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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO III

CURSO ANUAL
OPÇÃO 3
Direito Econômico e Financeiro
Direito Eleitoral
Direito Internacional
Direito Previdenciário
Direitos Humanos
Medicina Legal

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MÓDULO III

DIREITO ADMINISTRATIVO
Poder de Polícia

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DIREITO ADMINISTRATIVO

DIREITO ADMINISTRATIVO

Poder de Polícia

Prof. Márcio Fernando Elias Rosa

1. CONCEITO

De acordo com a doutrina pátria, poder de polícia é o poder conferido à


Administração Pública para condicionar, restringir, frenar o exercício de direitos e
atividades dos particulares em nome dos interesses da coletividade.

Em que pese à existência de um conceito doutrinário, nosso ordenamento, no


Código Tributário Nacional, prevê uma definição legal de poder de polícia, que, por sua
vez, surge como fato gerador do tributo denominado taxa, na modalidade taxa de polícia.

Com efeito, o artigo 78 do Código Tributário Nacional, adotando conotação ampla,


define poder de polícia como “... atividade da administração pública que, limitando ou
disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou a abstenção de fato,
em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à
disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes
de concessão ou autorização do Poder Público, à tranqüilidade pública ou ao respeito à
propriedade e aos direitos individuais ou coletivos”.

O princípio informador deste poder, que autoriza o Poder Público a condicionar ou


restringir o exercício de direitos e as atividades dos particulares, é a supremacia do
interesse público sobre o interesse particular.

2. ABRANGÊNCIA

Com relação à abrangência, o poder de polícia informa e possibilita a atuação eficaz


da Administração Pública na busca do interesse público sendo, por conseguinte, aplicável
por meio de atos gerais ou individuais, puramente normativos ou ainda de efeitos
concretos.

Ato geral é aquele ato que não tem um destinatário específico, normalmente de
cunho normativo, a exemplo do ato que proíbe a venda de bebidas alcoólicas a menores,
aplicável a todos os estabelecimentos comerciais. Por sua vez, ato individual é aquele que

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tem um destinatário específico, por exemplo, a autuação de determinado estabelecimento


comercial por qualquer motivo, por razões de segurança.

2.1. Objeto do poder de polícia


O poder de polícia poderá atuar sobre todos os bens, direitos, interesses e atividades
individuais, desde que as restrições se justifiquem, porque previstas em prol do interesse
coletivo e pautadas pelo princípio da proporcionalidade, e desde que estejam de acordo
com os limites constitucionais e legais.

3.LIMITE

Para que o exercício do poder de polícia pela Administração seja considerado legal,
o ordenamento houve por bem determinar limites, ou quando menos, determinar critérios
de limitação para as diversas esferas do Poder Público, decorrência de nosso sistema
federativo.

Assim, a competência surge como limite para o exercício do poder de polícia,


conforme disposto na Constituição Federal de 1988. Justamente por não haver, via de
regra, hierarquia entre os componentes da Federação, mas sim apenas campos diferentes de
atuação, determina-se a competência para a expedição de atos sob a égide do poder de
polícia, quando no âmbito territorial de cada esfera de governo, e desde que relativos à
matéria a esta reservada. Logo, quando o órgão não for competente, o ato não será
considerado válido (artigo 78 do Código Tributário Nacional).

Nesse sentido, faz-se necessária a diferenciação entre polícia administrativa, polícia


judiciária e polícia de manutenção da ordem pública, assim definidas por Hely Lopes
Meirelles.

Com efeito, de acordo com as lições de Hely, a polícia administrativa incide sobre
bens, direitos, interesses e atividades da população, difunde-se por toda a Administração e
visa garantir todos os interesses explicitados em sua definição legal, constante do Código
Tributário Nacional. Cabe à polícia judiciária a apuração de infrações penais e sua autoria;
sua competência é de órgãos determinados, a exemplo das polícias civis e da polícia
federal, e é considerada como órgão auxiliar do Poder Judiciário. Por fim, a polícia de
manutenção da ordem pública, ou polícia ostensiva, tem caráter eminentemente preventivo
e ostensivo, além de ser da competência de órgãos militares.

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4. CARACTERÍSTICAS (ATRIBUTOS)

O poder de polícia é um ato administrativo e como tal deverá ter os mesmos


atributos comuns a todos os atos administrativos. Além disso, deverá também reunir
atributos específicos, quais sejam:

a) Atributos gerais

• Presunção de legitimidade: presume-se o ato válido até que se prove o contrário.

• Auto-executoriedade: pode-se executar o ato sem a autorização da Justiça, por


conta do interesse público; todavia, é da essência dos atos administrativos serem
sempre revisáveis pelo Poder Judiciário, ante a inexistência, no Direito
brasileiro, da figura do contencioso administrativo. A auto-executoriedade pode
abranger a exigibilidade, que consiste na possibilidade de decidir, e a
executoriedade, traduzida como a possibilidade de executar diretamente, com
maior celeridade, o ato editado. Saliente-se, ainda, que a exigibilidade está
sempre presente, ao contrário da executoriedade que depende de expressa
previsão legal.

• Imperatividade, coercitividade ou exigibilidade: a prerrogativa de determinar


comportamentos à coletividade, e exigir o efetivo cumprimento destes.

b) Atributos específicos

• Discricionariedade: via de regra, o ordenamento permite um juízo de


conveniência e oportunidade na prática de atos decorrentes do poder de polícia,
porém, em alguns casos, a discricionariedade não se aplica, a exemplo da licença
para dirigir veículo automotor, pois, preenchidos os requisitos legais, é defeso à
autoridade a sua não-expedição.

Observações importantes:

• A multa de trânsito é uma exceção à regra da auto-executoriedade, pois, salvo


quando espontaneamente satisfeita pelo autuado, à Administração é defesa a sua
exigência pela via administrativa, tornando-se necessária a execução fiscal, via
Judiciário, do referido valor.

• Em algumas situações anteriormente exemplificadas, o ato poderá ser


vinculado, ou seja, quando a norma legal que o rege estabelecer o modo e a
forma de sua realização, a exemplo das licenças expedidas pela Administração.

• Ressalte-se que não se deve confundir poder de polícia com atividade policial
ou polícia judiciária, de acordo com a acepção comum do termo.

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DIREITO CIVIL
Pessoas Jurídicas e Bens

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DIREITO CIVIL

Pessoas Jurídicas e Bens

Prof.Vitor Frederico Kümpel

1. DAS PESSOAS JURÍDICAS

1.1. Conceito
A necessidade cada vez maior de circulação de riquezas para a sociedade, como
fator de desenvolvimento coletivo, social, econômico e tecnológico, fez com que se
desenvolvessem em nossa sociedade grupos afins de atuação conjunta na busca de
objetivos, quando menos, semelhantes. Assim ocorreu com as corporações de ofício que,
ao lado dos feudos da Idade Média, transformaram não só as práticas comerciais da época,
mas todo o direito comercial, sendo considerados verdadeiros embriões das revoluções
industriais e comerciais posteriores. Todavia, ante a necessidade crescente de agilidade nas
negociações operadas por entes coletivos, bem como a necessidade de resguardo ante aos
atos por estes praticados, são criadas as pessoas jurídicas, objeto deste estudo, abaixo
conceituadas.

Assim, pessoas jurídicas são entidades às quais a lei empresta personalidade,


capacitando-as a serem sujeitos de direitos e obrigações. A principal característica da
pessoa jurídica é o fato de ela possuir personalidade própria distinta da personalidade de
cada um de seus membros, nos termos do artigo 20 do Código Civil de 1916.

1.2. Natureza jurídica


Várias foram as teorias criadas para fundamentar a existência das pessoas jurídicas
que, por sua vez, dividiram-se em dois grandes grupos: as teorias da ficção e as teorias da
realidade. De acordo com os preceitos defendidos pelas “teorias da ficção”, a pessoa
jurídica não possui personalidade, sendo considerada uma verdadeira ficção doutrinária ou
ficção legal. Essas teorias não foram admitidas no sistema jurídico brasileiro, tendo em
vista ser o próprio Estado uma pessoa jurídica de Direito Público, da qual emana o Direito
pátrio. Assim, as regras emanadas de uma ficção seriam, por óbvio, fictícias e, portanto, de
observância facultativa.

Prevaleceram, então, outras teorias, pertencentes ao grupo das “Teorias da


Realidade”. Essas teorias da realidade se dividem em teoria da realidade objetiva; teoria da
realidade técnica; e teoria institucionalista de Hauriou. Como bem esclarece o Prof. Silvio
Rodrigues no seu "Curso de Direito Civil", Vol. 1, 32.ª edição, 2002, as três teorias
suficientemente explicam o fenômeno em questão. A teoria da pessoa jurídica como
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realidade objetiva, estabelecida por Gierke e Zitelmann, adotada também por Pontes de
Miranda, é a famosa teoria orgânica, pois são pessoa presentadas por órgãos e
representadas por pessoas que compõem os órgãos. Os órgãos são a expressão da vontade
da pessoa jurídica. As pessoas jurídicas são uma realidade, com vida própria e com
existência distinta das de seus membros. Segundo a teoria da realidade técnica o homem
amplia os seus meios de ação e assegura o mais eficaz possível o nível de desenvolvimento
da atividade humana. Já a teoria de Hauriou determina que a pessoa jurídica é uma
instituição que cria um vínculo social, unindo os indivíduos que visam ao mesmo fim. No
momento em que a instituição alcança certo grau de organização e automatização torna-se
pessoa jurídica.

O artigo 45 do Código Civil estabelece que o começo da existência legal das


pessoas jurídicas ocorre com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro.
Portanto, a realidade da pessoa jurídica é objetiva. O artigo 20 do Código Civil de 1916
proclamava que a pessoa jurídica tem existência distinta da de seus membros, ou seja, não
se confunde a pessoa jurídica com a pessoa de seus componentes. Isso significa que, entre
outros exemplos de diferenciação, não se podem penhorar bens dos sócios para pagamento
de dívidas da pessoa jurídica, ao menos ab initio. Para que as conseqüências oriundas do
texto do artigo 20 não fossem utilizadas com a finalidade de lesar terceiros, surgiu, dentre
outros mecanismos legais, a teoria da desconsideração da pessoa jurídica.

Por meio dessa teoria, é permitido ao juiz, em casos de má-fé, fraude, abusos, atos
de insolvência, falência e extinção de atividades em caso de má-administração, etc.,
desconsiderar a regra do artigo 20 para permitir a penhora dos bens particulares dos sócios,
sem, todavia, extinguir a pessoa jurídica ou ainda interferir em sua administração, o que se
considera bem menos lesivo a esta, notadamente em razão de um de seus princípios
basilares, a saber, o de sua preservação. Assim, se ficar provado que os sócios agiram
inescrupulosamente para lesionar terceiros, o juiz poderá desconsiderar a pessoa jurídica,
passando a enxergar os sócios como pessoas com personalidades próprias.

Cumpre registrar que esta teoria teve origem no direito anglo-saxão, com o nome de
disregard of the legal entity, posteriormente difundida no direito norte-americano, onde
recebeu o nome de lifting of the corporate veil, entre outros países como Espanha e
Argentina. No Brasil
era adotada por meio de analogia ao artigo 135 do Código Tributário Nacional até a edição
de leis como o Código de Defesa do Consumidor (artigo 28), Lei de infrações à Ordem
econômica (artigo18) e a Lei dos crimes praticados contra o Meio Ambiente (artigo 4.º).
Em que pese à previsão de aplicação, em sede contratual, somente no Código de Defesa do
Consumidor, poder-se-á aplicá-la, por analogia, inclusive para contratos não regidos por
este.

Por fim, o Código Civil prevê, em seu artigo 50, a teoria da desconsideração, que
adota não somente atos objetivamente reveladores de utilização ilícita da pessoa jurídica,
mas também atos subjetivamente apreciáveis, a exemplo da confusão patrimonial,
seguindo orientação de juristas do jaez de Fábio Konder Comparatto.

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1.3. Requisitos para a Constituição da Pessoa Jurídica


A doutrina aponta três requisitos para a constituição de uma pessoa jurídica, a saber:

1.3.1. Vontade humana criadora


É necessário que o grupo de pessoas, ao se reunir, tenha a intenção de criar uma
pessoa jurídica. Quando há vontade para a criação de uma pessoa jurídica, que exercerá
atividade empresarial, esse requisito é denominado affectio societatis.

1.3.2. Licitude de seus objetivos


É necessário que o objetivo da pessoa jurídica seja lícito. Se uma pessoa jurídica for
constituída com fins lícitos e, com o decorrer do tempo, passa a distorcer suas finalidades,
praticando atos ilícitos, poderá ser extinta. Registre-se que a expressão licitude de objetivos
deve ser entendida de modo amplo, de forma a inserir em seu conceito a moralidade dos
atos e objetivos perseguidos.

1.3.3. Observância das condições legais


As condições que a lei impõe também devem ser observadas pelas pessoas jurídicas,
até porque elas só existem em razão de um expediente técnico criado pelo ordenamento,
em razão das finalidades perseguidas. São condições impostas pela lei:

a) Elaboração do ato constitutivo

Sendo uma associação, que tem por natureza a inexistência de fins lucrativos, deve-
se elaborar um Estatuto como ato constitutivo. Se a pessoa jurídica tiver fins lucrativos,
seja uma sociedade civil ou comercial, elabora-se um Contrato Social como ato
constitutivo. As fundações possuem como ato constitutivo o testamento ou a escritura
pública.

b) Registro do ato constitutivo

Somente a partir do registro a pessoa jurídica passa a ter existência legal. O artigo
45 do Código Civil dispõe que a existência legal da pessoa jurídica começa com o registro
dos seus atos constitutivos. Esses atos deverão ser registrados no Cartório do Registro Civil
das Pessoas Jurídicas. No caso de sociedade comercial, porém, o contrato social deverá ser
registrado na Junta Comercial. Uma sociedade de advogados terá seu registro na subseção
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da Ordem dos Advogados do Brasil mais próxima. Para a maioria das pessoas jurídicas
basta o registro para que elas tenham existência legal.

Enquanto o ato constitutivo não for registrado, a pessoa jurídica não passa de uma
mera sociedade de fato. O artigo 20, § 2.º, do Código Civil de 1916 dispunha que a
sociedade de fato não tem legitimidade ativa, mas tem legitimidade passiva. Tal disposição
restou derrogada em razão do texto do artigo 12, inciso VII, do Código de Processo Civil
que deu legitimidade tanto ativa quanto passiva, no aspecto processual, às sociedades de
fato.

c) Autorização do governo

Algumas sociedades necessitam dessa autorização para constituição e


funcionamento válido (artigo 45, última parte, do Código Civil). O artigo 20, § 1.º, do
Código Civil de 1916 mencionava, exemplificativamente, algumas das sociedades que
precisam da autorização do governo, a exemplo das Cooperativas, Caixas Econômicas etc.
Esse rol é meramente exemplificativo, visto que hoje todas as instituições financeiras,
consórcios e muitas outras foram inseridas nessa relação por meio de lei, necessitando da
autorização do governo. O Código Civil atual não trouxe disposição paralela visto ser a
matéria de direito público, não sendo da alçada do Código Civil.

1.4. Classificação das Pessoas Jurídicas


Vários são os critérios adotados para a classificação das pessoas jurídicas, dentre os
quais passamos a explicitar, para fim de entendimento, os que abaixo seguem:

1.4.1. Quanto à nacionalidade


De acordo com o critério da nacionalidade, as pessoas jurídicas classificam-se em:
nacionais e estrangeiras.

1.4.2. Quanto à estrutura interna


a) Corporações

O que caracteriza a corporação é a existência de seus membros. Toda corporação é


representada por um grupo de pessoas, sendo que o patrimônio não é essencial. No Direito
Romano, as corporações eram conhecidas como universitas personarum.

