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FACULDADE DE GESTÃO DE RECURSOS FLORESTAIS E

FAUNÍSTICOS

Mestrado em Direito Administrativo

Cadeira de Direito de Procedimentos Administrativo

Tema: POLÍCIA ADMINISTRATIVA E JUDICIARIA

Clésia Baptista Jauado Wailesse

Lichinga, Março de 2024


ÍNDICE

1
INDICE

INTRODUÇÃO.........................................................................................................................3

1.2.1. POLÍCIA ADMINISTRATIVA E JUDICIÁRIA...........................................................5

1.3.1. MEIOS DE ATUAÇÃO..................................................................................................5

1.4.1. CARACTERÍSTICAS.....................................................................................................6

2. LIMITES DOS PODERES DE POLICIA.............................................................................8

2.3.1. Formas de exercício dos poderes de polícia...............................................................10

2.4.1. Fins da actividade policial..........................................................................................11

3. O PRINCIPIO DA PROPORCIONALIDADE...................................................................12

4.1.1. Actos executivos e repressivos. Sanções policiais.....................................................13

4.2.1. Medidas de polícia......................................................................................................14

4.3.1. Modalidade da polícia................................................................................................14

4.4.1. Autoridades Polícias...................................................................................................15

5. CONCLUSÃO.....................................................................................................................16

6. BIBLIOGRAFIA..................................................................................................................17

2
INTRODUÇÃO
O presente trabalho vamos abordar sobre o tema poder de polícia: proporcionalidade e
abuso de poder, desta feita, quando se estuda o regime jurídico-administrativo a que se
submete a Administração Pública, conclui-se que os dois aspectos fundamentais que o
caracterizam são resumidos nos vocábulos prerrogativas e sujeições, as primeiras concedidas
à Administração para oferecer-lhe meios para assegurar o exercício de suas actividades e as
segundas como limites opostos à actuação administrativa em benefício dos direitos dos
cidadãos.
Praticamente todo o direito administrativo cuida de temas em que se colocam em
tensão dois aspectos opostos: a autoridade da Administração Pública e a liberdade individual.
O tema relativo ao poder de polícia é um daqueles em que se colocam em confronto esses
dois aspectos: de um lado, o cidadão quer exercer plenamente os seus direitos; de outro, a
Administração tem por incumbência condicionar o exercício daqueles direitos ao bem-estar
colectivo.

3
1. CONCEITUALIZACÃO
Poder (do latim potere) é a capacidade de deliberar arbitrariamente, agir e mandar e também,
dependendo do contexto, a faculdade de exercer a autoridade, a soberania, o império. Poder
tem também uma relação directa com capacidade de se realizar algo, aquilo que se "pode" ou
que se tem o "poder" de realizar ou fazer.1
Polícia é o modo da actuação de autoridade administrativa que consiste em intervir no
exercício das actividades individuais susceptíveis de fazer perigar interesses gerais, tendo por
objecto evitar que se produzam, ampliem ou generalizem os danos sociais que as leis
procuram prevenir. 2
Pelo conceito clássico, ligado à concepção liberal do século XVIII, o poder de polícia
compreendia a actividade estatal que limitava o exercício dos direitos individuais em
benefício da segurança.
Pelo conceito moderno, adoptado no direito brasileiro, o poder de polícia é a actividade do
Estado consistente em limitar o exercício dos direitos individuais em benefício do interesse
público.
O Poder de polícia reparte-se entre Legislativo e Executivo. Tomando-se como pressuposto o
princípio da legalidade, que impede à Administração impor obrigações ou proibições senão
em virtude de lei, é evidente que, quando se diz que o poder de polícia é a faculdade de
limitar o exercício de direitos individuais, está-se pressupondo que essa limitação seja
prevista em lei.
O Poder Legislativo, no exercício do poder de polícia que incumbe ao Estado, cria, por lei, as
chamadas limitações administrativas ao exercício das liberdades públicas. 3
A Administração Pública, no exercício da parcela que lhe é outorgada do mesmo poder
regulamenta as leis e controla a sua aplicação, preventivamente (por meio de ordens,
notificações, licenças ou autorizações) ou repressivamente (mediante imposição de medidas
coercitivas).

