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NOÇÕES DE

DIREITO ADMINISTRATIVO
POLÍCIA MILITAR DE ALAGOAS
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

tipificam o Direito Administrativo, colocando a


Administração Pública numa posição privilegiada,
NOÇÕES DE DIREITO vertical, na relação jurídico-administrativa. Basicamente
pode-se dizer que o regime administrativo resume-se a
ADMINISTRATIVO duas palavras apenas: prerrogativas e sujeições”.
Marçal Justen Filho tem a seguinte definição: “o regime
jurídico de direito público consiste no conjunto de
PROGRAMA: normas jurídicas que disciplinam o desempenho de
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO: atividades e de organizações de interesse coletivo,
1 Princípios. vinculadas direta ou indiretamente à realização dos
2 Regime jurídico Administrativo. direitos fundamentais, caracterizado pela ausência de
3 Poderes da Administração Pública. disponibilidade e pela vinculação à satisfação de
4 Serviço Público. determinados fins”.
5 Atos Administrativos. Decorre do ensinamento de Celso Antônio Bandeira de
7 Bens Públicos. Mello que o regime de direito público resulta da
8 Administração Direta e Indireta. caracterização normativa de determinados interesses
9 Controle da Administração Pública. como pertinentes à sociedade e não aos particulares
10 Responsabilidade do Estado. considerados em sua individuada singularidade.
Juridicamente esta caracterização consiste, no Direito
Administrativo, segundo nosso modo de ver, na
atribuição de uma disciplina normativa peculiar que,
PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E REGIME fundamentalmente se delineia em função da
JURÍDICO ADMINISTRATIVO. consagração de dois princípios: a) supremacia do
interesse público sobre o privado; b) indisponibilidade,
pela Administração, dos interesses públicos.
Cumpre ressaltar que os dois princípios retro
REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO mencionados são considerados princípios implícitos,
entretanto, tem a mesma força jurídica que os
princípios expressos. Ademais são princípios basilares
da Administração Pública constituindo a base de todo o
sistema normativo sendo, portanto, de alta relevância
O regime jurídico administrativo consiste importante
no ordenamento jurídico em geral. Dessa forma, o
tema no contexto jurídico Brasileiro. Trata-se do
princípio da supremacia do interesse público sobre o
conjunto de regras e princípios que estruturam o Direito
interesse privado e o princípio da indisponibilidade do
Administrativo lhe conferindo autonomia enquanto um
interesse público, informam todo o Direito
ramo autônomo da ciência jurídica. Para tanto,
Administrativo e constituem, por sua vez, o chamado
necessário será analisar os princípios concernentes ao
regime jurídico administrativo.
tema, a fim de melhor compreendê-lo.
Neste sentido Di Pietro expõe que “ao mesmo tempo
em que as prerrogativas colocam a Administração em
1. O CONCEITO DE REGIME JURÍDICO posição de supremacia perante o particular, sempre
ADMINISTRATIVO com o objetivo de atingir o benefício da coletividade, as
Na Constituição da República Federativa do Brasil, restrições a que está sujeita limitam a sua atividade a
encontramos um conjunto de princípios e normas, os determinados fins e princípios que, se não observados,
implicam desvio de poder e conseqüente nulidade dos
quais norteiam a atividade desempenhada pelos
agentes encarregados de zelar pela coisa pública. Desse atos da Administração. O conjunto das prerrogativas e
restrições a que está sujeita a Administração e que não
modo, conjugando as regras e os princípios que
estruturam a Administração Pública Brasileira, tem-se o se encontram nas relações entre particulares constitui o
regime jurídico administrativo. regime jurídico administrativo. Muitas dessas
prerrogativas e restrições são expressas sob a forma de
Maria Sylvia Zanella Di Pietro ensina que “a expressão princípios que informam o direito público e, em
regime jurídico administrativo é reservada tão-somente especial, o Direito Administrativo”.
para abranger o conjunto de traços, de conotações que

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Imperioso concluir esse tema com as palavras de Raquel direitos e deveres não se estendem aos particulares,
de Carvalho que elucida o seguinte: salvo quando lhe for delegado a execução de algum
serviço público, através de concessão ou permissão, por
“um Estado, para ser Democrático de Direito, deve
exemplo.
encarar a tarefa de tutelar a primazia do bem comum,
tanto na mediação das relações privadas, quanto no Quando mencionamos que a Administração Pública
exercício das competências públicas. Os efeitos danosos promove o bem-estar coletivo, queremos enfatizar que
do individualismo característico do mundo ela tem o dever de buscar o interesse público. Vale
contemporâneo alastram-se nas relações privadas e até ressaltar que este interesse é pertencente ao povo,
mesmo no cumprimento dos deveres estatais. É grave o sendo, desse modo, indisponível. Assim cabe a
resultado da falta de consciência de que existe um Administração Pública buscar a primazia do bem
interesse social que, em determinadas realidades, pode comum, sem, no entanto, transferir a terceiros a
transcender o particular e que deve sobre o último administração desse interesse público, pois faz parte da
prevalecer. Se o século XXI nasceu sob o signo do função administrativa protegê-lo.
individualismo egoísta, cumpre ao jurista estruturar o
Pois bem. Dado o conceito de regime jurídico
sistema normativo de modo a combater as
administrativo, cabe salientar que, em regra, os
conseqüências desastrosas de tal vício quando atinge as
doutrinadores enumeram, os princípios da legalidade,
instituições públicas. O regime jurídico administrativo
igualdade, impessoalidade, moralidade, publicidade,
deve necessariamente reconhecer que:
eficiência, supremacia do interesse público,
a) a supremacia do interesse público primário razoabilidade, proporcionalidade, motivação e controle
(pertinente a toda sociedade) é princípio integrante do da Administração como integrantes do regime jurídico
regime jurídico administrativo; administrativo. Vale destacar que a doutrina clássica
adota a posição que a legalidade, a supremacia e a
b) é possível que haja, em dadas situações,
indisponibilidade do interesse público são princípios
convergência entre interesses privados e interesse
fundantes do regime mencionado.
público ou atividade particular protetora do bem
comum, sem qualquer tensão que torne necessário Diante do que foi exposto, para fins deste trabalho
falar-se na primazia do interesse público; monográfico, é fundamental discorrer sobre os
princípios previstos no artigo 37 da Constituição Federal
c) na hipótese de conflito entre interesse publico e
de 1988 e sobre os princípios da supremacia e
interesses privados, a proteção constitucional à
indisponibilidade do interesse público. Portanto, mãos à
dignidade da pessoa humana e aos direitos
obra.
fundamentais não embasa a negativa de predomínio do
bem comum, sendo este o interesse geral a ser tutelado
pela Administração, o que não significa arbítrio ou
2. PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS EXPRESSOS
autoritarismo, mas efetividade do Estado Democrático
de Direito; Estão previstos no artigo 37, caput, da Constituição da
República de 1988. A seguir passamos a descrever os
d) não conduz à negação da primazia do interesse
princípios constitucionais expressos fundamentais, os
público primário o fato deste não ser sempre único,
quais são aplicáveis a todos os institutos do Direito
claramente identificável e incidente, de modo exclusivo,
Administrativo.
em uma dada realidade; o caráter dinâmico e a
multiplicidade de interesses públicos inerentes ao São, portanto, 5 (cinco) os princípios constitucionais da
mundo contemporâneo apenas torna cabível a técnica Administração Pública. Para facilitar a sua
da ponderação entre os diversos interesses, em face de memorização, utilize a palavra mnemônica:
cada situação específica, à luz da proporcionalidade”. "L I M P E":
Concluímos que, o regime jurídico administrativo trava L egalidade;
no sentido de estabelecer, entre o administrador
público e seus administrativos, um tratamento próprio e I mpressoalidade;
peculiar diferente daquele travado entre os M oralidade;
particulares. Surge da relação entre administrador
público e particulares um conjunto de direitos P ublicidade e;
(prerrogativas) e deveres (limitação) que a lei confere à E ficiência.
Administração Pública, tendo em vista que ela atua em
busca do bem-estar coletivo. Ressalta-se que esses

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Além destes, expressamente enumerados, há outros protetora que os particulares têm em relação à
que emergem do Texto Constitucional: Administração. É de se notar que a Administração atua
em nossas vidas com poderes muito grandes, e se não
- Princípio da Licitação Pública;
houvesse o princípio da legalidade, a máquina
- Princípio da prescritibilidade dos ilícitos administrativa poderia ser utilizada sem qualquer
administrativos; controle e sem a devida atenção que o interesse público
- Princípio da responsabilidade civil da Administração; merece. Assim esse princípio representa um escudo
para que a Administração não abuse dos seus poderes.
- Princípio da razoabilidade (ou proporcionalidade) e;
Como aplicação ao princípio da legalidade, foram
- Princípio da supremacia do interesse público. editadas as seguintes súmulas, ambas do Supremo
Cumpre registrar que há, ainda, princípio do controle Tribunal Federal:
judicial dos atos administrativos e o princípio da Súmula 346: “A administração pública pode declarar a
motivação. nulidade de seus próprios atos”.
Súmula 473: “A administração pode anular seus
Vamos tratar aqui dos princípios básicos da próprios atos, quando eivados de vícios que os tornam
Administração Pública, entendidos como tais aqueles 5 ilegais, porque deles não se originam direitos; ou
(cinco) enumerados no "caput" do art. 37 da Lei revogá-los, por motivo de conveniência ou
Magna. oportunidade, respeitados os direitos adquiridos e
ressalvada, em todos os casos, a apreciação judicial”.
1 – Legalidade: também chamado de princípio da
juridicidade, exige adequação de toda e qualquer 2 – Impessoalidade: princípio da isonomia no Direito
conduta administrativa a todo o ordenamento jurídico, Administrativo. Não significa dar o mesmo tratamento a
nele estando incluídos todas as normas e todos os todos, mas sim, um tratamento igual para os iguais e
princípios. Enquanto o particular é livre para fazer tudo para os desiguais, um tratamento desigual, na medida
o que não seja proibido, a Administração só pode agir se em que se desigualam, como ensinava Pontes de
a lei ordenar, nos termos que a lei traz, no Miranda. Desse modo, é possível um tratamento
condicionamento da lei e no tempo que a lei determina. privilegiado desde que ele venha expressamente
Se a lei não traz qualquer comando, a Administração previsto em lei e esteja em conformidade com o
não pode agir. interesse da sociedade.

Para Di Pietro, “este princípio, juntamente com o de A título de exemplo, o Estatuto do Idoso prevê
controle da Administração pelo Poder Judiciário, nasceu privilégios para quem é considerado idoso. Isso,
com o Estado de Direito e constitui uma das principais contudo, não fere o princípio da impessoalidade, tendo
garantias de respeito aos direitos individuais. Isto em vista que a sociedade brasileira prevê tal
porque a lei, ao mesmo tempo em que os define, tratamento como decorrente do princípio da dignidade
estabelece também os limites da atuação administrativa da pessoa humana. É o que também ocorre com o
que tenha por objeto a restrição ao exercício de tais tratamento especial dispensado às micro empresas e
direitos em benefício da coletividade. É aqui que melhor empresas de pequeno porte, uma vez que, como
se enquadra aquela idéia de que, na relação atende aos interesses da sociedade porque gera
administrativa, a vontade da Administração Pública é a empregos e promove a circulação de renda, o
que decorre da lei”. tratamento é isonômico.

Segundo José dos Santos “o princípio da legalidade é Na feliz síntese de José dos Santos Carvalho Filho “o
certamente a diretriz básica da conduta dos agentes da princípio objetiva a igualdade de tratamento que a
Administração. Significa que toda e qualquer atividade Administração deve dispensar aos administrados que se
administrativa deve ser autorizada por lei. Não o sendo, encontrem em idêntica situação jurídica. Nesse ponto,
a atividade é lícita. Tal postulado, consagrado após representa uma faceta do princípio da isonomia. Por
séculos de evolução política, tem por origem mais outro lado, para que haja verdadeira impessoalidade,
próxima a criação do Estado de Direito, ou seja, do deve a Administração voltar-se exclusivamente para o
Estado que deve respeitar as próprias leis que edita”. interesse público, e não para o privado, vedando-se, em
conseqüência, sejam favorecidos alguns indivíduos em
O princípio da legalidade é considerado pelo Direito detrimento de outros e prejudicados alguns para
Constitucional como uma das maiores conquistas do favorecimento de outros”.
povo, porque a legalidade é, na verdade, uma barreira

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Celso Antônio Bandeira de Mello ensina que “no texto mesmo tempo, contempla os instrumentos processuais
constitucional há, ainda, algumas referências a adequados à proteção dos cofres públicos, admitindo,
aplicações concretas deste princípio, como ocorre no entre outras, ações de natureza cautelar de seqüestro e
art. 37, II, ao exigir que o ingresso em cargo, função ou arresto de bens e o bloqueio de contas bancárias e
emprego público depende de concurso público, aplicações financeiras, sem contar, logicamente, a ação
exatamente para que todos possam disputar-lhes o principal de perdimento de bens, ajuizada pelo
acesso em plena igualdade. Idem, no art. 37, XXI, ao Ministério Público ou pela pessoa de direito público
estabelecer que os contratos com a Administração interessada na reconstituição de seu patrimônio lesado.
direta e indireta dependerão de licitação pública que Outro instrumento relevante de tutela jurisdicional é a
assegure igualdade de todos os concorrentes. O mesmo ação popular, contemplada no art. 5º, LXXIII, da vigente
bem jurídico também está especificamente resguardado Constituição. Pela ação popular, regulamentada pela Lei
na exigência de licitação para permissões e concessões nº 4.717, de 29/6/65, qualquer cidadão pode deduzir a
de serviço público (art. 175)”. pretensão de anular atos do Poder Público
contaminados de imoralidade administrativa. Por fim,
Isto quer dizer que, o particular tem autonomia para
não se pode esquecer de também citar a ação civil
contratar quem quiser para a sua empresa. Já a
pública, prevista no art. 129, III, da CF, como uma das
Administração tem que observar o princípio da
funções institucionais do Ministério Público, e
impessoalidade devendo contratar, destarte, através de
regulamentada pela Lei nº 7.347, de 24/7/85, como
concurso público. O empresário pode contratar
outro dos instrumentos de proteção à moralidade
qualquer serviço e pelo valor que estiver de acordo. Por
administrativa”.
outro lado a Administração não tem autonomia de
vontade para isso, sendo necessário, portanto, a 4 – Publicidade: como a Administração não é titular do
realização de licitação para realizar contrato com aquele interesse público, o qual pertence ao povo, tudo aquilo
licitante que ofereceu a melhor proposta. que acontece na esfera administrativa deve ser
publicizado. É o dever de clareza e de transparência que
a Administração deve ter em relação aos titulares do
3 – Moralidade: obrigação de honestidade e de interesse público. A publicidade é também condição de
probidade. Ser honesto quer dizer ser fiel ao interesse validade dos atos administrativos, ou seja, apenas
público definido na lei. É exigido da Administração como quando se tornam claros, eles estão em conformidade
um todo, de cada agente público e também dos com a ordem jurídica.
particulares que se relacionam com a Administração.
Cumpre salientar que esse princípio traz duas únicas
Em Direito Administrativo a violação grave do dever de
exceções previstas no art. 5º, LX, quais sejam, restrição
moralidade é chamada de improbidade administrativa e
à publicidade determinada em lei para a proteção da
está prevista no artigo 37, parágrafo 4º, da CF/88 e na
intimidade (do particular ou do agente público) e o
lei nº 8.429/92.
interesse social.
Segundo Celso Antônio Bandeira de Mello, de acordo
O dever de motivação que a Administração Brasileira
com o princípio da moralidade “a Administração e seus
tem, ou seja, dever de expor por escrito as razões de
agentes tem de atuar na conformidade de princípios
fato e de direito que justificam a prática de qualquer
éticos. Violá-los implicará violação ao próprio Direito,
uma de suas condutas decorre do princípio da
configurando ilicitude que assujeita a conduta viciada a
publicidade.
invalidação, porquanto tal princípio assumiu foros de
pauta jurídica, na conformidade do art. 37 da Expõe José dos Santos Carvalho Filho que o princípio da
Constituição”. publicidade pode ser reclamado através de dois
instrumentos básicos: a) o direito de petição, pelo qual
José dos Santos Carvalho Filho, por sua vez, adverte que
os indivíduos podem dirigir-se aos órgãos
“a falta de moralidade administrativa pode afetar vários
administrativos para formular qualquer tipo de
aspectos da atividade da Administração. Quando a
postulação (art. 5º, XXXIV, ‘a’, CF); b) as certidões que,
imoralidade consiste em atos de improbidade, que,
expedidas por tais órgãos, registram a verdade de fatos
como regra, causam prejuízos ao erário público, o
administrativos, cuja publicidade permite aos
diploma regulador é a Lei nº 8.429, de 2/6/1992, que
administrados a defesa de seus direitos ou o
prevê as hipóteses configuradoras da falta de probidade
esclarecimento de certas situações (art. 5º, XXXIV, ‘b’,
na Administração, bem como estabelece as sanções
CF). Negado o exercício de tais direitos, ou ainda não
aplicáveis a agentes públicos e a terceiros, quando
veiculada a informação, ou veiculada incorretamente,
responsáveis por esse tipo ilegítimo de conduta. Ao

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terá o prejudicado os instrumentos constitucionais para 3. PRINCÍPIOS IMPLÍCITOS


garantir a restauração da legalidade – o mandado de
segurança (art. 5º, LXIX, CF) e o habeas data (art. 5º,
LXXII, CF). Na verdade, não se deve perder de vista que Tem a mesma força jurídica dos princípios explícitos. A
todas as pessoas têm direito a receber dos órgãos doutrina e a jurisprudência usualmente se referem a
públicos informações de seu interesse particular ou de estes princípios, tendo, desse modo, uma mesma
interesse coletivo, com exceção das situações relevância jurídica que os princípios escritos na
resguardadas por sigilo (art. 5º, XXXIII, CF), e o exercício Constituição.
de tal direito, de estatura constitucional, há de A Constituição Federal prevê no seu artigo 37 os
pressupor necessariamente a obediência da seguintes princípios regentes da Administração Pública:
Administração ao princípio da publicidade. legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e
eficiência. São estes os princípios expressos da
Administração Pública, pois se encontram literalmente
5 – Eficiência: foi tornado expresso no caput do art. 37
contidos na Carta Magna, sendo obrigatória a sua
da CR/88, por meio da Emenda Constitucional nº 19/98.
observância pelos agentes públicos na feitura dos atos
Antes da emenda esse princípio não estava escrito na
administrativos, sob pena de serem considerados nulos.
Constituição, pois era implícito, no entanto, a
Administração já tinha o dever de ser eficiente, Além destes, encontram-se dispersos no ordenamento
independente da ordem estar escrita ou não. jurídico outros princípios norteadores do Direito
Administrativo que, por não estarem literalmente
Segundo Maria Sylvia Zanella di Pietro “o princípio da
manifestos, são clareados pela doutrina. Estes
eficiência apresenta, na realidade, dois aspectos: pode
princípios, ditos implícitos, tanto quanto os explícitos,
ser considerado em relação ao modo de atuação do
são de observância obrigatória pelos agentes públicos.
agente público, do qual se espera o melhor
Entre eles estão:
desempenho possível de suas atribuições, para lograr os
melhores resultados; e em relação ao modo de Autotutela: A Administração Pública tem o poder-dever
organizar, estruturar, disciplinar a Administração de exercer o controle sobre seus próprios atos, a fim de
Pública, também com o mesmo objetivo de alcançar os tornar nulos aqueles praticados sem a observância da
melhores resultados na prestação do serviço público. lei e revogar os que se tornaram contrários ao interesse
Vale dizer que a eficiência é princípio que se soma aos público.
demais princípios impostos à Administração, não Continuidade dos Serviços Públicos: Demonstra quão
podendo sobrepor-se a nenhum deles, especialmente importante e obrigatória é a atividade administrativa,
ao da legalidade, sob pena de sérios riscos à segurança devendo-se, por isso, evitar ao máximo a sua
jurídica e ao próprio Estado de Direito”. interrupção, uma vez que os interesses que ela atinge
Acrescenta-se que a construção desse princípio teve são fundamentais à coletividade.
inspiração na iniciativa privada, uma vez que o sucesso Controle Jurisdicional da Administração Pública: A
de um negócio é medido pelo grau de satisfação de seu Administração Pública tem o poder-dever de exercer o
cliente. Cumpre ressaltar que o princípio da eficiência é controle sobre seus atos, mas mesmo assim eles podem
tão importante quanto todos os outros princípios ser revistos pelo Poder Judiciário, se praticados com
estruturantes do regime jurídico administrativo, de ilegalidade.
modo que não é possível que, em nome de uma maior
eficiência, seja preterido, por exemplo, o princípio da Especialidade: Os órgãos e entidades da Administração
legalidade. devem cumprir apenas o papel para os quais foram
criadas, não sendo permitidas atividades estranhas ao
fim legalmente determinado pela lei.
Finalidade: Toda a atividade administrativa deve buscar
meios para realizar a finalidade contemplada pela lei, a
qual tem por fim o interesse público.
Indisponibilidade do interesse público: A
Administração somente pode agir autorizada por lei e
nos limites desta.

