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ESTRUTURA GERAIS DA OBRIGAÇÃO
Sumário • 1. Estrutura ou Elementos Constitutivos da Obrigação: 1.1. Elemento
Subjetivo ou Pessoal da Obrigação: Sujeitos da Relação Obrigacional; 1.2.
Elemento Objetivo ou Material da Obrigação: A Prestação; 1.3. Elemento
Imaterial, Virtual ou Espiritual da Obrigação: Vínculo Jurídico – 2. A Causa nas
Obrigações – 3. Fonte das Obrigações: 3.1.Fontes Históricas do Direito Romano;
3.2. Fontes Modernas das Obrigações; 3.3. Fontes Contemporâneas das
Obrigações.
ESTRUTURA OU ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DA OBRIGAÇÃO
. Neste sentido Sílvio de Salvo Venosa faz referência ao art. 1.174 do Código Civil Italiano
segundo o qual “a prestação que constitui objeto da obrigação deve ser
suscetível de avaliação econômica e deve corresponder a um interesse, ainda
que não patrimonial, do credor”.
É usual na doutrina a informação segundo a qual a prestação deve ser
economicamente apreciável, tendo cunho patrimonial, pelo seu valor intrínseco ou em
razão da conversão em valor economicamente apreciável. Para muitos, este seria,
inclusive, o traço distintivo entre a obrigação e os demais deveres.
Cediço, porém, que em uma leitura sob a lente constitucional, o direito civil não mais
deve ser significado com foco no patrimônio, mas sim na pessoa. O direito civil foi
repersonificado e repersonalizado, falando-se em uma despatrimonialização, como
estudado na Parte Geral. Saímos da era do ter e ingressamos na do ser.
Nessa senda, na era do ter tinha-se como usual, na análise dos elementos do
direito obrigacional, a inserção da noção de patrimônio como inerente à prestação. Tal
linha de raciocínio, hodiernamente, vem perdendo força, principalmente quando
cotejada com as obrigações negativas (as quais não possuem conteúdo econômico
imediato). Todavia, registra-se, o tema ainda é divergente.
No particular, preferimos caminhar com LARENZ, para quem a prestação deve ser apenas algo
vantajoso, ainda que não patrimonial, a exemplo de uma retratação pública.
Quanto ao objeto, é possível afirmar que a obrigação contempla dois tipos: (i) objeto direto
ou imediato e (ii) objeto indireto ou mediato. Exemplifica-se:
(i) Objeto direto ou imediato: se traduz na atividade de dar (coisa certa ou coisa incerta), fazer
ou não fazer. É a prestação devida. A atividade humana que, evidentemente, há de ter
conteúdo patrimonial economicamente aferível e executável, ser lícita, determinada ou
determinável e possível.
(ii) Objeto indireto ou mediato: é o bem da vida, a coisa em si, tal como uma casa, um
automóvel, uma fazenda, um animal...
Elemento Imaterial, Virtual ou Espiritual da Obrigação: Vínculo Jurídico
Para unir os sujeitos ao objeto da obrigação é preciso criar uma fixação de natureza
exclusivamente jurídica. Virtual, no sentido de não ser palpável, a que se denomina de
elemento imaterial justificador. Este é o terceiro elemento do direito obrigacional,
aquilo que une os sujeitos em torno de uma prestação.
Este nexo, no dizer de FLÁVIO TARTUCE, é identificado no art. 391 do CC, segundo o
qual os bens do devedor respondem pelo inadimplemento da obrigação, ao que se
denomina de responsabilidade patrimonial do devedor, de natureza
negocial/contratual, já que a responsabilidade civil aquiliana (extracontratual) é
disciplinada no art. 927 do CC.
. Sobre o tema vide o Informativo 531 do STF, a súmula vinculante 25 e a súmula 419 do STJ.
Evidentemente que a expressão normativa “todos os bens do devedor”, como já
mencionado nesta obra, deve ser interpretada nos limites da dignidade humana e
do mínimo existencial, até mesmo porque o sistema jurídico afasta da penhora
alguns direitos e créditos, tais como os direitos da personalidade (CC, arts. 11
usque 21), o bem de família (Lei 8.009/90), as rendas, a remuneração e o salário
(CPC, 833) ...
. In Direito Civil. 4. ed. São Paulo: Editora Método. 2009, p. 38.
Versando sobre o vínculo imaterial ou jurídico, mister recordar a divergência entre correntes
doutrinárias acerca da quantidade de elementos a unirem a prestação aos sujeitos. Sobre o tema
há três correntes principais:
1. Corrente Monista ou Unitária – haveria uma só relação jurídica vinculando credor e devedor
através da prestação. Assim, o direito de exigir está inserido no dever de prestar. Portanto,
existiria um único elemento.
2. Corrente Dualista ou Binária – a relação contém dois vínculos (relação crédito/débito), ou
melhor: (a) um vínculo atinente ao dever do sujeito passivo de satisfazer a prestação em
face do credor; (b) outro relativo à autorização dada pela lei, ao credor que experimentou o
inadimplemento, de constranger o patrimônio do devedor.
