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CERS CARREIRA

POLICIAL
BOOK

DELEGADO DE POLÍCIA CIVIL

MEDICINA LEGAL
CAPÍTULO 1
Olá, aluno!

Bem-vindo ao estudo para os concursos de Delegado de polícia Civil. Preparamos todo


esse material para você não só com muito carinho, mas também com muita métrica e

especificidade, garantindo que você terá em mãos um conteúdo direcionado e distribuído de


forma inteligente.

Para isso, estamos constantemente analisando o histórico de provas anteriores com fins
de entender como cada Banca e cada Carreira costuma cobrar os assuntos do edital. Afinal,
queremos que sua atenção esteja focada nos assuntos que lhe trarão maior aproveitamento,

pois o tempo é escasso e o cronograma é extenso. Conte conosco para otimizar seu estudo
sempre!

Ademais, estamos constantemente perseguindo melhorias para trazer um conteúdo


completo que facilite a sua vida e potencialize seu aprendizado. Com isso em mente, a

estrutura do CERS Book foi feita em capítulos, de modo que você possa consultar
especificamente os assuntos que estiver estudando no dia ou na semana. Ao final de cada

capítulo você tem a oportunidade de revisar, praticar, identificar erros e aprofundar o assunto
com a leitura de jurisprudência selecionada.

E mesmo você gostando muito de tudo isso, acreditamos que o PDF sempre pode ser
aperfeiçoado! Portanto pedimos gentilmente que, caso tenha quaisquer sugestões ou
comentários, entre em contato através do email pdf@cers.com.br. Sua opinião vale ouro para

a gente!

O que você vai encontrar aqui?

1
● Recorrência da disciplina e de cada assunto dentro dela
● Questões comentadas
● Questão desafio para aprendizagem proativa
● Jurisprudência comentada
● Indicação da legislação compilada para leitura
● Quadro sinótico para revisão
● Mapa mental para fixação

2
Acreditamos que com esses recursos você estará munido com tudo que precisa para alcançar
a sua aprovação de maneira eficaz. Racionalizar a preparação dos nossos alunos é mais que

um objetivo para o CERS, trata-se de uma obsessão. Sem mais delongas, partiremos agora para
o estudo da disciplina.

Faça bom uso do seu PDF!

Bons estudos 

3
SOBRE ESTA DISCIPLINA

Daremos início ao estudo da disciplina Medicina Legal. Via de regra, nos concursos de
Carreiras policiais, esta disciplina costuma ser cobrada, em especial, A carreira de Delegado de
polícia.

Este material busca fornecer ao aluno um conhecimento amplo e suficiente, conforme os


temas que costumam ser cobrados, então, ao final dos capítulos, serão colacionadas questões
para treinamento, sempre priorizando aos concursos da área.

Vale acrescentar, por fim, que, como se constatará ao longo dos capítulos, os
Examinadores dos concursos voltados a carreira policial, vêm cobrando a disciplina de modo

abrangente. Deste modo, em que pese alguns temas sejam mais recorrentes, nenhum capítulo
deste material deve ser negligenciado.

Veja abaixo como se dá a distribuição macro da recorrência dessa disciplina:

4
RECORRÊNCIA DA DISCIPLINA

A partir da análise das últimas provas em que contemplam esta disciplina, verificou-se que a matéria
de Medicina Legal possui grande recorrência. Através destes dados, identificou-se quais os temas mais
cobrados na disciplina de Direito Penal.

6% 5%
2% 7% 11%
3%

8%

32%

26%

Perícias e Peritos
Antropologia Médico-legal
Traumatologia Médico-legal
Tanatologia Médico-legal
Sexologia Médico-legal
Embriaguez alcoólica
Toxicofilias
Psicopatologia Forense
Balística Forense e lesões por PAF

5
TEMAS RECORRÊNCI
A
Traumatologia Médico-legal 

Tanatologia Médico-legal 

Antropologia Médico-legal 

Perícias e Perito 

Sexologia Médico-legal 

Psicopatologia Forense 

Balística Forense e lesões por PAF 

Embriaguez Alcoólica 

Toxicofilias 

6
Assim, os assuntos de Medicina Legal estão distribuídos da seguinte forma:

CAPÍTULOS

Capítulo 1 (você está aqui!) – PERÍCIAS E PERITOS ∙∙∙

Capítulo 2 – ANTROPOLOGIA MÉDICO-LEGAL ∙∙∙

Capítulo 3 – TRAUMATOLOGIA MÉDICO-LEGAL. EMBRIAGUÊS ALCOOLÍCA


∙∙∙∙
E TOXIFILIAS

Capítulo 4 – TANATOLOGIA MÉDICO-LEGAL ∙∙∙∙

Capítulo 5 – SEXOLOGIA MÉDICO-LEGAL ∙∙

Capítulo 6 – PSICOPATOLOGIA FORENSE


∙∙

Capítulo 7 – BALÍSTICA FORENSE E LESÕES POR PAF


∙∙

7
SOBRE ESTE CAPÍTULO

Prezado aluno, no presente capítulo iremos estudar o tema “perícias e peritos”, um dos
assuntos iniciais da disciplina de medicina legal.

O tema, é frequentemente cobrado em várias provas de concursos públicos, em especial,

naquelas voltas às carreiras policiais, baseando-se sobretudo nas doutrinas e nas legislações
pertinentes, ou seja, REDOBRE A ATENÇÃO em todos os dispositivos legais que indicaremos ao

decorrer da apostila, ok? Aconselhamos que, durante o estudo, a lei seca fique de lado para a
leitura em conjunto dos materiais, facilitando assim o seu aprendizado e compreensão do

assunto!

É válido ressaltar que, com a vigência do Pacote Anticrime, a legislação penal sofreu
algumas mudanças, inclusive no que diz respeito à sistemática dos Peritos e Perícias.

Vamos juntos!

8
SUMÁRIO

MEDICINA LEGAL 10

Capítulo 1 10

1. 12

1.1 Conceito de perícia 10

1.2 Exame de locais do crime 15

1.3 Peritos 19

1.3.1 Atuação. 20

1.3.2 Função do Perito 21

1.3.3 Nomeação. 21

1.3.4 Escusa justificável 25

1.3.5 Hipóteses de impedimento relativas aos peritos 26

1.3.6 Local e momento da perícia 28

1.3.7 Responsabilidade civil e criminal dos peritos 29

1.3.8 Requisição da perícia 30

1.3.9 Assistente Técnico 31

1.4 Exame de corpo de delito 34

1.4.1 Conceitos 34

1.4.2 Imprescindibilidade do exame de corpo de delito 34

1.4.3 Prioridades na realização do exame de corpo de delito 38


9
1.4.4 Cadeia de Custódia 39

1.4.5 Formalidades para a realização das perícias 40

1.4.6 Laudo Complementar 44

1.5 Questões controvertidas 47

1.5.1 Pode o advogado do investigado participar dos exames periciais? 47

1.5.2 É possível a produção de prova pericial no Tribunal do Júri? 49

1.5.3 É possível a produção de prova pericial na revisão criminal? 50

1.6 Documentos Médico-legais 50

1.6.1 Conceito 50

1.6.2 Notificações 51

1.6.3 Atestados 52

1.6.4 Relatório médico legal 56

1.6.5 Parecer médico-legal 58

1.6.6 Depoimento oral 59

1.6.7 Consulta médico-legal 59

QUADRO SINÓTICO 60

QUESTÕES COMENTADAS 64

GABARITO 72

QUESTÃO DESAFIO 73

GABARITO QUESTÃO DESAFIO 74

LEGISLAÇÃO COMPILADA 75

MAPA MENTAL 76

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 77
10
11
MEDICINA LEGAL

Capítulo 1

Por diversas vezes o magistrado se depara com situações em que, para decidir uma causa,

precisa dispor de conhecimentos técnicos específicos de determinada matéria ou área. Nessas


situações, em que o este não puder prescindir (dispensar) da colaboração de um técnico (quais

sejam: economista, engenheiro, botânico, armeiro, psiquiatra etc.), é que se faz imprescindível a
realização das perícias.

Dessa forma, as pessoas especializadas neste ou naquele assunto - os peritos - realizam as

perícias a serviço da Justiça.

1. Perícias e Peritos

1.1 Conceito de perícia

Atenção! Caro aluno, medicina legal é matéria presente em praticamente todos os editais de
carreiras policiais, ademais, como preceituado mais acima, o conhecimento sobre perícias

médicas é essencial para a formação de diversas outras carreiras, como a magistratura e


ministério público. Portanto, foco nos artigos relacionados ao assunto que se encontram no

CPP. Exame de corpo de delito1 direto e indireto é um dos assuntos mais cobrado nas provas,
e não menos importante! Não deixe de dar ênfase a cadeia de custódia, inovação trazida pelo
pacote anticrime!

1
Questão 1
12
O conceito de perícia médico-legal pode ser definido basicamente como um conjunto de
procedimentos médicos e técnicos que tem como finalidade o esclarecimento de um fato de

interesse da justiça, relativos a questões estranhas ao meio jurídico em diferentes áreas. Assim,
é o procedimento médico (exames clínicos, laboratoriais, necroscopia, exumação) determinado

por autoridade policial ou judiciária, praticado por profissional da medicina visando a prestar
esclarecimentos à Justiça é denominado de perícia ou diligência médico-legal.

É, portanto, um exame realizado sobre os elementos materiais percebidos nos fatos

destacados ao longo da persecução penal, realizado por pessoa dotada de qualificação técnica
(perito), e que se materializa através da confecção de laudos, constituídos de uma peça escrita,

tendo por base o material examinado.

Vejamos como esse assunto costuma ser cobrado pelos concursos públicos:

(Cespe - Delegado de Polícia - PE/2016) Com relação aos conhecimentos sobre corpo de delito,
perito e perícia em medicina legal e aos documentos médico-legais, assinale a opção correta.

A) Perícia é o exame determinado por autoridade policial ou judiciária com a finalidade de


elucidar fato, estado ou situação no interesse da investigação e da justiça.

B) o atestado médico equipara-se ao laudo pericial, para serventia nos autos de inquéritos e
processos judiciais, devendo ambos ser emitidos por perito oficial.

C) Perito oficial é todo indivíduo com expertise técnica na área de sua competência incumbido

de realizar o exame.

13
D) É inválido o laudo pericial que não foi assinado por dois peritos oficiais.

E) Define-se corpo de delito como o conjunto de vestígios comprobatórios da prática de um

crime evidenciado no corpo de uma pessoa.

Gabarito: Alternativa A.

E, quando os fatos são relacionados à vida ou à saúde, tem-se então a perícia médico-legal.

Ademais, segundo alguns doutrinadores, a perícia possuiria a natureza de meio de prova,

já que funciona como instrumento pelo qual as fontes de prova seriam introduzidas no processo
penal. Outros doutrinadores entendem que ela é um elemento técnico que possui uma opinião

destinada à elucidação de fato relevante. Assim, o perito seria um auxiliar do magistrado, e não,
apenas um sujeito de prova.

Wilson Luiz Palermo Ferreira, informa em sua obra que:

“A perícia possui:

• uma parte objetiva (relacionada às alterações visíveis encontradas nas lesões e, nos
laudos, serão destacadas na "descrição");

• uma parte subjetiva (valoração da parte objetiva. Aqui podem surgir divergências que
serão destacadas na parte de "discussão" dos laudos).” 2

2
FERREIRA, Wilson Luiz Palermo. Coleção Sinopses para Concursos – Medicina Legal 41, 2020, p. 45. Salvador:
Juspodivm.
14
Não é por outra razão que a maioria da doutrina afirma que a principal finalidade de uma
perícia é a perpetuação da materialidade e dos vestígios deixados pela prática de uma infração

penal, sendo o exemplo mais claro dessa afirmação o exame de corpo de delito, como uma das
mais importantes perícias disciplinadas no CPP.

Sabe-se que o tempo, na grande maioria dos casos, faz com que desapareçam os vestígios

deixados pela prática da infração penal, o que inviabilizaria a análise desses elementos em
momento posterior, quando ao tempo da instrução criminal após a instauração do processo

criminal. Por isso se dá a importância da realização de exame pericial e sua documentação feita
em pormenorizada análise e descrição dos peritos sobre os elementos que compõe o chamado

“corpo de delito”.

O Código de Processo Penal faz referência, em seu art. 158, quanto à necessidade do exame
pericial nos crimes que deixam vestígios.

É importante termos atenção que o novo artigo 158-A, §3º, do Código de Processo Penal,
incluído pelo Pacote Anticrime (Lei nº 13.964/2019), trouxe a definição do termo “vestígio”,

considerado como qualquer objeto, instrumento, marca, rastro, presente em um local de crime,
que possa ter relação com o suposto delito praticado.

Poderá ser perceptível, quando captado pelos sentidos humanos, ou latente, quando invisível,

demandando a utilização de meios de técnicas forenses para sua revelação. Senão vejamos a
literalidade da lei:

15
Art. 158-A.

(...).

§ 3º Vestígio é todo objeto ou material bruto, visível ou latente, constatado ou recolhido,


que se relaciona à infração penal.

Sobre o tema, é relevante o conceito e a distinção entre duas categorias de delitos apontadas
pela doutrina penalista:

● Crimes não transeuntes (delicta factis permanentis): são os crimes que deixam

vestígios, cuja prática da infração deixa rastros, pistas ou indícios perceptíveis pelos
sentidos, que tem como seu exemplo mais claro o homicídio (art. 121 do CP). No caso,
podem ser possíveis vestígios deixados pela infração o cadáver da vítima, manchas se

sangue, eventual arma apreendida no local do crime, vestes do suspeito, dentre outras
coisas.

● Crimes transeuntes (delicta factis transeuntis): são justamente o oposto da categoria

de crimes anterior, os quais são caracterizados pela transitoriedade dos vestígios, ou


seja, têm sua materialidade delitiva efêmera, cujos vestígios desaparecem após breve

decurso de tempo. Como exemplos, podem ser apontados os crimes de injúria verbal
(art. 140 do CP), desacato (art. 331 do CP), omissão de socorro (art. 135 do CP), dentre
outros.

As perícias médico-legais se procedem mais habitualmente mediante exames médico e


psicológico, necroscopia, exumação e laboratório, podendo incidir sobre quatro elementos
que merecem bastante a sua atenção:

a) Pessoas;
b) Cadáveres;
c) Objetos e instrumentos relacionados com a infração penal;

16
d) Nos animais presentes na cena do crime.

Quando realizadas em pessoas, as perícias podem ter como finalidade a determinação da

identidade, idade, raça, sexo, altura; diagnosticar gravidez, parto e puerpério; lesão corporal,
sociopatias; estupro e doenças venéreas; determinar exclusão da paternidade; doença e retardo
mental, simulação de loucura, e, ainda, investigar envenenamentos e intoxicações, bem como

doenças profissionais e acidentes de trabalho.