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As corporações têm por objetivo sempre o bem-estar de seus membros, ou seja,


existem para beneficiar os seus membros, a exemplo de uma Sociedade Comercial, que
tem por finalidade a geração de lucro a estes.

O gênero corporações se subdivide em:

• Associações: são corporações sem fins lucrativos. Podem ter variadas


finalidades, no entanto não visam ao lucro.

• Sociedades civis ou comerciais: as sociedades, tanto civis quanto comerciais,


visam sempre ao lucro. Somente as sociedades comerciais praticam atos de
comércio. As sociedades civis, em geral, são constituídas por profissionais
liberais e prestadores de serviço, a exemplo de sociedades de advogados,
sociedades de médicos etc.

b) Fundações

Fundação é um patrimônio destinado a um determinado fim, ou seja, o que é


essencial na fundação é o seu patrimônio. No Direito Romano, as fundações eram
conhecidas como universitas bonorum.

O objetivo das fundações será sempre o bem-estar da sociedade, ou seja, as


fundações existem para beneficiar a sociedade, a coletividade, e não o instituidor ou sua
diretoria. Como exemplo, pode ser citada a Fundação de Combate ao Câncer.

As fundações poderiam ser comparadas às sociedades civis, no entanto não têm fins
lucrativos. Sendo um patrimônio destinado a um determinado fim, esse objetivo é
determinado pelo seu instituidor, ou seja, o dono do patrimônio é quem vai determinar a
finalidade da fundação.

Para melhor memorização, apresenta-se abaixo organograma explicativo:*


Classificação quanto à estrutura:

Associações
Corporações: Civis
Universitas personarum
Sociedades
Pessoas Comerciais
Jurídicas:
Fundações:
Universitas bonorum

1.4.3. Fases de Criação de uma Fundação


A criação de uma fundação passa por quatro fases:

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• 1.ª fase – ato de dotação: é o momento em que o instituidor destina


determinados bens para a criação da fundação. O artigo 62 do Código Civil
dispõe que o ato de dotação poderá ser feito por escritura pública ou por
testamento. Se o ato de dotação quer por testamento ou doação, tiver patrimônio
insuficiente para a finalidade da fundação, esse patrimônio será incorporado em
outra fundação que se proponha a fim igual ou semelhante (artigo 63 do Código
Civil). Pelo sistema jurídico anterior (artigo 25 do Código Civil de 1916), os
bens eram convertidos em títulos da dívida pública para ser aumentado ou
através de novas dotações, ou com seus próprios rendimentos, a fim de atingirem
o montante necessário para que a fundação pudesse funcionar. Repare que o
legislador quis garantir celeridade na constituição da fundação.

O parágrafo único do artigo 62 do Código Civil estabelece as finalidades da


fundação particular e que são: religiosas, morais, culturais ou de assistência;

• 2.ª fase – elaboração dos estatutos: pode ser elaboração própria ou elaboração
fiduciária. A elaboração própria se dá quando o instituidor elabora pessoalmente
o estatuto. A elaboração fiduciária é a modalidade de elaboração em que esta fica
a cargo de alguém de confiança do instituidor. O Código de Processo Civil, em
seu último capítulo, dedica uma grande importância ao Ministério Público,
quanto à sua atuação junto às fundações. Determina a lei que o Ministério
Público tem o dever de fiscalizar, ingressar com ação para destituir a diretoria e
até extinguir a fundação, em caso de ilicitude de seu objeto. O artigo 1.202 do
Código de Processo Civil dispõe que, se a pessoa que ficou encarregada da
elaboração dos estatutos não a fizer dentro de 6 meses, esta elaboração ficará a
cargo do Ministério Público, passando por uma apreciação do juiz. A mesma
disposição está presente no artigo 65, parágrafo único, do Código Civil,
conferindo 180 dias para que o Ministério Público passe a ter a incumbência de
elaborar o estatuto, quando o estatuto não for elaborado no prazo assinalado pelo
instituidor.

• 3.ª fase – aprovação dos estatutos: em geral, sendo elaborados pelo próprio
instituidor ou pela pessoa de sua confiança, os estatutos passarão pela aprovação
do Ministério Público. Caso o Ministério Público não os aprove, poderão passar
pela apreciação do Juiz da comarca, de forma subsidiária, para que seja pelo
magistrado suprida a aprovação do Ministério Público (artigo 65 do Código
Civil). Sendo os estatutos, entretanto, elaborados pelo Ministério Público,
deverão, sempre, passar pela aprovação do juiz (artigo 1202 do Código de
Processo Civil);

• 4.ª fase – registro: após vencidas todas as fases anteriores, a fundação deverá ser
registrada no Cartório do Registro das Pessoas Jurídicas.

O artigo 554 do Código Civil estabelece a caducidade para os bens doados para a
constituição de uma fundação se esta não tiver sido registrada até dois anos da lavratura da
escritura de doação. Portanto, o prazo máximo entre a dotação através da escritura de
doação e o registro, podendo ser aplicada a regra analógica para a morte do testador até o

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registro, o prazo máximo de dois anos. Caso nesse prazo não haja o registro, o bem volta
ao doador ou é repassado aos herdeiros, no caso de testamento, responsabilizando-se
aquele que deu causa à decadência de direito.

Havendo necessidade de alteração dos estatutos, esta alteração não poderá contrariar
a finalidade da fundação, devendo ser aprovada por 2/3 dos componentes para gerir e
representar a fundação, passando a seguir pela aprovação do Órgão do Ministério Público.

Os bens de uma fundação são inalienáveis, entretanto, admite-se a venda de seus


bens, desde que o produto da venda seja aplicado na própria fundação, que o pedido de
alienação passe por prévia audiência do Ministério Público e que haja autorização judicial.

Em relação às hipóteses de extinção das fundações, determina o artigo 69 do Código


Civil os casos em que pode ocorrer a extinção de uma fundação, quais sejam:

• quando vencer o prazo de sua duração (entretanto é raro, tendo em vista que
normalmente não se dispõe prazo de duração);

• quando se tornar ilícita a finalidade da fundação, o Ministério Público poderá


ingressar com uma ação visando à sua extinção;

• quando se tornar impossível ou inútil a sua manutenção (a causa mais comum,


nessa hipótese, é o surgimento de dificuldades financeiras).

Quando uma fundação se extingue, deve-se verificar se o próprio instituidor já


previu a destinação dos bens. Se não o fez, o artigo 69 do Código Civil dispõe que os bens
deverão incorporar em outra fundação de fins iguais ou semelhantes, designadas pelo juiz .

1.4.3. Classificação das pessoas jurídicas quanto à extensão de sua


atuação
Em relação à seara de atuação das pessoas jurídicas, estas se classificam em:

a) Pessoas Jurídicas de Direito Público

As pessoas jurídicas de Direito Público se subdividem, por sua vez, de acordo com
seus objetivos e extensão de sua área de atuação. São elas:

• Pessoas Jurídicas de Direito Publico Externo: são os diversos países, as diversas


nações, incluindo-se organismos internacionais tais como a ONU, a OEA, a
OTAN etc (artigo 42 do Código Civil).

• Pessoas Jurídicas de Direito Público Interno: são aquelas cuja atuação se


restringe aos interesses e limites territoriais do país. Podem ser: Administração
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Direta (União, Estados, Municípios) ou Administração Indireta (autarquias,


fundações públicas, sociedades de economia mista e empresas públicas) (artigo
43, do Código Civil).

b) Pessoas Jurídicas de Direito Privado (artigo 44 do Código Civil)

Conforme anteriormente verificado, as pessoas jurídicas de Direito Privado se


subdividem em corporações e fundações de Direito Privado, com todas as subdivisões
antes estudadas.

1.5. Responsabilidade das Pessoas Jurídicas


A responsabilidade civil , notadamente a extracontratual, tem por norte o princípio
da individualização, ou seja, cada um responde pelos danos decorrentes de seus atos. Em
relação às pessoas jurídicas, pessoas reais criadas em razão de uma necessidade social, para
melhor atendimento dos fins a que se destinam, a regra geral é a de que as pessoas jurídicas
respondem pelos atos dos seus prepostos e empregados (artigo 930 do Código Civil). Com
efeito, o comando do artigo 932, inciso III, do Código Civil dispõe que também as pessoas
jurídicas de Direito Privado respondem pelos atos de seus empregados. O artigo 1.522 do
Código Civil de 1916 continha a expressão “abrange as pessoas jurídicas, que exercerem
exploração industrial”, e foi interpretado de forma restritiva durante muito tempo, de modo
a entender que somente as pessoas jurídicas com fins lucrativos respondessem pelos atos
de seus empregados.

O entendimento hoje da doutrina e da jurisprudência é, no entanto, no sentido de


que todas as pessoas jurídicas respondem pelos atos praticados por meio de seus prepostos
e empregados, independentemente de terem ou não fins lucrativos. Por tal motivo, é que o
novo Código Civil não teve disposição correspondente.

1.5.1. Pessoas jurídicas de Direito Público. Histórico de sua


Responsabilidade. Fases.
A responsabilidade das pessoas jurídicas de Direito Público é estudada por nossos
administrativistas desde que o Estado se fortaleceu como tal, e assume conotações
diferenciadas desde a Idade Média até o presente momento histórico, passando por três
fases principais, a saber:

1.ª Fase – irresponsabilidade do Estado: de ampla aplicação na Idade Média,


notadamente em períodos monárquicos, previa que se o funcionário público
causasse dano a alguém, somente ele responderia por esse dano. Essa fase durou,
conforme dito, enquanto persistiu a monarquia dos déspotas, enfraquecida pelos
ideais da revolução francesa. Era conhecida por um jargão identificador, qual seja, a

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expressão “The King do not wrong”. No Brasil essa fase terminou somente com a
edição do Código Civil vigente, em 1916;

• 2.ª Fase (prevista no artigo 15 do Código Civil) - fase civilista da


responsabilidade civil do Estado: a responsabilidade do Estado passou a ser
subjetiva, ou seja, para que o Máquina Pública fosse responsabilizada pelo dano
decorrente de sua ação ou omissão, a vítima precisava provar a culpa aquiliana
(lato sensu) do funcionário;

• 3.ª Fase (prevista a partir da Constituição de 1946): a responsabilidade do


Estado foi regulamentada no texto constitucional, notadamente em razão da
criação dos denominados direitos individuais de segunda geração, passando a ser
tratada como matéria de Direito Público. Nesta fase, denominada fase publicista,
a responsabilidade do Estado passou a ser objetiva, ou seja, a vítima não precisa
mais se preocupar em provar a culpa do funcionário, somente devendo provar
que sofreu um dano, além da relação de causalidade entre esse dano e o ato ou
omissão de algum funcionário público no exercício de suas funções, ou pela
execução, ainda que por particulares, de um serviço público, a exemplo dos
concessionários e permissionários de serviços públicos.

No Direito Administrativo, surgiram algumas teorias que fizeram com que as


Constituições a partir de 1946 acolhessem essa responsabilidade objetiva, tendo como
fundamento o fato de que o Estado, na prestação de serviços de risco, deverá assumir todos
os riscos que possam ocorrer no serviço público. Dessas teorias sobressaíram-se duas para
justificar a responsabilidade objetiva do Estado:

• Teoria do Risco Integral: é muito rigorosa para com o Estado. Parte do princípio
de que o Estado teria assumido integralmente todos os riscos dos danos que os
particulares sofressem por conta dos serviços públicos. Não admite qualquer
escusa por parte do Estado, nem mesmo a alegação de caso fortuito ou força
maior. Por essa rigidez, ela não foi acolhida pelo sistema jurídico brasileiro, ao
menos em regra. Registra-se que, para determinada parcela da doutrina, essa
modalidade de risco é adotada pelo ordenamento para fins de responsabilização
do Estado, decorrente de atividades nucleares por este praticadas, em razão de
sua notória periculosidade.

• Teoria do Risco Administrativo: consiste em responsabilizar objetivamente o


Estado, todavia, com a permissão de que o Estado afaste totalmente a sua
responsabilidade, caso consiga com êxito provar a culpa exclusiva da vítima, ou
ainda a ocorrência de caso fortuito ou força maior. Desse modo, tal teoria tem a
excelente técnica de inversão do ônus da prova, determinando a presunção
relativa de ser o Estado culpado, todavia, permitindo que este prove a ocorrência
de uma das excludentes anteriormente expostas. Assim, a título de exemplo, a
inexistência de testemunhas em favor do Estado o prejudica, tendo em vista que
será ele quem deverá provar eventual culpa da vítima ou casos fortuitos.

O Estado responde objetivamente, de acordo com a maioria da doutrina pátria, não


só por ação, mas também por omissão. Registra-se, em relação a esse tema, opinião em
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contrário do doutrinador Celso Antonio Bandeira de Melo, para quem os atos omissivos da
administração dependem da demonstração de culpa, pelo lesado, para que se possibilite a
indenização. Por fim, em casos de culpa concorrente da vítima, a indenização será reduzida
pela metade.

A Constituição Federal de 1988 trata da responsabilidade do Estado no artigo 37, §


6.º, trazendo duas inovações em relação às Constituições anteriores:

• a substituição da palavra “funcionário” por “agente”, tendo em vista ser a


expressão agente, mais ampla;

• estendeu a responsabilidade objetiva às pessoas jurídicas de Direito Privado


prestadoras de serviço público, ou seja, as concessionárias e as permissionárias
de serviço público também terão responsabilidade objetiva, a exemplo das
empresas de recolhimento de lixo, de administração de pedágios etc.

O artigo 37, § 6.º, da Constituição permite que o Estado mova uma ação regressiva
contra o funcionário, ou seja, se o Estado vier a ser condenado por culpa de seu
funcionário, terá direito a uma ação regressiva contra este. A responsabilidade do
funcionário nesse caso, entretanto, é subjetiva, ou seja, depende de prova, pelo Estado, de
culpa na atuação do funcionário contra o qual se pretende o regresso.

Sempre que alguém tiver direito a uma ação regressiva contra outra pessoa, poderá
utilizar-se da denunciação da lide, de forma a agilizar a indenização possível pelo direito
de regresso, atendendo assim, ao princípio da economia processual (artigo 70, inciso III, do
Código de Processo Civil). Assim, caso o Estado tenha direito à ação regressiva contra o
funcionário, poder-se-ia vislumbrar a possibilidade de o Estado denunciá-lo da lide quando
da apresentação da contestação. A lide principal será aquela que a vítima move contra o
Estado e a lide secundária será aquela que o Estado requer o regresso ao funcionário.
Nesses casos, o Juiz deverá, em uma única sentença, decidir as duas ações. O juiz,
entretanto, poderá julgar procedente a lide principal e improcedente a lide secundária, caso
o Estado não demonstre a culpa do funcionário.

Existe uma corrente doutrinária e jurisprudencial que entende não ser possível
denunciar da lide ao funcionário público, em razão da diversidade de formas de
responsabilização, causando conseqüentemente um atraso injustificado da lide principal,
em que o lesionado requer indenização estatal. Assim, nesses casos, a denunciação da lide
deveria ser indeferida, tendo em vista que a responsabilidade do Estado é objetiva e a do
funcionário é subjetiva, havendo necessidade de demonstração de culpa. Essa mesma
corrente também alega que não haveria sentido a denunciação da lide, tendo em vista o
antagonismo, ou seja, o Estado contestar alegando culpa exclusiva da vítima e denunciar a
lide alegando que a culpa foi de seu funcionário.

É possível que a vítima mova uma ação contra o funcionário e não contra o Estado.
A vantagem é que a execução seria mais rápida, no entanto a vítima teria que demonstrar a

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___________________________________________________________________________MÓDULO III
DIREITO CIVIL

culpa, tendo em vista que a responsabilidade do funcionário é subjetiva, além de arcar com
os riscos da insolvência do agente causador do dano.

