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Atualizado 21/06/2020
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 2
1. INTRODUÇÃO
(...) é impossível conceber que o Estado alcance os fins colimados sem a presença de seus agentes,
estes (...) o elemento físico e volitivo através do qual atua no mundo jurídico.
(...)
O poder administrativo representa uma prerrogativa especial de direito público outorgada aos agentes
do Estado. Cada um desses terá a seu cargo a execução de certas funções. Ora, se tais funções foram
por lei cometidas aos agentes, devem estes exercê-las, pois seu exercício é voltado para beneficiar a
coletividade. Ao fazê-lo, dentro dos limites que a lei traçou, pode dizer-se que usaram normalmente os
seus poderes.
Os Poderes Administrativos restam consignados na doutrina pátria não apenas como Pode-
res, mas também Deveres da Administração Pública (PODER-DEVER), tendo em vista que ao
lado do princípio da Supremacia do Interesse Público se encontra o Princípio da Indisponibilidade
do Interesse Público, ambos regentes do Regime Jurídico Administrativo.
Direito Administrativo - Poderes administrativos
(...) As prerrogativas públicas, ao mesmo tempo em que constituem poderes para o administrador
público, impõe-lhe o seu exercício e lhe vedam a inércia, porque o reflexo desta atinge, em última
instância, a coletividade, esta a real destinatária de tais poderes.
Esse aspecto dúplice do poder administrativo é que se denomina de poder-dever de agir. E aqui são
irretocáveis as já clássicas palavras de HELY LOPES MEIRELLES: “Se para o particular o poder de
agir é uma faculdade, para o administrador público é uma obrigação de atuar, desde que se
apresente o ensejo de exercitá-lo em benefício da comunidade”. 3
(Carvalho Filho, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo).
(...) representa uma violação ao princípio da Supremacia do Interesse Público, um verdadeiro desvir-
tuamento de seu escopo, o desempenho dos poderes administrativos sem observância dos direitos e
garantias constitucionais – com destaque para o devido processo legal – bem como dos princípios
jurídicos em geral e dos termos e limites estabelecidos na lei. O exercício ilegítimo das prerrogativas
conferidas pelo ordenamento jurídico à Administração Pública caracteriza, genericamente, o denomi-
nado Abuso de Poder.
O Abuso de Poder é gênero1, do qual decorrem como espécies o Desvio de Poder ou Desvio
de Finalidade, e o Excesso de Poder.
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O professor Rafael Rezende cita como exemplo de excesso de poder a atuação do agente público policial que
utiliza da força desproporcional para impedir manifestação pública, extrapolando a competência delimitada na
lei. Já como exemplo de desvio de poder, o doutrinador menciona a edição de ato administrativo para beneficiar
parentes, a fim de alcançar, dessa forma, finalidade diversa do interesse público.
Direito Administrativo - Poderes administrativos
O Excesso de Poder se dá quando o agente público atua fora dos limites de sua competên-
cia, razão pela qual se configura vício relacionado ao elemento competência dos atos administrativos.
Já o Desvio de Poder se verifica quando o agente público, em que pese atuando nos limites
de sua esfera de competências, acaba por desviar-se da finalidade explícita ou implícita do ato.
O Desvio de Finalidade pode ser em relação à finalidade geral do ato - que é sempre o
interesse público -, como também pode ser em relação à finalidade específica do ato. Em ambas as
situações, os atos praticados com desvio de poder são nulos.
Obs.: Sobre vícios de competência e de finalidade, vide material relativo aos Atos
Administrativos.
4
É importante consignar que grande parcela da doutrina ao tratar dos Poderes Administrativos
elenca os seguintes: Poder Vinculado, Poder Discricionário, Poder Regulamentar, Poder Hie-
rárquico, Poder Disciplinar e Poder de Polícia.
De outra banda, há autores que entendem que o Poder Vinculado e o Poder Discricionário
não são propriamente Poderes Administrativos, mas atributos de outros poderes ou competên-
cias da Administração Pública, razão pela qual abordam a matéria quando do estudo dos Atos
Administrativos.
O chamado “poder vinculado”, na realidade, não encerra “prerrogativa” do Poder Público, mas, ao
contrário, dá ideia de restrição, pois, quando se diz que determinada atribuição da Administração
é vinculada, quer-se significar que está sujeita à lei em praticamente todos os aspectos. O legis-
lador, nessa hipótese, preestabelece todos os requisitos do ato, de tal forma que, estando eles
presentes, não cabe à autoridade administrativa senão editá-lo, sem apreciação de aspectos
concernentes à oportunidade, conveniência, interesse público, equidade. Esses aspectos foram
previamente valorados pelo legislador.