Nos cadáveres possui como objetivo diagnosticar a realidade, a causa jurídica e o tempo da
morte; a identificação do morto; diferencias as lesões intra vitam e post mortem; realizar exames

toxicológicos nas vísceras do morto; proceder à exumação e extrair projéteis alojados no corpo.

Nos objetos e instrumentos, pode ter a finalidade de busca por pêlos, levantamento de
impressões digitais, exames de armas e projéteis (balística), caracterização dos agentes

vulnerantes, identificação de manchas de saliva, esperma, sangue, líquido amniótico e urina


sobre os objetos que encontram-se sob análise.

Por fim, quando realizadas em animais presentes na cena do crime, pode ter o objetivo de

buscar projéteis de arma de fogo, caso o transeunte tenha sido alvo de algum disparo.

1.2 Exame de locais do crime

O art. 6º, I do CPP trata das diligências a serem efetivadas pelo Delegado de Polícia logo
que tiver conhecimento da prática da infração penal, dispondo que:

Art. 6º. Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial
deverá:

I - dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação


das coisas, até a chegada dos peritos criminais;

17
Amintas Vidal Gomes3 conceitua local do crime como:

A área em que haja ocorrido o delito com violência a pessoa ou coisa ou daqueles que
deixam ou possam deixar vestígios no lugar da consumação, bem como no sítio de preparo
dos meios materiais para o fato delituoso ou de ocultação do produto deste. Na expressão
local do crime compreendem-se também as cercanias do lugar em que se registrou o fato.
Para efeito de investigações, equiparam-se também a local de crime os lugares em que se
verificam mortes suspeitas, suicídios, desastres e incêndios.

Logo, por exemplo, para a constatação da qualificadora da escalada no delito de furto (art.
155, § 4º, II do CP), importante se faz a preservação do local para garantir a idoneidade da

perícia, preservando assim sinais em muros ou paredes, marcas de escada, etc.

Também é nesse sentido a orientação trazida pela norma constante do art. 169 do CPP:

Art. 169. Para o efeito de exame do local onde houver sido praticada a infração, a
autoridade providenciará imediatamente para que não se altere o estado das coisas até a
chegada dos peritos, que poderão instruir seus laudos com fotografias, desenhos ou
esquemas elucidativos.

Parágrafo único. Os peritos registrarão, no laudo, as alterações do estado das coisas e


discutirão, no relatório, as conseqüências dessas alterações na dinâmica dos fatos.

Portanto, somente após a liberação dos peritos é que os objetos encontrados no local da
prática da infração serão apreendidos, podendo haver alteração na cena do crime.

3
GOMES, Vital Amintas. Manual do Delegado – Teoria e Prática, 7ª ed., atual e ampl./Rodolfo Queiroz Laterza.
Rio de Janeiro: Forense, 2012, p.100.
18
O art. 1º da Lei 5.970/73 excepcionou essa regra, excluindo de sua aplicação os casos de

acidente de trânsito, dispondo que a autoridade ou agente que primeiro comparecer ao local
do acidente poderá providenciar a imediata remoção das pessoas e/ou veículos envolvidos no

acidente, alterando assim a cena do fato, nos casos em que haja prejuízo para o tráfego na via
pública:

Em caso de acidente de trânsito, a autoridade ou agente policial que primeiro tomar conhecimento do fato poderá
autorizar, independentemente de exame do local, imediata remoção das pessoas que tenham sofrido lesão, bem
como dos veículos nele envolvidos, se estiverem no leito da via pública e prejudicarem o tráfego.

Parágrafo único. Para autorizar a remoção, a autoridade ou agente policia lavrará boletim da ocorrência, nele
consignando o fato, as testemunhas que o presenciaram e todas as demais circunstâncias necessárias ao
esclarecimento da verdade.

● Crimes com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa.

Nesses crimes, além de descrever os vestígios, os peritos indicarão que instrumentos, por

que meio e em que época presumem ter sido praticado o fato.

Trata-se de laudo pericial de fundamental importância, pois viabilizará o enquadramento da


conduta criminosa nas qualificadoras do crime de furto qualificado, previsto no art. 155,§ 4º, I

e II do CP.

Assim, os peritos deverão descrever as características do móvel ou imóvel, o modus operandi


e os instrumentos utilizados, o tempo do crime, indícios de participação de outros coautores,

dentre outras circunstâncias penalmente relevantes na apuração do fato.

19
O laudo pericial então embasará todo o transcorrer da persecução penal, desde o
indiciamento no inquérito policial até a denúncia oferecida pelo órgão acusador e a posterior

sentença do magistrado.4

● Avaliação pericial.

O laudo de avaliação é de extrema importância nos delitos patrimoniais, pois quantificará o

prejuízo sofrido pela vítima. Servirão de análise as coisas destruídas, deterioradas ou que
constituam produto do crime. A avaliação poderá ser:

a) Direta: quando os peritos realizarem a avaliação tendo em mãos o objeto material

apreendido.

b) Indireta: quando impossível à avaliação direta, os peritos procederão à avaliação indireta

por meio dos elementos existentes nos autos e dos que resultarem das diligências
operadas no inquérito.

É importante destacar que o delegado de polícia deve requisitar a avaliação pericial mesmo

quando não houver a recuperação da coisa furtada.

Dessa forma, o laudo de avaliação do prejuízo causado pela prática da infração servirá para:

🡺 Aplicação do princípio da insignificância;

4
Vide questão 4
20
🡺 Para o reconhecimento e aplicação de privilegiadora nos crimes patrimoniais que a
admitem (art. 155, § 2º; e art. 171, § 1º, ambos do CP);

🡺 Para a fixação do patamar mínimo indenizatório pelos danos causados pela infração, por

parte do magistrado quando da prolação da sentença condenatória (art. 387, IV do CPP);

● Exame grafotécnico.

O exame grafotécnico ou caligráfico é uma espécie de perícia técnica que tem por objetivo
o reconhecimento de escritos, através da comparação de letra constante em documentos ou

papéis relacionados com a prática de determinada infração, que são atribuídos à lavra ou autoria
de determinada pessoa.

Na execução deste tipo de perícia deverá ser observado o seguinte:

I. A pessoa a quem se atribua ou possa se atribuir o escrito será intimada para o ato,
caso seja encontrada;

II. Para a comparação, poderão servir quaisquer documentos que a dita pessoa
reconhecer ou já tiverem sido judicialmente reconhecidos como de seu punho, ou

sobre cuja autenticidade não houver dúvidas;

III. A autoridade, quando necessário, requisitará para o exame os documentos que


existirem em arquivos ou estabelecimentos públicos, ou nestes realizará a

diligência, se daí não puderem ser retirados;

IV. Quando não houver escritos para a comparação ou forem insuficientes os exibidos,
a autoridade mandará que a pessoa escreva o que lhe for ditado. Se estiver ausente
a pessoa, mas em lugar certo, esta diligência poderá ser realizada mediante a

21
expedição de carta precatória, em que se consignarão as palavras que deve
escrever;

● Instrumentos do crime.

Serão obrigatoriamente sujeitos a exame, caso sejam encontrados e apreendidos, os


instrumentos empregados para a prática da infração, a fim de se lhes verificar a natureza e

eficiência (art. 175 do CPP). Assim, em caso de homicídio no qual se utilizou de uma faca para
a execução, o laudo deverá descrever a natureza do instrumento, bem como sua eficiência para

a causalidade do dano à integridade física ou vida da pessoa que fora vítima do delito.

O art. 6º, II do CPP trata da apreensão dos objetos que guardem relação com o crime, a
fim de propiciar posterior perícia, a exemplo da arma utilizada pelo agressor em uma tentativa
de roubo, uma carta subscrita apelo agente, na qual ameaça a vítima, dentre outros.

Art. 6º. Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial
deverá:

(...)

II – apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos
criminais;

1.3 Peritos

Perito é uma pessoa detentora de conhecimentos em determinada área do saber humano,


e que, portanto, irá de certa forma colaborar com a prestação da atividade jurisdicional,
ajudando o juiz no conhecimento da causa. A normatização dos peritos encontra-se expressa
no Código de Processo Penal entre seus arts. 275 a 281.

Portanto, sua atuação deve sempre se pautar pelas disposições legais determinadas pelo

CPP, estando os peritos, oficiais ou não, sujeitos à disciplina judiciária, conforme determina
o art. 275 do referido diploma legal.

De acordo com Ferreira:


22
“Perito é todo indivíduo que, detendo conhecimentos técnico-científicos e habilitação
específica, realize uma perícia. Limita-se a verificar o fato e indicar a causa que o motivou.
Age de maneira livre. Pode ser oficial ou ad hoc (escolhidos para a realização de uma
perícia quando não haja possibilidade de que o perito oficial a faça)”.5

Há uma distinção que deve ser feita entre perito criminal e perito legista. O legista é aquele
que atua na realização de perícia médica, feita em seres humanos vivos ou mortos, inteiros

ou em partes. Assim, sempre que a perícia envolver um assunto médico, quem atuará na
realização do exame e elaboração do respectivo laudo será o perito legista. Podemos citar como

exemplos os laudos cadavéricos de autópsias, análise de lesões corporais em pessoas vivas para
caracterizar o grau da lesão, exame sexológico para análise de vestígios deixadas por crimes

sexuais, dentre outras.

Os peritos legistas, no Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, são os especialistas que atuam
na área da Medicina Legal (médicos, dentistas, toxicologistas e farmacêuticos).

O perito criminal, por sua vez, tem sua área de atuação determinada por um critério de

exclusão ou subsidiário, ou seja, atua em quaisquer perícias que não envolvam assuntos
médicos, tais como análise e coleta de provas no local do crime, realização de exame de balística

para o estudo de projéteis encontrados na cena do crime ou mesmo no corpo da vítima, análise
de substâncias químicas encontradas no corpo da vítima, elaboração de laudo preliminar de
substância toxicológica para atestar sua natureza como sendo droga, dentre outras perícias. São

aqueles a quem se refere o artigo 6º, I, do CPP.

5
FERREIRA, Wilson Luiz Palermo. Coleção Sinopses Para Concursos – Medicina Legal. 2020, p. 50, Salvador: Juspodivm.
23
1.3.1 Atuação.

Embora de grande importância na função jurisdicional, é certo que a atuação dos peritos é
limitada, pois que eles não julgam, não defendem nem acusam.

A eles incumbe apenas a análise do estado das coisas no local de ocorrência da infração, o

exame das armas ou instrumentos encontrados no local do crime e que com ele guardem
relação, das lesões (se houver), realização de exame cadavérico6, sintomas apresentados em

pessoas vivas e a respectiva sequela natural, prestando minucioso relatório através de laudo,
esclarecendo assim os fatos relevantes para as autoridades oficiais que atuam na apuração do

crime.

A atuação dos peritos, portanto, se resume a examinar e relatar fatos de natureza específica
e caráter permanente de esclarecimento necessário num processo. O perito analisa e refere;

visto e referido, exaure-se sua atuação.

1.3.2 Função do Perito

É função do perito verificar o fato, indicando a causa que o motivou, conforme a sua opinião

embasada cientificamente.

O art. 160, caput e parágrafo único, do CPP aduz que:

Art. 160. Os peritos elaborarão o laudo pericial, onde descreverão minuciosamente o que
examinarem, e responderão aos quesitos formulados. (Redação dada pela Lei nº 8.862, de
28.3.1994)7

Parágrafo único. O laudo pericial será elaborado no prazo máximo de 10 dias, podendo
este prazo ser prorrogado, em casos excepcionais, a requerimento dos peritos. (Redação
dada pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994)

6
Questão 3
7
Vide questão 06
24
De acordo com o referido dispositivo legal, os peritos devem descrever detalhadamente o
que estes examinarem e responder aos quesitos que forem realizados, elaborando o laudo
pericial no prazo máximo de 10 dias, lapso temporal que pode ser estendido, em casos
excepcionais, desde que sejam requeridos pelos especialistas.

Caso o laudo pericial não tenha observado as formalidades ou foi de alguma forma obscuro,
omisso ou contraditório, o magistrado ordenará suprir a formalidade, complementar o
documento ou esclarecer o laudo, conforme dispõe o art. 181, caput, do CPP.

1.3.3 Nomeação.8

A escolha do perito cabe ao juiz da causa, seja no âmbito cível ou criminal, que deverá

nomeá-lo dentre os experts oficiais, conforme consta do art. 276 do CPP.

Os peritos oficiais são pessoas detentoras de qualificação técnica e de conhecimentos em


determinada área específica do saber, que se encontram vinculados a órgãos oficiais do Estado,

compondo os seus quadros de carreira, que possuem a função específica de realização de


perícias. São, portanto, investidos por lei.

8
Vide questão 2
25
A Lei 12.030/09, que estabelece as normas gerais para perícias oficiais de natureza criminal,
assegura autonomia técnica, científica e funcional no exercício de perícia oficial de natureza

criminal, dispondo, ainda, que são os peritos oficiais:

Peritos Curso superior em qualquer área do


conhecimento, como química,
criminais
biologia, física, etc.

Peritos médicos-
Formação superior em medicina.
legistas

Peritos odonto-
Formação superior em odontologia.
legistas:
9

Pode ocorrer, no caso concreto, a hipótese de nomeação, pelo juiz, de peritos não oficiais

ou juramentados, também chamados de “Peritos AD HOC”. Tal hipótese é disciplinada


especificamente no caso de realização de exame de corpo de delito, mas que não há empecilho

para sua aplicação em outros casos que demandem a realização de perícia.

O art. 159, § 1º do CPP determina que, nas comarcas em que não haja peritos oficiais, é
permitido à autoridade judiciária designar duas pessoas idôneas, portadoras de diploma de

curso superior, escolhidas preferencialmente na área específica, dentre as que tiverem habilitação
técnica relacionada à natureza do exame.

9
Vide questão 8
26
Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito oficial,
portador de diploma de curso superior.

§ 1º. Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas,
portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área específica, dentre as
que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do exame.

Essa é, portanto, a única exceção trazida pela lei que permite a atuação de peritos não oficiais
em demandas judiciais nas quais se faça necessária a realização de exame pericial. O

descumprimento dessa norma acarreta a nulidade do relatório médico-legal e, portanto, a


ilicitude da prova produzida.

Os peritos não oficiais devem prestar compromisso antes de desempenharem o encargo

que lhes foi atribuído (art. 159, § 2º do CPP), diferentemente dos peritos oficiais, que não
necessitam de juramentação para cada perícia que realizarem. Por serem vinculados a órgãos

oficiais do Estado, há presunção de prestação de compromisso, pois que o fazem quando

assumem o cargo de peritos.

27
Em resumo, a nomeação dos peritos pode ser ilustrada a partir do seguinte esquema:

Peritos Peritos não oficiais


oficiais:
Basta um perito Duas pessoas idôneas
portadoras de diploma
de curso superior, em
área específica.

(CESPE - 2018 - Polícia Federal - Delegado de Polícia Federal). Acerca da prova no processo

penal, julgue o item a seguir. Na falta de perito oficial para realizar perícia demandada em
determinado IP, é suficiente que a autoridade policial nomeie, para tal fim, uma pessoa idônea

com nível superior completo, preferencialmente na área técnica relacionada com a natureza do
exame.

