Você está na página 1de 49

DIREITO CIVIL

Prof.: Roberto Figueiredo


Procurador do Estado da Bahia e Advogado. Mestre em Direito pela
Universidade Federal da Bahia. Professor de Direito Civil do
Complexo de Ensino Renato Saraiva – CERS e da Universidade
Salvador (UNIFACS). Professor da Escola Superior de Magistrados
da Bahia – EMAB e da Escola Superior de Advocacia Orlando
Gomes – ESAB/OAB. Professor do curso Múltipla/CERS presencial
em Salvador. Palestrante e autor de artigos científicos.
Autor de Diversos Livros em Direito Civil, inclusive a coleção
completa para Concursos Públicos e do Manual de Direito Civil –
Volume único da Editora JusPodivm.
Manual de Direito Civil – volume único.
Editora JusPodivm.
Coleção de Sinopses para Concurso Público
@Roberto_Civil
Editora Juspodivm
https://t.me/joinchat/AAAAAFkYYWZrmHvBTgLonw

Professor Roberto Figueiredo

Cursos: www.aprenda.com.br/robertofigueiredo
ESTRUTURA GERAIS DA OBRIGAÇÃO
Sumário • 1. Estrutura ou Elementos Constitutivos da Obrigação: 1.1. Elemento
Subjetivo ou Pessoal da Obrigação: Sujeitos da Relação Obrigacional; 1.2.
Elemento Objetivo ou Material da Obrigação: A Prestação; 1.3. Elemento
Imaterial, Virtual ou Espiritual da Obrigação: Vínculo Jurídico – 2. A Causa nas
Obrigações – 3. Fonte das Obrigações: 3.1.Fontes Históricas do Direito Romano;
3.2. Fontes Modernas das Obrigações; 3.3. Fontes Contemporâneas das
Obrigações.
ESTRUTURA OU ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA OBRIGAÇÃO

Como relação jurídica que o é, a obrigação é constituída por elementos. Vamos


dissecar a obrigação através da separação de cada um dos seus elementos
constitutivos, de modo a reconstruí-la e significá-la.
Tratando-se a obrigação de uma relação jurídica subjetiva e prestacional, não
há dúvidas de que a estrutura há de contemplar pessoas (elementos
subjetivos), a prestação (elemento objetivo ou material) e, evidentemente, um
vínculo jurídico que unam as pessoas à prestação (elemento virtual).
Sinteticamente, os elementos da estrutura da relação jurídica obrigacional são:
Elemento Subjetivo ou Pessoal da Obrigação: Sujeitos da Relação
Obrigacional

Sempre que o direito aborda o elemento subjetivo, remete, em verdade, aos


sujeitos da relação. Sob esta perspectiva, a ênfase é dada às pessoas que estão
contidas no laço obrigacional, seja no polo ativo (sujeitos ativos), seja no polo
passivo (sujeitos passivos). Assim:

