, em
vida no quadro de anencefalia, não é possível pretender estender a proteção do
tipo penal a casos que tais. Diante desse quadro dramático, é correto pensar que
a conduta típica não encontra enquadramento no capítulo dos crimes contra a vida,
isto porque, o conceito médico de vida – e diga-se, outro parâmetro não pode ser
tomado – consiste na existência de atividade cerebral e não cardíaca.
Por lamentável que seja, não há o que preservar. A vida do feto é impossível, dada
a anencefalia, daí porque, sendo a vida inviável, a interrupção da gestação é
conduta que, a rigor, não atinge o bem jurídico visado pela norma penal, e, de
consequência, não havendo bem jurídico a ser protegido, da mesma forma, não
há tipicidade penal.
Cumpre destacar que dentro das finalidades a que se propõe o Direito penal – de
proteção seletiva de bens jurídicos -, não há porque fazer incidir a norma
incriminadora. Do ponto de vista penal, não há aflição do bem jurídico protegido,
do ponto de vista técnico, médico, não há vida assim compreendida, e do ponto de
vista social, antes de causar repulsa, a interrupção da gravidez, na espécie, é
compreensível e provoca a reflexão a respeito da mácula psicológica que
representa para os pais levarem a cabo uma gravidez como esta, com a certeza
de um final trágico. O Direito penal não pode trabalhar com o escopo de, pela
inflexibilidade, tornar-se cruel.
Aliás, como de regra, o direito culmina pela absorção das razões sociais em
constante e paulatina evolução. Temos assim que, uma vez já reconhecida
socialmente e tecnicamente, como circunstância que justifica a prática interruptiva
da concepção, resta ao direito, como concreção de um sistema de controle social
realmente coerente com as aspirações cidadãs, não mais que seguir esta mesma
orientação.
Fonte: BUSATO, Paulo César. Tipicidade material, aborto e anencefalia. Gen
Jurídico, 2016. Disponível em: http://genjuridico.com.br/2016/05/12/tipicidade-
material-aborto-e-anencefalia/.
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REFERÊNCIAS
1 - DOUTRINA
Bibliografia Fundamental
JUNQUEIRA, Gustavo; VANZOLINI, Patrícia. Manual de direito penal – parte geral.
6. ed. São Paulo: Saraiva Educação, 2020.
Bibliografia Complementar
BRITO, Alexis Couto de. Imputação Objetiva: Crimes de Perigo e Direito Penal
Brasileiro. São Paulo: Editora Atlas, 2015.
D’ÁVILA, Fábio Roberto. Crime Culposo e Teoria da Imputação Objetiva. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2001.
2 - LEGISLAÇÃO
3. DECISÕES JUDICIAIS
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(...) 3. Por outro lado, narrando a denúncia que a vítima afogou-se em virtude da
ingestão de substâncias psicotrópicas, o que caracteriza uma autocolocação em
risco, excludente da responsabilidade criminal, ausente o nexo causal. 4. Ainda
que se admita a existência de relação de causalidade entre a conduta dos acusados
e a morte da vítima, à luz da teoria da imputação objetiva, necessária é a
demonstração da criação pelos agentes de uma situação de risco não permitido,
não-ocorrente, na hipótese, porquanto é inviável exigir de uma Comissão de
Formatura um rigor na fiscalização das substâncias ingeridas por todos os
participantes de uma festa. 5. Associada à teoria da imputação objetiva, sustenta
a doutrina que vigora o princípio da confiança, as pessoas se comportarão em
conformidade com o direito, o que não ocorreu in casu, pois a vítima veio a afogar-
se, segundo a denúncia, em virtude de ter ingerido substâncias psicotrópicas,
comportando-se, portanto, de forma contrária aos padrões esperados, afastando,
assim, a responsabilidade dos pacientes, diante da inexistência de previsibilidade
do resultado, acarretando a atipicidade da conduta. 6. Ordem concedida para
trancar a ação penal, por atipicidade da conduta, em razão da ausência de
previsibilidade, de nexo de causalidade e de criação de um risco não permitido, em
relação a todos os denunciados, por força do disposto no art. 580 do Código de
Processo Penal.”
STJ. 1ª Câmara Criminal. HC 46.525 - MT, Rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, julgado
em 21/06/2006.
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TIPICIDADE OBJETIVA. DÚVIDA. TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA.
AUTOCOLOCAÇÃO EM RISCO PELA VÍTIMA. PRINCÍPIO DA CONFIANÇA.
INABILITAÇÃO DO RÉU. IRRELEVÂNCIA. RISCO NÃO PERMITIDO CRIADO NÃO
REALIZADO NO RESULTADO DANOSO.
1. Pela teoria da imputação objetiva, afasta-se a tipicidade objetiva da conduta em
casos de autocolocação em risco pela vítima, tais como a hipótese em que o
motorista, na condução de seu veículo, é surpreendido pela vítima que, de inopino,
se lança com sua bicicleta à frente do automóvel, militando em favor do acusado,
neste caso, ainda, o princípio da confiança. 2. Não se pode reconhecer a tipicidade
da conduta pelo fato de o motorista não ser habilitado ou estar em velocidade
acima da permitida se, no caso concreto, esse risco não permitido por ele criado
não tiver se realizado no resultado danoso, o qual teria se dado
independentemente dessa circunstância, pelo que, pela própria teoria da "conditio
sine qua non", tais fatores não podem ser tidos como causa do crime.”
TJ-MG. 7ª Câmara Criminal. AP 1.0474.12.002076-0/001-MG, Rel. Des. Marcílio
Eustáquio Santo, julgado em 06/02/2019.
AUTOAVALIAÇÃO
Após a leitura do Material Pré-Aula você deve acompanhar as 04 (quatro) vídeo
aulas teóricas ministradas pelo(s) professor(es) deste tema, de acordo com a
programação indicada no cronograma da disciplina.
Na sequência exercite a aprendizagem por meio do Caso Prático disponível no
ambiente aluno pós em atividade pós-aula. Para acessar o enunciado do caso
selecione a nomenclatura desta disciplina. A vídeo aula do Caso Prático será
liberada, somente após o envio do exercício realizado, para sua autocorreção.
Para finalizar a aprendizagem desta aula pratique a atividade autoinstrucional
disponível em atividade pós-aula. O gabarito será visualizado, conforme a
programação do cronograma da disciplina.