Direito Administrativo - Poderes administrativos
A discricionariedade, sim, tem inserida em seu bojo a ideia de prerrogativa, uma vez que a lei, ao
atribuir determinada competência, deixa alguns aspectos do ato para serem apreciados pela Adminis-
tração diante do caso concreto; ela implica liberdade a ser exercida nos limites da lei. No entanto, não
se pode dizer que exista como poder autônomo.
Para o doutrinador Lucas Rocha Furtado, o uso da terminologia “poder discricionário” e “poder
vinculado” é mantida por mera tradição e não por acerto jurídico ou técnico.
(...)
Da mesma forma, o mestre José dos Santos Carvalho Filho entende que a hierarquia e a
disciplina são situações que ocorrem dentro da estrutura funcional da Administração Pública e que,
portanto, o “poder hierárquico” e o “poder disciplinar” não deveriam ser tratados propriamente como
“poderes”, por entender lhes faltar a fisionomia inerente às prerrogativas de direito público que cer-
cam os verdadeiros poderes administrativos.
Por outro lado aduz o mestre que “mesmo não sendo típicos poderes administrativos, são
inegavelmente situações próprias da atividade administrativa, das quais emana uma série de efeitos
jurídicos de direito público pertinentes à organização da Administração Pública”.
De todo modo, a par das divergências doutrinárias acima apontadas, delinearemos a seguir
as principais características dos seis Poderes Administrativos usualmente citados, a fim de garantir
uma visão ampla e sistemática do assunto ao aluno.
Deve restar claro para o aluno, nesse contexto, que também quanto aos atos administrativos
discricionários há a manifestação do Poder Vinculado quanto aos elementos vinculados do ato
administrativo.
Obs.: Sobre os elementos dos Atos Administrativos vide material específico sobre
a matéria.
Portanto, na edição de um ato vinculado, o agente administrativo tem respaldo somente no Poder
Vinculado. Na prática de um ato discricionário, a Administração Pública exerce o Poder Discricionário
e, também, o Poder Vinculado. 6
(...)
É fácil constatar que o assim denominado “Poder Vinculado” não é propriamente um poder, mas sim
um dever da Administração Pública. Quando pratica um ato vinculado – ou mesmo quando observa os
elementos vinculados de um ato discricionário – a Administração está muito mais cumprindo um dever
do que exercendo uma prerrogativa.
(...) pensamos não se tratar propriamente de “poder” outorgado ao administrador; na verdade, através
dele não se lhe confere qualquer prerrogativa de direito público. Ao contrário, a atuação vinculada
reflete uma imposição ao administrador, obrigando-o a conduzir-se rigorosamente em conformidade
com os parâmetros legais. Por conseguinte, esse tipo de atuação mais se caracteriza como restrição
e seu sentido está bem distante do que sinaliza o verdadeiro poder administrativo. Diversamente ocorre
(...) com o poder discricionário: neste, o administrador tem a prerrogativa de decidir qual a conduta
mais adequada à satisfação do interesse público.
Há atos da Administração Pública que a Lei permite sejam praticados a partir de uma análise
do administrador quanto à conveniência e à oportunidade de sua realização. São os denominados
atos administrativos discricionários, pautados no mérito administrativo, ou seja, na liberdade do
agente público de escolher, dentro dos limites legais, quando e como praticar o ato.
Quer dizer que no uso do Poder Discricionário o administrador público tem margem para ava-
liar a conveniência e a oportunidade para a prática de um ato e, se for o caso, o seu conteúdo.
Trata-se efetivamente de um Poder conferido pela Lei à Administração Pública: diante de um caso
concreto, a administração, nos termos e limites legalmente fixados, decidirá, segundo seus critérios de
oportunidade e conveniência administrativas, a conduta, dentre as previstas na lei, mais condizente
com a satisfação do interesse público.
Observe-se que também tem fundamento no Poder Discricionário a revogação de atos administrativos 7
que a Administração Pública tenha praticado e, num momento posterior, passe a considerar inopor-
tunos ou inconvenientes.
Quer dizer que sempre que a Lei confira ao administrador a liberdade para definir o conteúdo
do ato administrativo com base em seu juízo de conveniência e oportunidade, estaremos diante do
Poder Discricionário.