(i) O sujeito ativo da relação obrigacional é o credor da prestação, seja


ela positiva ou negativa. Pode ser qualquer pessoa, capaz ou incapaz,
natural ou jurídica, pois basta ser pessoa para ser sujeito de direitos e
exercer a personalidade jurídica, tendo aptidão genérica para titularizar
direitos e contrair deveres (CC, art. 1º). O sujeito ativo titulariza o direito de
(ii) O sujeito passivo da relação obrigacional é o devedor da prestação,
podendo ser esta positiva ou negativa. Também pode ser qualquer pessoa,
capaz ou incapaz, natural ou jurídica, pois basta ser pessoa para titularizar,
em tese, direitos e deveres, como já posto. O sujeito passivo é quem deve
adimplir a prestação.
ATENÇÃO!
Em situações específicas entes despersonalizados podem figurar como credor e/ou devedor de uma dada
relação jurídica. Exemplifica-se com o Espólio, que poderá figurar em um eventual contrato de locação,
ocupando posição que remete a créditos e débitos.
O exemplo dado remete, ainda, à percepção de que em relações obrigacionais complexas a mesma pessoa
é, ao mesmo tempo, credora e devedora de prestações, titularizando débitos e créditos. É o que acontece
com aquele que titulariza uma posição em um contrato, a exemplo de um prestador de serviços. Este terá
créditos, como o direito à remuneração, e débitos, como o dever de cumprir à obrigação.
O direito das obrigações se caracteriza, entre outras coisas, pela
transmissibilidade (função econômica da obrigação). Dessa forma é
perfeitamente possível que sujeitos de uma relação subjetiva originária sejam
substituídos, tanto por um ato inter vivos como mortis causa. A exceção à
transmissibilidade, porém, será percebida na seara das obrigações
personalíssimas, as quais não admitem a troca de sujeitos.
Os sujeitos podem ser determinados ou determináveis, desde que estes
possam, a posteriori, ser identificados (indeterminabilidade subjetiva). Leia-se: é
possível ser determinável até o momento do pagamento (solutio da obrigação). O
que não se admite, porém, é uma indeterminação absoluta.
Sujeitos previamente determinados são facilmente verificados, a exemplo de
um contrato celebrado entre João e Pedro, no qual este deverá ministrar uma
aula àquele. Pedro é o devedor e João o credor. Ambos previamente
determinados.
E quando há sujeitos determináveis?

O exemplo mais corriqueiro de sujeito ativo determinável é a promessa de


recompensa. Esta ocorre, por exemplo, quando há o oferecimento de uma
recompensa para aquele que encontrar um cachorro. O credor será, justamente,
quem aparecer com o animal.
Já o sujeito passivo determinável verifica-se nas hipóteses das obrigações
propter rem, nas quais será o devedor da obrigação o titular do direito real, como
já enfrentado nesta obra. Outro exemplo, agora lembrado por ORLANDO GOMES,
são os títulos ao portador. Tanto a obrigação propter rem, como as de título ao
portador, são ambulatoriais, pois, de forma congênita, possuem um sujeito
mundano.
. Op. Cit. 22.
Seguindo na análise do elemento subjetivo, ele sempre haverá de ser
dúplice. Tal duplicidade corresponde aos centros de interesse da relação jurídica.
Sem a presença simultânea dos sujeitos ativos e passivos não há de se falar em
obrigação. Trata-se, sem dúvida alguma, de um fator constitutivo imprescindível à
configuração do instituto.
Ninguém será credor de si mesmo, sob pena de configuração da confusão e
consequente extinção do vínculo. Exatamente por isto é que MARIA HELENA DINIZ
adverte que “se, p. ex., houver fusão desses sujeitos numa só pessoa, ter-se-á a
extinção da obrigação (CC, art. 381), sem que haja qualquer cumprimento da
prestação. É o que sucederá se, em virtude de testamento, o herdeiro receber do
de cujus um título de crédito contra si mesmo”.
. In Curso de Direito Civil Brasileiro. 24. ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2009, p. 49.
Ainda em relação aos sujeitos é possível que cada polo da relação obrigacional
possa ser plural ou unitário. A pluralidade de sujeitos, inclusive, pode ser
originária ou superveniente. Percebe-se este raciocínio em vista de ser a noção
de sujeitos mais ampla do que a de pessoa. Por conseguinte, tem-se como
possível que os sujeitos da relação obrigacional sejam compostos por várias
pessoas. Leia-se: o sujeito ativo pode ser composto por três credores, enquanto o
sujeito passivo por cinco devedores, por exemplo.
À guisa de exemplificação, pode-se verificar a pluralidade superveniente de
sujeitos nos casos em que determinada pessoa é credora de uma obrigação
transmissível e vem a falecer antes da extinção da mesma, possuindo vários
herdeiros. Nesta hipótese, o polo ativo da obrigação passará a ser composto
pelos sucessores do falecido, sendo o mesmo formado, a partir deste momento,
por diversos sujeitos, não se tratando mais de sujeito ativo unitário, e sim de uma
pluralidade de sujeitos.
ATENÇÃO!
É possível haver figuras secundárias na relação obrigacional, tais como os representantes legais – pais,
tutores, curadores – e os núncios – que são meros transmissores da vontade do declarante, mensageiros
que não interferem na relação jurídica obrigacional.
Elemento Objetivo ou Material da Obrigação: A Prestação
No dizer de SÍLVIO DE SALVO VENOSA, trata-se do ponto material sobre o qual
incide a obrigação. Cuida-se da prestação, em última análise. Esta prestação se
mostra como atividade positiva ou negativa do devedor, consistindo, basicamente,
em dar, fazer ou não fazer.
Naturalmente a prestação deve ser possível, lícita, determinada ou
determinável. Portanto, os requisitos do art. 104 do CC devem estar presentes, a
fim de evitar o vício maior da invalidade do negócio jurídico. Em outras palavras:
a prestação deve se adequar à Teoria Geral dos Negócios Jurídicos e, portanto, à
parte geral do Código Civil, amplamente estudada quando da análise da parte
geral.
Questiona-se na doutrina se o caráter patrimonial é indispensável à
prestação?

