Você está na página 1de 143

MEDICINA LEGAL

Proibida a distribuição, sob pena de


responsabilidade civil e criminal.

1
MEDICINA LEGAL
ÍNDICE

1. Medicina Legal: conceito ....................................................................................... 3

2. Perícia e Perito: Conceitos ...................................................................................... 8

3. Da necessidade e da utilidade da Medicina Legal nos diversos ramos do


Direito; da manifestação dos peritos ................................................................... 12

4. Documentos médico legais .................................................................................. 15


5. Traumatologia médico-legal ................................................................................ 24
5.1. Energias de ordem mecânica .................................................................... 26
5.2. Energias de ordem física .......................................................................... 49
5.3. Energias de ordem química – TOXICOLOGIA ...................................... 59
5.4. Energias de ordem físico-química – ASFIXIOLOGIA ........................... 61
5.5. Energias de ordem bioquímica ................................................................. 73
5.6. Energias de ordem biodinâmica ................................................................ 73
5.7. Energias de ordem mista .......................................................................... 74

6. Tanatologia médico-legal .................................................................................... 77

7. Sexologia médico-legal: dos crimes contra a dignidade sexual .......................... 95


7.1. Do abortamento e do infanticídio ................................................................... 105

8. Antropologia Forense – Identidade e Identificação ........................................... 117

9. Infortunística ...................................................................................................... 134

APÊNDICE – Sinais em Medicina Legal .............................................................. 137

2
MEDICINA LEGAL
1. MEDICINA LEGAL: CONCEITOS
A Medicina Legal não possui conceituação estanque visto se tratar de ciência
deveras importante para a coletividade, bem como pelo fato de se ocupar de estreitar
as relações entre conhecimento biológico e conhecimento jurídico. Além disso, a
disposto do que se acredita, a Medicina Legal não é propriamente uma especialidade
médica a julgar por utilizar inúmeros campos da Medicina tradicional para explicar e
atender ao campo do Direito.
De acordo com Genival Veloso de França: “(...) é Ciência, Técnica e Arte ao
mesmo tempo”. Sendo considerada ciência por servir-se de conhecimentos, teorias e
doutrinas adstritas à Medicina de acordo com a metodologia científica estabelecida
por Aristóteles, quando da Filosofia da Ciência. Em tempo, para Aristóteles, as
ciências são maneiras de busca pelo aperfeiçoamento do raciocínio e da alma, sem
estabelecer um único objetivo ou em razão de uma utilidade, sendo uma busca do
universal a partir de um conhecimento demonstrativo dedutivo.
Deve ser considerada ainda como técnica, pois se vale de metodologias
tecnológicas para a produção de conhecimento e, consequente, atingindo ou se
aproximando da verdade. Ademais, a Medicina Legal também é arte em virtude da
produção dos resultados de forma visíveis aos interessados, ou seja, “a arte que serve
a uma perícia é, portanto, aquela em que a dialética está a serviço exclusivo de uma
realidade, sem quaisquer artifícios emergidos das divagações estéticas” (Alves de
Menezes), é a demonstração do resultado através de fotos, desenhos e esboços de
forma objetiva e coerente à realidade dos fatos questionados.
França, porquanto, delibera que “(...) a Medicina Legal é uma disciplina
eminentemente jurídica, mesmo que ela tenha muitos dos seus subsídios trazidos da
Medicina e das outras ciências biológicas e da tecnologia. Ela é uma disciplina
jurídica porque foi criada e subsiste em face da existência e das necessidades do
Direito”.
Assim, subscrevem-se inúmeros autores acerca das definições de Medicina
Legal:
− "É a disciplina que utiliza a totalidade das ciências médicas para dar
respostas às questões jurídicas". (Bonnet)

3
MEDICINA LEGAL
− “Medicina legal é o conjunto de conhecimentos médicos e
paramédicos destinados a servir ao Direito, cooperando na execução
dos dispositivos legais atinentes ao seu campo de ação de medicina
aplicada”. (Hélio Gomes)

− "É a aplicação dos conhecimentos médico - biológicos na elaboração


e execução das leis que deles carecem". (F. Favero)

− “Constitui-se em ciência e arte que tem por objetivo a investigação


de fatos médicos e biológicos, empregando recursos atualizados
disponíveis em todas as áreas do conhecimento técnico e científico”.
(Francisco Moraes Silva)

− "É a medicina a serviço das ciências jurídicas e sociais". (Genival V.


de França)

− "É a arte de fazer relatórios em juízo". (Ambrósio Paré)

− "É a aplicação de conhecimentos médicos aos problemas judiciais".


(Nério Rojas)

− "É a arte de pôr os conceitos médicos ao serviço da administração da


justiça". (Lacassagne)

− "É o estudo do homem são ou doente, vivo ou morto, somente


naquilo que possa formar assunto de questões forense". (De
Crecchio)

− “A aplicação das ciências médicas ao estudo e solução de todas as


questões especiais, que podem suscitar a instituição das leis e a ação
da Justiça”. (Legrand du Salle)

− A aplicação de conhecimentos médicos dos misteres da Justiça”.


(Afrânio Peixoto)

4
MEDICINA LEGAL

CAIU EM PROVA:
(CEBRASPE/2018) Medicina legal é definida como:
b) um conjunto de conhecimentos médicos destinados a servir ao direito e que
cooperam na elaboração, interpretação e execução de dispositivos legais, no
seu campo de ação de medicina aplicada.

TOME NOTA Medicina Legal ≠ Criminalística


A Criminalística refere-se à dinâmica dos fatos que circundam uma cena de
crime, por exemplo. Enquanto a Medicina Legal ocupa-se dos vestígios na pessoa, a
Criminalística avalia o fato criminoso e suas circunstâncias.

Medicina legal

Da necessidade e da utilidade da Medicina Legal nos diversos ramos do


Direito
Conforme mencionado anteriormente, a Medicina Legal é de suma
importância para elucidar questões jurídicas apontadas pelos operadores do Direito,
de maneira a contribuir do ponto de vista médico para a elaboração, interpretação e
aplicação das leis. Por se tratar de uma especialidade plural, a Medicina Legal atende
às necessidades jurídicas-sociais através da Psiquiatria (exemplo: Psicologia
Forense), Anatomia (exemplo: Tanatologia Forense), Obstetrícia e Ginecologia
(Sexologia Forense), entre outras.
Além de servir ao Direito Penal, no que tange situações correlatas as lesões
corporais, sexualidade criminosa, aborto legal e ilícito, infanticídio, homicídio,
emoção e paixão, embriaguez, etc., a Medicina Legal se faz presente em tantas outras
áreas do Direito, tais como:

5
MEDICINA LEGAL
− Direito Civil: paternidade, impedimentos matrimoniais, testamento,
erro essencial, limitadores e modificadores da capacidade civil,
personalidade civil e direitos do nascituro, etc.

− Direito Constitucional: Dissolubilidade do matrimônio, a proteção


à infância e a maternidade, etc.

− Direito Processual Civil e Penal: Psicologia da testemunha, da


confissão, da acareação do acusado e da vítima, das perícias, etc.

− Direito Administrativo: ingresso e afastamentos de servidores


públicos, aposentadoria por invalidez, etc.

− Direito do Trabalho: Infortunística, insalubridade, higiene, as


doenças e a prevenção de acidentes profissionais, etc.

− Direito Penitenciário: Psicologia do detento no que tange a


concessão de livramento condicional e a psicossexualidade das
prisões, etc.

− Direito dos Desportos: Análise das formas de lesões culposas ou


dolosas nas disputas desportivas e no aspecto do doping.

− Direito Ambiental: questões relacionadas às condições de vida


satisfatórias em um ambiente saudável, etc.

− Direito Comercial: Ao periciar os bens de consumo e ao atribuir as


condições de maternidade para plena capacidade civil dos
economicamente independentes.

− Lei das Contravenções Penais: Anúncios de técnicas


anticoncepcionais, da embriaguez e das toxicomanias, omissão na
comunicação de crime no exercício da Medicina, inumação e
exumação com infrações legais, etc.

6
MEDICINA LEGAL
Além dos diversos ramos do Direito, a Medicina Legal ainda se estreita à
Filosofia, Sociologia, Biologia, Química, Física dentre outras Ciências.

CAIU EM PROVA:
(ACESSO/2019) Enquanto área de estudo e aplicação de conhecimentos
científicos, a Medicina Legal está alicerçada em um conjunto de
conhecimentos destinados a defender os direitos e os interesses dos homens
e da sociedade. Assinale a seguir a alternativa que descreve corretamente a
Medicina Legal:
d) É um conhecimento médico e paramédico que, no âmbito do direito,
concorre para a elaboração, interpretação e execução de leis existentes. Por
meio de pesquisa científica realiza seu aperfeiçoamento, estando a medicina
a serviço das ciências jurídicas e sociais.

ANOTAÇÕES:

_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
Bons estudos!

7
MEDICINA LEGAL
2. PERÍCIA E PERITO: CONCEITOS
A perícia médico-legal tem por objetivo a elaboração de provas para elucidar
e documentar a materialidade do crime, sendo passível de interferência nas decisões
judiciais que lhe cabe. Assenta-se que provas são os elementos demonstrativos do
fato, que revelam ou não as circunstâncias, contribuindo para a acepção da verdade
por parte do magistrado que formará sua convicção. Sendo, para tal, definida a prova
como a soma dos fatos produtores da convicção dentro do processo.
Porquanto, existem provas que porventura se tornam imprestáveis ou são
proibidas por nosso ordenamento jurídico: as provas ilícitas (contrariam Direito
material) ou provas ilegítimas (contrariam Direito Processual). Além disso, a
avaliação das provas segue três sistemas:
1. Sistema tarifado ou legal: o juiz limita-se a comprovar o resultado
da prova e cada prova tem um valor certo e preestabelecido.
2. Sistema da livre convicção: decisão do juiz é soberana, ele julga de
acordo com sua consciência e não está obrigado a explicar suas
razões.
3. Sistema da persuasão racional: Sistema adotado pelo Brasil, onde o
juiz baseia sua decisão em razões justificadas ainda que não esteja
adstrito às provas, tendo que justificar sua rejeição por elas. O juiz
formará sua convicção pela livre apreciação das provas (artigo 157
do Código de Processo Penal).
§ 5º - O juiz que conhecer do conteúdo da prova declarada inadmissível não
poderá proferir a sentença ou acórdão.

TOME NOTA a solicitação da perícia pode ocorrer principalmente na


fase de inquérito (a pedido da autoridade policial) e na fase da ação penal (a
requisição do juiz).

Outrossim, a materialidade se dá através do exame de corpo de delito, que


compõe o conjunto de provas materiais de maneira a informar e fundamentar os fatos.
Não confundir com exame do corpo da vítima, quando essa existir, pois esse seria
apenas um dos elementos a ser periciado. A ausência de exame de corpo de delito

8
MEDICINA LEGAL
poderá levar a nulidade do processo, sendo imprescindível na prática forense.
Art. 158 (CPP): “Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o
exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a
confissão do acusado”.

− Direto: realizado diretamente nos vestígios deixados pela ação


criminosa, tanto os elementos físicos como os elementos acessórios.
Figura como a base residual do crime, de caráter permanente ou
temporário, mas sempre relacionado aos elementos sensíveis do ato
a ser periciado. Importante mencionar que o exame de corpo de delito
direto é indispensável quando houver vestígios (vide artigo 158,
CPP).

− Indireto: na ausência ou inexistência de vestígios, ocorre através de


informação testemunhal, prova documental ou ainda pela análise de
ficha clínica da vítima (em caso de escusa). Vale ressaltar que os
quesitos formulados aos peritos não podem ser respondidos
exclusivamente com base em cópias de prontuários ou relatórios
hospitalares.

TOME NOTA Vestígio ≠ Indício ≠ Evidência


Vestígio: Material/objeto recolhido no local de crime.
Indício: Induz-se a existência das circunstâncias relacionadas ao crime
(jurídico – art. 239 CPP).
Evidência: Apresenta relação direta com o crime.

Em 2018, o legislador incluiu importante abordagem relacionada à


prioridade de realização de exame de delito nos casos:
I - violência doméstica e familiar contra mulher;
II - violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa com deficiência.

9
MEDICINA LEGAL
Ainda acerca do artigo 158, houveram importantes alterações também no ano
de 2019 no que tange a cadeia de custódia, sendo essa definida como:
o conjunto de todos os procedimentos utilizados para manter e documentar
a história cronológica do vestígio coletado em locais ou em vítimas de
crimes, para rastrear sua posse e manuseio a partir de seu reconhecimento
até o descarte (artigo 158-A).

Segundo o artigo 158-B, o rastreamento dos vestígios ao longo da cadeia de


custódia deve seguir as etapas:
1. Reconhecimento
2. Isolamento
3. Fixação
4. Coleta
5. Acondicionamento
6. Transporte
7. Recebimento
8. Processamento
9. Armazenamento
10. Descarte
Ademais, as subsequentes inclusões no artigo 158 são relativas às
responsabilidades periciais no que se refere ao manejo dos vestígios.
Peritos são os profissionais responsáveis pelo exame de corpo de delito, a
serem realizados, em regra, pelo perito oficial. Além disso, o perito oficial deve
apresentar conhecimento técnico-científico (portador de diploma de curso superior),
habilitação em concurso público e habilidade específica. As partes podem, ainda,
indicar assistente técnico para elaborar PARECER como prova pericial de área
especializada, visando fiscalizar a perícia oficial, verificar nexo de causalidade,
possível omissão de detalhes, enfim, manifestando suas próprias conclusões sobre o
fato averiguado após LAUDO do perito de juízo.
Há, além, o perito ad hoc (ou louvado, nomeado, designado, não oficial),
assim denominado o responsável por substituir o perito oficial, indicado pela
autoridade judicial, conforme dispõe o artigo 159 do Código de Processo Penal:

10
MEDICINA LEGAL
Art. 159 (CPP):
§ 1º - Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas
idôneas, portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área
específica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a
natureza do exame.
§ 2o - Os peritos não oficiais prestarão o compromisso de bem e fielmente
desempenhar o encargo.

CAIU EM PROVA:
(CEBRASPE/2018) Enquanto Havendo necessidade de perícia em processo de
reparação de danos relativos à colocação de implante dentário, o juiz nomeará,
preferencialmente, profissional graduado em odontologia para exercer a função
de perito
a) oficial de juízo.

ANOTAÇÕES:

_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
Bons estudos!

11
MEDICINA LEGAL
3. DA NECESSIDADE DA PERÍCIA NO DIREITO; DA ATUAÇÃO DO
PERITO NOS DIVERSOS RAMOS DO DIREITO; DA
MANIFESTAÇÃO DOS PERITOS
Segundo Gerson Odilon Pereira: "O poder judiciário não pode apreciar todos
os fatos ou negócios jurídicos sem a colaboração de técnicos ou de pessoas doutoras
em determinados assuntos, razão pela qual torna-se necessária a perícia". Assim, não
só em matéria criminal, a perícia se faz necessária quando da demonstração de
conhecimento técnico ou científico que exorbite as questões oriundas do magistrado.
− Foro Penal ou criminal (perícia obrigatória): corpo de delito,
insanidade mental, necropsia, etc.
− Foro Civil (perícia facultativa): ações anulatórias de casamento,
investigação da paternidade, capacidade civil, etc.
− Foro Trabalhista: acidente do trabalho, doença profissional,
condições de insalubridade e/ou periculosidade, etc.
− Foro Administrativo: securitária, estatutária e previdenciária.
A manifestação da perícia não está adstrita ao “visum et repertum” (ver e
relatar), se faz necessária discussão, a fundamentação e a dedução para a busca do
estabelecimento da verdade dos fatos. De acordo com o autor Genival Veloso de
França: “é imperioso que o laudo pericial não se afaste de sua verdade objetiva ou
material representada pela correta descrição do que é visto e se aproxime também da
verdade subjetiva ou processual retratada pelas conclusões oriundas do conjunto dos
elementos materiais”.
O laudo pericial é o produto da perícia. É o instrumento que formaliza a
atuação do perito, apresentando ao juiz a percepção técnica do objeto periciado. Vale
dizer que laudo pericial é um instrumento produzido, necessariamente, por um agente
oficial do estado. Quanto ao assistente técnico, vale lembrar: ele não emite laudo, mas
um parecer. O prazo para entrega do laudo pericial é de 10 (dez) dias (prorrogáveis a
requerimento do perito e por deliberação da autoridade judicial).
TOME NOTA Para melhor elaboração dos laudos, admite-se ao perito
acesso aos autos do Inquérito Policial ou do Processo.
Quesitos são as perguntas que podem ser formuladas pelo MP, pelo assistente
de acusação, ofendido, querelante, acusado e, também, pelo juiz, e que serão

12
MEDICINA LEGAL
respondidas pelos peritos. De acordo com o CPP, poderão ser determinados os
quesitos até o ato de diligência. Todavia, existe um problema lógico nesta elaboração
de quesitos. Geralmente, as perícias são elaboradas durante o Inquérito Policial, a
qualquer hora ou dia. Como se trata de um procedimento inquisitivo, não se admite
atuação das partes durante esta fase preliminar. Neste sentido, o mais lógico seria
idealizar que somente se aplica o previsto no art. 159, § 3° do CPP às perícias
elaboradas durante a fase processual.
Art. 159 (CPP):
§ 3° - Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao
ofendido, ao querelante e ao acusado a formulação de quesitos e indicação
de assistente técnico.
Art. 176 (CPP): A autoridade e as partes poderão formular quesitos até o
ato da diligência.

Caso o laudo apresente algum vício ou obscuridade, a autoridade judicial


poderá mandar suprir o defeito ou poderá, ainda, requisitar nova perícia.
Em situações em que a perícia for realizada por mais de um perito, é possível
que eles tenham conclusões conflitantes, e quando isso acontecer eles poderão realizar
laudos individuais ou podem confeccionar um único laudo, porém, devem esclarecer
os motivos da divergência. Caso isso aconteça, o juiz poderá:
− Nomear um 3° perito para solucionar a divergência ou
− Determinar uma nova perícia com a intervenção de outros peritos.
Art. 180 (CPP): Se houver divergência entre os peritos, serão consignadas
no auto do exame as declarações e respostas de um e de outro, ou cada um
redigirá separadamente o seu laudo, e a autoridade nomeará um terceiro; se
este divergir de ambos, a autoridade poderá mandar proceder a novo exame
por outros peritos.

No caso de inobservância de formalidades, ou no caso de omissões,


obscuridades ou contradições, a autoridade judiciária mandará suprir a formalidade
ou complementar ou esclarecer o laudo. Assim, poderá o perito ser inquirido em
audiência marcada previamente (com antecedência de dez dias), apresentando o perito
um laudo complementar.
Para o efeito de exame do local onde houver sido praticada a infração, a

13
MEDICINA LEGAL
autoridade providenciará, imediatamente, que não se altere o estado das coisas até a
chegada dos peritos (art. 6°, CPP), que poderão instruir seus laudos com fotografias,
desenhos ou esquemas elucidativos. Os peritos registrarão, no laudo, as alterações do
estado das coisas e discutirão, no relatório, as consequências destas alterações na
dinâmica dos fatos.

14
MEDICINA LEGAL
4. DOCUMENTOS MÉDICO-LEGAIS
Os documentos médico-judiciários são instrumentos escritos, ou simples
exposições verbais mediante os quais o médico fornece esclarecimentos à justiça. Ou,
ainda: “qualquer base do conhecimento fixada materialmente e disposta de maneira
que se possa utilizar para consulta, de estudo, prova, etc." (A. B. de Holanda).
As espécies de documentos médico-legais que atendem à justiça são: as
notificações, os atestados, os prontuários, os relatórios, os pareceres e os depoimentos
orais.

1. Notificações:
"São comunicações compulsórias feitas pelos médicos às autoridades
competentes de um fato profissional, por necessidade social ou sanitária, como
acidente do trabalho, doenças infectocontagiosas, uso habitual de substâncias
entorpecentes ou crime de ação pública que tiverem conhecimento e não exponham o
cliente a procedimento criminal" (Genival Veloso de França).

2. Atestados:
É a afirmação simples e por escrito de um fato médico e suas consequências.
Trata-se de um documento particular, sem formalidades legais. Sua classificação se
divide em:

a) Quanto a Procedência ou Finalidade:


− Oficioso – É aquele fornecido por um médico na atividade
privada com destino a uma pessoa física ou privada Justifica
situações menos formais.
− Administrativo – É aquele fornecido por um médico servidor público
ou um particular, mas que vai desempenhar seu papel junto a uma
repartição pública, ou seja, servem aos interesses da administração
pública.
− Judicial – É aquele expedido por solicitação do Juiz ou que
integra os autos judiciários Atende a administração da justiça.

15
MEDICINA LEGAL
b) Quanto ao “Modus Faciendi” ou Conteúdo:
− Idôneo – É aquele expedido pelo profissional habilitado na função do
cargo e seu conteúdo expressa a veracidade do ato
− Gracioso – Também chamado complacente ou “de favor”, é aquele
fornecido sem a prática do ato profissional que o justifique, não
importando se gratuitamente ou pago É tido como de “caridade,
humanidade, amizade, político”. É sempre antiético e pode se
transformar em imprudente ou falso.
− Imprudente – É aquele fornecido de modo inconsequente, insensata
e intempestiva, quase sempre em favor de terceiros, tendo apenas o
crédito da palavra de quem o solicita
− Falso – É o que na sua expressão falta com a verdade, dolosamente.
É redigido por médico e o conteúdo contido pode ser uma afirmação
errônea, patologia, ou inexistência de um fato médico, etc.

TOME NOTA Falsidade material (fabricar ou alterar) – quando expedido


por alguém que não é médico, o indivíduo responde no art. 301, §1º do Código Penal
(Falsidade Material de Atestado ou Certidão). O uso do documento (sem a
falsificação) acarreta crime previsto no Art. 304 do CP (crime de Uso de Documento
Falso).
Art. 301 (CP): Atestar ou certificar falsamente, em razão de função
pública, fato ou circunstância que habilite alguém a obter cargo público,
isenção de ônus ou de serviço de caráter público, ou qualquer outra
vantagem:
Pena – detenção, de dois meses a um ano.
§ 1º (CP) – Falsificar, no todo ou em parte, atestado ou certidão, ou alterar
o teor de certidão ou de atestado verdadeiro, para prova de fato ou
circunstância que habilite alguém a obter cargo público, isenção de ônus ou
de serviço de caráter público, ou qualquer outra vantagem:
Pena – detenção, de três meses a dois anos.
§ 2º – Se o crime é praticado com o fim de lucro, aplica-se, além da pena
privativa de liberdade, a de multa.

16
MEDICINA LEGAL
Art. 304 (CP): Fazer uso de qualquer dos papéis falsificados ou alterados,
a que se referem os arts. 297 a 302:
Pena – a cominada à falsificação ou à alteração.

TOME NOTA Caso o particular omita, insira ou faça o médico inserir


informação falsa no atestado, o crime cometido é o de Falsidade Ideológica (Art. 299
CP).
Art. 299 (CP): Omitir, em documento público ou particular, declaração que
dele devia constar, ou nele inserir ou fazer inserir declaração falsa ou
diversa da que devia ser escrita, com o fim de prejudicar direito, criar
obrigação ou alterar a verdade sobre fato juridicamente relevante:
Pena – reclusão, de um a cinco anos, e multa, se o documento é
público, e reclusão de um a três anos, e multa, se o documento é
particular.
Parágrafo único – Se o agente é funcionário público, e comete o
crime prevalecendo-se do cargo, ou se a falsificação ou alteração é
de assentamento de registro civil, aumenta-se a pena de sexta parte.

TOME NOTA Somente o médico comete o crime de Falsidade de


Atestado Médico (Art. 302 CP).
Art. 302 (CP): Dar o médico, no exercício da sua profissão, atestado falso:
Pena – detenção, de um mês a um ano.
Parágrafo único – Se o crime é cometido com o fim de lucro, aplica-se
também multa

CAIU EM PROVA:
(IESES/2017) Com relação aos documentos médico-legais:
b) Atestado médico oficioso é aquele usado para justificar situações menos
formais, dado sob o interesse de uma pessoa física ou jurídica de direito
privado; exemplo prático é o atestado para justificar ausência a atividades de
educação física.

