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DIREITO ADMINISTRATIVO

REGIME JURÍDICO
ADMINISTRATIVO

Prof. Fernando Ramos


Aula - 07

PODERES DEVERES

DA

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
INTRODUÇÃO

O Estado embora se caracterize como instituição política, cuja atuação produz


efeitos externos e internos, não pode deixar de estar a serviço da coletividade. A
evolução do Estado demonstra que um dos principais motivos inspiradores de sua
existência é justamente a necessidade de disciplinar as relações sociais, seja
proporcionando segurança aos indivíduos, seja preservando a ordem pública, ou
mesmo praticando atividades que tragam benefícios à sociedade.

Nesse sentido é impossível conceber que o Estado alcance seus fins sem a
presença de seus agentes, que de fato fazem a atuação jurídica concreta.
INTRODUÇÃO

Logicamente, o ordenamento jurídico há de conferir a tais agentes certas


prerrogativas peculiares à sua atuação, prerrogativas essas indispensáveis à
consecução dos interesses da coletividade. Constituem elas os poderes
administrativos.

Mas, ao mesmo tempo que confere poderes, o ordenamento jurídico impõe, de


outro lado, deveres específicos para aqueles que, atuando em nome do Poder
Público, executam as atividades administrativas. São estes os deveres
administrativos.
Poder-dever de agir

Quando um poder jurídico é conferido a alguém, pode ele ser exercitado ou não, já
que se trata de mera faculdade de agir. Essa é a regra geral. Seu fundamento está
na circunstância de que o exercício ou não do poder acarreta reflexos na esfera
jurídica do próprio titular.

O mesmo não ocorre no âmbito do Direito Público. Os poderes administrativos são


outorgados aos agentes públicos para lhes permitir a atuação voltada aos
interesses da coletividade. Por esta razão, eles são:
1) irrenunciáveis, e
2) Devem ser obrigatoriamente exercidos pelos titulares.
Poder-dever de agir

Desse modo, as prerrogativas públicas, ao mesmo tempo em que constituem


poderes para o administrador público, impõem-lhe o seu exercício e lhe vedam a
inércia, porque o reflexo desta atinge em última instância a coletividade, esta a
real destinatária de tais poderes.

Esse aspecto dúplice do poder administrativo é que se denomina de poder-dever


de agir. Nas palavras de Hely Lopes Meirelles: “Se para o particular o poder de agir
é uma faculdade, para o administrador público é uma obrigação de atuar, desde
que se apresente o ensejo de exercitá-lo em benefício da comunidade”.
Poder Normativo

Também conhecido como Poder Regulamentar, essa espécie de poder possibilita


que leis sejam executas. Cumpre então, à Administração criar os mecanismos de
complementação das leis indispensáveis à sua aplicabilidade.

Poder Normativo ou Regulamentar é portanto, a prerrogativa conferida à


Administração Pública de editar atos gerais para complementar as leis e permitir a
sua efetiva aplicação.

Essa prerrogativa restringe-se apenas em complementar a lei, não pode a


Administração alterá-la a pretexto de estar regulamentando.
Poder Normativo

Ensina a professora Maria Sylvia Zanella Di Pietro que: “Dentro do poder


regulamentar do executivo, não se pode inovar no mundo jurídico, pois o ato
normativo não pode contrariar a lei, nem criar direitos, impor obrigações,
proibições, penalidades que nelas não estejam previstos, sob pena de ofensa ao
princípio da legalidade”.

O Poder Normativo, além do Decreto Regulamentar expedido pelo Chefe do


Executivo, ainda se expressa por meio de Resoluções, Portarias, Deliberações,
Instruções Normativas, editadas por autoridades que não o Chefe do Executivo.
Poder Disciplinar

A disciplina funcional resulta do sistema hierárquico, se aos agentes superiores é


dado o poder de fiscalizar as atividades dos de nível inferior, deflui daí o efeito de
poderem eles exigir que a conduta destes, seja adequada aos mandamentos legais,
sob pena de, se tal não ocorrer, serem infratores sujeitos às respectivas sanções.

A apuração das infrações funcionais deve ser feita de forma regular, com as
formalidades que apresentem a precisa comprovação dos fatos e a autoria do
agente. Admitindo sempre a possibilidade de ampla defesa e a legalidade do
procedimento.
Poder Disciplinar

Como regra, a apuração de infrações funcionais é formalizada por meio de


processo disciplinar, cuja tramitação é prevista em leis e outras normas
regulamentares, geralmente de caráter estatutário.

Importante lembrar que, a aplicação da penalidade por parte do superior


hierárquico é um poder-dever, se não o fizer incorrerá em crime contra a
Administração Pública (CP art. 320)

Exemplo: Aplicação de pena de suspenção ao servidor público.


Poder Hierárquico
É aquele pelo qual a Administração distribui e escalona as funções de seus órgãos,
ordena e revê as atuações de seus agentes, estabelecendo relação de
subordinação entre os servidores do seu quadro de pessoal.

É interno e permanente, exercido pelos chefes de repartição sobre seus agentes


subordinados e pela administração central em relação aos órgãos públicos.