2. DOS BENS

2.1. Conceito
Considera-se bem tudo aquilo que existe no universo e que é útil ao homem. Há uma
distinção entre bem e coisa. Bem é gênero e coisa é espécie. Somente são chamados de
coisa aqueles bens que podem ser apreendidos pelo homem (bens corpóreos) e que têm
valor econômico. Registra-se na doutrina divergência a respeito da conceituação de bem e
coisa. Assim, Sílvio Rodrigues, diversamente da maioria, entende coisa como gênero, e
bem como espécie.

Há uma classificação que não consta do Código Civil, mas que é adotada pela
doutrina, porque trazida desde o Direito Romano: bens corpóreos e bens incorpóreos. Bens
corpóreos são os que têm existência material, a exemplo de uma cadeira, de um livro etc.
Bens incorpóreos são os que têm existência abstrata somente, a exemplo de créditos,
direitos de autor, direito à sucessão aberta etc. Existem algumas expressões sobre os bens
que eram utilizadas no Direito Romano e passaram a ser utilizadas até hoje:

• res nullis (é a coisa de ninguém, que existe no universo, mas não pertence a
ninguém, como peixes e animais selvagens);

• res derelicta (é a coisa abandonada, que já pertenceu a alguém e foi


abandonada).

O patrimônio das pessoas é formado por bens corpóreos e bens incorpóreos. A


classificação do Código Civil é uma classificação científica que agrupa os bens por sua
natureza.

2.2. Classificação dos Bens

2.2.1. Dos bens considerados em si mesmos


O código classifica os bens, em primeiro lugar por si mesmos, não os comparando
ou ligando com nenhum outro. Na classificação de bens móveis e bens imóveis, a intenção
do homem deve ser considerada. Exemplo: se o indivíduo planta uma árvore para corte,
esta é chamada de bem móvel por antecipação.

a) Bens imóveis
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___________________________________________________________________________MÓDULO III
DIREITO CIVIL

São os que não podem ser transportados sem destruição de um lugar para outro. No
artigos 79 e 80, o Código Civil classifica os bens imóveis em:

• Bens imóveis por natureza: preliminarmente, consideram-se bens imóveis por


natureza o solo e seus acessórios e adjacências, ou seja, tudo aquilo que adere ao
solo naturalmente, a exemplo das árvores, frutos e subsolo. Alguns autores
entendem que deveria ser bem imóvel por natureza somente o solo; acessórios e
adjacências deveriam ser chamados bens imóveis por acessão natural.

• Bens imóveis por acessão industrial (artificial): é definido como tudo aquilo que
resulta do trabalho do homem, tornando-se permanentemente incorporado ao
solo. São as construções e as plantações.

• Bens imóveis por acessão intelectual (por destinação do proprietário): a lei


considera bem imóvel por acessão intelectual aqueles bens móveis que aderem a
um bem imóvel pela vontade do dono, para dar maior utilidade ao imóvel ou até
mesmo para o seu embelezamento, aformoseamento, a exemplo de um trator
comprado para melhor utilização em uma fazenda, pois, enquanto o trator estiver
a serviço da fazenda, será considerado como bem imóvel por acessão intelectual.
São aqueles bens móveis incorporados ao bem imóvel pela vontade do dono.
Assim como o proprietário imobilizou o bem móvel, ele poderá,
conseqüentemente, mobilizá-lo novamente quando não for utilizá-lo mais para
aquilo a que se destinava.

• Bens imóveis por determinação legal: são determinados bens que somente são
imóveis porque o legislador resolveu enquadrá-los como tal, para que se
possibilite, em regra, maior segurança jurídica nas relações que os envolvam.
Podemos citar o direito à sucessão aberta, ainda que o acervo seja composto
única e exclusivamente de bens móveis; os direitos reais sobre imóveis e as
ações que o asseguram; as apólices da dívida pública, quando oneradas com
cláusula de inalienabilidade.

b) Bens móveis

Determina o artigo 82 do Código serem bens móveis os bens suscetíveis de


movimento próprio, ou de remoção por força alheia. Podem ser classificados da seguinte
maneira:

• Bens móveis por natureza: são bens móveis por natureza não só aqueles que têm
movimento próprio, como também aqueles que não têm movimento próprio.
Subdividem-se em bens móveis propriamente ditos (aqueles que não têm
movimento próprio) e bens semoventes (aqueles que têm movimento próprio).

• Bens móveis por antecipação: aqueles bens imóveis que têm uma finalidade
última como móvel. Assim, mesmo temporariamente imóveis não perdem o
caráter de bem móvel, em razão de sua finalidade, a exemplo das árvores
plantadas para corte.

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DIREITO CIVIL

• Bens móveis por determinação legal: são alguns bens que a lei considera móveis
por determinação legal, e conseqüentemente, aplicando as disposições sobre
bens móveis nas relações que os envolvam. São eles: Os direitos reais sobre
objetos móveis e respectivas ações; os direitos de obrigação, e respectivas ações;
além dos direitos do autor.

A lei permite, por exceção, que navios e aviões, que são bens móveis, sejam dados
em hipoteca, todavia, sem perder a característica de bens móveis.

c) Bens fungíveis e bens infungíveis

O artigo 85 do Código Civil aplica essa classificação apenas aos bens móveis. São
bens fungíveis aqueles bens móveis que podem ser substituídos por outros da mesma
espécie, natureza e qualidade. Com efeito, certos bens são infungíveis porque possuem
características especiais que os tornam distintos de outros da mesma espécie e qualidade,
não permitindo, destarte, a sua substituição.

Registra-se que, de acordo com as lições do eminente Prof. Carlos Roberto


Gonçalves, excepcionalmente, bens imóveis podem ser considerados bens fungíveis, a
exemplo de várias pessoas proprietárias, em condomínio, de um conjunto de lotes ainda
não divididos, ocasião em que cada um é proprietário de um número determinado de lotes,
fungíveis, posto que ainda não identificados os seus proprietários.

A fungilibilidade ou a infungibilidade, podem decorrer também da vontade das


partes, a exemplo de bens fungíveis emprestados para ornamentação e posterior devolução,
a que a doutrina dá o nome de comodatum ad pompam vel ostentationem.

d) Bens consumíveis e bens inconsumíveis

O artigo 86 considera consumíveis os bens móveis cuja utilização acarreta a


destruição da sua substância, a exemplo dos alimentos, e os destinados à alienação, como
um livro, um disco, ou demais bens expostos para venda. Assim, há bens consumíveis de
fato, ou materialmente consumíveis, como os alimentos em geral, e há bens consumíveis
de direito, juridicamente consumíveis, como veículos, aparelhos elétricos colocados à
venda etc.

O usufruto somente recai sobre os bens inconsumíveis, entretanto o artigo 1392, §


1.º, do Código Civil admite que o usufruto recaia sobre bens consumíveis, recebendo a
denominação "usufruto impróprio", ou "quase-usufruto".

e) Bens divisíveis e bens indivisíveis (artigo 87 do Código Civil)

São divisíveis as coisas que podem ser partidas em porções distintas, formando,
cada porção, um todo perfeito. Assim, o bem é divisível quando cada porção continua com
as características do todo.

A indivisibilidade pode resultar da natureza, da lei e da vontade das partes:

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DIREITO CIVIL

• Bem indivisível por natureza: é aquele que, se for dividido, perde a característica do
todo, a exemplo de um animal.

• Bem indivisível por lei: existem alguns bens que por natureza talvez fossem
considerados divisíveis, entretanto a lei os torna indivisíveis. Como exemplo,
podemos citar o Estatuto da Terra que, nos casos de área rural, exige que os terrenos
rurais tenham, no mínimo, três alqueires. Assim, numa área rural, o terreno de três
alqueires torna-se indivisível para evitar que se tenham partes de terra muito
pequenas.

• Bem indivisível por vontade das partes: há a possibilidade, nos casos de condomínio,
de as partes convencionarem a indivisibilidade do bem. Essa indivisibilidade poderá
valer por cinco anos no máximo (artigo 1.320, § 2.º, do Código Civil), podendo ser
prorrogada por mais cinco. Nos casos de testamento e doação, não se pode, se o bem
for considerado indivisível por vontade do doador ou testador, entende-se que o foi
somente por cinco anos, sem possibilidade de prorrogação do prazo.

f) Bens singulares e bens coletivos

Os bens são singulares ou coletivos conforme a maneira como são encarados. Desse
modo, se encararmos uma árvore isoladamente, ela será um bem singular, se encararmos
várias árvores numa floresta, será um bem coletivo.

O Código Civil chama as coletividades de universalidades, que podem ser de fato ou


de direito. O Código, ao falar das universalidades de direito, menciona como exemplos a
herança e o patrimônio, mesmo se constituídas somente de direitos e obrigações, sem
demais bens materiais.

2.2.2. Dos bens reciprocamente considerados


Após o estudo dos bens considerados em si mesmos, passamos ao estudo dos bens,
quando reciprocamente considerados. Nessa ótica, dividem-se em principais e acessórios.
Bem principal é aquele que existe por si, ou seja, não depende da existência de nenhum
outro bem, possuindo existência própria. Por sua vez, bem acessório é aquele que depende
da existência do bem principal. Exemplo: a árvore é bem principal, já os frutos são bens
acessórios. Essa classificação transfere-se também para os contratos, como exemplo, o
contrato de fiança, que somente existe como forma de garantia fidejussória de pagamento
de um outro contrato, muito comum nos contratos de mútuo e de locação.

O artigo 92 do Códex dispõe que a coisa acessória segue a principal, salvo


disposição especial em contrário. Essa regra, que atende ao conteúdo disposto no brocardo
jurídico accessorium sequitur suum principale, causa várias conseqüências:

• presume-se que o dono do principal também é dono do acessório;

• determina ter o acessório a mesma natureza jurídica do principal;

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___________________________________________________________________________MÓDULO III
DIREITO CIVIL

• extinto o principal, extingue-se também o acessório, mas a recíproca não se


mostra verdadeira.

a) Categoria dos bens acessórios

Entram na categoria dos bens acessórios os frutos, os produtos, os rendimentos, as


pertenças e as benfeitorias. Na doutrina, apresentam-se críticas à determinação de Clóvis
Beviláqua, de considerar rendimentos como categoria de bens acessórios, pois, com efeito,
os rendimentos nada mais são que os frutos civis da coisa, a exemplo dos juros cobrados
pela disposição de numerário mediante contrato de mútuo feneratício. Diferem-se frutos e
produtos, visto que os primeiros se renovam quando utilizados ou separados da coisa, não
consistindo em extinção parcial do bem principal. Destarte, colhendo frutas de uma árvore,
nascerão outras tantas. Já os produtos, se exaurem com o uso, pois extinguem, ainda que
parcialmente, a própria fonte. Exemplo: após anos de extração de determinado poço de
petróleo, chegará o momento em que ele se exaurirá.

Acrescenta o diploma civil que também são acessórios da coisa as benfeitorias


(artigo 96 do Código Civil), salvo a pintura em relação à tela, a escultura em relação à
matéria-prima e qualquer trabalho gráfico em relação ao papel utilizado. Essas exceções
foram criadas para valorizar o trabalho artístico. Assim, os acessórios dos trabalhos
artísticos serão, nesses casos, a tela, a matéria prima e os papéis. Benfeitoria é todo
melhoramento ou acréscimo feito em coisa já existente. Há uma diferença entre benfeitoria
e acessão industrial (construções e plantações), uma vez que esta representa toda
construção ou plantação nova. O artigo 96 do Código Civil apresenta e conceitua três
espécies de benfeitorias. Estas podem ser:

• Necessárias: são aquelas benfeitorias destinadas a conservar a coisa,


indispensáveis; são aquelas que, se não forem feitas, a coisa pode perecer, ou
seu uso ser impossibilitado. São entendidas de forma ampla, como o pagamento
de impostos, medidas judiciais de conservação da coisa etc.

• Úteis: são as benfeitorias que aumentam ou facilitam o uso da coisa; não são
indispensáveis, mas, se forem feitas, darão mais aproveitamento à coisa, a
exemplo da construção de mais um cômodo em uma casa.

• Voluptuárias: são as benfeitorias de mero deleite ou recreio, que vêm a


aformosear o bem, aumentar-lhe o valor, embora não interfiram na normal
utilização da coisa, como exemplo, a construção de uma piscina com cascata, ao
redor de jardins, em uma casa.

Por fim, relativamente às benfeitorias, salienta-se que a classificação acima não tem
caráter absoluto, devendo ser analisada de acordo com o caso concreto, a exemplo de uma
piscina, que em regra é conceituada como benfeitoria voluptuária, mas que, para alguém
que necessita fazer hidroterapia, ou ainda para uma escola de natação, mostra-se como
benfeitoria útil.

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___________________________________________________________________________MÓDULO III
DIREITO CIVIL

O artigo 93 do Código Civil, estabelece: "São pertenças os bens que, não


constituindo partes integrantes, se destinam, de modo duradouro, ao uso, ao serviço ou ao
aformoseamento de outro". Apesar de acessória, a pertença conserva sua individualidade e
autonomia, tendo apenas com a principal uma subordinação econômico - jurídica, pois,
sem haver qualquer incorporação, vincula-se à principal para que esta atinja suas
finalidades. Temos como exemplo a turbina de um avião, o órgão de uma igreja ou o motor
de um automóvel.

2.2.3. Dos bens quanto aos titulares do domínio


Sob esse aspecto, os bens se dividem em públicos e particulares. O artigo 98 do
Código Civil considera públicos os bens que pertencem à União, aos Estados, ao Distrito
Federal e aos Municípios; todos os demais são considerados particulares. Tem-se, no caso,
verdadeira definição por exclusão.

Os bens públicos dividem-se em (artigo 99 do Código Civil):

• de uso comum do povo: todos aqueles de utilização comum, sem maiores ônus,
pela coletividade, a exemplo das estradas, ruas, mares, praças; ressalte-se que é
uma enumeração meramente exemplificava;

• de uso especial: bens destinados ao funcionamento e aprimoramento dos


serviços prestados pela máquina estatal, de utilização, por vezes, concedida aos
particulares, em regra mediante contraprestação. Temos como exemplo os
edifícios onde funcionam os serviços públicos;

• dominicais (ou dominiais): aqueles que pertencem ao domínio privado do poder


público, e desde que desafetados de qualquer utilização pública, podem ser
alienados, de acordo com as regras previstas para alienação de bens da
administração, a exemplo da licitação.

Os bens públicos têm características especiais, seguindo regras próprias, não sendo
tratados no Direito Civil. Os bens dominicais, entretanto, ainda que sejam bens públicos,
seguem as regras dos bens particulares, com algumas modificações operadas em sede de
legislação especial, como a Lei de Licitações (Lei n. 8.666/93).

Os artigos 100 e 101 do Código dispõem que a inalienabilidade, que é peculiar dos
bens públicos, somente poderá ser afastada por lei, que por sua vez retira do bem a função
pública à qual este se liga. A tal procedimento dá-se o nome de desafetação. Quando um
bem dominical for utilizado para uma finalidade pública, ele será tratado como bem
público, portanto, inalienável, em razão de sua afetação a uma função eminentemente
pública. A afetação não depende de lei. Os bens públicos, desde a vigência do Código Civil
de 1916, não podem ser objetos de usucapião, visto serem inalienáveis. Tal entendimento
também é expresso na Constituição Federal e na Súmula n. 340 do Supremo Tribunal
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___________________________________________________________________________MÓDULO III
DIREITO CIVIL

Federal. O novo Código Civil também estabelece que os bens públicos também não estão
sujeitos a usucapião no seu artigo 102.

Em síntese: ocorre a desafetação quando a lei autoriza a venda de um bem público,


desligando-o da função pública a que ele serve. Ocorre a afetação quando o bem dominical
passa a ser utilizado como bem público.