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Isonomia: A Administração não pode conceder 03. (2015 - CESPE - STJ - Técnico Judiciário -
privilégio a quem quer que seja, senão quando Administrativa) Julgue o seguinte item, referente a
determinado por lei. licitações, pregão e sistema de registro de preços.
Motivação: Todos os atos da Administração devem ser A impessoalidade é princípio que norteia a
motivados, isto é, o agente público deve expor os administração e está intimamente afeta às licitações
motivos que o levaram a tomar uma ou outra decisão. públicas.
Razoabilidade e Proporcionalidade: A Administração Certo - Errado
Pública deverá obedecer a critérios racionais em sua
atuação e os atos administrativos só serão válidos se 04. (2015 - CESPE - TCU - Auditor Federal de Controle
exercidos na extensão e intensidade proporcionais ao Externo - Conhecimentos Gerais) No que se refere a
atendimento do interesse público. ato administrativo, agente público e princípios da
Segurança jurídica: Não pode haver surpresas passíveis administração pública, julgue o próximo item.
de desestabilizar as relações sociais. A atividade da O princípio da eficiência, considerado um dos
Administração deve estar fundamentada em leis e não princípios inerentes à administração pública, não
em probabilidades. consta expressamente na CF.
Supremacia do interesse público: Fundamenta-se no Certo - Errado
fato de que nas relações jurídicas os interesses da
coletividade prevalecem sobre os interesses
particulares. Assim, a Administração Pública está em 05. (2015 - CESPE - TCU - Técnico Federal de Controle
uma posição hierarquicamente superior quando Externo - Conhecimentos Básicos) No que se refere aos
comparada com o particular. princípios e conceitos da administração pública e aos
servidores públicos, julgue o próximo item.
Ofenderá o princípio da impessoalidade a atuação
administrativa que contrariar, além da lei, a moral,
QUESTÕES SOBRE PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO
os bons costumes, a honestidade ou os deveres de
PÚBLICA E REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO. boa administração.
Certo - Errado

01. (2015 - CESPE - FUB - Assistente em Administração) 06. (2015 - CESPE - FUB - Assistente em Administração)
A administração pública é regida por princípios A administração pública é regida por princípios
fundamentais que atingem todos os entes da fundamentais que atingem todos os entes da
Federação: União, estados, municípios e o Distrito Federação: União, estados, municípios e o Distrito
Federal. Com relação a esse assunto, julgue o item Federal. Com relação a esse assunto, julgue o item
subsecutivo. subsecutivo.
Apesar de o princípio da moralidade exigir que os O princípio da legalidade limita a atuação do Estado
atos da administração pública sejam de ampla à legislação existente.
divulgação, veda-se a publicidade de atos que violem Certo - Errado
a vida privada do cidadão.
Certo - Errado
07. (2015 - CESPE - FUB - Assistente em Administração)
A administração pública é regida por princípios
02. (2014 - CESPE - Câmara dos Deputados - Analista fundamentais que atingem todos os entes da
Legislativo) A respeito do regime jurídico Federação: União, estados, municípios e o Distrito
administrativo, julgue o item a seguir. Federal. Com relação a esse assunto, julgue o item
subsecutivo.
O princípio da indisponibilidade do interesse público
não impede a administração pública de realizar De acordo com o princípio da moralidade, os agentes
acordos e transações. públicos devem atuar de forma neutra, sendo
proibida a atuação pautada pela promoção pessoal.
Certo - Errado
Certo - Errado

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08. (2015 - CESPE - FUB - Assistente em Administração) 12. (2014 - CESPE - ANTAQ - Conhecimentos Básicos -
A administração pública é regida por princípios Cargos 5 e 6) Com relação à administração pública e
fundamentais que atingem todos os entes da seus princípios fundamentais, julgue os próximos
Federação: União, estados, municípios e o Distrito itens.
Federal. Com relação a esse assunto, julgue o item
O princípio da publicidade está relacionado à
subsecutivo.
exigência de ampla divulgação dos atos
Na hierarquia dos princípios da administração administrativos e de transparência da administração
pública, o mais importante é o princípio da pública, condições asseguradas, sem exceção, ao
legalidade, o primeiro a ser citado na CF. cidadão.
Certo - Errado Certo - Errado

09. (2015 - CESPE - TRE-GO - Técnico Judiciário - Área


Administrativa) No que se refere ao regime jurídico-
administrativo brasileiro e aos princípios regentes da
administração pública, julgue o próximo item.
Por força do princípio da legalidade, o administrador
público tem sua atuação limitada ao que estabelece
a lei, aspecto que o difere do particular, a quem tudo
se permite se não houver proibição legal.
Certo - Errado

10. (2015 - CESPE - TRE-GO - Técnico Judiciário - Área


Administrativa) No que se refere ao regime jurídico-
administrativo brasileiro e aos princípios regentes da
administração pública, julgue o próximo item.
Em decorrência do princípio da impessoalidade,
previsto expressamente na Constituição Federal, a GABARITO
administração pública deve agir sem discriminações, QUESTÕES SOBRE PRINCÍPIOS DA ADMINISTRAÇÃO
de modo a atender a todos os administrados e não a PÚBLICA E REGIME JURÍDICO ADMINISTRATIVO.
certos membros em detrimento de outros.
Certo - Errado
01. E 06. C 11. C

11. (2015 - CESPE - TRE-GO - Técnico Judiciário - Área 02. C 07. E 12. C
Administrativa) No que se refere ao regime jurídico- 03. C 08. E
administrativo brasileiro e aos princípios regentes da
04. E 09. C
administração pública, julgue o próximo item.
O princípio da eficiência está previsto no texto 05. E 10. C
constitucional de forma explícita.
Certo - Errado

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ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA DA UNIÃO; Fundações governamentais


ADMINISTRAÇÃO DIRETA E INDIRETA.
Nos termos do art. 5º., inciso IV do Decreto-Lei n. 200,
de 1967, fundação pública é “a entidade dotada de
personalidade jurídica de direito privado, sem fins
lucrativos, criada em virtude de autorização legislativa,
A Administração Direta ou Centralizada é composta por para o desenvolvimento de atividades que não exijam
órgãos sem personalidade jurídica própria. São, na execução por órgãos ou entidades de direito público,
esfera federal, os serviços integrados (por com autonomia administrativa, patrimônio próprio
subordinação) na estrutura administrativa da gerido pelos respectivos órgãos de direção, e
Presidência da República e dos Ministérios (art. 4º., funcionamento custeado por recursos da União e de
inciso I do Decreto-Lei n. 200/67). A Secretaria da outras fontes.”. O parágrafo terceiro do mesmo artigo
Receita Federal e a Procuradoria-Geral da Fazenda estabelece que as fundações públicas “… adquirem
Nacional são exemplos de órgãos integrantes da personalidade jurídica com a inscrição da escritura
administração Pública Federal Direta. pública de sua constituição no Registro Civil de Pessoas
Jurídicas, não se lhes aplicando as demais disposições
do Código Civil concernente às fundações”.
Já a Administração Indireta ou Descentralizada, no
A rigor, o Poder Público pode criar dois tipos fundações,
plano federal, é constituída pelas seguintes entidades,
denominadas em conjunto de governamentais. Um
com personalidade jurídica própria (art. 4º., inciso II do
primeiro tipo seria a fundação de direito público
Decreto-Lei n. 200/67):
submetida ao regime jurídico-administrativo. O
segundo modelo seria a fundação de direito privado
Autarquias regida por normas do Código Civil com derrogações por
normas de direito público.
Segundo o art. 5º., inciso I do Decreto-Lei n. 200, de
1967, autarquia é o “serviço autônomo, criado por lei, A natureza jurídica de cada fundação deve ser obtida da
com personalidade jurídica, patrimônio e receitas análise cuidadosa da lei instituidora e dos atos
próprios, para executar atividades típicas da constitutivos (estatutos e regimentos).
Administração pública, que requeiram, para seu melhor A fundação governamental pública corresponde a uma
funcionamento, gestão administrativa e financeira modalidade de autarquia. Já as fundações
descentralizada”. governamentais privadas assumem conotação ou
As principais características da autarquia são: (a) criação posição institucional idêntica a das sociedades de
por lei; (b) personalidade jurídica de direito público; (c) economia mista e das empresas públicas.
capacidade de auto-administração; (d) especialização
dos fins ou atividades e (e) sujeição a controle ou tutela.
Sociedades de economia mista
As autarquias podem ser classificadas segundo vários
Estabelece o art. 5º., inciso III do Decreto-Lei nº. 200, de
critérios. Adotando o da capacidade administrativa,
1967, que sociedade de economia mista é “a entidade
temos as territoriais e as de serviço. Pelo critério
dotada de personalidade jurídica de direito privado,
estrutural, seriam fundacionais ou corporativas.
criada por lei para a exploração de atividade
O Banco Central do Brasil e o Instituto Nacional do econômica, sob a forma de sociedade anônima, cujas
Seguro Social são exemplos de autarquias. A Ordem dos ações com direito a voto pertençam, em sua maioria, à
Advogados do Brasil é exemplo de autarquia União ou à entidade da Administração Indireta”.
corporativa. As diversas agências reguladoras (ANATEL,
Exemplos destas entidades: a SERPRO, Petrobras e
ANEEL, ANVISA, ANA, ANP, ANS, ANVS, ANTT, ANTAQ,
Banco do Brasil.
entre outras) foram criadas por lei como autarquias.

Empresas públicas
Conforme o art. 5º., inciso II do Decreto-Lei n. 200, de
1967, empresa pública é “a entidade dotada de
personalidade jurídica de direito privado, com
patrimônio próprio e capital exclusivo da União ou de

10
POLÍCIA MILITAR DE ALAGOAS
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

suas entidades da Administração Indireta, criada por lei Categorias afins


para desempenhar atividades econômica que o
Serviços Sociais Autônomos. São pessoas jurídicas de
Governo seja levado a exercer, por motivos de
direito privado mantidos total ou parcialmente pelos
conveniência ou contingência administrativa, podendo
cofres públicos exercendo atividades privadas de
tal entidade revestir-se de qualquer das formas
interesse público. Apesar de criados mediante
admitidas em direito”.
autorização legislativa, não integram a Administração
Exemplo desta entidade: CEF. Indireta do Estado. São conhecidos e tratados como
entes de cooperação. Podemos arrolar o SESI, o SENAI e
Semelhanças e distinções entre as empresas públicas e
o SENAC como exemplos deles.
as sociedades de economia mista
Agências reguladoras. Como antes afirmado, são
As características comuns são:
organizadas como autarquias.
(a) criação e extinção por lei;
Agências executivas. É a autarquia ou fundação
(b) personalidade jurídica de direito privado; governamental assim definida por ato do Executivo,
(c) sujeição ao controle estatal; com a responsabilidade de executar determinado
serviço público, liberada de certos controles e dotada
(d) derrogação parcial do regime jurídico de direito de maiores privilégios, que celebrou com a
privado por normas de direito público; Administração Pública um contrato de gestão. Os arts.
(e) vinculação aos fins estabelecidos na lei de criação; 51 e 52 da Lei n. 9.649, de 1998, tratam desta nova
figura.
(f) desempenho de atividade de natureza econômica e
Organizações sociais. São entidades privadas, sem fins
(g) destituição dos dirigente a qualquer tempo (Súmula lucrativos, que se valem de um contrato de gestão para
nº. 8 do STF). realizar atividades públicas (ensino, pesquisa científica,
Anote-se que as empresas estatais podem tanto cultura, saúde, proteção do meio ambiente, entre
executar atividade econômica de natureza privada (art. outras) com apoio, inclusive transferência de bens e
173 da Constituição) como prestar serviço público (art. recursos, das pessoas políticas. Não integram a
175 da Constituição). Administração Pública Indireta. O Estado, com a
parceria com as organizações sociais, reduz sua atuação
direta nestes setores. A Lei n. 9.637, de 1998, dispõe
As diferenças básicas entre as sociedades de economia sobre as organizações sociais.
mista e as empresas públicas estão (a) na forma de Organizações da sociedade civil de interesse público. É,
organização e (b) na composição do capital. A primeira, precipuamente, a atribuição de um status a uma
adota, no plano federal, a forma de sociedade anônima entidade existente na sociedade. Neste caso, não há
com a presença de capital público e particular. Já a celebração de contrato de gestão, e sim, de um termo
segunda, pode assumir qualquer forma de direito com de parceria.
capital totalmente público.
Não se destinam a substituir o Poder Público na
prestação de certos serviços. A Lei n. 9.790, de 1999,
Controle administrativo sobre as entidades da disciplina a matéria.
administração indireta
O controle administrativo sobre as entidades da
administração indireta não é um controle hierárquico,
dada a vinculação, e não subordinação, ao Ministério
afim. Trata-se de uma fiscalização da observância da
legalidade e do cumprimento das finalidades conhecido
como tutela.
Neste sentido, a supervisão ministerial, prevista no
Decreto-Lei n. 200, de 1967, reafirmada na Lei n. 9.649,
de 1998 (diploma legal que trata da organização da
Presidência da República e dos Ministérios), é o
principal dos instrumentos de controle administrativo.

11
POLÍCIA MILITAR DE ALAGOAS
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

ÓRGÃOS PÚBLICOS • entidade - a unidade de atuação dotada de


personalidade jurídica;
• autoridade - o servidor ou agente público dotado de
poder de decisão.
NOÇÃO
Os órgãos públicos são entes mesmo despersonalizados,
NATUREZA
mantendo relações funcionais entre si e com terceiros,
resultando efeitos jurídicos. Em relação ao tema, surgiram na doutrina várias teorias
que tentam explicar a natureza jurídica dos órgãos,
São os órgãos públicos centros de competência
destacando-se a subjetiva, a objetiva, a mista, a do
instituídos para o desempenho de funções estatais,
mandato e a do órgão.
através de seus agentes, cuja atuação é imputada à
pessoa jurídica a que pertencem.
A atuação dos órgãos é imputada à pessoa jurídica que Teoria Subjetiva
eles integram. Assim, um Ministério, que é órgão
Esta teoria trata os órgãos públicos sendo os agentes
público, não possui personalidade jurídica, entretanto, a
públicos, havendo uma total identificação entre órgão e
União possui.
agente. Esta teoria é superada não sendo admitida
entre nós.
CARACTERÍSTICAS
Na aula anterior estudamos que os órgãos públicos Teoria Objetiva
possuem as seguintes características:
Estabelece os seguidores desta teoria que os órgãos
• despersonalização; formam um conjunto de atribuições, não tendo o órgão
e, por conseguinte, o Estado vontades próprias.
• sem patrimônio próprio;
Outra teoria superada, pois considera o Estado um
• em regra geral, inexistência de capacidade processual.
ente sem vontade.

AGENTES PÚBLICOS
Teoria Mista ou Eclética
Não devemos confundir os órgãos públicos com os
Os órgãos, de acordo com esta corrente, são formados
agentes públicos, pois estes são todas as pessoas físicas
por dois elementos: o agente e o complexo de
que exercem, mesmo transitoriamente, funções
atribuições. Como ensina Maria Sylvia Zanella Di Pietro,
públicas, abrangendo tanto o Presidente da República,
essa teoria incide na mesma falha que a subjetiva, pois
os Governadores, Prefeitos, Ministros, Secretários de
desaparecendo o agente desaparecerá o órgão.
Estado e de Município, Senadores, Deputados,
Vereadores, como os funcionários públicos, os
contratados pelo Poder Público para servirem-no sob
Teoria do Mandato ou da Representação
regime trabalhista, os servidores de autarquia, de
empresas e fundações públicas, os concessionários e O agente público é mandatário do Estado, é falha esta
permissionários, entre outros. teoria já que o Estado por não ter vontade própria não
poderia outorgar procuração.

DISTINÇÃO LEGAL DE ENTIDADE, ÓRGÃO E


AUTORIDADE Teoria do Órgão
A lei 9.784/99, em seu artigo 1, § 2º, seguindo a Esta teoria, adotada pela doutrina brasileira, vê no
orientação doutrinária narrada anteriormente, órgão um feixe de atribuições, inconfundível com os
diferencia órgão, entidade e autoridade da seguinte agentes. Cada órgão, como centro de competências
forma: administrativas, tem necessariamente funções, cargos e
agentes, mas é distinto desses elementos, que podem
• órgão - a unidade de atuação integrante da estrutura
ser modificados, substituídos ou retirados sem
da Administração direta e da estrutura da
supressão da unidade orgânica, assim ministra Hely
Administração indireta;

12
POLÍCIA MILITAR DE ALAGOAS
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Lopes Meirelles. Órgãos Autônomos


São os localizados na cúpula da Administração,
imediatamente abaixo dos órgãos independentes e
CLASSIFICAÇÃO
diretamente subordinados a seus chefes.
Exemplo: Ministérios, Secretarias de Estado e
Quanto à Esfera de Atuação: Secretarias de Município.

Órgãos Centrais Órgãos Superiores


São aqueles que exercem atribuições em todo o São os que detêm poder de direção, controle, decisão e
território nacional, estadual ou municipal. comando dos assuntos de sua competência específica,
mas sempre sujeitos à subordinação e ao controle
hierárquico de uma chefia mais alta.
Órgãos Locais
Exemplo: Inspetorias-Gerais, Departamentos e Divisões.
São aqueles que atuam sobre uma parte do território.

Órgãos Subalternos
Esta classificação apresenta-se em todas as pessoas
políticas, assim, no quadro abaixo, mostramos São os que se acham subordinados hierarquicamente a
exemplos. órgãos de decisão, exercendo principalmente funções
de execução.
Exemplo: Seções de Expediente e de Pessoal.
Órgãos Centrais Órgãos Locais
Pessoas Políticas
(Exemplos) (Exemplos)
Quanto à Estrutura:
Delegacia
Regional da
União Ministérios
Receita Órgãos Simples ou Unitários
Federal
São os constituídos por um único centro de atribuições,
Secretarias de Delegacias de sem subdivisões
Estados
Estado Polícia
Exemplo: Conselho de Defesa Nacional
Secretarias Regiões
Municípios
Municipais Administrativas
Órgãos compostos
Quanto à Posição Estatal: São os constituídos por vários outros órgãos.
Exemplo: Ministério, Secretaria e Congresso Nacional.
Órgãos Independentes
São os originários da Constituição e representativos dos
três Poderes do Estado, sem qualquer subordinação Quanto à Composição:
hierárquica ou funcional, e sujeitos apenas aos
controles constitucionais de um sobre o outro.
Exemplo: a Chefia do Executivo (Presidência da Órgãos Singulares ou Unipessoais
República), as Casas Legislativas (Câmara dos São os integrados por um único agente.
Deputados, Senado Federal e Assembléia Legislativa) e
os Tribunais. Exemplo: Presidência da República

Como bem ensina Hely Lopes Meirelles, devem ser


incluídos nesta classe o Ministério Público e os Tribunais
de Contas.

13
POLÍCIA MILITAR DE ALAGOAS
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Órgãos Coletivos, Colegiados ou Pluripessoais 02. (2015 - CESPE - TCE-RN - Inspetor - Administração,
Contabilidade, Direito ou Economia - Cargo 3) No que
São os constituídos por vários agentes. Exemplo:
tange às organizações sociais e aos serviços sociais
Tribunais e Congresso Nacional
autônomos, julgue o item seguinte.
Quanto às Funções
A qualificação de uma entidade como organização
social resulta de critério discricionário do ministério
Órgãos Ativos competente para supervisionar ou regular a área de
atividade correspondente ao objeto social.
São aqueles que desempenham uma atividade
administrativa ativa. Certo - Errado

Exemplo: Ministério
03. (2015 - CESPE - STJ - Analista Judiciário -
Administrativa) A respeito da organização
Órgãos Consultivos administrativa do Estado e do ato administrativo,
São aqueles que desempenham uma atividade julgue o item a seguir.
consultiva. O simples fato de o poder público passar a deter a
Exemplo: Conselho de Defesa Nacional maioria do capital social de uma empresa privada a
transforma em sociedade de economia mista,
independentemente de autorização legal.
Órgãos de Controle Certo - Errado
São aqueles que desempenham uma atividade de
controle sobre outros
04. (2015 - CESPE - STJ - Conhecimentos Básicos para o
Exemplo: Tribunal de Contas Cargo 17) A respeito da administração pública direta
e indireta e de atos administrativos, julgue o item a
seguir.
QUESTÕES SOBRE ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA
DA UNIÃO; ADMINISTRAÇÃO DIRETA E INDIRETA. É defesa aos Poderes Judiciário e Legislativo a
criação de entidades da administração indireta,
como autarquias e fundações públicas.
Certo - Errado
01. (2015 - CESPE - TCE-RN - Inspetor - Administração,
Contabilidade, Direito ou Economia - Cargo 3) No que
tange às organizações sociais e aos serviços sociais 05. (2015 - CESPE - MPOG - Analista Técnico
autônomos, julgue o item seguinte. Administrativo - Cargo 2) A Escola Nacional de
Administração Pública (ENAP) é uma entidade
Embora não integrem a administração pública, os
dotada de personalidade jurídica de direito privado,
serviços sociais autônomos, ou pessoas de
vinculada ao Ministério do Planejamento, Orçamento
cooperação governamental, são pessoas jurídicas de
e Gestão (MP), órgão integrante da estrutura
direito público que produzem benefícios para grupos
administrativa da União. Considerando essas
sociais ou categorias profissionais.
informações, julgue o próximo item.
Certo - Errado
A criação de pessoa jurídica de direito privado
integrante da administração pública dá-se por meio
da inscrição de seus atos constitutivos no registro
público competente, desde que haja autorização
legal.
Certo - Errado

14
POLÍCIA MILITAR DE ALAGOAS
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

06. (2015 - CESPE - FUB - Administrador) A respeito da 11. (2015 - CESPE - FUB - Auditor) No que diz respeito
administração direta e indireta, julgue o item a ao controle da administração pública, julgue o item
seguir. subsecutivo.
As fundações públicas de personalidade jurídica de Tanto na empresa pública, quanto na sociedade de
direito público, na área federal, são entidades da economia mista, há derrogação apenas parcial do
administração direta. regime de direito público pelo regime de direito
privado.
Certo - Errado
Certo - Errado

07. (2015 - CESPE - FUB - Administrador) A respeito da


administração direta e indireta, julgue o item a 12. (2015 - CESPE - MPU - Analista do MPU -
seguir. Conhecimentos Básicos) Julgue o item a seguir,
referente às autarquias federais.
Integram a administração federal indireta, entre
outras entidades, os serviços sociais autônomos e as A criação de autarquia é uma forma de
organizações sociais. descentralização por meio da qual se transfere
determinado serviço público para outra pessoa
Certo - Errado
jurídica integrante do aparelho estatal.
Certo - Errado
08. (2015 - CESPE - FUB - Administrador) A respeito da
administração direta e indireta, julgue o item a
seguir. 13. (2015 - CESPE - MPU - Técnico do MPU - Segurança
Institucional e Transporte) Julgue o item a seguir, de
As fundações públicas, tanto as de direito público
acordo com o regime jurídico das autarquias.
quanto as de direito privado, são necessariamente
criadas por lei, devendo estar o patrimônio delas Autarquia é entidade dotada de personalidade
vinculado a um fim específico. jurídica própria, com autonomia administrativa e
financeira, não sendo possível que a lei institua
Certo - Errado
mecanismos de controle da entidade pelo ente
federativo que a criou.
09. (2015 - CESPE - FUB - Administrador) De acordo Certo - Errado
com os dispositivos legais que regulam as licitações
públicas, julgue o item a seguir.
14. (2015 - CESPE - MPU - Técnico do MPU - Segurança
As empresas públicas e sociedades de economia
Institucional e Transporte) Julgue o item a seguir, de
mista, que possuem personalidade jurídica de direito
acordo com o regime jurídico das autarquias.
privado, estão desobrigadas de se submeter ao
regime da Lei n.º 8.666/1993. As autarquias responderão objetivamente pelos
danos provocados por seus agentes a terceiros,
Certo - Errado
ainda que se comprove que esses agentes tenham
agido com prudência, perícia e cuidados exigidos.
10. (2015 - CESPE - FUB - Auditor) No que diz respeito Certo - Errado
ao controle da administração pública, julgue o item
subsecutivo.
GABARITO
Todas as entidades da administração pública indireta
submetem-se, em alguma medida, a controle estatal, QUESTÕES SOBRE ORGANIZAÇÃO ADMINISTRATIVA
interno e externo. DA UNIÃO; ADMINISTRAÇÃO DIRETA E INDIRETA.
Certo - Errado 01. E 05. C 09. E 13. E
02. C 06. E 10. C 14. C
03. E 07. E 11. C
04. E 08. E 12. C