. In Direito Civil. 7. ed. São Paulo: Editora Atlas, 2007, p. 15.

. Neste sentido Sílvio de Salvo Venosa faz referência ao art. 1.174 do Código Civil Italiano
segundo o qual “a prestação que constitui objeto da obrigação deve ser
suscetível de avaliação econômica e deve corresponder a um interesse, ainda
que não patrimonial, do credor”.
É usual na doutrina a informação segundo a qual a prestação deve ser
economicamente apreciável, tendo cunho patrimonial, pelo seu valor intrínseco ou em
razão da conversão em valor economicamente apreciável. Para muitos, este seria,
inclusive, o traço distintivo entre a obrigação e os demais deveres.
Cediço, porém, que em uma leitura sob a lente constitucional, o direito civil não mais
deve ser significado com foco no patrimônio, mas sim na pessoa. O direito civil foi
repersonificado e repersonalizado, falando-se em uma despatrimonialização, como
estudado na Parte Geral. Saímos da era do ter e ingressamos na do ser.
Nessa senda, na era do ter tinha-se como usual, na análise dos elementos do
direito obrigacional, a inserção da noção de patrimônio como inerente à prestação. Tal
linha de raciocínio, hodiernamente, vem perdendo força, principalmente quando
cotejada com as obrigações negativas (as quais não possuem conteúdo econômico
imediato). Todavia, registra-se, o tema ainda é divergente.
No particular, preferimos caminhar com LARENZ, para quem a prestação deve ser apenas algo
vantajoso, ainda que não patrimonial, a exemplo de uma retratação pública.

Quanto ao objeto, é possível afirmar que a obrigação contempla dois tipos: (i) objeto direto
ou imediato e (ii) objeto indireto ou mediato. Exemplifica-se:

(i) Objeto direto ou imediato: se traduz na atividade de dar (coisa certa ou coisa incerta), fazer
ou não fazer. É a prestação devida. A atividade humana que, evidentemente, há de ter
conteúdo patrimonial economicamente aferível e executável, ser lícita, determinada ou
determinável e possível.

(ii) Objeto indireto ou mediato: é o bem da vida, a coisa em si, tal como uma casa, um
automóvel, uma fazenda, um animal...
Elemento Imaterial, Virtual ou Espiritual da Obrigação: Vínculo Jurídico
Para unir os sujeitos ao objeto da obrigação é preciso criar uma fixação de natureza
exclusivamente jurídica. Virtual, no sentido de não ser palpável, a que se denomina de
elemento imaterial justificador. Este é o terceiro elemento do direito obrigacional,
aquilo que une os sujeitos em torno de uma prestação.
Este nexo, no dizer de FLÁVIO TARTUCE, é identificado no art. 391 do CC, segundo o
qual os bens do devedor respondem pelo inadimplemento da obrigação, ao que se
denomina de responsabilidade patrimonial do devedor, de natureza
negocial/contratual, já que a responsabilidade civil aquiliana (extracontratual) é
disciplinada no art. 927 do CC.
. Sobre o tema vide o Informativo 531 do STF, a súmula vinculante 25 e a súmula 419 do STJ.
Evidentemente que a expressão normativa “todos os bens do devedor”, como já
mencionado nesta obra, deve ser interpretada nos limites da dignidade humana e
do mínimo existencial, até mesmo porque o sistema jurídico afasta da penhora
alguns direitos e créditos, tais como os direitos da personalidade (CC, arts. 11
usque 21), o bem de família (Lei 8.009/90), as rendas, a remuneração e o salário
(CPC, 833) ...
. In Direito Civil. 4. ed. São Paulo: Editora Método. 2009, p. 38.
Versando sobre o vínculo imaterial ou jurídico, mister recordar a divergência entre correntes
doutrinárias acerca da quantidade de elementos a unirem a prestação aos sujeitos. Sobre o tema
há três correntes principais:

1. Corrente Monista ou Unitária – haveria uma só relação jurídica vinculando credor e devedor
através da prestação. Assim, o direito de exigir está inserido no dever de prestar. Portanto,
existiria um único elemento.
2. Corrente Dualista ou Binária – a relação contém dois vínculos (relação crédito/débito), ou
melhor: (a) um vínculo atinente ao dever do sujeito passivo de satisfazer a prestação em
face do credor; (b) outro relativo à autorização dada pela lei, ao credor que experimentou o
inadimplemento, de constranger o patrimônio do devedor.
O direito nacional caminha na trilha desta última corrente. No dizer de JUDITH
MARTINS-COSTA, a superação da doutrina monista pela dualista passa pela
distinção básica, feita no Direito Alemão, de dois importantes elementos sobre
os quais a obrigação é estruturada: a) Schuld/Debitum (dever legal de
adimplir) e b) Haftung/Obligation (responsabilidade patrimonial).
. In Comentários ao Novo Código Civil. Volume V, Tomo I. Coordenação Sálvio de
Figueiredo Teixeira. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2003.

. Op. Cit., p. 18.


IMPORTANTE!
Em síntese:
a)
Schuld é o dever de adimplir, executar a prestação. É o débito. Este dever jurídico cabe ao devedor, sendo
primário.
b)
Haftung é a responsabilidade, ou seja, diz respeito apenas à possibilidade de utilização do patrimônio para
garantir a satisfação da prestação. É a responsabilidade. Este dever jurídico é secundário.
Lembra ORLANDO GOMES8 que, nesse sentido, a relação obrigacional de crédito tem como fim imediato uma
prestação (débito) e remoto a sujeição do patrimônio do devedor (responsabilidade).
Afirma-se que o débito (Schuld) e a responsabilidade (Haftung), em regra, caminham juntos, sendo
corpo e sombra na difundida fala de LARENZ. Mas seria possível verificarmos o débito sem a
responsabilidade, ou a responsabilidade sem o débito?

Excepcionalmente, sim.
Iniciaremos com a hipótese de débito sem responsabilidade.

O débito existe de forma autônoma e independente, subsistindo mesmo que o direito não autorize a
constrição do patrimônio do devedor. Exemplo claro disto está nas obrigações imperfeitas, naturais ou
incompletas. Nestas há um débito, mas inexiste responsabilidade.
Assim, nas aludidas obrigações naturais, se houver o cumprimento obrigacional, em regra, o devedor
não poderá pleitear a repetição do indébito, pois existe débito! Fala-se, então, que são obrigações
irrepetíveis. Todavia, caso não haja o cumprimento do débito, não terá sucesso o credor com o pedido
coercitivo de cumprimento, pois inexiste a responsabilidade. São obrigações inexigíveis, e, por
conseguinte, imperfeitas, pois situadas entre a moral e o direito.
O primeiro exemplo de obrigações incompletas são as dívidas prescritas, nas quais
ainda existe o dever de adimplir, mas não há a possibilidade de constrangimento do
patrimônio do devedor.
Outro exemplo sempre lembrado são as dívidas de jogo ou aposta. Porém, aqui, é
necessária atenção. Primeiramente, há quem diferencie o jogo da aposta e, além disto, nem
toda dívida de jogo ou aposta é uma obrigação imperfeita.
Jogo, juridicamente apreciado, é o contrato aleatório em que duas ou mais pessoas
prometem certa soma àquela, dentre as contratantes, a quem for favorável o azar. Já a
aposta é o contrato, igualmente aleatório, em que duas ou mais pessoas, de opinião
diferente sobre qualquer assunto, concordam em perder certa soma em favor da outra,
entre as contraentes, cuja opinião se verificar verdadeira. Este é o conceito veiculado em
diversos manuais e atribuído a CLÓVIS BEVILÁQUA.
No jogo há a participação ativa dos contraentes, da qual dependerá o resultado; enquanto
na aposta o acontecimento dependerá de ato incerto de terceiro ou de fato independente da
vontade dos contraentes, para certificar uma opinião.
O direito brasileiro dedica-se a diferenciar os jogos em ilícitos e lícitos, falando-se em jogos
proibidos, tolerados e autorizados. Veja-se:

a) Proibidos ou Ilícitos: São aqueles nos quais o ganho ou a perda dependem da sorte de um
e, consequentemente, azar de todos. Exemplifica-se com o jogo do bicho, roleta, jogo de
dados, etc. São os jogos de azar.

A súmula 51 do STJ afirma que “A punição do intermediador, no jogo do bicho, independe da


identificação do “apostador” ou do “banqueiro””. Além disto, o art. 50 da Lei das Contravenções
Penais afirma ser ilícito “Estabelecer ou explorar jogo de azar em lugar público ou acessível ao
público, mediante o pagamento de entrada ou sem ele.”
Tais jogos ilícitos são obrigações naturais, bem como os negócios de empréstimo para facilitação do aludido
jogo (art. 815 do CC).

b) Tolerados: Aqueles em que o resultado não depende exclusivamente da sorte, mas da habilidade dos
jogadores, como o bridge, a canastra e o pôquer.
Apesar de não consistirem em contravenções penais, a ordem jurídica não lhes regula os efeitos. Igualmente
se enquadram em obrigações naturais.
c) Autorizados ou Lícitos: Visam uma utilidade social, trazendo proveito e ganhos difusos, como o futebol e
o tênis. Outros estimulam atividades econômicas de interesse geral, como criação de cavalos. Há, ainda,
aqueles que geram benefícios para obras sociais ou eventos desportivos, como nos casos das loterias
federais.

Os autorizados são obrigações civis, perfeitas, havendo débito e responsabilidade pelo devedor. Na mesma
esteira, o art. 817 do Código Civil afirma que são lícitos “os sorteios para dirimir questões ou dividir coisas
comuns”.
E existe responsabilidade sem débito?

Excepcionalmente, sim. É possível haver situação onde há haftung, sem schuld,


como no caso de fiança, em que o fiador torna-se responsável por dívida alheia (CC,
art. 820). Isto é o que esclarece a doutrina de FLÁVIO TARTUCE. Recorda ORLANDO
GOMES, ainda, como exemplo, garantias reais, como o penhor e a hipoteca.

. In Direito Civil. 4. ed. São Paulo: Editora Método. 2009, p. 42.

. Op. Cit., p. 19.


ATENÇÃO!
Sistematizando:
a)
Debitum (Schuld) sem obligatio (Haftung): obrigação juridicamente inexigível. Obrigações imperfeitas a
exemplo das naturais.
b)
Obligatio (Haftung) sem debitum (Schuld): garantia conferida por um terceiro, como a fiança.
3. Corrente Eclética – os elementos débito e responsabilidade são essenciais,
reúnem-se e se completam constituindo uma unidade, ou, como afirma MARIA
HELENA DINIZ: “o dever primário do sujeito passivo de satisfazer a prestação e
o correlato direito do credor de exigir judicialmente o seu cumprimento,
investindo contra o patrimônio do devedor, visto que o mesmo fato gerador do
débito produz a responsabilidade”.