Deve restar claro que o Poder Discricionário não implica ampla liberdade ao administrador,
mas sim que este poderá, dentre as opções previstas na Lei, escolher aquela mais conveniente ao
interesse público, bem como o momento oportuno para a sua prática.
Também a revogação dos atos administrativos discricionários com base na sua inconveniên-
cia e/ou importunidade tem por base o Poder Discricionário.
Direito Administrativo - Poderes administrativos
Obs.: Sobre revogação dos Atos Administrativos vide material específico sobre
a matéria.
A discricionariedade administrativa pode ser apresentada como a liberdade conferida pela lei ao admi-
nistrador público para a adoção da melhor solução para o caso concreto, com vistas à realização das
finalidades legais, em razão do juízo de conveniência e de oportunidade da Administração Pública.
(...)
- O administrador se utilize da liberdade legal com o propósito de melhor realizar as finalidades legais
que justificaram a outorga da competência para o exercício da atividade;
(3) ponderação valorativa de interesses concorrentes, com prevalência do que melhor atender ao fim
da norma.
Um dos fatores exigidos para a legalidade do exercício desse poder consiste na adequação da conduta
escolhida pelo agente à finalidade que a lei expressa. Se a conduta eleita destoa da finalidade da
norma, é ela ilegítima e deve merecer o devido controle judicial.
Outro fato é o da verificação dos motivos inspiradores da conduta. Se o agente não permite o exame
dos fundamentos de fato ou de direito que mobilizaram sua decisão em certas situações em que seja
necessária a sua averiguação, haverá, no mínimo, a fundada suspeita de má utilização do poder
discricionário e de desvio de finalidade.
Tais fatores constituem meios de evitar o indevido uso da discricionariedade administrativa e ainda
possibilitam a revisão da conduta no âmbito da própria Administração ou na via judicial.
No que se refere aos atos discricionários, todavia, é mister distinguir dois aspectos. Podem eles sofrer
controle judicial em relação a todos os elementos vinculados, ou seja, aqueles sobre os quais não tem
o agente liberdade quanto à decisão a tomar. Assim, se o ato é praticado por agente incompetente, ou 9
com forma diversa da que a lei exige; ou com desvio de finalidade, ou com o objeto dissonante do
motivo etc.
O controle judicial, entretanto, não pode ir ao extremo de admitir que o juiz se substitua ao
administrador. Vale dizer: não pode o juiz entrar no terreno que a lei reservou aos agentes da
Administração, perquirindo os critérios de conveniência e oportunidade que lhe inspiraram a
conduta. A razão é simples: se o juiz se atém ao exame da legalidade dos atos, não poderá questionar
critérios que a própria lei defere ao administrador.
Certo é que a expedição de decretos de execução depende da preexistência de uma lei a ser
regulamentada, de modo que o decreto (ato secundário) deve restringir-se ao conteúdo da lei (ato
primário), visando apenas ao esclarecimento e detalhamento do seu conteúdo.
Direito Administrativo - Poderes administrativos
ATENÇÃO: A regulamentação da lei a ser feita por ato do Chefe do Poder Executivo
pressupõe que a lei a ser regulamentada seja administrativa, isto é, uma lei que para a sua fiel
execução exija a participação da Administração Pública.
Isso quer dizer que as leis administrativas podem ser regulamentadas mesmo que o seu texto
não preveja expressamente essa regulamentação, já que a competência para editar regula-
mentos para a fiel execução da lei está prevista constitucionalmente, independendo, portanto,
de qualquer autorização legislativa.
Também há os casos em que a lei já aduz de forma expressa que deva ser regulamentada para
a sua correta aplicação, sendo denominadas de “leis não autoexecutáveis”, por não serem
exequíveis antes da expedição do ato regulamentador.
Deve ficar claro ao aluno, porém, que não apenas o Chefe do Poder Executivo pode editar
atos normativos no âmbito da Administração Pública, sendo certo que diversas outras autoridades
administrativas também editam atos normativos. A diferença é que tais atos tomam por fundamento
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não o Poder Regulamentar (espécie), mas sim o Poder Normativo (gênero).
A Administração Pública, entre outras funções, detém a função normativa, sendo expressão
dela o exercício do Poder Regulamentar.