1
COSTA. Alexandre Henriques da. "Os Limites do Poder de Polícia do Policial Militar". Suprema Cultura. São
Paulo. 2007.Pag 25

2
CAETANO, Marcelo, Manual de Direito Administrativo, 10 edição, Almedina Coimbra, Portugal, 1999, pag
1149-1150.
3
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 20ª Edição. São Paulo, SP: Editora Atlas, 2007,
pag 75-77.

4
Em razão dessa bipartição do exercício do poder de polícia, Celso António Bandeira de Mello
citado por Maria Silva de Pietro (76-77) dá dois conceitos de poder de polícia, em sentido
amplo, corresponde à “actividade estatal de condicionar a liberdade e a propriedade
ajustando-as aos interesses colectivos”; abrange actos do Legislativo e do Executivo;
Em sentido restrito, abrange “as intervenções, quer gerais e abstractas, como os
regulamentos, quer concretas e específicas (tais como as autorizações, as licenças, as
injunções) do Poder Executivo, destinadas a alcançar o mesmo fim de prevenir e obstar ao
desenvolvimento de actividades particulares contrastantes com os interesses sociais”;
compreende apenas actos do Poder Executivo.4

1.2.1. POLÍCIA ADMINISTRATIVA E JUDICIÁRIA


O Poder de polícia que o Estado exerce pode incidir em duas áreas de actuação estatal: na
administrativa e na judiciária. A principal diferença que se costuma apontar entre as duas está
no carácter preventivo da polícia administrativa e no repressivo da polícia judiciária.
1. A primeira terá por objectivo impedir as acções anti-sociais.
2. A segunda, punir os infractores da lei penal.
A primeira se rege pelo direito administrativo, incidindo sobre bens, direitos ou actividades; a
segunda, pelo direito processual penal, incidindo sobre pessoas.
Outra diferença: a polícia judiciária é privativa de corporações especializadas (polícia civil e
militar), enquanto a polícia administrativa se reparte entre diversos órgãos da Administração,
incluindo, além da própria polícia militar, os vários órgãos de fiscalização aos quais a lei
atribua esse mister, como os que actuam nas áreas da saúde, educação, trabalho, previdência e
assistência social.

1.3.1. MEIOS DE ATUAÇÃO

Considerando o poder de polícia em sentido amplo, de modo a abranger as actividades do


Legislativo e do Executivo, os meios de que se utiliza o Estado para o seu exercício são:
1. Actos normativos em geral, a saber: pela lei, criam-se as limitações administrativas
ao exercício dos direitos e das actividades individuais, estabelecendo sem normas
gerais e abstractas dirigidas indistintamente às pessoas que estejam em idêntica
situação; disciplinando a aplicação da lei aos casos concretos, pode o Executivo
baixar decretos, resoluções, portarias, instruções.

4
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella, idem

5
2. Actos administrativos e operações materiais de aplicação da lei ao caso concreto,
Compreendendo medidas preventivas (fiscalização, vistoria, ordem, notificação ,autorização,
licença), com o objectivo de adequar o comportamento individual à lei, e medidas repressivas
(dissolução de reunião, interdição de actividade. Apreensão de mercadorias deterioradas,
internação de pessoa com doença contagiosa), com a finalidade de coagir o infractor a
cumprir a lei.