Trata-se da relação de chefia e direção da estrutura administrativa.

Não se pode confundir Poder Hierárquico com o Disciplinar, o Hierárquico


distribui e escalona as funções de órgãos e servidores, ao passo que o Disciplinar
responsabiliza os servidores por faltas cometidas.
Poder Hierárquico

A hierarquia é cabível apenas no âmbito da função administrativa. Não se pode


contudo, restringi-la ao Poder Executivo, porque, como já vimos antes, a função
administrativa se difunde entre todos os órgãos que a exercem, seja qual for o
Poder que integram. Existem desse modo, escalas verticais em toda Administração,
ou seja, em todos os seguimentos de quaisquer dos Poderes onde se desempenha
a função administrativa.

Entretanto, inexiste hierarquia entre os agentes que exercem função jurisdicional


ou legislativa.
Poder Hierárquico

No que concerne à FUNÇÃO JURISDICIONAL prevalece o princípio da livre


convicção do juiz, pelo qual este age com independência, “sem subordinação
jurídica aos tribunais superiores”. (Obs. sistema de súmulas vinculantes)

Na FUNÇÃO LEGISLATIVA vigora o princípio da partilha das competências


constitucionais, peculiar ao modelo de federação adotado pela CF/88. Assim não
há poder de mando, por exemplo, do Legislativo federal em relação ao estadual
quando a matéria é suscetível de ser disciplinado por este. Nem do legislativo
estadual sobre o municipal, em tratando-se de competência atribuída ao
município.
Poder Vinculado

Fala-se em Poder Vinculado ou Poder Regrado, quando a lei atribui determinada


competência definindo todos os aspectos da conduta a ser adotada, sem atribuir
margem de liberdade para o agente público escolher a melhor forma de agir.

A lei encarrega-se de prescrever os detalhes, se, como, e quando a Administração


deve agir determinando os elementos e requisitos necessários.

Exemplo: A prática do ato (portaria) de aposentadoria do servidor público, ou


então lançamento tributário (art. 3º CTN).
Poder Discricionário

Nesse caso a lei não é capaz de traçar rigidamente todas as condutas de um agente
administrativo. Ainda que procure definir alguns elementos que lhe restringem a
atuação. Nesse caso pode o agente avaliar a conveniência e a oportunidade dos
atos que vai praticar na qualidade de administrador dos interesses coletivos.

Portanto, o próprio legislador atribui certa competência à Administração Pública


no que se refere a critérios definidores diante da situação concreta.

Exemplo: organização de eventos públicos, ou Decreto Expropriatório.


Poder de Polícia

Não é desconhecido o fato de que o Estado deve atuar à sombra do princípio da


supremacia do interesse público. Significa dizer que o interesse particular há de
curvar-se diante do interesse coletivo.

Tem-se portanto o inafastável confronto entre os interesses público e privado, e


nele há necessidade de impor restrições de direitos aos indivíduos.

O Poder de Polícia representa uma atividade estatal restrita dos interesses


privados, limitando a liberdade individual em favor do interesse público.
Poder de Polícia

Não se pode confundir Poder de Polícia com os Poderes exercidos pelos órgãos de
Segurança Pública. O Poder de Polícia abrange toda atividade estatal de
fiscalização, inclusive da Segurança Pública.

Por exemplo, temos a fiscalização de vigilância sanitária e fiscalização tributária,


que em regra não guardam relação direta com órgãos de Segurança Pública.
Poder de Polícia

CONCEITO DOUTRINÁRIO

“Poder de polícia é a faculdade de que dispõe a Administração Pública para


condicionar e restringir o uso e o gozo de bens, atividades e direitos individuais,
em benefício da coletividade ou do próprio Estado” (Meirelles)

“A atividade do Estado que consiste em limitar o exercício dos direitos individuais


em benefício do interesse público” (Di Pietro)
Poder de Polícia

CONCEITO LEGISLATIVO - Art. 78 do CTN

Considera-se poder de polícia a atividade da administração pública que, limitando


ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou
abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à
higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao
exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do
Poder Público, à tranquilidade pública, ou ao respeito à propriedade e aos direitos
individuais ou coletivos.
Poder de Polícia
CARACTERÍSTICAS

a) Discricionário (como regra geral): certa margem de apreciação quanto ao


momento e ao meio de atuação, há também hipóteses de decisão vinculada
como concessão de alvarás, outorgas e licenças.
b) Autoexecutoriedade: não precisa ir ao judiciário e legislativo para executar o
ato administrativo a ser praticado pelo agente.
c) Executoriedade: Compelir materialmente o administrado; utiliza-se de meios
diretos de coerção. A executoriedade só deve ser aplicada quando amparada
por previsão legal ou normativa, e se trate de medida urgente para evitar
prejuízo maior ao interesse público.
Poder de Polícia

CARACTERÍSTICAS

d) Indelegabilidade: como atividade típica do Estado, o poder de polícia não pode


ser delegado a particulares, é privativo de servidores investidos em cargos
públicos, com garantias que protegem o exercício das funções públicas dessa
natureza (entendimento da jurisprudência do STJ e do STF).
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