. In Curso de Direito Civil Brasileiro. 24. ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2009, p. 37/38.
Fazendo uma análise sistemática das teorias em comento, pode-se dizer:

Monista ou Unitária Dualista ou Binária Eclética


Origem francesa. Origem alemã. Minoritária
Majoritária.
Apenas uma relação Existem duas relações Os elementos débito e obrigação
jurídica. jurídicas estruturantes do são essenciais, se reúnem e se
elemento imaterial. completam.
O direito de exigir está O direito de exigir é O dever primário de satisfazer a
inserido no dever de diferente do dever de prestação e o correlato direito do
prestar. prestar. credor de constranger o
patrimônio se completam.
Apenas um elemento Dois elementos O mesmo fato gerador do débito
estruturante do vínculo estruturantes: o Shuld e o produz a responsabilidade.
jurídico. Haftung.
Corrente Superada. Corrente Atual. Corrente minoritária.
Não se aplica ao CC/02. Aplica-se ao CC/02 Não se aplica ao CC/02.
Do dito, percebe-se que prepondera, entre nós, a segunda teoria. Esta doutrina
(dualista/binária) é atribuída ao Alemão ALOIS BRINZ e foi desenvolvida no final do
século XIX, enxergando dois elementos básicos na obrigação: o débito (Schuld) e
a responsabilidade (Haftung) “sobre as quais a obrigação se encontra
estruturada”, segundo adverte JUDITH MARTINS-COSTA.

. In Comentários ao Novo Código Civil. Volume V, Tomo I. Coordenação Sálvio de


Figueiredo Teixeira. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2003.
A CAUSA NAS OBRIGAÇÕES

Será que a causa, o motivo, seria pressuposto essencial dos negócios


jurídicos? Seria o Código Civil causalista?

Sem dúvida, na sua Parte Geral o Código Civil apresenta preceitos onde é
demonstrada a preocupação do legislador com o motivo que deu causa ao
negócio jurídico. A título de exemplo, o art. 140 do CC trata do falso motivo,
expresso no negócio, como sua causa determinante, sendo apto a invalidá-lo
(nulidade relativa). Pode-se dizer que, na Parte Geral, temos um Código causal,
como já estudado no capítulo dos negócios jurídicos.
Na doutrina de SÍLVIO DE SALVO VENOSA deve ser entendido como causa do ato o fundamento, a
“razão jurídica da obrigação”, daí porque “como por vezes o ordenamento jurídico faz referência à causa,
é importante que a ela se faça referência”, sem ignorar, contudo, que a causa aqui tratada é a jurídica, e
não a de natureza pessoal. Arremata o autor:

Enquanto os motivos apresentam-se sob forma interna, subjetiva, a causa é externa e


objetiva, rígida e inalterável em todos os atos jurídicos da mesma natureza [...]
Não cumpre, aqui, adentrar em divagações filosóficas que mais importam às legislações que
trazem a causa como requisito essencial do negócio jurídico. Cabe apenas dar noção sobre o
tema. O Código Civil francês estatui que toda obrigação convencional deve ter uma causa,
indispensável a sua validade, devendo ser lícita (art. 1.808). É claro, para nós, que o objeto lícito
substitui essa noção.
. In Direito Civil. 7. ed. São Paulo: Editora Atlas, 2007, p. 37.

. In Direito Civil. 7. ed. São Paulo: Editora Atlas, 2007, p. 22.


Entrementes, seguindo as pegadas dos Códigos Civis Alemão e Suíço, o
Código Civil Brasileiro não contempla a causa como pressuposto essencial da
obrigação. Ao revés, opta por cuidar do objeto lícito (CC, art. 104), apesar de,
enviezadamente, tratar aqui, ou ali, da causalidade, como exemplificam os arts.
373 e 964.
ATENÇÃO!
Boa parte da doutrina não trata as expressões causa e motivo como sinônimas. Assim, afirmam alguns que
a causa é objetiva, externa e inalterável. O motivo é interno, particular e subjetivo, como bem pontua a
supracitada doutrina de Sílvio do Salvo Venosa.
FONTE DAS OBRIGAÇÕES
Para o Direito o signo fonte significa a origem de onde brotam as normas jurídicas.