1.4.1. CARACTERÍSTICAS
Costuma-se apontar como atributos do poder de polícia:
 A discricionariedade,
 A auto executoriedade,
 A coercibilidade, além do fato de corresponder a uma actividade negativa.
1.5.1. Quanto à discricionariedade
Embora esteja presente na maior parte das medidas de polícia, nem sempre isso ocorre. Às
vezes, a lei deixa certa margem de liberdade de apreciação quanto a determinados elementos,
como o motivo ou o objecto, mesmo porque ao legislador não é dado prever todas as
hipóteses possíveis a exigir a actuação de polícia.
Assim, em grande parte dos casos concretos, a Administração terá que decidir qual o melhor
momento de agir, qual o meio de acção mais adequado, qual a sanção sabível diante das
previstas na norma legal. Em tais circunstâncias, o poder de polícia será discricionário.
Em outras hipóteses a lei já estabelece que, diante de determinados requisitos, a
Administração terá que adoptar solução previamente estabelecida, sem qualquer possibilidade
de opção. Nesse caso, o poder será vinculado. O exemplo mais comum do acto de polícia
vinculado é o da licença. Para o exercício de actividades ou para a prática de aptos sujeitos ao
poder de polícia do Estado, a lei exige alvará de licença ou de autorização.

1. No primeiro caso, o acto é vinculado, porque a lei prevê os requisitos diante dos quais
a Administração é obrigada a conceder o alvará; e o que ocorre na licença para dirigir
veículos automotores, para exercer determinadas profissões, para construir.
2. No segundo caso, o acto é discricionário, porque a lei consente que a Administração
aprecie a situação concreta e decida se deve ou não conceder a autorização, diante do
interesse público em jogo; é o que ocorre com a autorização para porte de arma, com
a autorização para circulação de veículos com peso ou altura excessivos, com a
autorização para produção ou distribuição de material bélico.

6
1.6.1. A auto-executoriedade
(Que os franceses chamam de executoriedade apenas) é possibilidade que tem a
Administração de, com os próprios meios, pôr em execução as suas decisões, sem precisar
recorrer previamente ao Poder Judiciário. Alguns autores desdobram o princípio em Seis:
 O privilège du préalable resulta da possibilidade que tem a Administração de tomar
decisões executórias, ou seja, decisões que dispensam a Administração de dirigir-se
preliminarmente ao juiz para impor a obrigação ao administrado. A decisão
administrativa impõe-se ao particular ainda contra a sua concordância; se este quiser
se opor, terá que ir a juízo.
 O privilège d’action d’office consiste na faculdade que tem a Administração, quando
já tomou decisão executória, de realizar directamente a execução forçada, usando, se
for ocaso, da força pública para obrigar o administrado a cumprir a decisão.
 Pelo atributo da exigibilidade, a Administração se vale de meios indirectos de
coação. Cite-se, como exemplo, a multa; ou a impossibilidade de licenciamento do
veículo enquanto não pagas as multas de trânsito.
 Pelo atributo da auto-executoriedade, a Administração compele materialmente
administrado, usando meios directos de coacção. Por exemplo, ela dissolve uma
reunião, apreende mercadorias, interdita uma fábrica.
 A auto-executoriedade não existe em todas as medidas de polícia. Para que a
Administração possa se utilizar dessa faculdade, é necessário que a lei a autorize
expressamente, ou que se trate de medida urgente, sem a qual poderá ser ocasionado
prejuízo maior para o interesse público.
 No primeiro caso, a medida deve ser adoptada em consonância com o procedimento
legal, assegurando-se ao interessado o direito de defesa.
 No segundo caso, a própria urgência da medida dispensa a observância de
procedimento especial, o que não autoriza a Administração a agir arbitrariamente ou a
exceder-se no emprego da força, sob pena de responder civilmente o Estado pelos
danos causados sem prejuízo da responsabilidade criminal, civil e administrativa dos
servidores envolvidos.
1.7.1. A coercibilidade
É indissociável da auto-executoriedade. O ato de polícia só é auto executório porque dotado
de força coercitiva. Aliás, a auto-executoriedade, tal como a conceituamos não se distingue