17
MEDICINA LEGAL
3. Prontuários:
É o registro feito pelo médico dos comemorativos do paciente. O médico
incorre em falta ética grave se deixar de elaborá-lo. (Art. 69 do Código de Ética
Médica). O prontuário médico constitui-se não apenas no registro ou histórico da
anamnese do paciente, mas em todo o acervo documental padronizado, organizado e
conciso, referente ao registro dos cuidados médicos prestados (logo, trata-se de um
documento histórico), assim como dos documentos pertinentes a essa assistência.
Mesmo sendo um documento criado para interesses médicos, o prontuário pode
produzir efeitos jurídicos de grande significação médico-legal.
Consta de exame clínico do paciente, suas fichas de ocorrências e de
prescrições terapêuticas, os relatórios da enfermagem, da anestesia e da cirurgia, a
ficha do registro dos resultados de exames complementares e, até mesmo, cópias de
solicitação e de resultado de exames complementares. Constituem um verdadeiro
dossiê que tanto serve para a análise da evolução da doença, como para fins
estatísticos que alimentam a memória do serviço e como defesa do profissional, caso
ele venha ser responsabilizado por algum resultado atípico ou indesejado.

4. Relatórios:
É a descrição minuciosa de um fato médico e de suas consequências, feita por
autoridade competente, o perito criminal ou o médico-legista. O relatório recebe o
nome de auto quando é ditado pelo perito ao escrivão, durante ou logo após a perícia,
e denominado de laudo quando é redigido pelo (s) próprio (s) perito (s),
posteriormente ao exame.
Sistematização de um relatório:

A) Preâmbulo:
− hora, data, local exatos onde o exame é realizado e sua finalidade;
− nome da autoridade que requereu ou determinou a perícia (ou número
da requisição);
− qualificação do perito (nome, títulos e residências dos peritos) e
− qualificação do examinado.

18
MEDICINA LEGAL
B) quesitos:
Em ações penais, os quesitos oficiais são formulados previamente, podendo
a autoridade elaborar e requerer outros quesitos acessórios. Na área da Psiquiatria
Médico-Legal ou na esfera cível, não constam quesitos oficiais, restando ao juiz e às
partes a formulação dos quesitos conforme o caso requer.

C) histórico:
Informações colhidas de pessoas envolvidas no caso, através do registro dos
fatos mais significativos que motivam o pedido da perícia ou que possam esclarecer
e orientar a ação dos peritos. Ademais, vale ressaltar, que essa parte advém do
periciado, logo não se deve imputar responsabilidade ao perito sobre as informações
apresentadas no histórico.
O autor Genival Veloso de França defende a tese de que o histórico seja fase
imprescindível, necessária e importante, onde, de forma simples e objetiva, apresenta
subsídios para a perícia. Além disso, o relato da vítima aos peritos, mesmo que não de
maneira investigativa ou inquisitiva, remete à proteção aos direitos fundamentais e dignidade
da pessoa humana. Ao que o autor denomina criminodinâmica, o histórico pode auxiliar a
esclarecer fatos de modo a se aproximar da verdade real e também se tornar útil à
fundamentação do raciocínio e das conclusões do perito.

D) Descrição (Visum Et Repertum):


Descrição literal, minuciosa, clara, metódica e singular dos fatos observados
através de desenhos, fotografias, esquemas, esboços e demais recursos. Deve-se expor
todas as características e particularidades das lesões, por exemplo, dando a imagem
mais aproximada possível do fato e de seu mecanismo de ação, ou seja, buscar definir
claramente os elementos de convicção à parte julgadora. “É necessário afirmar
justificando, mencionar interpretando, descrever valorizando e relatar esmiuçando”
(Genival V. de França). Trata-se da parte mais importante de um laudo pericial.

E) Discussão (Hipóteses):
Procura-se por explicações lógicas acerca dos fatos e buscar a lógica de um
diagnóstico a partir das justificativas racionais e baseadas nas circunstâncias do fato

19
MEDICINA LEGAL
descrito e analisado.

F) Conclusão (síntese diagnóstica):


Expressar sem restar dúvidas o conteúdo do relatório, ocorrendo de forma
clara. É o sumário de todos os elementos objetivos observados e discutidos pelo perito
após o exame minucioso.

G) Respostas aos quesitos (de forma sintética e objetiva):


Constitui a resposta sintética e convincente, cabendo a justificativa “sem
elementos de convicção” quando não houverem respostas categóricas para o quesito.
Mais importante que a resposta aos quesitos, são as justificativas através dos
elementos que levaram àquela “simples” resposta.

CAIU EM PROVA:
(CEBRASPE/2013) A medicina legal é o campo da ciência médica que faz a
interface entre a medicina e o direito, razão por que é necessária a observância
de protocolos rígidos tanto na realização de perícias quanto na confecção dos
respectivos laudos, pois estes são utilizados nas áreas penal, cível, trabalhista,
administrativa e securitária, e informalidades poderiam levar o laudo à perda
de confiabilidade e serventia. Com relação a esse assunto, julgue o item que
se segue.
O laudo pericial, na classificação de documentos médico-legais, se enquadra
como atestado.
ERRADO – se enquadra como relatório.

20
MEDICINA LEGAL

CAIU EM PROVA:
(FCC/2017) No seu campo de atuação, o Perito Médico Legista está
diretamente envolvido na elaboração e análise de documentos médico-
legais, sendo que:
a) a descrição é a parte mais eloquente e importante do laudo médico-
legal.

5. Pareceres:
“É a resposta escrita de autoridade médica, de comissão de profissionais ou
de sociedade científica, a consulta formulada com o intuito de esclarecer questões de
interesse jurídico” (Gerson Odilon Pereira). Pode ser considerada como uma consulta
médico-legal acerca de quesitos elaborados pelas partes e respondidos por assistentes
técnicos (pericia deducendi), o qual pode reforçar ou contradizer um laudo. É
constituído de todas as partes do relatório, exceto pela descrição. O ponto mais
relevante é a discussão e a conclusão.

CAIU EM PROVA:
(INSITUTO AOCP/2019) Assinale a alternativa correta em relação aos
documentos médico-legais:
e) O parecer técnico tem uma abrangência mais restrita que o laudo.

21
MEDICINA LEGAL
6. Depoimentos orais:

“Declaração tomada ou não a termo em audiência de instrução e julgamento


sobre fatos obscuros ou incongruentes” (Fávero). São os esclarecimentos dados pelo
perito, acerca do relatório apresentado, perante o júri ou em audiência de instrução e
julgamento, ou, ainda, para relatar sobre qualquer assunto de interesse da lei.

O ATESTADO ou DECLARAÇÃO DE ÓBITO é um documento simples,


escrito e fornecido exclusivamente por um médico, que tem como finalidade
confirmar a morte, determinar a causas mortis e satisfazer alguns interesses de ordem
civil, estatístico-demográfico e político sanitário. Pode ainda ser emitido, de acordo
com o caso concreto, pelo médico-legista, o médico plantonista do hospital público,
o médico que prestava atendimento ao morto, ou ainda, o médico com atuação no
Serviço de Verificação de Óbitos (SVO).
O SVO realiza o exame dos corpos de pessoas que morrem sem assistência
médica ou por causas naturais desconhecidas, excluídas aquelas que foram vítimas de
violência. Já no caso do IML, existem 3 três) indicações:
− Morte violenta: é aquela decorrente de forças externas. São
consideradas morte violenta o suicídio, acidentes ou provenientes de
crimes (homicídio, latrocínio);
− Morte suspeita: é aquela cuja causa jurídica precisa ser esclarecida
por não se ter certeza de ter sido natural ou
− Morte natural de pessoa não identificada.
Os eventos em caso de morte, segundo Odilon Pereira, são:

a) Morte por moléstia e causas mortis bem definidas:


SEM AUTÓPSIA / MÉDICO ASSISTENTE.

b) Morte por moléstia bem definida e causas mortis indeterminada:

S.V.O. / ANÁTOMO PATOLOGISTA.

22
MEDICINA LEGAL
c) Morte por moléstia e causa mortis indeterminada:
S.V.O. / ANÁTOMO PATOLOGISTA.

d) Morte por moléstia bem definida e causa mortis violenta:


I.M.L ./ MÉDICO LEGISTA.

ANOTAÇÕES:

_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
Bons estudos!

23
MEDICINA LEGAL
5. TRAUMATOLOGIA MÉDICO-LEGAL
A Traumatologia forense ou médico-legal é o ramo da Medicina Legal
responsável pelos estudos dos estados patológicos, imediatos ou tardios, e traumas,
ou seja, refere-se às lesões corporais resultantes de qualquer ação ou alteração de
ordem física ou psíquica que afete a integridade do ser humano, voltadas para as
causas penais, trabalhistas e civis. As lesões corporais são alvos do dispositivo legal
presente no Capítulo II do Código Penal, definindo as lesões no art. 129: “Ofender a
integridade corporal ou a saúde de outrem”.
As classificações das lesões em leve, grave e gravíssima são de ordem
jurisprudencial e doutrinária, haja visto que o Código Penal explicita apenas o termo
“lesão de natureza grave” no §1º do art. 129. A classificação de lesão de natureza
gravíssima passou a integrar o ordenamento jurídico quando do advento da Lei
13.142/2015, que altera a lei de Crimes Hediondos (Lei 8072/90):
Art. 1º: São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados
no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal,
consumados ou tentados:
I-A – lesão corporal dolosa de natureza gravíssima (art. 129, § 2o) e lesão
corporal seguida de morte (art. 129, § 3o), quando praticadas contra
autoridade ou agente descrito nos arts. 142 e 144 da Constituição Federal,
integrantes do sistema prisional e da Força Nacional de Segurança Pública,
no exercício da função ou em decorrência dela, ou contra seu cônjuge,
companheiro ou parente consanguíneo até terceiro grau, em razão dessa
condição.

É importante estar atento à essas classificações, pois o que orientará a


autoridade judicial quanto à pena a ser adotada será o exame de corpo de delito e,
posterior, laudo emitido pelo perito médico-legal acerca das lesões apresentadas pela
vítima ou até mesmo pelo ofensor.
O laudo deve responder à quesitos oficiais determinados em lei e, caso julgar
necessário, a autoridade poderá requerer respostas à quesitos complementares
pertinentes ao caso. Vale ressaltar que o exame de corpo de delito deve ser realizado
tão logo se tenha conhecimento do fato delituoso, para evitar que desapareçam os
vestígios, e o exame complementar após 30 dias da ocorrência do fato.

24
MEDICINA LEGAL

CAIU EM PROVA:
(CEBRASPE/2020) Julgue o próximo item, acerca da aplicação pericial.
Situação hipotética: Vítima de lesão corporal dolosa apresentou, como
resultado da agressão, somente uma fratura mandibular alinhada,
perfeitamente recuperada após seis semanas de bloqueio
intermaxilar. Assertiva: Segundo o art. 129 do Código Penal, nesse caso
ocorreu lesão corporal grave.
CORRETA

Os danos físicos, porquanto, são resultantes do emprego de diversas energias:


− Energias de ordem mecânica

− Energias de ordem física

− Energias de ordem química

− Energias de ordem físico-química

− Energias de ordem bioquímica

− Energias de ordem biodinâmica

− Energias de ordem mista

25
MEDICINA LEGAL
5.1) Energias de ordem mecânica:
As lesões físicas resultantes de ação mecânica ao corpo humano podem ser
resultantes do emprego de instrumentos e objetos que causem danos à incolumidade
física. Quando uma forma de energia entra em contato com o corpo (ou o corpo entra
em contato com a energia), no ponto em que ocorre a transferência de energia para o
corpo são produzidas alterações das estruturas superficiais, cutâneas (pele) ou
profundas, internas (músculos, ossos) ou, ainda, modificações das atividades ou
funções fisiológicas. Desta forma, é preciso diferenciar:

− Trauma: atuação de energia química, física ou biológica externa


sobre o corpo da pessoa, com intensidade capaz de provocar desvio
da normalidade.

− Lesão: alteração estrutural proveniente de uma agressão ao


organismo. Pode ser macro ou microscópica.

− Ferida: desencontro dos tecidos gerando uma abertura para o meio


interno.

O resultado danoso pode ser causado pelo impacto do objeto em movimento


contra o corpo humano parado (meio ativo), ou o objeto encontrar-se imóvel e o corpo
humano em movimento (meio passivo), ou, ainda, os dois pontos em movimento
vindo a se chocarem (ação mista).

26
MEDICINA LEGAL
A classificação dos instrumentos é referente à forma como esses instrumentos
são utilizados em uma ação mecânica:

INSTRUMENTOS/AÇÃO FERIDAS

Perfurantes Puntiformes

Cortantes Cortantes

Contundentes Contusas

Perfurocortantes Perfurocortantes

Perfurocontundentes Perfurocontusas

Cortocontundentes Cortocontusas

a) Lesões por ação perfurante:


Os instrumentos que causam lesões puntiformes (ou punctórias) apresentam
aspectos pontiagudos, alongados, finos e de diâmetro transverso reduzido. Exemplos:
estilete, agulha, prego, alfinete, furador de gelo, garfo, etc.

CAIU EM PROVA:
(INSTITUTO AOCP/2018) São exemplos de instrumentos perfurantes:
c) agulha e furador de gelo.

27
MEDICINA LEGAL
São empregados mediante pressão, afastando as fibras do tecido causando
sua perfuração e levando a uma lesão alongada com raro extravasamento sanguíneo,
chamadas feridas em acordeão (Sinal de Lacassagne). A perfuração causada apresenta
profundidade maior que o próprio instrumento causador da lesão, com orifício de
saída menor que o de entrada, quando houver, devido à característica de elasticidade
e retratilidade dos tecidos e o fato desse orifício ser resultante da atuação da face mais
afilada do instrumento.
Quando os instrumentos são de médio calibre, a forma das lesões assume
aspecto diferente. Para tanto, tem-se as Leis de Filhos & Langer:
− 1ª Lei de Filhos (Edouard Filhos) – Semelhança: as feridas
produzidas por instrumentos perfurantes de médio calibre são
semelhantes às feridas produzidas por perfuro-cortantes de 2 gumes
ou tomam a forma de lesão em casa de botão;
− 2ª Lei de Filhos – Paralelismo: as feridas perfurantes de médio calibre
na mesma região são paralelas entre si;
− Lei de Langer – Polimorfismo: a ferida produzida por instrumentos
perfurantes de médio calibre em regiões de entrecruzamento de linhas
de força (fibras elásticas) apresenta polimorfismo.

28
MEDICINA LEGAL
As feridas na zona de confluência das linhas de força tomam a forma de
triângulo. A importância desses instrumentos perfurantes na Medicina Legal localiza-
se no fato de serem instrumentos inoculares de infecção, pois as feridas produzidas,
embora aparentemente pequenas, são profundas. Esses instrumentos também têm uma
propriedade do sinal do acordeão, ou sinal de Lacassagne, cuja ferida, em virtude de
ser comprimida, apresenta uma extensão maior do que o instrumento que a produziu.

FONTE: Prof. Pedro Canezin.

b) Lesões por ação cortante:


Os instrumentos que causam lesões cortantes (ou incisas), que são
empregados mediante deslizamento linear sob a superfície, possuem como
exemplos: navalha, vidro, gilete, faca (utilizada tangencialmente à superfície), etc.
Além disso, apresentam as principais características:
− - forma linear,
− - regularidade das bordas e do fundo das lesões,
− - afastamento das bordas da ferida,
− - hemorragia quase sempre abundante,
− - centro da ferida mais profundo que as extremidades,
− - paredes da ferida lisas e regulares,
− - cauda de escoriação (ou ferida fusiforme).

TOME NOTA A cauda de escoriação é a principal característica desse tipo de


lesão e indica o término da ação do instrumento, indicando um traço escoriado na
superfície da epiderme que indica a direção e sentido do corte.

29
MEDICINA LEGAL

FONTE: Genival Veloso de França - encarte.


(Cauda de escoriação na porção inferior da
ferida cortante,indicando direção e sentido do
corte).

São modalidades de lesões causadas por instrumentos cortantes:


− Esgorjamento: corte profundo na região anterior do pescoço com
separação parcial (glote).
− Degolamento: corte profundo na região posterior do pescoço com
separação parcial (nuca).
− Decapitação: separação total da cabeça e pode ser resultantes de
outras formas além da cortante.
− Esquartejamento: separação da cabeça e dos membros (em
quartos).
− Espostejamento: corte em pedaços do corpo (em postas).
− Haraquiri: ferida profunda na parede abdominal com evisceração.

ESGORJAMENTO
FONTE:criminal.mppr.mp.br/arquivos/
File/Apostila_Traumatologia.pdf

30
MEDICINA LEGAL
DECAPITAÇÃO
FONTE: divulgado pelo Estado Islâmico.

ESQUARTEJAMENTO
FONTE: Genival Veloso – encarte

DEGOLAMENTO
FONTE: Prof. Reginaldo Franklin.

31
MEDICINA LEGAL

ESPOSTEJAMENTO
FONTE: Malthus

CAIU EM PROVA:
(VUNESP/2018) Com relação à traumatologia médico-legal, a diferença
conceitual entre degola (decapitação) e esgorjamento reside
d) na localização da lesão, sendo a degola posterior ao pescoço e o
esgorjamento anterior ou lateral.

CAIU EM PROVA:
(FUNIVERSA/2015) Assinale a alternativa que apresenta a ferida profunda
localizada nas faces lateral e anterior do pescoço, causada pela ação de um
instrumento cortante.
d) Esgorjamento.

32
MEDICINA LEGAL

CAIU EM PROVA:
(FUNCAB/2012) Quais as características encontradas em feridas provocadas
por ação cortante que ajudam a diferenciá-las daquelas provocadas por ação
contundente?
b) Regularidade das bordas, fundo regular, formato linear, presença de cauda
de escoriação.

ANOTAÇÕES:

_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
Bons estudos!

c) Lesões por ação contundente:


Os instrumentos causadores de lesões contundentes são os mais danosos,
sendo, geralmente de superfície plana e sólida causando lesões externas visíveis
devido a vasodilatação e o rompimento de vasos. O resultado da ação desses meios é
denominado contusão. Exemplos: pedra, soco, pedaço de madeira, cassetete, etc.
São empregados mediante pressão, deslizamento, torção, fricção,
compressão, explosão, percussão, distensão, entre outros aspectos. As variadas formas
de lesões contusas se distinguem em:

33
MEDICINA LEGAL

− Rubefação (ou eritema traumático): evidencia-se pela coloração


avermelhada da pele em razão do trauma. Trata-se de lesão efêmera
e transitória devido ao retorno da circulação sanguínea à normalidade
e consequente desaparecimento do eritema.

− Escoriação: sua origem se dá mediante ação tangencial do objeto


contundente (de ação passiva, ativa ou mista). Trata-se do
destacamento da epiderme e desnudamento da derme em forma
irregular (derme atingida não é escoriação e sim ferida), produzindo
serosidade e havendo leve extravasamento de sangue. A escoriação
não cicatriza e não deixa marca, ela se regenera por reepitelização,
sinalizando a recenticidade com mancha rósea, descorada e que
desaparece em poucos dias.

− Equimose: são resultantes do extravasamento de sangue, que se


infiltra em tecidos porosos adjacentes à lesão. Na maioria das vezes

CAIU EM PROVA:
(FUNIVERSA/2015) Quanto às lesões provocadas pela ação de
instrumentos contundentes, assinale a alternativa correta.
d) A escoriação não deixa marcas definitivas na grande maioria dos casos.

34
MEDICINA LEGAL
são superficiais, mas, segundo Thoinot, indicam reação vital.
Apresentam-se de forma irregular ou característico conforme o objeto
utilizado na ação e são de coloração variável ao longo do tempo
(Espectro Equimótico de Legrand du Saulle).

− Petéquias: se apresenta com vários pontilhados hemorrágicos.

− Víbices: em forma de estrias, sendo duas equimoses longas e


paralelas, devido ao extravasamento sanguíneo se dar ao lado do
traumatismo e não na linha de impacto (estrias pneumáticas de
Simonin – pneus de carro).

− Sugilação: forma de pequenos e variados grãos (conjunto de


petéquias).

− Sufusão: ampla área de efusão sanguínea dentro dos tecidos.

TOME NOTA Espectro Equimótico de Legrand du Saulle (equimoses da


conjuntiva ocular não seguem a sucessão de tonalidades por se tratar de tecido muito
poroso e de oxigenação fácil, mantendo-se vermelho até sua total absorção):

35
TEMPO COLORAÇÃO da MEDICINA LEGAL
EQUIMOSE
Até 2º dia VERMELHO
2º ao 3º dia VIOLETA
4º ao 6º dia AZUL
7º ao 10º dia VERDE ESCURO
11º ao 12º dia VERDE AMARELADO
12º ao 17º dia AMARELADO
A partir do 20º Desaparecem
dia

CAIU EM PROVA:
(FUNCAB/2016) As equimoses representam o extravasamento e dispersão do
sangue nas malhas dos tecidos e podem surgir em diversas partes do corpo, bem
como assumir certos tipos de coloração. De acordo com o espectro equimótico
de Legrand Du Saulle, uma equimose de coloração amarela indica ter sido
causada há, aproximadamente:
d) doze dias.

36
MEDICINA LEGAL

CAIU EM PROVA:
(FUNIVERSA/2012) A tonalidade da equimose é um aspecto de grande
interesse pericial. De início, é sempre avermelhada; depois, com o passar do
tempo, ocorrem mudanças cromáticas que têm o nome de espectro equimótico
de Legrand Du Saulle. Essas alterações cromáticas ocorrem da seguinte
forma:
a) vermelha no 1.º dia, violácea no 2.º e no 3.º dias, azul do 4.º ao 6.º dia,
esverdeada do 7.º ao 10.º dia e amarelada por volta do 12.º dia, desaparecendo
por volta do 15.º ao 20.º dia.

TOME NOTA Mancha de Tardieu – pequenas equimoses arredondadas


de sangue coagulado, localizadas sob a pleura e o pericárdio, características das
asfixias.
TOME NOTA Mancha de Paltauf – equimoses subpleurais mais
comuns, maiores que a Mancha de Tardieu e de contornos irregulares, encontradas
em casos de afogamento.
− Edema (ou tumefação): Refere-se ao acúmulo de líquido (sais e
proteínas do plasma) nos tecidos. Tríplice de Lewis - sequência de
aparecimento do edema: hiperemia na zona de impacto
(vasoconstrição inicial), seguido de extensão para a região ao redor
(vasodilatação) e posterior palidez da região de contato (edema).

− Hematoma: extravasamento da parte sólida do sangue nos tecidos,


sem difusão nas malhas teciduais moles, formando cavidades em que
é possível apalpar certa flutuação. Geralmente, faz-se relevo na pele,
delimitação mais ou menos nítida e de absorção mais lenta que a
equimose. Trata-se de uma “coleção sanguínea”.

37
MEDICINA LEGAL
− Bossa sanguínea: Diferente do hematoma, a bossa sanguínea
apresenta-se sobre um plano ósseo e de maior saliência na superfície
cutânea. Popularmente chamada de “galo”.

− Ruptura visceral: resultantes de impacto violento provocando


ruptura de órgãos internos. A ação pode ser causada por pressão,
tração, explosão, compressão e percussão, atingindo mais
comumente: baço, fígado, rins, pulmões, intestinos, pâncreas e
suprarrenais.

− Ferida contusa: são lesões abertas profundas que se apresentam com


borda tortuosa, irregulares e com destruição de tecido (ultrapassam a
epiderme e atingem a derme). Ainda, há presença de pontes de tecidos
íntegros compostas pelas fibras elásticas da derme e retração das
bordas da ferida, que se apresenta como reação vital. São exemplos:

• Fraturas: trata-se da solução de continuidade de estruturas


ósseas, podem se classificar em diretas (no local do traumatismo)
ou indiretas (mais ou menos distantes do local), fechadas ou
expostas e, ainda, de acordo com a extensão, completas ou
incompletas.

• Luxações: deslocamento ou afastamento grave, repentino e


duradouro da extremidade de dois ossos (superfície articular de
contato se afasta).

38
MEDICINA LEGAL
• Entorses: torção de uma articulação, com lesão nos ligamentos
ou tendões devido à uma flexão intensa. Não existem
complicações mais sérias, exceto quando, raramente, ocasiona
ruptura de ligamentos, tendões ou músculos.

CAIU EM PROVA:
(IADES/2017) Acerca das lesões corporais contusas, assinale a alternativa
correta.
e) Uma ferida contusa é a lesão produzida por instrumento contundente com
rotura completa da pele, com exposição do subcutâneo.

ANOTAÇÕES:

_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
Bons estudos!