Poder regulamentar, portanto, é a prerrogativa conferida à Administração Pública de editar atos gerais
para complementar as leis e permitir a sua efetiva aplicação. A prerrogativa, registre-se, é apenas para
complementar a Lei; não pode, pois, a Administração alterá-la a pretexto de estar regulamentando. Se
o fizer, cometerá abuso de poder regulamentar, invadindo a competência do Legislativo. Por essa
razão, o art. 49, V, da CF, autoriza o Congresso Nacional a sustar atos normativos que extrapolem os
limites do poder de regulamentação.
Sob o enfoque de que os atos podem ser originários e derivados, o poder regulamentar é de natureza
derivada (ou secundária); somente é exercido à luz de lei preexistente. Já as leis constituem atos de
natureza originária (ou primária), emanando diretamente da Constituição.
(...)
Considerando nosso sistema de hierarquia normativa, podemos dizer que existem graus diversos de
regulamentação conforme o patamar em que se aloje o ato regulamentador. Os decretos e regulamen-
tos podem ser considerados como atos de regulamentação de primeiro grau; outros atos que a eles se
subordinem e que, por sua vez, os regulamentem, evidentemente com maior detalhamento, podem ser
qualificados como atos de regulamentação de segundo grau, e assim por diante.
Sendo o Poder Regulamentar subjacente à Lei, é cediço que o ato regulamentar não
poderá contrariar as suas disposições. Quer dizer que o exercício do Poder Regulamentar não
pode ser contra legem, mas apenas secundum legem, observando os limites e condições esta-
belecidos legalmente.
Além disso, não se pode olvidar que apenas a Lei pode criar direitos e obrigações (art. 5º, II,
CF/88), de modo que serão ilegítimos os atos de mera regulamentação que inovem no ordenamento
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jurídico estabelecendo direitos e impondo obrigações aos indivíduos, por indevida interferência na
função legislativa, com violação do princípio da separação de poderes (art. 2º da CF/88).
Cabe destacar que do texto originário da Constituição Federal de 1988 era possível encontrar
apenas a figura do decreto regulamentar, também intitulado de decreto de execução, tendo por
objetivo garantir o fiel cumprimento da lei regulamentada. Ocorre que o constituinte derivado, por
meio da EC n° 32/2001 inseriu a figura do decreto autônomo em nosso ordenamento. Sobre o tema,
vide o quadro abaixo:
As matérias que podem ser veiculadas via decreto autônomo são as previstas nas alíneas do
inciso VI do art. 84 da Constituição Federal, quais sejam:
A contrario sensu, é cediço que, acaso o objetivo seja a criação ou a extinção de órgãos
públicos, bem como a extinção de funções ou cargos públicos ocupados, a Administração
deverá se valer necessariamente de Lei em sentido formal. Outro ponto importante sobre a
figura do decreto autônomo no Brasil é a possibilidade de delegação3 das matérias do art. 84,
VI, “a” e “b”, da CF/88 a outras autoridades administrativas, nos termos do parágrafo único
do mesmo art. 84 da CF/88.
Há, ainda, parcela da doutrina que aduz haver no ordenamento pátrio outras espécies de regu-
lamentos, além dos disciplinados via decretos regulamentares e decretos autônomos, quais sejam, os
regulamentos autorizados. Esses regulamentos teriam por base uma autorização do Poder Legis-
lativo ao Poder Executivo para o tratamento de determinadas situações na Lei não reguladas.
Tendo por base uma relação de subordinação, o Poder Hierárquico se manifesta na orde-
nação e revisão da atuação dos órgãos e agentes públicos no âmbito de uma mesma pessoa jurídica.
(...) a doutrina usa o vocábulo vinculação para se referir à relação – não hierárquica – que existe entre
a administração direta e as entidades da respectiva administração indireta. A existência de vinculação
administrativa fundamenta o controle que os entes federados (União, Estados, Distrito Federal e muni-
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A professora Maria Sylvia Di Pietro destaca que quanto à alínea “b” do inciso VI do art. 84 da CF/88 não se
trata de função propriamente regulamentar, já que o chefe do executivo se limita a extinguir cargos ou funções,
quando vagos. Dessa forma, segundo a doutrinadora, o regulamento autônomo no Direito brasileiro existe de
forma bem limitada para a hipótese específica inserida na alínea “a” do inciso VI do art. 84 da CF/88.
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Por sua vez, a competência para a edição dos decretos de execução não é passível de delegação (art. 84, IV,
CF/88).
Direito Administrativo - Poderes administrativos
cípios) exercem sobre as suas administrações indiretas, chamado de controle finalístico, tutela admi-
nistrativa ou supervisão – menos abrangente do que o controle hierárquico, porque incide apenas sobre
os aspectos que a lei expressamente preveja.