Gabarito: ERRADO.

No ato de nomeação, o juiz ou a autoridade policial, em verdade, fazem uma solicitação


através de ofício para o IML, e lá o diretor responsável pela instituição é quem indicará o perito

que atuará no caso, não podendo as partes do processo influenciarem na nomeação do perito,
conforme dispõe o art. 276 do CPP:

Art. 276. As partes não intervirão na nomeação do perito.

28
O que poderá acontecer é as partes indiquem seus assistentes técnicos, que são os peritos
de confiança das partes, que irão auxiliar o perito oficial, não o substituindo.

1.3.4 Escusa justificável

O perito, quando nomeado pelo juiz para a realização da perícia, é obrigado a aceitar o

encargo, seja ele oficial ou não, pois exerce o chamado “ múnus público”, dever de cooperar
para realização da justiça. Só é possível ao perito recusar o encargo judicial caso apresente um

motivo plausível para tanto, que justifique a sua impossibilidade de atuar naquela demanda,
conforme dispõe a parte final do art. 277 do CPP.

Art. 277. O perito nomeado pela autoridade será obrigado a aceitar o encargo, sob pena
de multa de cem a quinhentos mil-réis, salvo escusa atendível.

Isso porque, estando os peritos sujeitos à disciplina judiciária, a eles se aplicam as mesmas
causas de suspeição e impedimento atinente aos juízes, razão pela qual é perfeitamente possível
que um perito decline de sua atuação em um dado processo, desde que o faça de maneira

fundamentada, apontando as razões que inviabilizem a sua atuação.

Caso se neguem a aceitar o encargo, ou, ainda, deixem de atender à intimação, não
compareçam ao local da perícia ou obstem à realização da perícia e confecção do respectivo

laudo, estarão sujeitos a multa estipulada pelo aludido art. 277 do CPP, nas hipóteses de seu
caput e parágrafo único.

Art. 277 (...)

Parágrafo único. Incorrerá na mesma multa o perito que, sem justa causa, provada
imediatamente:

a) deixar de acudir à intimação ou ao chamado da autoridade;

b) não comparecer no dia e local designados para o exame;

c) não der o laudo, ou concorrer para que a perícia não seja feita, nos prazos estabelecidos.

29
Caso o perito se recuse a comparecer no local do crime para a realização da perícia, é
possível a sua condução coercitiva, nos moldes do art. 278 do CPP:

Art. 278. No caso de não comparecimento do perito, sem justa causa, a autoridadepoderá
determinar a sua condução.

1.3.5 Hipóteses de impedimento relativas aos peritos

No exercício da atividade pericial, o médico está sujeito às vedações do Código de Ética


Médica (Resolução CMF nº 2.217, de 27 de setembro de 2018, sendo esta modificada pelas

resoluções CMF nº 2.222/2018 e 2.226/2019) e aos impedimentos e suspeições do Código de


Processo Penal.

No aspecto ético, é vedado ao médico:

AUDITORIA E PERÍCIA MÉDICA

É vedado ao médico:

Art. 92 Assinar laudos periciais, auditoriais ou de verificação médico-legal caso não tenha
realizado pessoalmente o exame.

Art. 93 Ser perito ou auditor do próprio paciente, de pessoa de sua família ou de qualquer
outra com a qual tenha relações capazes de influir em seu trabalho ou de empresa em
que atue ou tenha atuado.

Art. 94 Intervir, quando em função de auditor, assistente técnico ou perito, nos atos
profissionais de outro médico, ou fazer qualquer apreciação em presença do examinado,
reservando suas observações para o relatório.

Art. 95 Realizar exames médico-periciais de corpo de delito em seres humanos no interior


de prédios ou de dependências de delegacias de polícia, unidades militares, casas de
detenção e presídios.

Art. 96 Receber remuneração ou gratificação por valores vinculados à glosa ou ao sucesso


da causa, quando na função de perito ou de auditor.

Art. 97 Autorizar, vetar, bem como modificar, quando na função de auditor ou de perito,
procedimentos propedêuticos ou terapêuticos instituídos, salvo, no último caso, em

30
situações de urgência, emergência ou iminente perigo de morte do paciente,
comunicando, por escrito, o fato ao médico assistente.

Art. 98 Deixar de atuar com absoluta isenção quando designado para servir como perito
ou como auditor, bem como ultrapassar os limites de suas atribuições e de sua
competência.

Parágrafo único. O médico tem direito a justa remuneração pela realização do exame
pericial.

Caro aluno, é importante ressaltar que o médico perito NÃO está impedido de exercer outra
especialidade em sua clínica particular e em hospitais. Assim, pode ser que se veja diante do

exercício do exame pericial de um paciente que atendeu, em caráter de emergência ou não, ou


até mesmo que tenha participado do tratamento de alguma maneira.

Ademais, lembre-se que, como regra, o médico JAMAIS poderá ser o perito no caso de

paciente que atendeu, tratou ou até mesmo o acompanhou, pois não poderá realizar a perícia

de maneira imparcial.

Dos peritos, oficiais ou não, nomeados pelo juiz se exige uma atuação imparcial, razão pela

qual se aplicam também aos peritos as mesmas hipóteses de suspeição relativas aos
magistrados, conforme o art. 279 do CPP.

Art. 279. Não poderão ser peritos:

I - os que estiverem sujeitos à interdição de direito mencionada nos incisos. I e IV do art.


69 do Código Penal;

II - os que tiverem prestado depoimento no processo ou opinado anteriormente sobre o


objeto da perícia;

31
III - os analfabetos e os menores de 21 anos.

Art. 280. É extensivo aos peritos, no que Ihes for aplicável, o disposto sobre suspeição dos
juízes.

A hipótese elencada no inciso I, após a reforma do Código Penal, agora está trabalhada no
art. 47 do CP, no que se refere à interdição temporária para o exercício das funções habituais,

como sendo uma das penas restritivas de direitos.

Também são impedidos de oficiarem no processo aqueles que nele já tiverem prestado
depoimento na qualidade de testemunha, por exemplo, sendo defeso ao mesmo tempo o

exercício das funções de perito e testemunha.

Em que pese a equiparação das menoridades civil e penal, estando agora em 18 anos, a
maioria da doutrina ainda entende que continua válida a previsão legal acerca da vedação de

oficiarem como peritos as pessoas menores de 21 anos.

1.3.6 Local e momento da perícia

A perícia será realizada em instituições oficiais, a não ser que existam elementos materiais

que não possam ser removidos ou que haja necessidade de o perito ter uma noção da cena
que determinada situação ocorreu.

Quanto ao momento da realização da perícia médica, esta pode ser solicitada em qualquer

fase, seja durante o inquérito policial, seja durante a instrução criminal, ou até mesmo após da
sentença para que haja avaliação da imputabilidade nas doenças mentais supervenientes.
32
Segundo Bittar:

Na fase de inquérito policial, pode ser feita qualquer perícia, mas apenas os exames de
corpo de delito são elencados como pressupostos de validade no art. 564, III, b do CPP,
ressalvado o disposto no art. 167 do mesmo diploma legal, hipótese em que apenas será
admitida a prova testemunhal quando houveram desaparecido os vestígios, a qual não
tem o mesmo valor probante de corpo de delito direto. Havendo vestígios, como nem a
confissão do acusado afasta a necessidade de exame de corpo de delito, não pode o juiz
ou a autoridade policial negar-se a deferi-lo quando requerido pelas partes (Art. 184 do
CPP), pois o desaparecimento dos vestígios vai impedir a sua posterior análise e pode
comprometer o estabelecimento do nexo de causalidade com futuras complicações. Já as
outras perícias podem ser negadas quando desnecessárias ao esclarecimento da verdade. 10

1.3.7 Responsabilidade civil e criminal dos peritos

Assim como qualquer outro profissional, os peritos podem eventualmente vir a ser

responsabilizados por ato ilícito cometido durante sua atuação, nos termos da legislação vigente.

No âmbito da responsabilização civil, faz-se o destaque para os dispositivos do art. 186 do


Código Civil, bem como do art. 158 do novo Código de Processo Civil. Os referidos

dispositivos trazem as hipóteses em que poderá o perito ser responsabilizado quando sua
atuação gerar dano a alguém, quando restarem configurados os elementos subjetivos do dolo
ou da culpa, bem como traz, no caso do art. 158 do CPC, as respectivas sanções aplicáveis.

Para tanto, faz-se necessário o preenchimento de 4 requisitos para que se viabilize a


responsabilidade civil dos experts, nos moldes da sistemática legal vigente: dano, conduta, nexo
causal, dolo ou culpa.

No que tange à responsabilidade criminal dos peritos, é certo que sua atuação é passível de
configurar a prática de alguns crimes previstos na legislação penal vigente.

10
BITTAR, Neuza. Medicina Legal e noções de Criminalística. 9ª edição. 2020, p. 33. Salvador: Juspodivm.
33
(CESPE/CEBRASPE - Médico Legista - PC-MA/2018) Um perito médico legista não incluiu
propositalmente em seu laudo necroscópico o resultado da alcoolemia de um cadáver que ele

examinou. Nessa situação hipotética, independentemente da importância de seu resultado para


o andamento do processo, o médico legista cometeu:

A) crime de falsificação de documento público.

B) crime de falsa perícia.

C) contravenção penal contra à fé pública.

D) contravenção penal contra a administração pública.

E) crime de falsidade ideológica por negligência.

Gabarito: Alternativa B

Assim, a depender do caso, poderão os peritos incorrer na prática dos seguintes crimes e
restar sujeitos a suas respectivas penas:

34
Art. 317 do
Corrupção passiva:
Código Penal.

Violação de sigilo Art. 325 do


funcional: Código Penal.

Crime de falso
Art. 342 do
testemunho ou
Código Penal.
falsa perícia:

1.3.8 Requisição da perícia

Podem requisitar a perícia, na fase de inquérito, a autoridade policial civil, militar ou federal

competente para presidir o inquérito policial.

Dessa forma, segundo o inciso VII, do CPP, logo que tiver conhecimento da prática da
infração penal, a autoridade policial deverá determinar, se for o caso, que se proceda o exame

de corpo de delito e quaisquer outras perícias.

É importante ressaltar que a autoridade policial pode determinar a realização de qualquer


perícia, salvo o exame para a constatação de sanidade mental do indiciado, caso em que apenas

a autoridade judiciária poderá fazê-lo, mesmo na fase de inquérito.

Por sua vez, na fase processual, quem será competente é a autoridade judiciária.

35
Os peritos, sendo estes oficiais ou não, JAMAIS poderão ser indicados pelas partes, pois a

nomeação é ato exclusivo da autoridade policial ou da autoridade judiciária!

Ademais, é interessante ressaltar que há discussão sobre a possibilidade de o MP

determinar diretamente a perícia ao IML, vez que em tese também possui poderes investigativos
de acordo com sua lei orgânica estadual e federal. Além do mais, se o MP pode oferecer a
denúncia, também pode pedir a perícia necessária à produção de prova que a embasa.

Em que pese esse entendimento ser refutado pelas autoridades policiais, a proposta de
EC (PEC 37) que sugere a inclusão de um novo parágrafo ao art. 144 da CF/88, que trata da
segurança Pública, limitando o poder de investigação do MP, à apuração de infrações penais

cometidas pelos seus membros, foi rejeitada.

1.3.9 Assistente Técnico11

O assistente técnico é um perito de confiança contratado pelas partes, não se exigindo


imparcialidade, ao contrário dos peritos nomeados pelo Juízo ou mesmo pela autoridade

policial. Por isso mesmo é que não há falar em exceção de suspeição em se tratando de
assistentes técnicos.

11
Vide questão 04
36
No Processo Civil o tema é disciplinado a partir do art. 465:

(NCPC) Art. 465. O juiz nomeará perito especializado no objeto da perícia e fixará de
imediato o prazo para a entrega do laudo.

§ 1° Incumbe às partes, dentro de 15 (quinze) dias contados da intimação do despacho


de nomeação do perito:

II – indicar assistente técnico;

(...)

Art. 466. o perito cumprirá escrupulosamente o encargo que lhe foi cometido,
independentemente de termo de compromisso.

§ 1° Os assistentes técnicos são de confiança da parte e não estão sujeitos a impedimento


ou suspeição.

§ 2° O perito deve assegurar aos assistentes das partes o acesso e o acompanhamento


das diligências e dos exames que realizar, com prévia comunicação, comprovada nos autos,
com antecedência mínima de 5 (cinco) dias.

(...)

Art. 475- Tratando-se de perícia complexa que abranja mais de uma área de conhecimento
especializado, o juiz poderá nomear mais de um perito, e a parte, indicar mais de um
assistente técnico.

Devem possuir graduação em nível superior de ensino em qualquer área do conhecimento

que seja pertinente à perícia realizada nos autos. Sua atuação na persecução penal consiste em
confrontar o laudo pericial confeccionado pelos peritos atuantes no processo.

De acordo com o art. 159, § 3º do CPP, podem requisitar a atuação de assistentes técnicos:

o Ministério Público, o assistente de acusação, o ofendido, o querelante (nos crimes de ação


privada) e o acusado.

37
A atuação do assistente técnico depende de admissão pelo juiz da causa, e terá cabimento

após a conclusão dos exames e elaboração do laudo pelos peritos!

Durante o curso do processo, é facultado às partes indicar assistentes técnicos, que poderão
apresentar pareceres em prazo a ser fixado pelo juiz, ou até mesmo ser inquiridos em audiência.

Os assistentes técnicos poderão analisar o material probatório que serviu de base para a

perícia, mas somente dentro do ambiente do órgão oficial e na presença dos peritos oficiais.

É importante destacar que os assistentes técnicos não podem ser considerados como

funcionários públicos, diferentemente da disciplina acerca dos peritos oficiais, elencados no art.
159, caput do CPP. Assim, caso venham a praticar falsidades no seu ofício, a análise deverá ser

conforme o art. 299 do CP.

Ademais, os assistentes técnicos não se sujeitam às causas de impedimento e suspeição,


justamente pelo fato de que não guardam a imparcialidade devida.

Com a vigência do pacote anticrime, o Juiz pode deferir o pedido de admissão de assistente

técnico para acompanhar a produção da perícia, conforme preceitua o art. 3º-B, XVI, do CPP:

(CPP) Art. 3°-B. o juiz das garantias é responsável pelo controle da legalidade da
investigação criminal e pela salvaguarda dos direitos individuais cuja franquia tenha sido
reservada à autorização prévia do Poder Judiciário, competindo-lhe especialmente:

38
XVI - deferir pedido de admissão de assistente técnico para acompanhar a produção da
perícia;

Através da leitura do dispositivo legal, constata-se que há a mitigação do assistente técnico


exclusivamente em sede judicial, passando então a ser permitido que as partes interessadas

elaborem pedido ao Juiz das Garantias sobre a admissão para que o assistente técnico, apenas,
acompanhe a produção da perícia.