39
MEDICINA LEGAL
d) Lesões por ação perfurocortante:
Os instrumentos perfurocortantes apresentam ponta e gume e são empregados
mediante pressão e secção, com deslizamento para o interior de uma área,
provocando uma lesão perfuro-incisa alongada em forma de linha. Os instrumentos
podem apresentar um ou dois gumes, por exemplo, faca e punhal, respectivamente.
Além disso, é característico desse tipo de ação um mecanismo misto, onde
há perfuração com a ponta e corte com as bordas afiadas do instrumento. A ferida
causada por instrumento de um só gume se apresenta em forma de botoeira com fenda
regular, ferida linear, um ângulo agudo e outro arredondado. Enquanto a ferida
causada pelo instrumento de dois gumes possui fenda de bordas iguais e ângulos
agudos.

e) Lesões por ação perfurocontundente:


As lesões perfurocontundentes são provocadas pelos projéteis de arma de
fogo, sendo resultados de uma ação perfurante e contundente, que atuam mediante
pressão levando à penetração nos tecidos.
Acerca de conceitos importantes para a Balística Forense, assevera-se que a
munição de uma arma de fogo, em suma, apresenta 5 (cinco) estruturas: estojo,
espoleta, bucha, pólvora e projétil, sendo esse último o instrumento causador das
lesões perfurocontundentes.

Ao sair da arma de fogo, o projétil percorre uma trajetória precisa e estável,


garantida pelas raias presentes no cano da arma, apresentando orifício de entrada
arredondado e com diâmetro igual ou menor que o calibre do projétil. Ao penetrar o

40
MEDICINA LEGAL
corpo, o projétil desenvolve um trajeto, irregular e normalmente com diâmetro maior
que o orifício de entrada.
O trajeto de um projétil no interior de um corpo pode apresentar sentido em
linha reta, quando transfixante, ou pode terminar em fundo cego ou perder-se em uma
cavidade. Em geral, são as estruturas ósseas responsáveis pelos desvios mais
acentuados do projétil. Diante de um plano elástico e móvel, ou sobre a superfície
curva de determinados ossos, como, por exemplo, as costelas e a calvária, pode o
projétil fazer um semicírculo, entrando na parte anterior do corpo e saindo
lateralmente, sem penetrar em uma das cavidades.
A luz do canal formado pelo trajeto sempre apresenta sangue coagulado (de
reação vital), tecidos lacerados, desorganizados e infiltrados por sangue e corpos
estranhos provenientes de outras regiões, como esquírolas ósseas (lascas ou pequenos
segmentos de ossos).

TOME NOTA Trajeto em chuleio (ou alinhavo) – situações em que um


único projétil é capaz de transfixar vários segmentos ou partes do corpo, com orifícios
de entrada e saída.
A Balística forense, que estuda os movimentos dos projéteis e os fenômenos
conexos, se divide em:
− Balística Interna: estuda os fenômenos físicos e químicos e os
elementos que caracterizam o movimento do projétil desde a
iniciação da carga de lançamento até a saída do cano da arma;
− Balística Externa: estuda a trajetória do projétil fora do cano da
arma até o alvo;

41
MEDICINA LEGAL
− - Balística Terminal: estuda os efeitos sobre o projétil e sobre o alvo
após o impacto.

CAIU EM PROVA:
(CEBRASPE/2020) Uma pessoa foi atingida por um projétil de 7,62 mm × 51
mm, disparado por fuzil, que transpassou das costas para o peito, percorrendo
uma trajetória de mais de 200 metros, entre a saída do cano e o alvo.
A respeito dessa situação hipotética e de aspectos a ela relacionados, julgue o
item a seguir.
O estudo da trajetória do projétil especificado na situação em tela, desde o
momento em que saiu do cano da arma até o repouso final, bem como a
determinação de parâmetros como velocidade, alcance útil e velocidade inicial,
são atribuições da balística terminal.
ERRADO – são atribuições da balística externa.

Quanto aos ferimentos de saída, quando ocorrem, apresentam orifício


irregular com bordas voltadas para fora (evertidas), maior sangramento e não
apresentam sinais comumente encontrados nos orifícios de entrada, visto que os
resíduos, impurezas e elementos resultantes do disparo se dissiparam e ficaram retidas
no interior do corpo. Pode ser encontrada a aréola equimótica em torno do ferimento
de saída, pois o mecanismo de produção é o mesmo dos ferimentos de entrada.
As armas de munição múltipla, quando atiram e atingem o alvo a uma certa
distância, criam as chamadas “Rosas de Tiro”, as quais permitem determinar a
distância do tiro.

42
MEDICINA LEGAL
Classificações da distância do tiro e suas características:
− Tiro encostado: há ação do projétil, da boca do cano da arma e dos
gases provenientes do disparo da arma de fogo, que rompem os
tecidos e ocasionam lesões externas. Sinais presentes nos disparos de
arma de fogo encostados:
• Câmara de Mina de Hoffmann: Ferida estrelada com bordas
evertidas, devido à pressurização dos gases durante o tiro,
quando em região próxima à ossos.
• Sinal de Benassi: Halo fuliginoso escuro onde há um plano
ósseo.
• Sinal de Werkgaertner: Queimadura na pele provocada pela
boca do cano encostado resultado do superaquecimento.

Câmara de Mina de Hoffmann

Sinal de Benassi

Sinal de Werkgaertner

CAIU EM PROVA:
(IADES/2019) A respeito das lesões corporais produzidas por disparos de
arma de fogo, assinale a alternativa que apresenta o significado da
expressão “sinal de Benassi”.
c) Esfumaçamento/queimadura óssea, especialmente no crânio, em
disparos encostados.

43
MEDICINA LEGAL
• Sinal de Shusskanol: queimadura e pólvora nas paredes do túnel
causado pelo tiro.

− Tiro a curta distância (à queima-roupa) – 40 a 50cm: há atuação


do projétil e dos gases provenientes da combustão da pólvora,
levando a várias lesões externas na superfície da pele. Além da lesão
primária causada pela penetração do projétil, o tiro a curta distância
também apresenta efeitos secundários provocados pelos elementos
carregados pelo projétil (características abaixo). Os ferimentos de
entrada podem se apresentam de forma arredondada ou elíptica (a
depender da posição do atirador), bordas invertidas e apresentar as
seguintes características:

• Orla de contusão ou escoriação: Região em torno do orifício de


entrada com presença de sangramento e arrancamento da
epiderme.

• Orla ou halo de enxugo: Zona de cor escura em torno do orifício


onde ficam todos os resíduos do projétil (pólvora) e tudo aquilo
levado por ele, como sujeira, tecidos, outras impurezas.

• Halo ou zona de tatuagem: São pontos pretos em torno do


orifício de entrada causados por grãos de pólvora incombustos e
impregnados na pele (não é possível limpar com água).

• Orla ou zona de esfumaçamento: Local em torno do orifício de


entrada manchado por resíduos finos e impalpáveis de pólvora
combusta, fuligem e gases (chamadas de “falsa zona de
tatuagem”, sai com a água).

• Zona de queimadura ou chamuscamento: a borda da ferida é


ligeiramente queimada pelo calor do projétil e da explosão dos
gases resultantes da ação (queimadura de pelos e cabelos).

44
MEDICINA LEGAL
• Aréola equimótica: Zona superficial e relativamente difusa de
leve hemorragia proveniente do rompimento de pequenos vasos
sanguíneos, de tonalidade violácea que pode ser encoberta por
outros elementos.

• Zona de compressão de gases: trata-se da área de depressão da


pele pela ação mecânica da coluna de gases, visível apenas nos
primeiros instantes.

CAIU EM PROVA:
(VUNESP/2018) Com relação aos ferimentos de entrada em lesões produzidas
por projéteis de arma de fogo, é correto afirmar:
a) a aréola equimótica é representada por uma zona superficial e relativamente
difusa, decorrente da sufusão hemorrágica oriunda da ruptura de pequenos
vasos localizados nas vizinhanças do ferimento, geralmente de tonalidade
violácea.

TOME NOTA Zona de Fisch – orla de contusão + orla de enxugo + orla


de escoriação - quando alongada, aponta na direção de onde veio o projétil.
TOME NOTA Sinal de Romanese – orla de escoriação no ferimento de
saída caso a vítima esteja encostada em um anteparo.

45
MEDICINA LEGAL

A – Orla de contusão
B – Orla de enxugo
C – Zona de tatuagem
D – Zona de esfumaçamento

1 – Orifício de entrada (efeito primário)


2 – Orla de enxugo
3 – Orla de escoriação
4 – Orla de contusão
5 – Zona de esfumaçamento
6 – Zona de tatuagem


46
MEDICINA LEGAL

CAIU EM PROVA:
(IADES/2019) Quanto aos efeitos e resíduos secundários do tiro, assinale a
alternativa correta.
c) Quando uma pessoa encontra-se atrás de uma vidraça que é atingida por um
projétil expelido por arma de fogo e que a transfixou, pequenos fragmentos de
vidro projetados podem atingir essa pessoa, causando a lesão denominada
“falsa tatuagem”, deixando um aspecto semelhante àquele verificado na zona
de tatuagem causada por tiro direto.

− Tiro a distância – acima de 50cm: presença apenas dos efeitos


primários de entrada do projétil. Caracteriza-se por apresentar
ferimento de entrada com diâmetro menor que o do projétil, forma
arredondada ou elíptica, orla de escoriação, halo de enxugo, aréola
equimótica e bordas reviradas para dentro. Não há zona de
esfumaçamento, tatuagem e queimadura.

47
MEDICINA LEGAL

f) Lesões por ação cortocontundente:


São lesões cortocontusas causadas por instrumentos que, mesmo
apresentando gumes, exercem pressão, deslizamento e percussão sobre a superfície
do corpo, levando ao esmagamento da região devido ao impacto do próprio
instrumento. Exemplos: facão, foice, machado, enxada, serra elétrica, dentes, unhas,
etc.
Geralmente são lesões graves e de forma variável conforme o objeto, a força
aplicada e região atingida, por exemplo. Além disso, não apresentam causa de
escoriação como as feridas cortantes, nem tampouco pontes de tecido íntegro como
as feridas contusas.
As mordeduras ou dentadas constituem exemplo de lesão cortocontundente
quando aplicada com maior violência, podendo levar à laceração ou, ainda,
arrancamento de tecidos e mutilações de estruturas como mamilo, orelha, nariz.

48
MEDICINA LEGAL
Quando a mordida não é aplicada com grave violência, resta representada equimoses
ou escoriações, permanecendo apenas as marcas da arcada dentária, com ênfase para
os dentes incisivos humanos, de grande interesse para a perícia forense.

ANOTAÇÕES:

_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
Bons estudos!

5.2) Energias de ordem física:


As lesões resultantes de ação física ao corpo humano podem alterar o estado
desse, podendo resultar em ofensa corporal, dano à saúde ou a morte. As energias
aplicadas mais comuns são: temperatura, pressão atmosférica, eletricidade,
radioatividade, luz e som.

a) Temperatura:
Geralmente as lesões causadas por temperatura são as queimaduras. Os seres
humanos são homeotérmicos (temperatura constante) e resistem a uma variação de
temperatura pequena (abaixo de 42ºC e acima de 32ºC de seu próprio corpo). Para

49
MEDICINA LEGAL
tanto, há mecanismos termorreguladores no sistema nervoso central que mantêm a
temperatura estável em aproximadamente 36,5ºC.
São modalidades:

− Frio: A ação do frio leva a alterações do sistema nervoso, tais como


sonolência, convulsões, delírios, perturbações dos movimentos,
anestesias, congestão ou isquemia das vísceras, podendo advir a
morte. Não existe lesão típica causada pelo frio difuso (chamado
hipotermia), mas apresenta achados que auxiliam o legista no
diagnóstico, tais como: sangue de tonalidade mais claro e de pouca
coagulabilidade, anemia cerebral, rigidez cadavérica precoce, intensa
e demorada, entre outros.
O frio localizado (denominado geladura) pode provocar queimaduras
específicas capaz de reduzir a circulação de determinado tecido,
havendo hipóxia e morte celular. Quando atingido o ponto de
irreversibilidade da lesão, é comum o aparecimento de necrose.
Podem ocorrer geladuras localizadas de vários tipos:

• PRIMEIRO GRAU: Área superficial pálida (ou rubefação),


inchada e de aspecto anserino na pele. Dura algumas horas e
depois cessam os efeitos, porém a pele descasca.
• SEGUNDO GRAU: Ação mais intensa do frio, que provoca
eritema e a destruição da epiderme, com formação de bolhas de
sangue de conteúdo claro que estouram e cicatrizam.
• TERCEIRO GRAU: Quando a ação do frio é muito intensa,
provocando o congelamento do local e levando à necrose dos
tecidos moles por falta de circulação. Formam-se úlceras e, às
vezes, são necessários enxertos. Causam deformidades
permanentes.
• QUARTO GRAU: quando o indivíduo permanece com os
membros em contato direto com o frio. Um grande segmento do
corpo gangrena ou desarticula e procede à necrose. Chama-se de
“pé de trincheira”. Hoje ocorre no alpinismo, nas indústrias com
câmaras frias, etc.

50
MEDICINA LEGAL

− Calor: A ação do calor, devido a energia térmica em trânsito, pode


causar calor difuso, mediante insolação ou intermação, ou calor
direto, provocando as queimaduras.

• Calor difuso (ou termonoses):

− Insolação: causada pelo calor ambiente em locais abertos


(raramente em locais fechados), onde, além da temperatura,
subexistem fatores como incidência de raios solares, ausência da
renovação do ar, excesso de vapor d’água, fadiga. Manifesta-se
por cefaleia, irritabilidade, vertigem, atingindo principalmente o
hipotálamo, local central na regulação da temperatura corporal.
− Intermação (ou exaustão térmica): caracteriza-se pelo excesso de
calor em ambientes mal arejados, quase sempre confinados ou
pouco abertos e sem necessária circulação de ar. Apresenta
sintomatologia de cansaço, sudorese, palidez, fraqueza, cefaleia,
taquicardia e hipotensão postural, sem acometimento do sistema
nervoso central.

• Calor direto: apresenta por consequência as queimaduras, que


podem ser causadas por calor irradiante, chamas, gases
superaquecidos, líquidos escaldantes ou metais aquecidos por
contato ou convecção. Trata-se da ação de agentes físicos de
temperatura elevada, cuja gravidade se relaciona com a
profundidade e extensão da lesão. De acordo com a
profundidade, classifica-se em grau, de acordo com Lucena
Hoffmann:

− 1º grau: a pele fica vermelha e permanece íntegra, porém apresenta-


se inchada devido a vasodilatação capilar e dolorida, podendo
descamar após alguns dias. Logo, as principais características são
eritema, edema e dor (Sinal de Christinson). Exemplo: queimaduras
por raios solares.

51
MEDICINA LEGAL
− 2º grau: além do eritema, a pele apresenta vesículas e flictenas com
líquido amarelado (sais e proteínas) e seroso, que podem infeccionar,
produzindo manchas (Sinal de Chambert – produzido em vida).
Importante mencionar que a queimadura de 2º grau atinge a derme.

− 3º grau: são causadas por chamas ou sólidos superaquecidos,


provocando coagulação necrótica de tecidos moles. Tais tecidos são
substituídos posteriormente por cicatrizes retráteis denominadas
sinéquias. Forma-se uma placa dura e preta (escarificação) que,
retirada, resulta em úlcera, sendo necessário o enxerto. As
queimaduras de 3º grau atingem os planos musculares e destroem os
corpúsculos sensíveis da epiderme, que tornam tais queimaduras
menos dolorosas.

− 4º grau: trata-se da carbonização do plano ósseo, total ou


generalizada, sendo essa responsável por promover a redução do
volume corpóreo devido a condensação dos tecidos. O morto toma a
“posição de boxer” (lutador) em virtude da semiflexão dos membros
superiores ou retração dos músculos, quando a carbonização se deu
em vida ou logo após a morte. Podem ocorrer, ainda, fraturas e
fissuras em ossos longos, amputação de pés e mãos, pálpebras
semicerradas, córneas opacas, fendas no couro cabeludo e nas
cavidades torácica e abdominal. Nas carbonizações causadas pelas
queimaduras de 4º grau, a estrutura dos órgãos internos se mantém
intactas, sendo de fator importante para a identificação dos
instrumentos utilizados na lesão, quando houverem.

TOME NOTA Para a perícia, faz-se importante verificar se o indivíduo


morreu em decorrência do fogo ou antes dele. Quando as queimaduras levaram o
indivíduo à morte, haverá fuligem e fumaça nas vias respiratórias (Sinal de Montalti)
e monóxido de carbono no sangue, evidenciando que houve respiração durante o
incêndio. Além disso, as flictenas quando provocadas no cadáver, não apresentam
conteúdo seroso com evidências de leucócitos (Sinal de Janesie-Jeliac), que estariam
presentes em resposta do organismo vivo.

52
MEDICINA LEGAL

CAIU EM PROVA:
(IBFC/2017) A temperatura é classificada em traumatologia como uma
energia de ordem física que merece destaque no estudo médico legal. Em
relação a lesões produzidas por temperatura, analise as afirmativas abaixo
e assinale a alternativa correta.
I. A ação localizada do frio é conhecida como geladura e produz lesões
muito parecidas com as queimaduras pelo calor.
II. O calor direto tem por consequência queimaduras advindas somente
pela ação da chama.
III. Queimadura de segundo grau, de acordo com a classificação de
Hofmann, além do eritema, apresenta vesículas e fictenas, existindo em
seu interior líquido amarelo-claro (Sinal de Chambert).
IV. A insolação é proveniente do calor ambiental em locais fechados ou
ao ar livre, concorrendo para tanto, além da temperatura, os raios solares,
a ausência da renovação do ar, a fadiga e o excesso de vapor d’água.
Estão corretas as afirmativas:
b) I, III e IV, apenas.

53
MEDICINA LEGAL
b) Pressão atmosférica:
De maior interesse ao ramo da Medicina Legal denominado Infortunística
(acidentes de trabalho), as alterações da pressão atmosférica podem causar diversas
lesões ou até mesmo a morte do indivíduo.
A diminuição da pressão atmosférica promove a diminuição de oxigênio e de
gás carbônico, levando ao chamado mal das montanhas. É comum em altitudes
acima de 2.500m e é agravado com o esforço físico, tendo como sintomas: cefaleia,
dispneia, anorexia, fadiga, tonturas e vômito. Acima de 7.600m é comum perda do
controle motor, inconsciência e morte. A diminuição da pressão atmosférica brusca é
a responsável pela patogenia de descompressão.
Sofrem aumento da pressão atmosférica os mergulhadores, escafandristas e
outros profissionais que trabalham debaixo d’água ou em túneis subterrâneos. Não
correm só o perigo do aumento da pressão atmosférica, mas especialmente o da
descompressão brusca, que pode causar lesões graves. Essa síndrome é conhecida
como mal dos caixões. Esse aumento da pressão atmosférica poderá determinar uma
patologia de compressão, por intoxicação pelo oxigênio, nitrogênio e gás carbônico.
O mecanismo patológico envolve uma diferença abrupta de pressão entre o
meio interno e externo, o qual promove uma vasodilatação e desligamento de gases
da molécula de hemoglobina, gerando êmbolos. Esses corpos, ao atingirem capilares,
rompem-os causando hemorragia em diversas regiões. Os distúrbios mais comuns são
ruptura do tímpano, vertigens, Síndrome de Meniére, otorragia, epistaxe, dispneia,
perturbações passageiras da visão, epigastralgia intensa, hemorragia interna, edema
pulmonar, parestesias e até a morte por embolias gasosas formadas pelo nitrogênio
anteriormente dissolvido sob pressão no soro sanguíneo.

c) Eletricidade:
Para entender os fenômenos físicos da eletricidade que causam lesões, é
necessário diferenciar voltagem e carga (corrente) elétrica. A voltagem é a resistência
x carga, sendo que a voltagem indica a força necessária para movimentar elétrons. A
partir disso, é interessante saber que o que de fato causa lesão é a amperagem, ou seja,
a corrente elétrica que passa pelo corpo. No entanto, a voltagem pode intensificar a
amperagem.

54
MEDICINA LEGAL
A eletricidade pode causar danos aos indivíduos, seja ela natural ou
artificial.
− Eletricidade natural (ou cósmica): causadas por descargas elétricas
resultantes de tempestades (raios) que determinam a gravidade e a
intensidade das lesões de acordo com o local atingido, a corrente
contínua da eletricidade atmosférica, trajeto da corrente no corpo da
vítima. Os efeitos se dão por inibição direta dos centros nervosos,
causando paralisia respiratória e asfixia, ou ainda, fibrilação
ventricular (efeito cardíaco).
Outros tipos de lesões incluem hemorragias musculares, rupturas de
vasos sanguíneos, fraturas ósseas, congestão dos globos oculares,
fluidez do sangue, distensão dos pulmões, etc. As lesões mais
intensas são encontradas nos locais de entrada e saída da corrente
elétrica (cabeça, tórax e pés). Podem ser classificadas como:
• Fulminação: quando causam a morte.
• Fulguração: quando resultam em lesões corporais.

TOME NOTA Sinal de Lichtenberg: aspecto arbóreo, com hematomas de


tonalidade arroxeada e/ou fraturas, podendo desaparecer em caso de sobrevivência do
indivíduo. ponto de contato da energia com o corpo, formando “raios” que sinalizam
as ramificações das artérias, nervos e veias, demonstrando o caminho percorrido pela
corrente elétrica.

55
MEDICINA LEGAL
− Eletricidade artificial (ou industrial): pode resultar em lesão
denominada eletroplessão, com ou sem letalidade, ou eletrocussão
(morte por cadeira elétrica). As lesões variam conforma a corrente
elétrica de baixa ou alta tensão.

TOME NOTA Marca elétrica de Jellinek: de forma circular, elíptica ou


estrelada a depender do objeto causador, de consistência endurecida, bordas altas,
leito deprimido, tonalidade branco-amarelado, fixa, indolor, asséptica e de fácil
cicatrização.

CAIU EM PROVA:
(NUCEPE/2012) A respeito das lesões corporais produzidas por energia de
ordem física, assinale a alternativa correta.
a) A marca elétrica de Jellinek é caracterizada por presença de uma lesão em
forma de bolha íntegra ou rota, ou pelo destacamento da pele com a forma do
condutor, com aderência de partículas metálicas e fundo escarificado.

56
MEDICINA LEGAL
d) Radioatividade:
Os efeitos da radioatividade, como energia causadora do dano são
exemplificados pelos raios X, rádio e energia atômica. Os raios X são implicações
médico-legais mais comuns e podem perpetrar lesões locais ou gerais. As lesões gerais
afetam órgãos profundos (principalmente as gônadas), enquanto as locais são
conhecidas como radiodermites, sendo classificadas como:
− Agudas:
− 1º grau: são temporárias e se apresentam na forma depilatória e
eritematosa. Essa fase dura cerca de 60 dias e deixa uma mancha
escura que desaparece muito lentamente.
− 2º grau (pápulo-eritematosa): são representadas, geralmente, por
ulceração muito dolorosa e recoberta por crosta seropurulenta. Têm
cicatrização difícil, deixando em seu lugar uma placa esbranquiçada
de pele rugosa, frágil e de características atípicas.
− 3º grau (ulcerosa): representadas por zonas de necrose, de aspecto
grosseiro e grave. São conhecidas por úlceras de Röentgen
(recorrentes em profissionais que atuam com Raio-X e que não
desenvolvem os devidos cuidados).

− Crônicas: podem ser locais e apresentar a forma ulceroatrófica,


telangiectásica ou neoplástica (também chamada de câncer cutâneo
dos radiologistas). Podem ainda ser de efeitos gerais, compreendendo
várias síndromes: digestivas, cardíacas, oculares, morte precoce, etc.

