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ACADEMIA DE POLÍCIA MILITAR

ESCOLA DE FORMAÇÃO DE
SOLDADOS-CFSd-2022

DIREITO ADMINISTRATIVO

Cel PM Veterano Eduardo Mendes de Sousa


UNIDADE IV - PODERES ADMINISTRATIVOS

CONTEÚDO PROGRAMÁTICO

1. CONCEITO
2. PODER DISCRICIONÁRIO
3. PODER VINCULADO
4. PODER REGULAMENTAR
5. PODER HIERÁRQUICO
6. PODER DISCIPLINAR
7. PODER DE POLÍCIA
8. ABUSO DE PODER
9. DEVERES ADMINISTRATIVOS
PODERES ADMINISTRATIVOS
1. CONCEITO

A lei confere poderes à Administração Pública para que ela


possa atuar e realizar seus objetivos.

Conceito: Conjunto de prerrogativas de direito público que


a ordem jurídica confere aos agentes Administrativos para
o fim de permitir que o Estado alcance seus fins.

CARVALHO FILHO,2022:45)
PODERES ADMINISTRATIVOS
1. CONCEITO

São Poderes Administrativos, a saber:

-Poderes Discricionário e Vinculado

-Poder Regulamentar ou Normativo

-Poderes Hierárquico e Disciplinar

-Poder de Polícia
PODERES ADMINISTRATIVOS
2. PODER DISCRICIONÁRIO
Conceito: É a prerrogativa concedida aos agentes
administrativos de elegerem, entre várias condutas
possíveis, a que traduz maior conveniência e
oportunidade para o interesse público.

O Poder Discricionário visa suprir a incapacidade da lei


em contemplar todas as condutas do agente
administrativo.
PODERES ADMINISTRATIVOS
2. PODER DISCRICIONÁRIO

DISCRICIONARIEDADE é a liberdade de escolha dentro dos limites


legais e não se confunde com arbitrariedade que é ação contrária ou
excedente da lei.

Caso contrário, o ato será nulo, por desvio de poder ou finalidade, que
poderá ser reconhecido ou declarado pela própria Administração Pública
ou pelo Poder Judiciário.

Ex: Abordagem policial; nomeação e exoneração de um ocupante de


cargo em comissão.
PODERES ADMINISTRATIVOS
2. PODER DISCRICIONÁRIO

Conveniência e oportunidade são os elementos nucleares do Poder


Discricionário. A conduta não pode destoar da finalidade da norma.
Deve-se pautar dentro dos limites da lei.
Conveniência: indica em que condições o agente atuará na
satisfação do interesse público.
Oportunidade: refere-se ao momento em que a atividade deve
ser produzida.
Os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade impõem
limites na conduta do agente público.
PODERES ADMINISTRATIVOS
3. PODER VINCULADO

A execução do ato é inteiramente definida pela lei. Todos


os elementos do ato estão na lei, diversamente do que
sucede no Poder Discricionário.
Preenchidos os requisitos legais, o administrador é
obrigado a praticar o ato da forma estabelecida;
Não há espaço para juízo de conveniência e oportunidade
(mérito administrativo);
Ex: nomeação em concurso seguindo ordem de aprovação,
concessão de inatividade (reserva/reforma);
PODERES ADMINISTRATIVOS
4. PODER REGULAMENTAR OU NORMATIVO

Prerrogativa conferida à Administração Pública de editar atos gerais


para complementar as leis e permitir a sua efetiva aplicação,
conforme dispõe o art. 84, IV, da CR. Exceção: Art. 84, inciso VI, da
CR (decretos autônomos).

Como se trata de prerrogativa que se presta apenas a regulamentar a


lei, não pode a Administração alterá-la a pretexto de estar
regulamentando. Se assim agir, estará cometendo abuso de poder.