7
da coercibilidade, definida por Hely Lopes Meireles citada por Maria Silvia Di Pietro (78)
como “a imposição coactiva das medidas adoptadas pela Administração”.
Outro atributo que alguns autores apontam para o poder de polícia é o fato de ser umas
actividades negativas, distinguindo-se, sob esse aspecto, do serviço público, que seria uma
actividade positiva. Neste, a Administração Pública exerce, ela mesma, uma actividade
material que vai trazer um benefício, uma utilidade, aos cidadãos: por exemplo, ela executa
os serviços de energia eléctrica, de distribuição de água e gás, de transportes etc. Na
actividade de polícia, a Administração apenas impede a prática, pelos particulares, de
determinados actos contrários ao interesse público; ela impõe limites à conduta individual. 5

2. LIMITES DOS PODERES DE POLÍCIA


Como todo acto administrativo, a medida de polícia, ainda que seja discricionária, sempre
esbarra em algumas limitações impostas pela lei, quanto à competência e à for. Ma, aos fins e
mesmo com relação aos motivos ou ao objecto; quanto aos dois últimos, ainda que a
Administração disponha de certa dose de discricionariedade, esta deve ser exercida nos
limites traçados pela lei.
2.1.1. Quanto aos fins
O poder de polícia só deve ser exercido para atender ao interesse público. Se o seu
fundamento é precisamente o princípio da predominância do interesse público sobre o
particular, o exercício desse poder perderá a sua justificativa quando utilizado para beneficiar
ou prejudicar pessoas determinadas; a autoridade que se afastaria finalidade pública incidirá
em desvio de poder e acarretará a nulidade do acto com todas as consequências nas esferas
civil, penal e administrativa. A competência e o procedimento devem observar também as
normas legais pertinentes.
2.2.1. Quanto ao objecto
Ou seja, quanto ao meio de acção, a autoridade sofre limitações, mesmo quando a lei lhe dê
várias alternativas possíveis. Tem aqui aplicação um princípio de direito administrativo, a
saber, o da proporcionalidade dos meios aos fins; isto equivale a dizer que o poder de polícia
não deve ir além do necessário para a satisfação do interesse público que visa proteger; a sua
finalidade não é destruir os direitos individuais, mas, ao contrário, assegurar o seu exercício,
condicionando-o ao bem-estar social; só poderá reduzi-los quando em conflito com interesses
maiores da colectividade e na medida estritamente necessária à consecução dos fins estatais.

5
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 20ª edição. São Paulo, SP: Editora Atlas, 2007, pag
77-78

8
Alguns autores indicam regras a serem observadas pela polícia administrativa, com o fim de
não eliminar os direitos individuais:
1. A da necessidade, em consonância com a qual a medida de polícia só deve ser
adoptada para evitar ameaças reais ou prováveis de perturbações ao interesse público;
2. A da proporcionalidade, já referida, que significa a exigência de uma relação
necessária entre a limitação ao direito individual e o prejuízo a ser evitado;
3. A da eficácia, no sentido de que a medida deve ser adequada para impedir o dano ao
interesse público.6
Segundo o autor Marcelo Caetano defende que: os limites dos poderes de polícia,
determinado o conteúdo positivo do exercício de polícia, fácil será deduzir dele os limites
naturalmente impostos ao seu livre desenvolvimento.
O primeiro corolário a tirar do princípio de que a polícia só diz respeito aos danos pessoas de
carácter público, é o de que não deve intervir no âmbito da vida privadas dos indivíduos. Este
princípio desdobra-se em duas regras:
1. A polícia não pode ocupar-se de interesses particulares;
2. A polícia deve respeitar a vida íntima e o domicílio dos cidadãos.
A primeira destas regras distingue a missão da polícia da esfera própria da função judicial. Os
poderes da polícia não devem ser utilizados para tutelar direitos privados que hajam de ser
garantidos mediante a acção judicial nos tribunais competentes. As autoridades policiais não
podem ajuizar da existência e vigência de direitos e obrigações civis ou comerciais nem
apreciar os respectivos títulos. Não está no âmbito das suas atribuições, por exemplo, ordenar
a execução de um contracto ou fazer pagar a divida.
A segunda mostra que acção da polícia devera desenvolver-se nos lugares públicos onde
decorem as actividades sociais ilícitas. Há um mínimo de liberdade que as autoridades têm de
respeitar: pertence a este âmbito de acção livre a vida íntima bem como a conduta pública de
acordo com a lei e no exercício dos direitos consignados no artigo 254 CRM. No que diz
respeito a vida íntima decorre inviolabilidade do domicílio, segundo o n. 1 Do artigo 254 da
CRM.
O segundo corolário a tirar dos fins da actividade policial é o de que a polícia deve actuar
sobre o perturbador da ordem e não sobre aquele que legitimamente use o seu direito. É a
aplicação a ordem administrativa suo jure utitur, neminemlaedit. Por isso nota FLEINER que
são abusivas as ordens da polícia que suspendam ou dissolvam a reunião legal dentro de um