57
MEDICINA LEGAL
e) Luz e som:
A luz e o som interessam à Medicina Legal porque podem acarretar
perturbações neurossensoriais ópticas ou auditivas, vagossimpáticas, neuroses,
respectivamente nos que têm aplicado diretamente sobre os olhos feixe de luz intensa
e nos que permanecem por período prolongado em ambientes de grande poluição
sonora, como os obreiros.
Os órgãos que mais sofrem os efeitos fotoquímicos e fototérmicos de
radiações não ionizantes (infravermelho, ultravioleta, raio laser) são a córnea, o
cristalino e a pele. Estão presentes aqui lesões do tipo neurossensoriais nos globos
oculares, como defeitos de refração, dificuldade ou impossibilidade de mudar a forma
do cristalino para convergir na retina raios luminosos provenientes de objetos que
estão a uma distância grande ou pequena (inacomodação), ou na própria retina — que
é a parte sensível do olho onde ocorre a conversão da imagem luminosa em impulsos
elétricos nervosos, os quais são endereçados ao cérebro para serem processados — e
perda irreparável da visão.
Quanto ao som, é possível acarretar danos auditivos e perturbações psíquicas
quando acima de 85 decibéis, além de labirintite nos casos de infrassom (abaixo de
20Hertz) e destruição celular nos casos das ultrassons (acima de 20.000Hertz). Quanto
às lesões, o som geralmente está envolvido em medicina legal com atividades
ocupacionais, sendo relatada também a epilepsia acustogênica, que consiste na
permanência e intensidade elevada de ruídos, não muito rara em telefonistas. De
maneira geral, o ruído pode provocar zumbidos, e perda auditiva parcial ou total.

ANOTAÇÕES:

_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
___________________________________________________
Bons estudos!

58
MEDICINA LEGAL
5.3) Energias de ordem química – toxicologia:
As energias de ordem química são responsáveis pelas lesões causadas por
substâncias físicas, químicas e biológicas capazes de reagirem com os tecidos vivos,
provocando danos à saúde ou à vida. Quando a ação é de ordem externa, as substâncias
recebem o nome de cáusticos, causando desorganização e destruição de tecidos.
Quando a ação é de ordem interna, as substâncias recebem o nome de venenos,
afetando o metabolismo celular, causando degeneração.
− Cáusticos:
− Coagulantes: cáusticos ácidos desidratam os tecidos e produzem
lesão grave, afetando a pele violentamente. Produzem escaras que
devem ser retiradas para que ocorra a cicatrização (ex.: nitrato de
prata).
− Liquefacientes: a substância química básica atua desfazendo os
tecidos, apresentando escaras moles e úmidas (ex.: soda, amônia).

TOME NOTA Vitriolagem: quando, em ação criminosa, jogam-se ácidos


dolosamente sobre o corpo de uma pessoa (ácido sulfúrico = óleo de vítriolo).
− Venenos: as definições do termo veneno apresentam complexidade
tal que a legislação atual evita descrevê-lo. Todavia, Genival Veloso
de França conceitua como “qualquer substância que, introduzida
pelas mais diversas vias no organismo, mesmo homeopaticamente,
danifica a vida ou a saúde”. Para a toxicologia clínica, veneno é uma
mistura de substâncias de origem animal que, introduzida no
organismo, danifica a vida ou a saúde, mesmo que em pequenas
doses. Entende-se por envenenamento, portanto, a morte violenta ou
o dano grave à saúde, ocasionados por determinadas substâncias
exógenas de caráter quase sempre intencional.

59
MEDICINA LEGAL
São classificados:
• Quanto ao estado físico: sólido, líquido ou gasoso.
• Quanto à origem: animal, vegetal, mineral e sintético.
• Quanto às funções químicas: óxidos, sais, bases e ácidos
(funções inorgânicas); hidrocarbonetos, alcoóis, acetonas e
aldeídos, ácidos orgânicos, ésteres, aminas, aminoácidos,
carboidratos e alcaloides (funções orgânicas).
• Quanto ao uso: doméstico, agrícola, industrial, medicinal,
cosmético e venenos propriamente ditos.

TOME NOTA São vias de penetração: oral, gástrica, cutânea, retal,


inalatória, intramuscular, intravenosa, etc. Enquanto as vias de eliminação são:
aparelho urinário ou digestivo, pulmões, saliva, suor, etc.

CAIU EM PROVA:
(FUNCAB/2012) Ao estudar as energias de ordem química, deve-se conhecer a
ação dos cáusticos e venenos. Assinale a alternativa correta.
a) São fases do percurso do veneno no organismo: penetração, absorção,
distribuição, fixação, transformação, eliminação.

Na TOXICOLOGIA FORENSE, as noções do veneno, necessariamente,


passam pela consideração de ordem quantitativa. Essa noção de quantidade passa a
envolver praticamente todas as substâncias. Além disso, vale mencionar, que existem
pessoas capazes de se sensibilizam com venenos a partir da ingestão ou inoculação
progressiva e repetida, passando a apresentar anticorpos específicos para o tipo de
veneno que foi utilizado, o que resulta em uma imunidade até para elevadas doses,
um fenômeno chamado de mitridatização.
Os venenos agrícolas apresentam-se em três grupos: organofosforados,
organoclorados e carbamatos (ex.: chumbinho). Tanto um grupo como o outro,

60
MEDICINA LEGAL
principalmente os carbamatos, podem ser causadores de envenenamento por contato
com a pele, ingestão e inalação. A morte ocorre por parada respiratória e edema
pulmonar. O indivíduo fica cianótico, indicando que está havendo má oxigenação dos
tecidos.
A intoxicação por arsênio também é comum em tentativa de homicídio, dado
que a sua morfologia se parece muito com o açúcar. Esse metal ataca proteínas da
cadeia respiratória afetando a síntese de ATP. Já o gás cianeto (CN-) é conhecido pela
inibição da cadeia respiratória ao se ligar no citocromo e não permitir a correta
transmissão de elétrons.

TOME NOTA Intoxicação é diferente de envenenamento. Enquanto a


intoxicação é de origem acidental e interna, o envenenamento é quase sempre
intencional e tem origem exógena.

TOME NOTA Síndrome do Body Packer consiste nos sintomas


provenientes do rompimento de pacotes contendo droga ilícita no interior de órgãos
ocos, principalmente a cocaína. Já a Síndrome do Body Pusher é caracterizada pela
pelo transporte de pequenas quantidades de drogas em orifícios naturais (ânus e
vagina).

5.4) Energias de ordem físico-química – asfixiologia forense:


As energias de ordem físico-química são aquelas que impedem a passagem
do ar às vias respiratórias e alteram a composição bioquímica do sangue, produzindo
o que se chama de asfixia. Ademais, alteram a função respiratória de forma a impedir
a troca de sangue venoso por sangue arterial (hematose), levando, consequentemente,
à morte.

61
MEDICINA LEGAL
TOME NOTA Toda e qualquer situação que interfira nas vias
respiratórias, na caixa torácica, nos pulmões, com hipercapneia (aumento do teor de
CO2 no sangue) caracteriza asfixia. Sendo assim, asfixias são todas as formas de
carência (hipóxia ou hipoxemia) ou ausência de oxigênio (anóxia ou anoxemia).

A atmosfera respirável contém 21% de oxigênio e é necessária a presença de


orifícios não obstruídos, elasticidade do tórax, expansão pulmonar, circulação
sanguínea normal e qualidade das hemácias para a hematose e o transporte dos gases.
Quando o ar atmosférico atinge 7%, surgem distúrbios graves, e em 3%, a morte.
A caixa torácica é um sistema fechado, onde se localiza, abaixo dos pulmões,
o músculo do diafragma. Há um espaço entre a parede interna da caixa torácica e o
pulmão: o espaço pleural. A pressão nesse espaço é menor que a pressão atmosférica
(pressão negativa) e a lesão que cause perfuração nessa região permitirá a entrada
abrupta de ar (pneumotórax), “enrugando” os pulmões e fazendo com que o indivíduo
não consiga respirar.
O mecanismo de morte por asfixia relaciona-se à baixa oxigenação dos
tecidos, em especial do tecido nervoso, forçando as células a se adaptarem a um
ambiente com ausência ou baixa concentração de oxigênio. Isso faz com que as
células realizem a respiração anaeróbia produzindo ácidos e reduzindo a atividade de
bombas de membrana. O abaixamento do pH em um ambiente celular faz com que
proteínas trabalhem menos ou se desnaturem, afetando processos como a replicação
do DNA, síntese de proteínas e o correto funcionamento de enzimas de membrana,
causando consequentemente a morte celular.
Nas asfixias mecânicas (por obstáculo mecânico) é possível estabelecer um
cronograma de suas diversas fases por meio do aparecimento das seguintes
manifestações clínicas:
− 1ª Fase: é conhecida como cerebral e caracteriza-se pelo
aparecimento de enjoos, vertigens, sensação de angústia e lipotimias.
Cerca de 1 minuto e meio ocorre a perda da consciência;
− 2ª Fase: é chamada de fase de excitação cortical e medular em que
se notam convulsões e contrações dos músculos respiratórios e da

62
MEDICINA LEGAL
face, além de relaxamento dos esfíncteres, com bradicardia (duração
de 1 a 2 minutos);
− 3ª Fase: essa é a fase respiratória caracterizada pela lentidão e
superficialidade de movimentos respiratórios (duração de 1 a 2
minutos);
− 4ª Fase: por fim, a fase cardíaca é caracterizada pelo sofrimento do
miocárdio, arritmias, batimentos lentos e parada (duração de 3 a 5
minutos).
As asfixias em geral apresentam características peculiares e podem ser
identificadas através dos sinais externos e internos, a saber:
− Sinais externos:

• Manchas de hipóstase: Nas asfixias, as manchas hipostásicas


são mais marcadas e mais precoces, porque o sangue está sem
oxigênio, com gás carbônico. O sangue venoso (com gás
carbônico) é mais escuro, por isso que as manchas hipostásicas
são mais visíveis nos asfixiados, com exceção de intoxicação por
monóxido de carbono, o que causa manchas róseas. Tais
manchas são resultados da ação gravitacional, onde o sangue se
acumula em razão da posição em que o corpo se encontra,
surgindo entre 1 e 2h após a morte.
• Congestão da face: Em todos os casos de asfixia, percebe-se, na
face, o sinal de cianose (rouxidão), em que há alta quantidade de
hemoglobina não oxidada.
• Equimoses da pele e das mucosas: Em consequência do
aumento da pressão, os vasos se rompem formando as manchas
equimóticas. Na pele, as equimoses são mais arredondadas e de
pequenas dimensões. Nas mucosas, é mais comum na conjuntiva,
ocular e nos lábios.
• Fenômenos cadavéricos: Nas asfixias mecânicas, em geral,
alguns processos cadavéricos se processam de forma diferente:
os livores são mais extensos, mais escuros e mais precoces.
Enquanto a rigidez cadavérica se dá de forma mais lenta, mais

63
MEDICINA LEGAL
rígida e prolongada e a putrefação é mais acelerada que em outros
tipos de morte.
• Cogumelo de espuma: O mecanismo envolve a mistura de muco
das vias aéreas, o qual é rico em proteínas, formando uma
espuma que sai pela boca e pelas narinas. É bastante comum em
afogados.
• Projeção da língua e exoftalmia: São achados comuns em
asfixias mecânicas, mas deve-se tomar cuidado para não
confundir com a fase gasosa da putrefação.

− Sinais internos:

• Equimoses viscerais: No pulmão e no coração, as equimoses


recebem o nome de Manchas de Tardieu. Há também o livores
em placas (Sinal de Ponsold) ou em pontos por cima e por baixo
das bordas do sulco de enforcamento (Sinal de Neves). Zona
violácea ao nível das bordas do sulco nos enforcamentos
caracteriza o sinal de Thoinot. Em caso de estrangulamento, a
presença de lesão da artéria carótida envolvendo a camada íntima
pode ser constatada pela existência dos sinais de Amussat e
Lesser.
• Aspecto do sangue: Órgãos que normalmente contêm sangue,
como o fígado, ficam muito cheios. Esse mesmo aumento da
pressão, durante a asfixia, pode provocar um aumento de sangue
nos alvéolos dos pulmões e pode ocorrer ruptura de vasos dos

64
MEDICINA LEGAL
alvéolos. Por isso é comum a secreção sanguinolenta nos casos
de asfixia. Logo, há aumento dos pulmões (sinal de Valentim) e
contração do baço (sinal de Etienne-Martin). Por fim, o sangue
permanece em um estado mais fluido que o normal devido à
dificuldade de coagulação do sangue, principalmente na
intoxicação por monóxido de carbono.
• Congestão polivisceral: baço, fígado e mesentério são os órgãos
mais afetados com as asfixias, mostrando-se bastante congestos.
• Distensão e edema dos pulmões: pulmões com acentuada
distensão e com sangue líquido finamente espumoso.

As energias de ordem físico-química podem ser classificadas de acordo com


os mecanismos de obstrução que levam à asfixia mecânica, sejam elas, segundo
Afrânio Peixoto:
− Asfixias puras:

− Asfixias em ambientes por gases irrespiráveis:


− Redução de oxigênio e acúmulo de gás carbônico em ambiente sem
ar renovável: confinamento.
− Fixação do monóxido de carbono na hemoglobina impedindo o
transporte de oxigênio: asfixia por CO.
− Ambientes saturados com outros gases (como gás de pimenta e gás
lacrimogêneo) – asfixia por outros vícios de ambientes.
− Obstáculos à penetração do ar nas vias respiratórias:
− Obstáculo mecânico nas vias aéreas (mãos): sufocação direta.
− Supressão da expansão torácica por contensão externa: sufocação
indireta.
− Transformação do meio gasoso por líquido: afogamento.
− Transformação do meio gasoso por sólido: soterramento.

65
MEDICINA LEGAL
− Asfixias complexas:

− Constrição passiva do pescoço exercida pelo peso do corpo:


enforcamento.
− Constrição ativa do pescoço exercida pela força muscular:
estrangulamento.

− Asfixias mistas:

− Constrição do pescoço exercida pelas mãos, pés, pernas: esganadura.

Confinamento:
Ocorre diante da presença de um ou mais indivíduos em ambiente restrito ou
fechado, sem renovação do ar ambiente. Conforme o oxigênio é consumido, haverá
acúmulo Ed gás carbônico, podendo ocorrer também aumento da temperatura e
saturação do ambiente por vapores de água. É possível encontrar sinais que vão além
dos sinais clássicos das asfixias, tais como escoriações, ferimentos na face, desgaste
das unhas, todas caracterizando lesões de defesa em razão do desespero da vítima.

Asfixia por monóxido de carbono:


Outra forma de ASFIXIA de grande relevância é por monóxido de carbono
(CO), onde se liga à hemoglobina por apresentar maior afinidade, impedindo a
distribuição de oxigênio no organismo. Nesse caso, subscrevem as formas
hiperagudas (morte instantânea), agudas (que podem levar à morte) e crônicas
(provocam doenças profissionais). Trata-se de dano silencioso (“morte silenciosa”),
pois o monóxido é um gás inodoro, sem gosto e não irritativo, comuns em casos de
suicídio ou acidentais.
Os sintomas mais comuns de asfixia por monóxido de carbono são dor de
cabeça, tontura, fraqueza, náusea, vômito, dor no peito e confusão. Já no cadáver
asfixiado por monóxido de carbono, os sinais mais comuns são: sangue claro, pulmões
cheios de sangue, cadáver rosado, mancha hipostática de cor róseo-pálida, congestão
do encéfalo e vísceras.

66
MEDICINA LEGAL
Sufocação direta e indireta:
Direta: Dá-se pela obstrução direta das narinas e/ou da boca, através do uso
das mãos, sacos plásticos, travesseiros, papel molhado, etc. Pode ocorrer, ainda, em
casos de acidente, a oclusão por objetos estranhos nas vias aéreas, como alimentos,
gomas de mascar, brinquedos, vômitos, prótese dentária, etc.
Os sinais encontrados mais comuns vão desde os sinais locais (marcas
ungueais, em torno dos orifícios nasais e boca ou traumatismo labial por ação dos
dentes), sinais clássicos de asfixias até sinais específicos (bifuração brônquica,
aspirações de vômito ou o próprio corpo estranho causador da sufocação obstruindo
a glote).
Indireta: Ocorre diante da compressão do tórax e abdome, como em casos de
pisoteamento em grandes multidões, peso do corpo adulto sobre bebês que dormem
no mesmo leito, sufocação posicional (em crucificação ou de cabeça para baixo) em
que há dificuldade na ventilação pulmonar ou qualquer estrutura física sobre o corpo
que impeça tal ventilação. A característica mais marcante é a Máscara Equimótica de
Morestin (congestão cefalocervical), produzida pelo refluxo sanguíneo da veia cava
superior.

Soterramento:
Trata-se de uma forma de asfixia mecânica motivada por obstrução das vias
respiratórias por substâncias sólidas (terra, areia) em casos de desmoronamento ou
desabamento. É, na maioria das vezes, acidental. Vale ressaltar que nessa modalidade
de asfixia é comum a presença de lesões secundárias em decorrência da própria
situação do desabamento, por exemplo.

Afogamento:
Produzido pela penetração de um meio líquido ou semilíquido que impede a
passagem do ar aos pulmões. A forma mais comum é o afogamento acidental. Pode
ser dividido em:
Afogados brancos de Parrot (ou afogados secos): não há presença de água nos
pulmões, pois o afogamento se dá por uma predisposição cardiovascular agravada
pela ação térmica (hidrocussão - síncope brutal ou choque térmico).

67
MEDICINA LEGAL
Afogados azuis (ou afogados úmidos): penetração de água nas vias
respiratórias com consequente asfixia. Surgem, nesses casos, as Manchas de Paltauf
(pulmões de afogados), maceração epidérmica, pele anserina (“pele de galinha” em
razão da contração de músculos piloeretores), retração do mamilo, saco escrotal e
pênis, cogumelo de espuma.
Coexistem outros sinais externos no afogado, tais como: tonalidade mais clara
dos livores, erosão dos dedos, lesões pós-morte (animais aquáticos), dentes e unhas
róseos. Além disso, os afogados apresentam também sinais internos, como: presença
de líquido nas vias respiratórias, no sistema digestivo, no ouvido médio, nas cavidades
pleurais, além de corpos estranhos e lesões clássicas nos pulmões e no sangue.
Experimentos realizados por Tourdes, descrevem 3 (três) fases no
afogamento: a primeira fase de defesa consiste na surpresa e dispneia; a segunda fase,
chamada de resistência, se exterioriza com parada dos movimentos respiratórios como
mecanismo de defesa; por fim, a terceira fase apresenta exaustão e começa uma
inspiração profunda, com perda de consciência, convulsões e morte. Enquanto nos
humanos, as fases descritas são:
1) Surpresa – profunda inspiração fora da água.
2) Apneia – para evitar a penetração de água nas vias respiratórias.
3) Dispneia – inalação de água seguida de expiração por estimulação
da água sobre a mucosa laríngea.
4) Convulsões asfíxicas – água segue penetrando descontinuamente nas
vias respiratórias.
5) Estágio terminal – inspirações profundas precedidas de pausa
respiratória pré-terminal.

Enforcamento:
O enforcamento se dá pela constrição do pescoço, diferenciando-se das
demais modalidades por ser executada mediante uso de laço acionado com o peso do
corpo da própria vítima. A consistência do laço permite classificá-los como
duro/rígido (arame, cordas, cadarço), moles/flexível (lençóis, cortinas, gravatas) ou
semirrígidos (cinto de couro). É utilizado um nó corrediço ou fixo, posterior ou lateral
(anterior é enforcamento atípico), com o peso do agente funcionando como força ou
processo ativo, podendo até estar ausente, tomando o instrumento a forma de alças. É

68
MEDICINA LEGAL
mais comum nos suicídios, podendo, no entanto, ter como etiologia o acidente, o
homicídio ou a execução judicial (não no Brasil).
O enforcamento pode ser classificado como suspensão completa ou típica,
quando o corpo está totalmente suspenso, ou incompleta ou atípica, quando está
apoiado parcialmente pelos pés, joelhos ou outra parte do corpo. O sulco apresentado
nos enforcamentos se localiza acima da cartilagem tireóidea e possui a espessura do
objeto causador da asfixia, além de se mostrar de forma oblíqua ascendente
descontínua (na maioria dos casos), com interrupção à altura do nó e de profundidade
variável.
Outros sinais externos típicos dos enforcamentos é a face cianótica,
procidência da língua, petéquias conjuntivais, sinal de Thoinot (zona violácea ao nível
das bordas do sulco), rigidez cadavérica tardia, etc. Com relação aos sinais internos,
o enforcado apresenta fraturas nas cartilagens tireóidea e cricóidea, rupturas
musculares do pescoço e da tireóide (Sinal de Hoffmann), equimoses subcutâneas
cervicais, hemorragias musculares, etc.
Segundo os autores, o enforcamento se desenvolve em 3 (três) fases:
− 1ª fase: constrição dos vasos do pescoço, zumbidos, calor, perda
rápida de consciência ;
− 2ª fase: respiratória, com pressão sob o feixe vásculo-nervoso e
obstrução das vias aéreas, causando convulsões e paralisia;
− 3ª fase: apneia, parada cardiorrespiratória e morte.

Enforcamento (interrupção do sulco na altura do nó).

69
MEDICINA LEGAL
Estrangulamento:
No estrangulamento, a morte também se dá mediante o uso de laço, porém
nesses casos a força empregada não é do peso da vítima e sim força ativa externa de
outras fontes, como uso de força muscular de um terceiro. Para tanto, o
estrangulamento é recorrente em ações homicidas e muito raramente em suicídios
(quando utilizado “torniquete”).
O sulco presente nos estrangulamentos é horizontal ou transversal completo
(contínuo) e situado abaixo da cartilagem tireóidea (enquanto no enforcamento é
acima da cartilagem). Apresenta fratura do osso hioide (ou lesão da cartilagem
tireóidea), ausência de escoriação, sufusões nas conjuntivas e congestão da face. Os
sinais internos mais comuns são infiltrações hemorrágicas adjacentes ao sulco, lesões
da laringe, etc.

Diferenças entre os sulcos do enforcamento e estrangulamento

Enforcamento Estrangulamento

Oblíquo ascendente Horizontal

Variável segundo a zona do pescoço Uniforme em toda periferia do pescoço

Interrompido a nível do nó Contínuo

Em geral, único Frequentemente múltiplo

Por cima da cartilagem tireóidea Por baixo da cartilagem tireóidea

Quase sempre apergaminhado Excepcionalmente apergaminhado

De profundidade desigual De profundidade uniforme

70
MEDICINA LEGAL

Estrangulamento (sulco horizontal contínuo).

Esganadura:
Na esganadura, sempre homicida, utiliza-se de partes físicas do agressor
(mãos, pernas, braços) e não um laço, estando sempre acompanhada de outras marcas,
como marcas ungueais, escoriações, hematomas, que caracterizam estigmas de defesa
da vítima. Os sinais internos existentes vão desde as infiltrações sanguíneas das partes
moles subjacentes aos estigmas, até equimose retrofaríngea (Sinal de Brouardel),
fraturas no aparelho laríngeo e sangue fluido e escuro.

CAIU EM PROVA:
(INSTITUTO AOCP/2019) Em relação às asfixias, é correto afirmar que
e) sufocação indireta é causada pela compressão do tórax.

71
MEDICINA LEGAL

CAIU EM PROVA:
(CEBRASPE/2018) Em relação às asfixias por obstrução das vias aéreas por
constrição cervical, julgue os itens seguintes.
I - Em casos de enforcamento, a cabeça fica voltada para o lado do nó, e
formam-se manchas hipostáticas na parte superior do corpo.
II - Nas situações de estrangulamento, o sulco no pescoço é horizontal e fica
situado abaixo da cartilagem tireoide, podendo haver vários sulcos.
III - Em casos de esganadura, ficam marcas ungueais do agressor.
d) Apenas os itens II e III estão certos.

ANOTAÇÕES:

_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
Bons estudos!

72
MEDICINA LEGAL
5.5) Energias de ordem bioquímica:
As lesões de ordem bioquímica são resultadas de condições orgânicas e de
defesa de cada organismo, através dos distúrbios e perturbações alimentares,
autointoxicações, infecções e castração química.
As situações de maiores importâncias médico-legais dizem respeito às ações
criminosas, quando das omissões de alimentos nos casos de infanticídios. Ademais,
as intoxicações ou infecções criminosas se tornam raras e são caracterizadas pela
origem preestabelecida da vítima, por exemplo em caso de alergias alimentares,
ingestão de medicamentos perturbadores renais em indivíduos com nefropatias
crônicas, etc.
No que tange a castração química, trata-se de inibição temporária do desejo
sexual através da aplicação de medicamentos à base de hormônios femininos,
principalmente. A utilização de tal metodologia se justificaria como pena ou medida
de segurança em casos de pedofilia ou demais crimes contra a dignidade sexual.
Porém, inúmeros autores condenam tal hormonioterapia devido a violação de
preceitos básicos e inerentes à dignidade da pessoa humana, defendido pelos diversos
documentos em Direitos Humanos.