Tem-se, portanto, que há subordinação entre agentes e órgãos de uma mesma pessoa jurí-
dica, enquanto há relação de vinculação (não hierárquica) entre os entes políticos e suas entidades
da Administração Indireta.
O Poder Hierárquico é aquele que se manifesta a partir de uma relação hierárquica exis-
tente entre agentes e órgãos públicos. Pressupõe, destarte, um escalonamento em plano vertical das
atividades dos órgãos e agentes da Administração Pública no exercício da função administrativa.
A doutrina destaca os seguintes efeitos que decorrem diretamente do Poder Hierárquico sob 13
a ótica da autoridade superior:
a) fiscalização das atividades desempenhadas por agentes de plano hierárquico inferior e conse-
quente avaliação da regularidade das condutas praticadas frente ao ordenamento jurídico e tam-
bém frente às ordens emanadas pelos agentes superiores;
b) revisão dos atos praticados por agentes de plano hierárquico inferior a fim de se tornarem compa-
tíveis com o ordenamento jurídico e com a orientação administrativa em vigor;
A prerrogativa de dar ordens, também referida como poder de comando, permite que o superior hie-
rárquico assegure o adequado funcionamento dos serviços sob sua responsabilidade.
(...)
Os servidores públicos têm o dever de acatar e cumprir as ordens de seus superiores hierárquicos
(dever de obediência), exceto quando manifestamente ilegais, hipótese em que surge para o destina-
tário da ordem o dever de representação contra a ilegalidade.
(...)
hierárquico permite que o superior aprecie todos os aspectos dos atos de seus subordinados (quanto
à legalidade e quanto ao mérito administrativo) e pode ocorrer de ofício ou, quando for o caso, mediante
provocação dos interessados, por meio de recursos hierárquicos.
(...)
A aplicação de sanções administrativas nem sempre está relacionada ao Poder Hierárquico (...)
somente derivam do Poder Hierárquico as sanções disciplinares aplicadas aos servidores públicos que
pratiquem infrações funcionais.
Já a avocação é o ato discricionário por meio do qual o superior hierárquico traz para si o
exercício (temporário) de competência atribuída por lei a um agente subordinado.
O Poder Disciplinar tem relação com o Poder Hierárquico quando do processamento, julga-
mento e aplicação de sanções aos subordinados, porém vai além, posto não se limitar a relações de
subordinação hierárquica no âmbito da Administração Pública.
(...) somente derivam do poder hierárquico as sanções disciplinares aplicadas aos servidores
públicos que pratiquem infrações funcionais. Outras sanções administrativas, tais quais as apli-
cadas a um particular que tenha celebrado um contrato administrativo com o poder público e
incorra em alguma irregularidade na execução desse contrato, têm fundamento no poder disci-
plinar, mas não no poder hierárquico.
O Poder Disciplinar tem relação direta com o Poder Hierárquico, mas com ele não se confunde.
Rememore-se que um dos efeitos da hierarquia é a fiscalização exercida pelo agente superior
em face dos agentes subordinados. Ora, se aos agentes públicos superiores é dado esse poder de
fiscalizar e verificar a regularidade das condutas praticadas pelos de nível inferior, sendo identificada
alguma infração, certo é que os agentes infratores restarão sujeitos às sanções legalmente previstas. 15
José dos Santos Carvalho Filho bem explica as diferenças entre essas duas relações jurídicas:
Nessa mesma linha intelectiva, deve restar claro ao aluno que o Poder Disciplinar da
Administração alcança também particulares a ela ligados em razão de algum vínculo específico 4,
a exemplo de um contrato administrativo.
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Difere-se, assim, do Poder de Polícia, o qual é pautado numa supremacia geral da Administração sobre os
indivíduos.
Direito Administrativo - Poderes administrativos
Hierárquico). E mais, decorre do Poder Disciplinar também a punição de particulares infratores que
possuam algum vínculo jurídico específico com a Administração Pública.
Ponto importante é a diferenciação entre vínculo específico e vínculo geral, para fins de exer-
cício do Poder Disciplinar (decorrente ou não do Poder Hierárquico) ou do Poder de Polícia pela
Administração Pública.
Toda e qualquer pessoa está sujeita ao poder punitivo do Estado, ao passo que somente as pessoas
que possuem algum vínculo jurídico específico com a Administração Pública (por exemplo, vínculo
funcional ou vínculo contratual) são alcançadas pelo Poder Disciplinar.