6
DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 20ª edição. São Paulo, SP: Editora Atlas, 2007, pag
79-80

9
edifício para pôr termo a manifestações hostis na via pública; ou que ordene ao comerciante
que tire da montra objecto ou anúncio cuja administração provoque na rua aglomerações
prejudiciais ao transito.

Quando, porem, se verifiquem circunstâncias especiais e os esforços da polícia sobre os


perturbadores se revelem improfícuos é lícito então as autoridades solicitar de todos os
cidadãos o seu concurso e pedir-lhes o sacrifício das próprias actividades licitas. A
cooperação dos particulares com a polícia é, de resto, uma obrigação geral, que em certos
casos especial a lei impõe, mas actividades e sob sanção, como no caso dos donos dos hotéis,
hospedeiras e casas de hóspedes, obrigados a comunicar a entrada de estrangeiros, dos
médicos que devem participar os casos de moléstia infecciosa ou epidémica em que
intervenham.

Terceiro corolário é o de que os poderes de polícia não devem ser exercidos de modos a
impor restrições é a usar de coacção além do estritamente necessário. A acção da polícia deve
medir a sua intensidade é extensão pela gravidade dos actos que ponham em risco a ordem
social. Assim os poderes de polícia há-de dispor de forma de exercício diverso e graduadas
numa escala de rigor desde as mais benévolas às mais violentas. O emprego imediato de
meios extremos contra ameaças hipotéticas ou mal desenhadas constitui abuso de autoridade.
Tem de existir proporcionalidades entre os males a evitar e os meios a empregar para a sua
prevenção.7

2.3.1. Formas de exercício dos poderes de polícia


Quais as formas que pode revestir a actividade das autoridades de polícia nos exercícios dos
seus poderes?

Os actos de polícia podem ter objecto preventivo ou repressivo entende-se esta palavra no
sentido de actividade de aplicação de sanção. Na verdade, as autoridades policiais, podem
elas próprias, aplicar sanções e não apenas encaminhar aos tribunais os agentes presumidos
dos delitos.

As sanções polícias são porem, as que se relacionam com as normas preventivas. Pareceram a
primeira vista contraditória a existência de actos polícias repressivos para fins preventivos,
mas não é: estabelecidas certas regras tendentes a evitar um dano social, reprimem-se as
transgressões dessas regras que, embora não produzindo ainda o dano, poderiam pela sua

7
CAETANO, Marcelo, Manual de Direito Administrativo, 10 edição, Almedina Coimbra, Portugal,1999, pg
1156-1159

10
continuação, conduzir a ineficácia das regras, e portanto, a produção do que se pretende
evitar. Ex: se a lei proíbe a circulação dos veículos pelo lado esquerdo da rua, e para evitar
choque e atropelamento, pode um veículo seguir pela esquerda sem que nenhum destes danos
se verifique, mas nem por isso o facto deixou de ser um perigo para a segurança do trânsito,
pelo que se é considerado facto delituoso e como tal objecto de repressão.