Resumindo: A atividade desempenhada neste caso será passiva, como mero coadjuvante na

produção de prova técnica. No entanto, isso fará com que as partes que propuserem o assistente
ganhem certo tempo na formulação dos seus pareceres, conforme o art. 159, §5º, II do CPP:

(CPP) Art. 159. o exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito
oficial, portador de diploma de curso superior. (Redação dada pela Lei n° 11.690, de 2008)

§ 5º Durante o curso do processo judicial, é permitido às partes, quanto à perícia: (Incluído


pela Lei n° 11.690, de 2008)

II - indicar assistentes técnicos que poderão apresentar pareceres em prazo a ser fixado
pelo juiz ou ser inquiridos em audiência. (Incluído pela Lei n° 11.690, de 2008)

1.4 Exame de corpo de delito12

Está tratado entre os arts. 158 ao 184 do Código de Processo Penal.

1.4.1 Conceitos

Caro Aluno, é importante que você não confunda “corpo de delito” com “exame de corpo

de delito”! Vejamos as duas definições:

a) Corpo de delito: É o conjunto de vestígios materiais deixados pela infração penal. A


expressão “corpo de delito” não necessariamente significa o corpo de uma pessoa, mas sim os

vestígios deixados pelo crime, ou seja, diz respeito à materialidade da infração penal.

12
Vide questão 11
39
b) Exame de corpo de delito: É uma análise feita por pessoas com conhecimentos técnicos
ou científicos sobre os vestígios deixados pela infração penal, seja para fins de comprovação da

materialidade do crime, seja para fins de comprovação da autoria.

1.4.2 Imprescindibilidade do exame de corpo de delito


CPP.
Art. 158. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo
de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado.

Nas infrações que deixam vestígios, assim denominadas como crimes materiais, a realização
do exame de corpo de delito é indispensável, visando assim à comprovação da materialidade

do crime a partir da elaboração de um laudo pericial.

Nessa categoria de infrações penais, o exame de corpo de delito não poderá ser suprido
nem mesmo pela confissão do acusado, comprovando assim a relatividade do valor probatório

desta como meio de prova, que, pelo sistema da livre apreciação da prova, deverá ser
confrontada com os demais meios de prova produzidos no processo.

O exame de corpo de delito pode ser realizado de duas formas, as quais caracterizam o

exame de corpo de delito direto e indireto.

● Exame de corpo de delito direto: Acontece quando os peritos têm o contato


direto com os vestígios que a infração deixou, e após feita a devida análise e

descrição, haverá a elaboração do laudo pericial.

O próprio Código de Processo Penal estabelece no seu art. 169, que logo após a prática da
uma infração penal a autoridade policial terá que isolar o local do crime, para que não se altere

o estado de conservação das coisas, até a chegada dos peritos criminais.

CPP.
Art. 169. Para o efeito de exame do local onde houver sido praticada a infração, a
autoridade providenciará imediatamente para que não se altere o estado das coisas

40
até a chegada dos peritos, que poderão instruir seus laudos com fotografias,
desenhos ou esquemas elucidativos.

Parágrafo único. Os peritos registrarão, no laudo, as alterações do estado das coisas


e discutirão, no relatório, as conseqüências dessas alterações na dinâmica dos
fatos. (Incluído pela Lei nº 8.862, de 28.3.1994)

O perito tem um prazo para a elaboração do laudo pericial, o qual corresponde ao período
de 10 dias, podendo ser prorrogado se houver necessidade, mediante autorização do juiz.

CPP.
Art. 160. Os peritos elaborarão o laudo pericial, onde descreverão minuciosamente
o que examinarem, e responderão aos quesitos formulados.

Parágrafo único. O laudo pericial será elaborado no prazo máximo de 10 dias,


podendo este prazo ser prorrogado, em casos excepcionais, a requerimento dos
peritos.

● Exame de corpo de delito indireto: Ocorre quando o perito faz a constatação da

existência da infração através de meios outros que não o contato direto dos peritos
com os vestígios deixados pela infração penal. (ex.: prontuário médico lavrado após

o cometimento de lesões corporais, mas que, no entanto, não se foi feita a perícia
das lesões por órgão oficial do Estado, bem como fotografias da lesão)13.

13

41
A maioria da doutrina entende que também pode servir como meio indireto de constatação
da materialidade delitiva a prova testemunhal.

CPP.
Art. 167. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem
desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta.

Tanto o exame de corpo de delito direto quanto o indireto é necessário no processo dos
crimes materiais para efeito de viabilizar uma condenação, pois ao final do processo, caso o juiz

observe a ausência desse meio de prova, absolverá o acusado.

Inclusive, este assunto costuma ser cobrado frequentemente por diversas bancas
examinadoras, portanto, não custa dar mais uma atençãozinha aqui, ok? Vejamos um exemplo

de como este tema foi cobrado na prova de Delegado de polícia civil do Estado de Minas Gerais:

(FUMARC - Delegado de Polícia - PCMG/2018) No que tange à perícia oficial e em acordo com
o CPP, é CORRETO afirmar:

(A) É facultada ao acusado a indicação de assistente técnico, após admissão pela autoridade

policial.

(B) Entende-se por perícia complexa aquela que abrange mais de uma área de conhecimento

especializado.

42
(C) Faculta-se ao Ministério Público e ao assistente técnico do querelante a formulação de
quesitos a qualquer tempo do inquérito policial.

(D) Na falta de perito oficial, qualquer contribuinte poderá exercer o mister, desde que não
inadimplente com impostos públicos, e que seja admitido pelo delegado de polícia presidente
do inquérito.

Gabarito: Alternativa B

No entanto, em regra geral, ambas as modalidades de exame de corpo de delito não são

indispensáveis para a propositura da ação, pois ele poderá ser realizado no curso do processo
judicial.

Existem, no entanto, algumas hipóteses em que a lei vai exigir o exame de corpo de delito

para que haja a propositura da ação penal, seja direto ou indireto, constituindo o exame de
corpo de delito uma condição específica de procedibilidade.

É o que acontece nos crimes previstos na lei de drogas, onde se exige para a instauração

do processo o laudo de constatação preliminar que ateste a natureza da substância apreendida


como sendo droga, assim como os crimes contra a propriedade imaterial (violação de direitos

autorais).

A falta de exame de corpo de delito, nestes casos, acarretará a rejeição na inicial acusatória
por falta de condições da ação.

Lei 11.343/06.
Art. 50 (...)
§ 1º Para efeito da lavratura do auto de prisão em flagrante e estabelecimento da
materialidade do delito, é suficiente o laudo de constatação da natureza e
quantidade da droga, firmado por perito oficial ou, na falta deste, por pessoa
idônea.

Crimes Contra a Propriedade Imaterial.

43
CPP.
Art. 525. No caso de haver o crime deixado vestígio, a queixa ou a denúncia não
será recebida se não for instruída com o exame pericial dos objetos que constituam
o corpo de delito.

1.4.3 Prioridades na realização do exame de corpo de delito

A Lei nº 13.721/2018 acrescenta um parágrafo único ao art. 158 do CPP afirmando que
deverá ser dada prioridade à realização do exame de corpo de delito quando se tratar de crime

que envolva:

🡺 Violência doméstica e familiar contra mulher;


🡺 Violência contra criança ou adolescente;
🡺 Violência contra idoso;
🡺 Violência contra pessoa com deficiência;

CPP.
Art. 158. (...)
Parágrafo único. Dar-se-á prioridade à realização do exame de corpo de delito
quando se tratar de crime que envolva:
I - violência doméstica e familiar contra mulher;
II - violência contra criança, adolescente, idoso ou pessoa com deficiência.

1.4.4 Cadeia de Custódia

Com o advento da Lei 13.964/2019, foram incluídos no Código de Processo Penal, os


artigos 158-A ao 158-E, trazendo ao ordenamento jurídico o instituto da Cadeia de Custódia,

que pode ser entendida como o registro da movimentação dos elementos que compõem o
corpo de delito, assegurando a preservação dos vestígios desde o primeiro contato até o

descarte.

44
Cabe ressaltar que o Código de Processo Penal já trazia em outros dispositivos, a
precaução acerca da preservação dos elementos informativos e provas. Como se pode verificar

no artigo 169, que dispõe sobre o procedimento de preservação do local do crime até a chegada
dos peritos criminais. No mesmo sentido, determina o artigo 6º que a autoridade policial

providencie para que não se alterem o estado de conservação das coisas, até a chegada dos
peritos criminais.

Desse modo, a inserção do artigo 158-A do CPP, pelo Pacote Anticrime definiu o conceito

legal da Cadeia de Custódia, conforme se pode verificar in verbis:

Art. 158-A. Considera-se cadeia de custódia o conjunto de todos os procedimentos


utilizados para manter e documentar a história cronológica do vestígio coletado em
locais ou em vítimas de crimes, para rastrear sua posse e manuseio a partir de seu
reconhecimento até o descarte.

A relevância da cadeia de custódia está na diminuição da probabilidade de violação ou


contaminação, seja acidental ou dolosa, do vestígio coletado, garantido-se a autenticidade do
elemento de prova.

Assim, a cadeia de custódia compreende várias etapas de rastreamento do vestígio,


conforme o novo artigo 158-B do CPP. São elas:

1) Reconhecimento: ato de distinguir o elemento como potencial vestígio;

2) Isolamento: ato de evitar que se altere o estado das coisas;


3) Fixação: descrição detalhada de como se encontra o vestígio no local de crime;
4) Coleta: ato de recolhimento do vestígio para análise;

5) Acondicionamento: ato de embalar o vestígio de forma individualizada;


6) Transporte: ato de transferir o vestígio de um local para o outro;

7) Recebimento: ato formal que documenta a transferência da posse do vestígio;


8) Processamento: exame pericial em si, manipulação conforme técnica adequada;

45
9) Armazenamento: guarda do material para eventual utilização posterior;
10) Descarte: liberação do vestígio.

No que tange à cadeia de custódia, a importância na seara da medicina legal deste instituo
se baseia na preservação de vestígios, que poderão se transformar em verdadeiros meios de
provas no curso da lide processual. Além de se garantir a integridade e idoneidade das amostras,

também se faz possível que possa rastrear todo o processo que originou determinado exame

pericial.

Ainda sobre o tema, de acordo com o artigo 158-C do CPP, caberá preferencialmente ao

perito oficial a coleta dos vestígios, que deverão ser encaminhados a uma central de custódia.
Esta, por sua vez, será destinada à guarda e controle dos vestígios, devendo compor os quadros
de todos os Institutos de Criminalística.

1.4.5 Formalidades para a realização das perícias

A regra geral é a de que o exame de corpo de delito será realizado por um perito oficial.

O perito é um auxiliar do juízo, dotado de conhecimentos técnicos ou científicos sobre


determinada área do conhecimento humano, que tem a função estatal de realizar exames
periciais, fornecendo dados capazes de auxiliar o magistrado por ocasião da sentença.

Necessariamente o perito oficial é uma pessoa concursada, não precisando prestar


juramento sempre que for realizar cada perícia, pois no momento em que tomou posse já
prestou o juramento. No entanto, se na localidade da infração não houver perito oficial, serão
46
nomeados 2 peritos não oficiais, que a cada perícia a ser realizada prestarão o juramento para
o desempenho de suas funções.

Art. 159. O exame de corpo de delito e outras perícias serão realizados por perito
oficial, portador de diploma de curso superior.

§ 1º Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2 (duas) pessoas idôneas,
portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área específica,
dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do exame.

§ 2º Os peritos não oficiais prestarão o compromisso de bem e fielmente


desempenhar o encargo.

É possível que haja a nomeação de mais de um perito oficial para a elaboração do laudo, nas
chamadas perícias complexas14.

Em regra, a perícia é realizada por um perito, conforme o caput do Art. 159, CPP. No entanto,

a depender da complexidade da perícia, quando abranger mais de uma área de conhecimento


especializado, por exemplo, nada impede que o juiz nomeie mais de um perito. Senão vejamos

a literalidade do §7º do Art. 159, CPP:

CPP.
Art. 159 (...)

14
VIDE QUESTÃO 10 DESTE MATERIAL.
47
§ 7º Tratando-se de perícia complexa que abranja mais de uma área de
conhecimento especializado, poder-se-á designar a atuação de mais de um perito
oficial, e a parte indicar mais de um assistente técnico.

Quando o juiz determina a realização de uma perícia, deverá intimar as partes para que,
querendo, elaborem quesitos para que o perito oficial responda, no prazo de 10 dias. É

possível, ainda, que as partes façam a indicação de um assistente técnico, que são os peritos de
confiança das partes, que somente atuarão após a confecção do laudo pelo perito oficial.

● Podem nomear assistentes técnicos: o Ministério Público, o querelante (ofendido

titular da ação privada), o assistente de acusação (ofendido na ação pública), o


ofendido e o acusado.

● Até quando podem nomear assistentes técnicos: Podem ser indicados somente
na fase de processo judicial – nunca durante a fase investigativa, pois o CPP prevê

que o assistente técnico só poderá ingressar no processo após a sua admissão pelo
juiz da causa, presumindo-se assim que já houve a devida instauração do processo.

Art. 159 (...)


§ 3º Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de acusação, ao ofendido,
ao querelante e ao acusado a formulação de quesitos e indicação de assistente
técnico.

§ 4º O assistente técnico atuará a partir de sua admissão pelo juiz e após a conclusão
dos exames e elaboração do laudo pelos peritos oficiais, sendo as partes intimadas
desta decisão.

48
Os assistentes técnicos podem ter contato direto com os vestígios deixados pela infração,
porém somente no local onde os objetos da infração estiverem guardados, e sob a fiscalização

do perito oficial.

§ 6º Havendo requerimento das partes, o material probatório que serviu de base à


perícia será disponibilizado no ambiente do órgão oficial, que manterá sempre sua
guarda, e na presença de perito oficial, para exame pelos assistentes, salvo se for
impossível a sua conservação.

O perito oficial tem necessariamente que ser imparcial no processo, inclusive se aplicando a
eles as hipóteses de suspeição referente aos magistrados. Os assistentes técnicos, no entanto,

não são imparciais.

Art. 280. É extensivo aos peritos, no que Ihes for aplicável, o disposto sobre
suspeição dos juízes.

A perícia que deverá prevalecer é a que mais for compatível com os demais elementos

inseridos no contexto probatório do processo, não sendo necessariamente a que foi elaborada
pelo perito oficial, podendo inclusive o juiz decidir sem ter por base os laudos periciais – o juiz
não se vincula a perícia, pois o sistema é o liberatório e não o vinculatório.

Art. 182. O juiz não ficará adstrito ao laudo, podendo aceitá-lo ou rejeitá-lo, no
todo ou em parte.

49
Uma vez elaborada a perícia, as partes podem querer ouvir o perito para fins de melhor
esclarecimento do laudo e saneamento de eventuais dúvidas quanto a ele. Nesse caso, o perito

será ouvido na audiência uma de instrução de julgamento.