15
POLÍCIA MILITAR DE ALAGOAS
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

ATOS ADMINISTRATIVOS REQUISITOS DO ATO ADMINISTRATIVO


Na doutrina de Hely Lopes Meirelles, são cinco os
requisitos necessários à validade dos atos
administrativos, 3 vinculados (Competência, Finalidade
Atos Administrativos
e Forma) e 2 discricionários (Motivo e Objeto).
Competência
CONCEITO DE ATO ADMINISTRATIVO
Nada mais é do que a delimitação das atribuições
Segundo Hely Lopes Meirelles: "Ato administrativo é cometidas ao agente que pratica o ato. E intransferível,
toda manifestação unilateral de vontade da não se prorroga, podendo, entretanto, ser avocada ou
Administração Pública que, agindo nessa qualidade, delegada, se existir autorização legal. Em relação à
tenha por fim imediato adquirir, resguardar, transferir, competência, aplicam-se, pois, as seguintes regras:
modificar, extinguir e declarar direitos, ou impor
I- decorre sempre da lei;
obrigações aos administrados ou a si própria".
II- é inderrogável, seja pela vontade da Administração,
J. Cretella Junior apresenta uma definição partindo do
seja por acordo com terceiros;
conceito de ato jurídico. Segundo ele, ato
administrativo é "a manifestação de vontade do Estado, III- pode ser objeto de delegação de avocação, desde
por seus representantes, no exercício regular de suas que não se trate de competência exclusiva conferida
funções, ou por qualquer pessoa que detenha, nas por lei. Agente competente é diferente de agente
mãos, fração de poder reconhecido pelo Estado, que capaz, aquele pressupõe a existência deste - todavia,
tem por finalidade imediata criar, reconhecer, capacidade não quer dizer competência, já que este
modificar, resguardar ou extinguir situações jurídicas "não é para quem quer, mas, sim, para quem pode".
subjetivas, em matéria administrativa".
O ato praticado por agente incompetente é inválido por
Para Celso Antônio Bandeira de Mello é a "declaração lhe faltar um elemento básico de sua perfeição, qual
do Estado (ou de quem lhe faça as vezes - como, por seja o poder jurídico para manifestar a vontade da
exemplo, um concessionário de serviço público) no Administração.
exercício de prerrogativas públicas, manifestada
Finalidade
mediante providências jurídicas complementares da lei,
a título de lhe dar cumprimento, e sujeitos a controle de É o resultado que a Administração pretende atingir com
legitimidade por órgão jurisdicional". a prática do ato e efeito mediato, enquanto o objeto é
imediato. Não se confunde com o motivo porque este
Tal conceito abrange os atos gerais e abstratos, como os
antecede a prática do ato, enquanto a finalidade sucede
regulamentos e instruções, e atos convencionais, como
a sua prática, já que é algo que a Administração quer
os contratos administrativos.
alcançar com sua edição.
Segundo Maria Sylvia Zanella Di Pietro, ato
Há duas concepções de finalidade: uma, em sentido
administrativo é "a declaração do Estado ou de quem o
amplo, que corresponde à consecução de um resultado
represente, que produz efeitos jurídicos imediatos, com
de interesse público (bem comum) outra, em sentido
observância da lei, sob regime jurídico de direito público
estrito, é o resultado específico que cada ato deve
e sujeita a controle pelo Poder Judiciário".
produzir, conforme definido em lei.
Nesse último conceito só se incluem os atos que
É o legislador que define a finalidade do ato, não
produzem efeitos imediatos, excluindo do conceito o
existindo liberdade de opção para o administrador.
regulamento, que, quanto ao conteúdo, se aproxima
mais da lei, afastando, também, os atos não produtores Infringida a finalidade do ato ou a finalidade pública, o
de efeitos jurídicos diretos, como os atos materiais e os ato será ilegal, por desvio de poder (ex.: desapropriação
enunciativos. para perseguir inimigo político).
Traços Característicos do Ato Administrativo:
A) posição de supremacia da Administração;
B) sua finalidade pública (bem comum);
C) vontade unilateral da Administração.

16
POLÍCIA MILITAR DE ALAGOAS
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Forma Legal ou Forma Própria Por ele a Administração manifesta seu poder e sua
vontade, ou atesta simplesmente situações
No Direito Administrativo, o aspecto formal do ato tem
preexistentes.
muito mais relevância que no Direito Privado, já que a
observância à forma e ao procedimento constitui
garantia jurídica para o administrador e para a
ESPÉCIES DE ATO ADMINISTRATIVO
Administração. É pela forma que se torna possível o
controle do ato administrativo. Apenas a título de Segundo Hely Lopes Meirelles, podemos agrupar os
esclarecimento, advirta-se que, na concepção restrita atos administrativos em 5 cinco tipos:
da forma, considera-se cada ato isoladamente e, na Atos normativos: são aqueles que contém um comando
concepção ampla, considera-se o ato dentro de um geral do Executivo visando ao cumprimento de uma lei.
procedimento (sucessão de atos administrativos da Podem apresentar-se com a característica de
decisão final). A observância à forma não significa, generalidade e abstração (decreto geral que
entretanto, que a Administração esteja sujeita a formas regulamenta uma lei), ou individualidade e concreção
rígidas e sacramentais. (decreto de nomeação de um servidor). Segundo
O que se exige é que a forma seja adotada como regra, Márcio Fernando Elias Rosa, são exemplos:
para que tudo seja passível de verificação. regulamento, decreto, regimento e resolução.
Normalmente, as formas são mais rigorosas quando Atos ordinatórios: são os que visam a disciplinar o
estão em jogo direito dos administrados (ex.: concursos funcionamento da Administração e a conduta funcional
públicos, licitações e processos disciplinares). Até de seus agentes. Emanam do poder hierárquico, isto é,
mesmo o silêncio significa forma de manifestação de podem ser expedidos por chefes de serviços aos seus
vontade, quando a lei o prevê. Forma é o elemento subordinados. Logo, não obrigam aos particulares.
exteriorizador do ato administrativo, o modo pelo qual
o mesmo se apresenta. Segundo Rosa, são exemplos: instruções, avisos, ofícios,
portarias, ordens de serviço ou memorandos.
Atos negociais: são todos aqueles que contêm uma
Motivo ou Causa declaração de vontade da Administração apta a
É a situação fática ou jurídica cuja ocorrência autoriza concretizar determinado negócio jurídico ou a deferir
ou determina a prática do ato. Não deve ser confundido certa faculdade ao particular, nas condições impostas
com motivação do ato que é a exposição dos motivos, ou consentidas pelo Poder Público. De acordo com
isto é, a demonstração de que os pressupostos de fato Rosa, são exemplos: licença, autorização e permissão.
realmente existiram. Atos enunciativos: são todos aqueles em que a
Segundo a Teoria dos Motivos Determinantes, o Administração se limita a certificar ou a atestar um fato,
administrador fica vinculado aos motivos declinados ou emitir uma opinião sobre determinado assunto,
para a prática do ato, sujeitando-se à demonstração de constantes de registros, processos e arquivos públicos,
sua ocorrência, mesmo que não estivesse obrigado a sendo sempre, por isso, vinculados quanto ao motivo e
explicitá-los. ao conteúdo. Segundo Rosa, são exemplos: certidões,
Quando o motivo não for exigido para a perfeição do atestados e pareceres.
ato, fica o agente com a faculdade discricionária de Atos punitivos: são aqueles que contêm uma sanção
praticá-lo sem motivação, mas se o tiver, vincula-se aos imposta pela lei e aplicada pela Administração, visando
motivos expostos passando a valer o ato se todos os a punir as infrações administrativas e condutas
motivos alegados forem verdadeiros. irregulares de servidores ou de particulares perante a
Administração. Segundo Rosa, são exemplos: multa
administrativa, interdição administrativa, destruição de
Objeto ou Conteúdo
coisas e afastamento temporário de cargo ou função
É o efeito imediato que ato administrativo produz, pública.
enuncia, prescreve ou dispõe.
Assim como o ato jurídico, requer objeto lícito, possível,
certo e moral. Visa a criar, a modificar ou a comprovar
situações jurídicas concernentes a pessoas, coisas ou
atividades sujeitas à ação do Poder Público.

17
POLÍCIA MILITAR DE ALAGOAS
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Quanto ao regramento existentes. Cite-se a demissão do servidor público.


Atos vinculados: possui todos seus elementos
determinados em lei, não existindo possibilidade de
Quanto à abrangência dos efeitos
apreciação por parte do administrador quanto à
oportunidade ou à conveniência. Cabe ao administrador Internos: destinados a produzir seus efeitos no âmbito
apenas a verificação da existência de todos os interno da Administração Pública, não atingindo
elementos expressos em lei para a prática do ato. Caso terceiros, como as circulares e pareceres.
todos os elementos estejam presentes, o administrador Externos: tem como destinatárias pessoas além da
é obrigado a praticar o ato administrativo; caso Administração Pública, e, portanto, necessitam de
contrário, ele estará proibido da prática do ato. publicidade para que produzam adequadamente seus
Atos discricionários: o administrador pode decidir sobre efeitos. São exemplos a fixação do horário de
o motivo e sobre o objeto do ato, devendo pautar suas atendimento e a ocupação de bem privado pela
escolhas de acordo com as razões de oportunidade e Administração Pública.
conveniência.
A discricionariedade é sempre concedida por lei e deve Quanto à validade
sempre estar em acordo com o princípio da finalidade
pública. O poder judiciário não pode avaliar as razões de Válido: é o que atende a todos os requisitos legais:
conveniência e oportunidade (mérito), apenas a competência, finalidade, forma, motivo e objeto. Pode
legalidade, a competência e a forma (exteriorização) do estar perfeito, pronto para produzir seus efeitos ou
ato. estar pendente de evento futuro.

Quanto à formação Nulo: é o que nasce com vício insanável, ou seja, um


defeito que não pode ser corrigido. Não produz
Atos simples: resultam da manifestação apenas de uma qualquer efeito entre as partes. No entanto, em face
vontade dentro um órgão público. dos atributos dos atos administrativos, ele deve ser
Atos compostos: resultam da manifestação de um observado até que haja decisão, seja administrativa,
órgão com aprovação de outro órgão. Dois atos, um seja judicial, declarando sua nulidade, que terá efeito
primário e outro secundário, sendo que este ratificará retroativo, desde o início, entre as partes. Por outro
aquele. lado, deverão ser respeitados os direitos de terceiros de
boa-fé que tenham sido atingidos pelo ato nulo. Cite-se
Atos complexos: um ato com manifestação de vontade
a nomeação de um candidato que não tenha nível
de um ou mais órgãos (vários órgãos).
superior para um cargo que o exija. A partir do
reconhecimento do erro, o ato é anulado desde sua
origem. Porém, as ações legais eventualmente
Quanto aos efeitos
praticadas por ele durante o período em que atuou
Constitutivo: gera uma nova situação jurídica aos permanecerão válidas.
destinatários. Pode ser outorgado um novo direito,
Anulável: é o ato que contém defeitos, porém, que
como permissão de uso de bem público, ou impondo
podem ser sanados, convalidados. Ressalte-se que, se
uma obrigação, como cumprir um período de
mantido o defeito, o ato será nulo; se corrigido, poderá
suspensão.
ser "salvo" e passar a válido. Atente-se que nem todos
Declaratório: simplesmente afirma ou declara uma os defeitos são sanáveis, mas sim aqueles
situação já existente, seja de fato ou de direito. Não expressamente previstos em lei e analisados no item
cria, transfere ou extingue a situação existente, apenas seguinte.
a reconhece. Também é dito enunciativo. É o caso da
Inexistente: é aquele que apenas aparenta ser um ato
expedição de uma certidão de tempo de serviço.
administrativo, manifestação de vontade da
Modificativo: altera a situação já existente, sem que Administração Pública. São produzidos por alguém que
seja extinta, não retirando direitos ou obrigações. A se faz passar por agente público, sem sê-lo, ou que
alteração do horário de atendimento da repartição é contém um objeto juridicamente impossível. Exemplo
exemplo desse tipo de ato. do primeiro caso é a multa emitida por falso policial; do
Extintivo: pode também ser chamado desconstitutivo, segundo, a ordem para matar alguém.
que é o ato que põe termo a um direito ou dever

18
POLÍCIA MILITAR DE ALAGOAS
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Quanto à executabilidade Pareceres - manifestam opiniões ou pontos de vista


sobre matéria submetida a apreciação de órgãos
Perfeito: é aquele que completou seu processo de
consultivos.
formação, estando apto a produzir seus efeitos.
Perfeição não se confunde com validade. Esta é a
adequação do ato à lei; a perfeição refere-se às etapas
ESPÉCIES DE ATOS QUANTO AO CONTEÚDO DOS
de sua formação.
MESMOS:
Imperfeito: não completou seu processo de formação,
portanto, não está apto a produzir seus efeitos,
faltando, por exemplo, a homologação, publicação, ou Admissão – É o ato unilateral e vinculado pelo qual a
outro requisito apontado pela lei. Administração faculta a alguém a inclusão em
estabelecimento governamental para o gozo de um
Pendente: para produzir seus efeitos, sujeita-se a
serviço público. Exemplo: ingresso em estabelecimento
condição ou termo, mas já completou seu ciclo de
oficial de ensino na qualidade de aluno; o desfrute dos
formação, estando apenas aguardando o implemento
serviços de uma biblioteca pública como inscrito entre
desse acessório, por isso não se confunde com o
seus usuários. O ato de admissão não pode ser negado
imperfeito. Condição é evento futuro e incerto, como o
aos que preencham as condições normativas
casamento. Termo é evento futuro e certo, como uma
requeridas.
data específica.
Aprovação - é o ato unilateral e discricionário pelo qual
Consumado: é o ato que já produziu todos os seus
a Administração faculta a prática de ato jurídico
efeitos, nada mais havendo para realizar. Exemplifique-
(aprovação prévia) ou manifesta sua concordância com
se com a exoneração ou a concessão de licença para
ato jurídico já praticado (aprovação a posteriori).
doar sangue.
Licença - é o ato unilateral e vinculado pelo qual a
Administração consente ao particular o exercício de
ESPÉCIES DE ATOS QUANTO À FORMA DE uma atividade. Exemplo: licença para edificar que
EXTERIORIZAÇÃO: depende do alvará. Por ser ato vinculado, desde que
cumpridas as exigências legais a Administração não
pode negá-la.
Decretos – são editados pelos Chefes do Poder
Autorização - e o ato unilateral e discricionário pelo
Executivo, Presidente, Governadores e Prefeitos para
qual a Administração, analisando aspectos de
fiel execução das leis (CF/88,art. 84, IV);
conveniência e oportunidade faculta ao particular o
Resoluções – praticados pelos órgãos colegiados em exercício de atividade de caráter material. Numa
suas deliberações administrativas ,a exemplo dos segunda definição é o ato pelo qual a administração
diversos , Tribunais (Tribunais Judiciários, Tribunais de faculta ao particular o uso privativo de um bem público.
Contas ) e Conselhos (Conselhos de Contribuintes, Exemplos : autorização de porte de arma, autorização
Conselho Curador do FGTS, Conselho Nacional da para exploração de jazida mineral (CF, art. 146,
Previdência Social) ; parágrafo único). A diferença em relação a Licença é
Instruções, Ordens de serviço, Avisos - utilizados para que a Administração pode negar a autorização.
a Administração transmitir aos subordinados a maneira Homologação – é o ato unilateral e vinculado de
de conduzir determinado serviço; controle pelo qual a Administração concorda com um
Alvarás - utilizados para a expedição de autorização e ato jurídico, ou série de atos (procedimento), já
licença, denotam aquiescência da Administração no praticados verificando a consonância deles com os
sentido de ser desenvolvida certa atividade pelo requisitos legais condicionadores de sua válida emissão.
particular.
Ofícios - utilizados pelas autoridades administrativas
para comunicarem-se entre si ou com terceiros. São as
“cartas” ofícios, por meio delas expedem-se
agradecimentos, encaminham-se papéis, documentos e
informações em geral.

19
POLÍCIA MILITAR DE ALAGOAS
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

ANULAÇÃO OU INVALIDAÇÃO DOS ATOS devem ser respeitados pela administração.


ADMINISTRATIVOS
Torna-se mais fácil entendermos os motivos pelos quais
É a declaração de invalidade de um ato administrativo os atos administrativos viciados devem ser anulados
ilegítimo ou ilegal, feita pela própria Administração ou quando percebemos que tais vícios sempre atingirão
pelo Poder Judiciário. um dos requisitos de validade dos ditos atos. Como
sabemos, esses requisitos são a competência ou sujeito,
Baseia-se, portanto, em razões de ilegitimidade ou
a finalidade, a forma, o motivo ou causa e o objeto ou
ilegalidade.
conteúdo.
Desde que a Administração reconheça que praticou um
Portanto, violado um desses requisitos, impõe-se a
ato contrário ao direito vigente, cumpre-lhe anulá-lo o
decretação da nulidade do ato.
quanto antes, para restabelecer a legalidade
administrativa.
Como a desconformidade com a lei atinge o ato em sua A controvérsia doutrinária a cerca da Invalidação dos
própria origem, a anulação produz efeitos retroativos à Atos Administrativos
data em que foi emitido (efeitos ex tunc, ou seja, a
O tratamento da questão relativa à invalidação
partir do momento de sua edição).
(anulação) dos atos administrativos baseia-se,
A anulação pode ser feita tanto pelo Poder Judiciário, normalmente, nos clássicos ensinamentos de Hely L.
como pela Administração Pública, com base no seu Meirellles e corresponde a corrente tradicional sobre o
poder de autotutela sobre os próprios atos, de acordo tema, razão pela qual a mantivemos aqui, inicialmente.
com entendimento já consagrado pelo Supremo
Todavia, modernamente, muito se discute sobre esse
Tribunal Federal por meio das Súmulas transcritas a
posicionamento, razão pela qual, se faz necessário um
seguir:
maior aprofundamento sobre o tema da nulidade dos
Súmula 346: "A Administração Pública pode atos administrativos, quer pelas mudanças nos
anular seus próprios atos". paradigmas informadores do Direito Administrativo,
decorrentes mesmo da evolução dessa cadeira jurídica,
Súmula 473: "A Administração pode anular seus
quer pela própria necessidade de adequar-se os
próprios atos, quando eivados de vícios que os
postulados básicos do direito público à nova realidade
tornem ilegais, porque deles não se originam
constitucional e legal atual.
direitos, ou revogá-los, por motivo de
conveniência ou oportunidade, respeitados os
direitos adquiridos e ressalvada, em todos os
A Teoria das Nulidades
casos, a apreciação judicial".
A questão das nulidades no Direito é um dos temas
Para ser feita pelo Poder Judiciário, a anulação depende
mais tortuosos enfrentados pelos juristas e
de provocação do interessado - tendo em vista que a
doutrinadores.
atuação do Poder Judiciário, diferentemente do que
ocorre com a atuação administrativa, pauta-se pelo Se mesmo no Direito Civil ainda provoca polêmicas, de
Princípio da Demanda - iniciativa da parte -, que pode pode imaginar seus efeitos no Direito Administrativo.
utilizar-se quer das ações ordinárias, quer dos remédios Bem oportuna é a lição de Seabra Fagundes, lembrado
constitucionais de controle da administração (mandado por Carvalho Filho, que asseverou “a deficiência e a
de segurança, ação popular etc.). falta de sistematização dos textos de Direito
Administrativo embaraçam a construção da teoria das
O conceito de ilegalidade ou ilegitimidade, para fins de
nulidades dos atos da Administração Pública”.
anulação do ato administrativo, não se restringe
somente à violação frontal da lei. As nulidades no direito comum tradicionalmente
obedecem a um sistema dicotômico, no qual,
Pois abrange não só a clara e direta infringência do
dependendo da intensidade do vício que atinja o ato
texto legal, como também o abuso, por excesso ou
jurídico, dependendo do tipo de interesse violado – o
desvio de poder, ou por negação aos princípios gerais
interesse público, ou o interesse privado-, maculado
do direito.
pelo vício, a lei o fulmina com a pecha da nulidade ou
O ato nulo não vincula as partes, mas pode produzir da anulabilidade, ambas figurando no novo Código Civil,
efeitos válidos em relação a terceiros de boa-fé. art. 166 e 171, respectivamente (Art. 145 e 147 do
Código de 1916).
Somente os efeitos, que atingem terceiros, é que

20
POLÍCIA MILITAR DE ALAGOAS
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Como salienta Celso Antônio Bandeira de Mello, “a defeito de formalidade)”.