(...)
A mesma distinção, aliás, se verifica a respeito do Poder de Polícia (...) Com efeito, todas as pessoas
que exerçam atividades que possam, de algum modo, acarretar risco ou transtorno à coletividade estão
sujeitas ao Poder de Polícia, ou seja, este decorre de um vínculo geral entre os indivíduos e a Admi-
nistração Pública, enquanto o Poder Disciplinar, cumpre repetir, funda-se em um vínculo específico
entre uma pessoa e a Administração, como se dá com um servidor público ou com um particular que
esteja executando um contrato administrativo ou participando de um procedimento licitatório.
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(Marcelo Alexandrino, Vicente Paulo. Direito Administrativo Descomplicado).
ATENÇÃO: O Poder Disciplinar da Administração Pública não deve ser confundido com
o Poder Punitivo do Estado (o denominado jus puniendi estatal), pois este último é exercido
pelo Poder Judiciário quando do processamento de infratores que incorreram em crimes e
contravenções penais.
Art. 78. Considera-se poder de polícia atividade da administração pública que, limitando ou disci-
plinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de
interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da
produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou
autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos
individuais ou coletivos.
O exercício do Poder de Polícia, por óbvio, deve ser regular, observando a Administração
Pública os limites estabelecidos no ordenamento jurídico, especialmente os princípios do devido
processo legal, da proporcionalidade e da razoabilidade. Nesse diapasão é o sentido do disposto no
parágrafo único do art. 78 do CTN, in verbis:
Parágrafo único. Considera-se regular o exercício do poder de polícia quando desempenhado pelo
órgão competente nos limites da lei aplicável, com observância do processo legal e, tratando-se de
atividade que a lei tenha como discricionária, sem abuso ou desvio de poder.
O Poder de Polícia tem por base a supremacia geral existente entre a Administração
Pública e os particulares, a partir da restrição/limitação de direitos e interesses individuais em
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favor do interesse público.
A professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro assim aduz sobre o conceito de Poder de Polícia:
Pelo conceito moderno, adotado no direito brasileiro, o poder de polícia é a atividade do Estado con-
sistente em limitar o exercício dos direitos individuais em benefício do interesse público. Esse interesse
público diz respeito aos mais variados setores da sociedade, tais como segurança, moral, saúde, meio
ambiente, defesa do consumidor, patrimônio cultural, propriedade.
Ademais, o Poder de Polícia estatal pode se dar em duas vertentes (duas áreas de atuação
estatal): a da Polícia Administrativa e a da Polícia Judiciária, ambas se enquadrando no âmbito da
função administrativa, representando atividades de gestão de interesses públicos.
Veja-se o que o doutrinador José dos Santos Carvalho Filho fala sobre o assunto:
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O professor Celso Antônio Bandeira de Mello aduz que o Poder de Polícia pode ser visto em sentido
amplo e em sentido estrito. O Poder de Polícia em sentido amplo é a atividade estatal consistente em
disciplinar o exercício das liberdades individuais em prol do interesse coletivo. Já o Poder de Polícia em
sentido estrito é a própria intervenção administrativa consubstanciada na aplicação da Lei pela Adminis-
tração Pública aos casos concretos.
Direito Administrativo - Poderes administrativos
Outra diferença reside na circunstância de que a Polícia Administrativa incide basicamente sobre ativi-
dades dos indivíduos, enquanto a polícia judiciária preordena-se ao indivíduo em si, ou seja, aquele a
quem se atribui o cometimento de ilícito penal.
(...)
O critério mais adequado para distinguir a polícia administrativa da polícia judiciária diz respeito ao
regime jurídico utilizado para disciplinar o objeto da análise. Se determinada ação ou omissão se
enquadra no âmbito das normas do Direito penal, a polícia judiciária é chamada a atuar e terá como 18
parâmetro de atuação o Direito Processual Penal. Se o fato objeto da atuação estatal é tratado pelas
normas do Direito Administrativo, intervirá a polícia administrativa.
O aluno deve ter em mente que a atuação das duas polícias em tela não são excludentes,
sendo possível em alguns casos, como por exemplo, ilícitos cometidos contra o meio ambiente, com
violação tanto de normas de Direito Penal quanto de Direito Administrativo, haver a intervenção da
polícia judiciária e da polícia administrativa, respectivamente.