Por essa razão, o inciso V, do art. 49 da CR, autoriza o Congresso


Nacional a sustar os atos normativos que exorbitem do poder
regulamentar.
PODERES ADMINISTRATIVOS
4. PODER REGULAMENTAR OU NORMATIVO

Em regra, cabe ao Chefe do Poder Executivo (União, Estados,


DF e Municípios) editar normas complementares à lei, para sua
fiel execução. Ex: O Decreto nº 9.847/2019 que regulamenta o
Estatuto do Desarmamento.
Segundo Maria Sylvia Di Pietro, além de DECRETOS e
REGULAMENTOS, o Poder Regulamentar ainda pode se
manifestar por meio de resoluções, portarias, deliberações,
instruções normativas, editadas por autoridades que não o Chefe
do Executivo.
PODERES ADMINISTRATIVOS
5. PODER HIERÁRQUICO

Poder de que dispõe a Administração Pública para


distribuir e escalonar as funções de seus órgãos, ordenar
e rever a atuação de seus agentes, estabelecendo a
relação de subordinação entre os servidores do seu
quadro de pessoal.
O Poder Hierárquico tem por objetivo ordenar,
coordenar, controlar e corrigir as atividades
administrativas, no âmbito interno da Administração.
PODERES ADMINISTRATIVOS
5. PODER HIERÁRQUICO

Hierarquia é a relação de subordinação existente entre


vários órgãos e agentes públicos, com distribuição de
funções e garantias da autoridade de cada um.

O Poder Hierárquico, portanto, não é atribuição


exclusiva das instituições militares e sim de toda a
Administração Pública.
PODERES ADMINISTRATIVOS
6. PODER DISCIPLINAR

É a faculdade de punir internamente as infrações


funcionais dos agentes e demais pessoas sujeitas à
disciplina dos órgãos e serviços da Administração.
Como supremacia especial, pode ser aplicado aos
servidores públicos ou aos particulares que contratem
com a Administração Pública.
Logo, o Poder disciplinar também não é atribuição
exclusiva das instituições militares.
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7. PODER DE POLÍCIA
7.1 CONCEITO
“A prerrogativa de direito público que, calcada na lei,
autoriza a Administração Pública a restringir o uso e o
gozo da liberdade e da propriedade em favor do interesse
da coletividade” José dos Santos Carvalho Filho.
Definição legal: Art. 78 do Código Tributário Nacional.
É LIMITAR o direito de liberdade e de propriedade do
particular em prol do interesse público.
PODERES ADMINISTRATIVOS
7.2 FUNDAMENTO E OBJETO DO PODER DE POLÍCIA
A razão do Poder de Polícia é o interesse social.

Seu fundamento está na supremacia geral que o Estado exerce


em seu território sobre todas as pessoas, bens e atividades,
pautada nos mandamentos constitucionais e nas normas de
ordem pública que impõem condicionamentos e restrições aos
direitos individuais em favor da coletividade, incumbindo ao
Poder Público o seu policiamento administrativo.
PODERES ADMINISTRATIVOS
7.2 FUNDAMENTO E OBJETO DO PODER DE POLÍCIA

O objeto do Poder de Polícia é todo bem, direito ou


atividade individual que possa afetar a coletividade ou
por em risco a segurança nacional, exigindo, por isso
mesmo, regulamentação, controle e contenção pelo
Poder Público.

A finalidade do Poder de Polícia é a proteção do


interesse público.
PODERES ADMINISTRATIVOS
7.3 ATRIBUTOS DO PODER DE POLÍCIA

Discricionariedade: livre escolha da Administração pautada pela oportunidade e


conveniência, podendo aplicar sanções e empregar os meios adequados para proteção do
interesse público. Em regra, o Poder de Polícia é discricionário, mas pode ocorrer por ato
vinculado, como no caso da licença.

Autoexecutoriedade: faculdade da Administração de executar diretamente sua decisão por


seus próprios meios, sem intervenção do Judiciário; impõe diretamente as medidas ou sanções
de polícia administrativa necessárias à contenção da atividade antissocial que ela visa a obstar.
Ex.: Policial não necessita de mandado para efetuar busca pessoal.