CPP.
Art. 400. Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo
de 60 (sessenta) dias, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, à
inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem,
ressalvado o disposto no art. 222 deste Código, bem como aos esclarecimentos
dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-
se, em seguida, o acusado.

Caso seja necessária a oitiva do perito, as partes deverão fazer uma solicitação prévia nesse
sentido, conforme o teor do art. 400, § 2º do CPP:

Art. 400 (...)


§ 2º Os esclarecimentos dos peritos dependerão de prévio requerimento das partes.

O requerimento prévio deve ser feito no prazo mínimo de 10 dias antes da audiência de
instrução e julgamento, já devendo apresentar previamente os quesitos que o perito deverá

esclarecer em audiência.

§ 5º Durante o curso do processo judicial, é permitido às partes, quanto à


perícia: (Incluído pela Lei nº 11.690, de 2008)

I – requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou para responderem a


quesitos, desde que o mandado de intimação e os quesitos ou questões a serem
esclarecidas sejam encaminhados com antecedência mínima de 10 (dez) dias,
podendo apresentar as respostas em laudo complementar.

1.4.6 Laudo Complementar

É possível o requerimento de saneamento de dúvidas ou obscuridades da perícia através


de um laudo complementar, também elaborado pelo perito. Sobre o laudo complementar, é

50
necessário se verificar se o laudo complementar de destina especificamente aos crimes de
lesão corporal, ou se o laudo complementar se destina a outras perícias.

Isso porque há uma particularidade em relação ao delito de lesão corporal que interfere
necessariamente na própria tipificação da conduta. No art. 129, § 1º, I do CP está tipificado
o crime de lesão corporal grave na hipótese em que, por conta da prática da infração, a

vítima ficar impossibilitada para a prática de suas atividades habituais por mais de 30 dias.

Nesse caso, há uma obrigatoriedade de realização de novo exame pericial na vítima após
transcorrido esse lapso temporal de 30 dias, a fim de atestar suas atuais condições físicas e

a consequente aptidão para o desenvolvimento de suas atividades habituais após esse


período de tempo, sob pena de desclassificação do delito para sua modalidade simples.

Em persistindo a impossibilidade de desempenho de suas práticas habituais, uma vez

atestado pelo laudo complementar de exame de corpo de delito, a conduta será enquadrada
no crime de lesão corporal grave, nos termos do art. 129, § 1º, I do CP. Caso tenham

desaparecido os vestígios da lesão praticada, ou, ainda, embora presentes, não impeçam a
vítima de desempenhar suas atividades rotineiras, o crime será o de lesão corporal leve,

previsto no art. 129, caput, do CP.

Art. 168. Em caso de lesões corporais, se o primeiro exame pericial tiver sido incompleto, proceder-se-á a
exame complementar por determinação da autoridade policial ou judiciária, de ofício, ou a requerimento do
Ministério Público, do ofendido ou do acusado, ou de seu defensor.

(...)

§ 2º Se o exame tiver por fim precisar a classificação do delito no art. 129, § 1º, I, do Código Penal, deverá ser
feito logo que decorra o prazo de 30 dias, contado da data do crime.

Assim, para o reconhecimento e comprovação da caracterização desta hipótese de lesão

corporal grave, é imprescindível a realização de um novo laudo pericial complementar depois

51
de passados 30 dias da prática do crime e da realização do primeiro laudo, conforme o teor
do § 2º do art. 168 do CPP.

Essa é, portanto, uma hipótese em que o exame e laudo complementares são obrigatórios!

52
A ausência desse laudo ocasiona a desclassificação da lesão corporal grave para a lesão
corporal leve.

Não tendo como se comprovar, passados os 30 dias, a incapacidade para o exercício das
ocupações habituais, poderá haver comprovação por meio de prova testemunhal, como
forma de exame de corpo de delito indireto, conforme determina o art. 168, § 3º do CPP:

Art. 168 (...)

§ 3º A falta de exame complementar poderá ser suprida pela prova testemunhal.

Ressalvando-se essa hipótese, nos demais casos a realização do laudo complementar

poderá ocorrer ou não, a depender do caso concreto, nas hipóteses em que o primeiro laudo
for incompleto.

Em sendo o laudo complementar destinado a perícias de outras espécies, se o juiz

constatar uma contradição, omissão ou obscuridade num laudo, o juiz PODERÁ determinar
a realização de um segundo laudo complementar15.

15
VIDE QUESTÕES 7 E 9 DESTE MATERIAL.
53
Art. 181. No caso de inobservância de formalidades, ou no caso de omissões, obscuridades
ou contradições, a autoridade judiciária mandará suprir a formalidade, complementar ou
esclarecer o laudo.

Parágrafo único. A autoridade poderá também ordenar que se proceda a novo exame,
por outros peritos, se julgar conveniente.

Não existe, portanto, um limite de perícias a serem realizadas dentro de um mesmo processo,
conforme o teor do art. 180 do CPP:

Art. 180. Se houver divergência entre os peritos, serão consignadas no auto do exame as
declarações e respostas de um e de outro, ou cada um redigirá separadamente o seu
laudo, e a autoridade nomeará um terceiro; se este divergir de ambos, a autoridade poderá
mandar proceder a novo exame por outros peritos.

Se uma perícia é realizada por meio de carta precatória, a designação dos peritos é feita

pelo Juízo deprecado, sendo esta a regra geral para a realização desse tipo de perícia.

No entanto, há exceção no caso de crime de ação penal privada, onde, havendo


concordância das partes, o perito poderá ser nomeado pelo Juízo deprecante.

Art. 177. No exame por precatória, a nomeação dos peritos far-se-á no juízo deprecado.
Havendo, porém, no caso de ação privada, acordo das partes, essa nomeação poderá ser
feita pelo juiz deprecante.

Parágrafo único. Os quesitos do juiz e das partes serão transcritos na precatória.

Art. 176. A autoridade e as partes poderão formular quesitos até o ato da diligência.

54
1.5 Questões controvertidas

O assunto de Perícias e Peritos possui algumas questões que merecem ser pontuadas e
debatidas. Vamos lá?

1.5.1 Pode o advogado do investigado participar dos exames periciais?

Com a entrada em vigor da lei 13.245/16, houve a alteração do Estatuto da Ordem dos

Advogados, ampliando a participação destes aos atos investigatórios:

XIII - examinar, em qualquer órgão dos Poderes Judiciário e Legislativo, ou da


Administração Pública em geral, autos de processos findos ou em andamento, mesmo
sem procuração, quando não estiverem sujeitos a sigilo ou segredo de justiça, assegurada
a obtenção de cópias, com possibilidade de tomar apontamentos; (Redação dada
pela Lei nº 13.793, de 2019)

XIV - examinar, em qualquer instituição responsável por conduzir investigação, mesmo


sem procuração, autos de flagrante e de investigações de qualquer natureza, findos ou
em andamento, ainda que conclusos à autoridade, podendo copiar peças e tomar
apontamentos, em meio físico ou digital; (Redação dada pela Lei nº 13.245, de
2016)

(...)

XXI - assistir a seus clientes investigados durante a apuração de infrações, sob pena de
nulidade absoluta do respectivo interrogatório ou depoimento e, subsequentemente, de
todos os elementos investigatórios e probatórios dele decorrentes ou derivados, direta ou
indiretamente, podendo, inclusive, no curso da respectiva apuração: (Incluído pela
Lei nº 13.245, de 2016)

a) apresentar razões e quesitos; (Incluído pela Lei nº 13.245, de 2016)

(...)

§ 10. Nos autos sujeitos a sigilo, deve o advogado apresentar procuração para o exercício
dos direitos de que trata o inciso XIV. (Incluído pela Lei nº 13.245, de 2016)

§ 11. No caso previsto no inciso XIV, a autoridade competente poderá delimitar o acesso
do advogado aos elementos de prova relacionados a diligências em andamento e ainda

55
não documentados nos autos, quando houver risco de comprometimento da eficiência,
da eficácia ou da finalidade das diligências. (Incluído pela Lei nº 13.245, de 2016)

§ 12. A inobservância aos direitos estabelecidos no inciso XIV, o fornecimento incompleto


de autos ou o fornecimento de autos em que houve a retirada de peças já incluídas no
caderno investigativo implicará responsabilização criminal e funcional por abuso de
autoridade do responsável que impedir o acesso do advogado com o intuito de prejudicar
o exercício da defesa, sem prejuízo do direito subjetivo do advogado de requerer acesso
aos autos ao juiz competente. (Incluído pela Lei nº 13.245, de 2016)

§ 13. O disposto nos incisos XIII e XIV do caput deste artigo aplica-se integralmente a
processos e a procedimentos eletrônicos, ressalvado o disposto nos §§ 10 e 11 deste
artigo. (Incluído pela Lei nº 13.793, de 2019)

Assim, não há óbice que o patrono do investigado o assista durante a prova pericial, que
geralmente irá ocorrer na fase de inquérito.

Ademais, o inciso XV do art. 3º-B do CPP, confere ao juiz de garantias a possibilidade de

assegurar prontamente, quando se fizer necessário, o direito outorgado ao investigado e ao seu


defensor de acesso a todos os elementos informativos e provas produzidos no âmbito da

investigação criminal, exceto no que concerne, estritamente, às diligências em andamento.

1.5.2 É possível a produção de prova pericial no Tribunal do Júri?

Outra questão que merece ser debatida é a possibilidade de produção de prova no Tribunal
do Júri. De acordo com o parágrafo terceiro do art. 473 do CPP, as partes e os jurados poderão

requerer acareações, reconhecimento de pessoas e coisas e esclarecimento dos peritos, assim


como a leitura de peças que se refiram, exclusivamente, às provas colhidas por carta precatória
e às provas cautelares, antecipadas ou não repetíveis.

Assim, conclui-se que os peritos podem ser chamados para esclarecer aspectos da perícia
realizada também quando se tratar de Tribunal do Júri.

- Mas professora, quem pode pedir esses tais esclarecimentos?

Bom, além da acusação e da defesa, os jurados também poderão pedir esclarecimentos!


56
Art. 480. A acusação, a defesa e os jurados poderão, a qualquer momento e por
intermédio do juiz presidente, pedir ao orador que indique a folha dos autos onde se
encontra a peça por ele lida ou citada, facultando-se, ainda, aos jurados solicitar-lhe, pelo
mesmo meio, o esclarecimento de fato por ele alegado.

§ 1o Concluídos os debates, o presidente indagará dos jurados se estão habilitados a julgar


ou se necessitam de outros esclarecimentos.

§ 2o Se houver dúvida sobre questão de fato, o presidente prestará esclarecimentos à vista


dos autos.

§ 3o Os jurados, nesta fase do procedimento, terão acesso aos autos e aos instrumentos
do crime se solicitarem ao juiz presidente.

E, será nessa fase que os jurados poderão solicitar prova pericial, cujo deferimento

dependerá de reconhecimento como essencial pelo magistrado.

1.5.3 É possível a produção de prova pericial na revisão criminal?

A revisão criminal é ação autônoma de impugnação de sentença condenatória ou


absolutória imprópria, com trânsito em julgado, proposta em favor do acusado, para

desconstituir a sentença contaminada por erro judiciário, contanto que antes da extinção da
punibilidade.

Art. 621. A revisão dos processos findos será admitida:

I - quando a sentença condenatória for contrária ao texto expresso da lei penal ou à


evidência dos autos;

II - quando a sentença condenatória se fundar em depoimentos, exames ou documentos


comprovadamente falsos;

III - quando, após a sentença, se descobrirem novas provas de inocência do condenado


ou de circunstância que determine ou autorize diminuição especial da pena.

Como pode ser visto, o inciso II elenca decisão fundada em exame falso, incluindo a perícia

médico legal e do local de crime, desde que tenham influído decisivamente na conclusão.

57
Já o inciso III, se refere à descoberta de provas novas em favor do acusado,
independentemente dos elementos de prova já existissem por ocasião do processo, mas que

não foram avaliados por negligência ou dificuldade.16

Assim, na seara da medicina legal, a repetição ou produção de nova prova pericial dependerá
da durabilidade dos vestígios, podendo a perícia correr em processo à parte ou dentro da

própria revisão criminal.

1.6 Documentos Médico-legais

1.6.1 Conceito

Segundo Genival Veloso de França17, “documento é toda anotação escrita que tem a
finalidade de reproduzir e representar uma manifestação de pensamento”.

No âmbito médico-legal, denominam-se documentos médico-legais toda e qualquer

exposição verbal e documentos escritos por médicos e/ou peritos, com a finalidade de elucidar
a Justiça e servir de prova pré-constituída de fatos neles representados.

Do conceito já se pode extrair uma importante característica acerca destes documentos, os

quais poderão ser escritos ou verbais. Existem basicamente 5 espécies de documentos


médico-legais, a saber:

1) Notificações;

2) Atestados;
3) Relatórios;
4) Pareceres;

5) Depoimentos orais;

16
BITTAR, Neuza. Medicina Legal e noções de Criminalística. 9ª Ed. Salvador: Juspodivm. 2020, p. 49
17
FRANÇA; Genival Veloso de. Medicina Legal, 9ª Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014, p. 25.
58
Vamos agora analisar o conceito e as principais características de cada um separadamente.

1.6.2 Notificações

As notificações nada mais são do que comunicações compulsórias feitas por profissionais

da saúde às autoridades competentes acerca de um fato médico, bem como a respeito de


doenças infectocontagiosas e outras relacionadas ao trabalho de que tenham conhecimento.

Um bom exemplo dessa obrigatoriedade de comunicação pode ser encontrado na Lei

9.343/97 (Lei de Transplante de Órgãos), estabelecendo em seu art. 13 a obrigação de


comunicação de diagnósticos de morte encefálica feita por profissionais de saúde às centrais de
notificação, capacitação e distribuição de órgãos das unidades federadas.

Outro exemplo atual e recente, que acomete a população mundial, é o enfrentamento da


pandemia do novo coronavírus. Para os profissionais da saúde que estão atuando diretamente
com pacientes acometidos pela doença, a notificação às autoridades competentes de casos

suspeitos ou confirmados de covid-19 é essencial e obrigatório.

O descumprimento dessa obrigação acarreta responsabilidade funcional junto aos conselhos


profissionais, bem como caracteriza a prática do crime previsto no art. 269 do Código Penal.

1.6.3 Atestados

São também denominados de certificados médicos. Consistem na afirmação simples, por

escrito, de um fato médico e de suas possíveis consequências. Pode ser emitido por qualquer
médico no exercício regular de sua profissão, a fim de sugerir um estado de doença, para

justificar uma licença ou falta ao serviço.

Tendo em vista essas finalidades, os atestados se subdividem em oficiosos, administrativos


e judiciários.

59
Os atestados oficiosos são aqueles solicitados pelos pacientes a seus respectivos médicos
a fim de justificar a falta ao trabalho, aulas ou quaisquer outras atividades rotineiras de seu

interesse.