2.4.1. Fins da actividade policial


Os poderes de polícia são, como os todos os poderes constitutivos de uma competência
pública, conferidos por lei. Umas vezes a lei descrimina minuciosamente os modos de
respectivos exercícios e os limites do seu alcance; outras vezes confere poderes
discricionários, os quais são numerosos quando se trata de competência policial.

O poder discricionário de polícia tem porem, de ser entendidos relativamente ao fim legal da
sua instituição: nem a discricionariedade quanto ao fim, pois nunca o arbítrio do agente pode
ir ao ponto de usar da competência para a realização de interesses diferentes dos da
administração pública, sob pena de invalidade dos seus actos por desvio do poder. Ora o fim
da polícia é a prevenção dos danos sociais que por sua vez são prejuízos causados a vida em
sociedade política ou que ponham em causa a convivência de todos os membros dela.

A sociedade política é aquela que reúne os indivíduos e as suas sociedades primárias sob o
domínio de um poder política, resulta dai que não tem o carácter de dano social a ofensa a
interesses meramente individuais ou de grupo restritos, na medida que não atente contra os
princípios basilares da organização da sociedade tais como o direito a vida e a integridade
pessoal e o direito de propriedade.

Portanto se o comportamento dos indivíduos não tem repercussão directa na vida da


colectividade, se as relações entre eles decorem bem ou mal, de modo a não afectarem o
decurso normal da vida colectiva, não se produz danos sociais. Mas o dano social existe, ou
cria-se o risco dele, uma vez que tais repercussões se verifiquem. Por isso ou autores e as leis
nesta matéria insistem tanto no adjectivo público, por oposição a privado, particular ou
íntimo, falando em ordem pública, tranquilidade pública, saúde pública, abastecimento
público, só na medida em que os interesses a defender são colectivos é que os danos a
prevenir são sociais.8

8
CAETANO, Marcello, Manual de Direito Administrativo, 10 edição, Almedina Coimbra, Portugal, 1999, pag
1155-1165

11
3. O PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE
O princípio da proporcionalidade constitui uma manifestação essencial do princípio do
Estado de Direito (art. 3.° da CRM). Na verdade, esta fortemente ancorada a ideia de que
num Estado de Direito Democrático, as decisões ou medidas tomadas pelos poderes públicos
não devem exercer o estritamente necessário para a realização dos interesses públicos.

3.1.1 O princípio da proporcionalidade

É o princípio segundo o qual a limitação de bens ou interesses privados por actos de poderes
público devem ser adequadas e necessária aos fins concretos que tais actos prosseguem, bem
como tolerável quando confrontada com aqueles fins.

Assim como o professor Diogo Freitas do Amaral, podemos classificar em três dimensões
essências da proporcionalidade, nomeadamente: a adequação, a necessidade, e o equilíbrio.

3.2.1. A adequação

Significa que a medida tomada deve ser casualmente ajustada ao fim que se propõem a
atingir. Procura-se deste modo verificar a existência duma relação entre duas variáveis: o
meio, o instrumento, medida, solução, de um lado, objectivo ou finalidade, do outro.

3.3.1. A necessidade

Significa que, para além de idónea para o fim que se propõem alcançar, a medida
administrativa deve ser, dentro do universo das abstractamente idóneas, a que lese em menor
medida os direitos e interesses dos particulares. O centro das preocupações desloca-se para a
ideia de comparação: a operação central a efectuar é na verdade a comparação entre uma
medida idónea é outras medidas também idóneas.

3.4.1. O equilíbrio

Exige que os benefícios que se esperam alcançar com uma medida administrativa adequada e
necessária suplantem, a luz de certos parâmetros matérias, a custo que ela por ser acarretara. 9

9
MACIE, Albano, lições de Direito Administrativo Moçambicano vol.1, escolar editora, Maputo, 2012, pag 165-
166
AMARAL, Diogo Freitas do curso de Direito Administrativo 2° Edição, Almedina, 2012, pag 139-141

12
4. ABUSO DE PODER

O abuso de poder pode se manifestar como o excesso de poder, caso em que o agente público
actua além de sua competência legal, como pode se manifestar pelo desvio de poder, em que
o agente público actua contrariamente ao interesse público, desviando-se da finalidade
pública. Tratam-se, pois, de formas arbitrárias de agir do agente público no âmbito
administrativo, em que está adstrito ao que determina a lei (princípio da estrita legalidade).