Coercibilidade: todo ato de polícia é imperativo, admitindo até o emprego da força pública
para seu cumprimento, quando resistido pelo administrado. Ex.: Entrada forçada por agentes
de saúde em imóveis na situação de iminente perigo à saúde pública (Lei 13.301/16)
PODERES ADMINISTRATIVOS
7.4 POLÍCIA ADMINISTRATIVA X POLÍCIA DE SEGURANÇA

Polícia Administrativa: atividade fiscalizadora da


Administração que incide basicamente sobre bens, direitos
e atividades dos indivíduos. De caráter eminentemente
preventivo, quando atua por meio de normas limitadoras e
sancionadoras, mas, eventualmente, age de forma
repressiva quando, por exemplo, um estabelecimento
comercial é interditado ou produtos ilícitos são
apreendidos.
.
PODERES ADMINISTRATIVOS
7.4 POLÍCIA ADMINISTRATIVA X POLÍCIA DE SEGURANÇA

Polícia de Segurança: abrange a manutenção da ordem pública e a


atuação da função jurisdicional penal (polícia judiciária), tem
natureza predominantemente repressiva, eis que se destina à
responsabilização penal do indivíduo, ou seja, incide sobre
pessoas.
Distinguem-se de um lado, o Poder de Polícia que incide sobre
bens, direitos e atividades (Polícia Administrativa) e de outro, o
Poder de Polícia que atua sobre pessoas (Polícia de Segurança que
abrange a judiciária e a de manutenção da ordem pública).
PODERES ADMINISTRATIVOS
7.4 POLÍCIA ADMINISTRATIVA X POLÍCIA DE SEGURANÇA

A polícia de segurança, compreende a de manutenção da ordem pública


e a polícia judiciária e é considerada a polícia por excelência, visto ter
por escopo a tutela de bens que se acham no cume da hierarquia de
valores.

De acordo com o Art. 144 da Constituição da República, abrange o


aparato policial do Poder Executivo, a saber: Polícia Federal, Polícia
Rodoviária Federal, Polícia Ferroviária Federal, Polícias Militares,
Corpos de Bombeiros Militares, Polícias Civis e as Polícias Penais
Federal, Estaduais e Distrital.
PODERES ADMINISTRATIVOS
7.5 CICLO DO PODER DE POLÍCIA

Ordem de Polícia: são comandos abstratos e coercitivos que visam normatizar,


disciplinar e regulamentar atos e condutas que em tese são nocivos à sociedade.
Ex: CTB quando limita velocidade. Tem característica preventiva.

Consentimento de Polícia: Traduz-se na anuência prévia da administração,


quando exigida, para a utilização da propriedade particular ou exercer atividade
privada, nos casos que se justifique um controle prévio, sempre visando o bem
coletivo e, por extensão, o individual. Essa fase nem sempre se fará presente.
Podem estar sujeitos a fiscalização de polícia e a sanções de polícia, pelo
descumprimento direto de determinada ordem de polícia. Ex.: licenças e
autorizações.
PODERES ADMINISTRATIVOS
7.5 CICLO DO PODER DE POLÍCIA

Fiscalização de Polícia: são os atos materiais que decorrem da própria ordem.


São atos de natureza executória. Podem ter caráter preventivo ou repressivo. Ex:
fiscalizações de trânsito, da vigilância sanitária, etc.

Sanção de Polícia: É a intervenção punitiva do Estado na propriedade privada e


sobre as atividades particulares. É unilateral, externa e interventiva, visando à
repressão da infração e o restabelecimento do interesse público. Deverão ser
aplicadas em conformidade com o devido processo legal, previsto no art. 5°,
LIV e LV, da CF/88. Ex.: a multa, a inutilização de bens privados, interdição de
atividade, embargo de obra, etc.
PODERES ADMINISTRATIVOS
7.6 PODER DE POLÍCIA ORIGINÁRIO E DELEGADO

Segundo Hely Lopes, distingue-se o Poder de Polícia Originário do Poder de


Polícia Delegado:

Poder de Polícia Originário: aquele exercido pelas pessoas políticas do Estado


(União, Estados, Distrito Federal e Municípios); surge como nascedouro das leis
e atos normativos; nasce com a entidade que o exerce.