2.2.4. Dos bens fora do comércio


O Código Civil não trata mais dos bens fora do comércio, por entender que a
questão é meramente doutrinária.

O artigo 69 do Código Civil de 1916 considera bens fora do comércio, ou seja, bens
que não podem ser objeto de apropriação ou demais atos de alienação:

• Aqueles que não podem ser apropriados pelo homem, a exemplo do ar


atmosférico, dos oceanos etc.

• Bens legalmente inalienáveis: essa expressão legalmente inalienável abrange


tanto os bens públicos quanto aqueles que se tornam inalienáveis em razão da
vontade do testador ou do doador. Com efeito, a Súmula n. 49 do Supremo
Tribunal Federal dispõe que a cláusula de inalienabilidade acarreta a
impenhorabilidade e a incomunicabilidade dos bens. Ressalte-se que a
impenhorabilidade foi estendida ao disposto nessa súmula pela jurisprudência.

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MÓDULO III

DIREITO COMERCIAL
Introdução ao Estudo das Sociedades Empresárias

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DIREITO COMERCIAL

Introdução ao Estudo das Sociedades Empresárias

Prof. José Marcelo Martins Proença

1. CONSIDERAÇÕES GERAIS

O comércio surgiu antes de sua sistematização normativa, ou seja, surgiu antes da


criação do Direito Comercial pela burguesia, ainda na Idade Média. Como forma de
dinamizar as relações comerciais, notadamente as relações de maior vulto, em que se
aplicam recursos de vários comerciantes, e não apenas de um, surgiu não só a necessidade
de negociação e prática coletiva de atos de comércio, mas também a de sua proteção, uma
vez que como princípio geral do direito surge a “segurança das relações jurídicas”.

Assim, com a criação das pessoas jurídicas foi possível a prática de atos de
comércio, de responsabilidade delas, dinamizando efetivamente as relações comerciais, e
em sua sistematização foi emprestado, em parte, o conceito e regulamentação das pessoas
jurídicas criadas e reguladas pelo ordenamento civil, também formador do direito privado.

Entre as teorias utilizadas para embasamento do instituto das pessoas jurídicas,


destacam-se dois grupos: as teorias da realidade e as teorias da ficção. Pelas teorias da
ficção as pessoas jurídicas seriam entes fictícios, criados apenas para viabilizar
determinadas atividades. Tais teorias não são adotadas, pois, se considerarmos que as
pessoas jurídicas são entes fictícios, o direito, que emana de pessoas jurídicas de direito
público, também seria, não possuindo, por conseguinte, coercibilidade.

As teorias da realidade, de modo diverso, consideram as pessoas jurídicas como


entes reais, criados para a prática de atos emanados de manifestação de vontade da pessoa
jurídica. Dentre o grupo das teorias da realidade, prevalece a teoria da realidade técnica,
que determina ser a pessoa jurídica uma criação real que viabiliza atos praticados de
acordo com a manifestação complexa da pessoa jurídica, que possui personalidade diversa
da pessoa dos sócios (anteriormente prevista no artigo 20 do Código Civil, que pode ser
extraída atualmente, de maneira interpretativa, do que determina o artigo 47 da Lei 10.406,
de 10. 1.02)

Assim, conclui-se que as sociedades empresárias são formadas de dois institutos


jurídicos, a saber: definição de pessoa jurídica e conceito de atividade empresarial. Com
efeito, diferem elas das sociedades não empresárias notadamente em razão da sua
atividade, conforme oportunamente se verá.

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DIREITO COMERCIAL

1.1. Conceito de Sociedade Empresária


A sociedade empresária, nos termos do Código Civil, é aquela que desenvolve
economicamente uma atividade organizada, seja ela qual for, com o fim de circulação de
mercadorias ou prestação de serviços.

Frise-se que, desenvolvendo atividade empresarial, a sociedade recebe a


denominação de sociedade empresarial. Em contrapartida, caso não desenvolva tais
atividades, receberá a denominação de sociedade simples.

Assim, o critério que difere as sociedades empresariais das simples é o modo como
exploram seu objeto social, isto é, o modo como desenvolvem suas atividades: caso
explore seu objeto organizando profissionalmente os fatores de produção, estaremos diante
de uma sociedade empresária. Caso a exploração não se dê dessa forma, ou seja, não haja
profissionalismo na organização dos fatores de produção, estaremos diante de uma
sociedade simples.

Cumpre salientar, ainda, que certas sociedades serão sempre empresariais, não
importando o tipo de atividade que exerçam, como é o caso das Sociedades por Ações,
segundo o previsto pelo Código Civil, artigo 262, parágrafo único. Por outro lado, prevê
também o Código Civil que as cooperativas serão sempre sociedades simples, não
importando a atividade que desenvolvam. As primeiras são as sociedades empresárias por
determinação legal, enquanto as últimas são as sociedades simples por determinação legal.

Conforme já aludido, e ante a adoção da teoria da realidade técnica, por ser a


sociedade empresarial uma pessoa jurídica, incide sobre ela o quanto determina o artigo 47
do Código Civil, que traz em seu bojo a regra de que a pessoa jurídica não se confunde
com as pessoas dos sócios que a compõem. Assim, como decorrência da sociedade
empresarial possuir personalidade jurídica, destacam-se três efeitos principais, a seguir
explicitados:

• Titularidade e capacidade negocial: determina ser a sociedade, em nome


próprio, quem desenvolve a atividade econômica, assumindo obrigações e
adquirindo direitos na ordem civil e empresarial, e não os sócios que a
compõem.

• Titularidade e capacidade processual: por meio desse efeito, é conferida à


sociedade empresarial legitimidade para estar em juízo em relação aos assuntos
de seu interesse, seja no pólo ativo ou no pólo passivo; não autorizada, ao menos
em regra, a presença em juízo dos sócios que a compõem para a defesa de seus
interesses.

• Responsabilidade patrimonial: a sociedade responde com seu próprio patrimônio


pelas obrigações que assumir, patrimônio esse que não se confunde com o
patrimônio dos sócios que a compõem. Nesse passo, surge divergência
doutrinária, hoje dirimida, a respeito da forma como deve responder a sociedade
irregular ou de fato, bem como seus sócios. Prevalece o entendimento de que,
mesmo irregular, a sociedade possui patrimônio, finalidades e vontade diversa da
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___________________________________________________________________________MÓDULO III
DIREITO COMERCIAL

vontade dos seus integrantes e, por isso, deve responder em um primeiro


momento com o seu patrimônio; e apenas subsidiária, mas ilimitadamente,
responderão os sócios pelas obrigações contraídas pela sociedade irregular ou de
fato, quando já esgotada a força patrimonial destas.

1.2. Formação das Sociedades Empresárias


A doutrina aponta como requisitos para a formação das sociedades dois elementos
de suma importância, quais sejam: pluralidade de sócios e “affectio societatis”.

Pelo instituto da “affectio societatis” entende-se a necessidade de os sócios


manifestarem de modo concreto a intenção de constituir sociedade comercial. A
pluralidade de sócios é elemento fundamental de toda sociedade, notadamente no campo
empresarial, exceto em sede de sociedades anônimas, que permitem dois modos de
sociedade unipessoal, conforme oportunamente se verá.

2. INÍCIO DA PERSONALIZAÇÃO DAS SOCIEDADES

A sociedade empresarial adquire personalidade jurídica com o arquivamento de seus


atos constitutivos no registro competente, a teor do que dispõe o artigo 985 do Código
Civil. Logo, conclui-se que a sociedade regular tem personalidade jurídica, e a sociedade
irregular não, embora lhe confira a lei capacidade processual ativa e passiva.

Entretanto, conforme já aludido, embora uma sociedade irregular tenha titularidade


processual, ou seja, poderá figurar no pólo ativo ou no pólo passivo de ações judiciais, ela
não poderá figurar no pólo ativo de um pedido de falência, nem poderá pedir sua
concordata, exceto quando o seu passivo quirografário for inferior a cem salários
mínimos.Tal disposição encontra-se expressa na Lei de Falências.

Existe uma posição doutrinária que entende adquirir a sociedade empresarial


personalidade jurídica antes de regularizar seus atos no órgão de registro. Essa posição, no
entanto, é minoritária, visto que seria difícil a separação patrimonial entre a sociedade e os
sócios, se não houvesse registro.

3. EXTINÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA

A sociedade empresarial deixa de ter personalidade jurídica quando atravessa um


processo denominado “dissolução”, que poderá, nos termos do Código Civil, ser total ou

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___________________________________________________________________________MÓDULO III
DIREITO COMERCIAL

parcial. Ambas as modalidades de dissolução poderão decorrer da vontade das partes


(dissolução consensual) ou de determinação judicial (dissolução judicial).

As causas da dissolução total encontram-se arroladas nos artigos 1.033 a 1.035 do


Código Civil, enquanto as causas de dissolução parcial, também denominada resolução,
são previstas nos artigos 1.028 e 1.029 do mesmo diploma legal.

O processo de dissolução, como um todo, é formado por três etapas, a saber:

• dissolução (em sentido estrito): é o ato formal que desconstitui a sociedade.


Poderá, conforme dito, ser judicial ou extrajudicial, a depender da natureza do
ato dissolutório;

• liquidação: compreende a realização do ativo e o pagamento do passivo, ou seja,


durante a fase de liquidação os bens da sociedade são alienados e, com o produto
dessa alienação, os credores são pagos;

• partilha: corresponde ao momento em que os sócios participam do acervo social,


ou seja, vendidos todos os bens e pagos todos os credores, os bens que restarem
serão partilhados entre os sócios.

Durante esse processo, a sociedade comercial ainda terá personalidade jurídica,


tendo em vista possuir negócios pendentes a serem terminados.

No processo de liquidação, a sociedade comercial deverá agregar ao seu nome


comercial a expressão “em liquidação” e, além disso, deverá ser nomeado um liquidante,
que será responsável pela liquidação da sociedade, conforme consta no artigo 1.036 do
Código Civil, o qual determina, em sua parte final, que a sociedade comercial em
liquidação deverá cumprir todos os negócios pendentes, não podendo fazer novos
contratos, sob pena de responderem os sócios de maneira solidária e ilimitada, visto que, se
fosse permitida a continuação dos negócios usuais a empresa estaria em plena atividade.

4. A NOMENCLATURA DAS SOCIEDADES EMPRESARIAIS

É cediço que não só a responsabilidade dos sócios, mas também a nomenclatura


desta se modifica de acordo com o tipo societário utilizado na constituição das sociedades
mercantis.

Assim, as sociedades podem se utilizar dos nomes firma (ou razão social) e
denominação.

Firma é a utilização do nome de um ou alguns dos sócios componentes da pessoa


jurídica, seguida, em determinados casos, da expressão companhia, por extenso ou
4
___________________________________________________________________________MÓDULO III
DIREITO COMERCIAL

abreviada, conforme se estudará pormenorizadamente, ao ser analisado cada tipo


societário. Nesse passo, cumpre registrar interessante lição de Maximilianus Claudio
Américo Führer que determina originar-se a expressão “companhia” da Idade Média,
quando as sociedades eram compostas de familiares que sentavam à mesma mesa e
comiam do mesmo pão, originando a expressão “et cum pagnis”, fazendo ainda alusão à
assinatura que os membros utilizavam, coletiva, induzindo a responsabilidade de todos.

Denominação é o nome empresarial utilizado para caracterização da pessoa jurídica,


em que se permite a utilização de “elementos fantasia”, diversos dos nomes dos sócios.

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO III

DIREITO CONSTITUCIONAL
Aplicabilidade das Normas Constitucionais

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DIREITO CONSTITUCIONAL

DIREITO CONSTITUCIONAL

Aplicabilidade das Normas Constitucionais

Professor Ricardo Chimenti

1. CLASSIFICAÇÃO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS QUANTO À


EFICÁCIA JURÍDICA

1.1. Introdução
A doutrina clássica classificava as normas constitucionais em auto-executáveis
(auto-aplicáveis) e não auto-executáveis. Assim, algumas normas seriam imediatamente
aplicáveis e outras não.

O Professor José Afonso da Silva, ao contrário do que entendia a doutrina clássica,


afirmou que todas as normas constitucionais, sem exceção, são revestidas de eficácia
jurídica, ou seja, de aptidão à produção de efeitos jurídicos, sendo assim todas aplicáveis,
em maior ou menor grau.

Para graduar essa eficácia dentro de categorias lógicas, foi proposta a seguinte
classificação:

• norma constitucional de eficácia jurídica plena;

• norma constitucional de eficácia jurídica limitada;

• norma constitucional de eficácia jurídica contida.

1.2. Norma Constitucional de Eficácia Jurídica Plena


Também chamada norma completa, auto-executável ou bastante em si, é aquela que
contém todos os elementos necessários para a pronta e integral aplicabilidade dos efeitos
que dela se esperam. A norma é completa, não havendo necessidade de qualquer atuação
do legislador (exemplo: artigo 1.º da Constituição Federal de 1988).

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DIREITO CONSTITUCIONAL

1.3. Norma Constitucional de Eficácia Jurídica Limitada


É aquela que não contém todos os elementos necessários à sua integral
aplicabilidade, porque ela depende da interpositio legislatoris (interposição do legislador).
Muitas vezes essas normas são previstas na Constituição com expressões como “nos
termos da lei”, “na forma da lei”, “a lei disporá”, “conforme definido em lei” etc.

A efetividade da norma constitucional está na dependência da edição de lei que a


integre (lei integradora). Somente após a edição da lei, a norma constitucional produzirá
todos os efeitos que se esperam dela (exemplo: artigo 7.º, inciso XI, da Constituição
Federal de 1988, que só passou a produzir a plenitude de seus efeitos a partir do momento
em que foi integrada pela Lei n. 10.101/00).

Norma de Eficácia Interposição do Plenitude dos


Jurídica Limitada + legislador (Lei) = efeitos

A aplicabilidade da norma constitucional de eficácia jurídica plena é imediata. No


caso da norma limitada, a aplicabilidade total é mediata.

O constituinte, prevendo que o legislador poderia não criar lei para regulamentar a
norma constitucional de eficácia limitada, criou mecanismos de defesa dessa norma:

• mandado de injunção;

• ação direta de inconstitucionalidade por omissão.

Conforme já foi dito, somente após a edição da lei, a norma constitucional produzirá
todos os efeitos que se esperam dela. Assim, a norma de eficácia limitada, antes da edição
da lei integradora, não produz todos os efeitos, mas já produz efeitos importantes. Além de
revogar as normas incompatíveis (efeito negativo, paralisante das normas contrárias antes
vigentes), produz também o efeito impeditivo, ou seja, impede a edição de leis posteriores
contrárias às diretrizes por ela estabelecidas.

A norma constitucional de eficácia limitada divide-se em:

• Norma constitucional de eficácia jurídica limitada de princípio programático:


todas as normas programáticas são de eficácia limitada. São normas de
organização que estabelecem um programa constitucional definido pelo
legislador. Essas normas são comuns em Constituições dirigentes. Exemplos:
artigo 196 e artigo 215 da Constituição Federal.

• Norma constitucional de eficácia jurídica limitada de princípio institutivo:


aquelas pelas quais o legislador constituinte traça esquemas gerais de
estruturação e atribuições de órgãos, entidades ou institutos, para que o
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DIREITO CONSTITUCIONAL

legislador ordinário os estruture em definitivo, mediante lei.1 Exemplo: artigo 98


da Constituição Federal.

1.4. Norma Constitucional de Eficácia Jurídica Contida (Redutível ou


Restringível)
A norma de eficácia redutível é aquela que, desde sua entrada em vigor, produz
todos os efeitos que dela se espera, no entanto, sua eficácia pode ser reduzida pelo
legislador infraconstitucional. Note-se que enquanto o legislador não produzir a norma
restritiva, a eficácia da norma constitucional será plena e sua aplicabilidade imediata.