Primeiramente é importante destacar que o Poder de Polícia pode ser exercido por meio de
atos administrativos discricionários ou vinculados. Apesar disso, diz-se que, em regra, a atuação da
Administração Pública quando no uso do seu Poder de Polícia se dará de forma discricionária.
Quanto à discricionariedade, embora esteja presente na maior parte das medidas de polícia, nem sem-
pre isso ocorre. Às vezes, a lei deixa certa margem de liberdade de apreciação quanto a determinados
elementos, como o motivo ou o objeto, mesmo porque ao legislador não é dado prever todas as hipó-
teses possíveis a exigir a atuação de polícia. Assim, em grande parte dos casos concretos, a Adminis-
tração terá que decidir qual o melhor momento de agir, qual o meio de ação mais adequado, qual a
Direito Administrativo - Poderes administrativos
sanção mais cabível diante das previstas na norma legal. Em tais circunstâncias, o poder de polícia
será discricionário.
Em outras hipóteses, a lei já estabelece que, diante de determinados requisitos, a Administração terá
que adotar solução previamente estabelecida, sem qualquer possibilidade de opção. Nesse caso, o
poder de polícia será vinculado.
Como exemplo de ato de polícia discricionário pode-se citar a autorização, discricionária por-
que a Lei permite à Administração apreciar o caso concreto para, então, decidir se autoriza ou não o
exercício de determinada atividade. Já um exemplo de ato de polícia vinculado é a licença, prevendo
a lei os requisitos que, se atendidos, devem levar à concessão do pedido pela Administração.
A autoexecutoriedade, por sua vez, é a possibilidade da Administração Pública atuar por seus
próprios meios, independentemente de autorização judicial para tanto. Esta característica do Poder
de Polícia também é marcada pelo uso de meios diretos6 de coerção.
A professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro explica que alguns autores desdobram a autoexe-
cutoriedade em dois princípios:
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Certamente os meios diretos de coação só devem ser utilizados pela Administração Pública quando não hou-
ver outro meio eficaz de alcançar o mesmo objetivo de modo menos gravoso ao particular, razão pela qual os
atos de polícia sempre devem observar o princípio da proporcionalidade nas suas três vertentes (necessidade,
adequação e proporcionalidade em sentido estrito).
Direito Administrativo - Poderes administrativos
O privilège d’action d’office consiste na faculdade que tem a Administração, quando já tomou decisão
executória, de realizar diretamente a execução forçada, usando, se for o caso, da força pública para
obrigar o administrado a cumprir a decisão.
Por sua vez, a Fiscalização de Polícia se dá frente ao exercício das atividades, com vistas
a aferir se a Legislação de Polícia está sendo respeitada.
Originário é o Poder de Polícia exercido pelas pessoas políticas da Federação com compe-
tência para editar as leis e executar os atos limitativos. Delegado é o Poder de Polícia executado
pelas pessoas jurídicas de direito público integrantes da Administração Indireta.
Como se sabe, o Estado age por meio de seus órgãos e agentes públicos na Administração
Direta, bem como por meio das entidades da Administração Indireta.
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Nesse passo, aduz a doutrina majoritária a possibilidade de delegação do Poder de Polícia
às entidades da Administração Pública Indireta dotadas de personalidade jurídica de direito público,
desde que haja Lei formal dispondo de forma expressa sobre a delegação.
Para a majoritária doutrina - abalizada pela jurisprudência dos Tribunais Superiores - a dele-
gação do Poder de Polícia não é possível a particulares, tanto pessoas físicas quanto jurídicas de
direito privado.
A vedação e delegação do poder de polícia a particulares não decorre de qualquer dispositivo legal
expresso. A razão da vedação é de ordem material e mantém relação com o princípio da dignidade da
pessoa humana.
(...)
polícia, posto que a outorga desta potestade poderia legitimar o uso da violência por parte de particular
contra particular, o que fere a noção básica do princípio da dignidade da pessoa humana.
(...)
Com efeito, o poder de polícia envolve o exercício de prerrogativas próprias do poder público, especi-
almente a repressão, insuscetíveis de serem exercidas por um particular sobre outro. Os atributos, já
apontados, da autoexecutoriedade e coercibilidade (inclusive com emprego de meios diretos de
coação) só podem ser atribuídos a quem esteja legalmente investido em cargos públicos, cercados de
garantias que protegem o exercício das funções típicas do Estado.