Poder de Polícia Delegado: é aquele executado pelas pessoas administrativas


do Estado, integrantes da chamada Administração Indireta; nada mais é do que
um complemento do originário; provém de outra, através de transferência legal.
PODERES ADMINISTRATIVOS
7.6 PODER DE POLÍCIA ORIGINÁRIO E DELEGADO

Cabe ressaltar que a doutrina e a jurisprudência, em sua maioria, não


admitem a delegação do Poder de Polícia a pessoas da iniciativa privada,
ainda que prestadoras de serviço de titularidade do Estado, porque se
trata de Poder de Império (ius imperii) próprio e privativo do Poder
Público.
Convém noticiar que os atos materiais de polícia podem ser delegados,
como por exemplo: foto por meio de radar para justificar a aplicação da
multa; delegação de serviço de guincho de carro. Para o STJ, quando
delegável, o Poder de Polícia se dá somente nos atos de consentimento e
fiscalização, pois ordem e sanção constituem atividades típicas da
Administração Pública e não podem ser delegadas.
PODERES ADMINISTRATIVOS
7.6 PODER DE POLÍCIA ORIGINÁRIO E DELEGADO

A competência para exercer o Poder de Polícia dependerá da entidade que dispõe do poder de
regular a matéria (Federal, Estadual e Municipal).

Ex.: Regular o Sistema Financeiro Nacional é competência da União e sua fiscalização é feita
pelo Banco Central; a edição de normas sobre transporte intermunicipal compete ao Estado
Membro, e sua fiscalização efetivada pela Administração Pública estadual; a utilização e o
parcelamento do solo é matéria municipal e deve ser fiscalizada pelos órgãos e entidade
municipais.

Todavia, como certas atividades interessam simultaneamente às três entidades estatais (saúde
pública, trânsito, transportes), o poder de regular e de policiar se difundem entre todas as
Administrações interessadas, provendo cada qual nos limites de sua competência territorial.
PODERES ADMINISTRATIVOS
8. ABUSO DE PODER

É uma conduta ilegítima do administrador, quando atua fora dos objetivos


expressa ou implicitamente traçados na lei. Pode redundar nas formas de
Excesso de Poder ou de Desvio de Finalidade.

Formas de abuso de poder:

a) Excesso de Poder: Ocorre quando o agente público atua SEM


COMPETÊNCIA ou quando exerce atividades que a lei não lhe ampara. O ato
será ilegal em razão de vício de competência. O agente somente pode fazer o
que a lei o autoriza.

Ex.: policial militar que realiza atividades de investigação criminal em crime


comum.
PODERES ADMINISTRATIVOS
8. ABUSO DE PODER

b) Desvio de Poder (Desvio de Finalidade): o agente, embora


DENTRO DE SUA COMPETÊNCIA, afasta-se do interesse
público que deve nortear todo o desempenho administrativo. Se o
agente atua em descompasso com esse fim, desvia-se de seu poder
e pratica, assim, conduta ilegítima. É a distorção do poder
discricionário.

Ex.: Chefe do Executivo competente desapropria bem para


prejudicar desafeto (ausência de interesse público).
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9. DEVERES ADMINISTRATIVOS

O direito positivo não confere apenas poderes aos


administradores públicos, mas também deveres que
devem ser por eles cumpridos.

- Agir (poder/dever).
- Probidade: princípio da moralidade.
- Prestar Contas.
- Eficiência.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

REFERÊNCIAS BÁSICAS

● BRASIL.Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada em 05 de outubro de


1988. Atualizada com as Emendas Constitucionais.
● BRASIL. Lei n. 8.429, de 2 de junho de 1992, alterada pela Lei n. 14.230, de 25 de outubro de 2021. Dispõe sobre
as sanções aplicáveis em virtude da prática de atos de improbidade administrativa, de que trata o §4º do art. 37 da
Constituição Federal; e dá outras providências.
● CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 36.ed. São Paulo: Atlas, 2022.

REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES

● DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 33ª ed. Rio de Janeiro: Forense, 2020.
● MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 44ª ed. São Paulo: Malheiros, 2020.
● MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. 35ª ed. São Paulo: Malheiros, 2021.

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