Excepcionalmente, uma norma constitucional pode ao mesmo tempo ser de eficácia


limitada e contida, a exemplo do inciso VII do artigo 37 da Constituição Federal.

Exemplo de norma constitucional de eficácia contida é o inciso XII do artigo 5.º da


CF, que assim dispõe: “é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão,
atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer”. A esta ressalva, constante do
dispositivo, a doutrina denomina cláusula expressa de redutibilidade.

Mas é preciso ressaltar que nem todas as normas de eficácia contida contêm
cláusula expressa de redutibilidade. Com efeito, as normas definidoras de direitos não têm
caráter absoluto, ou seja, em alguns casos, orientadas pelos princípios da proporcionalidade
e da razoabilidade, é permitido ao legislador criar exceções, ainda que a norma não tenha
cláusula expressa de redutibilidade. Podemos citar como exemplo o artigo 5.º da
Constituição Federal, que garante o direito à vida, entretanto esse direito foi reduzido
quando o Código Penal admitiu a existência da legítima defesa. Se a norma garantidora do
direito à vida fosse absoluta, não poderia uma norma infraconstitucional restringir esse
direito, permitindo a legítima defesa. Outro exemplo que podemos citar de princípio
consagrado constitucionalmente que não tem caráter absoluto é o da presunção de
inocência (artigo 5.º, inciso LVII, da Constituição Federal). Se esse princípio tivesse
caráter absoluto, a prisão preventiva seria inconstitucional.

1.5. Resumo
Assim, de acordo com a melhor doutrina, as normas constitucionais podem ter:

1
SILVA, José Afonso da. Aplicabilidade das Normas Constitucionais. 4.ª ed. São Paulo: Malheiros, 2000.
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DIREITO CONSTITUCIONAL

Eficácia Plena Eficácia Limitada Eficácia Contida

Aplicabilidade imediata Aplicabilidade mediata Aplicabilidade imediata

Não exige lei que integre Enquanto lei integradora Enquanto a lei não
ou modifique a eficácia não sobrevém; a norma sobrevém, a norma
da norma. não produz seus efeitos terá eficácia plena.
principais.

Por fim, as normas constitucionais podem ser de eficácia exaurida (esvaída) e


aplicabilidade esgotada, conforme leciona Uadi Lammêgo Bulos, classificação que abrange
sobretudo as normas do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias que já efetivaram
seus mandamentos.

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO III

DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO


TRABALHO
Contrato de Trabalho

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DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

Contrato de Trabalho

Prof. Carlos Husek

1. CONTRATO DE TRABALHO

Contrato de trabalho é um negócio jurídico pelo qual uma pessoa física (empregado)
se obriga, mediante o pagamento de uma contraprestação (salário), a prestar trabalho não
eventual em proveito de outra pessoa física ou jurídica (empregador), a quem fica
juridicamente subordinada.

O contrato de trabalho dá início à relação de emprego.

São elementos do contrato de trabalho: a pessoalidade com relação ao empregado, a


onerosidade, a continuidade, ou seja, a não-eventualidade e a subordinação.

Contrato de trabalho e relação de trabalho são a mesma coisa? O vínculo jurídico


que une empregado e empregador pressupõe um acordo de vontades, expresso no contrato
individual de trabalho, como vimos. Todavia trata-se de um contrato regulamentado, ou
seja, seu conteúdo está em grande parte determinado por normas imperativas. Na maior
parte das vezes a manifestação de vontade do empregado, se resume a um ato de adesão a
condições prefixadas pelo empregador ou pela lei. Mas há possibilidade de um acerto sobre
o trabalho (qualidade e quantidade) e salário, prestações essenciais.

Abalados com as restrições ao princípio da autonomia da vontade nesse vínculo


jurídico, alguns autores negam a existência do contrato, substituindo-o pelo conceito da
relação de trabalho e aqui se situam as teorias anticontratualistas.

A expressão relação de emprego é restrita à relação de trabalho subordinado. Ela


corresponde ao contrato de trabalho, mas poderá existir simples relação de emprego
quando o contrato é nulo, em atividades ilegais ou quando a contratação é proibida por lei,
por exemplo nos órgão públicos em funções que exijam a prévia aprovação em concurso
público.

A expressão relação de trabalho é utilizada genericamente para todo o trabalho


prestado a outra pessoa física ou jurídica, com ou sem subordinação jurídica.

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1.1.Características do Contrato de Trabalho

1.1.1. Bilateral ou sinalagmático


No contrato unilateral, só uma parte se obriga; no contrato bilateral, temos a
reciprocidade de direitos e obrigações.

O contrato de trabalho é bilateral ou sinalagmático, isto é, as partes se obrigam


reciprocamente.

1.1.2. Trato sucessivo


O contrato de trabalho, por natureza, é um contrato de trato sucessivo,
caracterizando-se, em princípio, pela idéia de continuidade da relação de emprego. É
contrato de execução contínua. Ele não se exaure com o cumprimento de uma só prestação.
A prestação de trabalho, no contrato, não é do tipo instantânea.

As prestações do contrato de trabalho são cumpridas sucessivamente. Assim, de


regra, realiza-se sem determinação de prazo, sendo somente por via de exceção possível a
sua predeterminação.

1.1.3. Comutatividade
Significa que o dever de um corresponde ao dever do outro. O empregado trabalhar
e o empregador pagar. A estimativa da prestação, de ambas as partes, é conhecida desde o
momento da celebração do contrato.

Traz a idéia de equivalência das prestações recíprocas. Comutatividade é uma


expectativa da manutenção da equivalência das prestações inicialmente ajustadas.

O aumento de salário em face de promoção é obrigatório, tendo em vista a


comutatividade.

A comutatividade não pode ser rompida em desfavor do empregado, somente em


seu favor.

1.1.4. Consensual
É consensual, pois é uma manifestação de vontade das partes; se aperfeiçoa com o
simples consentimento.

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DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

1.1.5. Não-solene
É um contrato não-solene, informal, ou seja, não existe forma especial prevista em
lei para o contrato de trabalho, podendo ele ser escrito ou oral.

Não existe forma definida para o contrato de trabalho (artigos 442 e 443 da
Consolidação das Leis do Trabalho).

Para alguns contratos de trabalho, porém, a lei exige formalidade, como para os
marítimos, temporários etc.

1.2. Requisitos de Validade do Contrato de Trabalho


O Código Civil em seu artigo 104 dispõe que para que seja válido o negócio jurídico
este deve apresentar os seguintes requisitos: agente capaz, objeto lícito, possível,
determinado ou determinável e forma prescrita ou não defesa em lei.

O contrato de trabalho, por ser informal, não exige forma prescrita em lei.

Apresenta somente os requisitos de capacidade do agente e licitude do objeto para


se tornar válido.

1.2.1. Agente capaz


Nem todas as pessoas possuem capacidade para exercer direitos.

As regras de incapacidade do Código Civil valem para o contrato de trabalho,


porém com algumas peculiaridades.

No Direito Civil, são absolutamente incapazes os menores de 16 anos; são


relativamente incapazes os menores entre 16 e 18 anos; e possuem capacidade plena os que
atingiram 18 anos.

No Direito do Trabalho, com a Emenda Constitucional n. 20, o artigo 402 da


Consolidação das Leis do Trabalho proíbe o trabalho do menor de 16 anos, salvo para os
maiores de 14 anos na condição de aprendiz.

Hoje é, portanto, absolutamente incapaz para o trabalho o menor de 16 anos


(observação: para menores, entre os 14 até os 16 anos, somente é permitido o trabalho de
aprendiz).

Relativamente incapazes os menores entre 16 e 18 anos, pois poderão ser estes


menores empregados com autorização do responsável legal.

A capacidade plena, nas relações trabalhistas, é atingida aos 18 anos.

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DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

Consoante o artigo 439 da Consolidação das Leis do Trabalho: “É lícito ao menor


firmar recibo pelo pagamento dos salários”. Tratando-se, porém, de rescisão do contrato de
trabalho, é vedado ao menor de 18 anos dar, sem assistência dos seus responsáveis legais,
quitação ao empregador pelo recebimento da indenização que lhe for devida.

Temos que o menor entre 16 e 18 anos dependerá de autorização de seus


responsáveis legais para efetuar contratos de trabalho ou sua rescisão.

No direito do trabalho, os absolutamente incapazes são representados em todos os


atos do contrato de trabalho, e os relativamente incapazes devem ser assistidos, mas
somente nos atos de contratação e rescisão, pois os demais atos realizados no curso do
contrato podem ser praticados pelo menor relativamente incapaz, sem assistência. A ele é
facultada a prática de alguns atos jurídicos trabalhistas sem perda da sua eficácia.

1.2.2. Objeto lícito


O objeto do contrato de trabalho será ilícito quando o contrato possuir por objeto
um trabalho proibido ou ilegal.

O trabalho é proibido, ou seja, o objeto do contrato de trabalho será ilícito em razão


de uma norma de proteção ao trabalhador (aqui se enquadra o exemplo do menor entre 16 a
18 anos, que não pode trabalhar à noite, nem em trabalho insalubre).

Os contratos que possuem como objeto o trabalho proibido são inválidos, porém
produzem efeitos jurídicos enquanto existirem; pois, caso contrário, o trabalhador acabaria
sendo prejudicado. Portanto, declarada a invalidade, esta não retroage. O trabalhador terá
direito a receber o que lhe for devido, por exemplo, férias, 13º salário, Fundo de Garantia
por Tempo de Serviço (FGTS) etc. Essa aplicação peculiar decorre de uma norma
protecionista do direito ao trabalhador.

No trabalho ilegal o objeto do contrato é considerado ilícito para proteção da


sociedade. Por exemplo, pode ser citado o trabalho em clínica de aborto, o trabalho em
cassino etc.

Parcela da jurisprudência e da doutrina vem entendendo que, nesses casos, a


invalidade retroage, sendo o contrato inválido. Outra parte, porém, sustenta que pelo
menos o salário deve ser pago, para evitar o enriquecimento ilícito, considerando o
contrato válido.

São necessárias algumas diferenciações:

• trabalho legal na atividade ilegal: por exemplo, o trabalho do garçom no


cassino, da recepcionista na clínica do aborto. Nesses casos, a doutrina
dominante vem entendendo que o contrato é válido. Há, porém, quem entenda
que se a atividade que deu causa ao emprego é ilegal (por exemplo, aborto), o
contrato é ilegal e não produz efeitos jurídicos;

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DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

Atenção: com relação ao trabalho prestado à Administração Pública sem concurso


público, com exceção dos cargos de livre nomeação, são nulos e não produzem nenhum
efeito jurídico; neste sentido, Enunciado 363 do Tribunal Superior do Trabalho:

“Contrato nulo. Efeitos. A contratação de servidor público, após a Constituição de 1988,


sem prévia aprovação em concurso público, encontra óbice no seu Artigo 37, II, e § 2º,
somente conferindo-lhe direito ao pagamento da contraprestação pactuada, em relação ao
número de horas trabalhadas, respeitado o salário-mínimo/hora. (redação dada pela
Resolução nº 111/2002 DJ 11.04.2002).”

• trabalho ilegal na atividade ilegal: por exemplo, o médico que realiza aborto.
Nesse caso, o contrato é inválido, assim como orienta o Tribunal Superior do
Trabalho:

“ Orientação Jurisprudencial da SDI (Subseção I) n. 199 do Tribunal Superior do


Trabalho, que estabelece:

Jogo do bicho. Contrato de Trabalho. Nulidade. Objeto Ilícito. Artigos 82 e 145 do


Código Civil.”

Atenção: parte significativa da jurisprudência está reconhecendo o contrato do


anotador (empregado) do jogo do bicho, que se enquadra em trabalho ilegal na atividade
ilegal.

1.3. CONTRATO DE TRABALHO POR PRAZO DETERMINADO

É um contrato a termo final. O contrato extingue-se automaticamente no momento


em que atinge o termo final. Quando o termo final é atingido, não há que se falar em
demissão ou despedida, o contrato termina naturalmente.

Ressalta-se que a regra é o contrato por prazo indeterminado, sendo o contrato por
prazo determinado a exceção. Com a flexibilização do contrato de trabalho, essa regra,
porém, tende a mudar.

O artigo 443, § 2.º, da Consolidação Leis do Trabalhistas, limita as hipóteses de


contrato de trabalho por prazo determinado. São elas:

• atividade empresarial transitória;

• serviço de natureza transitória;

• contrato de experiência.

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DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

Observação: Não devemos confundir o contrato por prazo determinado com o


trabalho temporário, pois, naquele não há nenhum tipo de intermediação de mão-de-obra
como há neste.

1.3.1. Prazo de duração dos contratos com prazo determinado

a) Nas hipóteses de atividade empresarial transitória e serviço de natureza


transitória:

O tempo de duração do contrato por prazo determinado é de no máximo dois anos


(artigo 445 da Consolidação das Leis do Trabalho), admitida uma prorrogação por igual
prazo – desde que esta prorrogação, somada ao tempo anterior, não ultrapasse o limite de
02 anos, que é o máximo que ele poderá viger (artigo 451 da Consolidação das Leis do
Trabalho).

A intenção foi desestimular o uso dos contratos de trabalho por tempo determinado,
tendentes a frustrar a continuação no emprego, a contagem do tempo anterior e o
pagamento de indenização por despedimento.

Fala-se em prorrogação tácita, ou seja, a transformação de um contrato por prazo


determinado em um por prazo indeterminado, quando o trabalhador continue a trabalhar
além do prazo previsto. Entende-se que o contrato foi prorrogado tacitamente. Nos demais
casos em que não houver cláusula expressa, não será admitida a prorrogação.

b) Nas hipóteses de contrato de experiência:

As partes terão um período para se avaliarem mutuamente. O contrato de


experiência deve ser registrado na carteira profissional de trabalho.

Tem por prazo máximo 90 dias. É admitida uma prorrogação, porém o contrato e a
prorrogação devem estar dentro do prazo de 90 dias. Por exemplo, contrato de 60 dias e
prorrogação de 30 dias.

No término do contrato de experiência, o empregador não paga aviso prévio nem 40


% do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço.

Nesse tipo de contrato, trabalhar depois de vencido o prazo implica,


automaticamente, a conversão para contrato por prazo indeterminado.

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DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

1.3.2. Direitos dos Empregados Contratados por Prazo Determinado


Em se tratando de direitos, no contrato por prazo determinado, o empregado não
recebe aviso prévio e a multa de 40% do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (que
seria uma forma de indenização). Por outro lado, terá direito a férias vencidas e
proporcionais com adicional de ⅓ , a 13.º salário (integral ou proporcional) e a levantar o
Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (Lei n. 8.036/90).

É possível, em certas situações, o pagamento de indenização, quando ocorrer


rescisão unilateral (por uma das partes) antes do termo final, casos em que o empregador
dispensa o empregado antes do término do prazo determinado ou quando o empregado
pede demissão antes do prazo determinado.

Quando o empregador dispensa o empregado, a indenização corresponde à metade


dos salários do período restante do contrato de trabalho (artigo 479 da Consolidação das
Leis do Trabalho).

Quando o empregado pedir demissão antes do prazo, a indenização corresponde aos


prejuízos causados ao empregador. Assim, necessário se faz ter havido prejuízo. Nesse
caso, a indenização é limitada, possuindo como teto a metade do salário do período que
faltava para o término do contrato (artigo 480 da Consolidação das Leis do Trabalho).

O artigo 481 da Consolidação das Leis do Trabalho traz a cláusula assecuratória de


rescisão recíproca nos contratos com prazo determinado. Essa cláusula assegura às partes
o direito de rescindir o contrato unilateralmente e antecipadamente ao término do contrato.
Nesse caso, não haverá indenização nos contratos rescindidos antecipadamente. Assim,
teremos uma rescisão na forma do contrato indeterminado; portanto, o empregado terá
direito ao aviso prévio e à multa de 40%. Essa cláusula só é exercida se o contrato for
rescindido antes do tempo, e ela deverá estar contida de forma expressa no contrato.