O direito nacional caminha na trilha desta última corrente. No dizer de JUDITH
MARTINS-COSTA, a superação da doutrina monista pela dualista passa pela
distinção básica, feita no Direito Alemão, de dois importantes elementos sobre
os quais a obrigação é estruturada: a) Schuld/Debitum (dever legal de
adimplir) e b) Haftung/Obligation (responsabilidade patrimonial).
. In Comentários ao Novo Código Civil. Volume V, Tomo I. Coordenação Sálvio de
Figueiredo Teixeira. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2003.
Excepcionalmente, sim.
Iniciaremos com a hipótese de débito sem responsabilidade.
O débito existe de forma autônoma e independente, subsistindo mesmo que o direito não autorize a
constrição do patrimônio do devedor. Exemplo claro disto está nas obrigações imperfeitas, naturais ou
incompletas. Nestas há um débito, mas inexiste responsabilidade.
Assim, nas aludidas obrigações naturais, se houver o cumprimento obrigacional, em regra, o devedor
não poderá pleitear a repetição do indébito, pois existe débito! Fala-se, então, que são obrigações
irrepetíveis. Todavia, caso não haja o cumprimento do débito, não terá sucesso o credor com o pedido
coercitivo de cumprimento, pois inexiste a responsabilidade. São obrigações inexigíveis, e, por
conseguinte, imperfeitas, pois situadas entre a moral e o direito.
O primeiro exemplo de obrigações incompletas são as dívidas prescritas, nas quais
ainda existe o dever de adimplir, mas não há a possibilidade de constrangimento do
patrimônio do devedor.
Outro exemplo sempre lembrado são as dívidas de jogo ou aposta. Porém, aqui, é
necessária atenção. Primeiramente, há quem diferencie o jogo da aposta e, além disto, nem
toda dívida de jogo ou aposta é uma obrigação imperfeita.
Jogo, juridicamente apreciado, é o contrato aleatório em que duas ou mais pessoas
prometem certa soma àquela, dentre as contratantes, a quem for favorável o azar. Já a
aposta é o contrato, igualmente aleatório, em que duas ou mais pessoas, de opinião
diferente sobre qualquer assunto, concordam em perder certa soma em favor da outra,
entre as contraentes, cuja opinião se verificar verdadeira. Este é o conceito veiculado em
diversos manuais e atribuído a CLÓVIS BEVILÁQUA.
No jogo há a participação ativa dos contraentes, da qual dependerá o resultado; enquanto
na aposta o acontecimento dependerá de ato incerto de terceiro ou de fato independente da
vontade dos contraentes, para certificar uma opinião.
O direito brasileiro dedica-se a diferenciar os jogos em ilícitos e lícitos, falando-se em jogos
proibidos, tolerados e autorizados. Veja-se:
a) Proibidos ou Ilícitos: São aqueles nos quais o ganho ou a perda dependem da sorte de um
e, consequentemente, azar de todos. Exemplifica-se com o jogo do bicho, roleta, jogo de
dados, etc. São os jogos de azar.
b) Tolerados: Aqueles em que o resultado não depende exclusivamente da sorte, mas da habilidade dos
jogadores, como o bridge, a canastra e o pôquer.
Apesar de não consistirem em contravenções penais, a ordem jurídica não lhes regula os efeitos. Igualmente
se enquadram em obrigações naturais.
c) Autorizados ou Lícitos: Visam uma utilidade social, trazendo proveito e ganhos difusos, como o futebol e
o tênis. Outros estimulam atividades econômicas de interesse geral, como criação de cavalos. Há, ainda,
aqueles que geram benefícios para obras sociais ou eventos desportivos, como nos casos das loterias
federais.
Os autorizados são obrigações civis, perfeitas, havendo débito e responsabilidade pelo devedor. Na mesma
esteira, o art. 817 do Código Civil afirma que são lícitos “os sorteios para dirimir questões ou dividir coisas
comuns”.
E existe responsabilidade sem débito?
. In Curso de Direito Civil Brasileiro. 24. ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2009, p. 37/38.
Fazendo uma análise sistemática das teorias em comento, pode-se dizer:
Sem dúvida, na sua Parte Geral o Código Civil apresenta preceitos onde é
demonstrada a preocupação do legislador com o motivo que deu causa ao
negócio jurídico. A título de exemplo, o art. 140 do CC trata do falso motivo,
expresso no negócio, como sua causa determinante, sendo apto a invalidá-lo
(nulidade relativa). Pode-se dizer que, na Parte Geral, temos um Código causal,
como já estudado no capítulo dos negócios jurídicos.
Na doutrina de SÍLVIO DE SALVO VENOSA deve ser entendido como causa do ato o fundamento, a
“razão jurídica da obrigação”, daí porque “como por vezes o ordenamento jurídico faz referência à causa,
é importante que a ela se faça referência”, sem ignorar, contudo, que a causa aqui tratada é a jurídica, e
não a de natureza pessoal. Arremata o autor:
Como sabemos, a norma é o grande gênero, dentro da qual, princípios e regras são
espécies. Dessa maneira, é correto afirmar que a fonte primária das obrigações é a
norma. Contudo, antes da norma encontramos o fato jurídico, de onde,
inegavelmente, são originadas obrigações. Afinal, como se diz desde Roma, ex facto
ius oritur (o direito nasce de um fato).