Abuso de poder é o acto ou efeito de impor a vontade de um sobre a de outro, tendo por base
o exercício do poder, sem considerar as leis vigentes. No caso do agente público, ele actua
contrariamente ao interesse público, desviando-se da finalidade pública.

4.1.1. Actos executivos e repressivos. Sanções policiais


A polícia tem de dispor de meios de coacção que lhe permitam fazer respeitar as suas ordens
e proibições e tornar eficiente a sua vigilância pela intervenção oportuna para atalhar as
perturbações que não haja sido possível evitar.

Como órgãos administrativos, as autoridades polícias possuem a faculdade de usar os meios


que constituem a garantia dos Direito da administração: a execução directa, a execução sub-
rogatória e as sanções penais. É a polícia com mais frequências empregam este meio de
coacção, podendo mesmo dizer-se que são elementos necessários da actividade policial.

As ordens e proibições policiais só são eficazes se forem acatadas. E quando não sejam
voluntariamente, tem os agentes que proceder à execução, coagindo os renitentes e
desobediente quer pelo uso da força, quer pela detenção, quer pelo levantamento de auto de
transgressão que sirvam de corpo de delito para o efeito da aplicação das penas. Pode ser
feito o uso da forca executar aquilo que os particulares a quem foi notificada a ordem se
recusem a cumprir ou para tornar efectiva a proibição que os indivíduos não queiram acatar,
mediante a intervenção dos agentes da forca pública eventualmente pelo uso das armas.

A execução directa compete a quaisquer autoridades com poderes polícias, por si ou


auxiliadas pelos agentes que estejam sob as suas ordens (oficias de diligencias, fiscais).
Quando a forca desta agente seja insuficiente, poderão ser requisitados os serviços da polícia
da segurança pública da guarda nacional.

Na execução directa os agentes devem impor o respeito das ordens e proibições polícias
evitando quanto possível os meios violentos. Embora armados, não devem fazer o uso das
armas se não em casos extremos quando em legítima defesa ou para vencer resistências que

13
não tenham cedido a intimações formais de obediência e após terem sido esgotados os outros
meios adequados á sua obtenção.10

4.2.1. Medidas de polícia


Entre os actos polícias merecem menção especial os que tem por objecto a aplicação de
medidas de polícia. As ambas a classe de medidas têm por objecto actuar sobre um perigo, de
modo a prevenir ou evitar um dano, pondo os indivíduos perigosos em situação de não
produzirem malefícios ou obstando a que se de em as circunstâncias favoráveis a essa
produção. Portanto tais medidas não são sanções, visto não castigarem factos puníveis, isto é,
crimes ou mera transgressão ou contravenções de polícia.

A diferença entre as medidas de segurança e medidas de polícia estará apenas em que a


aplicação das primeiras estará jurisdicionalizada e pertence aos tribunais, enquanto as da
segunda e de carácter administrativo e compete ao órgão da administração.

Consideramos medidas de polícia ou medidas de segurança administrativas providências


limitadas da liberdade de certas pessoas ou de direito de propriedade de determinada
entidade, aplicadas pelas autoridades administrativas independentemente da verificação de
julgamento de transgressão ou contravenção ou da produção de outro acto concretamente
delituoso, com fim de evitar a produção de danos sócias cuja prevenção caiba no âmbito das
atribuições da polícia.

Assim bastara que o perigo assuma proporções graves para, independentemente da produção
de facto delituoso, a polícia poder tomar as precursões permitidas por lei a título de defesa de
segurança pública.