Em janeiro de 1998, foi aprovada a Lei n. 9.601/98, que foi a primeira lei a
incorporar ao sistema brasileiro a flexibilização do Direito do Trabalho, admitindo o
contrato por prazo determinado em algumas hipóteses.

Essa lei dá uma hipótese a mais àquelas do artigo 443, § 2º da Consolidação das
Leis do Trabalho. O contrato poderá ser por prazo determinado sem o cumprimento das
hipóteses do dispositivo mencionado se cumpridas as exigências da Lei 9.601/98, como
por exemplo:

• contrato utilizado para aumentar o número de funcionários da empresa. Nesse


caso, a finalidade da lei é combater o desemprego;

• pode ser utilizado somente se houver autorização de acordo ou convenção


coletiva pelos sindicatos.

As indenizações previstas nos artigos 479 e 480 da Consolidação das Leis do


Trabalho estão afastadas nos casos de dispensa ou por rescisão antecipada. A indenização
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DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

será fixada pelo acordo ou convenção coletiva. O empregador não terá que pagar multa de
40% e aviso prévio.

A Lei n. 9.601/98 estabelece uma redução do Fundo de Garantia por Tempo de


Serviço em até 2% do salário (o normal é o depósito mensal de 8%), podendo ser superior
a 2%, pois esse valor é o mínimo admitido.

Nessa lei, o sindicato passa a ter grande importância, pois exerce a função
regulamentadora.

Essa lei também reduz em 50% as contribuições sociais, tais como as do SESC
(Serviço Social do Comércio), SENAC (Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial) e
o salário-educação. Só não reduz a contribuição previdenciária.

A redução, porém, só é permitida caso a empresa esteja em dia com as


contribuições. O sindicato, nesse caso, não participa da negociação da redução do valor
dessas contribuições.

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MÓDULO II

DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO


Despesa Pública

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DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

Despesa Pública

Prof. José Marcelo Martins Proença

1. CONCEITO E FINALIDADE

Como aludido em outra oportunidade, em conjunto com as receitas, as despesas


públicas formam o orçamento.

Despesa, na acepção da palavra, significa gasto. Assim, despesa pública é instituto


que tem por fim a verificação dos gastos efetuados pela administração pública.

Com efeito, e conforme anteriormente verificado, toda despesa deve ser,


obrigatoriamente, prevista no orçamento para que possa ser realizada.

Assim, de acordo com as premissas já explicitadas, é possível conceituar despesa


pública, utilizando-se da autorizada doutrina de Aliomar Balleiro: “...é a aplicação de certa
quantia, em dinheiro, por parte da autoridade ou agente público competente dentro de uma
autorização legislativa para execução de fim a cargo do governo”.

A realização das despesas públicas tem finalidade dúplice:

- Assegurar o regular funcionamento dos serviços públicos. Para tanto, designam


o conjunto de dispêndios do Estado, ou de outra pessoa de direito público para o
funcionamento dos citados serviços.

- Aplicar certa quantia, em dinheiro, para execução de um fim a cargo do governo.


Esta aplicação deverá ser feita pela autoridade ou agente público competente e,
para tanto, deve haver uma autorização legislativa.

2. CLASSIFICAÇÃO

É grande o número de classificações, enumeradas pela doutrina, no tocante às


despesas públicas, a depender do critério a ser apreciado. Abaixo, citamos as de maior
interesse para o estudo do tema:

- a depender da renovação a cada orçamento, temos o critério periodicidade,


segundo o qual, podem as despesas públicas ser ordinárias, as quais são
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DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

renovadas a cada orçamento, constituindo, na maioria das vezes, a rotina dos


serviços públicos; ou extraordinárias, as quais não se renovam todos os anos por
se tratarem de serviços de caráter esporádico;

- relacionando-se com o critério produtividade, temos as despesas produtivas, que


criam utilidades por intermédio da atuação estatal; as reprodutivas, as quais
representam o aumento da capacidade produtora do país e as despesas públicas
improdutivas, que correspondem às despesas inúteis;

- decorrente da competência constitucional de cada entidade política, temos as


despesas federais, que se destinam à realização dos fins e dos serviços públicos
que competem exclusivamente à União; as estaduais, as quais encontram-se
relacionadas com as atribuições conferidas aos estados-membros e despesas
públicas municipais, referentes ao exercício da competência municipal). De se
esclarecer que esta classificação é muito criticada, pois existem outras matérias
além das de competência comum entre as três esferas políticas;

- com relação à atividade econômica estabelecida, isto é, quanto à economia,


poderá a despesa ser denominada despesa-compra, a qual é realizada para
compra de serviços e produtos, e despesa-transferência, que se limita a criar
rendimentos para os indivíduos sem qualquer contraprestação destes;

- em decorrência de previsão expressa na Lei n. 4.324/64 temos a denominada


classificação quanto à legalidade, que se divide em despesas concorrentes, as
quais abrangem as despesas de custeio e as transferências concorrentes e
despesas de capital, abrangendo os investimentos, as inversões financeiras e a
transferência de capital.

3. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE

A despesa pública, para que possa ser realizada, exige inclusão em lei orçamentária.
Logo, devido a tal exigência, necessário o respeito ao princípio da legalidade,

Assim, o princípio da legalidade preside as realizações de despesas. Portanto, a


inobservância de normas legais poderá resultar ao agente público crime de
responsabilidade. Ainda, no caso de o agente ordenar ou permitir a realização de despesas
não autorizadas em lei ou regulamento, constituir-se-á ato de improbidade administrativa.

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DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

4. TÉCNICA DE REALIZAÇÃO DA DESPESA PÚBLICA

Para que se realize a despesa pública, via de regra, faz-se necessário percorrer
quatro etapas que, se desviadas, implicam em sua ilegalidade. São as etapas:

a) empenho;

b) liquidação;

c) ordem de pagamento; e

d) pagamento.

A etapa inicial para a realização de uma despesa é seu prévio empenho, o qual
representa reserva de recursos na respectiva dotação inicial ou no saldo existente, ou seja, é
um ato advindo de autoridade competente que cria para o Estado obrigação de pagamento
pendente ou não de implemento de condição, visando, desta forma, garantir os diferentes
credores do Estado, a teor do disposto no artigo 58 da Lei n. 4.320/64.

De se salientar que, de acordo com lição de Celso Ribeiro Bastos, “o empenho não
cria uma obrigação jurídica de pagar, como acontece em outros sistemas jurídico-
financeiros. Ele consiste numa medida destinada a destacar, nos fundos orçamentários
destinados à satisfação daquela despesa, a quantia necessária ao resgate do débito”.

Em uma segunda etapa, procede-se na liquidação da despesa pública, fase na qual,


segundo Alberto Deodato, é observado o direito adquirido pelo credor tendo por base os
títulos e documentos comprobatórios do respectivo crédito. Entretanto, também citado por
Celso Ribeiro Bastos, José Afonso da Silva entende que não é criado direito algum por
meio da liquidação, sendo apenas a confirmação do direito criado pelo contrato
estabelecido entre as partes. A terceira fase de constituição de uma despesa pública,
determinada pelo artigo 64 da Lei 4.320/64, é a ordem de pagamento, a qual se caracteriza
pelo despacho da autoridade competente que determina o pagamento da despesa.

Finalmente, concluindo a execução das despesas públicas, existe a última fase desse
procedimento, que consiste no próprio pagamento, ato pelo qual tem-se por extinta a
obrigação de pagar e realizada, finalmente, a despesa pública.

5. A DISCIPLINA CONSTITUCIONAL E LEGAL DOS PRECATÓRIOS

No que tange aos débitos originários de condenação judicial, as etapas


supramencionadas também devem ser respeitadas. Além das etapas, certos requisitos
expressos no artigo 100 da Constituição Federal, alterado pela Emenda Constitucional
n.30/2000, deverão ser observados.
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___________________________________________________________________________MÓDULO II
DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

Assim, esses débitos são requisitados pelo Presidente do Tribunal que proferiu a
decisão a ser executada, por meio de precatório, sendo este inserido pela autoridade
política devedora na ordem cronológica de apresentação. Exceção se faz aos créditos de
natureza alimentícia, os quais não entrarão nesta ordem. Créditos dessa natureza são os
expressamente previstos no parágrafo 1º-A do artigo 100 da Constituição Federal.

O Executivo não ficará obrigado a requerer abertura de crédito especial para


atendimento dos precatórios no caso de estarem esgotados os recursos orçamentários.
Neste caso, deverá ser demonstrada ao órgão judicial competente a impossibilidade de
cumprir a decisão judicial.

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DIREITO ELEITORAL
Direitos Políticos

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DIREITO ELEITORAL

DIREITO ELEITORAL

Direitos Políticos

Professor Ricardo Cunha Chimenti

1. O ALISTAMENTO ELEITORAL (CAPACIDADE ELEITORAL ATIVA)

Cabe privativamente à União legislar sobre matéria eleitoral (artigo 22, inciso I, da
Constituição Federal). Tanto o Presidente da República (artigo 84, inciso IV, da
Constituição Federal) quanto o Tribunal Superior Eleitoral (artigo 23, inciso IX, do Código
Eleitoral) podem expedir as instruções que julgarem convenientes à boa execução das leis
eleitorais; poder regulamentar que excepcionalmente pode ser exercido também pelos
Tribunais Regionais Eleitorais nas suas respectivas circunscrições (inciso XVII do artigo
30 do Código Eleitoral).

A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data da sua publicação, não
se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência (artigo 16 da
Constituição Federal).

O alistamento eleitoral (integrado pela qualificação e pela inscrição) e o voto são


obrigatórios para os maiores de 18 anos. Contudo, são facultativos para o analfabeto, para
os maiores de dezesseis anos (até a data do pleito, conforme prevê o artigo 12 da
Resolução n. 20.132/98) e menores de dezoito, bem como para os maiores de setenta anos.

Em seu artigo 6.º, o Código Eleitoral (Lei n. 4.737/65) também faculta o alistamento
do inválido e dos que se encontram fora do país. Faculta, ainda, o voto dos enfermos, dos
que se encontram fora de seu domicílio e dos servidores públicos em serviço que os impeça
de votar.

Conforme sustenta Joel José Cândido, “o indígena, capaz de exprimir-se na língua


nacional, pode se alistar, desde que portador de documento, ainda que mero registro
administrativo na FUNAI” 1.

O artigo 7.º do Código Eleitoral especifica as sanções para quem não observar a
obrigatoriedade de se alistar e votar. Sem a prova de que votou na última eleição, pagou a
respectiva multa ou justificou-se devidamente, o eleitor não poderá obter passaporte ou
carteira de identidade, inscrever-se em concurso público, receber remuneração dos entes
estatais ou paraestatais, renovar matrícula em estabelecimento oficial de ensino etc.

O título eleitoral prova a quitação do eleitor para com a Justiça Eleitoral até a data
de sua emissão (artigo 23 da Resolução n. 20.132/98).
1
CÂNDIDO, Joel José. Direito Eleitoral Brasileiro. 8.ª ed. São Paulo: Edipro, 2000. p. 93.
1
___________________________________________________________________________MÓDULO II
DIREITO ELEITORAL

O requerimento de inscrição é submetido à apreciação do juiz eleitoral, que em 48


horas poderá deferi-lo, indeferi-lo ou convertê-lo em diligências. Quinzenalmente, o juiz
eleitoral fará publicar pela imprensa, onde houver, ou por edital os pedidos de inscrição e a
sua decisão.

Da decisão indeferida pode recorrer o eleitor. Da deferida pode recorrer qualquer


delegado de partido. Na qualidade de defensor da ordem jurídica e do regime democrático
(artigo 127 da Constituição Federal), o Ministério Público pode recorrer da decisão
deferida ou da decisão indeferida.

Em se tratando de alistamento eletrônico, hipótese mais comum atualmente, os


recursos devem ser interpostos no prazo de cinco (contra decisão indeferitória) ou dez dias
(contra decisão deferitória), nos termos da Lei n. 6.996/82.

De acordo com o artigo 42 do Código Eleitoral, o alistamento é feito no lugar da


residência ou da moradia do requerente e, verificado ter este mais de uma, será considerado
domicílio qualquer uma delas. Prevalece, por isso, que o domicílio eleitoral não é
necessariamente o local onde o cidadão estabelece a sua residência com ânimo definitivo
(sendo assim inaplicável a regra do artigo 70 do Código Civil).

Ao contrário da legislação eleitoral de 1945, que previa a inscrição ex officio, hoje o


alistamento somente é efetivado a requerimento do interessado.

O artigo 91 da Lei n. 9.504/97 estabelece que nenhum requerimento de inscrição


eleitoral ou de transferência será recebido dentro dos 150 dias anteriores à data da eleição.
Portanto, está revogado o artigo 67 do Código Eleitoral (que fixava o prazo em 100 dias).

Os procedimentos pertinentes ao alistamento e à transferência estão previstos nos


artigos 43 e seguintes do Código Eleitoral e nos artigos 11 e seguintes da Resolução n.
20.132/98 do Tribunal Superior Eleitoral. Exige-se, em síntese, prova de identidade e do
cumprimento das exigências relativas ao serviço militar obrigatório.

No momento da formalização do pedido de inscrição, o alistando manifestará sua


preferência pelo local de votação entre aqueles relativos à sua zona eleitoral e assinará, sob
as penas da lei, formulário padrão que, entre outras informações, destacará seu endereço.

O prazo de alistamento para o brasileiro nato vai até os dezenove anos, e para o
naturalizado é de até um ano após a aquisição da nacionalidade brasileira.

Para fins de transferência, o eleitor deverá comprovar estar quite com a Justiça
Eleitoral, o transcurso de pelo menos um ano da última inscrição e declarar residência
mínima de três meses no novo domicílio. Não comprovada a quitação para com a Justiça
Eleitoral, desde logo o juiz eleitoral fixará a multa devida.

As exigências temporais específicas não se aplicam aos servidores públicos


removidos ou transferidos e aos familiares que os acompanham.

2
___________________________________________________________________________MÓDULO II
DIREITO ELEITORAL

O requerimento de transferência de domicílio eleitoral será imediatamente


publicado na imprensa oficial (na capital) ou em cartório (nas demais localidades),
podendo os interessados impugná-lo em 10 dias. Da decisão cabe recurso para o Tribunal
Regional Eleitoral competente no prazo de três dias.

Inscrever-se fraudulentamente como eleitor caracteriza crime (artigo 289 do Código


Eleitoral).

Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o serviço militar


obrigatório, o conscrito (aquele que, regularmente convocado, presta o serviço militar
obrigatório ou serviço alternativo, incluindo-se no conceito os médicos, dentistas,
farmacêuticos e veterinários que prestam o serviço militar obrigatório após o encerramento
da faculdade – artigo 7.º da Lei n. 5.292, de 8.6.1967). O conscrito que se alistou e adquiriu
o direito de voto antes da conscrição tem sua inscrição mantida, mas não pode exercer o
direito de voto até que o serviço militar ou alternativo esteja cumprido (Resolução n.
15.072/89 do Tribunal Superior Eleitoral).

Aos portugueses com residência permanente no Brasil (independentemente de


naturalização), se houver reciprocidade em favor dos brasileiros, são atribuídos os direitos
inerentes aos brasileiros, salvo os casos previstos na própria Constituição Federal (artigo
12, § 1.º, da Constituição Federal/88, nos termos da Emenda Constitucional de revisão n.
3/94). Restringe-se, assim, a tese pela qual a nacionalidade é pressuposto de cidadania.