Já os atestados administrativos são os solicitados pelo servidor público para fins de gozo
de licenças, aposentadorias ou abono de faltas a que façam jus.

Os atestados judiciários, por sua vez, são aqueles cujo interesse é pertinente à Justiça,
sendo assim sempre requisitados pelos juízes no exercício da prestação jurisdicional.

18
O atestado médico, muito embora deve necessariamente atender à veracidade das
informações nele constantes, é um documento que não exige compromisso legal!

Também é importante frisar que a veiculação de informações falsas no bojo dos atestados
médicos pode configurar na prática os crimes de falsidade ideológica (art. 299 do CP) ou
falsidade de atestado médico (art. 302 do CP), conforme o caso.

Nesses casos, para que haja a caracterização dos referidos crimes, é necessário que o
profissional da medicina haja com dolo, consistente na vontade livre e consciente de falsear a
atestação, visto que os referidos crimes, em sendo catalogados entre os crimes contra a fé

pública, não admitem a modalidade culposa.

18
Vide questão 05

60
Embora não se obrigue ao atestado uma forma fixa, é conveniente que dele constem quatro
partes: nome e sobrenome do médico, seus títulos e qualidades; qualificação do paciente; o

estado mórbido e demais fatos verificados; e, por fim, as consequências do que foi apurado.

O atestado médico é parte integrante do ato médico, sendo o seu fornecimento direito
inalienável do paciente (art. 1º da RES. CFM nº 1.658/2002, alterada parcialmente pela RES. CFM

nº 1.851/2008).

O atestado médico será falso quando afirmar uma inverdade, negar ou omitir algum fato
verídico, ou, até mesmo quando este for emitido sem o paciente ter realizado nenhum exame

médico. Assim, a falsidade deste documento será ideológica, afetando diretamente o que
dispõe.

Tenha como objetivo um tempo de repouso ou de afastamento de um trabalho, o

profissional médico deve detalhar o tempo concedido de dispensa da atividade, que será
necessário para a recuperação do obreiro, conforme preceitua o art. 3º da Resolução 1658/2002.

É interessante salientar que os finais de semana devem estar inclusos no prazo do atestado
médico.

Por sua vez, os atestados de óbito são os dados de ordem médica constantes do bloco V

da declaração de Óbito (DO), que é um documento-base do SIM/MS (Sistema de informações


sobre a mortalidade do Ministério da Saúde).

De acordo com o art. 77 da lei 6015/73:

Art. 77. Nenhum sepultamento será feito sem certidão do oficial de registro do lugar do
falecimento ou do lugar de residência do de cujus, quando o falecimento ocorrer em local
diverso do seu domicílio, extraída após a lavratura do assento de óbito, em vista do
atestado de médico, se houver no lugar, ou em caso contrário, de duas pessoas
qualificadas que tiverem presenciado ou verificado a morte.

61
Nas mortes naturais, o médico assistente é obrigado a assinar o atestado de óbito, mas se
na localidade inexistirem médicos, o documento pode ser assinado por qualquer pessoa

qualificada.

O médico está sujeito às normas legais e éticas quanto ao fornecimento do atestado de


óbito. No caso de morte natural, em regra, o médico que acompanha o paciente deve atestar

o óbito.

Mas, você sabia que não só existe a morte natural? Não? Bom, preparei este pequeno
esquema para você saber diferenciar! (não se preocupe! Nos próximos capítulos este

assunto será bem mais detalhado, ok?)

MORTE NATURAL MORTE VIOLENTA MORTE SUSPEITA


É aquela que ocorre por É aquela que decorre de É a morte inesperada, sem
doença ou por energias externas, tais como: sinais de violência, mas que
envelhecimento. crimes, suicídios ou acidente ocorreu em condições
(incluindo os de trabalho). “estranhas”.

Ademais, na morte natural, o médico não poderá atestar o óbito quando este não tenha
dado assistência, ou quando não existir o diagnóstico da causa mortis.

É válido ressaltar que o atestado de óbito pode conter duas causas da morte quando, diante

de duas lesões que tenham condições suficientes para terem ocasionado o óbito, não conseguir

62
determinar qual delas desencadeou o evento, sejam por serem da mesma intensidade, ou por
ser impossível saber qual delas ocorreu primeiro.

Porém, durante o período que estamos vivendo, pode surgir uma dúvida: - Mas professora,
e como será a situação de morte em período de pandemia???

Bom, no caso de pandemia, deve-se alinhar a maior certa no diagnóstico da causa mortis

com a diminuição de procedimentos que possam ampliar a disseminação da mazela.

Como exemplo, podemos utilizar o procedimento para emissão de Declaração de óbitos


frente à Pandemia do corona vírus – COVID-19 no estado de São Paulo, que considera: 1-

Que as determinações da OMS desaconselham a realização de autópsia para os casos suspeitos


e confirmados de COVID-19; 2- Em época de pandemia, qualquer corpo pode ser considerado
de risco para contaminação e a consequente difusão da doença e; 3- Que o exame por RT-PCR

para diagnosticar o vírus, tem sido utilizado para confirmação de casos. 19

Dessa forma, os casos não devem ser encaminhados para a realização da autópsia nos SVOs
durante o período da pandemia, nos moldes do Decreto 64.880 de SP. 20

Com base nisso, houve um regramento para o preenchimento da declaração de óbito:

a) Os casos de SARS ou outro quadro respiratório, com o diagnóstico já confirmado, devem ter
as DOs preenchidas como Covid-19; b) os casos de óbito por SARS ou outro quadro respiratório

suspeito de COVID-19 devem: Colher swab nasal/orofaríngeo após o óbito em até 24 horas,
caso não tenha sido colhido o material em vida e preencher a declaração de óbito como “morte
a esclarecer – aguarda exames”. c) os demais casos por morte natural sem suspeita de COVID-

19 devem ter a DO preenchida pelo médico que assistiu a morte ou constatou o óbito do
paciente. Caso as informações trazidas pelos familiares possibilitarem a identificação do motivo

19
BITTAR, Neuza. Medicina Legal e Noções de Criminalística. 2020, pgs. 77 e 78. Salvador: Juspodivm.
20
BITTAR, Neuza. Medicina Legal e Noções de Criminalística. 2020, pgs. 77 e 78. Salvador: Juspodivm.
63
da morte, o médico deverá preencher a DO com estas informações. d) Por fim, as mortes que
não tenha origem natural, ficarão a cargo da autoridade policial e dos IMLs.21

(Funcab - Escrivão de Polícia - PC - PA/2016) Dentre as alternativas a seguir, assinale a que

representa, de acordo com a literatura sobre o tema, uma espécie de documento médico-legal.

A) Denúncia.

B) Atestado.

C) Petição.

D) Agravo.

E) Sentença.

Gabarito: Alternativa B

1.6.4 Relatório médico legal

Esse é o mais importante dos documentos médico-legais, devido à suas exigências de


formalidade, bem como a sua incidência em provas de concursos. Portanto, sugerimos especial
atenção a esta espécie de documento!

21
BITTAR, Neuza. Medicina Legal e Noções de Criminalística. 2020, pgs. 77 e 78. Salvador: Juspodivm.
64
Trata-se de um registro escrito que descreve minuciosamente todos os fatos de natureza
específica e caráter permanente que são pertinentes a uma perícia médica, requisitada por

autoridade competente a peritos oficiais ou, onde não houver, a peritos não oficiais.

Aqui vai uma primeira distinção importante e de corriqueira abordagem nas provas de
concurso público! Trata-se da distinção entre auto e laudo. Se o relatório é ditado diretamente

ao escrivão e na presença de testemunhas, denomina-se AUTO; se for redigido posteriormente


pelos peritos, após suas investigações e consultas a tratados especializados, é chamado de

LAUDO.

O relatório médico-legal é composto por sete partes:

I) Preâmbulo: é a introdução na qual constam a qualificação da autoridade


solicitante, a qualificação dos peritos, do examinado, do local onde é feita a perícia,

data e hora, bem como o tipo de perícia que é realizada.

II) Quesitos: são perguntas cuja finalidade é a caracterização de fatos relevantes que

deram origem ao processo. No âmbito criminal, os quesitos já são padronizados


para fins de caracterização de elementos de um fato típico.

III) Comemorativo/Histórico: é o levantamento (histórico) de todas as informações

colhidas do interessado ou de terceiros acerca de detalhes e circunstâncias capazes

65
de esclarecer a perícia. Corresponde a uma anamnese do exame clínico comum.
Na maioria das vezes, os dados referentes aos antecedentes do histórico de saúde

são obtidos do próprio examinado.

IV) Descrição – visumetrepertum: é a parte mais importante do relatório médico-


legal. Visto e referido, tem o objetivo de reproduzir fiel, metódica e objetivamente,

com exposição minuciosa dos exames e técnicas empregadas e de tudo o que for
constatado pelos peritos. Trata-se da descrição exata daquilo que for objeto da

perícia, sem que os peritos preconcebam ideias ou hipóteses. Quando possível,


deve ser ilustrado com desenhos,, gráficos, plantas, fotografias, dentre outras
técnicas que possibilitem maior compreensão e clareza acerca do exame.

V) Discussão: nessa parte os peritos externarão suas opiniões, de modo a afastar

todas as hipóteses capazes de gerar confusão, tendo como objetivo o oferecimento


de um diagnóstico lógico e fluido de justificativas racionais.

VI) Conclusões: terminadas a descrição e a discussão, os peritos assumem uma

posição quanto à ocorrência ou não do fato, opinando sobre o objeto da perícia,


tudo com base nos dados constantes do histórico. O que for concluído será
resumido de forma concisa para autoridade solicitante.

VII) Respostas aos quesitos: os peritos devem responder a todos os quesitos, ainda

que redundantes, cuja finalidade é a caracterização de fatos relevantes que deram


origem ao processo, e que irão variar conforme o tipo de perícia. Saliente-se que

os quesitos formulados pelas partes poderão ser rejeitados quando impertinentes.

1.6.5 Parecer médico-legal


66
Trata-se de uma consulta médico-legal que envolve divergência importante sobre
interpretação de determinada perícia, podendo as partes interessadas solicitar esclarecimentos

mais aprofundados a uma instituição cujo corpo técnico tenha competência inquestionável ou
a professor de renome22.

Também pode ser denominada de perícia extrajudicial. O parecer nada mais é então do

que a resposta referente a assunto médico-forense dada aos questionamentos que abordam
pontos de dúvida sobre uma determinada perícia ou relatório médico-legal.

Como prova técnica, possui um valor probante relativo a ser analisado pelo juiz, que dera

ao referido documento a importância que entender, levando em consideração todo o conjunto


probatório dos autos, conforme a regra do art. 182 do CPP.

1.6.6 Depoimento oral

Ocorre quando o perito é chamado a depor nos Tribunais em audiência de instrução e

julgamento, conforme sejam necessários esclarecimentos acerca do objeto da perícia.

Salienta-se que o perito dará seu depoimento como parte técnica do corpo judicante, nunca
como testemunha! O depoimento do perito deverá se restringir ao laudo que ofereceu nos

autos, de modo a explicá-lo da forma mais simples e clara possível.

1.6.7 Consulta médico-legal

Este documento é importante nos casos em que ainda haja algum tipo de dúvida acerca do
relatório médico-legal, pois podem ser condensadas na consulta.

Segundo Wilson Luiz Palermo Ferreira:

Este documento médico-legal é importante nos casos em que ainda haja algum tipo de
dúvida acerca do relatório médico-legal, pois podem ser condensadas na consulta médico-
legal. É, de acordo com Hygino Hercules, o documento no qual a autoridade ou outro

22
VIDE QUESTÃO 10 DESTE MATERIAL.
67
perito requerem que sejam esclarecidos determinados pontos controvertidos do relatório,
podendo expor novos quesitos (quesitos complementares). Pode ser utilizada, também,
para esclarecer determinada situação médico-legal requisitada pela autoridade policial e
que requeira a atuação de um médico-legista.

QUADRO SINÓTICO

a) Simples: Conjunto de procedimentos médicos e técnicos que tem


como finalidade o esclarecimento de um fato de interesse da justiça,
Perícias determinado por autoridade policial ou judiciária.
Conceito
b) Complexas: são as que envolvem mais de uma área do
conhecimento, geralmente realizadas por mais de um perito;23

Pessoa detentora de conhecimentos em determinada área do saber


humano, e que, portanto, irá de certa forma colaborar com a prestação
da atividade jurisdicional. Pode ser:
● Oficial: encontram-se vinculados a órgãos oficiais do

Peritos Estado, compondo os seus quadros de carreira. São os


peritos criminais, médicos-legistas e odonto-legistas
(Lei 12.030/09).
● Não oficial: portadoras de diploma de curso superior,
escolhidas preferencialmente na área específica, dentre as
que tiverem habilitação técnica.

23
Vide questão 09
68
● Perito oficial: basta um perito. Não precisa prestar
juramento – presta o compromisso no ato de posse do
Atuação dos peritos
cargo público.
na realização de
● Não oficial: 2 pessoas idôneas, portadoras de diploma
exame de corpo de de curso superior, que tiverem habilitação técnica,
delito – Art. 159 do preferencialmente na área específica relacionada com a

CPP natureza do exame. Devem prestar juramento a cada


nova perícia que realizarem.

Os peritos são obrigados a aceitar o encargo, salvo justo motivo


devidamente fundamentado 🡪 aos peritos se aplicam as mesmas causas
Escusa justificável
de suspeição referentes aos magistrados, pois que estão sujeitos à
disciplina judiciária (arts. 277 e 279 do CPP).
Os peritos respondem civil e penalmente por danos que vierem a causar
às partes, restando provado que agiram com dolo ou culpa, ficando
Responsabilidade
sujeitos à reparação do dano (art. 186 do CC), bem como às respectivas
civil e criminal dos
sanções previstas em Lei (art. 158 do CPC);
peritos A depender do caso, podem incorrer na prática dos crimes previstos nos
arts. 317, 325 e 342 do CP.
Perito de confiança contratado pelas partes, não se exigindo deles
imparcialidade! Podem ser chamados a atuar pelo Ministério Público,
Assistente Técnico o assistente de acusação, o ofendido, o querelante (nos crimes de ação
privada) e o acusado. Depende de admissão pelo juiz após iniciado o
processo judicial.
Análise feita por pessoas com conhecimentos técnicos ou científicos
sobre os vestígios deixados pela infração penal. É indispensável nos
Exame de corpo de
crimes materiais (não transeuntes).
delito
(Art. 158 do CPP) Obs.: Diferencia-se do corpo de delito, que é o conjunto de vestígios
materiais em si, deixados pela infração penal
a) Direto: quando os peritos têm o contato direto com os vestígios
Modalidades de
que a infração deixou;
exame de corpo de b) Indireto: quando o perito faz a constatação da existência da
delito (Art. 158, infração através de meios outros que não o contato direto dos
parágrafo único) peritos com os vestígios deixados pela infração penal

Cadeia de Custódia Conjunto de todos os procedimentos utilizados para manter e

69
documentar a história cronológica do vestígio coletado em locais ou em
vítimas de crimes, para rastrear sua posse e manuseio a partir de seu
reconhecimento até o descarte.