5.6) Energias de ordem biodinâmica:


As lesões causadas por energias de ordem biodinâmica “são todas ocorrências
ou fenômenos, de origem externa ou interna ao corpo humano, que desencadeiam
respostas orgânicas culminando em mecanismos fisiopatológicos intrínsecos
potencialmente letais”.
Assim, a Medicina Legal se interessa em estudar as síndromes resultantes de
choques, falências múltiplas de órgãos e a coagulação intravascular disseminada. Para
tal, a perícia se encarrega em estabelecer o diagnóstico, o prognóstico e as possíveis
intercorrências mediante análise clínica, bioquímica e hemodinâmica. Enquanto na
necropsia, faz-se necessário as informações hospitalares como auxílio para
estabelecer a causa da morte.

73
MEDICINA LEGAL
5.7) Energias de ordem mista:
Também conhecidas como energias de ordem bioquímica e biodinâmica, as
energias de ordem mista compreendem grupos de ações causadores de lesões
corporais o de morte analisados na causalidade do dano. Além de interessar à
infortunística na análise da fadiga e doenças parasitárias, tais energias buscam atender
às demandas civis e criminais, principalmente no que tange os estudos das sevícias.
As sevícias incorporam várias manifestações, como de ordem mecânica
(lesões corporais), biodinâmica (choque) e bioquímica (inanição). A perícia nesses
casos visa avaliar as alterações físicas e psíquicas das ações dolosas presentes:

- Síndrome da criança maltratada (ou Síndrome de Silverman): maus tratos a


crianças que vão desde a prisão e isolamento em ambientes insalubres a
espancamentos brutais seguidos de morte. Alerta-se à perícia para lesões cutâneas de
diferentes idades, além da atitude apática ou temerosa da criança na presença de
determinadas pessoas. Ocorre tanto por ação física, abuso sexual e maus tratos
psíquicos quanto por omissão (carência física e afetiva).

- Síndrome da alienação parental (ou Síndrome de Medeia): caracteriza-se por


perturbações e alternações das crianças quando o pai ou mãe guardião tenta isolá-la
do outro genitor por motivos injustificáveis em razão das disputas por custódia. A
criança passa a desenvolver depressão infantil, angústia, sentimento de culpa, choro
compulsivo, medos e fobias, dificuldades interpessoais, alterações na área da
sexualidade, etc.

- Abandono familiar inverso: trata-se do abandono dos pais po9r parte dos
filhos, denominado também de abandono às avessas, seja por desamparo afetivo ou
por privação material. Tal conduta pode gerar aos idosos o abatimento, sofrimento
moral, humilhação, depressão, entre outros, passível de punição conforme prevê o
Estatuto do Idoso.

74
MEDICINA LEGAL
- Síndrome de Munchausen: geralmente apresentada pela mãe que cria
artificialmente doenças para os filhos, para chamar atenção do marido ou familiares.
Desta forma, contínua e deliberada, causa, provoca ou simula sintomas de doenças
para menores sob sua guarda.

- Síndrome de Estocolmo: estado psicológico onde uma pessoa é submetida a


sofrimento e intimidação por tempo prolongado e passa a desenvolver afeição e
empatia por seu opressor. A demonstração de simpatia e gratidão pelo agressor se
justifica pelo inconsciente e irracional mecanismo de defesa, como se houvesse um
acordo mútuo para amenizar o sofrimento.

- Bullying: caracteriza-se pela humilhação, opressão, perseguição, ofensa,


ameaça e principalmente pela intimidação de maneira repetitiva na presença de um
público. Podem apresentar conotações racistas, difamatórias e separatistas, mediante
agressões físicas e/ou verbais, causando desequilíbrio emocional ou psíquico no
agredido a ponto de este vir a cometer suicídio. As crianças, principalmente, passam
a se apresentar tristes, com baixa autoestima, baixo rendimento escolar, simulam
doenças, insegurança, ansiedade, mudanças repentinas de humor, etc. Para tanto, foi
instituído em 2015 o Programa de Combate à Intimidação Sistemática (Bullying),
através da Lei nº 13.185/2015.

- Síndrome do ancião maltratado: de difícil diagnóstico, essa síndrome se


caracteriza pela violência intrafamiliar, onde os maus tratos ocorrem por abuso ou
negligência, ou seja, por ação ou omissão ou por cuidados inadequados. Pode ocorrer
na própria residência do idoso ou em casas de repouso, hospitais, asilos. O mais
importante para a perícia aduz aos sintomas psíquicos, visto que alguns sintomas e
sinais físicos são típicos de patologias que acometem anciões.

- Violência contra a mulher: tema de grande relevância em razão do aumento


das formas de violência doméstica, faz-se necessária à perícia a identificação,
descrição e atenção aos danos psíquicos, além dos físicos. Sabe-se que as denúncias

75
MEDICINA LEGAL
não representam o mínimo da realidade, mas devem ser cuidadosamente avaliadas de
forma a garantir efetiva reparação, repreensão e recorrência dos fatos. Em muitos
casos, o acompanhamento psicológico é fundamental para compreensão da violência,
onde muitas mulheres são vítimas em função da dependência financeira, física e
afetiva de seus agressores. Não é rara a ocorrência, também, de simulações de
agressões, cabendo à esfera policial e pericial um cuidado especial na distinção das
denúncias através de entrevista, avaliação de antecedentes, histórico familiar,
relacionamento com agressor, nexo causal entre ação e dano, entre outros.

- Tortura: a Constituição Federal define tortura como o sofrimento físico ou


mental causado a alguém com emprego de violência ou grave ameaça, a fim de obter
informação, declaração ou confissão da vítima ou de terceira pessoa, outrossim, para
provocar ação ou omissão de natureza criminosa ou então em razão de discriminação
racial ou religiosa. Para tanto, existem várias formas de tortura a serem investigadas
e avaliadas pela perícia, como a física, moral, sexual e tortura omissiva, em casos de
negligência de alimentos, higiene e ambiente. As lesões mais clássicas de tortura
envolvem equimoses, queimaduras, escoriações, feridas contusas, fraturas de ossos,
afogamento, marca de Jellineck, edemas, entre tantas outras.

- Autolesões: conjunto de lesões, perturbações e alterações causadas pelo


próprio indivíduo para simular agressões de terceiros por interesse afetivo ou material,
podendo até mesmo agravar pequenas lesões já existentes (metassimulação). Cabe à
perícia identificar e diferenciar tais lesões conforme a região afetada, o sentido e
direção da cauda de escoriação, a profundidade da lesão, multiplicidade, etc.

ANOTAÇÕES:

_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
Bons estudos!

76
MEDICINA LEGAL
6. TANATOLOGIA FORENSE
A Tanatologia se aplica aos estudos dos mecanismos da morte, sua causa e os
problemas a ela relacionados, envolvendo, inclusive os fenômenos cadavéricos. No
que tange a conceituação de morte, considera-se a cessação total e permanente
(irreversível) dos fenômenos vitais pela parada das funções respiratória, circulatória e
encefálica de causa conhecida e constatada de modo indiscutível, caracterizada por
coma aperceptivo, com ausência de resposta motora supraespinhal e apneia. Ainda,
para fim de transplante de tecidos e órgãos humanos, não basta constatar morte
cerebral, deve-se ainda registrar morte encefálica permanente irreversível.
De acordo com atual resolução do Conselho Federal de Medicina nº
2.173/2017, a morte encefálica (ME) é de certeza absoluta e é estabelecida pela perda
definitiva e irreversível das funções do encéfalo por causa conhecida, comprovada e
capaz de provocar o quadro clínico. A ME deve ser estabelecida por 2 (dois) médicos
especificamente qualificados, sendo que um deles deve, obrigatoriamente, possuir
uma das seguintes especialidades: medicina intensiva adulta ou pediátrica, neurologia
adulta ou pediátrica, neurocirurgia ou medicina de emergência. O outro deve ter, no
mínimo, um ano de experiência no atendimento a pacientes em coma, tenha
acompanhado ou realizado pelo menos 10 (dez) determinações de morte encefálica
ou tenha realizado curso de capacitação. Nenhum dos dois médicos deve fazer parte
da equipe de transplantes. Os critérios para detecção de morte encefálica:
− coma não perceptivo e
− ausência de reatividade supraespinhal manifestada pela ausência:

• dos reflexos fotomotor,


• córneo-palpebral,
• oculocefálico,
• vestíbulo-calórico e
• de tosse.

77
MEDICINA LEGAL
O diagnóstico de morte encefálica não pode ser utilizado como único critério
(devido a possibilidade de reversibilidade) em casos de:
− Menores de 2 anos,
− Morte por hipotermia,
− Drogas depressoras do SNC,
− Encefalites,
− Distúrbios metabólicos ou endócrinos.

Diferenças entre as resoluções do CFM acerca da morte encefálica:

Resolução nº 1.480/97 Resolução nº 2.173/17

Parâmetros clínicos para o início do


diagnóstico:

- Coma não perceptivo, ausência de reatividade


supraespinhal, apneia persistente.
Parâmetros clínicos para o início do - Deve apresentar lesão encefálica de causa
diagnóstico: conhecida, irreversível e capaz de causar a
morte encefálica, ausência de fatores tratáveis
- Coma aperceptivo com ausência de que possam confundir o diagnóstico de morte
atividade motora supraespinal e apneia. encefálica.

- Temperatura corporal superior a 35°,


saturação arterial de oxigênio acima de 94%
e pressão arterial sistólica maior ou igual a
100 mmHg para adultos.

Tempo de observação para que seja


iniciado o diagnóstico:
Tempo de observação para que seja iniciado
Não tinha. o diagnóstico:

78
MEDICINA LEGAL
- Mínimo de 6 horas. Quando a causa fora
encefalopatia hipóxico-isquêmica, a
observação deve ser de 24 horas.

Confirmação da morte encefálica:


Confirmação da morte encefálica:
a) Dois exames clínicos, por médicos
a) Exames clínicos, realizados por médicos diferentes, especificamente capacitados para
diferentes, e exames complementares, confirmar o coma não perceptivo e a ausência
realizados em intervalos de tempo de função do tronco encefálico;
variáveis;
b) um teste de apneia;
b) Os exames complementares devem
demonstrar: c) um exame complementar que comprove a
ausência de atividade encefálica. Este exame
- ausência de atividade elétrica cerebral, ou deve comprovar:
- ausência de atividade metabólica cerebral - ausência de perfusão sanguínea encefálica, ou
ou
- ausência de atividade metabólica encefálica
- ausência de perfusão sanguínea ou
cerebral.
- ausência de atividade elétrica encefálica.

Resolução nº 1.480/97 Resolução nº 2.173/17

Diagnóstico da causa da morte:


O esclarecimento da causa jurídica de morte não interessa apenas ao processo
penal. No foro civil é também importante, visto que os contratos de seguro, em geral,
não cobrem as mortes por suicídios. Para tanto, as causas jurídicas de morte:
homicídio, suicídio e acidente.
O conceito de morte se desdobra em várias vertentes:

79
MEDICINA LEGAL
− Morte natural - resultante de causa interna, resultante de um estado
mórbido ou condição congênita, onde não há a quem se atribuir a
responsabilidade. Poderá ocorrer com ou sem assistência médica.
Opõe-se à morte violenta.
− Morte violenta - resultante de causa externa, em decorrência de
acidente, por ação ou omissão de outra pessoa (homicídio ou indução
ao suicídio) ou por ação própria (suicídio). Nesse caso, apresenta
indícios de criminalidade, sendo necessário se determinar a causa
jurídica da morte para apurar responsabilidades.

TOME NOTA Criminalística – estabelece causa jurídica da morte.


Medicina Legal – estabelece a causa mortis.

− Morte real - conjunto de sintomas verificados por diversos


procedimentos, técnicas e cientificamente aceitos no âmbito da
Medicina Legal, sendo esta a cessação efetiva e definitiva da vida.
− Morte aparente – primeiros sintomas de morte real, ocorrendo antes
da morte encefálica, onde o indivíduo apresenta sintomas tais como:
perda da consciência, sensibilidade, tônus musculares, imobilidade
do corpo, parada respiratória, parada circulatória, ausência do pulso
e batimentos cardíacos.
TOME NOTA Tríade de Thoinot: imobilidade, ausência aparente da
respiração e ausência de circulação.

CAIU EM PROVA:
(CEBRASPE/2016) Com referência à morte aparente, assinale a opção
correta
e) Na tríade de Thoinot, o estado de morte aparente é caracterizado pela
imobilidade, ausência aparente de respiração e circulação.

80
MEDICINA LEGAL
− Morte agônica - leva à sobrevivência por dias, semanas após o
surgimento da causa, ocorrendo de forma lenta e esperada como
resultado de uma doença ou condição. Opõe-se à morte súbita.
− Morte súbita - apresenta efeito imediato, não podendo determinar
com clareza e segurança a causa da morte, ocorrendo em estado de
aparente saúde. Não se pode instituir um tratamento adequado e,
muitas vezes, sequer eludir se houve ou não violência. Assim sendo,
portanto, uma morte suspeita, imprevisível e de necessária
investigação aprofundada.

TOME NOTA A morte agônica e súbita podem estar relacionadas à morte


natural ou violenta. No entanto, na prática, morte súbita é praticamente sinônimo de
morte natural, mas, de acordo com França, ainda assim deve ser investigada.

− Morte suspeita - passível de esclarecimentos acerca das


circunstâncias em que se deu a morte decorrente de fatores
desconhecidos, de causa não natural e não violenta.
− Morte por inibição – ou instantânea fisiológica, é a morte por
síncope (perda dos sentidos) cardíaca reflexa, que segue a uma ação
traumática ou irritativa, exercida sobre determinadas áreas,
particularmente sensíveis, do organismo. Há necessidade que um
conjunto de condições desfavoráveis esteja predisposto para uma
determinada pessoa, uma vez que a ação traumática ou irritativa não
é compatível com o resultado, não se podendo verificar em exame de
necropsia.

81
MEDICINA LEGAL

CAIU EM PROVA:
(INSTITUTO AOCP/2019) A necropsia é um procedimento médico que visa
analisar a anatomia, o motivo da morte e as sucessivas alterações orgânicas
que acontecem após a morte do corpo. Os dispositivos legais que
regulamentam a obrigatoriedade da necropsia são elencados no Código de
Processo Penal Brasileiro. A necropsia deverá ser indispensável na ocorrência
dos seguintes casos, EXCETO
b) morte natural assistida.

Causas jurídicas da morte:


A Medicina Legal se incumbe da determinação da causa mortis através da
realização da necropsia, de forma a buscar estabelecer a dinâmica das lesões que
resultaram na morte do indivíduo. Assim, tornar-se possível o esclarecimento da causa
jurídica, seja ela criminal (homicídio), acidente ou suicídio.
Um dos pontos a ser avaliado pelos peritos consiste na multiplicidade das
lesões, na direção das feridas, os possíveis instrumentos utilizados, presença de lesões
de defesa e demais vestígios que possam indicar ação criminal, acidental ou suicídio.

Perinecroscopia:
A perinecroscopia se vale da observação do exame do local de crime suspeito
ou violento, buscando por sinais que auxiliem no estabelecimento da dinâmica dos
fatos. Logo, faz-se necessário aos pêros criminais observar detalhes tais como
respingos e direção de sangue, marcas de arrastamento do corpo, posição de possível
autor, direção de projéteis, etc. Enquanto ao médico legista cabe a avaliação dos
indícios intrínsecos ao cadáver, como ferimentos ao longo do corpo, presença de
espermatozoides em possíveis crimes sexuais, corpos estranhos, substâncias químicas
e/ou alimentos no estômago do periciando (mediante necropsia), etc.

82
MEDICINA LEGAL
Lesões relacionadas à morte:
É de suma importância estabelecer o momento da ocorrência das lesões por
parte da perícia a fim de auxiliar questões judiciais e, consequente, enquadramento
jurídico. Tal elucidação possibilita identificar se as lesões foram as causas da morte,
se foram realizadas para dissuadir a perícia ou se foram realizadas como forma de
vilipêndio, por exemplo.
− Lesões in vita: para caracterizar tais lesões, é necessária a verificação
de reação vital enquanto mecanismo de defesa do próprio organismo
contra a agressão:
− processo inflamatório
− coagulação sanguínea
− retração de bordas
− regeneração (crosta, calo)
− infiltração hemorrágica
− queimaduras com flictenas rico em albumina e leucócitos

− Lesões post mortem: não apresentam sinais de reação do organismo,


como a incoagulabilidade do sangue (Sinal de Donné) e feridas com
bordas menos afastadas devido a redução do tônus muscular e
epitelial. Além disso, podem ocorrer por lesões causadas:
− por animais necrófagos (irregulares e de tamanho variável, com
sinais de dentes, por exemplo)
− pelo ambiente onde o cadáver se encontra (escoriações por
arrastamento, por exemplo)
− intencionalmente (mediante tentativa de salvamento ou
criminalmente)
− bolhas ou flictenas contendo ar ou líquido desprovido de
albumina e leucócitos

Coágulos post mortem podem ocorrer eventualmente quando a abertura do


corpo se dá logo após a morte. Porém, sabe-se que o coágulo post mortem é dissolvido
depois de formado quando a morte se processa rapidamente, principalmente nas
asfixias. Isso se deve à liberação de um sistema fibrolítico que não é ativado nos casos
de morte agônica. Mas o maior valor da coagulação como sinal de reação vital é a

83
MEDICINA LEGAL
aderência dos coágulos às bordas das lesões. Sabe-se, hoje, que isso se deve à ação de
uma glicoproteína chamada fibronectina. Nas lesões vitais, a lavagem com água não
consegue retirar o sangue aderido aos tecidos.

TOME NOTA Período de incerteza de Tourdes: período correspondente


entre a aparência de morte até o momento em que o sinal da parada respiratória e
cardíaca se torna irreversível, configurada através da ausência de batimentos
cardíacos, de pulsação e de pressão arterial (sinais abióticos imediatos).

CAIU EM PROVA:
(INSTITUTO AOCP/2019) O diagnóstico diferencial entre as lesões
produzidas em vida ou depois da morte pode ser realizado por meios
tradicionais e meios subsidiários (exames de laboratório). Como
característica(s) de lesões intravitam, pode-se ter
d) equimose e presença de crosta na escoriação.

Cronotanatognose:
O diagnóstico cronológico se faz importante para determinação da causa
jurídica da morte e, ainda, essencial no auxílio à investigação sobre circunstâncias da
morte. Vale relembrar que a morte não é um resultado simples, instantâneo e
simultâneo, mas sim um processo gradativo que não se sabe quando inicia e quando
termina. Assevera França que as “funções não cessam todas de uma vez, resultando
daí uma certa dificuldade pra se determinar com precisão o exato momento da morte”.
A morte é caracterizada pela presença dos sinais abióticos (sinais que indicam
ausência de vida) seguido de sinais transformativos.

84
MEDICINA LEGAL
1. Fenômenos abióticos (ou avitais ou vitais negativos):
a) Imediatos (ou precoces): resultantes da cessação das funções vitais.
Indicam a possibilidade de morte e são denominados por alguns autores como período
de morte aparente, por outros são chamados de morte intermediária.
− Perda da consciência
− Perda da sensibilidade – ausência de sensações táteis, térmicas e
dolorosas
− Imobilidade
− Midríase bilateral – dilatação das pupilas
− Cessação da respiração e circulação – Sinal ou Teste de Rebouillat: a
injeção de éter no tecido subcutâneo reflui pela mesma ferida
punctória da pele, caso não haja circulação; caso contrário, é
absorvido e desperta reação inflamatória.

b) Consecutivos (ou mediatos ou tardios):


− Desidratação – evaporação tegumentar e perda de água sem
reposição, variando conforme a temperatura do ambiente, circulação
do ar, umidade do local e causa da morte. A desidratação causa perda
de peso, apergaminhamento da pele, dessecamento das mucosas e
fenômenos oculares no cadáver (como o enrugamento da córnea –
Sinal de Bouchut).

TOME NOTA Sinal de Sommer e Larcher: Escurecimento do globo


ocular na porção em que há abertura. Esse sinal decorre da oxidação promovida pelo
oxigênio atmosférico na esclerótica. Ocorre após cerca de 6h do óbito.

85
MEDICINA LEGAL
TOME NOTA Sinal de Ripault: Depressão do globo ocular e deformação
da íris e da pupila após realizar um ponto de pressão (8h após o óbito).

− Espasmo cadavérico - rigidez abrupta, generalizada e violenta,


precede a rigidez comum e se instala de forma progressiva. Os
cadáveres guardam a posição em que foram surpreendidos pela morte
numa atitude especial produzida em vida (Sinal de Kossu). É comum
na morte súbita.

− Hipóstase – LIVOR MORTIS: trata-se da deposição do sangue em


partes declinadas, resultantes da gravidade. Aparecem de 2 a 3 horas
após a parada cardíaca, podendo mudar de posição quando ocorrer
mudança na posição do corpo e fixam-se após decorridas 12 horas.

− Resfriamento do corpo – ALGOR MORTIS: a temperatura corporal,


em média, reduz em torno de 1,5°C por hora até equilibrar-se com a
temperatura ambiental, sendo detectada mediante aferição retal.
Crianças e idosos esfriam mais facilmente em relação aos demais
organismos.

− Rigidez cadavérica – RIGOR MORTIS: fenômeno físico-químico em


um estado de contratura muscular que se inicia entre 1 e 2 horas após
a morte, atinge seu nível máximo em torno de 8 horas e se desfaz
após decorridas 24 horas com o início da putrefação. Admite-se que
a rigidez cadavérica é resultante da supressão de oxigênio celular que
irá impedir a formação de ATP (Ácido Adenosínico-trifosfórico), o
que leva as células à respiração anaeróbia, com alta produção de
ácido lático. O rendimento energético (baixa quantidade de ATP)

86
MEDICINA LEGAL
desse fenômeno também não é igual ao rendimento aeróbio, o que
prejudica a permeabilidade da membrana celular. Com isso, as
células musculares deixam de armazenar cálcio corretamente,
fazendo com que a concentração desses íons aumente no citoplasma,
predispondo a contração muscular. Após algum tempo, a actina e a
miosina se desligam, favorecendo a flacidez muscular.
(Livores hipostáticos)

TOME NOTA Tríade L.A.R.: indicativos de certeza de morte (morte


real).

TOME NOTA Catalepsia: distúrbio letárgico de causa desconhecida que


impede o indivíduo se movimente temporariamente e faz com que seus sinais vitais
se mantenham de forma muito lenta, dando a impressão de morte. O indivíduo
apresenta pele pálida, aparência cérea (de cera), rigidez corporal, respiração e pulso
muitos lentos e não responde a estímulos.

87
MEDICINA LEGAL

2. Fenômenos transformativos (tafonomia):


Refere-se ao estudo da transição dos restos biológicos a partir da morte até a
fossilização, seja de transformação ou destruição daqueles. Os fatores mais
importantes e influentes nesse estudo são a temperatura, o ar, o peso e a idade do
corpo, a aeração, a causa da morte, além da ação bacteriana e da fauna cadavérica.
Assim, os fenômenos transformativos se classificam em destrutivos ou conservativos:

a) Destrutivos:
− Autólise - Início da decomposição resultante da ação ácida das
enzimas celulares. Microscopicamente, assim que ocorre a
parada circulatória, cessa o aporte de oxigênio aos tecidos,
levando a um acúmulo de radicais ácidos e lise dos lisossomos,
com baixa do pH do sangue e liberação das enzimas até então
contidas nessas organelas (hidrolases). Tudo isso faz com que a
célula seja destruída.

− Putrefação – consiste na decomposição fermentativa matéria


orgânica, tendo o intestino como ponto de partida para a
putrefação (exceto em recém-nascidos e fetos). Caracteriza-se,
macroscopicamente, por 4 (quatro) fases:

88
MEDICINA LEGAL

• FASE CROMÁTICA (ou de coloração): caracterizada pelo


surgimento da mancha verde abdominal (localizada na fossa
ilíaca direita, preferencialmente) com início entre 20 e 24h após
parada cardíaca, espalhando-se após 3-5 dias. Em afogados, a
mancha aparece primeiro no pescoço e depois no tórax. O mesmo
pode acontecer com recém-nascidos, visto que o intestino se
encontra estéril.

TOME NOTA A localização a mancha verde se relaciona ao ceco ser a


parte mais dilatada e livre do intestino grosso, com maior acúmulo de gases e mais
próximo da parede abdominal.