Encerrando o tema, Walter Ceneviva (Direito Constitucional Brasileiro. 2.ª ed. São
Paulo: Saraiva, 1991. p. 25) leciona que, observados os requisitos da Constituição Federal
(residência permanente no Brasil e reciprocidade), o cidadão português, além de eleitor,
pode ser Governador de Estado, Senador ou Deputado (mas não Presidente de alguma das
Casas do Congresso, já que, entre outras, tal função é reservada aos brasileiros natos –
artigo 12, § 3.º, da Constituição Federal). Preenchidos os requisitos constitucionais e
legais, pode também ser vereador.

Observe-se, conforme analisaremos no estudo da nacionalidade, que a quase


nacionalidade pode ser restrita (não dá direitos políticos) ou ampla (concede direitos
políticos no limite da reciprocidade).

Atualmente, o artigo 15 da Constituição portuguesa veda a qualquer estrangeiro


(inclusive aos provenientes de países de língua portuguesa) o acesso à titularidade dos
órgãos de soberania e dos órgãos de governo próprio das regiões autônomas, o serviço das
forças armadas e a carreira diplomática.

A outorga de direitos políticos em Portugal aos brasileiros importará suspensão dos


mesmos no Brasil, com a suspensão das inscrições eleitorais eventualmente existentes (§
3.º do artigo 51 da Resolução n. 20.132/98 do Tribunal Superior Eleitoral).

O eleitor obrigado a votar, que se encontra no exterior no dia da votação, tem o


prazo de 30 dias contados de seu ingresso no país para justificar sua falta perante o juiz de

3
___________________________________________________________________________MÓDULO II
DIREITO ELEITORAL

sua zona eleitoral. No caso de estar no país, o eleitor, que tinha obrigação de votar e não o
fez, tem o prazo de 60 dias para justificar sua ausência.

Indeferida a justificação ou decorrido o prazo sem justificativa, será aplicada multa


pelo não exercício do voto, a qual será fixada entre 3% e 10% sobre o valor correspondente
a 33,02 UFIRs (base de cálculo) e destinada ao Fundo Especial de Assistência Financeira
aos Partidos Políticos. O pagamento poderá ser efetuado na agência arrecadadora de
qualquer zona eleitoral, nos termos do artigo 11 do Código Eleitoral e da Resolução n.
20.405/98 do Tribunal Superior Eleitoral.

Nos termos dos §§ 2.º e 3.º do artigo 367 do Código Eleitoral, o eleitor pobre poderá
ser isentado do pagamento da multa. Por outro lado, se mesmo aplicada ao máximo se
mostrar ineficaz em razão da situação econômica do infrator, a multa poderá ser aumentada
em até dez vezes.

Certificado nos autos que a multa não foi satisfeita no prazo de trinta dias contados
do trânsito em julgado da decisão que a fixar (decisão que deve ser publicada ou notificada
ao eleitor), a dívida será inscrita em livro próprio do Juízo Eleitoral ou do Tribunal (caso os
autos lá se encontrem) e assim considerada líquida e certa para efeitos de cobrança,
mediante execução fiscal.

No caso de imposição de multa pelo juiz eleitoral, este deverá providenciar para
que, em até cinco dias do decurso do prazo para pagamento, os autos (com a certidão da
dívida inscrita) sejam encaminhados ao Tribunal Eleitoral competente, o qual se reportará
diretamente à Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional.

Comunicada pela Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional a liquidação da dívida, a


ocorrência será anotada nos autos e registrada no Livro de Inscrição de Multas Eleitorais
(Resolução n. 20.405/98 do Tribunal Superior Eleitoral e Portaria n. 94/99 do Tribunal
Superior Eleitoral).

1.1. Revisão do Eleitorado

Quando houver denúncia fundamentada de fraude no alistamento junto a uma zona ou


Município, o Tribunal Regional Eleitoral, observadas as regras determinadas pelo Tribunal
Superior Eleitoral, poderá determinar correição e, provada a fraude em proporção
comprometedora, ordenará a revisão do eleitorado com o cancelamento dos títulos que não
foram apresentados à revisão (§ 4.º do artigo 71 do Código Eleitoral).

O Tribunal Superior Eleitoral determinará de ofício a revisão sempre que o total de


transferências ocorridas no ano em curso for 10% superior ao do ano anterior, quando o
eleitorado for superior ao dobro da população entre 10 e 15 anos somada à de idade
superior a 70 anos do território daquele Município, ou ainda, na hipótese de o eleitorado
ser superior a 65% da população projetada pelo IBGE para aquele ano (artigo 92 da Lei n.
9.504/97 e artigo 57 da Resolução n. 20.132/98 do Tribunal Superior Eleitoral).
4
___________________________________________________________________________MÓDULO II
DIREITO ELEITORAL

1.2. Cancelamento da Inscrição Eleitoral

As causas de cancelamento da inscrição eleitoral (o alistamento eleitoral é uma das


condições de elegibilidade) estão explicitadas no artigo 71 do Código Eleitoral. São elas:

I – infração do artigo 5.º do Código Eleitoral, que veda o alistamento como eleitores dos
que não saibam exprimir-se na língua nacional (conceito que não restringe o alistamento e
o voto dos deficientes que têm capacidade de expressar sua vontade) ou que estejam
privados dos seus direitos políticos;

II – infração do artigo 42 do Código Eleitoral, que veda o alistamento dos que estão
privados temporária ou definitivamente dos direitos políticos;

III – a suspensão ou perda dos direitos políticos;

IV – a pluralidade de inscrições;

V – o falecimento do eleitor, devendo o cartório de registro civil, até o dia 15 de cada


mês, enviar ao Juiz eleitoral a comunicação dos óbitos dos cidadãos alistados;

VI – deixar de votar em três eleições consecutivas. Conforme estabelece o § 3.º do


artigo 7.º do Código Eleitoral, regulamentado pelo § 3.º do artigo 78 da Resolução n.
20.132/98 do Tribunal Superior Eleitoral, será cancelada a inscrição do eleitor que se
abstiver de votar em três eleições consecutivas, salvo se houver apresentado justificativa
para a falta ou efetuado o pagamento da multa, ficando excluídos do cancelamento os
eleitores que, por prerrogativa constitucional, não estejam obrigados ao exercício do voto e
cuja idade não ultrapasse 80 anos.

Havendo segundo turno, cada um deles será considerado uma eleição para os efeitos de
cancelamento ou imposição de multa (inciso V do artigo 82 da Resolução n. 20.292/98).

A exclusão do eleitor poderá ser promovida ex officio pelo juiz eleitoral ou a


requerimento do Ministério Público, de delegado de partido ou de qualquer eleitor.

Durante o processo de exclusão, o eleitor poderá votar normalmente. Os votos, se em


número suficiente para alterar a representação proporcional ou a classificação dos eleitos
pelo princípio majoritário, poderão ser considerados nulos se ao final a decisão excludente
se tornar definitiva.

Autuada a informação, o juiz eleitoral determinará a publicação de edital no prazo


de dez dias. O edital é dispensável no caso de falecimento. Os interessados (inclusive outro
eleitor ou delegado de partido – artigo 73 do Código Eleitoral) poderão contestar dentro de
cinco dias. Se necessário, serão produzidas provas em cinco dias. O julgamento se dará em
cinco dias, podendo o excluendo, o Ministério Público ou o delegado de partido recorrer
para o Tribunal Regional Eleitoral em três dias.
5
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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO II

DIREITO INTERNACIONAL
Direito Internacional e Direito Interno

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Praça Almeida Júnior, 72 – Liberdade – São Paulo – SP – CEP 01510-010
Tel.: (11) 3346.4600 – Fax: (11) 3277.8834 – www.damasio.com.br
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DIREITO INTERNACIONAL

DIREITO INTERNACIONAL

Direito Internacional e Direito Interno

O Direito Interno e o Direito Internacional se completam para aqueles que, como


nós, acreditam numa ordem jurídica internacional que abrange todas as ordens internas.

O monismo e o dualismo são duas teorias básicas que buscam resolver os problemas
de conflitos entre as normas nacionais e as normas internacionais e que procuram dar uma
visão do mundo jurídico interno e internacional, separando tais mundos ou unindo-os
numa mesma realidade jurídica.

Monismo vem de mono, único, um só. Para os monistas, o Direito é um só. O


monismo com primazia no Direito Interno entende que o Direito Internacional advém de
direitos dos Estados. Estes, ao se relacionarem, geram o Direito Internacional. Na verdade,
tais monistas negam o Direito Internacional. Já o monismo com primazia no Direito
Internacional coloca esse direito em posição de superioridade. Os diversos direitos
nacionais se subordinam a um direito maior, o Direito Internacional:

Direito Interno Direito Internacional

Direito Direito
Internacional Interno

Monismo com Monismo com


primazia no primazia no Direito
Direito Interno Internacional

Existem ainda os moderados – monistas com primazia no Direito Internacional


moderado – que estabelecem a prioridade do Direito Internacional, exceção feita para
algumas matérias em relação às quais prevalece o Direito Interno.

O dualismo acredita na existência de duas ordens distintas: a do Direito Interno e a


do Direito Internacional.

A ordem interna cuida de problemas internos do Estado e a ordem internacional das


relações internacionais desses mesmos Estados e dos organismos internacionais. Não se
1
___________________________________________________________________________MÓDULO II
DIREITO INTERNACIONAL

confundem:

Direito Interno Direito Internacional

Na possibilidade de conflito entre uma norma advinda de um tratado – norma


internacional – e uma norma estatal, prevalecerá para os monistas uma só ordem (interna
ou internacional, dependendo da corrente monista adotada). Os dualistas entendem que
esse conflito não haverá, porque as ordens têm campos diversos. Se ocorrer, todavia, o
conflito, a norma internacional importante será incorporada ao Direito Interno e passará a
valer como norma interna.

O pensamento monista com primazia no Direito Interno resolve eventual conflito


advindo das relações internacionais com a sua própria norma. Para esse pensamento, as
relações do Estado na área internacional são políticas, econômicas, jurídicas, mas
dependentes da vontade do Estado. O Direito Internacional não existe, é um fato, e o
entendimento entre os países tem base nos seus interesses e nas forças do momento.

A CF tem vários artigos que ora nos posicionam como monistas com primazia do
Direito Internacional radicais (ex.: art. 7.º do ADCT e § 2.º do art. 5.º da CF), ora como
moderados (ex.: art. 105, III, “a”, da CF). Por este último artigo, o tratado tem natureza de
lei ordinária federal e, portanto, está abaixo da CF.

Também nos posicionamos como dualistas, porque os tratados assinados pelo Brasil
devem passar pelo crivo do Congresso Nacional para serem ratificados (art. 84, VIII, da
CF) e depois serão transformados em uma espécie normativa interna (decreto legislativo,
decreto etc.).

DUALISMO (duas ordens distintas)

TEORIAS com primazia no Direito Interno

MONISMO com primazia no Direito Internacional

com primazia no Direito Internacional


Moderado

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO III

DIREITO PENAL
Fato Típico

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DIREITO PENAL

DIREITO PENAL

Fato Típico

Prof.: Fernando Capez

1. INTRODUÇÃO

Já estudamos o conceito formal de crime: é o fato típico e antijurídico.

O fato típico é o primeiro requisito do crime. Consiste no fato que se amolda no


conjunto de elementos descritivos contidos na lei penal.

2. ELEMENTOS DO FATO TÍPICO

O fato típico é composto dos seguintes elementos:

• conduta dolosa ou culposa;

• resultado (nos crimes materiais);

• nexo de causalidade entre a conduta e o resultado (nos crimes materiais);

• tipicidade (enquadramento do fato material a uma norma penal).

2.1. Conduta
Conduta é toda ação ou omissão humana, consciente e voluntária, voltada a uma
finalidade.

O pensamento não existe para o Direito Penal, ou seja, uma pessoa não pode ser
punida somente por pensar em praticar um crime (cogitationis poenam nemo patitur). Se
alguém, por exemplo, pensa em matar outrem, somente será punido se exteriorizar seu
pensamento praticando a ação ou a omissão delitiva.

A ação é um comportamento positivo, é um fazer. A omissão é uma abstenção de


movimento, é um não fazer. A conduta é, portanto, a exteriorização de um pensamento por
meio de uma ação ou uma omissão.
1
___________________________________________________________________________MÓDULO III
DIREITO PENAL

A conduta não se confunde com o ato, sendo este momento daquela. Podem existir
condutas ou fatos que se compõem de um único ato, havendo uma coincidência entre ato e
fato (unissubsistentes). Em contrapartida, existem fatos ou condutas compostas de diversos
atos (plurissubsistentes).

Somente a pessoa física pode praticar fato típico, visto que este pressupõe vontade e
somente os seres humanos possuem vontade. Quanto à pessoa jurídica, embora haja
divergência, grande parte da doutrina sustenta que não poderá praticar o fato típico por não
possuir vontade. Hoje, no entanto, em relação aos crimes ambientais (Lei n. 9.605/98,
artigos 3.º e 21 a 24), a pessoa jurídica pode praticar fato típico, sendo possível ser
responsabilizada criminalmente.

Não haverá conduta sem vontade, ou seja:

• o caso fortuito ou força maior eliminam a vontade, inexistindo a conduta e, por


conseqüência, o fato típico;

• os reflexos (causados por excitação de um nervo sensitivo) não caracterizam a


conduta, pois não há vontade;

• a conduta praticada mediante coação física (vis absoluta) elimina a vontade, no


entanto, a conduta praticada mediante coação moral (vis compulsiva), ainda que
seja irresistível, não exclui a vontade, apesar de neste caso não haver
culpabilidade.

• também não há conduta nos casos de movimentos praticados durante o sonho


ou sonambulismo, sob sugestão ou hipnose e em estado de inconsciência.

2.1.1. Teorias da conduta


a) Teoria naturalista ou causal

Essa teoria foi exposta no tratado de Franz Von Liszt, sob influência da filosofia
positivista dominante em fins do século XIX. Suas idéias pretendiam incorporar as leis da
natureza no Direito Penal (daí o nome naturalista). Para essa teoria, a ação é considerada
um puro fator de causalidade (daí o nome causal), uma simples produção do resultado,
mediante o emprego de forças físicas. A conduta é simples exteriorização de movimento
ou abstenção de comportamento, desprovida de qualquer finalidade, sendo desnecessário
para caracterização do crime saber se houve dolo ou culpa, sendo necessário somente
indagar quem foi o causador material. Nessa linha de idéias, citamos um exemplo: um
sujeito conduz seu veículo com prudência na via pública e, sem que possa prever, um
suicida se joga na frente do veículo e, atingido por este, vem a falecer. Para a teoria
naturalista, o motorista, que não quis matar nem agiu com culpa, cometeu homicídio,
ficando a análise do dolo e da culpa para um momento posterior, quando da aferição da
culpabilidade. Hans Welzel criticou essa teoria, pois para ele não se pode considerar apenas
o aspecto material do delito, devendo-se também atentar-se para a natureza do
2
___________________________________________________________________________MÓDULO III
DIREITO PENAL

comportamento reprovável. Para Welzel, a teoria naturalista só se preocupa com o aspecto


causal, o que gera dificuldades para explicar o delito omissivo (uma vez que o delito de
omissão não pode originar nenhuma causalidade). A teoria causal também não conseguia
explicar a doutrina da tentativa.

b) Teoria finalista

O conceito finalista da ação, que começou a ser elaborado no final da década de 20


por Hans Welzel, constitui uma reação à teoria causal.

Contestando a teoria causal, Welzel e outros doutrinadores do seu tempo


questionavam: por que o homicídio culposo tem pena inferior à do homicídio doloso?
Acreditava-se não ser possível que tal diferenciação dependesse do resultado, que é sempre
o mesmo: a morte. Concluíram, então, que a diferença de tratamento legal não depende da
causa do resultado, mas sim da forma como foi praticada a ação.