Prioridades na ● Violência doméstica e familiar contra mulher;


● Violência contra criança ou adolescente;
realização do exame
● Violência contra idoso ou pessoa com deficiência;
de corpo de delito

Prazo para É de 10 dias, podendo haver prorrogação a pedido dos peritos.

realização
É facultativo, podendo ser requisitado no caso de dúvidas ou
Laudo obscuridades sobre o resultado da perícia.
complementar Obs.: É obrigatório em se tratando do crime de lesão corporal grave (art.
129, § 1º, I do CP c/c art. 168, § 2º do CPP).
- Não há óbice que o patrono do investigado o assista durante a prova
pericial, que geralmente irá ocorrer na fase de inquérito;
Questões
- Os peritos podem ser chamados para esclarecer aspectos da perícia
controvertidas realizada também quando se tratar de Tribunal do Júri. E, além da
acusação e da defesa, os jurados também poderão pedir esclarecimentos.
É toda e qualquer exposição verbal e documentos escritos por médicos
Documentos
e/ou peritos, com a finalidade de elucidar a Justiça e servir de prova pré-
médico-legais constituída.
São comunicações compulsórias feitas por profissionais da saúde às
autoridades competentes acerca de um fato médico, bem como a
Notificações
respeito de doenças infectocontagiosas e outras relacionadas ao trabalho
de que tenham conhecimento.
São também denominados de certificados médicos. Consistem na
afirmação simples, por escrito, de um fato médico e de suas possíveis
consequências. Subdividem-se em:

🡺 Atestados oficiosos: são aqueles solicitados pelos pacientes a


Atestados
seus respectivos médicos a fim de justificar a falta ao trabalho,
aulas ou quaisquer outras atividades rotineiras de seu interesse.
🡺 Atestados administrativos: são os solicitados pelo servidor
público para fins de gozo de licenças, aposentadorias ou abono
de faltas a que façam jus.

70
🡺 Atestados judiciários: são aqueles cujo interesse é pertinente à
Justiça, sendo assim sempre requisitados pelos juízes.

É o registro escrito que descreve minuciosamente todos os fatos de


natureza específica e caráter permanente que são pertinentes a uma
Relatório médico-
perícia médica, requisitada por autoridade competente. É composto por
legal: 7 partes: Preâmbulo; Quesitos; Comemorativo/Histórico; Descrição;
Discussão; Conclusões; e Respostas aos quesitos.
É uma consulta médico-legal que envolve divergência importante sobre
interpretação de determinada perícia, podendo as partes interessadas
Parecer
solicitar esclarecimentos mais aprofundados a uma instituição cujo corpo
técnico tenha competência inquestionável ou a professor de renome;
Ocorre quando o perito é chamado a depor nos Tribunais em audiência
de instrução e julgamento, conforme sejam necessários esclarecimentos
Depoimento oral
acerca do objeto da perícia. O perito depõe como parte técnica do corpo
judicante, nunca como testemunha!
Este documento é importante nos casos em que ainda haja algum tipo
Consulta médico- de dúvida acerca do relatório médico-legal, pois podem ser condensadas

legal na consulta.

71
QUESTÕES COMENTADAS

Prezado aluno, uma vez que não existem muitas questões recentes acerca do tema,
tornou-se necessário incluir questões de outros concursos, mas não há prejuízo ao

aprendizado, haja vista que todas possuem comentários extremamente importantes para a
fixação da matéria.

Questão 1

(UEG – PC GO – DELEGADO DE POLÍCIA - 2018) Quanto às perícias de local, são levados em


conta os diversos vestígios encontrados. A análise desses elementos deverá constituir a materialidade
dos fatos, provendo a Justiça com provas suficientes para o alcance da dinâmica dos fatos, das
motivações de um crime porventura cometido e, preferencialmente, para o apontamento da autoria do
mesmo. Nesse sentido, tem-se o seguinte:

A) a prova testemunhal substitui o exame de corpo de delito mesmo quando vestígios forem

encontrados.
B) a análise dos vestígios é dispensável quando o culpado confessar o crime ou for pego em

flagrante.
C) vestígios são provas do cometimento de um crime, sobretudo se são encontrados no local

dos fatos.
D) o corpo da vítima é parte do corpo de delito e os vestígios nele encontrados.
E) corpo de delito é o conjunto de vestígios encontrados no local dos fatos ou a estes

relacionados.

Comentário:

72
A) INCORRETO. Segundo Genival, “Diz ainda o citado dispositivo que “no exame
complementar, os peritos terão presente o auto de corpo de delito a fim de suprir-lhe a
deficiência ou retificá-lo"; que “se o exame tiver por fim precisar a classificação do delito
no artigo 129, § 1o, no I, do Código Penal, deverá ser feito logo que decorrer o prazo de
30 dias, contados da data do crime" ; e, finalmente, que “a falta de exame complementar
poderá ser suprida pela prova testemunhal". Em determinadas circunstâncias, os peritos
podem não ter condições, no primeiro exame, de precisar com mais exatidão a
quantidade ou a qualidade da lesão examinada e, por isso, é fundamental a realização
do exame complementar ou da sanidade."FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal,
Editora Guanabara Koogan, 10ª edição, 2015, p. 475

B) INCORRETO- O flagrante não dispensa a análise dos vestígios encontrados.

C) INCORRETO- vestígio não se confunde com provas.

D) INCORRETO- “O corpo da vítima não é o corpo de delito, senão um elemento no qual


podem existir os componentes capazes de caracterizar o corpus delicti" (FRANÇA, Genival
Veloso de. Medicina Legal, p. 17)

E) CORRETO. Segundo Genival, “corpo de delito, como uma metáfora, supõe o conjunto
de elementos materiais interligados, dos quais se compõem as provas ou vestígios do
fato ilícito."FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal, Editora Guanabara Koogan, 10ª
edição, 2015, p. 1357.

Questão 2

(FUMARC – PC MG – DELEGADO DE POLÍCIA - 2018) No que tange à perícia oficial e em


acordo com o CPP, é CORRETO afirmar:

73
A) É facultada ao acusado a indicação de assistente técnico, após admissão pela autoridade
policial.

B) Entende-se por perícia complexa aquela que abrange mais de uma área de conhecimento
especializado.

C) Faculta-se ao Ministério Público e ao assistente técnico do querelante a formulação de


quesitos a qualquer tempo do inquérito policial.

D) Na falta de perito oficial, qualquer contribuinte poderá exercer o mister, desde que não
inadimplente com impostos públicos, e que seja admitido pelo delegado de polícia presidente
do inquérito.

Comentário:

A) INCORRETA - Art. 159. § 4º, CPP O assistente técnico atuará a partir de sua admissão

pelo juiz e após a conclusão dos exames e elaboração do laudo pelos peritos oficiais, sendo as
partes intimadas desta decisão.

B) CORRETA- Art. 159. § 7º,CPP- Tratando-se de perícia complexa que abranja mais de uma área
de conhecimento especializado, poder-se-á designar a atuação de mais de um perito oficial, e

a parte indicar mais de um assistente técnico.

C) INCORRETA - Art. 159. § 3o Serão facultadas ao Ministério Público, ao assistente de acusação,


ao ofendido, ao querelante e ao acusado a formulação de quesitos e indicação de assistente

técnico. A assertiva delimita como sendo do inquérito policial.

D) INCORRETA – Art. 159, § 1º, CPP- Na falta de perito oficial, o exame será realizado por 2

(duas) pessoas idôneas, portadoras de diploma de curso superior preferencialmente na área


específica, dentre as que tiverem habilitação técnica relacionada com a natureza do exame.

74
Questão 3

(VUNESP – PC BA – DELEGADO - 2018) Jovem do sexo masculino é encontrado morto no seu


quarto, aparentemente um caso de suicídio por enforcamento. Logo ao chegar no local de

morte, a equipe pericial encontra a vítima na cama, com o objeto usado como elemento
constritor removido.

Nessa situação, o perito criminal deve

A) avaliar detalhadamente o local, buscar pistas de envolvimento de terceiros, não realizar o


exame pericial do cadáver e registrar a alteração notada no laudo final.

B) fazer o boletim de ocorrência com a alteração notada, isolar e preservar o local de morte, e

solicitar o envio de equipe pericial do instituto médico-legal para realização de perícia conjunta.

C) informar à autoridade policial sobre a alteração do local de morte, emitir o laudo de


impedimento e determinar a remoção imediata do cadáver para o instituto médico-legal.

D) realizar o exame externo do cadáver, de tudo que é encontrado em torno dele ou que possa

ter relação com o fato em questão, e registrar no laudo a alteração notada no local de morte.

E) realizar o registro fotográfico do local, investigar as circunstâncias da morte, não realizar o


exame pericial do cadáver, coletar o provável instrumento utilizado e descrever no laudo a

alteração do local de morte.

Comentário:

A) INCORRETO- não cabe ao perito buscar pistas de envolvimento com terceiros. No caso em
análise, o perito deveria realizar o exame externo do cadáver no local encontrado.

75
B) INCORRETO- perito não faz Boletim de Ocorrência. O cadáver deve ser enviado ao IML para
ser periciado.

C) INCORRETO- não há laudo de impedimento. Primeiro, deve-se analisar o local em que o


cadáver se encontra.

D) CORRETO- O exame cadavérico será o externo. E como houve alteração no local de sua
morte, deve-se verificar tudo o que é encontrado em torno dele e fazer o devido registro no
laudo.

E) INCORRETO- perito não investiga circunstâncias da morte. O exame pericial externo deve
ser feito no local.

Questão 4

(IBADE – DELEGADO DE POLÍCIA – PC AC - 2017) Durante investigação que durou um mês,


policiais civis descobriram um extenso esquema que envolvia diversos médicos da cidade. Tais

médicos mantinham clínicas clandestinas com precárias condições de higiene, em que


praticavam aborto. Algumas mulheres acabaram morrendo em decorrência desta prática ilegal.
No curso da investigação, o Delegado de Polícia fez diversas requisições de exames para o

perito legista, com a finalidade de buscar elementos de informação para o inquérito policial.
Com base nas informações acima, assinale a alternativa correta.

A) É inviável a realização de exames complementares para a pesquisa de substâncias abortivas,

se o perito não estiver de posse do nome do produto a ser pesquisado.

B) O exame para diagnóstico do aborto recente em mulher morta tem como objetivo, dentre
outros, a análise de aspectos internos e externos do cadáver.

76
C) O perito legista irá responder aos quesitos do exame mediante a apresentação do atestado,
que deverá ser entregue no prazo de quinze dias.

D) É inviável a realização de exame de DNA para confronto entre restos fetais e um cadáver do
sexo feminino.

E) é inviável a realização de exame cadavérico na mulher morta para a pesquisa de materiais ou

lesões.

Comentário:

A) INCORRETO - O perito através da perícia pode analisar qual o produto utilizado para a

prática do aborto. Analisa-se o cadáver, e diante do que ele apresenta, poderá se dizer o que
foi utilizado como meio abortivo. Conforme HÉRCULES explica, o emprego de substâncias

hipertônicas e a injeção intra-amniótica de prostaglandina ou substâncias cáusticas deixam


marcas características, mesmo quando não há complicações. Não consideramos o uso de

Misoprostrol (conhecido comercialmente como Citotec), pois sua meia-vida é de menos de 30


minutos e sua metabolização é muito rápida. A única possibilidade de se afirmar seu uso, seria
encontrar um tablete de Misoprostrol na cavidade uterina, fato este raríssimo. HÉRCULES, Hygino

de Carvalho. Medicina Legal, Texto e Atlas. Ed. Atheneu, 2005, p.599 e 600.

B) CORRETO - DIAGNÓSTICO DA GRAVIDEZ PREGRESSA NO CADÁVER: Segundo Hércules


“convém lembrar, inicialmente, que os dados do exame externo também devem ser pesquisados

no cadáver. Mas, quando ocorre morte materna como complicação do aborto, a perícia deve
ser complementada pela necropsia. Os peritos passam a ter acesso à genitália interna e às

demais vísceras. Mas a demonstração dos elementos ovulares continua a ser a pedra angular
da perícia nos casos de morte materna." HÉRCULES, Hygino de Carvalho. Medicina Legal, Texto

77
e Atlas. Ed. Atheneu, 2005, p. 590. C)INCORRETO- Art. 160, CPP. Os peritos elaborarão o laudo
pericial, onde descreverão minuciosamente o que examinarem, e responderão aos quesitos

formulados. Parágrafo único. O laudo pericial será elaborado no prazo máximo de 10 dias,
podendo este prazo ser prorrogado, em casos excepcionais, a requerimento dos peritos.

D) INCORRETO - É possível o exame de DNA. Um ótimo exemplo é o DNA MITOCONDRIAL

que é passado em sua grande parte de mãe para o filho.

E) INCORRETO - Vide resposta LETRA B.

Questão 5

(INSTITUTO AOCP – ITEP RN – 2018 – PERITO MÉDICO LEGISTA - MÉDICO) REFERENTE AO

DOCUMENTO MÉDICO LEGAL “ATESTADO MÉDICO”, ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA.

A) ESTÁ PREVISTO NO ARTIGO 710 DO CÓDIGO DE ÉTICA MÉDICA: “É VEDADO A TODO


MÉDICO FORNECER ATESTADOS SEM TER PRATICADO O ATO PROFISSIONAL QUE O

JUSTIFIQUE, OU QUE NÃO CORRESPONDA À VERDADE”.

B) É UM DIREITO DO PACIENTE, SENDO UM DOCUMENTO CUJO CONTEÚDO É DE INTEIRA


RESPONSABILIDADE DO MÉDICO QUE O EMITIU. ESSE DOCUMENTO DEVE CONTER O PARECER

TÉCNICO CONCLUSIVO DAS CONSULTAS E DOS EXAMES MÉDICOS REALIZADOS,


INFORMANDO O ESTADO DE SAÚDE DO PACIENTE.

C) A COMERCIALIZAÇÃO DE ATESTADOS E RECEITAS MÉDICAS É UM ATO LEGAL, PREVISTO NO

CÓDIGO CIVIL.

D) SOMENTE O MÉDICO RESPONDE POR FALSIFICAÇÃO DE ATESTADO, SENDO QUE O


PACIENTE QUE O APRESENTOU É CONSIDERADO LEIGO E NÃO É RESPONSABILIZADO

JUDICIALMENTE.