• FASE GASOSA (ou enfisematosa): surgimento de gases


resultantes da distensão dos intestinos, surgindo 2 a 3 dias após a
morte, atingindo seu ápice em torno de 6 a 10 dias. Surgem
bolhas na epiderme com conteúdo líquido hemoglobínico e o
cadáver toma aspecto gigantesco. A pressão dos gases determina
um aumento de volume cadavérico, com língua protrusa, cabeça
grande, genitais aumentados, olhos abertos e proeminentes e
braços e pernas com aspecto pneumático (Posição de Gladiador).
Nesse período os cadáveres dos afogados flutuam e pode ocorrer
o “parto post mortem” nas cadáveres grávidas.
TOME NOTA Posição de lutador ou gladiador (2 a 7 dias): consiste em
uma postura de braços entreabertos, estendidos, com aspecto de inchado.

89
MEDICINA LEGAL
TOME NOTA Circulação Póstuma de Brouardel: ocorre entre 18-24h
no verão e 36 a 48h no inverno, podendo se estender por 5 dias, onde os vasos são
empurrados pelos gases e tornam-se visíveis.

− FASE COLIQUATIVA (ou de liquefação): aparecimento de larvas


(9 a 30 dias, podendo se estender a meses a depender do ambiente),
caracterizando uma “liquefação tecidual”. As partes moles vão se
reduzindo de volume pela desintegração progressiva dos tecidos, a
epiderme se desprega da derme, o esqueleto fica recoberto por uma
massa de putrilagem e o corpo perde sua forma.
− FASE de ESQUELETIZAÇÃO: redução das partes moles, restando
apenas ossos, dentes, cabelos, pelos e partes densas como os tendões
(2-3 anos).

90
MEDICINA LEGAL

CAIU EM PROVA:
(CEBRASPE/2018) Julgue o item que se segue, relativo a
fenômenos cadavéricos.
O intestino delgado é a primeira porção do corpo humano a atingir
a fase coliquativa da putrefação, devido à grande presença de bactérias.
ERRADO – a fase cromática da putrefação se inicia pelo ceco,
enquanto a fase coliquativa é marcada pela liquefação tecidual.

− Maceração – trata-se da transformação cadavérica em meio líquido


(descolamento dos tecidos), afetando fetos a partir do 5º ou 6º mês de
gravidez no útero materno e afogados. Pode ser classificado
conforme o meio em:

• MACERAÇÃO ASSÉPTICA: meio líquido estéril devido à não


exposição a micro-organismos, ocorrendo descolamento dos
tecidos). Fetos mais precoces (menos de 5-6 meses de gravidez)
podem ser reabsorvidos, mumificados ou calcificados.
• MACERAÇÃO SÉPTICA: meio líquido contaminado
(afogados).

91
MEDICINA LEGAL

CAIU EM PROVA:
(NUCEPE/2018) O estudo da morte na medicina legal é realizado pela
Tanatologia forense; Dentro do estudo dos fenômenos cadavéricos,
é CORRETO afirmar que:
c) A maceração é o fenômeno destrutivo concomitante à putrefação,
resultante da umidade ou excesso de água sobre o cadáver.

b) Conservadores:
− Mumificação - geralmente em corpos magros, ocorrendo
conservação provocada por locais secos e quentes (desidratação). Há
interrupção das reações químicas, conservando o tegumento,
determinando a conservação parcial. Não pode ser confundida com
os processos de conservação artificial, como os embalsamamentos,
que consiste na injeção de conteúdo conservador (como formol) nos
vasos sanguíneos, junto com outros adjuvantes.

− Saponificação (ou adipocera) – transformação da gordura corporal


em sabão causada por locais úmidos, argilosos, quentes, e sem
ventilação (geralmente em corpos obesos e grávidas), dando aos
restos mortais um aspecto acinzentado e de manteiga. Quando ocorre
alguma perturbação ambiental ou na estrutura dos restos mortais, são
observados outros fenômenos cadavéricos.

92
MEDICINA LEGAL
− Corificação - fenômeno raro causado por isolamento hermético,
principalmente em caixões ou urnas fabricadas com zinco.
Apresentam pele com aspecto curtido em couro.
− Outros fenômenos conservadores –
− CALCIFICAÇÃO ou PETRIFICAÇÃO: substituição progressiva
das estruturas biológicas por minerais, dando um aspecto de pedra
(feto litopédio – “de pedra”) com manutenção da morfologia dos
restos mortais.
− REFRIGERAÇÃO: conservação em ambientes muito frios.
− FOSSILIZAÇÃO: conservativo de longa duração.

CAIU EM PROVA:
(FCC/2018) Dentre os fenômenos cadavéricos transformativos, tem-se a
e) saponificação, na qual o cadáver é transformado em uma substância untuosa
após um certo estágio da putrefação.

93
MEDICINA LEGAL
Resumindo...
IMEDIATOS
- Perda de consciência
- Imobilidade
- Relaxamento Muscular
- Parada Cardíorrespiratória
- Midríase Paralítica Bilateral

Abióticos
CONSECUTIVOS
- Livor
- Algor
- Rigor
- Opacificação da Córnea
Fenômenos Cadavéricos

- Espasmos cadavéricos
- Desidratação

DESTRUTIVOS
1) Autólise
2) Putrefação
- Cromática
- Gasosa
- Coliquativa
- Esqueletização
Transformativos 3) Maceração

CONSERVATIVOS
- Mumificação
- Saponificação
- Petrificação
- Corificação

94
MEDICINA LEGAL
7. SEXOLOGIA MÉDICO-LEGAL
A sexologia forense ou criminal ou médico-legal se incumbe de responder
aos quesitos e identificar condutas relacionadas aos crimes contra a dignidade sexual,
que não se trata unicamente das agressões ao corpo físico ou à sexualidade, mas
principalmente à violação psicológica.
Para tanto, a legislação brasileira aponta os crimes a serem punidos no Título
VI do Código Penal. Aqui abordaremos os crimes de maior interesse à perícia:

Estupro – Art. 213:


Art. 213 (Código Penal): Constranger alguém, mediante violência ou
grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele
se pratique outro ato libidinoso:
Pena – reclusão, de 6 (seis) a 10 (dez) anos.
§ 1º - Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave ou se a vítima
é menor de 18 (dezoito) ou maior de 14 (catorze) anos:
Pena – reclusão, de 8 (oito) a 12 (doze) anos.
§ 2º - Se da conduta resulta morte:
Pena – reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos

A previsão de conjunção carnal relaciona a entrada completa ou incompleta


do pênis na cavidade vaginal, ocorrendo ou a ejaculação, sendo o sexo anal
caracterizado com ato libidinoso, assim como o sexo oral, a masturbação, etc., onde
tanto o homem quanto a mulher podem ser sujeitos ativos do crime de estupro (de
ação pública incondicionada).
Para tanto, ato libidinoso pode ser entendido como sendo toda prática que tem
por fim satisfazer completa ou incompletamente o apetite sexual, o qual pode traduzir-
se, algumas vezes, em transtorno da preferência sexual. Além dele girar em torno da
esfera sexual, deve ser indiscutivelmente obsceno e lesivo ao pudor mínimo. O ato
libidinoso, além da conjunção carnal, manifesta-se nas mais variadas situações: no
coito ectópico, na masturbação, nos toques e apalpadelas de mamas, coxas e vagina,
na palpação de nádegas, na contemplação lasciva, nos contatos voluptuosos de forma
constrangedora. Esses atos, praticados em alguém ou permitidos que a ele se
pratiquem, constituem elementos que podem contribuir na caracterização do delito.

95
MEDICINA LEGAL
Estupro de vulnerável
Art . 217-A (CP): Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso
com menor de 14 (catorze) anos:
Pena – reclusão, de 8 (oito) a 15 (quinze) anos.
§ 1º - Incorre na mesma pena quem pratica as ações descritas no caput com
alguém que, por enfermidade ou deficiência mental, não tem o necessário
discernimento para a prática do ato, ou que, por qualquer outra causa, não
pode oferecer resistência.
§ 2º - Vetado
§ 3º - Se da conduta resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena – reclusão, de 10 (dez) a 20 (vinte) anos.
§ 4º - Se da conduta resulta morte:
Pena – reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
§ 5º - As penas previstas no caput e nos §§ 1º, 3º e 4º deste artigo aplicam-
se independentemente do consentimento da vítima ou do fato de ela ter
mantido relações sexuais anteriormente ao crime.

Os menores de 14 anos não têm capacidade de consentir, assim como os


doentes mentais. Portanto, caso haja conjunção carnal ou ato libidinoso contra o
menor, será caracterizado o chamado estupro de vulnerável, mediante violência
presumida, o qual também é considerado crime hediondo. A violência pode ser efetiva
e presumida, onde esta se caracteriza como efetiva quando existe o concurso da força
física ou o emprego de meios capazes de privar ou perturbar o entendimento da vítima,
impossibilitando-a de reagir ou defender-se. A violência efetiva apresenta-se sob duas
modalidades: a violência efetiva física e a violência efetiva psíquica.
− Violência efetiva física: não pode ser presumida, mas provada, como
consectário lógico do uso da força.
− Violência efetiva psíquica: onde o agente conduz a vítima a uma
forma de não resistência por inibição ou enfraquecimento das
faculdades mentais. A embriaguez completa, a anestesia, os estados
hipnóticos (induzidos ou provocados) e a ação das drogas
alucinógenas são exemplos desse tipo de violência.

96
MEDICINA LEGAL
Para a perícia, importa a análise sobre da himenologia para configurações de
crimes sexuais. Para tanto, considera-se mulher virgem toda aquela em relação à qual
não se prova experiência sexual anterior. Enquanto inexperiência quer dizer
alheamento, falta de conhecimento do que seja conjunção carnal.
Conjunção carnal, como já dito, é a cópula vagínica, a contactação
pênis/vagina (intromissio penis). O que envolve aspectos da libido não faz parte do
crime de sedução, configurando os atos libidinosos, que são diferentes da conjunção
carnal. A prova da conjunção carnal é definitiva para a tipificação do crime, sendo
que em virgens é feita por meio da observação de ruptura do hímen. Em mulheres
com vida sexual pregressa, utiliza-se a gravidez, contágio de moléstia venérea, exame
de esperma e exames bioquímicos.

Configuração da conjunção carnal


− Ruptura do hímen (em mulheres virgens é o critério de escolha);

− Presença de espermatozoide no fundo do saco vaginal: com uma


espátula, colhe-se material no fundo da vagina e faz-se pesquisa de
existência de espermatozoide. A presença de espermatozoide gera
diagnóstico de conjunção carnal, pouco importando o tipo de hímen;

− Presença de doenças venéreas: presença de certas doenças venéreas


no fundo da vagina que só se reproduzem por contato (ex: cancro
sifilítico, granulomas e condilomas presentes no fundo da vagina);

− Presença de fosfatase ácida: presença de altas quantidades na vagina,


com proveniência do sêmen, indicam conjunção;

− Glicoproteína p30 ou PSA: trata-se de uma proteína produzida pela


próstata;

− Exame de DNA, principalmente em casos em que haja preservativo;

− Gravidez: sem considerar o estado do hímen, melhor do que qualquer


outra situação é o próprio resultado da conjunção. Não existe

97
MEDICINA LEGAL
gravidez sem conjunção carnal, pois o espermatozoide depende do
meio ácido para sobreviver, e isso só existe no ambiente vaginal.
É possível a pesquisa, também, de substâncias lubrificantes de alguns
preservativos, possibilitando o diagnóstico de conjunção carnal, mesmo quando o
homem utiliza preservativo. Podem ser encontradas algumas tabelas sobre até quanto
tempo após a conjunção se pode pesquisar a presença de espermatozoides na vagina.
Geralmente, as vítimas de agressão sexual têm uma enorme tendência de, finda a
agressão, limpar-se exageradamente, como se limpassem também quaisquer vestígios
de agressão, inclusive com o uso de ducha vaginal. Para a Medicina Legal, tal fato
pode destruir a possibilidade da prova. Segundo alguns autores, existe a possibilidade
de se encontrarem vestígios de espermatozoides na vagina até 22 dias após a
conjunção. Na prática, porém, após cinco ou seis dias já ficará mais difícil encontrá-
los.

CAIU EM PROVA:
(CEBRASPE/2018) O exame necroscópico do cadáver referido no texto
1A9AAA evidenciou equimoses violáceas e escoriações na vulva, hímen roto,
dilatação do ânus, sem escoriações ou fissuras, e o exame citológico da secreção
vaginal detectou espermatozoides e PSA.
a) A presença do PSA na secreção vaginal é considerada um vestígio de
ocorrência de conjunção carnal.

A anatomia feminina, vista de frente, na região perineal, envolve estrutura


composta de pequenos lábios, grandes lábios, introito vaginal, fúrcula vaginal, orifício
uretral, clitóris e, implantada na parede da vagina, a presença de uma película
membranosa ou rugosa chamada hímen. Essa membrana tem uma anatomia
extremamente variável nos seres humanos. Há desde mulheres que, congenitamente,
nascem com ausência de hímen, até mulheres que têm himens que fecham a cavidade
vaginal.
Geralmente o hímen se apresenta de coloração vermelho-escura, ligeiramente

98
MEDICINA LEGAL
côncavo, rugoso e irregular e com duas bordas, uma aderente (ou de inserção) e outra
livre (que limita o óstio). A borda livre do hímen, pode ser regular, irregular ou
recortada, apresentado reentrâncias denominadas entalhes (se avançam quase à borda
da inserção e são simétricas) ou chanfraduras (se superficiais e em extensão de 2 a
3mm). Os entalhes não devem ser confundidos com rupturas, devendo receber certa
atenção médico-legal, onde:
− Os entalhes não se estendem até as bordas da vagina, as rupturas, sim;
− As bordas da ruptura se coaptam (se encaixam). As bordas do entalhe
não se coaptam porque jamais pertenceram a um mesmo plano;
− As bordas da ruptura apresentam uma cicatriz; as bordas dos entalhes
são do mesmo tecido do hímen. Sob luz ultravioleta, as que forem
bordas cicatriciais (ruptura) apresentar-se-ão pálidas; as que forem
bordas de entalhes apresentar-se-ão mais vermelhas, tendo em vista
a maior irrigação.
As dimensões do orifício dependem da largura do óstio e, relativamente, da
membrana mais ou menos larga que o fecha. O diâmetro, pela ruptura, torna-se
suficientemente largo, permitindo o acesso do pênis no interior da vagina. Face às
características da irrigação sanguínea do hímen, ele se rompe e permanece roto,
cicatrizando-se a borda da ruptura, mas não se refazendo. Até o 20º dia da conjunção,
as bordas sangram. Após esse tempo, as bordas tendem a se cicatrizar. O tecido vai se
atrofiando até que, após algum tempo, os fragmentos são reduzidos a meros nódulos
na parede vaginal, que recebem o nome de carúnculas mirtiformes. As rupturas
estendem-se da borda ostial até a borda vaginal. Em alguns livros podemos encontrar
a terminologia “ruptura incompleta”, que significa que o hímen rompeu, mas a ruptura
não foi até a borda vaginal.

99
MEDICINA LEGAL
Diferente tipos e classificações de hímen (segundo Genival Veloso de
França):

1. Hímen circular 2. Hímen ovalar 3. Hímen tetralabiado 4. Hímen cordiforme 5.


Hímen septado (septo largo) 6. Hímen complacente.

100
MEDICINA LEGAL

1. Hímen septado oblíquo 2. Hímen septado longitudinal 3. Hímen septado transverso


4. Hímen cribriforme 5. Hímen embolsa 6. Hímen roto.

CAIU EM PROVA:
(INSTITUTO AOCP/2018) Assinale a alternativa que corresponda a
descrição de um hímen complacente.
c) Hímen com propriedade elástica.

Local de ruptura
Antigamente, adotava-se a nomenclatura do mostrador de relógio (ex:
ruptura a doze horas) chamado Método Cronométrico de Lacassagne. Hoje, divide-
se a vulva de acordo com o método de Oscar Freire em quatro quadrantes – superior
direito, superior esquerdo, inferior direito e inferior esquerdo. Pelos quadrantes, tem-
se oito pontos para descrever o local da ruptura no laudo (quatro quadrantes e quatro

101
MEDICINA LEGAL
junções).
A preocupação em descrever o local da ruptura é importante, pois, em 97%
dos casos, quando os parceiros se encontram em posição mulher sobre o homem, as
rupturas ocorrem nos quadrantes inferiores ou na junção dos dois quadrantes
inferiores. As rupturas em quadrantes superiores, em princípio, podem ser produto de
manipulação, de trauma ou de coitos com o parceiro em posição vertical. Rupturas
por manobras masturbatórias só ocorrem nos quadrantes superiores.

Tempo da Ruptura
− Recentíssima: ocorreu há poucas horas, as bordas estão sangrantes
− Recente: em cicatrização, ocorreu até 20 dias atrás
− Não recente: ocorreu há mais de 20 dias

Não ruptura após conjunção carnal


Até 22% das mulheres podem ter conjunção carnal sem apresentar o
fenômeno da ruptura. Esse fato recebe o nome de complacência (hímen com óstio
amplo, orla estreita e elástico). Poderá ocorrer ainda:
− Ausência de hímen (casos muito raros)

− Óstios himenais de grande diâmetro

− Hímen dotado de muitos entalhes que, quando submetidos a uma


tensão, produzem um diâmetro significativo que permite a cópula

− Hímens dotados de extraordinária elasticidade, ainda que sem óstio


grande

− O estado de lubrificação vaginal, que aparece no estado de excitação


pré-conjunção. A lubrificação também reduz o atrito e diminui a
perspectiva de ruptura do hímen. Podem ocorrer situações em que a
mulher tem uma vivência sexual ativa sem a ruptura do hímen e,
quando vítima de uma situação de estupro, pela situação de estresse

102
MEDICINA LEGAL
causada, não havendo lubrificação, ocorre a ruptura. O que leva à
ruptura não é a violência em si, mas a ausência de lubrificação

− Pênis pequeno.

É importante o estudo dessas razões, visto que podem aparecer mulheres


declarando-se virgens, mas com um histórico de experiência sexual, vislumbrando a
hipótese de uma ação penal. Nesse caso, complacência não é um fenômeno
exclusivamente do hímen, mas daquela parceria, onde o tipo de parceria pode ser
decisivo a permitir uma vivência sexual sem ruptura, por um detalhe anatômico ligado
ao órgão masculino.

CAIU EM PROVA:
(IBFC/2017) As perícias de casos de estupro têm como objetivo a constatação
da prática de conjunção carnal ou de outro ato libidinoso. Em relação ao
estupro, analise as afirmativas.
I. A presença de esperma na cavidade vaginal é um sinal que indica certeza de
prática de conjunção carnal, até que se prove o contrário.
II. Nos casos do coito em pé, há maior incidência de rotura do hímen, nos
quadrantes inferiores.
III. O exame de presença de fosfatase ácida é utilizado nos casos de estupro
para se constatar gravidez.
Assinale a alternativa correta.
b) Está correta apenas a afirmativa I

103
MEDICINA LEGAL
2. Violação sexual mediante fraude – art. 215:
Art. 215 (CP): Ter conjunção carnal ou praticar outro ato libidinoso com
alguém, mediante fraude ou outro meio que impeça ou dificulte a livre
manifestação de vontade da vítima:
Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos.
Parágrafo único. Se o crime é cometido com o fim de obter vantagem
econômica, aplica-se também multa.

3. Importunação sexual – art. 215-a:


Art. 215-A (CP): Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato
libidinoso com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato não constitui crime
mais grave.

4. Assédio sexual – art. 216-a:


Art. 216-A (CP): Constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou
favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição de
superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício de emprego,
cargo ou função.
Pena – detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos
Parágrafo único. Vetado
§ 2º - A pena é aumentada em até um terço se a vítima é menor de 18
(dezoito) anos.

5. Registro não autorizado da intimidade sexual – art. 216-b:


Art. 216-B (CP): Produzir, fotografar, filmar ou registrar, por qualquer
meio, conteúdo com cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter
íntimo e privado sem autorização dos participantes:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e multa.
Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem realiza montagem em
fotografia, vídeo, áudio ou qualquer outro registro com o fim de incluir
pessoa em cena de nudez ou ato sexual ou libidinoso de caráter íntimo.

104
MEDICINA LEGAL
ANOTAÇÕES:

_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
Bons estudos!

7.1. Abortamento
A doutrina médico-legal entende que aborto é a expulsão do feto morto ou
vivo do ambiente intrauterino em qualquer idade gestacional. Já para a Organização
Mundial da Saúde, aborto é a eliminação do produto da concepção com menos de
500g e menos de 25cm de comprimento, o que equivale aproximadamente a idade
gestacional de 22 semanas.
A gravidez deve ser considerada a partir da nidação, segunda a doutrina penal,
e não da fecundação. No entanto, a doutrina médico-legal, considera a mulher grávida
desde o momento da fecundação. Sendo assim, será considerado crime de aborto se a
manobra abortiva ocorrer antes ou depois da nidação, pois há vida desde a fecundação.
O Código Penal aponta 3 (três) possibilidades de abortos:
− Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento:
Art. 124 (CP): Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho
provoque:
Pena - detenção, de um a três anos.

− Aborto provocado por terceiro:


Art. 125 (CP): Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:
Pena - reclusão, de três a dez anos.
Art. 126 (CP): Provocar aborto com o consentimento da gestante:
Pena - reclusão, de um a quatro anos.

105
MEDICINA LEGAL
Parágrafo único. Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é
maior de quatorze anos, ou é alienada ou debil mental, ou se o
consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência.

Há, ainda, a previsão de qualificadora para os crimes de aborto:


Art. 127 (CP): As penas cominadas nos dois artigos anteriores são
aumentadas de um terço, se, em conseqüência do aborto ou dos meios
empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza
grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a
morte.

Além disso, há a previsibilidade da realização de aborto e só podem ser


cometidas por médico, no exercício da função. Caso uma parteira ou enfermeira
pratique o aborto em detrimento da vida da gestante, incide o estado de necessidade.
Art. 128 (CP): Não se pune o aborto praticado por médico.
Aborto necessário
I - se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
II - se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento
da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.

Importante mencionar que para a realização de aborto necessário, precisa-se


apenas de decisão fundamentada por junta médica, sendo desnecessário a autorização
judicial. Ademais, para que haja o aborto sentimental, torna-se necessário o
consentimento da gestante, tal qual, acompanhado de uma perícia médico-legal.
Também independe de autorização judicial.

106
MEDICINA LEGAL
TOME NOTA Jurisprudência STF: permitido também o aborto eugênico
em casos de anencefalia (ADPF 54).

CAIU EM PROVA:
(INSTITUTO AOCP/2018) Para efeito de diagnóstico médico-legal,
conforme o artigo 128 do Código Penal brasileiro, o aborto
d) é crime em qualquer modalidade, embora não punível se praticado por
médico, se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de
consentimento da gestante ou quando não houver outra maneira de salvar
a vida da gestante.

Provas de aborto
Aborto pode ser espontâneo ou provocado, sendo resultante da morte do
produto da concepção. Logo, os seguintes sinais indicam que houve apenas aborto,
não se identificando a causa:
− Maceração fetal: Feto que morre dentro do saco amniótico e sua
permanência dentro do líquido amniótico acarreta a destruição dos
tecidos moles. Ocorre nas mortes fetais a partir do 5º ou 6º mês de
gestação. Indicam que o feto está morto há mais de 24h.

− Feto litopédio (criança de pedra): É a mumificação do feto morto


dentro do útero materno. Ocorre quando não há a presença do
líquido amniótico, senão o feto estaria macerado. Geralmente ocorre
nas mortes fetais até o 3º mês de gestação.

− Feto papiráceo: Ocorre em gestações múltiplas ou bivitelina


(gêmeos), quando um dos produtos da concepção morre dentro do
útero materno e é comprimido pelo outro feto em desenvolvimento.

107
MEDICINA LEGAL
− Mola hidatiforme: É uma degeneração da placenta. Não há um ser
humano em desenvolvimento dentro do útero.

Meios abortivos e suas complicações


Método abortivo é qualquer processo que impeça a implantação de um
embrião na mucosa uterina. Os métodos precoces são aqueles que atuam antes da
implantação do ovo ou zigoto.
− Drogas que atuam sobre a ovulação: Altas doses de estrogênio e de
progestina tomadas duas vezes pode inibir a ovulação, mas sem
garantia, dentro das primeiras 72 horas pós-coito.