4.3.1. Modalidade da polícia


Podemos designar de polícia administrativa propriamente dita e de polícia judiciária. A
polícia administrativa tem por objecto a manutenção habitual da ordem pública em toda
parte e em todos os sectores da administração geral. O seu fim é, principalmente os de
prevenir os delitos. A polícia administrativa costuma-se desdobrar-se em polícia geral e
polícia especial.

Chama-se polícia administrativa geral a actividade que visa a observância e a defesa da


ordem jurídica globalmente considerada. A polícia geral compreende a polícia de segurança
e a polícia dos costumes.
10
CAETANO, Marcelo, Manual de Direito Administrativo, 10 edição, Almedina Coimbra, Portugal, 1999, pag
1171-1175

14
As polícias administrativas especiais são actividades polícias que tem por objecto a
observância e a defesa de determinados sectores da ordem jurídico, como sejam a saúde
pública (polícia sanitária), a economia nacional: polícia económica, os transportes públicos
(polícia dos transportes), o uso de meios de comunicação (polícia de viação), a prestação do
trabalho (polícia do trabalho).

A polícia judiciária investiga os delitos que a polícia administrativa não impediu se


cometesse, reúne as respectivas provas e entrega aos autores aos tribunais encarregados por
lei de os punir. 11

4.4.1. Autoridades Polícias


São em grande número os órgãos administrativos com funções de autoridades policia a porem
que distinguir:

 Os órgãos que exclusivamente pertencem a administração policial;


 Os órgãos que cumulativas, acessória, ou subsidiariamente com outras, exercem
atribuições policiam;

Os primeiros são os comandantes da polícia de segurança pública, os directores da direcção


geral de segurança, os comandantes de unidade ou subunidades da guarda nacional.

Os segundos são todos os órgãos de qualquer pessoa colectiva de direito público, desde o
governo ao regedor (antiga autoridade administrativa de uma freguesia), que entre as suas
atribuições contem alguma ou algumas relativas a polícia geral, especial ou municipal,
devendo notar-se que a polícia especial das coisas e serviço publico pertence em regra, as
entidades que dirigem ou superintendem nos respectivos sectores de administração.

As autoridades de polícia têm sob as suas ordens agentes de execução, constituindo nalguns
casos formações militarizadas, mas o facto de os agentes policias constituírem corpos rígidos
pela disciplina militar não tira o carácter o civil a função que desempenha.

A actividade policial, é na verdade, um processo jurídico de desenvolvimento da


administração pública, e não uma forma de pura afirmação de forca.12

11
CAETANO, Marcelo, Manual de Direito Administrativo, 10 edição, Almedina Coimbra, Portugal,1999, pag
1169-1170
12
Idem, pag 1159-1160

15
5. CONCLUSÃO

Chegando aos aspectos conclusorios, partindo, assim, da premissa da vital necessidade do


poder de polícia para manter a boa ordem da sociedade e preservar o interesse público,
quando este estiver ameaçado por interesse particular, concede-se a carácter de
discricionariedade para o poder de polícia, a fim de se actuar conforme os casos concretos
requeiram. Uma vez que cada caso é um caso específico, casa questão deve ser tratada a
partir de sua singularidade, dotando o poder de polícia um actuar relativamente autónomo.

E, para que o poder de polícia não se tornasse uma arma nociva nas mãos de seus detentores,
convencionou-se limites para tal. Limites à forma, à competência, aos fins e ao objecto, com
o propósito de manter o original objectivo do poder de polícia, que acima de quaisquer outros
objectivos, visa o interesse e o bem-estar público.

16
6. BIBLIOGRAFIA

 COSTA. Alexandre Henriques da. "Os Limites do Poder de Polícia do Policial


Militar". Suprema Cultura. São Paulo.
 CAETANO, Marcello, Manual de Direito Administrativo, 10 edição, Almedina
Coimbra, Portugal, 1999.
 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 20ª Edição. São Paulo,
SP: Editora Atlas, 2007.
 Constituição da República de Moçambique, Escolar Editora, Maputo, 2004.

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