Por outro lado, a impossibilidade de delegação do Poder de Polícia aos particulares não
implica o seu total afastamento das atividades relacionadas a esse Poder, o qual, como se viu,
desenvolve-se em várias etapas ou ciclos.
Nesse passo, no que toca às pessoas físicas, a doutrina ressalva a hipótese de poderes
reconhecidos aos capitães de navios. Já no que se refere às pessoas jurídicas de direito privado, a
doutrina e a jurisprudência reconhecem a delegação de atos materiais, preparatórios ou sucessivos
ao ato jurídico de polícia.
Tem-se, portanto, que, ainda que as pessoas de direito privado possam desempenhar
atribuições concretas relativas ao Poder de Polícia – especificamente nas fases do consenti-
mento e da fiscalização –, a disciplina de tais atividades, bem como a aplicação de sanções –
fases normativa e sancionatória –, são reservadas às pessoas jurídicas de direito público, e,
assim, indelegáveis a particulares.
(...). 2. No que tange ao mérito, convém assinalar que, em sentido amplo, poder de polícia
pode ser conceituado como o dever estatal de limitar-se o exercício da propriedade e da
liberdade em favor do interesse público. A controvérsia em debate é a possibilidade de
exercício do poder de polícia por particulares (no caso, aplicação de multas de trânsito por
sociedade de economia mista). 3. As atividades que envolvem a consecução do poder de po-
lícia podem ser sumariamente divididas em quatro grupos, a saber: (i) legislação, (ii) consen-
timento, (iii) fiscalização e (iv) sanção. 4. No âmbito da limitação do exercício da propriedade
e da liberdade no trânsito, esses grupos ficam bem definidos: o CTB estabelece normas gené-
ricas e abstratas para a obtenção da Carteira Nacional de Habilitação (legislação); a emissão
da carteira corporifica a vontade o Poder Público (consentimento); a Administração instala
equipamentos eletrônicos para verificar se há respeito à velocidade estabelecida em lei (fisca-
lização); e também a Administração sanciona aquele que não guarda observância ao CTB
(sanção). 5. Somente os atos relativos ao consentimento e à fiscalização são delegáveis,
pois aqueles referentes à legislação e à sanção derivam do poder de coerção do Poder
Público. 6. No que tange aos atos de sanção, o bom desenvolvimento por particulares estaria,
inclusive, comprometido pela busca do lucro - aplicação de multas para aumentar a arrecada-
ção. 7. Recurso especial provido. (REsp 817.534 / MG, 2ª Turma, Min. Mauro Campbell Mar-
ques; data de julgamento: 10/11/2009)
Direito Administrativo - Poderes administrativos
Portanto, a análise da delegação do Poder de Polícia deve se dar a partir das fases do Ciclo
de Polícia para a correta compreensão do tema, sendo certo que o exercício dos atos de legislação
e sanção, por derivarem do poder de coerção estatal, pertencem unicamente às pessoas jurídicas
de direito público.
Ex. 2 (FCC) Os poderes administrativos de um agente público devem ser exercidos obri-
gatoriamente quando determinar a lei. (CORRETO)
Ex. 4 (FCC) Sobre os poderes administrativos é INCORRETO afirmar que: O Poder Hie-
rárquico é o que cabe à Administração para apurar infrações e aplicar penalidades aos servi-
dores e às demais pessoas sujeitas à disciplina administrativa. (CORRETO)
Ex. 5 (FCC) Na lição de Hely Lopes Meirelles, os poderes administrativos nascem com
a Administração e se apresentam diversificados segundo as exigências do serviço público, o
interesse da coletividade e os objetivos a que se dirigem. Esclarece o renomado administrati-
vista que, diferentemente dos poderes políticos, que são estruturais e orgânicos, os poderes
administrativos são instrumentais.
Uma adequada correlação entre o poder administrativo citado e sua utilização pela Ad-
ministração é: o poder de polícia comporta atos preventivos e repressivos, exercidos pela
Administração para condi-cionar ou restringir atividades ou direitos individuais, no interesse
da coletividade. (CORRETO)
Direito Administrativo - Poderes administrativos
Ex. 6 (CESPE) O poder vinculado significa que a lei deixou propositadamente certa faixa
de opção para o exercício da vontade psicológica do agente, limitado entretanto a escolha
dos meios e da oportunidade para a concretização do ato administrativo. (ERRADO)
Ex. 14 (CESPE) Pelo atributo da coercibilidade, o poder de polícia tem execução imedi-
ata, sem dependência de ordem judicial. (ERRADO)
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