− Levonorgestrel: “pílula do dia seguinte”. Trata-se de uma espécie de


progesterona sintética.

− Mifepristona: antagonista da progesterona, não permitindo o


desenvolvimento do endométrio.

− DIU: impede a nidação.

− Drogas utilizadas após a fecundação:

− Mifepristona: como já dito, ele antagoniza ação da progesterona,


tornando o endométrio mais sensível ao descolamento.

− Misoprostol: consiste em um análogo de prostaglandina E2, o qual


funciona como estimulante de contração uterina.

108
MEDICINA LEGAL
− Metatrexato é um agente citostático capaz de inibir o crescimento do
trofoblasto.

CAIU EM PROVA:
(FCC/2017) O aborto criminoso no Brasil é subnotificado, visto que os fatos
nem sempre chegam ao conhecimento dos órgãos responsáveis. De acordo com
a legislação brasileira, o aborto é considerado criminoso quando
b) a gestante faz uso de comprimidos de misoprostol fornecidos pelo marido.

Infanticídio
No Código Penal, o crime de infanticídio é caracterizado pela morte do
próprio filho, estando a mãe sob influência do estado puerperal, sendo tratado como
uma forma privilegiada de homicídio.
Art. 123 (CP): Matar, sob a influência do estado puerperal, o próprio filho,
durante o parto ou logo após:
Pena - detenção, de dois a seis anos.

Infanticídio não se trata simplesmente de matar criança, mas trata-se do ato


de matar o próprio filho recém-nascido, durante ou logo após o parto. Logo, a sujeito
possível capaz de cometer infanticídio é a própria mãe, tratando-se, portanto, de crime
próprio na modalidade dolosa. No entanto, admite-se a coautoria e a participação do
pai, médico, amigos, desde que hajam em conjunto com a mãe.
O estado puerperal a que se refere o artigo, é uma alteração psíquica e física
que engloba o período do parto e logo após o parto. Dentre as manifestações mais
comuns do estado puerperal encontra-se a psicose pós-parto (inimputabilidade),
transtornos emocionais, etc. Já o puerpério é o espaço de tempo que vai da expulsão

109
MEDICINA LEGAL
da placenta (dequitação) até a involução total das características da gravidez, variando
entre 8 dias a 8 semanas, de acordo com a doutrina.
Durante o parto é o período que se configura a partir do momento da rotura
das membranas até a expulsão do feto e da placenta. Entende-se por logo após o parto
imediatamente após esse ato. Compreende os primeiros cuidados do infante nascido.
Caso saia da esfera de logo após o parto, classificar-se-á o crime de homicídio comum.

CAIU EM PROVA:
(CEBRASPE/2016) Acerca do crime de infanticídio, é correto afirmar que
e) dores do parto, estresse do período expulsivo, solidão do parto causada pela
gravidez desonrosa ou indesejada, além da pouca irrigação cerebral associada à
hemorragia no puerpério são fatores que explicam a perturbação da afetividade
no infanticídio.

Faz-se importante classificar o estado em que se encontra o feto, tais como:


− Natimorto: denomina-se natimorto o feto morto no período perinatal,
o qual inicia-se a partir da 22ª semana quando o peso fetal é de pelo
menos 500g. Antes disso considera-se óbito fetal.

− Feto Nascente: esse indivíduo se caracteriza igualmente o infante


nascido, exceto por ainda não ter respirado.

− Infante Nascido: é o produto do parto que respirou, mas não recebeu


nenhum cuidado ou limpeza especial.

− Recém-nascido: o indivíduo é caracterizado desde os primeiros


cuidados até o 7º dia de vida. Em pediatria, considera-se recém-
nascido até o 30º dia.

110
MEDICINA LEGAL
A morte natural afasta o infanticídio, sendo necessário identificar a causa
jurídica da morte (acidental ou criminosa). As causas acidentais geralmente advêm de
traumatismos. Pode haver asfixia por descolamento prematura da placenta, penetração
de líquidos na via respiratória e compressão na pelve materna. Já as criminosas podem
advir de uma série de energias, desde as mais sutis até as mais violentas.
Além disso, cabe também à perícia a diferenciação das características do feto
para o enquadramento em aborto ou infanticídio. Para tanto, a perícia médico-legal se
vale do estudo de docimásias, a citar algumas dessas técnicas:
− Docimásia Gastrointestinal de Breslau: o princípio é a análise de
ingestão de gases, consistindo na retirada de uma porção do trato
gastrintestinal para análise de flutuação.

− Docimásia hemato-pneumo-hepática de Severi: consiste na coleta


de sangue no fígado e no pulmão, determinando-se,
cuidadosamente, as taxas de hemoglobina. Se forem idênticas, não
houve respiração, porém, se a taxa de hemoglobina mais alta no
sangue do pulmão, houve respiração autônoma. Essa docimásia é
utilizada em infante nascido, visto que não se usa a Docimásia
Hidrostática de Galeno.

− Docimásia histológica de Balthazard: essa docimásia é mais segura e


mais sensível que as demais. Analisa-se uma lâmina do corte
histológico dos pulmões para verificação da regularidade dos
alvéolos. Caso estejam regulares, é comum que o feto tenha
respirado, o que diferencia no caso de gases da putrefação.

− Docimásia Hidrostática de Galeno: indica prova de vida extrauterina.


Esse exame consiste na retirada de um pedaço dos pulmões e trato
respiratório superior e colocação em um recipiente com água. Se
houver flutuação ou desprendimento de bolhas, o exame é positivo,
indicando que houve respiração após o parto:

• 1ª fase: em um recipiente fundo e largo, com água até


aproximadamente 2/3 de sua altura, em temperatura ambiente,

111
MEDICINA LEGAL
coloca-se em bloco a árvore traqueobrônquica, a língua, os
pulmões, o timo e o coração, e observa-se se flutua por inteiro
ou a meia água, ou se afunda.

• 2ª fase: separa-se os pulmões das demais vísceras no fundo do


vaso, se eles sobrenadam por inteiro ou a meia água, diz-se
prova positiva, sendo desnecessário seguir adiante.

• 3ª fase: incisar um pulmão inteiro no fundo do reservatório com


água e observar se algumas ou todas as suas partes flutuam, o
que confere positividade ao teste. A prova será dita negativa e
imporá a pesquisa da 4ª fase se todos os fragmentos pulmonares
permanecerem no fundo do vaso.

• 4ª fase: consiste em comprimir energicamente pela mão voltada


para a superfície ou contra a parede do recipiente contendo água
um fragmento de pulmão que não tenha flutuado. Supondo
ocorra desprendimento de finas bolhas gasosas misturadas com
sangue, a fase é considerada positiva.

− Docimásia hidrostática de Icard: deve ser utilizada como


complemento à de Galeno. São duas provas: por aspiração e por
imersão em água quente. Na primeira, coloca um pedaço do pulmão
num pote com água e em seguida faz-se um movimento de sucção
com seringa. Se o pedaço sobe, significa dizer que o teste foi positivo.
Na segunda prova, coloca o pedaço do pulmão em água quente. Isso
faz com que os alvéolos sejam dilatados e a amostra acabará
flutuando, por força da dilatação do ar pelo calor (se houver
respirado).

− Docimásia alimentar de Beoth: consiste na pesquisa de leite ou outros


alimentos no estômago do feto. Referidos elementos não existem no
natimorto. Porém, neste caso, é importante não confundir estes restos
de alimentos com o induto sebáceo que pode ter sido deglutido pelo
feto antes de nascer.

112
MEDICINA LEGAL
− Docimásia óptica ou visual de Bouchut: simples observação visual
do pulmão. O que não respirou tem aparência mais compacta, sólida,
e o que respirou apresenta o desenho alveolar mais evidente.

− Docimásia Bacteriana de Malvoz: investiga a presença de bactérias


no sistema gastrintestinal do feto como evidência de respiração. Para
alguns autores, essa presença se deve à ingestão de alimentos e não
pela respiração, mas também seria considerada uma prova de vida
extrauterina.

CAIU EM PROVA:
(FCC/2018) As docimásias são realizadas para verificar a existência de vida
extrauterina em casos de aborto e infanticídio. Entre as técnicas possíveis, a
docimásia
d) histológica de Balthazard consiste na análise histológica de um fragmento
de pulmão. O pulmão que respirou terá estrutura igual ao pulmão de um adulto.
O pulmão que não respirou tem as cavidades alveolares colabadas.

Distúrbios sexuais
Os distúrbios de sexualidade, ou parafilias, devem ser exclusivos e
duradouros. De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos
Mentais, são classificados 3 (três) tipos de transtornos:
1) Transtornos Sexuais: encerram as disfunções sexuais, como as alterações
de desejo, mudança na resposta sexual, mal-estar e conflitos. São eles:
− Transtornos de desejo sexual
− Transtornos devido à dor
− Transtornos decorrentes de enfermidade, provocada por
medicamentos ou não especificada

113
MEDICINA LEGAL
− Transtornos orgásmicos
− Transtornos de excitação sexual
2) Transtornos de Identidade Sexual: consiste na identificação interna do
sexo oposto ou mal-estar com seu próprio sexo. Em síntese, são distúrbios sexuais:
− Anafrodisia: diminuição ou deteriorização do instinto sexual de
homens devido a uma doença de natureza glandular ou nervosa
− Anorgasmia: disfunção sexual rara e se constitui na incapacidade de
o homem ejacular
− Bestialismo ou zoofilia: desejo sexual por animais
− Clismafilia: preferência pelo prazer obtido pela introdução de
líquidos no reto
− Coprofilia: prazer em comer fezes
− Coprolalia: satisfação em ouvir palavras obscenas
− Cromoinversão: atração por pessoas de outra cor
− Dollismo: prazer sexual por bonecas
− Erotomania: forma de erotismo extremamente mórbida em que o
indivíduo é levado pela ideia de hiperbólica de amor
− Etnoinversão: atração por pessoas de outra etnia
− Exibicionismo: desejo em mostrar sua genitália para outras pessoas
− Fetichismo: desejo sexual por partes do corpo ou objetos do outro
− Frigidez: pouco vigor sexual da parte feminina devido a vaginismo
ou doenças
− Frotteurismo: prazer em encostar ou friccionar pessoas
− Gerontofilia ou Cronoinversão: desejo sexual por pessoas idosas
− Impotência: pouco vigor sexual da parte masculina
− Lubricidade Senil: grande desejo sexual em idosos
− Masoquismo: pessoa busca prazer ao sentir dor ou imaginar que a
sente
− Mixoscopia ou Voyerismo: prazer em espiar ou assistir outras
pessoas em relação sexual
− Narcisismo: admiração anormal pela sua própria imagem
− Ninfomania: muito vigor sexual da parte feminina
− Onanismo: Interrupção do ato sexual antes da ejaculação
− Pigmalianismo ou agalmatofilia: prazer sexual por estátuas

114
MEDICINA LEGAL
− Pluralismo: prática sexual com 3 ou mais pessoas
− Riparofilia: Desejo sexual por pessoas sujas
− Sadismo: pessoa busca prazer ao fazer outras pessoas sentirem dor ou
imaginarem que a sente
− Satiríase: muito vigor sexual da parte masculina
− Swapping: prática heterossexual em que casais consentem com a
prática de sexo entre parceiros
− Tribadismo: prática sexual entre mulheres (fricção entre genitálias)
− Troillismo: é a satisfação sexual ao imaginar ou observar o parceiro
se relacionar com outra pessoa, geralmente um desconhecido
− Uranismo ou Pederastia: Homossexualismo masculino
− Urolagnia: prazer sexual em ver, ouvir ou sentir a urina ou ato de
urinar
− Vampirismo: desejo sexual por sangue na relação

3) Parafilias: são impulsos ou fantasias sexuais intensas que implicam em


condutas pouco habituais. Dentre eles temos o exibicionismo, coprofilia, zoofilia,
clismafilia, fetichismo, etc.

CAIU EM PROVA:
(CEBRASPE/2016) Para o estudo da sexualidade anômala, quando se adota
o Manual Diagnóstico e Estatístico de Doenças Mentais da Sociedade Norte-
Americana de Psiquiatria, pode-se observar que os transtornos da sexualidade
são divididos em disfunções sexuais, transtornos de identidade de gênero e
parafilias. Acerca desse assunto, assinale a opção correta.
c) As disfunções sexuais caracterizam-se por perturbação do desejo sexual e por
alterações psicofisiológicas que comprometem o ciclo da resposta sexual
normal, causando, concomitantemente, sofrimento acentuado e dificuldade
interpessoal.

115
MEDICINA LEGAL

CAIU EM PROVA:
(FCC/2017) Os transtornos da sexualidade são distúrbios do instinto
sexual, fantasias ou comportamento recorrente e intenso que ocorrem
de forma inabitual, também designados de parafilias. Em relação às
parafilias, é correto afirmar:
d) Riparofilia: perversão sexual em que há atração sexual por pessoas
desasseadas, sujas, de baixa condição social e com pouca (ou nenhuma)
higiene.

ANOTAÇÕES:

_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
Bons estudos!

116
MEDICINA LEGAL
8. ANTROPOLOGIA FORENSE – IDENTIDADE E IDENTIFICAÇÃO
Cabe à Antropologia Forense estabelecer as definições quanto à identidade e
identificação dos indivíduos. Para tanto, faz-se necessário diferenciar os dois termos:
− IDENTIDADE: é o conjunto de caracteres físicos, funcionais e
psíquicos, natos ou adquiridos, porém permanentes, que torna uma
pessoa diferente das demais e idêntica a si mesma. Trata-se do
conjunto de elementos positivos e estáveis que definem a pessoa
física de alguém.
− IDENTIFICAÇÃO: ato ou efeito de obter identidade, evidenciando
as propriedades exclusivamente individuais. Trata-se da descrição de
uma pessoa que se quer fazer reconhecer.
A identificação policial ou judicial consiste no emprego de técnicas de
identificação baseadas em dados antropométricos e antropológicos para a
identificação e caracterização de criminosos. Alphonso Bertillon foi um dos primeiros
a se valer de técnicas científicas para identificação e buscou identificar os pontos
comuns aos seres, com base na antropometria, que tem como método a associação de
várias medidas do esqueleto com sinais particulares, servindo para identificar
crianças, jovens e adultos.
Conhecida como Bertiolagem (Bertilhonagem - Alphonse Bertillon), a
identificação antropológica é um método de identificação baseado em medidas
antropológicas, visando estabelecer essas “sinalizações” como forma de identificação
dos indivíduos. Eram analisadas medições, retrato falado, fotografia sinalética e
marcas particulares. Esse Sistema era dividido em duas etapas:
− Sinalização Antropométrica: se fundamenta na fixidez do esqueleto
humano, entre 20 e 65 anos, analisando-se 11 (onze) medidas da
estrutura óssea:
• Diâmetro anteroposterior da cabeça
• Diâmetro transversal da cabeça
• Comprimento da orelha direita
• Diâmetro bizigomático
• Comprimento do pé esquerdo
• Comprimento do dedo médio esquerdo
• Comprimento do dedo mínimo

117
MEDICINA LEGAL
• Comprimento do antebraço
• Estatura
• Envergadura (comprimento dos braços abertos)
• Altura do busto

− Sinalização descritiva: cor de olhos, cabelos, marcas, cicatrizes,


tatuagens, etc.

Vários foram os motivos que levaram ao desuso da Bertiolagem, tais como o


aumento do número de fichas de identificação arquivadas, sua aplicação somente em
indivíduos adultos, as medidas tomadas tinham forte componente pessoal, passíveis
de erros e dois indivíduos poderiam apresentar valores antropométricos idênticos,
dentro dos limites de precisão do sistema.
A fotografia sinalética, utilizada por Alphonse Bertillon, era uma técnica que
se resumia em fotografar de frente e de perfil o indivíduo, na redução fixa de 1/7. As
fotografias eram superpostas e comparadas em menores detalhes, como a estatura,
fenda palpebral, lábios, etc. Trata-se de prova inominada de valor relativo, sendo
necessário complementar o que se busca em outros elementos de prova.
Para proceder à identificação, muitos são os métodos utilizados, sendo
classificados em primários ou secundários. Os primários são aqueles que, por si só,
permitem a identificação de uma pessoa: identificação genética (DNA), exames
radiográficos, exame odonto-legal e identificação papiloscópica. Os secundários
são aqueles que apresentam elementos sinaléticos, não possíveis de estabelecer com
precisão a identidade do indivíduo, a citar:
− Sinais individuais: como manchas de nascença, verrugas também
podem ser considerados métodos de identificação.
− Sinais profissionais: são estigmas devido a constância da atividade
laborativa, como calos, unhas (fotógrafos) e calo de lábio (sopradores
de instrumentos).
− Malformações: lábio leporino, desvios de coluna, polidactilia, entre
outros, são sinais diferenciadores que auxiliam mas não garantem a
identificação.

118
MEDICINA LEGAL
− Cicatrizes: têm interesse não apenas quanto à identificação, mas
também no que se refere a fatos ocorridos anteriormente. Podem
ser traumáticas, por ação de agentes mecânicos, por queimaduras
ou por ação de cáusticos, patológicas, como as da vacina ou da
varíola, ou cirúrgicas.
− Tatuagens

1) identificação genética:
O diagnóstico molecular trata de método bastante específico e sensível,
permitindo identificar indivíduo que não foi identificado através de outras técnicas.
Utiliza-se pequena amostra de DNA presente em tecido remanescente em
carbonizados, por exemplo, ou em casos de estupro seguido de morte para a
identificação de um possível responsável pelo delito através da comparação.
O método inicial de identificação por DNA foi o RFLP (Polimorfismo de
comprimento de fragmentos de restrição), que, resumidamente, utiliza enzimas de
transcrição que cortam o DNA em porções específicas (sítio de restrição), gerando
fragmentos de variados tamanhos. Esses fragmentos são submetidos a um campo
elétrico por eletroforese em gel, o qual faz migrar o DNA (carregado negativamente)
para o polo positivo. De acordo com o tamanho do fragmento, os mais pesados
migram pouco e os mais leves migram mais, a ponto de criar um padrão de bandas.
Essas bandas são avaliadas e comparadas com o material de suspeitos.
Atualmente o método mais utilizado é a realização de Multiplex PCR
(técnica que transforma uma cópia de DNA em bilhões) utilizando microssatélites,
que consiste na expressão de várias regiões repetitivas simultaneamente. Existem kits
com regiões específicas a serem amplificadas, de forma que a reação se torna bastante
facilitada.
Banco de dados de perfis genéticos – Lei 12.654/12 (gerenciado por unidade
oficial de perícia criminal):
− não poderão revelar traços somáticos ou comportamentais das
pessoas, somente para determinação de gênero
− caráter sigiloso

119
MEDICINA LEGAL
− as informações obtidas a partir da coincidência de perfis genéticos
deverão ser consignadas em laudo pericial firmado por perito oficial
devidamente habilitado

2) identificação radiológica e odonto-legal:


Os ossos são muito utilizados na identificação dos indivíduos através do sexo,
raça, idade e estatura. Para a identificação a partir de ossos ou esqueletos,
primeiramente se estabelece a origem do material. Após, deve-se identificar 4 (quatro)
características importantes da identificação:
− Unicidade
− Imutabilidade
− Classificabilidade
− Praticabilidade
A mensuração do crânio (ou identificação craniométrica) requer
conhecimento dos principais pontos craniométricos. A maioria desses planos estão
localizados no plano sagital mediano e são ímpares. Os outros, que são pares, estão
localizados em planos laterais. Os principais pontos craniométricos são: alveolon,
asterion, basion, bregma, dacrion ou lacrimal, esfenion, estafilion, estafanion, eurion
e gizion.

a. Identificação do sexo:
− Útero e órgãos genitais: Para a identificação do sexo da vítima, uma
das coisas mais interessantes é a presença do útero, o qual apresenta
relativa resistência durante a carbonização e putrefação. Além
disso, as características externas obviamente contribuem para a
determinação do sexo como a presença de saco escrotal ou vagina.
− Mandíbula: esse osso apresenta elementos importantes para se
determinar o sexo. Os índices de acerto giram em torno de 81,7%.
− A largura condilar, espessura mandibular anterior, distância
interforamen mentoniano, entre outros índices, auxiliam da
diferenciação do sexo. O peso da mandíbula em homens também
tende a ser maior que das mulheres, com cerca de 80 a 100g. A

120
MEDICINA LEGAL
protuberância mentoniana (queixo), junto à espessura e densidade
óssea são alguns parâmetros também avaliados por médicos-legistas.
− Crânio: Capacidade craniana (1.400cm³ ou mais para os homens e
1.300cm³ para as mulheres), ângulo dos arcos superciliares (salientes
para os homens e suaves para as mulheres), mento arredondado em
mulheres e quadrado em homens, processo mastoide pequeno e liso
em mulheres, e grande e rugoso em homens, etc.

121
MEDICINA LEGAL
− Ossos da pelve: dentre todos os métodos citados, depois do crânio, é
a “bacia” (pelve) que diferencia definitivamente um homem de uma
mulher. A partir da puberdade, o ângulo formado pela diáfise femoral
e o plano dos côndilos é de 80º para o homem e de 76º para
a mulher, conforme Sterwart e Washington. A cavidade superior é
o local que permite a passagem da cabeça da criança na hora do
parto, por isso em mulheres, a pelve é mais “aberta”, enquanto
em homens assume a forma mais fechada.
− Ossos do tórax: em homens, o tórax costuma ser mais largo na porção
superior na distância entre os ombros (forma de cone invertido)
enquanto nas mulheres aparece uma estrutura mais afunilada.

b. Identificação da raça ou etnia:


A identificação da raça do examinado não serve para discriminá-lo, e sim para
diferenciá-lo, individuá-lo, dos outros. Os grupos étnicos fundamentais são:
− Caucasianos: Pele branca ou trigueira; cabelos lisos ou ondulados,
loiros, castanhos ou pretos; íris azul, verde, castanha; nariz alongado
e narinas delgadas.
− Indiano: Pele tendente ao avermelhado; cabelos lisos e pretos; íris
castanha; barba escassa.
− Negróides: Pele negra; cabelos crespos; íris castanha ou preta; nariz
pequeno, largo e achatado, com narinas espessas e achatadas.
− Mongólico: Pele amarela; cabelos lisos; face achatada de diante para
trás; fronte larga e baixa; espaço interorbital largo; maxilares
pequenos e mento saliente.

122
MEDICINA LEGAL
Identificação étnica pela face:

Aspecto Branco Negro Amarelo


Comprimento longo/curto longo longo
Largura estreito/largo estreito largo
Altura alto baixo mediano
Largura face estreita/larga estreita muito largo
Altura face alta baixa alta
Órbita angular/redonda retangular redonda
Largura nasal estreita larga estreita
Margem nasal inf. cortante em calha cortante
Perfil facial reto protuso reto

Identificação étnica pela mandíbula:

Aspecto Branco Negro

Largura larga estreita

Ramo alto e estreito baixo e largo

Mento proeminente plano

Arco dental “V” “U”

123
MEDICINA LEGAL
c. Identificação da idade:
A melhor forma de determinar a idade do indivíduo é a análise dos seus dentes
e mandíbula. Quando estes elementos não são encontrados, são utilizadas técnicas
comparativas entre as suturas do crânio e a fusão das epífises.

(Respectivamente: Recém-nascido, adulto e idoso)

A identificação de crianças entre 0 e 12 anos utiliza três critérios


determinantes:
− Metamorfose nos centros de ossificação, em especial nos ossos
do crânio e fechamento metafisário
− Comprimento de ossos longos
− Erupção dentária
A partir da puberdade, a pelve, costelas e sutura craniana têm um valor
substancial na determinação da idade. A união começa mais cedo em mulheres. A
junção aparece mais precocemente no tornozelo e quadril, seguida pelo joelho e
cotovelo e, finalmente, pelo ombro e punho. Dos 14 aos 21 anos, tem indiscutível
valor a radiografia do punho e da palma da mão, e esporadicamente, da epífise
superior do úmero.
O surgir dos pontos de ossificação e a soldadura das epífises a diáfises são
referências da maior significação a respeito da determinação da idade óssea. Para
tanto, a radiografia do punho, do cotovelo, do joelho e do tornozelo, da bacia
e do crânio é peça valiosa e positiva.
É possível também estimar a idade por meio do estudo comparativo da
mineralização dos ossos do carpo com a ajuda de radiografias padronizadas. O

124
MEDICINA LEGAL
trapezoide é aquele que apresenta melhor índice de segurança.
A estimativa de idade baseada em métodos dentais é mais confiável que a
análise do esqueleto porque tendem a ser menos influenciados por fatores raciais e
ambientais. Como os dentes têm uma época própria para o surgimento, eles exercem
grande influência sobre a classificação da idade. Dessa forma, levando-se em conta a
primeira e a segunda dentições há, embora de maneira não tão rigorosa, condições de
se ter uma aproximação da idade de um indivíduo, a partir de 5 meses de nascido,
tomando por base a cronologia da erupção dentária.
A identificação pela arcada dentária é fundamental em se tratando de
carbonizados e também através da palatoscopia, visto que as impressões das
rugosidades palatinas são imutáveis.