ordem normativa pode repelir com intensidade variável
Di Pietro completa o raciocínio lembrando que as
atos praticados em desobediência às disposições
hipóteses de nulidade e anulabilidade do direito civil é
jurídicas, estabelecendo destarte uma gradação no
que não podem ser inteiramente transpostas para o
repúdio a eles”.
direito administrativo, face às peculiaridades desta
No Direito Civil, são duas as diferenças básicas entre a cadeira publicista. A necessidade de manifestação do
nulidade e a anulabilidade. A primeira é que a nulidade interessado, exigida na anulabilidade civil, carece de
não admite a convalidação, ao passo que na aplicação no campo administrativista, em virtude da
anulabilidade ela é possível. A segunda é que a nulidade autotutela administrativa; já a possibilidade ou não da
pode ser decretada pelo juiz ex officio (sem provocação convalidação é possível ser transposta, residindo, ai
da parte interessada), ou ainda mediante provocação mesmo, a diferença entre a nulidade e a anulabilidade.
pela parte ou pelo Ministério Público; enquanto que no
Com o advento da lei federal nº 9.784/99 foi positivada
caso da anulabilidade, esta só pode ser apreciada
a teoria dualista, já que a referida lei admite
mediante provocação da(s) parte(s) interessada(s).
expressamente a possibilidade de convalidação dos atos
A possibilidade de adaptar-se a teoria das nulidades administrativos que apresentarem defeitos sanáveis,
civilistas ao Direito Administrativo provocou enorme pelo que se faz imperioso, hodiernamente, a aceitação
cisão na doutrina, a ponto de dividi-la em dois polos de atos administrativos anuláveis.
antagônicos: os monistas e os dualistas.
Por último, outra questão controvertida, é a de saber se
Para os monistas, é inaplicável ao Direito Administrativo há prazo para a Administração anular seus atos.
a dicotomia das nulidades do Direito Civil. Para estes
O art. 54 da lei nº 9.784/99 prescreve que “o direito da
autores, o ato administrativo será nulo ou válido (esta
Administração de anular os atos administrativos de que
posição e defendida principalmente por Hely L.
decorram efeitos favoráveis para os destinatários decai
Meirelles, Diógenes Gasparini, Sérgio Ferraz etc.).
em cinco anos, contados da data em que foram
Já para os dualistas, os atos administrativos podem ser praticados, salvo comprovada má-fé”.
nulos ou anuláveis, de acordo com a maior ou menor
Logo, é de se afirmar que a despeito de todas as
gravidade do vício.
inúmeras controvérsias doutrinárias, a lei acima
Para estes, é possível que o Direito Administrativo referida, estabelece o prazo quinquenal para a
admita a existência da dicotomia entre nulidade e administração anular os atos administrativos de que
anulabilidade, inclusive, neste último caso, com o efeito decorram efeitos favoráveis para os destinatários,
da convalidação de atos defeituosos (posição defendida ressalvada a má-fé. Findo tal prazo, o ato não mais
principalmente por Celso A. Bandeira de Mello, Cretella poderá ser anulado, ocorrendo, via de consequência, a
Júnior, Lucia Valle Figueiredo e Silvia Di Pietro). convalidação tácita.
A diferença predominante entre nulidade e Ressalte-se, todavia, que o prazo quinquenal acima
anulabilidade em Direito Administrativo, baseia-se, mencionado só pode referir-se, por ilação lógico-
quase que exclusivamente, na possibilidade de jurídica, e interpretação sistemática da legislação
convalidação. Logo, no ato absolutamente nulo, vigente, aos atos anuláveis, e não aos nulos.
impossível é a sua convalidação, enquanto que nos atos
Os atos nulos, portadores de vícios insanáveis, ou
anuláveis é possível que os mesmos sejam saneados
expressamente declarados nulos por disposição
pela Administração.
expressa de lei podem ser invalidados a qualquer
Esta é a posição defendida por Celso A. B. de Mello, tempo.
para quem, “nulos são os atos que não podem ser
É que não se pode admitir que a nulidade visceral,
convalidados, entrando nessa categoria: os atos que a
deletéria do interesse público e violadora de expressa
lei assim o declare; os atos em que é materialmente
determinação legal, tenha a sua declaração de nulidade
impossível a convalidação, pois se o mesmo conteúdo
sujeita a prazo.
fosse novamente produzido, seria reproduzida a
invalidade anterior (é o que ocorre com os vícios É correto que se sujeite a prazo a ação anulatória, mas
relativos ao objeto, à finalidade, ao motivo, à causa); não a ação de declaração de nulidade. Não é por outra
seriam anuláveis os que a lei assim declare; os que razão que o art. 54, acima transcrito menciona que o
podem ser praticados sem vício (é o caso dos praticados prazo quinquenal é de natureza decadencial. Sabe-se
por sujeito incompetente, com vício de vontade, com que os prazos de natureza decadencial ligam-se

21
POLÍCIA MILITAR DE ALAGOAS
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

intimamente ao exercício dos chamados direitos fé, como antes já foi dito, mas jamais que a nomeação
potestativos. Ora, o direito da administração de anular em si tornou-se inatacável pela decadência. O mesmo
atos administrativos que produzam efeitos favoráveis ocorreria com a expressa determinação de nulidade dos
aos destinatários é típico exemplo de direito atos mencionados no art. 21 da lei complementar nº
potestativo, os quais devem ter prazo fixado para o seu 1001/00.
exercício, para que não se sujeite aquele a quem o ato
Há que se distinguir, portanto, a anulação, sujeita ao
beneficie a eterna possibilidade de intervenção em sua
prazo decadencial de cinco anos, previsto no art. 54 da
esfera jurídica pela simples manifestação de vontade da
lei nº 9.784/99, da declaração de nulidade, que pode
administração.
ser feita a qualquer tempo, justamente por se tratar de
Por outro lado, o princípio da segurança jurídica impede mera declaração, que como tal, não se sujeita a prazo.
a perpetuação de controvérsias e privilegia a
sedimentação das relações jurídicas.
QUESTÕES SOBRE ATOS ADMINISTRATIVOS
Por tal razão, mesmo antes do advento da lei nº
9.784/99 já se defendia, tanto na doutrina quanto na
jurisprudência, a existência de um prazo razoável para
se proceder à anulação dos atos administrativos de que
decorressem efeitos favoráveis para os administrados,
ficando, caso a caso, sujeito ao prudente arbítrio do 01. (2015 - CESPE - FUB - Administrador) Julgue o item
julgador ou do aplicador do direito a fixação de um subsequente, no que se refere a atos
prazo tido como razoável. O mérito inegável da lei nº administrativos.
9.784/99 foi uniformizar esse prazo, estabelecendo-o
como regra imperativa e uniforme para a administração Competência, finalidade, forma, motivo e objeto são
federal. Ressalte-se que o reconhecimento da existência requisitos fundamentais do ato administrativo, sem
do subprincípio da segurança jurídica como princípio os quais este se torna nulo.
constitucional é o que torna possível a existência do Certo - Errado
próprio art. 54 da lei nº 9.784/99, pois caso contrário,
seria ele mesmo violador do princípio da legalidade.
02. (2015 - CESPE - TCE-RN - Assessor Técnico Jurídico -
Logo, tratando-se de ato anulável, deve a administração
Cargo 2) A respeito dos atos administrativos em
anulá-lo ou convalidá-lo expressamente dentro do
espécie e da intervenção do Estado na propriedade
prazo decadencial de cinco anos, sob pena de depois de
privada, julgue o item seguinte.
exaurido este prazo, o ato tornar-se convalidado
tacitamente, e, portanto, intocável, por decaído o O parecer é ato administrativo em espécie que,
direito de decretar-lhe a anulação. quando obrigatório, vincula a decisão a ser proferida
pela autoridade competente.
Já no que se refere à declaração de nulidade, não se
pode aceitar que haja prazo para fazê-lo. O que se pode Certo - Errado
considerar é que os atos administrativos viciados que
não se encontrem sob o manto do art. 54, caput, da Lei
Federal n. 9.784/99, possam ser administrativamente 03. (2015 - CESPE - TCE-RN - Inspetor - Administração,
invalidados a qualquer tempo, desde que os terceiros Contabilidade, Direito ou Economia - Cargo 3) Com
de boa-fé prejudicados tenham seus possíveis prejuízos relação aos atos administrativos, julgue o item
ressarcidos, e, especialmente, que a má-fé do subsecutivo.
beneficiário seja comprovada. Um ato administrativo praticado por pessoa que não
Como se poderia entender que a nomeação de servidor tenha competência para tal não poderá ser
público para cargo efetivo sem o atendimento a convalidado, pois, assim como os vícios de motivo e
exigência de prévia aprovação em concurso público objeto, o vício de competência é insanável.
esteja sujeita a prazo, diante de sua visceral nulidade e Certo - Errado
da expressa determinação contida no parágrafo
segundo da Constituição que expressamente o declara
nulo?
O que se pode aceitar é a convalidação dos atos
praticados por tal servidor que atinjam terceiros de boa-

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POLÍCIA MILITAR DE ALAGOAS
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

04. (2015 - CESPE - STJ - Técnico Judiciário - 08. (2015 - CESPE - TCU - Técnico Federal de Controle
Administrativa) Julgue o item seguinte, acerca do Externo - Conhecimentos Específicos) Julgue o item
direito administrativo e da prática dos atos seguinte, relativo ao ato administrativo.
administrativos.
Ao delegar a prática de determinado ato
O decreto é ato administrativo que pode ser administrativo, a autoridade delegante transfere a
praticado tanto pelo chefe do Poder Executivo titularidade para sua prática.
quanto pelos presidentes dos tribunais superiores.
Certo - Errado
Certo - Errado

09. (2015 - CESPE - TCU - Técnico Federal de Controle


05. (2015 - CESPE - TCU - Técnico Federal de Controle Externo - Conhecimentos Específicos) Julgue o item
Externo - Conhecimentos Específicos) Acerca da seguinte , relativo ao ato administrativo.
invalidação, da revogação e da convalidação dos atos
Decretos não são considerados atos administrativos.
administrativos, julgue o item a seguir.
Certo - Errado
Conforme a teoria dos motivos determinantes, a
validade do ato administrativo vincula-se aos 10. (2015 - CESPE - FUB - Administrador) Julgue o item
motivos que o determinaram, sendo, portanto, nulo subsequente, no que se refere a atos
o ato administrativo cujo motivo estiver dissociado administrativos.
da situação de direito ou de fato que determinou ou Um ato administrativo editado pela administração
autorizou a sua realização. pública não requer provas de sua validade, visto que
Certo - Errado a presunção de legitimidade é inerente a esse ato.
Certo - Errado
06. (2015 - CESPE - TCU - Técnico Federal de Controle
Externo - Conhecimentos Específicos) Acerca da 11. (2015 - CESPE - FUB - Administrador) A respeito dos
invalidação, da revogação e da convalidação dos atos atos administrativos, julgue o próximo item.
administrativos, julgue o item a seguir.
Instrução é ato administrativo unilateral editado
A revogação de atos pela administração pública por pelos ministros de Estado.
motivos de conveniência e oportunidade não possui
limitação de natureza material, mas somente de Certo - Errado
natureza temporal, como, por exemplo, o prazo
quinquenal previsto na Lei n.º 9.784/1999, que
regula o processo administrativo no âmbito do 12. (2015 - CESPE - FUB - Auditor) No que concerne ao
serviço público federal. regime jurídico-administrativo, julgue o item
subsequente.
Certo - Errado
A motivação do ato administrativo deve ser
contemporânea à decisão e emanar da autoridade
07. (2015 - CESPE - TCU - Técnico Federal de Controle responsável pela decisão administrativa.
Externo - Conhecimentos Específicos) Julgue o item Certo - Errado
seguinte , relativo ao ato administrativo.
É proibido delegar a edição de atos de caráter
normativo. 13. (2015 - CESPE - MPU - Analista do MPU -
Conhecimentos Básicos) Acerca dos atos
Certo - Errado administrativos, julgue o item subsequente.
Tanto os atos administrativos constitutivos quanto
os negociais e os enunciativos têm o atributo da
imperatividade.
Certo - Errado

23
POLÍCIA MILITAR DE ALAGOAS
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

14. (2014 - CESPE - ANTAQ - Técnico Administrativo) PODERES ADMINISTRATIVOS: PODER HIERÁRQUICO;
Acerca dos atos administrativos, julgue o item a PODER DISCIPLINAR; PODER REGULAMENTAR; PODER
seguir. DE POLÍCIA; USO E ABUSO DO PODER.
A competência, um dos requisitos do ato
administrativo, é intransferível, sendo vedada a sua
delegação.
Os Poderes Administrativos são inerentes à
Certo - Errado Administração Pública e possuem caráter instrumental,
ou seja, são instrumentos de trabalho essenciais para
que a Administração possa desempenhar as suas
15. (2014 - CESPE - ANATEL - Analista Administrativo - funções atendendo o interesse público. Os poderes são
Direito) Julgue o item, a respeito de atos e processos verdadeiros poderes-deveres, pois a Administração não
administrativos. apenas pode como tem a obrigação de exercê-los.
Os atos administrativos são praticados por servidores
e empregados públicos, bem como por determinados
CLASSIFICAÇÃO DOS PODERES
particulares, a exemplo dos concessionários e
permissionários de serviços públicos e oficiais de  Poder Vinculado
cartórios.  Poder Discricionário
Certo - Errado  Poder Hierárquico
 Poder Disciplinar
 Poder Regulamentar
 Poder de Polícia

PODER VINCULADO
É o Poder que tem a Administração Pública de praticar
certos atos "sem qualquer margem de liberdade". A lei
GABARITO encarrega-se de prescrever, com detalhes, se, quando e
como a Administração deve agir, determinando os
QUESTÕES SOBRE ATOS ADMINISTRATIVOS elementos e requisitos necessários.
Ex.: A prática de ato (portaria) de aposentadoria de
servidor público.
01. C 06. E 11. C
02. C 07. C 12. E
PODER DISCRICIONÁRIO
03. E 08. E 13. E
04. E 09. E 14. E É aquele pelo qual a Administração Pública de modo
05. C 10. C 15. C explícito ou implícito, pratica atos administrativos com
liberdade de escolha de sua conveniência,
oportunidade e conteúdo.
A discricionariedade é a liberdade de escolha dentro de
limites permitidos em lei, não se confunde com
arbitrariedade que é ação contrária ou excedente da lei.
Ex : Autorização para porte de arma; Exoneração de um
ocupante de cargo em comissão.

PODER HIERÁRQUICO
É aquele pelo qual a Administração distribui e escalona
as funções de seus órgãos, ordena e rever a atuação de
seus agentes, estabelece a relação de subordinação

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POLÍCIA MILITAR DE ALAGOAS
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

entre os servidores públicos de seu quadro de pessoal. ampla, porque o interesse público é amplo. Segundo o
No seu exercício dão-se ordens, fiscaliza-se, delega-se e CTN “Interesse público é aquele concernente à
avoca-se. segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à
disciplina da produção e do mercado, ao exercício de
atividades econômicas dependentes de concessão ou
PODER DISCIPLINAR autorização do Poder Público, à tranquilidade pública
É aquele através do qual a lei permite a Administração ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais”
Pública aplicar penalidades às infrações funcionais de (Código Tributário Nacional, art. 78 segunda parte).
seus servidores e demais pessoas ligadas à disciplina
dos órgãos e serviços da Administração. A aplicação da
LIMITES DO PODER DE POLÍCIA
punição por parte do superior hierárquico é um poder-
dever, se não o fizer incorrerá em crime contra Necessidade – a medida de polícia só deve ser adotada
Administração Pública (Código Penal, art. 320). para evitar ameaças reais ou prováveis de perturbações
ao interesse público;
Ex.: Aplicação de pena de suspensão ao servidor
público. Proporcionalidade/razoabilidade – é a relação entre a
limitação ao direito individual e o prejuízo a ser evitado;
Poder disciplinar não se confunde com Poder
Hierárquico. No Poder hierárquico, a administração Eficácia – a medida deve ser adequada para impedir o
pública distribui e escalona as funções de seus órgãos e dano a interesse público. Para ser eficaz a
de seus servidores. No Poder disciplinar ela Administração não precisa recorrer ao Poder Judiciário
responsabiliza os seus servidores pelas faltas cometidas. para executar as sua decisões, é o que se chama de
auto-executoriedade.

PODER REGULAMENTAR
É aquele inerente aos Chefes dos Poderes Executivos
(Presidente, Governadores e Prefeitos) para expedir
decretos e regulamentos para complementar, explicitar
QUESTÕES SOBRE PODERES ADMINISTRATIVOS:
(detalhar) a lei visando sua fiel execução. A CF/88
PODER HIERÁRQUICO; PODER DISCIPLINAR; PODER
dispõe que :
REGULAMENTAR; PODER DE POLÍCIA; USO E ABUSO
“Art. 84 - Compete privativamente ao DO PODER.
Presidente da República:
IV - sancionar, promulgar e fazer publicar as leis,
bem como expedir decretos e regulamentos
para sua fiel execução”; 01. (2015 - CESPE - TJ-DFT - Técnico Judiciário -
Administrativa) Julgue o item que se segue, a respeito
O direito brasileiro não admite os chamados "decretos
dos atos administrativos.
autônomos", ou seja aqueles que trazem matéria
reservada à lei. Configura-se abuso de poder por desvio de poder no
caso de vício de finalidade do ato administrativo, e
abuso de poder por excesso de poder quando o ato
PODER DE POLÍCIA administrativo é praticado por agente que exorbita a
sua competência.
“Considera-se poder de polícia a atividade da
administração pública que, limitando o disciplinando Certo - Errado
direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato
ou abstenção de fato, em razão de interesse público...”
(Código Tributário Nacional, art. 78, primeira parte)”
Em resumo: através do qual a Administração Pública
tem a faculdade de condicionar e restringir o uso e gozo
de bens, atividades e direitos individuais, em benefício
do interesse público.
Extensão do Poder de Polícia - A extensão é bastante

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POLÍCIA MILITAR DE ALAGOAS
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

02. (2015 - CESPE - Telebras - Conhecimentos Básicos 06. (2015 - CESPE - STJ - Analista Judiciário -
para os Cargos 5, 8 a 12) Em alguns estados e Administrativa) No tocante aos poderes
municípios brasileiros foi instituída restrição administrativos, julgue o seguinte item.
periódica de trânsito de veículos automotores,
O desvio de finalidade é uma espécie de abuso de
popularmente conhecida como rodízio. Tendo como
poder em que o agente público, apesar de agir
referência os poderes da administração pública,
dentro dos limites de sua competência, pratica
julgue o item a seguir a respeito desse assunto.
determinado ato com objetivo diverso daquele
O estabelecimento da restrição de trânsito de pautado pelo interesse público.
veículos automotores deve ser feito de forma
Certo - Errado
criteriosa para evitar desvio de poder, o que ocorre
quando a limitação é feita com base, por exemplo,
exclusivamente no ano de fabricação do veículo. 07. (2015 - CESPE - STJ - Analista Judiciário -
Certo - Errado Administrativa) No tocante aos poderes
administrativos, julgue o seguinte item.

03. (2015 - CESPE - Telebras - Conhecimentos Básicos A relação entre a administração direta e as entidades
para os Cargos 5, 8 a 12) Em alguns estados e que integram a administração indireta pressupõe a
municípios brasileiros foi instituída restrição existência do poder hierárquico entre ambas.
periódica de trânsito de veículos automotores, Certo - Errado
popularmente conhecida como rodízio. Tendo como
referência os poderes da administração pública,
julgue o item a seguir a respeito desse assunto. 08. (2015 - CESPE - MPOG - Técnico de Nível Superior -
O rodízio de automóveis estabelecido pela Cargo 22) Considerando os poderes regulamentar,
administração pública configura exercício do poder disciplinar e hierárquico da administração pública,
de polícia. julgue o seguinte item.

Certo - Errado A hierarquia existe tanto no âmbito do Poder


Executivo quanto no dos Poderes Legislativo e
Judiciário com relação às suas funções de natureza
04. (2015 - CESPE - AGU - Advogado da União) Foi administrativa.
editada portaria ministerial que regulamentou, com
Certo - Errado
fundamento direto no princípio constitucional da
eficiência, a concessão de gratificação de
desempenho aos servidores de determinado 09. (2015 - CESPE - FUB - Administrador) A respeito dos
ministério. poderes da administração pública, julgue o item a
Com referência a essa situação hipotética e ao poder seguir.
regulamentar, julgue o próximo item. Pelo poder hierárquico, são possíveis a apuração de
A portaria em questão poderá vir a ser sustada pelo faltas funcionais e a aplicação de punições ao agente
Congresso Nacional, se essa casa entender que o infrator.
ministro exorbitou de seu poder regulamentar. Certo - Errado
Certo - Errado

05. (2015 - CESPE - STJ - Analista Judiciário -


Administrativa) No tocante aos poderes
administrativos, julgue o seguinte item. 10. (2015 - CESPE - FUB - Auditor) Acerca dos poderes
O poder de polícia dispõe de certa administrativos, julgue o item que se segue.
discricionariedade, haja vista o poder público ter O exercício do poder de polícia é delegável a pessoas
liberdade para escolher, por exemplo, quais jurídicas de direito privado.
atividades devem ser fiscalizadas para que se proteja
o interesse público. Certo - Errado

Certo - Errado

26
POLÍCIA MILITAR DE ALAGOAS
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

11. (2015 - CESPE - FUB - Auditor) Paulo foi aprovado 16. (2015 - CESPE - TRE-GO - Técnico Judiciário - Área
em concurso para analista, que exigia nível superior. Administrativa) Julgue o item que se segue,
Nomeado e empossado, Paulo passou a referentes aos poderes da administração pública.
desempenhar suas funções com aparência de
O excesso de poder, espécie de abuso de poder,
legalidade. Posteriormente, constatou-se que Paulo
ocorre quando o agente público ultrapassa os limites
jamais havia colado grau em instituição de ensino
impostos a suas atribuições.
superior, detendo, como titulação máxima, o ensino
médio. Certo - Errado
Considerando essa situação hipotética, julgue o item
seguinte. 17. (2015 - CESPE - TRE-GO - Técnico Judiciário - Área
Paulo desempenhou suas funções com excesso de Administrativa) Julgue o item que se segue,
poder. referentes aos poderes da administração pública.
Certo - Errado O poder hierárquico é aquele que confere à
administração pública a capacidade de aplicar
penalidades.
12. (2015 - CESPE - FUB - Auditor) Acerca dos poderes
Certo - Errado
administrativos, julgue o item que se segue.
No Brasil, apenas excepcionalmente se admite ato
normativo primário no exercício do poder
regulamentar da administração pública.
Certo - Errado

13. (2015 - CESPE - FUB - Assistente em Administração)