78
E) QUALQUER MÉDICO INSCRITO OU NÃO INSCRITO NO CRM (CONSELHO REGIONAL DE
MEDICINA) PODE EMITIR UM ATESTADO.

Comentário:

● Alternativa A incorreta: Art. 80 do Código de Ética Médica - Expedir documento


médico sem ter praticado ato profissional que o justifique, que seja tendencioso ou
que não corresponda à verdade. Alternativa C incorreta: A comercialização de
atestados e receitas médicas é um ato ilegal, com tipificação penal. Alternativa D
incorreta: Apesar de ser um crime próprio, a falsificação de atestado admite autoria
mediata, participação e coautoria. Alternativa E incorreta: Apenas o médico inscrito
no CRM pode emitir um atestado. Alternativa B correta: É um direito do paciente,
sendo um documento cujo conteúdo é de inteira responsabilidade do médico que o
emitiu. Esse documento deve conter o parecer técnico conclusivo das consultas e dos
exames médicos realizados, informando o estado de saúde do paciente.

Questão 6

(INSTITUTO AOCP – ITEP RN – 2018 – PERITO MÉDICO LEGISTA - MÉDICO) EM RELAÇÃO


AO RELATÓRIO (LAUDO), ASSINALE A ALTERNATIVA CORRETA.

A) PODE SER REQUISITADO APENAS PARA FINS PARTICULARES.

B) NÃO SEGUE NENHUMA REGRA OU FORMA ESPECÍFICA

C) É DETERMINADO POR UMA AUTORIDADE POLICIAL OU JUDICIÁRIA A UM OU MAIS


PROFISSIONAIS NOMEADOS E COMPROMETIDOS NA FORMA DA LEI.

D) É ELABORADO POR PERITO OFICIAL SOMENTE.

79
E) NA “DISCUSSÃO” DO RELATÓRIO, O PERITO DESCREVE MINUCIOSAMENTE O QUE CONCLUIU
SOBRE OS FATOS ANALISADOS NO EXAME PERICIAL.

Comentário:

● Alternativa A incorreta: O laudo será requisitado por uma autoridade pública, jamais
pela própria parte interessada, para fins particulares. Alternativa B incorreta: O
relatório e suas espécies (laudo e auto) seguem uma forma específica, contendo as
seguintes partes: preâmbulo, quesitos, histórico, descrição, discussão, conclusão e
resposta aos quesitos. Alternativa D incorreta: A perícia e, consequentemente, o laudo,
também podem ser realizados por peritos não oficiais, na falta do perito oficial.
Alternativa E incorreta: É na descrição em que o perito descreve minuciosamente os
fatos analisados no exame. Na discussão, por outro lado, serão postas em discussão
as várias hipóteses, afastando-se o máximo das conjecturas pessoais, podendo-se
inclusive citar autoridades recomendadas sobre o assunto. Alternativa C correta:
requisição do exame (e seu laudo) é feita por uma autoridade policial ou judiciária ao
órgão competente.

Questão 7

(CESPE – 2018 - PC-MA - MÉDICO LEGISTA) NA PERÍCIA MÉDICO-LEGAL, A PERÍCIA

CONTRADITÓRIA É DEFINIDA COMO:

A) PROCEDIMENTO QUE GERA RELATÓRIOS INDIVIDUALIZADOS QUE NÃO CHEGAM A UM


PONTO DE VISTA COMUM.

B) EXAME PERICIAL REALIZADO POR UM SÓ PERITO.

C) EXAME REALIZADO SOBRE VESTÍGIOS MATERIAIS.

80
D) CONJUNTO DE PROCEDIMENTOS MÉDICOS E TÉCNICOS QUE TEM COMO FINALIDADE O
ESCLARECIMENTO DE UM FATO DE INTERESSE DA JUSTIÇA.

E) DECLARAÇÃO TOMADA A TERMO EM AUDIÊNCIA DE INSTRUÇÃO E JULGAMENTO SOBRE


FATOS OBSCUROS OU CONFLITANTES.

Comentário:

Pode ocorrer que sejam realizadas perícias mediante a atuação de mais de um perito, mais
especificamente no caso das chamadas perícias complexas, que são aquelas que envolvem mais

de um ramo do conhecimento. Ao atuarem na realização dos exames, caso os peritos não


concordem estaremos diante de uma perícia contraditória, hipótese em que cada um elaborará
individualmente o seu laudo pericial, nos termos do artigo 180 do Código de Processo Penal,

não ficando o juiz vinculado a nenhum deles, podendo aceitá-los, no todo ou em parte, rejeitá-
los, se for o caso, determinando a realização de nova perícia, decidindo de acordo com sua

convicção. Lembre-se que no CPP vigora o princípio do livre convencimento motivado, no que
tange ao sistema de apreciação da prova, sendo assim um sistema liberatório, e não

vinculatório, conforme explicamos no tópico referente ao exame de corpo de delito. O gabarito


da questão é, portanto, a alternativa “A”, anulando por si só as demais alternativas.

Questão 8

(QUADRIX – CRO-PB – FISCAL 2018) O TERMO ATESTADO DE ÓBITO É CONSTANTEMENTE

UTILIZADO DE MANEIRA EQUIVOCADA. EM VERDADE, NÃO EXISTE DOCUMENTO COM ESSE


NOME. PARALELAMENTE AO QUE ACONTECE POR OCASIÃO DE UM NASCIMENTO, QUANDO

SE EMITE UMA DECLARAÇÃO DE NASCIDO VIVO E O CARTÓRIO EMITE UMA CERTIDÃO DE

81
NASCIMENTO, COM A CONSTATAÇÃO DA MORTE, EMITE‐SE UMA DECLARAÇÃO DE ÓBITO E
O CARTÓRIO EMITE UMA CERTIDÃO DE ÓBITO.

COSTA FILHO, PEG. MEDICINA LEGAL E CRIMINALÍSTICA. 2.ª ED. BRASÍLIA: ALUMNUS, 2015
(COM ADAPTAÇÕES).

COM BASE NO TEXTO ACIMA, JULGUE O ITEM A SEGUIR NO QUE DIZ RESPEITO AOS

DOCUMENTOS ODONTOLEGAIS E PROFISSIONAIS.

ENTRE OS DOCUMENTOS ODONTOLEGAIS CUJA PRERROGATIVA DE ELABORAÇÃO SEJA DO


CIRURGIÃO‐DENTISTA, NÃO ESTÁ A DECLARAÇÃO DE ÓBITO.

( ) CERTO

( ) ERRADO

Comentário:

● O enunciado está CORRETO, uma vez que são documentos odontolegais a notificação
compulsória, o atestado, o relatório, o parecer e o depoimento oral.

Questão 9

(INSTITUTO AOCP – PC ES – MÉDICO LEGISTA 2019) EM UM EXAME DE UMA CRIANÇA COM

DIVERSAS LESÕES E FERIDAS NO CORPO, O MÉDICO-LEGISTA SUSPEITOU ESTAR DIANTE DE


UM CASO DA SÍNDROME DA CRIANÇA MALTRATADA. COMO ELE NÃO DEVERIA AGIR PARA

ALCANÇAR TAL DIAGNÓSTICO?

A) DESCREVER AS LESÕES QUANTO À FORMA, AO TIPO, À LOCALIZAÇÃO E AO NÚMERO.


82
B) REALIZAR ESTUDO RADIOLÓGICO PARA VERIFICAR FRATURAS E CALCIFICAÇÕES ÓSSEAS EM
DIFERENTES ESTÁGIOS.

C) REALIZAR A ENTREVISTA, SEMPRE QUE POSSÍVEL, NA PRESENÇA DO RESPONSÁVEL.

D) VERIFICAR A ESCASSEZ DE TECIDO SUBCUTÂNEO RELACIONADO À PRIVAÇÃO DE


ALIMENTO.

E) VERIFICAR PRESENÇA DE INFESTAÇÕES DE PARASITAS RELACIONADA À NEGLIGÊNCIA.

Comentário:

● Segundo Genival, “os maus-tratos a crianças, que vão desde a prisão e o isolamento
em ambientes insalubres até os espancamentos brutais seguidos de morte. (...)Os
autores desses meios cruéis são geralmente padrastos, pais jovens ou familiares
diretos (...)As crianças mais novas que não sabem manifestar-se de outra forma
choram quando se aproximam delas determinadas pessoas.". Genival Veloso de
França- FRANÇA, Genival Veloso de. Medicina Legal, Editora Guanabara Koogan, 10ª
edição, 2015, p. 389/390
Logo, suspeita-se que a criança esteja sendo maltratada pelo responsável, permitir a
sua presença não contribuirá para descobrir algo, ainda mais quando é o responsável
que está causando a situação, sendo portanto, a alternativa C incorreta. Alternativa
A correta: os peritos devem descrever as lesões quanto a forma, ao tipo, a localização
e ao número. Alternativa B correta: devem também realizar um estudo radiológico
para verificar se houve alguma fratura ou calcificação óssea em diferentes estágios
no corpo da vítima. Alternativa D correta: Além disso, os peritos devem verificar a
escassez de tecido subcutâneo relacionado à privação de alimento, Alternativa E
correta: Também devem verificar se há a presença de infestações de parasitas
relacionadas à negligência.

83
Questão 10

(CESPE – POLÍCIA FEDERAL – PERITO CRIMINAL FEDERAL – AREA 12 - 2018)

COM RELAÇÃO ÀS PERÍCIAS MÉDICAS NOS ÂMBITOS CÍVEL, ADMINISTRATIVO E


PREVIDENCIÁRIO, JULGUE O ITEM QUE SEGUE.

NOS CASOS DE PERÍCIAS NO ÂMBITO PREVIDENCIÁRIO, TODO INDIVÍDUO INVÁLIDO PODE


SER CONSIDERADO ALIENADO MENTAL.

( ) CERTO

( ) ERRADO

Comentário:

● De acordo com a lista do art. 151 da Lei 8.213/91 e anexo XLV da IN 77/2015, é
passível de Tuberculose ativa, hanseníase, alienação mental, esclerose múltipla,
hepatopatia grave, neoplasia maligna, cegueira, dentre outras. Ou seja, a alienação
mental é apenas uma das hipóteses de concessão de previdência por invalidez, assim
sendo, o enunciado está errado!

84
GABARITO

Questão 1 - CERTO

Questão 2 - C

Questão 3 - A

Questão 4 - E

Questão 5 - B

Questão 6 - C

Questão 7 - A

Questão 8 - CERTO

Questão 9 - C

Questão 10 - ERRADO

85
QUESTÃO DESAFIO

O Uso de Drogas e Embriaguez são causas de comunicação


compulsória? Qual a consequência jurídica para o profissional que
deixar de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é
compulsória?

Responda em até 5 linhas

86
GABARITO QUESTÃO DESAFIO

Não. O uso de drogas ou embriaguez, não configuram condições de notificação


compulsória, não obrigando ou gerando responsabilidade ao profissional de saúde que não

as comunicar. O médico que deixar de denunciar à autoridade doença cuja notificação é


compulsória comete o crime do Art. 269 do CP.

Você deve ter abordado necessariamente os seguintes itens em sua resposta:

⮚ Não configuram condições de not. Compul

As notificações, de acordo com Ferreira (Coleção Sinopses para Concursos - Medicina Legal, 41.

Salvador: Juspodivm. 2020, p.89)

“São comunicações compulsórias feitas pelos médicos às autoridades competentes acerca de


um fato profissional, seja por necessidade social, sanitária, doenças contagiosas etc.”

Por muito tempo, o uso de drogas ilícitas e embriaguez já foram condições de notificação

compulsória, no entanto, Não são mais notificados, de forma compulsória, os viciados em


substâncias capazes de determinar dependência física ou psíquica, conforme determinava a Lei

n o 6.368, de 21 de outubro de 1976.

É o que determina França (Medicina legal / Genival Veloso de França. -- 11. ed. -- Rio de Janeiro
: Guanabara Koogan, 2017., n.p.):

‘São comunicações compulsórias feitas pelos médicos às autoridades competentes de um fato

profissional, por necessidade social ou sanitária, como acidentes de trabalho, doenças


infectocontagiosas, crimes de ação pública que tiverem conhecimento e não exponham o cliente

a procedimento criminal e a morte encefálica, quando em instituição de saúde pública ou


privada, de acordo com o artigo 12 da Lei n o 8.489, de 18 de novembro de 1992. Não são
87
mais notificados, de forma compulsória, os viciados em substâncias capazes de determinar
dependência física ou psíquica, conforme determinava a Lei n o 6.368, de 21 de outubro de

1976.”

⮚ Comete o crime previsto no art. 269 do CP

O art. 269 do CP informa que:

Omissão de notificação de doença Art. 269 - Deixar o médico de denunciar à autoridade pública
doença cuja notificação é compulsória: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e

multa.

Assim, o profissional que tenha a obrigação de realizar a notificação a cerca de um fato


profissional, seja por necessidade social, sanitária, doenças contagiosas à autoridade pública,

cometerá o crime tipificado no art. 269 do CP.

De acordo com Júnior (Manual de medicina legal / Delton Croce e Delton Croce Jr. — 8. ed. —
São Paulo : Saraiva, 2012., n.p.):

“As notificações são comunicações compulsórias às autoridades competentes de um fato médico

sobre moléstias infectocontagiosas e doenças do trabalho. Embora se impute a todo ser


humano, por dever de solidariedade, a notificação de doenças infectocontagiosas de que tenha

conhecimento, e assim impedir o evento, só o médico que se omite, não havendo participação
criminosa, comete o crime tipificado no art. 269 do Código Penal: “Deixar o médico de denunciar

à autoridade pública doença cuja notificação é compulsória”. Admite-se a participação criminosa


se o médico se omite a pedido do doente maior e capaz ou de seu responsável (art. 29 do CP).
Trata-se de delito especial, omissivo próprio, que ocorre na simples abstenção da atividade

devida pelo profissional de Medicina. A inação non facere, o “deixar de comunicar” é que
constitui em si o crime, sendo irrelevante a motivação do agente. O delito consuma-se na

omissão daquele que, devendo e podendo atuar para evitar o evento lesivo no caso concreto,
apesar de ser ele previsível, não o faz, por inércia psíquica, por preguiça mental, por displicência.”

88
LEGISLAÇÃO COMPILADA

Do exame de corpo de delito e das perícias em geral:

⮚ CPP: Art. 6º, I; Arts. 158 ao 184;


⮚ Lei 5.970/73:Art. 1º;

⮚ Lei 12.030/09: Art. 2º;

Dos peritos:

⮚ CPP: Arts. 275 ao 281;

⮚ CC: Art. 186;


⮚ CPC/15: Art. 158;

Dos assistentes técnicos:

⮚ CPP: Art. 159, §§ 3º, 4º, 5º e 6º;

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MAPA MENTAL

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

GOMES, Vital Amintas. Manual do Delegado – Teoria e Prática, 7ª ed., atual e ampl./Rodolfo Queiroz Laterza. Rio
de Janeiro: Forense, 2012.

FRANÇA; Genival Veloso de. Medicina Legal, 9ª Ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2014.

BITTAR, Neuza. Medicina Legal e noções de Criminalística. 9ª edição. 2020, Salvador: Juspodivm.

FERREIRA, Wilson Luiz Palermo. Coleção Sinopses para Concursos – Medicina Legal 41, 2020. Salvador:
Juspodivm.

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