Estrutura dos dentes

− Funções dos dentes:


− Incisivos (8): cortar os alimentos.
− Caninos (4): rasgar os alimentos.
− Pré-molares e molares (8;12): triturar os alimentos.

125
MEDICINA LEGAL
TOME NOTA Dentição decídua (até 6 anos) = 20 dentes
Dentição permanente (6 aos 12 anos) = 28 dentes
+ 4 sisos = 32 dentes

d. Identificação da estatura:
A estatura é obtida com o indivíduo em pé, em perfeita posição de
verticalidade ou com uma régua especial, nos casos de cadáver, cujas hastes tocam no
ponto mais alto da cabeça e na face inferior do calcanhar. Porém, quando se dispõe
apenas dos ossos longos dos membros, pode-se alcançar a estatura baseada na
tábua osteométrica de Broca ou nas tabelas de Étienne-Rollet, de Trotter e
Gleser, de Mendonça ou de Lacassagne e Martin. Basta multiplicar o comprimento de
um dos ossos longos pelos seus índices, para se aproximar da sua altura quando vivo.

CAIU EM PROVA:
(FUNCAB/2016) Um bom método de identificação deve atender a quatro
características ou exigências: duas de caráter biológico e duas de caráter
técnico. Assim, aponte dentre as opções abaixo, aquela que apresenta as quatro
características corretas.
a) Unicidade, imutabilidade, classificabilidade e praticabilidade

CAIU EM PROVA:
(VUNESP/2014) Em um cadáver em fase de esqueletização, os ossos que
permitem a identificação do sexo são:
b) crânio e pelve.

126
MEDICINA LEGAL
3) Identificação papiloscópica:
A identificação datiloscópica deve ser a primeira a ser realizada, quando
possível, visto se tratar de método mais acessível. Para tanto, para aplicação da
Necropapiloscopia e elaboração da fórmula datiloscópica, é preciso saber identificar:

− DESENHO DIGITAL: figura formada pelas cristas papilares da


falangeta, ou seja, é o desenho observado diretamente no dedo.

− PAPILAS DÉRMICAS (impressões digitais ou datilograma):


formadas por cristas papilares e sulcos interpapilares e se formam
entre seis e oito semanas antes do nascimento do indivíduo
permanecendo imutáveis.

• Classificação das impressões:


− - Impressão moldada = Impressão negativa
− - Impressão latente = Impressão não visível
− - Impressão plantar = Impressão papilar do pé
− - Impressão palmar = Impressão papilar da mão
− - Impressão digital = Impressão papilar da falange distal

− CRISTAS PAPILARES (linhas pretas): elevações do desenho digital


que formam as impressões

− SULCOS INTERPAPILARES (linhas brancas): Intervalos ou


depressões que separam as cristas papilares.

TOME NOTA NECROPAPILOSCOPIA: Nos casos de acidente de


massa onde ocorre a carbonização dos indivíduos, os peritos papiloscopistas
empregam não somente as técnicas rotineiras de coleta das ditas impressões digitais:
− Luva epidérmica: após a limpeza cuidadosa da luva epidérmica e
posterior enxugamento é realizada a análise da face externa da
epiderme e, em caso de impossibilidade do seu uso, é feita a inversão
da luva e análise da face interna da epiderme.

127
MEDICINA LEGAL
− Entintamento: uso de tinta
− Microadesão: por meio de pós especiais
− Fotografia

Sistema datiloscópico de vucetich


Juan Vucetich desenvolveu a dactiloscopia, a qual afirma que cada pessoa
tem um tipo específico de digital, o que acaba por se tornar um mecanismo útil de
identificação. A dactiloscopia é muito mais simples e segura do que a bertiolagem,
tem a vantagem de ser aplicável em qualquer período de vida, a partir do sexto mês
de vida intra-uterina até depois da morte, enquanto não for destruída a pele. É,
atualmente, o melhor método para a descoberta e identificação dos criminosos, quer
reconhecendo os reincidentes, cuja fichas já estão arquivadas, quer servindo para
descobrir o autor de um delito que tenha deixado no local do crime sua impressão
digital.
A dactiloscopia é um método científico responsável pelo estudo dos desenhos
formados pelas papilas dérmicas ao nível das polpas digitais. São passíveis de
classificação, tendo sido descritos nos Sistemas de Vucetich e o de Galton Henry.
Apresentam configuração unitária em cada pessoa e seu estudo, por decalque no
papel, é simples, rápido e prático.
As qualidades (requisitos técnicos) que conferem aos métodos de
identificação, em especial às impressões digitais, valor sem igual para a identificação
são critérios biológicos e técnicos.
− CRITÉRIOS BIOLÓGICOS: intrínsecos a cada indivíduo:
• Unicidade: o elemento usado para identificar seja único em
cada indivíduo que será identificado. As impressões digitais não
se repetem nos seres humanos. Ela é única, mesmo em gêmeos
univitelinos.
• Imutabilidade: não confunda com perenidade (perene é algo
que dura para sempre não é algo que não muda). A impressão
digital jamais muda, desde o momento que a pessoa nasce até o
momento que o corpo entre em putrefação quando esta ainda
não alcançar a mão do cadáver;
• Perenidade: característica que perdura por toda a vida.

128
MEDICINA LEGAL

− CRITÉRIOS TÉCNICOS: de acordo com características físicas e de


manipulação:
• Classificabilidade: requisito pelo qual o elemento
identificador deve ser retirado das próprias características da
forma de identificação
• Praticidade: característica que torna essa forma de
identificação prática, o método há de ser simples para poder ser
prático.
Há características nas impressões digitais que as classificam. O arquivo de
impressões digitais não é por ordem alfabética, mas sim pela classificação das
impressões digitais. O sistema de identidade civil é o decadactilar e o de identidade
criminal é o monodactilar.

Delta – é a junção dos 3 (três) sistemas de linhas formando uma figura


triangular: marginal, nuclear e basal.

129
MEDICINA LEGAL
Arco - é o datilograma, geralmente adéltico, formado por linhas que
atravessam o campo digital, apresentando em sua trajetória formas mais ou menos
paralelas e abauladas ou alterações características.

Presilha interna - o datilograma com um delta à direita do observador,


apresentando linhas que, partindo da esquerda, curvam-se e voltam ou tendem a voltar
ao lado de origem, com ou sem laçadas.

130
MEDICINA LEGAL
Presilha externa – é formada por linhas que partem da direita, indo até ao
centro e retornado ao mesmo lado. Forma o delta a esquerda do observador.

Verticilo - o datilograma com um delta à direita e outro à esquerda do


observador, tendo pelo menos uma linha livre e curva à frente de cada delta.

131
MEDICINA LEGAL

Na fórmula datiloscópica, utiliza-se LETRAS para identificação dos


polegares e NÚMEROS nos demais. faz-se um traço horizontal de fração, escrevendo-
se no numerador a notação da mão direita (que se chama série), e no denominador, a
notação da mão esquerda (que se chama seção).
A ou 1 = ARCO
I ou 2 = PRESILHA INTERNA
E ou 3 = PRESILHA EXTERNA
V ou 4 = VERTICILO
0 (zero) = DEDO AMPUTADO
X = DEDO COM CICATRIZ ou DEFEITUOSO

A I E V
1 2 3 4

Exemplo: Fórmula V 4122 (série – mão direita)


E 1X43 (seção – mão esquerda)

Mão direita: Polegar = verticilo


Indicador = verticilo
Médio = arco
Anelar = presilha interna
Mínimo = presilha interna

132
MEDICINA LEGAL
Mão esquerda: Polegar = presilha externa
Indicador = arco
Médio = cicatriz ou defeito
Anelar = verticilo
Mínimo = presilha externa

CAIU EM PROVA:
(CEBRASPE/2016) Acerca dos que
(POLITEC/2017) Considerando tiposháfundamentais
no arquivo adeseguinte
datilograma
fórmula
descritos por Juan
dactiloscópica: Vucetich,
A2131 assinale
/ E1423, a opção
assinale correta.
em qual dedo estará presente o tipo
fundamental identificado como verticilo, de acordo com a classificação de
c) O verticilo se caracteriza pela presença de dois deltas.
Vucetich.
d) Dedo médio esquerdo

ANOTAÇÕES:

_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
_______________________________________________________
Bons estudos!

133
MEDICINA LEGAL
9. INFORTUNÍSTICA
Os acidentes do trabalho, doenças profissionais e doenças do trabalho são
atribuições de estudo da infortunística, cabendo sua caracterização e nexo de causa e
efeito entre a doença e a lesão pelo setor técnico de Perícia do INSS. Para tanto,
considera-se acidente do trabalho aquele que ocorre pelo exercício de uma atividade,
a serviço da empresa, que provoque lesão corporal ou perturbação funcional que cause
a morte, a perda ou redução da capacidade de trabalhar permanente ou
temporariamente.

TOME NOTA incapacidade temporária é aquela que afasta o indivíduo


do trabalho por um período inferior a 1 (hum) ano.

São também consideradas acidentes do trabalho as doenças profissionais


produzidas ou desencadeadas pelo exercício de determinadas funções que
desencadeiam sequelas permanentes com redução da capacidade de trabalho
(tecnopatias). Além disso, essas doenças apresentam síndrome típica encontrada em
outros profissionais da mesma área, tendo como causa um fator conhecido.
Ainda, equivale-se como acidente do trabalho as doenças do trabalho que
adquiridas ou desencadeadas em atividade de condições especiais ou excepcionais em
que o trabalho é realizado (mesopatias).
Os acidentes ocasionados em razão do trajeto ou durante o percurso ao
trabalho são consideradas doenças indiretamente profissionais (in itinere), exceto
quando houver alteração no percurso por questões pessoais. Em viagens realizadas a
serviço da empresa ou do empregador, ou da ida e volta ao local de trabalho,
ocorrendo acidente, a lei o considera indenizável.
Os elementos que caracterizam o acidente do trabalho são:
− Existência de uma lesão pessoal
− Incapacidade para o trabalho
− Nexo de causalidade
− Existência de certas condições de tempo e lugar

134
MEDICINA LEGAL
Convém mencionar que a culpa do acidentado ou de terceiros, seja por
negligência, imprudência ou imperícia, não descaracteriza o acidente do trabalho, pois
há o ônus da tutela legal ao risco profissional. Bem como se caracteriza acidente do
trabalho as concausas preexistentes conforme prevê a doutrina: “Será considerado
como do trabalho o acidente que, embora não tenha sido a causa única, haja
contribuído diretamente para a morte ou perda ou redução da capacidade para o
trabalho”. Por exemplo, uma hérnia estrangulada durante a realização de um trabalho
ou, conforme cita Genival Veloso, um acidentado portador de diabetes, que agrava e
complica seu estado por interferência da condição anterior.
Vale citar algumas doenças ou síndromes recorrentes no ambiente de
trabalho:
− Síndrome do burn-out ou do esgotamento profissional: onde surge
em função do desajuste da relação conflituosa e desmotivada de seu
trabalho, onde o afetado apresenta quadros de depressão, afastamento
social, apatia, cansaço emocional, perda de motivação, atitude
negativa em relação a si mesmo, incapacidade, sentimento de
fracasso, etc. Bastante observada em profissões com maior contato
interpessoal, como professores, médicos, enfermeiros, policiais, etc.
− Síndrome do túnel do carpo: alterações funcionais sensitivas ou
motoras causadas pela compressão do nervo mediano do local de sua
passagem pelo canal osteofibroso da região ventral do punho,
provocando dormência, dor contínua, formigamento, queimação,
diminuição da força e destreza, etc. Os fatores que desencadeiam tal
síndrome são de causa ergonômica, devido ao uso da mão e do punho,
posturas inadequadas, repetição de movimentos, etc. Pode ser
agravada por fatores individuais (gravidez, menopausa, obesidade,
artrite) ou fatores extrínsecos (ambientais, ocupacionais, lazer).
− Lesão por esforço repetitivo (L.E.R.): pode ser causado por técnica
inadequada ou uso excessivo, afetando músculos, nervos, ligamentos
e tendões. Os sintomas incluem fraqueza, rigidez ou formigamento
na área afetada. O tratamento pode incluir medicamentos anti-
inflamatórios, fisioterapia, avaliação ergonômica e, em casos raros,
cirurgia.

135
MEDICINA LEGAL
− Doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho (D.O.R.T.):
são afecções causadas pelos movimentos repetitivos de qualquer
parte do corpo que podem provocar lesões em tendões, músculos e
articulações, principalmente dos membros superiores, ombros e
pescoço devido ao uso repetitivo ou a manutenção de posturas
inadequadas, assim com a LER. Porém, diferencia-se em razão de
lesões ou doenças causadas por uma atividade laborativa. As vítimas
mais comuns são digitadores, datilógrafos, bancários, telefonistas,
secretárias, escrivães, etc.

CAIU EM PROVA:
(IBFC/2017) Sobre Acidente de Trabalho, analise os elementos apresentados
abaixo.
I. Existência de uma lesão pessoal.
II. Incapacidade para o trabalho.
III. Nexo de causalidade.
IV. Dolo do empregador ou do empregado.
São elementos que caracterizam o acidente de trabalho:
a) I, II e III, apenas

ANOTAÇÕES:

_______________________________________________________
_____________________________________________________
Bons estudos!

136
MEDICINA LEGAL
APÊNDICE - SINAIS EM MEDICINA LEGAL

Sinal de Ambroise Paré: Pele enrugada e escoriada do fundo do sulco. Luxação da


2ª vértebra cervical.

Sinal de Amussat: Constituído da seção transversal da túnica íntima da artéria


carótida comum nas proximidades de sua bifurcação.

Sinal de Azevedo Neves: livores punctiformes por cima e por baixo das bordas do
sulco.

Sinal de Berg: determinação das fosfatases = 77,1 mg. VN= 12,1 mg.

Sinal de Bernt: contração delicada dos músculos eretores dos pelos, tornando os
folículos desses pelos salientes (“pele de galinha”).

Sinal de Bonnet: marcas da trama do laço.

Sinal de Bonnet: Rotura das cordas vocais.

Sinal de Boudinier e Levasseur: Aplicação de uma ventosa sobre a região


epigástrica, surgindo reação no vivo em face do esvaziamento capilar.

Sinal de Brouardel: equimoses retrofaríngeas.

Sinal de Donne: incoagulabilidade do sangue é um sinal de morte.

Sinal de Dotto: Rotura da bainha mielínica do vago.

Sinal de Friedberg : sufusão hemorrágica da túnica externa da carótida comum.

Sinal de Hoffmann-Haberda: infiltração hemorrágica dos músculos cervicais.

137
MEDICINA LEGAL
Sinal de Lesser: vesículas sanguinolentas no fundo do sulco; ruptura da túnica íntima
da artéria carótida interna ou externa; ruptura transversal e hemorragia do músculo
tino hióideo.

Sinal de Montalti: presença de fuligem ao longo das vias respiratórias.

Sinal de Morestin: máscara equimótica da face ou cianose céfalo-cervical.


Sinal de Morgagni, Valsalva, Orfila, Roemmer: fratura do corpo hióide.

Sinal de Morgagni: fratura da apófise odontóide do áxis fratura do corpo de C1 e C2.

Sinal de Neyding: infiltrações hemorrágicas punctiformes no fundo do sulco.

Sinal de Ponsold: livores cadavéricos, em placas, por cima e por baixo das bordas do
sulco.

Sinal de Ripault: após 8 horas da morte, exercendo-se a pressão digital lateralmente


no globo ocular, pode ocorrer a deformação da Íris e da pupila.

Sinal de Strassmann: fraturas perfurante (afundamento ósseo) produzidas por


martelo.

Sinal de Valentin: aumento do volume e distensão acentuada dos pulmões.

Sinal de Ziemke: Solução de continuidade da túnica interna das veias jugulares.

Sinal do “mapa-múndi” de Carrara: afundamento parcial e uniforme com inúmeras


fissuras, em forma de arcos e meridianos.

Sinal de Thoinot: Zona violácea ao nível das bordas do sulco.

Sinal de Haller: Aumento de volume, rede venosa superficial.

Sinal de Klüge: cianose vulvar.

138
MEDICINA LEGAL
Sinal de Mac Donal: Flexibilidade do istmo uterino.

Sinal de Oseander: pulsação vaginal, redução das dimensões do colo uterino,


redução dos fundos de sacos vaginais.

Sinal de Puzos: Rechaço vaginal.

Sinal de Reil-Hegar: depressibilidade do istmo.

Prova da Fenolftaleína: A injeção subcutânea braquial produz pseudo-icterícia


bulbar no vivo.

Sinal de Horner: assimetria da calvária.

Sinal de Spalding: Cavalgamento dos ossos cranianos.

Sinal de Spander: achatamento da calvária

Circulação Póstuma de Brouardel: Quando todo o corpo está em decomposição,


impregnado de uma mancha verde, e ocorre a epidermólise, surgem desenhos
vasculares, em forma arborescente (período gasoso da putrefação).

Docimásia Hidrostática de Galeno: Teste de imersão dos pulmões para ver se o feto
respirou ou não, sendo positivo na flutuação em água, considerando-se a flutuação do
bloco respiratório, de cubos de pulmão e de um cubo após a compressão submersa.

Marcas de França: Marca ungueal na túnica interna da carótida que aparece, com
freqüência muito baixa, nos cadáveres vítimas de esganadura.

Pia Pascal: sinal das quatro fraturas = fratura dos terços inferiores das pernas, dos
terços médios dos braços.

Prova de Verderau: Consiste na comparação da relação existente entre glóbulos


brancos e vermelhos de uma lesão (em vida e depois da morte) com a relação existente
com os glóbulos brancos e vermelhos no sangue.

139
MEDICINA LEGAL
Prova do Acetato de Chumbo: Um papel molhado de Acetato de Chumbo fica
escuro em contato com a emanação do gás sulfídrico do cadáver.

Prova do Alfa-Naftil-Amina: Um papel molhado com a Alfa-Naftil-Amina fica


vermelho em contato com os resíduos sulfurados e nitratos da pólvora combustão.

Prova ou reação de Colossanti: O macerato é tratado com 10 gotas de sulfato de


cobre a 2%. O resultado positivo é indicado pela coloração verde-esmeralda. Esta
prova é usada para identificar manchas de saliva.

Prova para mancha de Sangue - Cristais de Strzyzowski: macerato ou raspas da


mancha sobre lâmina recoberta de lamínula, reativo (partes iguais de álcool, água
destilada, ácido acético e duas partes de iodo hídrico) no calor até a ebulição. Positiva
quando aparecem cristais rombóides, de cor acaju de pequeno tamanho. Esta prova é
sensível, podendo ser usada em manchas velhas com resultados satisfatórios.

Sinal de Stenon Louis: fino véu (poeira) que recobre a superfície da córnea.

Sinal da forcipressão química de Icard: Pinça-se a pele, flui uma serosidade que no
vivo é alcalina (neutra) e no morto é ácida.

Sinal da Linha Argêntea: Escoriação produzida por um laço no fundo de um sulco.

Sinal de abdução do pé: O pé virado para fora é indicativo de fratura femural.

Sinal de Amussat-Hoffman: Solução de continuidade disposta na túnica íntima ou


interna, junto à bifurcação da carótida (enforcamento).

Sinal de Benassi: Impregnação de pólvora e chumbo na tábua óssea do crânio nos


tiros disparados à curta distância ou encostados.

Sinal de Brissemoret – Anebard: Faz-se biópsia de fígado e baço com um trocador


e constatase a sua acidez com papel de tornassol.

Sinal de Chambert: Bolhas ou flictemas que aparecem nas queimaduras de 2º grau.

140
MEDICINA LEGAL
Sinal de Chistinson: Eritema que aparece nas áreas de queimaduras de 1º grau.

Sinal de De-Dominices: É o mesmo princípio do sinal antes citado, sendo que se


escarifica a pele (abdome).

Sinal de Devergie: Posição de boxeador, assumida pelos cadáveres vítimas de


queimaduras graves e carbonização.

Sinal de Friedberg: Sufusão sangüínea da túnica externa ou adventícia da carótida


primitiva (enforcamento).

Sinal de Hoffmann: Caverna formada no subcutâneo, pela expansão de gases nos


tiros disparados com o cano da arma encostado à pele.

Sinal de Imbert: Coloca-se o paciente em repouso e contam-se as pulsações radicais.


Em seguida, manda-se que ele fique apoiado na referida perna ou que segure um peso
com o braço ofendido. Quando a dor alegada é real, há aumento das pulsações.

Sinal de Janezic-Jelacic: Diferencia as queimaduras pós morte e vital, por esta última
apresentar exsudato leucocitário na zona atingida.

Sinal de Labord: Introduz-se uma agulha de aço bem polida no tecido e após 30 min.,
retira-se a agulha. No caso de morte, permanece o brilho metálico.

Sinal de Lecha-Marzo: Coloca-se nos globos oculares o papel azul de tornassol.


Fecham-se as pálpebras por 3 minutos. Se há acidez (morte), há mudança de
tonalidade.

Sinal de Levi: Contração da pupila ao pressionar-se um ponto doloroso no corpo do


paciente. Pede-se ao examinado que olhe a distância, e, no local referido como ponto
doloroso, faz-se uma compressão quando a dor existe, verificam-se contrações e
dilatações das pupilas.

Sinal de Lichtemberg: Lesão arboriforme ou dardítica correspondendo à passagem


de corrente elétrica naquele segmento anatômico.

141
MEDICINA LEGAL
Sinal de Mankof: Contagem prévia do pulso radial, compressão no ponto doloroso,
e nova contagem do pulso. Na existência de dor há aumento dos batimentos.

Sinal de Morell-Lavellé: Derrames linfáticos produzidos quando de contusões


tangenciais ou escoriações produzidas em vida.

Sinal de Müller: Marca-se a região onde a dor é referida. Comprime com o dedo o
ponto que não seja sensível, a dor rapidamente passa ao comprimir o ponto doloroso.
Quando há simulação o paciente não percebe a mudança.

Sinal de Nerio Rojas: Também conhecido como sinal do dilaceramento crucial, que
se caracteriza pelo rasgão em forma de cruz, no orifício de entrada de projétil de arma-
de-fogo causado no tecido da roupa.

Sinal de Niles: Hemorragia petrosa do temporal (rochedo) que aparece com certa
freqüência no afogamento.

Sinal de Paltauf: Manchas equimóticas subserosas (asfixias, mais freqüentes no


afogamento).

Sinal de Puppe Werkgartner: Marca do cano da arma tatuada ao redor do orifício


nos tiros encostados.

Sinal de Rebouillat: abolição da motilidade e do tônus muscular (1 ml éter + ácido


picnico = ( IM = coxa)

Sinal de Romberg: Desequilíbrio do corpo quando o paciente é colocado em posição


ereta com os calcanhares unidos e olhos fechados, usado de rotina nas perícias de
embriaguez.

Sinal de Sílvio Rebelo: Introduz-se um fio corado pelo azul de tornassol, através de
uma agulha, numa dobra de pele e o fio fica amarelado se há acidez (morte).

Vísceras de Lacassagne: Congestão plurivisceral.

142
MEDICINA LEGAL
Prova de Iturrioz: moldagem de parafina pastosa nas mãos do suspeito de
apresentarem impregnações de microvestígios de pólvora.

Prova de Magnus: dar um laço na extremidade de um dos dedos.

Prova de Ott: consiste em aproximar a chama de uma vela à pele de um indivíduo


supostamente morto.

Prova de Verderau: consiste em comparar a relação existente entre as hemácias e


leucócitos da lesão suspeita tomando como parâmetro esses elementos figurados do
sangue de outra região qualquer do corpo.

Sinal de Widler: conteúdo do estômago colocado em um tubo de ensaio forma três


camadas superior (espuma); intermediária (aquosa) e a inferior (sólida).

143

Você também pode gostar