Com relação aos ministérios e aos poderes e deveres
do administrador público, julgue o item subsequente.
Para o administrador público, a ação é um dever, não
sendo possível a renúncia de seus poderes GABARITO
administrativos.
QUESTÕES SOBRE PODERES ADMINISTRATIVOS:
Certo - Errado PODER HIERÁRQUICO; PODER DISCIPLINAR; PODER
REGULAMENTAR; PODER DE POLÍCIA; USO E ABUSO
DO PODER.
14. (2015 - CESPE - MPU - Analista do MPU -
Conhecimentos Básicos) Com relação ao controle da
administração e ao poder de polícia administrativa, 01. C 06. C 11. E 16. C
julgue o item seguinte. 02. C 07. E 12. C 17. E
03. C 08. C 13. C
O poder de polícia administrativa, que incide sobre
04. C 09. E 14. E
as atividades, os bens e os próprios indivíduos, tem
05. C 10. E 15. E
caráter eminentemente repressivo.
Certo - Errado

15. (2015 - CESPE - TRE-GO - Técnico Judiciário - Área


Administrativa) Julgue o item que se segue,
referentes aos poderes da administração pública.
Poder disciplinar é aquele que permite à
administração pública disciplinar, de forma concreta,
a aplicação de leis gerais e abstratas.
Certo - Errado

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POLÍCIA MILITAR DE ALAGOAS
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA XXXIV estabelece o direito de petição, enquanto o inciso


LV assegura o contraditório e a ampla defesa.
Como a Constituição assegura o direito de petição
independentemente do pagamento de taxas, não mais
Controle administrativo têm fundamento as normas legais que exigem a
Controle administrativo é o poder de fiscalização e chamada “garantia de instância” para interposição de
correção que a Administração Pública (em sentido recursos administrativos, ou seja, o depósito de
amplo) exerce sobre sua própria atuação, sob os quantias em dinheiro como condição para decisão do
aspectos de legalidade e mérito, por iniciativa própria recurso.
ou mediante provocação. Na esfera federal esse
controle é denominado supervisão ministerial pelo
Modalidades
Decreto-lei 200/67. Abrange os órgãos da
Administração Direta ou centralizada e as pessoas Dentro do direito de petição há inúmeras modalidades
jurídicas que integram a Administração Indireta ou de recursos administrativos, a saber:
descentralizada.
Representação – É a denúncia de irregularidades feita
O controle sobre os órgãos da Administração Direta é perante a própria Administração. Está disciplinada pela
um controle interno e decorre do poder de autotutela Lei 4.898/65, quando se tratar de representação contra
que permite à Administração Pública rever os próprios abuso de autoridade. É dirigida à autoridade superior
atos quando ilegais, inoportunos ou inconvenientes, que tiver competência para aplicar ao culpado a
sendo amplamente reconhecido pelo Poder Judiciário respectiva sanção, bem como ao órgão do Ministério
(Súmulas 346 e 473 do STF). Público que tiver competência para iniciar processo-
crime contra a autoridade culpada.
A Constituição Federal prevê um caso específico de
Recursos administrativos
representação perante o Tribunal de Contas, no artigo
Recursos administrativos são todos os meios que 74, § 2º, aberto a qualquer cidadão, partido político,
podem utilizar os administrados para provocar o associação ou sindicato.
reexame do ato pela Administração Pública. Podem ter
Reclamação administrativa – Prevista no Decreto
efeito suspensivo ou devolutivo. No silêncio da lei, o
20.910/32, é a oposição solene, escrita e assinada,
recurso tem apenas efeito devolutivo.
contra ato ou atividade pública que afete direitos ou
Segundo Hely Lopes Meirelles, o recurso administrativo interesses legítimos do reclamante. Extingue-se em um
com efeito suspensivo produz de imediato duas ano o direito de reclamar, se outro prazo não for fixado
consequências: o impedimento da fluência do prazo em lei.
prescricional e a impossibilidade jurídica de utilização
Pedido de reconsideração – É aquele pelo qual o
das vias judiciárias para ataque do ato pendente de
interessado requer o reexame do ato à própria
decisão administrativa.
autoridade que o emitiu. Está previsto no artigo 106 da
A Constituição de 1967, no artigo 153, § 4º, previa a Lei 8112/90. Só pode ser formulado uma vez. Exige
possibilidade de a lei instituir a exaustão das vias argumentos novos.
administrativas como condição para propositura da
Recurso administrativo ou hierárquico – É o pedido de
ação judicial. Essa possibilidade não foi repetida na
reexame do ato dirigido à autoridade superior à que o
Constituição de 1988, que exige apenas a ocorrência de
proferiu. Só podem recorrer os legitimados, que,
lesão ou ameaça a direito (art. 5º, XXXV).
segundo o artigo 58 da Lei federal 9784/99, são: I – os
No recurso sem efeito suspensivo, o ato, ainda que titulares de direitos e interesses que forem parte no
possa vir a ser corrigido pela própria autoridade processo; II – aqueles cujos direitos ou interesses forem
administrativa, produz lesão a partir do momento em indiretamente afetados pela decisão recorrida; III –
que se torna exequível; a prescrição começa a correr e o organizações e associações representativas, no tocante
interessado pode propor ação judicial a direitos e interesses coletivos; IV – os cidadãos ou
independentemente da propositura ou não de recurso associações, quanto a direitos ou interesses difusos.
administrativo. Pode-se, em tese, recorrer de qualquer ato ou decisão,
Os recursos administrativos têm duplo fundamento salvo os atos de mero expediente ou preparatórios de
constitucional: artigo 5º, incisos XXXIV e LV. O inciso decisões.

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POLÍCIA MILITAR DE ALAGOAS
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

O recurso hierárquico tem sempre efeito devolutivo e perda do prazo para aplicação de penalidades
pode ter efeito suspensivo, se previsto em lei. Atente-se administrativas.
que, se cabe recurso administrativo com efeito
Na ausência de lei específica estabelecendo prazo para
suspensivo e esse for interposto, é vedada a impetração
recorrer, aplica-se, na esfera federal, a Lei 9.784/99,
de mandado de segurança, conforme estabelece o art.
que disciplina o processo administrativo no âmbito da
5º, I da Lei federal 1533/51, que regula o mandado de
Administração Pública Federal. O artigo 59 estabelece
segurança, até que seja decidido.
que “salvo disposição legal específica, é de dez dias o
prazo para interposição de recurso administrativo,
contado a partir da ciência ou divulgação oficial da
O recurso hierárquico pode ser voluntário ou de ofício.
decisão recorrida”. Nada impede, porém, que a
Na decisão do recurso, o órgão ou autoridade Administração conheça de recursos extemporâneos,
competente tem amplo poder de revisão, podendo desde que constate assistir razão ao interessado.
confirmar, desfazer ou modificar o ato impugnado.
No silêncio da lei, o prazo para que a Administração
Entretanto, a reforma não pode impor ao recorrente
reveja os próprios atos, com o objetivo de corrigi-los ou
um maior gravame (reformatio in pejus).
invalidá-los, é o mesmo em que se dá a prescrição
Pedido de revisão – É o recurso utilizado pelo servidor judicial. Na esfera federal, o artigo 54 da Lei 9.784/99
público punido pela Administração, visando ao reexame prevê que “o direito da Administração de anular os atos
da decisão, no caso de surgirem fatos novos suscetíveis administrativos de que decorram efeitos favoráveis
de demonstrar a sua inocência. Pode ser interposto pelo para os destinatários decai em cinco anos, contados da
próprio interessado, por seu procurador ou por data em que foram praticados, salvo se comprovada
terceiros, conforme dispuser a lei estatutária. É má-fé.”
admissível até mesmo após o falecimento do
Com relação aos prazos para punir, são fatais para a
interessado.
Administração. Na esfera federal, prescreve em 180
dias a pena de advertência, em dois anos a de
Coisa julgada administrativa suspensão e em cinco anos as de demissão, cassação de
aposentadoria ou disponibilidade e destituição de cargo
Quando inexiste, no âmbito administrativo, em comissão (art. 142 da Lei 8.112/90).
possibilidade de reforma da decisão oferecida pela
Administração Pública, está-se diante da coisa julgada Quando se trata de punição decorrente do exercício do
administrativa. Esta não tem o alcance da coisa julgada poder de polícia, a Lei 9.873/99 estabelece prazo de
judicial, porque o ato jurisdicional da Administração prescrição de cinco anos, contados da data da prática
Pública é tão-só um ato administrativo decisório, do ato ou, no caso de infração permanente ou
destituído do poder de dizer do direito em caráter continuada, do dia em que tiver cessado.
definitivo. Tal prerrogativa, no Brasil, é só do Judiciário. Em caso de paralisação do procedimento administrativo
A imodificabilidade da decisão da Administração Pública de apuração de infração, por período superior a três
só encontra consistência na esfera administrativa. anos, também incide a prescrição, sem prejuízo da
Perante o Judiciário, qualquer decisão administrativa apuração da responsabilidade funcional decorrente da
pode ser modificada, salvo se também essa via estiver paralisação. Se o fato objeto da ação punitiva da
prescrita. Administração for crime, a prescrição reger-se-á pelo
prazo previsto na ação penal.
Portanto, a expressão “coisa julgada”, no Direito
Administrativo, não tem o mesmo sentido que no
Direito Judiciário. Ela significa apenas que a decisão se O silêncio da Administração Pública
tornou irretratável pela própria Administração.
Quando a Administração deixa de se pronunciar sobre
um pedido que lhe é apresentado pelo administrado na
Prescrição administrativa defesa de seus interesses, tem-se o silêncio
administrativo, que é um fato jurídico.
Por um lado, a prescrição administrativa designa a
perda do prazo para recorrer de decisão administrativa; A falta de pronunciamento dentro do prazo fixado pode
por outro, significa a perda do prazo para que a significar deferimento ou indeferimento do pedido e
Administração reveja os próprios atos. Indica também a concordância ou oposição ao ato controlado.

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Se não existir prazo para a manifestação da República, que deverão responder no prazo de 30 dias,
Administração e o silêncio persistir, o interessado deve sob pena de crime de responsabilidade (art. 50, § 2º);
buscar a satisfação de seu direito perante o Judiciário.
4. a apuração de irregularidades pelas Comissões
Este decidirá em favor do interessado se entender que
Parlamentares de Inquérito (art. 58, § 3º);
entre o seu pedido e a data da invocação da tutela
judicial decorreu um prazo razoável, isto é, um período 5. a competência do Senado Federal para processar e
de tempo suficiente para que a Administração se julgar o Presidente e o Vice-Presidente da República nos
pronunciasse sobre o pedido. crimes de responsabilidade, bem como os Ministros de
Estado e os Comandantes das Forças Armadas, nos
A omissão da Administração deve acarretar a
crimes da mesma natureza conexos com aqueles; a
responsabilização do servidor negligente, bem como a
competência para processar e julgar os Ministros do
responsabilização da Administração, nos termos do
STF, o Procurador-Geral da República e o Advogado
artigo 37, § 6º da CF, quando causar dano ao
Geral da União, nos crimes de responsabilidade (art, 52,
administrado.
I e II);

CONTROLE LEGISLATIVO
6. a competência do Senado para fixar, por proposta do
O controle que o Poder Legislativo exerce sobre a Presidente da República, limites globais para o
Administração Pública limita-se às hipóteses previstas montante da dívida consolidada da União, dos Estados,
na Constituição Federal. Alcança os órgãos do Poder do DF e dos Municípios; para dispor sobre limites
Executivo, as entidades da Administração Indireta e o globais e condições para as operações de crédito
próprio Poder Judiciário, quando executa função externo e interno da União, dos Estados, do DF e dos
administrativa. Municípios, de suas autarquias e demais entidades
controladas pelo Poder Público Federal; para dispor
sobre limites e condições para a concessão de garantia
Controle político da União em operações de crédito externo e interno
O controle abrange aspectos ora de legalidade, ora de (art. 52, VI, VII e VIII);
mérito, já que permite a apreciação das decisões 7. a competência do Congresso Nacional para sustar os
administrativas sob o aspecto inclusive da atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do
discricionariedade, ou seja, da oportunidade e poder regulamentar ou dos limites de delegação
conveniência diante do interesse público. legislativa (art. 49, V);
São hipóteses de controle político:
1. a competência exclusiva do Congresso Nacional e do CONTROLE FINANCEIRO
Senado para apreciar a priori ou a posteriori os atos do
A Constituição disciplina, nos artigos 70 a 75, a
Poder Executivo (art. 49, I, II, III, IV, XII, XIV, XVI e XVII, e
fiscalização contábil, financeira e orçamentária,
art. 52, II, IV, V e XI); a decisão, nesses casos, expressa-
determinando que essas normas se aplicam, no que
se por meio de autorização ou aprovação contida em
couber, à organização, composição e fiscalização dos
decreto legislativo ou resolução;
Tribunais de Contas dos Estados e do DF, bem como dos
2. a convocação de Ministro de Estado ou quaisquer Tribunais e Conselhos de Contas dos Municípios.
titulares de órgãos diretamente subordinados à
Quanto à atividade controlada, a fiscalização abrange a
Presidência da República, pela Câmara dos Deputados
contábil, a financeira, a orçamentária, a operacional e a
ou pelo Senado, bem como por qualquer de suas
patrimonial.
comissões, para prestar, pessoalmente, informações
sobre assunto previamente determinado, importando Quanto aos aspectos controlados, compreende:
crime de responsabilidade a ausência sem justificação
1. controle de legalidade dos atos de que resultem a
(art. 50);
arrecadação da receita ou a realização da despesa, o
3. o encaminhamento de pedidos escritos de nascimento ou a extinção de direitos e obrigações;
informação, pelas Mesas da Câmara e do Senado,
2. controle de legitimidade, que a Constituição tem
dirigidos aos Ministros ou a quaisquer titulares de
como diverso da legalidade, admitindo, assim, exame
órgãos diretamente subordinados à Presidência da
de mérito (ex; verificar se determinada despesa,

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POLÍCIA MILITAR DE ALAGOAS
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

embora legal, atendeu a ordem de prioridade 6. corretivas, quando assina prazo para que o órgão ou
estabelecida no plano plurianual) entidade adote as providências necessárias ao exato
cumprimento da lei, se verificada ilegalidade; e quando
3. controle de economicidade, que envolve também
susta, se não atendido, a execução do ato impugnado,
questão de mérito, para verificar se o órgão procedeu,
comunicando a decisão à Câmara dos Deputados e ao
na aplicação da despesa pública, de modo mais
Senado;
econômico (relação custo-benefício)
7. de ouvidor, quando recebe denúncias de
4. controle de fidelidade funcional dos agentes da
irregularidades ou ilegalidades, feita pelos responsáveis
administração responsáveis por bens e valores públicos;
pelo controle interno ou por qualquer cidadão, partido
5. controle de resultados de cumprimento de político, associação ou sindicato, nos termos do artigo
programas de trabalho e de metas, expresso em termos 74, §§ 1º e 2º.
monetários e em termos de realização de obras e
No âmbito municipal, o artigo 31 da Constituição prevê
prestação de serviços.
o controle externo da Câmara Municipal, com o auxílio
Quanto às pessoas controladas, abrange União, Estados, dos Tribunais de Contas dos Estados ou do Município,
Municípios, DF e entidades da Administração Direta e onde houver. Pelo § 2º, o parecer prévio emitido pelo
Indireta, bem como qualquer pessoa física ou entidade órgão competente sobre as contas anuais do Prefeito só
pública que utilize, arrecade, guarde, gerencie ou deixará de prevalecer por decisão de 2/3 dos membros
administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos da Câmara Municipal. E o § 3º determina que as contas
quais a União responda, ou que, em nome desta, dos Municípios ficarão, durante 60 dias, anualmente, à
assuma obrigações de natureza pecuniária. disposição de qualquer contribuinte, para exame e
O controle externo compreende as funções de: apreciação, o qual poderá questionar-lhes a
legitimidade, nos termos da lei. É mais uma hipótese de
1. fiscalização financeira propriamente dita, quando faz participação popular no controle da Administração.
inquéritos, inspeções e auditorias; quando fiscaliza a
aplicação de quaisquer recursos repassados pela União,
mediante convênio, acordo, ajuste ou outros CONTROLE PELO TRIBUNAL DE CONTAS
instrumentos congêneres, a Estado, ao DF ou a
Município; O Tribunal de Contas é dotado de autonomia, estrutura
e competências equivalentes aos Poderes do Judiciário.
2. de consulta, quando emite parecer prévio sobre as Sua função é exatamente fiscalizar os atos da
contas prestadas anualmente pelo Presidente da administração pública. Com poderes únicos e diferentes
República; dos de outras instituições.
3. de informação, quando as presta ao Congresso A fiscalização movida pelo Tribunal de Contas que atua
Nacional, sobre a fiscalização contábil, financeira, auxiliando o legislativo é a de fiscalizar a contabilidade,
orçamentária, operacional e patrimonial e sobre as movimentações financeiras, orçamentárias,
resultados de auditorias e inspeções realizadas; patrimoniais e operacionais da administração pública. O
4. de julgamento, quando “julga” as contas dos Tribunal de Contas é integrado por nove membros, que
administradores e demais responsáveis por dinheiros, devem ter mais de 35 e menos de 65 anos. Os ministros
bens e valores públicos e as contas daqueles que derem formadores do Tribunal de Contas devem ser cerceados
causa à perda, extravio ou outra irregularidade de que por idoneidade moral e reputação adequada, além de
resulte prejuízo ao erário; embora o dispositivo fale em contarem com um vasto conhecimento jurídico, tais
“julgar” (art. 71, II), não se trata de função jurisdicional, ministros recebem as mesmas garantias, prerrogativas e
porque o Tribunal de Contas apenas examina as contas, impedimentos dos ministros do superior tribunal de
tecnicamente, e não aprecia a responsabilidade do justiça. Um terço deles são nomeados pelo Presidente
agente público, o que é de competência exclusiva do da República e os dois terços restantes são nomeados
Poder Judiciário; pelo congresso nacional. Cabe ao Tribunal de Contas
um parecer prévio sobre as contas do Presidente da
5. sancionatórias, quando aplica aos responsáveis, nos República e o julgamento das contas dos
casos de ilegalidade de despesa ou irregularidade de administradores públicos.
contas, as sanções previstas em lei, que estabelecerá,
entre outras cominações, multa proporcional ao dano Controle Judicial
causado ao erário; O controle judiciário (ou judicial) é o exercido pelos
órgãos do Poder Judiciário sobre os atos administrativos

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NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

praticados pelo Poder Executivo, pelo Poder Legislativo seja qual for o artifício que a encubra; não é permitido
ou pelo próprio Poder Judiciário, quando realiza pronunciar-se sobre o mérito administrativo.
atividades administrativas. É sempre a posteriori,
somente relativo à legalidade dos atos administrativos.
O controle judicial é, sobretudo, um meio de Atos sujeitos a controle especial
preservação de direitos individuais dos administrados - atos políticos: são os que, praticados por agentes do
(nisso diferindo do controle político, exercido pelo Governo, no uso de sua competência constitucional, se
Legislativo). O Poder Judiciário, no exercício de sua fundam na ampla liberdade de apreciação da
atividade jurisdicional, sempre age mediante conveniência ou oportunidade de sua realização, sem se
provocação do interessado ou do legitimado (em casos aterem a critérios jurídicos preestabelecidos.
como o da ação popular ou a ação civil pública pode não
existir interesse direto do autor relativamente ao bem - atos legislativos: a lei, propriamente dita. Não ficam
ou direito lesado). sujeitos a anulação judicial pelos meios processuais
comuns, e sim pela via especial da Ação direta de
Importante lembrarmos que não se admite a aferição Inconstitucionalidade (Lei 9868/99), tanto para a lei em
do mérito administrativo pelo poder Judiciário. Se fosse tese como para os demais atos normativos (art. 102 e
dado ao juiz decidir sobre a legitimidade da valoração 103 da CF/88).
de oportunidade e conveniência realizada pelo
administrador na prática de atos discricionários de sua - atos interna corporis: não é tudo que provém do seio
competência, estaria esse mesmo juiz substituindo o da Câmara ou de suas deliberações internas. São só
administrador no exercício dessa atividade valorativa. aquelas questões ou assuntos que entendem direta e
imediatamente com a economia interna da corporação
Não se deve, entretanto, confundir a vedação de que o legislativa, com seus privilégios e com formação
Judiciário aprecie o mérito administrativo com a ideológica da lei, que, por sua própria natureza, são
possibilidade de aferição pelo Poder Judiciário da reservados à exclusiva apreciação e deliberação do
legalidade dos atos discricionários. O que o Judiciário Plenário da Câmara. Também são vedados à revisão
não pode é invalidar, devido ao acima explicado, a judicial. Meios de Controle Jurisdicional
escolha pelo administrador (resultado de sua valoração
de oportunidade e conveniência administrativas) dos São as vias processuais de procedimento ordinário,
elementos motivo e objeto desses atos, que formam o sumário ou especial de que dispõe o titular do direito
chamado mérito administrativo, desde que feita, essa lesado ou ameaçado de lesão para obter a anulação do
escolha, dentro dos limites da lei. No ato administrativo ato ilegal em ação contra a Administração Pública.
discricionário, além desses dois, temos outros três - mandado de segurança individual: destina-se a coibir
elementos que são vinculados (competência, finalidade atos ilegais da autoridade que lesem direito subjetivo,
e forma) e, por conseguinte, podem, e devem, ser líquido e certo do impetrante, não amparado por
aferidos pelo poder Judiciário quanto à sua legalidade. habeas corpus ou habeas data. O prazo para
Vale repisar: impetração é de 120 dias do conhecimento oficial do
• ato discricionário, como qualquer outro ato ato a ser impugnado (Lei 1533/51 e 4348/64; CF, art. 5º,
administrativo, está sujeito à apreciação judicial; apenas LXIX).
em relação a dois de seus elementos – motivo e objeto - - mandado de segurança coletivo: seus pressupostos
não há, em princípio, essa possibilidade. são os mesmos do individual, inclusive quanto ao
• Atos sujeitos a controle comum São os atos direito líquido e certo, só que a tutela não é individual,
administrativos, em geral. A competência do Judiciário mas coletiva (CF, art. 5º, LXX).
para a revisão de atos restringe-se ao controle da - ação popular: é um instrumento de defesa dos
legalidade e da legitimidade do ato impugnado; por interesses da coletividade, utilizável por qualquer
legalidade entende-se a conformidade do ato com a cidadão, no gozo de seus direitos cívicos e políticos. O
norma que o rege; por legitimidade entende-se a beneficiário direto e imediato é o povo (CF, art. 5º,
conformidade do ato com a moral administrativa e o LXXIII).
interesse coletivo, indissociáveis de toda atividade
pública. É permitido perquirir todos os aspectos de - ação civil pública: ampara os direitos difusos e
legalidade e legitimidade para descobrir e pronunciar a coletivos, não se prestando para direitos individuais,
nulidade do ato administrativo onde ela se encontre, e nem se destinando à reparação de prejuízos (Lei nº
7347/85; CF art. 129, III).