Como sabemos, a norma é o grande gênero, dentro da qual, princípios e regras são
espécies. Dessa maneira, é correto afirmar que a fonte primária das obrigações é a
norma. Contudo, antes da norma encontramos o fato jurídico, de onde,
inegavelmente, são originadas obrigações. Afinal, como se diz desde Roma, ex facto
ius oritur (o direito nasce de um fato).
CRISTIANO CHAVES DE FARIAS E NELSON ROSENVALD bem esclarecem a respeito da
“enorme diversidade de posicionamentos na sistematização da classificação das
fontes das obrigações”. Identificam, por exemplo, o posicionamento dualista de CAIO
MÁRIO DA SILVA PEREIRA, segundo o qual duas seriam basicamente as fontes
obrigacionais: a vontade humana e a lei. Abordam, ainda, o pensamento de grande
parte dos civilistas, os quais “inserem os atos ilícitos dentre as fontes obrigacionais,
como ARNOLD WALD, SÍLVIO VENOSA, CARLOS ROBERTO GONÇALVES, WASHINGTON DE
BARROS MONTEIRO E SILVIO RODRIGUES”. Remetem ao entendimento de ORLANDO
GOMES, para quem “a rigor, não há obrigações derivadas imediatamente da lei”, mas
sim dos fatos que são condicionantes desta e constituem sua verdadeira fonte.
Tratando de forma ampla sobre o tema, abordaremos aqui as fontes históricas
do Direito Romano, as fontes modernas das obrigações e as fontes
contemporâneas.
. O tema foi devidamente enfrentado no volume dedicado à parte geral, para o qual se
remete o leitor.

. In Direito das Obrigações. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2006, p. 62.

. In Direito das Obrigações. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2006, p. 62.
Fontes Históricas do Direito Romano
Segundo PABLO STOLZE E RODOLFO PAMPLONA FILHO, na antiga Roma, GAIO classificaria as
fontes obrigacionais, posteriormente desenvolvidas nas Institutas de Justiniano, através do
contrato, quase contrato, delito e quase delito. Vejamos:

• Contrato: compreendido pelas convenções e avenças firmadas entre duas partes.


• Quase-Contrato: situações jurídicas parecidas com os contratos. Atos unilaterais, como a
gestão de negócios.
• Delito: ilícito doloso e enseja lesão ao patrimônio jurídico de outrem.
• Quase-Delito: ilícitos culposos configurados pela negligência, imperícia ou imprudência.
. In Novo Curso de Direito Civil. Vol. II. 6. ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2008, p. 22.
No mesmo sentido recorda SÍLVIO DE SALVO VENOSA a célebre máxima das Institutas de GAIO:
omnis obligatio vel ex contractu nascitur, vel ex delicto (as obrigações nascem dos contratos
e dos delitos). Contudo, no tópico Res Cotinianae o mesmo GAIO acrescenta uma terceira
categoria que não se enquadrariam nem nos contratos, nem nos delitos, do que surgiram os
quase-contratos. Na época Bizantina surge, da interpretação à obra de GAIO, a expressão quase-
delito, presente na obra de JUSTINIANO.

Importante recordar que em Roma Antiga a noção de lei emanava do Estado, ou até mesmo a
própria noção de Poder Público, não existia como hoje é conhecida. Daí porque a lei não era vista
como fonte primária.
O Código Civil Francês, que muito influenciou o Brasileiro, adotou a classificação romana,
fazendo apenas a inserção de uma quinta fonte: a lei. Aqui se inicia a classificação moderna das
obrigações.
. In Direito Civil. 7. ed. São Paulo: Editora Atlas, 2007, p. 44.
3.2. Fontes Modernas das Obrigações
Como ocorrera na modernidade, a noção de Estado restou consolidada, a
doutrina majoritária passou a sustentar que a lei seria a fonte primária e
imediata das obrigações, sendo este o entendimento a respeito do assunto que
se mantém até os dias de hoje. Contudo, esta própria doutrina apresentará
distintas perspectivas sobre as demais fontes obrigacionais, de modo que o tema
variará ao talante do doutrinador.
Com respeito aos demais doutrinadores, adotamos aqui a classificação de FLÁVIO
TARTUCE, para quem as fontes seriam a lei, os contratos, os atos ilícitos, o abuso de
direito, os atos unilaterais e os títulos de crédito, assim afirmando o doutrinador:

• Lei: fonte principal, primária e imediata das obrigações.