CRISTIANO CHAVES DE FARIAS E NELSON ROSENVALD bem esclarecem a respeito da
“enorme diversidade de posicionamentos na sistematização da classificação das
fontes das obrigações”. Identificam, por exemplo, o posicionamento dualista de CAIO
MÁRIO DA SILVA PEREIRA, segundo o qual duas seriam basicamente as fontes
obrigacionais: a vontade humana e a lei. Abordam, ainda, o pensamento de grande
parte dos civilistas, os quais “inserem os atos ilícitos dentre as fontes obrigacionais,
como ARNOLD WALD, SÍLVIO VENOSA, CARLOS ROBERTO GONÇALVES, WASHINGTON DE
BARROS MONTEIRO E SILVIO RODRIGUES”. Remetem ao entendimento de ORLANDO
GOMES, para quem “a rigor, não há obrigações derivadas imediatamente da lei”, mas
sim dos fatos que são condicionantes desta e constituem sua verdadeira fonte.
Tratando de forma ampla sobre o tema, abordaremos aqui as fontes históricas
do Direito Romano, as fontes modernas das obrigações e as fontes
contemporâneas.
. O tema foi devidamente enfrentado no volume dedicado à parte geral, para o qual se
remete o leitor.
. In Direito das Obrigações. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2006, p. 62.
. In Direito das Obrigações. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2006, p. 62.
Fontes Históricas do Direito Romano
Segundo PABLO STOLZE E RODOLFO PAMPLONA FILHO, na antiga Roma, GAIO classificaria as
fontes obrigacionais, posteriormente desenvolvidas nas Institutas de Justiniano, através do
contrato, quase contrato, delito e quase delito. Vejamos:
Importante recordar que em Roma Antiga a noção de lei emanava do Estado, ou até mesmo a
própria noção de Poder Público, não existia como hoje é conhecida. Daí porque a lei não era vista
como fonte primária.
O Código Civil Francês, que muito influenciou o Brasileiro, adotou a classificação romana,
fazendo apenas a inserção de uma quinta fonte: a lei. Aqui se inicia a classificação moderna das
obrigações.
. In Direito Civil. 7. ed. São Paulo: Editora Atlas, 2007, p. 44.
3.2. Fontes Modernas das Obrigações
Como ocorrera na modernidade, a noção de Estado restou consolidada, a
doutrina majoritária passou a sustentar que a lei seria a fonte primária e
imediata das obrigações, sendo este o entendimento a respeito do assunto que
se mantém até os dias de hoje. Contudo, esta própria doutrina apresentará
distintas perspectivas sobre as demais fontes obrigacionais, de modo que o tema
variará ao talante do doutrinador.
Com respeito aos demais doutrinadores, adotamos aqui a classificação de FLÁVIO
TARTUCE, para quem as fontes seriam a lei, os contratos, os atos ilícitos, o abuso de
direito, os atos unilaterais e os títulos de crédito, assim afirmando o doutrinador:
. Insista-se: existem doutrinadores que não enxergam na lei a fonte obrigacional por imaginarem que esta
somente a criaria se acompanhada de um fato jurídico antecedente. Neste sentido Orlando Gomes, assim citado
tanto por Flávio Tartuce, quanto por Pablo Gagliano Stolze e Rodolfo Pamplona Filho nas referências acima
indicadas. No mesmo sentido Fernando Noronha.
. In Curso de Direito Civil Brasileiro. 24. ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2009, p. 60.
Fontes Contemporâneas das Obrigações
Não podemos ignorar que o Direito, na atualidade, sofre influência direta de novas
fontes obrigacionais, muitas, de certo modo, incompreendidas por boa parte da
doutrina. Exemplo impressionante é o da súmula vinculante e das decisões em
controle abstrato da constitucionalidade, que não apenas encerram efeitos erga
omnes, como também vinculantes aos demais Tribunais e à Administração Pública.
Quando o SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, por exemplo, proíbe o nepotismo através do
julgamento de um caso concreto, que acarreta a elaboração, naquela Suprema Corte,
de uma súmula vinculante, significa dizer que o Tribunal Constitucional faz nascer,
brotar uma nova fonte obrigacional, ora criando deveres jurídicos (gerais), ora
obrigações específicas a serem observadas por toda a comunidade.
Dessa forma, não é possível ignorar o fortalecimento da jurisprudência e,
principalmente, o surgimento de novas fontes obrigacionais, em vista desta
maneira de se enxergar o direito. As súmulas vinculantes e as decisões em sede
de controle abstrato de constitucionalidade são exemplos disto.
De igual modo, os princípios do direito perderam seu papel de coadjuvantes
(subalternos) e foram equiparados às leis, de modo que, na contemporaneidade,
são nítidas fontes diretas e imediatas das obrigações.
À luz do art. 113 do CC, a boa-fé e os usos e costumes também constituem
notáveis fontes obrigacionais.
Nesta esteira, às fontes modernas das obrigações devem ser acrescidas as
fontes contemporâneas.