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POLÍCIA MILITAR DE ALAGOAS
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

- mandado de injunção: ampara quem se considerar c) exercido pelo Legislativo, pelo Judiciário e pela
prejudicado pela falta de norma regulamentadora que própria Administração, sem prejuízo da participação do
torne inviável o exercício dos direitos e liberdades 5 usuário no bom desempenho das funções
constitucionais e das prerrogativas inerentes a direitos e administrativas, o que lhes confere, inclusive, direito à
liberdades constitucionais e à nacionalidade, à informações sobre a atuação do governo.
soberania e à cidadania (CF, art. 5º. LXXI).
d) exercido pelo Judiciário, que se consubstancia em
- habeas data: assegura o conhecimento de registros verificação interna dos princípios expressos, tais como,
concernentes ao postulante e constantes de repartições legalidade, impessoalidade e supremacia do interesse
públicas ou particulares acessíveis ao público, ou para público.
retificação de seus dados pessoais (Lei 9507/97; CF, art.
e) legislativo externo, que se presta somente à
5º, LXXII).
verificação da observância dos princípios expressos e da
- ação direta de inconstitucionalidade: é usada para discricionariedade da Administração.
atacar a lei em tese ou qualquer outro ato normativo
antes mesmo de produzir efeitos concretos (CF, art.102,
I e 103).
- medida cautelar: feito pelo arguente de 02. (FCC - 2014 - TRF - 4ª REGIÃO - Técnico Judiciário -
inconstitucionalidade, será julgado pelo STF; exige os Área Administrativa) Considere:
pressupostos das cautelares comuns. A liminar I. Convocação de Ministro de Estado por Comissão do
suspende a execução da lei, mas não o que se Senado Federal para prestar, pessoalmente,
aperfeiçoou durante sua vigência. Produz efeitos ex informações sobre o tema da demarcação de terras
nunc. indígenas.
- ação de inconstitucionalidade por omissão: objetiva e II. Controle administrativo sobre órgãos da
expedição de ato normativo necessário para o Administração Direta.
cumprimento de preceito constitucional que, sem ele,
não poderia ser aplicado.
- ação declaratória de constitucionalidade: de lei ou ato Acerca do Controle da Administração pública, os itens I
normativo, será apreciada pelo STF, a decisão definitiva e II correspondem, respectivamente, a controle
de mérito tem efeito erga omnes.

a) legislativo de natureza política e controle


administrativo interno decorrente do poder de tutela
da Administração pública.
QUESTÕES SOBRE CONTROLE DA ADMINISTRAÇÃO
PÚBLICA b) legislativo de natureza política e controle
administrativo interno decorrente do poder de
autotutela da Administração pública.
c) administrativo de natureza política e controle
01. (FCC - 2014 - TRF - 4ª REGIÃO) A Administração administrativo interno decorrente do poder de tutela
pública, é sabido, está sujeita a princípios expressos e da Administração pública.
implícitos no exercício de suas funções. A observância d) legislativo de natureza financeira e controle
desses princípios está sujeita a controle, do que é administrativo externo decorrente do poder de
exemplo o controle autotutela da Administração pública.
a) exercido pela própria Administração, que se presta a e) administrativo de natureza política e controle
verificar a observância dos princípios expressos e administrativo externo decorrente do poder de tutela
implícitos, vedada, no entanto, a revisão dos atos, que da Administração pública.
deve ser feita judicialmente.
b) administrativo externo, que se presta à verificação da
observância dos princípios, desde que expressos, que 03. (FCC - 2014 - TRF - 4ª REGIÃO - Técnico Judiciário -
regem a Administração. Área Administrativa) Tales, servidor público federal,
praticou ato administrativo discricionário. Felipe,
administrado, inconformado com o aludido ato,

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POLÍCIA MILITAR DE ALAGOAS
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

interpôs recurso e o ato está sob apreciação da objeto de recurso e que tenha nele proferido decisão
autoridade hierarquicamente superior a Tales. desfavorável.
Entretanto, após a interposição do recurso, Tales decide
revogar o ato praticado. Na hipótese narrada, Tales
05. (TRF - 4ª REGIÃO - 2014 - TRF - 4ª REGIÃO - Juiz
Substituto) Assinale a alternativa INCORRETA.
a) ou seu superior podem revogar o ato,
a) O Supremo Tribunal Federal possui orientação no
independentemente do recurso interposto por Felipe.
sentido de que a contratação em caráter precário, para
b) poderá revogar o ato a qualquer tempo, sendo o o exercício das mesmas atribuições do cargo para o qual
único competente para tanto. foi promovido concurso público, implica preterição de
candidato habilitado quando ainda subsiste a plena
c) poderá revogar o ato até o momento imediatamente
vigência do referido concurso, o que viola o direito do
posterior ao julgamento do recurso.
concorrente aprovado à respectiva nomeação.
d) não poderá revogar o ato, pois já exauriu sua
b) A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça
competência relativamente ao objeto do ato.
possui orientação no sentido de que não há que se falar
e) jamais poderá revogar o ato, pois atos na presença de discricionariedade no exercício do poder
administrativos discricionários não são passíveis de disciplinar pela autoridade pública, sobretudo no que
revogação. tange à imposição de sanção disciplinar, o que torna
possível o controle judicial de tais atos administrativos
de forma ampla.
04. (CESPE - 2014 - TJ-SE - Titular de Serviços de Notas e
de Registros – Remoção) Com relação ao controle da c) Segundo a orientação predominante no Superior
administração pública, assinale a opção correta. Tribunal de Justiça, o Poder Judiciário não pode
substituir a banca examinadora, tampouco se imiscuir
nos critérios de correção de provas e de atribuição de
a) No exercício do controle financeiro sobre a notas, porquanto sua atuação cinge-se ao controle
administração pública, o Poder Legislativo pode, por jurisdicional da legalidade do concurso público.
meio da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, d) Segundo estabelece a Constituição Federal, ao
convocar ministro de Estado para, pessoalmente ou por Presidente da República compete privativamente
meio de representante designado, prestar informações dispor, mediante decreto, sobre organização e
a respeito de determinado assunto. funcionamento da administração federal quando não
b) Conforme entendimento do STF, preenchidos implicar aumento de despesa nem criação ou extinção
concomitantemente os seguintes requisitos, é possível o de órgãos públicos, não lhe sendo possível, todavia,
controle judicial nas políticas públicas: natureza extinguir funções ou cargos públicos, ainda que vagos.
constitucional da política pública reclamada; existência e) Invalidada por sentença judicial a demissão do
de correlação entre a política pública reclamada e os servidor estável, será ele reintegrado, e o eventual
direitos fundamentais; prova de omissão ou prestação ocupante da vaga, se estável, reconduzido ao cargo de
deficiente e não justificada pela administração pública. origem, sem direito a indenização, aproveitado em
c) O habeas corpus, por ter caráter essencialmente outro cargo ou posto em disponibilidade com
processual penal, não é considerado meio de remuneração proporcional ao tempo de serviço.
provocação do controle judicial da administração
pública.
GABARITO
d) Controle interno consiste no controle exercido pela
administração direta sobre os atos praticados por seus 01-C 02-B 03-D 04-B 05-D
órgãos e pelas entidades da administração indireta.
e) Os recursos administrativos, meios de que podem se
valer os administrados para provocar o reexame, pela
administração pública, de ato administrativo, não
podem, conforme o STF, ser apreciados por autoridade
que tenha participado anteriormente do processo

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POLÍCIA MILITAR DE ALAGOAS
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO particular. Por essas razões, os grandes estudiosos


sobre o assunto, entendem que a fixação dessa
responsabilidade deve ocorrer pelos princípios de
Direito Público.
Toda lesão de direito deve ser reparada. A lesão Três são as teorias que justificam a responsabilidade
pode decorrer de ato ou omissão de uma pessoa física civil do Estado: Teoria da culpa, Teoria do acidente
ou jurídica. Quando o autor da lesão é o Estado, surge administrativo, e a Teoria do risco social (nesta última
para ele a responsabilidade de indenizar. é que encontra suporte o princípio da responsabilidade
O dano, contudo, pode decorrer de descumprimento do Estado pela atividade legislativa) Vejam,
de um contrato celebrado pelo Estado ou da prática de sucintamente:
ato, ou da omissão, não previstos em contrato. 1ª Teoria⇒ para positivar o dever de reparação por
Somente nesta última hipótese, de responsabilidade parte do Estado, torna-se necessário apurar se o
extracontratual, é que se fala em responsabilidade civil agente procedeu culposamente. Sendo afirmativa a
do Estado. resposta, é possível deduzir que a entidade estatal é
A responsabilidade civil é a que se traduz na obrigação responsável.
de reparar danos patrimoniais e se exaure com a 2ª Teoria⇒ basta comprovar a existência de uma
indenização. Como obrigação meramente patrimonial, falha objetiva do serviço público, ou o mau
a responsabilidade civil independe da criminal e da funcionamento deste, ou uma irregularidade anônima
administrativa, com as quais pode coexistir sem, que importar em desvio da normalidade, para que
todavia, se confundir. A responsabilidade civil do fique estabelecidas a responsabilidade do Estado e a
Estado é, pois, a que impõe à Fazenda Pública a consequente obrigação de indenizar. Não se trata de
obrigação de compor o dano causado a terceiros por averiguar se o procedimento do agente foi culposo,
agentes públicos, no desempenho de suas atribuições porém de assentar que o dano resultou do
ou a pretexto de exercê-las. Difere, portanto, de funcionamento passivo do serviço público. Tal
responsabilidade contratual ou legal. ocorrendo, responde o Estado.
A doutrina da responsabilidade civil do Estado 3ª Teoria⇒ nesta teoria, o que se tem de verificar é
envolveu do conceito de irresponsabilidade para o da a existência de um dano, sofrido em consequência do
responsabilidade com culpa, e deste para o da funcionamento do serviço público.
responsabilidade civilista e desta para a fase da
Não se cogita da culpa do agente, ou da culpa do
responsabilidade pública.
próprio serviço. Não se indaga se houve um mau
A doutrina de irresponsabilidade está inteiramente funcionamento da atividade administrativa. Basta
superada, visto que tanto a Inglaterra como também estabelecer a relação de causalidade entre o dano
os Estados Unidos da América do Norte, abandonaram- sofrido pelo particular e a ação do agente ou do órgão
na, respectivamente, pelo Crowm Proceeding Acto (de público. Se o funcionamento do serviço público (bom
1947) e pelo Federal Tort Claimn Act (de 1946). ou mau não importa) causou um dano, este deve ser
De outro lado, a doutrina civilista ou da culpa civil reparado.
comum, vem perdendo terreno dia-a-dia, com o A justificar o reconhecimento da responsabilidade do
predomínio das normas de Direito Público sobre as Estado, identificam-se dois princípios fundamentais:
regras de Direito Privado na regência das relações igualdade e legalidade.
entre a administração e os administrados. Assim,
Quanto à legalidade, é igualmente fundamentadora da
nesta, portanto, a teoria da responsabilidade sem
responsabilidade objetiva do Estado (no entender de
culpa como a única compatível com a posição do Poder
Celso Antônio Bandeira de Mello), sempre que
Público perante os cidadãos.
agravado o particular por comportamento estatal
Não se pode equiparar o Estado ao particular. O comissivo ou omissivo ilícito, surgindo a obrigação de
Estado com o seu poder e seus privilégios reparação como, contrapartida do princípio de
administrativos, e o outro (particular), despido de legalidade. Estabelecida a fundamentação da
autoridade e de prerrogativas públicas. Pela responsabilidade civil do Estado, delineiam-se as
discrepância entre um e o outro, tornaram-se condições que a ensejam: prejuízo, comportamento
aplicáveis os princípios subjetivos da culpa civil para a administrativo e relação de causalidade entre eles.
responsabilização do Estado pelos danos causados ao
A violação do direito ensejadora do prejuízo deve

35
POLÍCIA MILITAR DE ALAGOAS
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

decorrer necessariamente, do comportamento Observação dos artigos acima mencionados: Assim se


administrativo, pela atuação ou inação, ainda que lê em Manoel Gonçalves Ferreira Filho: “jamais se
lícita, dos agentes públicos. entendeu que excluída estivesse a responsabilidade do
Estado. Ao contrário de ser reconhecida somente a
Aqueles que emprestam seus serviços ao Estado, na
responsabilidade pessoal do funcionário, entendia-se
condição de sujeitos expressivos de sua ação, são
haver a solidariedade do Estado no dever de reparar o
agentes públicos. O comportamento destes agentes
dano”.
públicos é potencialmente ensejador de
responsabilidade do Estado, direta ou indiretamente. 3º - Na Constituição de 1934: “Os funcionários
públicos são solidariamente responsáveis com a
Assim se lê, na obra de Celso Antônio Bandeira de
Fazenda Nacional, Estadual ou Municipal, por
Mello: três são os grupos dos agentes públicos, a
quaisquer prejuízos decorrentes da negligência,
saber:
omissão ou abuso no exercício de seus cargos” (artigo
1º Grupo⇒ agentes políticos, titulares dos cargos que 171).
compõem o arcabouço constitucional do Estado,
4º - Na Constituição (Carta Constitucional) de 1937:
desempenhando múnus público, por vinculação de
“Os funcionários públicos são solidariamente
natureza política;
responsáveis com a Fazenda Nacional, Estadual ou
2º Grupo⇒ servidores públicos, que mantém com o Municipal, por quaisquer prejuízos decorrentes de
Poder Público relação de natureza profissional, não negligencia, omissão ou abuso no exercício de seus
eventual, sob vínculo de dependência; cargos” (artigo 158).
3º Grupo⇒ particulares em colaboração com a Observações dos artigos acima mencionados: 1º O
administração, que servem ao Poder Público Decreto nº 24.216 de 1934 excluía a
cumprindo função ou serviço público, por requisição responsabilidade do Estado quando o ato do agente
do Estado, por vontade própria ou, ainda com a causador do dano caracterizasse crime previsto na lei
concordância do Poder Público e sem relação de penal, salvo se fosse ele mantido no cargo. Esse
dependência institucional. decreto foi derrogado pela Constituição de 1934,
No Brasil, desde o Império os nossos juristas promulgada em 16 de julho, ou seja, um mês depois
propugnavam pela adoção da responsabilidade sem da data do infeliz Decreto; 2º No texto das
Constituições de 1934 e de 1937, foi mantida a
culpa, fundada na teoria do risco que se iniciava na
França, mas encontrou decidida opinião dos civilistas responsabilidade subjetiva do Estado.
agregados à doutrina da culpa, dominante no Direito 5º - Na Constituição de 1946: “As pessoas jurídicas
Privado, porém inadequada para o Direito Público. de direito público interno são civilmente responsáveis
pelos danos que os seus funcionários, nessa qualidade,
A doutrina do Direito Público propôs-se a resolver a
questão da responsabilidade civil da administração por causem a terceiros. No Parágrafo único – Caber-lhe-a a
princípios objetivos, expressos na teoria da ação regressiva contra funcionários causadores do
responsabilidade sem culpa ou fundados numa culpa dano, quando tiver havido culpa destes” (artigo 194).
especial do serviço público quando lesivo de terceiros. Observação: O texto da Constituição de 1946
apresentou substancial mudança legislativa.
A responsabilidade civil do Estado nas Constituições
brasileiras: 6º - Na Constituição (Carta Constitucional) de 1967:
Manteve o mesmo dispositivo da Constituição de
1º - Na Constituição (Carta Constitucional) de 1824:
“Os empregados públicos são estritamente 1946.
responsáveis pelos abusos e omissões praticados no 7º - Na Emenda (Ato 1) de 1969: Manteve, também, o
exercício de suas funções e, por não fazerem mesmo dispositivo da Constituição de 1946 e
efetivamente responsáveis aos seus subalternos” acrescentou, no artigo 105, que cabe a ação regressiva
(artigo 178). contra o funcionário quando este agir com “culpa” ou
“dolo”.
2º - Na Constituição de 1891: “Os empregados públicos
são estritamente responsáveis pelos abusos e omissões Observação: A jurisprudência, acompanhada pela
praticados no exercício de suas funções e, por não doutrina, consagrou o entendimento de que a
fazerem efetivamente responsáveis aos seus expressão “funcionário” não está utilizada no seu
subalternos” (artigo 82). sentido estrito, mas sim compreendendo qualquer
agente público, independentemente do título jurídico

36
POLÍCIA MILITAR DE ALAGOAS
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

da investidura. público que causou ou ensejou o dano (Assim se lê, em


Direito Administrativo Brasileiro, de Hely Lopes
8º - Na Constituição de 1988: “As pessoas jurídicas
Meirelles).
de direito público e as de direito privado prestador
de serviços públicos responderão pelos danos que O Código Civil, no artigo 15 “As pessoas jurídicas de
seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, direito público são civilmente responsáveis por atos
assegurando o direito de regresso contra o responsável dos seus representantes que nessa qualidade causem
nos casos de dolo ou culpa” (artigo 37 § 6º). danos a terceiros, procedendo de modo contrário ao
Observação: O texto do parágrafo 6º do artigo 37 direito ou faltando a dever prescrito por lei, salvo o
seguiu a linha traçada nas Constituições anteriores, e, direito regressivo contra os causadores do dano”,
abandonando a privatística teoria subjetiva da culpa, consagra, embora de maneira equívoca, a teoria da
orientou-se pela doutrina do Direito Público e manteve culpa como fundamentado da responsabilidade civil do
a responsabilidade civil objetiva da administração, Estado.
sob a modalidade do risco administrativo.
A imprecisão do legislador, todavia, propiciou larga
Não chegou, porém, aos extremos do risco integral. Do divergência na interpretação e aplicação do artigo
texto, depreende-se que, o constituinte estabeleceu acima mencionado, variando a opinião dos juristas e o
para todas as entidades estatais e seus entender da jurisprudência entre os que viam, nele, a
desmembramentos administrativos a obrigação de exigência da demonstração da culpa civil da
indenizar o dano causado a terceiros por seus Administração e os que já vislumbravam admitida a
servidores, independentemente da prova de culpa no moderna teoria do risco, possibilitando a
cometimento da lesão. Firmou, assim, o princípio responsabilidade civil sem culpa em determinados
objetivo da responsabilidade sem culpa pela atuação casos de atuação lesiva do Estado. O Código Civil
lesiva dos agentes públicos e seus delegados. Brasileiro, seguindo a tradição de nosso Direito, não se
afastou da teoria da culpa, como princípio genérico
A Constituição atual usou acertadamente o vocábulo
regulador da responsabilidade extracontratual.
agente, no sentido genérico de servidor público,
abrangendo, para fins de responsabilidade civil, todas Finalmente, oferecemos algumas observações, de
as pessoas incumbidas da realização de algum serviço fundamental importância, para o assunto aqui tratado:
público, em caráter permanente ou transitório. O
1ª ⇒ A indenização do dano deve abranger o que a
essencial é que o agente da administração haja
vítima efetivamente perdeu, o que despendeu e o que
praticado o ato ou a omissão administrativa no
deixou de ganhar em consequência direta e imediata
exercício de suas atribuições ou a pretexto de exercê-
do ato lesivo da administração (dano emergente e
las. Para a vítima é indiferente o título pelo qual o
lucro cessantes);
causador direto do dano esteja vinculado à
administração. 2ª ⇒ A indenização por lesão pessoal e morte da
vítima abrangerá o tratamento, o sepultamento e a
O abuso no exercício das funções por parte do servidor
prestação alimentícia as pessoas a quem falecido a
não exclui a responsabilidade objetiva da
devia, levada em conta a duração provável de sua vida
administração. Antes, a agrava, porque tal abuso traz
(ver Código Civil);
ínsita a presunção de má escolha do agente público
para a missão que lhe fora atribuída. 3ª ⇒ Indenização por dano moral, também é cabível,
mas a dificuldade de apresenta na quantificação do
O § 6º do artigo 37 da vigente Constituição, só atribui
montante a ser pago à vítima ou a seus responsáveis;
responsabilidade objetiva à administração pelos danos
que seus agentes, nessa qualidade, causem a terceiros. 4ª ⇒ A ação de indenização da vítima deve ser
Portanto, o legislador constituinte só cobriu o risco ajuizada unicamente contra a entidade pública
administrativo da atuação ou inação dos servidores responsável, não sendo admissível a inclusão do
públicos; não responsabilizou objetivamente a servidor da demanda;
administração por atos predatórios de terceiros, nem
5ª ⇒ O lesado por ato da administração nada tem a ver
por fenômenos naturais que causem danos aos com o agente causador do dano, visto que seu direito,
particulares. constitucionalmente reconhecido, é o de ser reparado
Para a indenização destes atos e fatos estranhos à pela pessoa jurídica, e não pelo agente direto da lesão
atividade administrativa observa-se o princípio geral (§6º do artigo 37);
da culpa civil, manifestada pela imprudência, 6º ⇒ A ação regressiva da Administração contra o
negligência ou imperícia na realização do serviço