• Contratos: considerada também como fonte principal e que nada mais são do
que lei entre as partes, à luz do pacta sunt servanda, configurando-se mediante
“negócio jurídico bilateral ou plurilateral que visa a criação, modificação e extinção
de direitos e deveres com conteúdo patrimonial”.
• Atos ilícitos: fontes diretamente relacionadas com a Teoria da Responsabilidade Civil e que geram
o dever de indenizar, aí se incluindo o abuso do direito, modalidade específica de ato ilícito,
previsto no art. 187 do CC.
• Atos unilaterais: fontes decorrentes das declarações unilaterais de vontade, tais como a promessa
de recompensa (art. 854/860), a gestão de negócios (art. 861/875), o pagamento indevido (art.
876/883) e o enriquecimento sem causa (art. 884/886).
. In Direito Civil. 4 Edição. São Paulo: Editora Método. 2009, p. 45.

. Insista-se: existem doutrinadores que não enxergam na lei a fonte obrigacional por imaginarem que esta
somente a criaria se acompanhada de um fato jurídico antecedente. Neste sentido Orlando Gomes, assim citado
tanto por Flávio Tartuce, quanto por Pablo Gagliano Stolze e Rodolfo Pamplona Filho nas referências acima
indicadas. No mesmo sentido Fernando Noronha.

. In Direito Civil. 4 Edição. São Paulo: Editora Método. 2009, p. 50.


•Títulos de crédito: as cártulas, escritos e documentos que “trazem em seu bojo,
com caráter autônomo, a existência de uma relação obrigacional de natureza
privada” e cujo estudo está diretamente relacionado com o Direito Empresarial.
MARIA HELENA DINIZ entende que as obrigações possuem uma fonte imediata,
que é a lei, e três fontes mediatas, que são o ato ilícito, o negócio jurídico e o
ato jurídico em sentido estrito. Como se vê, a doutrina é sortida a respeito do
tema.
E qual são as fontes contemporâneas das obrigações?
. Flávio Tartuce in Direito Civil. 4. ed. São Paulo: Editora Método. 2009, p. 50.

. In Curso de Direito Civil Brasileiro. 24. ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2009, p. 60.
Fontes Contemporâneas das Obrigações

Não podemos ignorar que o Direito, na atualidade, sofre influência direta de novas
fontes obrigacionais, muitas, de certo modo, incompreendidas por boa parte da
doutrina. Exemplo impressionante é o da súmula vinculante e das decisões em
controle abstrato da constitucionalidade, que não apenas encerram efeitos erga
omnes, como também vinculantes aos demais Tribunais e à Administração Pública.
Quando o SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, por exemplo, proíbe o nepotismo através do
julgamento de um caso concreto, que acarreta a elaboração, naquela Suprema Corte,
de uma súmula vinculante, significa dizer que o Tribunal Constitucional faz nascer,
brotar uma nova fonte obrigacional, ora criando deveres jurídicos (gerais), ora
obrigações específicas a serem observadas por toda a comunidade.
Dessa forma, não é possível ignorar o fortalecimento da jurisprudência e,
principalmente, o surgimento de novas fontes obrigacionais, em vista desta
maneira de se enxergar o direito. As súmulas vinculantes e as decisões em sede
de controle abstrato de constitucionalidade são exemplos disto.
De igual modo, os princípios do direito perderam seu papel de coadjuvantes
(subalternos) e foram equiparados às leis, de modo que, na contemporaneidade,
são nítidas fontes diretas e imediatas das obrigações.
À luz do art. 113 do CC, a boa-fé e os usos e costumes também constituem
notáveis fontes obrigacionais.
Nesta esteira, às fontes modernas das obrigações devem ser acrescidas as
fontes contemporâneas.

Você também pode gostar