37
POLÍCIA MILITAR DE ALAGOAS
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

causador direto do dano está instituída pelo §6º do A origem da responsabilidade estatal se deve ao fato
artigo 37, da Constituição Federal, como mandamento de que os administrados não podem evitar ou
a todas as entidades públicas e particulares minimizar os perigos de dano provenientes do Estado,
prestadoras de serviços públicos; tendo em vista de que é o próprio Poder Público quem
dita o teor e a intensidade de seu relacionamento com
7ª ⇒ O ato lesivo do agente pode revestir ao mesmo
a coletividade.
tempo aspectos civis, administrativos e criminais,
como é comum nos atropelamentos ocasionados por Maria Sylvia Zanella Di Pietro, também, conceitua a
veículos do Estado; responsabilidade extracontratual do Estado como a
“obrigação de reparar danos causados a terceiros em
8ª ⇒ Lei Federal nº 4.898 de 1965, passou a regular o
decorrência de comportamentos comissivos ou
direito de representação e o processo e
omissivos, materiais ou jurídicos, lícitos ou ilícitos,
responsabilidade administrativa, civil e penal, nos
imputáveis aos agentes públicos”.
casos de abuso de autoridade;
Por sua vez, Hely Lopes Meirelles define a
9ª ⇒ Os juros da mora no pagamento da condenação a
responsabilidade estatal como sendo a “imposição à
Fazenda Pública fluem desde a data que a sentença
Fazenda Pública a obrigação de compor o dano
fixar. Os juros moratórios comum, quando devidos,
causado a terceiros por agentes públicos, no
fluem desde a data do evento; respectivamente: Lei
desempenho de suas atribuições ou a pretexto de
4.414 de 1964 e artigo 962 do Código Civil;
exercê-las”.
10ª ⇒ Se não houver verba para o cumprimento da
condenação, a autoridade competente do Poder
Executivo, ou o dirigente da autarquia, deverá 2. Teorias
providenciar imediatamente a obtenção de crédito A evolução da responsabilidade civil do Estado passou
especial para o pagamento devido, sob pena de incidir por três principais teorias: teoria da irresponsabilidade,
pessoalmente no crime de desobediência a ordem teorias civilistas (teoria dos atos de império e de
legal, sem prejuízo da providência constitucional gestão; e teoria da culpa civil ou da responsabilidade
(artigo 330 do Código Penal). subjetiva) e teorias publicistas (teoria da culpa
administrativa ou culpa do serviço público; e teoria do
risco).
RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL DO ESTADO
A teoria da irresponsabilidade se assentava na idéia de
1. Conceito
soberania do Estado. Maria Sylvia Zanella Di Pietro
Consoante Maria Sylvia Zanella Di Pietro, não se pode explica que em razão desta soberania, o Estado dispõe
falar em responsabilidade da Administração Pública, de autoridade incontestável perante o súdito,
tendo em vista que esta não tem personalidade exercendo a tutela do direito, daí os princípios de que
jurídica; a capacidade é do Estado e das pessoas “o rei não poder errar” (the king can do no wrong; le
jurídicas públicas ou privadas que o representam no roi ne peut mal faire) e o de que “aquilo que agrada ao
exercício de parcela de atribuições estatais. Esta príncipe tem força de lei” (quod principi placuit habet
responsabilidade é sempre civil, ou seja, de ordem legis vigorem).
pecuniária.
No século XIX a teoria da irresponsabilidade foi
Celso Antônio Bandeira de Mello define a superada pelas teorias civilistas. Dá-se a estas teorias o
responsabilidade patrimonial extracontratual do Estado nome de civilistas tendo em vista que se apoiavam nos
como “como a obrigação que lhe incumbe de reparar ensinamentos trazidos pelo Direito Civil, ou seja, eram
economicamente os danos lesivos à esfera baseadas na idéia de culpa do agente causador do
juridicamente garantida de outrem e que lhe sejam dano.
imputáveis em decorrência de comportamentos
Maria Sylvia Zanella Di Pietro assim distingue os atos
unilaterais, lícitos ou ilícitos, comissivos ou omissivos,
de império dos atos de gestão: "os primeiros seriam os
materiais ou jurídicos”.
praticados pela Administração com todas as
O professor Celso Antônio Bandeira de Mello explica prerrogativas e privilégios de autoridade e impostos
que se fala em responsabilidade do Estado por atos unilateral e coercitivamente ao particular
lícitos nas hipóteses em que o poder deferido ao independentemente de autorização judicial, sendo
Estado e legitimamente exercido acarreta, regidos por um direito especial, exorbitante do direito
indiretamente, lesão a um direito alheio. comum, porque os particulares não podem praticar

38
POLÍCIA MILITAR DE ALAGOAS
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

atos semelhantes; os segundos seriam praticados pela conciliar os direitos do Estado com os direitos
Administração em situação de igualdade com os privados”.
particulares, para a conservação e desenvolvimento do
O professor Marcus Vinicius Corrêa Bittencourt afirma
patrimônio público e para a gestão de seus serviços".
que “foi a partir do famoso arrêt Blanco que se
Entretanto, atualmente, não é possível distinguir os
estabeleceu o entendimento de que o Estado teria
atos de império dos atos de gestão da Administração
realmente o dever de reparar danos causados na
Pública por ser impossível dividir a personalidade do
esfera patrimonial de terceiros, mas com fundamento
Estado.
em princípios de Direito Público (teorias publicistas)”.
Surgiu, então, a teoria da culpa civil ou da
Existem duas teorias publicistas principais: a teoria da
responsabilidade subjetiva, ou seja, aceitava-se a
culpa do serviço público ou da culpa administrativa e a
responsabilidade do Estado desde que demonstrada a
teoria do risco.
culpa.
Marcus Vinicius Corrêa Bittencourt explica que a teoria
Conforme Celso Antônio Bandeira de Mello,
da culpa do serviço ou da culpa administrativa
responsabilidade subjetiva é “a obrigação de indenizar
“desvincula a responsabilidade do Estado da idéia de
que incumbe a alguém em razão de um procedimento
culpa do funcionário, passando a entender como
contrário ao Direito – culposo ou doloso – consistente
centro da responsabilidade do Estado a culpa do
em causar um dano a outrem ou em deixar de impedi-
serviço público. Esta culpa anônima do serviço público
lo quando obrigado a isto”.
compreende três formas, estabelecidas na
Esta doutrina civilista serviu de inspiração ao artigo 15 jurisprudência do Conselho de Estado francês: quando
do Código Civil de 1916 que dispunha que “as pessoas o serviço prestado não funciona (culpa in omittendo),
jurídicas de direito público são civilmente responsáveis funcionou mal (culpa in committendo) ou funcionou
por atos dos seus representantes que nessa qualidade tardiamente”.
causem danos a terceiros, procedendo de modo
A teoria do risco trouxe a responsabilidade objetiva do
contrário ao direito ou faltando a dever prescrito por
Estado, sem discutir se houve dolo ou culpa. Essa
lei, salvo o direito regressivo contra os causadores do
doutrina baseia-se no princípio da igualdade dos ônus e
dano”. O artigo 43 do Código Civil de 2002
encargos sociais, ou seja, os benefícios e prejuízos
praticamente repetiu o que dizia a norma anterior: “as
devem ser repartidos igualmente entre os membros da
pessoas jurídicas de direito público interno são
sociedade.
civilmente responsáveis por atos dos seus agentes que
nessa qualidade causem danos a terceiros, ressalvado A ideia de culpa, então, é substituída pela de nexo de
direito regressivo contra os causadores do dano, se causalidade entre o funcionamento do serviço público
houver, por parte destes, culpa ou dolo”. e o prejuízo sofrido pelo administrado. Essa é a teoria
do risco, também, chamada teoria da responsabilidade
Em relação às teorias publicistas, cabe primeiramente
objetiva.
mencionar a explicação da professora Maria Sylvia
Zanella Di Pietro referente ao famoso caso Blanco, Conforme palavras de Hely Lopes Meirelles, essa teoria
ocorrido em 1873: “a menina Agnès Blanco, ao “baseia-se no risco que a atividade púbica gera para os
atravessar uma rua da cidade de Bordeaux, foi colhida administrados e na possibilidade de acarretar dano a
por uma vagonete da Cia. Nacional de Manufatura do certos membros da comunidade, impondo-lhe um ônus
Fumo; seu pai promoveu ação civil de indenização, com não suportado pelos demais. Para compensar essa
base no princípio de que o Estado é civilmente desigualdade individual, criada pela própria
responsável por prejuízos causados a terceiros, em Administração, todos os outros componentes da
decorrência de ação danosa de seus agentes. Suscitado coletividade devem concorrer para a reparação do
conflito de atribuições entre a jurisdição comum e o dano, através do erário, representado pela Fazenda
contencioso administrativo, o Tribunal de Conflitos Pública. O risco e a solidariedade social são, pois, os
decidiu que a controvérsia deveria ser solucionada pelo suportes desta doutrina, que, por sua objetividade e
tribunal administrativo, porque se tratava de apreciar a partilha dos encargos, conduz à mais perfeita justiça
responsabilidade decorrente de funcionamento do distributiva, razão pela qual tem merecido o
serviço público. Entendeu-se que a responsabilidade do acolhimento dos Estados modernos, inclusive o Brasil,
Estado não pode reger-se pelos princípios do Código que a consagrou pela primeira vez no art. 194 da CF de
Civil, porque se sujeita a regras especiais que variam 1946”.
conforme as necessidades do serviço e a imposição de

39
POLÍCIA MILITAR DE ALAGOAS
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Para Hely Lopes Meirelles, a teoria do risco jurídica contra o agente causador do dano, desde que
compreende duas modalidades: a do risco este tenha agido com dolo ou culpa.
administrativo e a do risco integral, sendo que para a
Há hipóteses excludentes e atenuantes da
primeira são admissíveis as situações excludentes de
responsabilidade do Poder Público tais como força
responsabilidade (culpa exclusiva da vítima e força
maior e culpa exclusiva da vítima.
maior); e para a segunda o Estado mantém seu dever
de reparar, não importando se houve responsabilidade Maria Sylvia Zanella Di Pietro conceitua força maior
da vítima. como “acontecimento imprevisível, inevitável e
estranho à vontade das partes, como uma tempestade,
Interessante, ainda, mencionar o conceito de
um terremoto, um raio”.
responsabilidade objetiva de Celso Antônio Bandeira de
Mello: “é a obrigação de indenizar que incumbe a O caso fortuito é dano decorrente de ato humano, de
alguém em razão de um procedimento lícito ou ilícito falha da Administração, porquanto, não se pode falar
que produziu uma lesão na esfera juridicamente em exclusão de responsabilidade.
protegida de outrem. Para configurá-la basta, pois, a Ensina Marcus Vinicius Corrêa Bittencourt que “existe,
mera relação causal entre o comportamento e o dano”. entretanto, a possibilidade de responsabilizar o Estado,
mesmo na ocorrência de uma circunstância de força
maior, desde que a vítima comprove o comportamento
3. Direito Positivo
culposo da Administração Pública. Por exemplo, num
A doutrina entende que foi a partir da Constituição primeiro momento, uma enchente que causou danos a
Federal de 1946 que ficou consagrada a teoria da particulares pode ser entendida como uma hipótese de
responsabilidade objetiva do Estado. força maior e afastar a responsabilidade estatal,
contudo, se o particular comprovar que os bueiros
A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 37, § 6º
entupidos concorreram para o incidente, o Estado
dispõe que: “as pessoas jurídicas de direito público e as
também responderá, pois a prestação do serviço de
de direito privado prestadoras de serviços públicos
limpeza pública foi deficiente”.’
responderão pelos danos que seus agentes, nessa
qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito Quando há culpa exclusiva da vítima, o Estado não
de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou responde; irá responder parcialmente, se demonstrar
culpa”. que houve culpa concorrente do prejudicado.
Destarte, as entidades de direito privado prestadoras
de serviço público (fundações governamentais de
direito privado, empresas públicas, sociedades de
economia mista, empresas permissionárias e
concessionárias de serviços públicos) respondem
objetivamente por danos causados por seus agentes.
O professor Marcus Vinicius Corrêa Bittencourt alerta
que “em que pese a aplicação da teoria da
responsabilidade objetiva ser adotada pela
Constituição Federal, o Poder Judiciário, em
determinados julgamentos, utiliza a teoria da culpa
administrativa para responsabilizar o Estado em casos
de omissão. Assim, a omissão na prestação de serviço
público tem levado à aplicação da teoria da culpa do
serviço público (faute du service). A culpa decorreu da
omissão do Estado, quando este deveria ter agido. Por
exemplo, o Poder Público não conservou
adequadamente as rodovias e ocorreu um acidente
automobilístico com terceiros”.
A fim de se conseguir a reparação do dano, a vítima
deve demonstrar o nexo de causalidade entre o fato
ocorrido e o dano. Ademais, a referida legislação
constitucional garante o direito de regresso da pessoa

40
POLÍCIA MILITAR DE ALAGOAS
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

QUESTÕES SOBRE RESPONSABILIDADE CIVIL DO SERVIÇOS PÚBLICOS. CONCEITO. ELEMENTOS


ESTADO CONSTITUTIVOS. FORMAS DE PRESTAÇÃO E MEIOS DE
EXECUÇÃO. DELEGAÇÃO: CONCESSÃO, PERMISSÃO E
AUTORIZAÇÃO. CLASSIFICAÇÃO. PRINCÍPIOS.

01. (Aroeira - 2014 - PC-TO) Em uma situação hipotética,


determinado Delegado de Polícia, sem observar as
Conceito
formalidades legais, autuou em flagrante cidadão
conduzido pela Polícia Militar, o que acarretou o Segundo Hely Lopes Meirelles “serviço público é todo
relaxamento da prisão por ordem judicial três dias aquele prestado pela Administração ou por seus
depois. Essa situação configura um caso de delegados, sob normas e controles estatais, para
responsabilidade: satisfazer necessidades essenciais ou secundárias da
coletividade, ou simples conveniência do Estado”. São
a) subsidiária do Estado.
exemplos de serviços públicos: o ensino público, o de
b) subjetiva do Estado. polícia, o de saúde pública, o de transporte coletivo, o
c) exclusiva do Delegado. de telecomunicações, etc.

d) objetiva do Estado.
Classificação

02. (BIO-RIO - 2014 – EMGEPRON) A denominada teoria Os serviços públicos, conforme sua essencialidade,
do risco integral aplicável à Administração Pública está finalidade, ou seus destinatários podem ser
incluída na responsabilidade: classificados em:

a) objetva • públicos;

b) subjetva • de utilidade pública;

c) culpável • próprios do Estado;

d) conexa • impróprios do Estado;


• administrativos;

03. (FGV - 2014 - CGE-MA) Acerca da responsabilidade • industriais;


civil do Estado, assinale a afirmativa correta. • gerais;
a) O Estado não tem direito de regresso em relação ao • individuais.
agente público que causou o dano a terceiros, ainda
que o agente tenha agido com culpa.
Públicos
b) O fato exclusivo da vítima não afasta a
responsabilidade objetiva do Estado. São os essenciais à sobrevivência da comunidade e do
próprio Estado. São privativos do Poder Público e não
c) O Estado tem direito de regresso em relação ao
podem ser delegados. Para serem prestados o Estado
agente público que causou o dano a terceiros somente
pode socorrer-se de suas prerrogativas de supremacia e
quando este agiu com dolo.
império, impondo- os obrigatoriamente à comunidade,
d) O Estado tem direito de regresso contra o agente inclusive com medidas compulsórias. Ex.: serviço de
causador do dano, quando este agiu com dolo ou culpa. polícia, de saúde pública, de segurança.
e) A responsabilidade civil do Estado somente se verifica São os que são convenientes à comunidade, mas não
em fatos comissivos. essenciais, e o Poder Público pode prestá-los
diretamente ou por terceiros (delegados), mediante
remuneração. A regulamentação e o controle é do
GABARITO Poder Público. Os riscos são dos prestadores de serviço.
01. D 02. A 03. D Exs.: fornecimento de gás, de energia elétrica, telefone,
de transporte coletivo, etc. Estes serviços visam a
facilitar a vida do indivíduo na coletividade.

41
POLÍCIA MILITAR DE ALAGOAS
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Próprios do Estado Regulamentação e Controle


São os que relacionam intimamente com as atribuições A regulamentação e o controle do serviço público
do Poder Público. Exs.: segurança, política, higiene e cabem sempre ao Poder Público, o qual tem a
saúde públicas, etc. Estes serviços são prestados pelas possibilidade de modificação unilateral das cláusulas da
entidades públicas (União, Estado, Municípios) através concessão, permissão ou autorização. Há um poder
de seus órgãos da Administração direta. Neste caso, diz- discricionário de revogar a delegação, respondendo,
se que os serviços são centralizados, porque são conforme o caso, por indenização.
prestados pelas próprias repartições públicas da
Os requisitos do serviço público são sintetizados em
Administração direta. Aqui, o Estado é o titular e o
cinco princípios:
prestador do serviço, que é gratuito ou com baixa
remuneração. Exs.: serviço de polícia, de saúde pública. 1º) permanência (continuidade do serviço);
Estes serviços não são delegados. 2º) generalidade (serviço igual para todos);
3º) eficiência (serviços atualizados);
Impróprios do Estado
4º) modicidade (tarifas módicas);
São os de utilidade pública, que não afetam
substancialmente as necessidades da comunidade, isto 5º) cortesia (bom tratamento para o público).
é, não são essenciais. A Administração presta-os Art. 6º Toda concessão ou permissão pressupõe a
diretamente ou por entidades descentralizadas prestação de serviço adequado ao pleno atendimento
(Autarquias, Empresas Públicas, Sociedades de dos usuários, conforme estabelecido nesta lei, nas
Economia Mista, Fundações Governamentais), ou os normas pertinentes e no respectivo contrato.
delega a terceiros por concessão, permissão ou
§ 1º Serviço adequado é o que satisfaz as condições de
autorização.
regularidade, continuidade, eficiência, segurança,
Normalmente são rentáveis e são prestados sem atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e
privilégios, mas sempre sob a regulamentação e modicidade das tarifas.
controle do Poder Público. Ex.: serviço de transporte
§ 2º A atualidade compreende a modernidade das
coletivo, conservação de estradas, de fornecimento de
técnicas, do equipamento e das instalações e a sua
gás, etc.
conservação, bem como a melhoria e expansão do
São os executados pela Administração para atender às serviço.
suas necessidades internas. Ex.: datilografia, etc.
§ 3º Não se caracteriza como descontinuidade do
serviço a sua interrupção em situação de emergência ou
Industriais após prévio aviso, quando:
São os que produzem renda, uma vez que são prestados I - motivada por razões de ordem técnica ou de
mediante remuneração (tarifa). Pode ser prestado segurança das instalações;
diretamente pelo Poder Público ou por suas entidades e,
da Administração indireta ou transferidos a terceiros,
mediante concessão ou permissão. Exs.: transporte, II - por inadimplemento do usuário, considerado o
telefonia, correios e telégrafos. interesse da coletividade.

Gerais (Lei nº 8.987/95)


São os prestados à coletividade em geral, sem ter um Competência da União, Estados e Municípios
usuário determinado. Exs.: polícia, iluminação pública,
A Constituição Federal faz a partição das competências
conservação de vias públicas, etc. São geralmente
dos serviços públicos.
mantidos por impostos.
A matéria está prevista nos arts. 21, 25, §§ 1º e 2º, e 30
da Constituição Federal.
Individuais
Os serviços que competem à União estão discriminados
São os que têm usuário determinado. Sua utilização é na Constituição Federal.
mensurável. São remunerados por tarifa. Exs.: telefone,
água e esgotos, etc.

42
POLÍCIA MILITAR DE ALAGOAS
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

São eles: Competência dos Estados (CF, art. 25, §§ 1º e 2º)


I - manter o serviço postal e o correio aéreo nacional; “São reservadas aos Estados as competências que não
lhes sejam vedadas por esta Constituição”. Portanto,
II - explorar diretamente ou mediante concessão as
são da competência dos Estados a prestação dos
empresas sob o controle acionário estatal, os serviços
serviços que não sejam da União e do Município. Os
telefônicos, telegráficos, ou transmissão de dados e
Estados têm competência residual.
demais serviços públicos de telecomunicações,
assegurada a prestação de serviços de informações por Competência dos Municípios (CF, art. 30)
entidade de direito privado através da rede pública de
Aos Municípios compete a prestação dos serviços
telecomunicações explorada pela União;
públicos de interesse local, incluindo o de transporte
III - explorar, diretamente ou mediante autorização, coletivo.
concessão ou permissão:
Competem-lhe também os serviços de educação pré-
a) os serviços de radiodifusão sonora, de sons e imagens escolar e de ensino fundamental (com a cooperação
e demais serviços de telecomunicações; técnica e financeira da União e do Estado). Competem-
lhe ainda os serviços de atendimento à saúde da
b) os serviços e instalações de energia elétrica e o
população (com a cooperação técnica e financeira da
aproveitamento energético dos cursos de água, em
União e do Estado).
articulação com os Estados onde se situam os potenciais
hidroenergéticos; Diz a Constituição Federal:
c) a navegação aérea, aeroespacial e infra-estrutura Art. 30. Compete aos Municípios:
aeroportuárias;
V - organizar e prestar, diretamente ou sob regime de
d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário concessão ou permissão, os serviços públicos de
entre portos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que interesse local, incluído o de transporte coletivo, que
transponham os limites de Estado ou Território; tem caráter essencial.
e) os serviços de transporte rodoviário interestadual e VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da
internacional de passageiros; União e do Estado, programas de educação pré-escolar
e de ensino fundamental;
f) os portos marítimos, fluviais e lacustres;
VII - prestar, com a cooperação técnica e financeira da
IV- organizar e manter os serviços oficiais de estatística,
União e do Estado, serviços de atendimento à saúde da
geografia, geologia e cartografia de âmbito nacional;
população;
V- executar os serviços de polícia marítima, aérea e de
Formas de Prestação
fronteira;
A prestação do serviço pode ser centralizada ou
VI- organizar e manter a polícia federal, a polícia
descentralizada. Será centralizada quando o Estado,
rodoviária e ferroviária federal, a polícia civil, militar e
através de um de seus órgãos, prestar diretamente o
do corpo de bombeiros do Distrito Federal;
serviço. Será descentralizada quando o Estado transferir
VII - explorar os serviços e instalações nucleares de a titularidade ou a prestação do serviço a outras
qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a pessoas.
pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento,
O serviço centralizado é o que permanece integrado na
a industrialização e o comércio de minérios nucleares e
Administração Direta (art. 4º do Decreto-Lei nº 200/67).
seus derivados, atendidos os seguintes princípios e
A competência para a prestação destes serviços é da
condições:
União e/ou dos Estados e/ou dos Municípios. São da
a) toda atividade nuclear em território nacional competência da União apenas os serviços previstos na
somente será admitida para fins pacíficos e mediante Constituição Federal. Ao Município pertencem os
aprovação do Congresso Nacional; serviços que se referem ao seu interesse local. Ao
b) sob regime de concessão ou permissão, é autorizada Estado pertencem todos os outros serviços. Neste caso,
a utilização de radioisótopos para a pesquisa e usos o Estado tem competência residual, isto é, todos os
medicinais, agrícolas, industriais e atividades análogas; serviços que não forem da competência da União e dos
Municípios serão da obrigação do Estado.
VIII - organizar, manter e executar a inspeção do
trabalho. Os serviços descentralizados referem-se ao que o Poder

43
POLÍCIA MILITAR DE ALAGOAS
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Público transfere a titularidade ou a simples execução, A concentração ou desconcentração são modos de


por outorga ou por delegação, às autarquias, entidades prestação de serviços pela
paraestatais ou empresas privadas. Há outorga quando
Administração centralizada, União, Estados e
transfere a titularidade do serviço. Há delegação
Municípios.
quando se transfere apenas a execução dos serviços, o
que ocorre na concessão, permissão e autorização. Analisemos agora a distinção entre outorga e
delegação.
A descentralização pode ser territorial (União, Estados,
Municípios) ou institucional (quando se transferem os Outorga Delegação
serviços para as autarquias, entes para- estatais e entes o particular cria a
delegados). o Estado cria a entidade
entidade
Não se deve confundir descentralização com
o serviço é transferido
desconcentração, que é a prestação dos serviços da
por lei, contrato
Administração direta pelos seus vários órgãos. o serviço é transferido
(concessão), ato
por lei
unilateral (permissão,
A prestação de serviços assim se resume: autorização)
É possível descentralizar o serviço por dois diferentes transfere-se a
modos: transfere-se a execução
titularidade
- Outorga
caráter definitivo caráter transitório
Transferindo o serviço à titularidade de uma pessoa
jurídica de direito público criada para este fim, que
passará a desempenhá-lo em nome próprio, como Outorga
responsável e senhor dele, embora sob controle do
Estado. Neste caso, o serviço é transferido para uma Tecemos, agora, algumas considerações sobre os
Autarquia, Empresa Pública ou Sociedade de Economia serviços sociais autônomos, ou Entes de Cooperação.
Mista. É a outorgada. Os serviços são outorgados. Exs.: São pessoas jurídicas de direito privado, criados ou
Telebrás, Eletrobrás. autorizados por lei, para prestar serviços de interesse
- Delegação social ou de utilidade pública, geridos conforme seus
Transferindo o exercício, o mero desempenho do estatutos, aprovados por Decretos, e podendo
serviço (e não a titularidade do serviço em si) a uma arrecadar contribuições parafiscais. São pessoas
pessoa jurídica de direito privado que o exercerá em jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos. Podem
nome do Estado (não em nome próprio), mas por sua receber dotações orçamentárias.
conta e risco. Esta técnica de prestação descentralizada Geralmente se destinam à realização de atividades
de serviço público se faz através da concessão de técnicas, científicas educacionais ou assistencial, como
serviço público e da permissão de serviço público. É a o Sesi, Sesc, Senai, Senac. Revestem a forma de
delegação. Os serviços são delegados, sem transferir a sociedades civis, fundações ou associações.
titularidade.
A concessão e a permissão podem ser feitas a um Estes entes estão sujeitos à supervisão ministerial, nos
particular ou a empresa de cujo capital participe o termos do Decreto-Lei nº 200/67, e se sujeitam a uma
Estado, Empresas Públicas e Sociedades de Economia vinculação ao ministério em cuja área de competência
Mista. se enquadrar sua principal atividade. Utilizam-se de
dinheiros públicos, como são as contribuições
Diz-se por outro lado que a prestação de serviço público parafiscais, e devem prestar contas do regular emprego
é prestado de modo: deste dinheiro, na conformidade da lei competente.
• concentrado – quando apenas órgãos centrais Seus funcionários são celetistas e são equiparados a
detêm o poder de decisão e prestação dos serviços. funcionários públicos para fins penais. Sujeitam-se a
Ocorre em Estados unitários. Não ocorre no Brasil. exigência de licitação.
• desconcentrado – quando o poder de decisão e
os serviços são distribuídos por vários órgãos
distribuídos por todo o território da Administração
centralizada. É o que ocorre no Brasil que é uma Delegação
República Federativa.

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POLÍCIA MILITAR DE ALAGOAS
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

É o ato pelo qual o Poder Público transfere a tarifas que remuneram os serviços concedidos se faz
particulares a execução de serviços públicos, mediante por decreto.
regulamentação e controle pelo Poder Público
delegante.
Garantia do concessionário
A delegação pode ser feita por:
O concessionário tem a seguinte garantia: o equilíbrio
• concessão;
econômico-financeiro do contrato (rentabilidade
• permissão; assegurada).
• autorização.
Poderes do concedente
Concessão de Serviço Público A Administração Pública tem sobre o concessionário os
seguintes poderes:
Concessão de serviço público é o contrato através do
qual o Estado delega a alguém o exercício de um serviço • poder de inspeção e fiscalização sobre as atividades
público e este aceita prestá-lo em nome do Poder do concessionário, para verificar se este cumpre
Público sob condições fixadas e alteráveis regularmente as obrigações que assumiu;
unilateralmente pelo Estado, mas por sua conta, risco,
• poder de alteração unilateral das cláusulas
remunerando-se pela cobrança de tarifas diretamente
regulamentares, isto é, poder de impor modificações
dos usuários do serviço e tendo a garantia de um
relativas à organização do serviço, seu funcionamento,
equilíbrio econômico-financeiro.
e às tarifas e taxas cobradas do usuário;
A concessão pode ser contratual ou legal. É contratual
• poder de extinguir a concessão antes de findo o prazo
quando se concede a prestação de serviços públicos aos
inicialmente previsto.
particulares. É legal quando a concessão é feita a
entidades autárquicas e empresas estatais. A concessão é uma técnica através da qual o Poder
Público procura obter o melhor serviço possível; por
A concessão é intuitu personae, isto é, não pode o
isto, cabe-lhe retomar o serviço sempre que o interesse
concessionário transferir o contrato para terceiros.
público o aconselhar.

A concessão exige:
• autorização legislativa;
• regulamentação por decreto;
Remuneração
• concorrência pública.
É feita através de tarifas e não por taxas. Esta tarifa
O contrato de concessão tem que obedecer à lei, ao deve permitir uma justa remuneração do capital. A
regulamento e ao edital. Por este contrato não se revisão das tarifas é ato exclusivo do poder concedente
transfere a prerrogativa pública (titularidade), mas e se faz por decreto.
apenas a execução dos serviços. As condições do
contrato podem ser alteradas unilateralmente pelo
Poder concedente, que também pode retomar o Direito do concessionário
serviço, mediante indenização (lucros cessantes). Nas O concessionário tem, basicamente, dois direitos:
relações com o público, o concessionário fica sujeito ao
regulamento e ao contrato. Findo o contrato, os direitos • o de que não lhe seja exigido o desempenho de
e bens vinculados ao serviço retornam ao poder atividade diversa daquela que motivou a concessão;
concedente. O Poder Público regulamenta e controla o • o da manutenção do equilíbrio econômico-financeiro.
concessionário. Toda concessão fica submetida a
normas de ordem regulamentar, que são a lei do Para que o equilíbrio econômico-financeiro se
serviço. Estas normas regram sua prestação e podem mantenha, o Estado, cada vez que impuser alterações
ser alteradas unilateralmente pelo Poder Público. Fica nas obrigações do concessionário, deverá alterar a sua
também submetida a normas de ordem contratual, que remuneração, para que não tenha prejuízos.
fixam as cláusulas econômicas da concessão e só podem
ser alteradas pelo acordo das partes. A alteração das

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POLÍCIA MILITAR DE ALAGOAS
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Direito do usuário (ver art. 7º da Lei nº 8.987/95) São características da permissão:


Os usuários, atendidas as condições relativas à • unilateralidade (é ato administrativo e não
prestação do serviço e dentro das possibilidades contrato);
normais dele, têm direito ao serviço. O concessionário
• discricionariedade;
não lhe poderá negar ou interromper a prestação.
Cumpridas pelo usuário as exigências estatuídas, o • precariedade;
concessionário está obrigado a oferecer, de modo • intuitu personae.
contínuo e regular, o serviço cuja prestação lhe
incumba. A revogação da permissão pela Administração pode ser
a qualquer momento, sem que o particular se oponha,
exceto se for permissão condicionada.
Extinção da concessão (Ver art. 35 da Lei nº 8.987/95) Os riscos do serviço são por conta do permissionário. O
A extinção da concessão pode se dar por: controle do serviço é por conta da Administração, que
pode intervir no serviço.
• advento do termo contratual – é o retorno do serviço
ao poder concedente, pelo término do prazo contratual. A permissão não assegura exclusividade ao
Abrange os bens vinculados ao serviço. permissionário, exceto se constar de cláusula expressa.
• encampação – é o retorno do serviço ao poder Assim como a concessão, a permissão deve ser
concedente pela retomada coativa do serviço, antes do precedida de licitação para escolha do permissionário.
término do contrato mediante lei autorizadora. Neste Os atos praticados pelos permissionários revestem-se
caso, há indenização. A encampação pode ocorrer de certa autoridade em virtude da delegação recebida e
pela desapropriação dos bens vinculados ao serviço ou são passíveis de mandado de segurança.
pela expropriação das ações.
A responsabilidade por danos causados a terceiros é do
• caducidade – é o desfazimento do contrato por ato permissionário. Apenas subsidiariamente a
unilateral da Administração ou por decisão judicial. Há Administração pode ser responsabilizada pela culpa na
indenização. Ocorre rescisão por ato unilateral quando escolha ou na fiscalização do executor dos serviços.
há inadimplência.
• anulação – é a invalidação do contrato por ilegalidade.
Não há indenização. Os efeitos são a partir do início do
contrato. Autorização
Permissão É o ato administrativo discricionário e precário pelo
Permissão de serviço público é o ato unilateral, precário qual o Poder Público torna possível ao particular a
e discricionário, através do qual o Poder Público realização de certa atividade, serviço ou utilização de
transfere a alguém o desempenho de um serviço determinados bens particulares ou públicos, de seu
público, proporcionando ao permissionário a exclusivo ou predominante interesse, que a lei
possibilidade de cobrança de tarifa aos usuários. condiciona à aquiescência prévia da Administração.
Exs.: serviço de táxi, serviço de despachante, serviço de
A permissão pode ser unilateralmente revogada, a segurança particular.
qualquer tempo, pela Administração, sem que deva
pagar ao permissionário qualquer indenização, exceto
se se tratar de permissão condicionada que é aquela em Características
que o Poder Público se autolimita na faculdade
discricionária de revogá-la a qualquer tempo, fixando É ato unilateral da Administração:
em lei o prazo de sua vigência. • precário;
A permissão condicionada é usada geralmente para • discricionário;
transportes coletivos. Neste caso, se revogada ou
• no interesse do particular;
alterada, dá causas a indenização.
• intuitu personae.

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POLÍCIA MILITAR DE ALAGOAS
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

Cessação Particularidades:
Pode dar-se a qualquer momento, sem que a a) Não é contrato. Não há partes. Há partícipes.
Administração tenha que indenizar.
b) Os interesses são coincidentes e não opostos como
no contrato.
Remuneração c) Cada um colabora conforme suas possibilidades.
Dá-se por tarifas. d) Não existe vínculo contratual.
e) Cada um pode denunciá-lo quando quiser.
Licitação f) É uma cooperação associativa.
Exige-se se for para permissão de serviços públicos (CF, g) Não adquire personalidade jurídica.
art. 175). Para a realização de atividade pelo particular
h) Não tem representante legal.
ou para a utilização de certos bens, como regra não se
exige a licitação, mas pode-se coletar seleção por outro i) É instrumento de descentralização (art. 10, § 1º, b, do
sistema. Decreto-Lei nº 200/67).
Há que se observar que os serviços autorizados não se j) Não tem forma própria.
beneficiam da prerrogativa de serviço público. l) Exige autorização legislativa e recursos financeiros
Os executores dos serviços autorizados não são agentes reservados.
públicos, não praticam atos administrativos e, portanto, m) Não tem órgão diretivo.
não há responsabilidade da Administração pelos danos
causados a terceiros.
Consórcios
Consórcios administrativos são acordos firmados entre
Tarifas entidades estatais, autarquias ou paraestatais, sempre
É o preço correspondente à remuneração dos serviços da mesma espécie, para a realização de objetivos de
delegados (concessão, permissão e autorização). interesse comum dos partícipes.
Seu preço é pago pelo usuário do serviço ao
concessionário, permissionário ou autoritário, e é
proporcional aos serviços prestados.
Não é tributo. A tarifa deve permitir a justa
remuneração do capital pelo que deve incluir em seu Diferença com o Convênio
cálculo os custos do serviço prestado mais a
Convênio – é realizado entre partícipes de espécies
remuneração do capital empregado, que vai-se
diferentes.
deteriorando e desvalorizando com o decurso do
tempo. As revisões das tarifas são de exclusiva Consórcios – é realizado entre partícipes da mesma
competência do Poder Público. espécie.

Convênios e consórcios

Convênios
Convênios administrativos são acordos firmados por
entidades públicas entre si ou com organizações
particulares, para a realização de objetivos de interesses
recíprocos.
São utilizados para a realização de grandes obras ou
serviços.

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POLÍCIA MILITAR DE ALAGOAS
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

QUESTÕES SOBRE SERVIÇOS PÚBLICOS 05. (2014 - CESPE - ANTAQ - Especialista em Regulação -
Econômico-Financeiro) No que diz respeito à
delegação, licitação, contrato de concessão e serviço
público adequado, julgue o item que se segue.
01. (2015 - CESPE - TCE-RN - Inspetor - Administração, Nem toda concessão de serviço público deve ser
Contabilidade, Direito ou Economia - Cargo 3) decorrente de licitação prévia, porém toda
Relativamente aos serviços públicos e à concessão e concessão deve observar os princípios da legalidade,
permissão de serviço público, julgue o item da moralidade, da publicidade e da igualdade.
subsecutivo.
Certo - Errado
Tanto a concessão como a permissão de serviço
público têm a natureza de contrato de adesão; nesse
sentido, são formalizadas por contrato 06. (2014 - CESPE - ANATEL - Conhecimentos Básicos -
administrativo e não dispensam licitação prévia. Cargos 13, 14 e 15) Julgue o item subsecutivo,
concernentes aos serviços públicos.
Certo - Errado
O princípio da modicidade afasta a possibilidade de
adoção de serviços públicos prestados
02. (2015 - CESPE - MPU - Analista do MPU - Finanças e gratuitamente.
Controle) Julgue o item subsequente, relativos aos
Certo - Errado
tributos e às suas respectivas competências.
O valor cobrado por empresa pública concessionária
de serviço público de fornecimento de energia 07. (2014 - CESPE - ANATEL - Conhecimentos Básicos -
elétrica é considerado como preço privado. Cargos 13, 14 e 15) Julgue o item subsecutivo,
concernentes aos serviços públicos.
Certo - Errado
O inadimplemento do concessionário, que deixa de
executar total ou parcialmente serviço público
03. (2014 - CESPE - ANTAQ - Especialista em Regulação - concedido, acarreta a extinção do contrato de
Econômico-Financeiro) No que diz respeito à concessão por rescisão promovida pelo poder
delegação, licitação, contrato de concessão e serviço concedente.
público adequado, julgue o item que se segue.
Certo - Errado
Caso um serviço não seja prestado de forma
adequada, segundo critérios e indicadores de
qualidade definidos, poderá ser declarada a 08. (2014 - CESPE - ANATEL - Conhecimentos Básicos -
caducidade da concessão pelo poder concedente. Cargos 13, 14 e 15) Julgue o item subsecutivo,
concernentes aos serviços públicos.
Certo - Errado
O princípio da continuidade do serviço público não
impede a concessionária de energia elétrica de
04. (2014 - CESPE - ANTAQ - Especialista em Regulação - suspender o fornecimento de eletricidade no caso de
Econômico-Financeiro) No que diz respeito à inadimplemento do usuário.
delegação, licitação, contrato de concessão e serviço
Certo - Errado
público adequado, julgue o item que se segue.
A transferência de concessão, de uma concessionária
para outra, pode ocorrer sem prévia anuência do 09. (2014 - CESPE - ANATEL - Analista Administrativo -
poder concedente, sem implicar na caducidade da Administração) Acerca de licitações e contratos,
concessão. julgue o seguinte item.
Certo - Errado A única modalidade de licitação admitida pelo
ordenamento jurídico brasileiro para a concessão de
serviços públicos é a concorrência.
Certo - Errado

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POLÍCIA MILITAR DE ALAGOAS
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

10. (2014 - CESPE - TJ-SE - Analista Judiciário - Direito) BENS PÚBLICOS


No que concerne às regras e aos princípios
específicos que regem a atuação da administração
pública, julgue os itens subsequentes.
Os serviços públicos podem ser remunerados CONCEITO:
mediante taxa ou tarifa. Bens Públicos são todos aqueles que integram o
Certo - Errado patrimônio da Administração Pública direta e indireta.
Todos os demais são considerados particulares.
“São públicos os bens de domínio nacional
11. (2014 - CESPE - TC-DF - Analista de Administração
pertencentes as pessoas jurídicas de direito público
Pública - Sistemas de TI) Julgue os itens a seguir,
interno; todos os outros são particulares, seja qual fora
relativos à responsabilidade civil do Estado, aos
pessoa a que pertencerem” (art. 98 do CC).
serviços públicos e às organizações da sociedade civil
de interesse público. As empresas públicas e as sociedades de economia,
embora sejam pessoas jurídicas de direito privado,
De acordo com o princípio da continuidade, os
integram as pessoas jurídicas de direito público interno,
serviços públicos, compulsórios ou facultativos,
assim os bens destas pessoas também são públicos.
devem ser prestados de forma contínua, não
podendo ser interrompidos mesmo em casos de
inadimplemento do usuário. CLASSIFICAÇÃO:
Certo - Errado O artigo 99 do Código Civil utilizou o critério da
destinação do bem para classificar os bens públicos.
12. (2014 - CESPE - TC-DF - Analista de Administração
Pública - Organizações) Julgue o item a seguir,  Bens de uso comum: São aqueles destinados ao
relativo à responsabilidade civil do Estado, aos uso indistinto de toda a população. Ex: Mar, rio,
serviços públicos e às organizações da sociedade civil rua, praça, estradas, parques (art. 99, I do CC).
de interesse público. O uso comum dos bens públicos pode ser
De acordo com o princípio da continuidade, os gratuito ou oneroso, conforme for estabelecido
serviços públicos, compulsórios ou facultativos, por meio da lei da pessoa jurídica a qual o bem
devem ser prestados de forma contínua, não pertencer (art. 103 CC). Ex: Zona azul nas ruas e
podendo ser interrompidos mesmo em casos de zoológico. O uso desses bens públicos é
inadimplemento do usuário. oneroso.
Certo - Errado
 Bens de uso especial: São aqueles destinados a
uma finalidade específica. Ex: Bibliotecas,
teatros, escolas, fóruns, quartel, museu,
GABARITO repartições publicas em geral (art. 99, II do CC).
QUESTÕES SOBRE SERVIÇOS PÚBLICOS
 Bens dominicais: Não estão destinados nem a
01. C 04. E 07. E 10. C uma finalidade comum e nem a uma especial.
“Constituem o patrimônio das pessoas jurídicas
02. C 05. C 08. C 11. E de direito público, como objeto de direito
03. C 06. E 09. 12. E pessoal ou real, de cada uma dessas entidades”
(art. 99, III do CC).
Os bens dominicais representam o patrimônio
disponível do Estado, pois não estão destinados
e em razão disso o Estado figura como
proprietário desses bens. Ex.: Terras devolutas.

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POLÍCIA MILITAR DE ALAGOAS
NOÇÕES DE DIREITO ADMINISTRATIVO

AFETAÇÃO E DESAFETAÇÃO: Fechamento de ruas do Município para


transportar determinada carga. Difere-se da
Afetação consiste em conferir ao bem público uma
permissão de uso de bem público, pois nesta o
destinação. Desafetação (desconsagração) consiste em
uso é permanente (Ex: Banca de Jornal) e na
retirar do bem aquela destinação anteriormente
autorização o prazo máximo estabelecido na Lei
conferida a ele.
Orgânica do Município é de 90 dias (Ex: Circo,
Os bens dominicais não apresentam nenhuma Feira do livro).
destinação pública, ou seja, não estão afetados. Assim,
são os únicos que não precisam ser desafetados para
que ocorra sua alienação.  Permissão de uso: É o ato administrativo
unilateral, discricionário e precário através do
qual transfere-se o uso do bem público para
particulares por um período maior que o
USO DE BENS PÚBLICOS: previsto para a autorização. Ex: Instalação de
barracas em feiras livres; instalação de Bancas
de jornal; Box em mercados públicos; Colocação
Noções gerais: de mesas e cadeiras em calçadas.

As regras sobre o uso do bem público são de


competência daquele que detém a sua propriedade,  Concessão de uso:
isto é da União, dos Estados, Municípios e Distrito
Federal.  Concessão comum de uso ou Concessão
administrativa de uso: É o contrato por
“É competência comum da União, dos Estados, do meio do qual delega-se o uso de um bem
Distrito Federal e dos Municípios zelar pela guarda da público ao concessionário por prazo
Constituição, das leis e das instituições democráticas e determinado. Por ser direito pessoal não
conservar o patrimônio público” (art. 23, I da CF). pode ser transferida, “inter vivos” ou
“Os Municípios poderão constituir guardas municipais “causa mortis”, a terceiros. Ex: Área para
destinadas à proteção de seus bens, serviços e parque de diversão; Área para restaurantes
instalações, conforme dispuser a lei” (art. 144, §8º da em Aeroportos; Instalação de lanchonetes
CF). Ex: Para se fazer uma passeata não é necessária em zoológico.
autorização, mas deve-se avisar o Poder Público para  Concessão de direito real de uso: É o
preservação dos bens dos quais tenha titularidade. contrato por meio do qual delega-se se o
uso em imóvel não edificado para fins de
edificação; urbanização; industrialização;
Instrumentos para transferência do uso do bem
cultivo da terra. (Decreto-lei 271/67).
publico para particulares:
Delega-se o direito real de uso do bem.
O uso dos bens públicos pode ser feito pela própria
 Cessão de uso: É o contrato administrativo
pessoa que detém a propriedade ou por particulares,
através do qual transfere-se o uso de bem
quando for transferido o uso do bem público. Tal
público de um órgão da Administração
transferência se da através de autorização, concessão e
para outro na mesma esfera de governo ou
permissão de uso.
em outra.

 Autorização de uso: É o ato administrativo


unilateral, discricionário e precaríssimo através
do qual transfere-se o uso do bem público para
particulares por um período de curtíssima
duração. Libera-se o exercício de uma atividade
material sobre um bem público. Ex: Empreiteira
que esta construindo uma obra pede para usar
uma área publica, em que irá instalar
provisoriamente o seu canteiro de obra;
Fechamento de ruas por um final de semana;

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