Nessa linha de pensamento, podemos imaginar a seguinte hipótese: um homem,


vestido de bata branca, toca fisicamente em uma moça despida. Observando esse
acontecimento objetivamente, é possível saber se o homem praticou uma conduta
desonesta? Não, pois, conforme sua vontade, pode ter praticado um exame médico ou uma
ação desonesta punível. Nesse caso, observando somente o resultado, é impossível saber se
houve crime ou mero exame clínico, sendo imprescindível descobrir qual era a vontade do
agente.

Esta foi a conclusão a que chegaram: a finalidade é elemento inseparável da


conduta, ou seja, não existe conduta típica sem vontade e finalidade. Para a teoria finalista,
a vontade gera a conduta.

Nosso ordenamento legal filiou-se à teoria finalista. O Código Penal, em seu artigo
18, reconhece que o crime deve ser doloso ou culposo. No caso, portanto, de o sujeito vir a
matar alguém, sem dolo ou culpa, como no exemplo do motorista, citado anteriormente,
embora tenha se produzido o resultado morte, não se pode falar em crime.

Observe-se que o finalismo retirou o dolo e a culpa da culpabilidade, trazendo-os


para o fato típico (conduta dolosa ou culposa). Assim, sem dolo e culpa não há fato típico.

c) Teoria social

Para essa teoria, defendida por Hans-Heinrich Jescheck, somente haverá crime se a
conduta do agente for socialmente inadequada. Para ele, o Direito Penal só deve cuidar
daquelas condutas voluntárias que produzam resultados típicos de relevância social. Se, por
exemplo, um jogador de futebol, durante o jogo, desfere um pontapé no adversário para
evitar que este marque um gol, não comete crime, pois praticou um fato típico, mas
socialmente compreensível.

Critica-se essa teoria sob o argumento de que o costume não pode revogar a lei. Ao
julgador não é dado legislar, mas somente aplicar as leis postas. O critério para eleger
determinada conduta crime ou irrelevante penal, de acordo com a nocividade social do

3
___________________________________________________________________________MÓDULO III
DIREITO PENAL

comportamento, deve ficar a cargo do legislador, detentor de mandato popular, e não do


juiz, de acordo com as regras jurídicas vigentes.

Outro defeito dessa teoria reside na extensão do conceito de relevância social.

Como se nota, a teoria social da ação pretendeu ir além da teoria finalista, mas, na
verdade, ao privilegiar o resultado (“socialmente relevante”), perdeu em essência e
caracterizou um retorno à teoria naturalista ou causal, hoje tão criticada. Preferível,
portanto, a orientação finalista, que, aliás, foi a adotada pelo Código Penal.

2.1.2. Conduta comissiva


Ação é o comportamento positivo, movimentação corpórea, facere.

Segundo o Professor Damásio de Jesus, a ação é a que se manifesta por intermédio


de um movimento corpóreo tendente a uma finalidade.

A maioria dos núcleos dos tipos se consubstancia em modos positivos de agir, como
matar, apropriar-se, destruir etc.

2.1.3. Conduta omissiva


Existem duas teorias a respeito da omissão:

• Teoria naturalística da omissão: a omissão é um fazer, é perceptível no mundo


natural como algo que muda o estado das coisas, ou seja, quem se omite dá
causa ao resultado.

• Teoria normativa da omissão: quem se omite não faz nada e o nada não causa
coisa alguma, não tem relevância causal. Excepcionalmente, porém, embora
não tendo produzido o resultado, o omitente responderá por ele quando a lei lhe
impuser o dever jurídico de agir. Por isso é chamada teoria normativa, pois,
para que a omissão tenha relevância causal (por presunção legal), há
necessidade de uma norma impondo, na hipótese concreta, o dever jurídico de
agir.

2.1.4. Espécies de crimes omissivos


Existem duas espécies de crimes omissivos:

• Crime omissivo próprio ou puro: a conduta negativa é descrita no preceito


primário da lei penal. Nesse caso, o omitente responderá por sua própria conduta
e não pelo resultado (exemplo: artigo 135 do Código Penal – omissão de
4
___________________________________________________________________________MÓDULO III
DIREITO PENAL

socorro). Nesses crimes, a simples omissão é suficiente para a consumação,


independente de qualquer resultado.

• Crime omissivo impróprio, espúrio, impuro, promíscuo ou comissivo por


omissão: o agente tem o dever jurídico de agir para evitar o resultado e,
podendo, não age. Assim, o agente não faz o que deveria ter feito. Há, portanto, a
norma dizendo o que ele deveria fazer, passando a omissão a ter relevância
causal. Como conseqüência, o omitente não responde só pela omissão como
simples conduta, mas pelo resultado produzido, salvo se esse resultado não lhe
puder ser atribuído por dolo ou culpa.

Saliente-se que os crimes omissivos impróprios admitem a tentativa, ao passo que os


omissivos próprios não. Outra distinção importante: os omissivos impróprios podem ser
dolosos ou culposos; os omissivos próprios são sempre dolosos.

Nos termos do artigo 13, § 2.º, do Código Penal, são três as hipóteses de dever
jurídico de agir:

• Dever legal: quando a lei impõe a obrigação de cuidado, proteção ou vigilância


(exemplo: responderá por homicídio o policial militar que assistir a um jovem
sendo morto e, podendo evitar o resultado, nada faz).

• Dever do garantidor: hipótese do agente que, por lei, não tem nenhuma
obrigação de cuidado, proteção ou vigilância, no entanto assume essa obrigação
por meio de um contrato (exemplo: uma babá contratada para tomar conta de
uma criança responderá pelo resultado caso aconteça algo com ela). O
garantidor também pode advir da liberalidade, ou seja, alguém que assume
livremente a obrigação, independentemente de contrato.

• Ingerência dentro da norma: agente que, com seu comportamento anterior,


criou o risco para a produção do resultado (exemplo: se alguém empurra um
cardíaco na piscina, por brincadeira, deve socorrê-lo e impedir o resultado).

2.2. Resultado
Para grande parte da doutrina, não há diferença entre resultado e evento, entretanto,
há quem entenda que evento é qualquer acontecimento (exemplo: um raio provoca um
incêndio) e resultado é a conseqüência de uma conduta humana juridicamente relevante.

Há duas espécies de resultado: resultado jurídico e resultado naturalístico.

2.2.1. Resultado jurídico


É a conseqüência jurídica do crime, ou seja, é a lesão ou perigo de lesão ao bem
jurídico protegido.
5
___________________________________________________________________________MÓDULO III
DIREITO PENAL

Sob o aspecto jurídico, não há crime sem resultado, pois todo crime fere ou expõe a
perigo um bem jurídico. Não aceitamos essa teoria.

2.2.2. Resultado naturalístico


É a modificação que a conduta provoca no mundo natural, no mundo concreto
(exemplo: antes do furto, a vítima tinha posse do seu patrimônio). Nem todos os crimes
possuem resultado naturalístico. De acordo com a existência ou não do resultado
naturalístico, é possível classificar os crimes em três espécies:

• Crimes materiais: são crimes que somente se consumam com a produção do


resultado naturalístico, ou seja, o resultado naturalístico integra o próprio tipo
penal (exemplos: homicídio, furto, seqüestro etc.).

• Crimes formais: são crimes em que a ocorrência do resultado naturalístico,


apesar de admitida, não é relevante, pois se consumam antes e
independentemente de sua produção. O crime formal aloja um tipo
incongruente, pois, conforme dito, admite resultado naturalístico, mas não o
exige para sua consumação (daí a incongruência). Nesses crimes, a produção do
resultado naturalístico é considerada mero exaurimento, o que influenciará a
fixação da pena (artigo 59). (exemplo de crime formal: extorsão mediante
seqüestro: nesse crime, o resultado naturalístico visado é a obtenção da
vantagem econômica e conseqüente diminuição do patrimônio da vítima; no
entanto, o crime se consuma no momento em que a vítima é seqüestrada,
independentemente do recebimento ou não do resgate).

• Crimes de mera conduta: o tipo não prevê a ocorrência de resultado


naturalístico (exemplos: crime de desobediência, violação de domicílio).

2.3. Nexo Causal


É o elo que se estabelece entre a conduta e o resultado naturalístico. O nexo causal é
uma relação ditada pelas leis da física, da causa e efeito. Dizer que existe nexo causal é
dizer que, por meio das leis da física, a conduta provocou o resultado.

Somente há nexo causal nos crimes materiais e comissivos (praticados por meio de
ação).

2.3.1. Teoria da equivalência dos antecedentes


O Código Penal adotou a teoria da equivalência dos antecedentes conhecida como
teoria da conditio sine qua non. Para essa teoria, tudo que tenha contribuído, de qualquer
modo, para o resultado considera-se sua causa (artigo 13, caput, do Código Penal). A lei
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DIREITO PENAL

atribui relevância causal a todos os antecedentes do resultado, considerando que nenhum


elemento de que depende a sua produção pode ser excluído da linha de desdobramento
causal. Tudo que retirado da cadeia de causa e efeito provocar a exclusão do resultado
considera-se sua causa.

Para se estabelecer se a conduta foi causa do resultado, basta aplicar o critério da


eliminação hipotética que consiste em fingir que uma conduta não foi praticada. Se a
eliminação da conduta fizer com que desapareça o resultado é porque a conduta causou o
resultado. Se “apagando” a conduta e o resultado permanecer, significa que aquela não foi
causa deste.

Pergunta-se: Diante da teoria da equivalência dos antecedentes, não poderia haver


uma responsabilização muito ampla, na medida em que são alcançados todos os fatos
anteriores ao crime?

Os pais não responderiam pelos crimes praticados pelo filho? Afinal, sem os pais,
não existiria o filho nem o delito por ele praticado.

Nessa linha de raciocínio, não se chegaria a um regressus ad infinitum?

Resposta: Não. A teoria da equivalência dos antecedentes situa-se no plano


exclusivamente físico, resultante da aplicação da lei natural de causa e efeito. Assim, é
claro que o pai e a mãe, do ponto de vista naturalístico, deram causa ao crime cometido
pelo filho, pois se este não existisse, não teria realizado o delito. Não podem, entretanto,
ser responsabilizados por essa conduta, ante a total ausência de voluntariedade, ou seja, se
não agiram com dolo ou com culpa não existiu ação ou omissão típica. Conclui-se, então,
que para o Direito Penal é insuficiente o nexo meramente causal-natural, sendo
imprescindível para a existência do fato típico a presença do dolo ou da culpa (necessários
para a tipicidade).

Como se vê, a teoria da conditio sine qua non não resolve a questão do nexo de
causalidade, surgindo a teoria da imputação objetiva para solucionar o problema do
regresso causal.

2.3.2. Teoria da imputação objetiva


Essa teoria, conforme já foi dito, surgiu para limitar o problema de nexo de
causalidade entre a conduta e o resultado naturalístico.

Para a teoria da imputação objetiva, um comportamento socialmente adequado,


tolerado, permitido pelo ordenamento jurídico, jamais poderá ser causador de um resultado
proibido, típico. Se, por exemplo, em uma luta de boxe (comportamento permitido) houver
morte ou lesões graves, o fato será atípico. Não é necessário, nesse caso, questionar se
houve dolo ou culpa, pois no plano objetivo a conduta é permitida.

Para a existência do nexo causal, na teoria da imputação objetiva, é necessário que a


conduta do agente crie uma condição de risco relevante e juridicamente proibido. Não
7
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DIREITO PENAL

basta a pessoa contribuir casualmente para o resultado, deverá haver um risco excepcional,
anormal.

Citamos o exemplo dado pelo Professor Damásio de Jesus: suponha-se que um


filho, para ficar com a herança do pai, induza-o a visitar, num dia de forte chuva, um monte
que, por razões minerárias, sofre muitas descargas elétricas durante as tempestades.
Imagine-se que, desavisado, o pai visita o monte e é atingido por um raio. Nesse exemplo,
para a teoria da conditio sine qua non, o filho responderia pelo resultado, pois eliminando o
induzimento, a vítima não iria ao monte e não encontraria a morte. Essa solução,
entretanto, não é correta, pois o filho apenas criou para o pai um risco permitido, um risco
normal para a sociedade. Convidar uma pessoa para um passeio não é proibido, mesmo que
possa gerar algum risco para o convidado (risco normal, como ir a um parque de diversões,
por exemplo). O filho, como se vê, não praticou ato executório de homicídio, pois apenas
fez um convite, não tinha, no caso, domínio sobre o fato.

Essa doutrina vem sendo muito discutida, mas no Brasil ainda não é aplicada.

2.3.3. Concausa
É uma causa que concorre paralelamente à conduta, contribuindo para a produção
do resultado. A reforma penal de 1984 abandonou totalmente o conceito de concausa.
Como foi adotada a teoria da conditio sine qua non, não há por que fazer diferenciação
entre causa e concausa, tendo em vista que tudo o que acontecer para a produção do
resultado será considerado causa.

2.3.4. Espécies de causas


São duas as espécies de causas:

• Causas dependentes: são aquelas que se encontram dentro da linha normal de


desdobramento causal da conduta. É causa decorrente logicamente da conduta,
um encadeamento causal previsível e esperado. As causas dependentes jamais
rompem o nexo causal (exemplo: disparo de arma de fogo, ferimento,
rompimento de artérias, hemorragia interna e morte).

• Causas independentes: são aquelas que se encontram fora da linha normal de


desdobramento causal da conduta. Seu surgimento não é uma decorrência
esperada, lógica, natural do fato anterior, mas, ao contrário, um fenômeno
totalmente inusitado, imprevisível. A causa independente se destaca da conduta,
ou seja, não se sabia que, ao praticar a conduta, haveria aquela causa. Exemplo:
não é uma conseqüência normal de um simples susto a morte por parada
cardíaca.

As causas independentes podem ser absolutamente ou relativamente independentes.

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DIREITO PENAL

2.3.5. Causas absolutamente independentes


Além de produzir sozinha o resultado, a causa absolutamente independente tem uma
origem completamente diversa da conduta, ou seja, ocorreria ainda que a conduta nunca
tivesse sido praticada (exemplo: o agente planeja a morte da vítima; quando esta está
passando, antes de o agente atirar, a vítima sofre um ataque cardíaco e vem a falecer;
independentemente da conduta, o resultado aconteceria). Podem ser:

a) Preexistentes: atuam antes da conduta. Exemplo: o genro, com intenção


de envenenar a sogra, ministra arsênico no jantar da vítima. Ao terminar
o jantar, a vítima morre. Constata-se, então, que a causa da morte da
vítima foi o envenenamento produzido pela nora no café da manhã.
Observe-se que a morte não foi causada pela conduta do genro, pois o
arsênico leva 16 horas para fazer efeito. Não há, portanto, nexo causal.
Nesse caso, o genro responderá por tentativa de homicídio.

b) Concomitantes: atuam ao mesmo tempo da conduta. Exemplo: durante o


jantar, 4 assaltantes invadem a residência de uma pessoa que está sendo
envenenada. Esta pessoa reage ao assalto e é assassinada. Não há nexo
causal.

c) Supervenientes: atuam após a conduta. Exemplo: após ser envenenada,


mas ainda viva, desprende-se o lustre sobre a cabeça da vítima, matando-
a. Não há nexo causal.

Observe-se que, nos exemplos citados, as causas rompem totalmente o nexo causal,
razão pela qual o agente só responderá pelos atos até então praticados.

2.3.6. Causas relativamente independentes


A causa relativamente independente produz por si só o resultado, contudo origina-se
da conduta, ou seja, a causa apareceu por conta da conduta e, inesperadamente, produziu o
resultado. Podem ser:

a) Preexistentes: atuam antes da conduta. Exemplo: o agente corta o braço da


vítima, que é hemofílica, e esta morre em decorrência da hemorragia. A
hemofilia é causa preexistente ao resultado. Existe nexo causal, mas o autor
deverá responder por lesão corporal, diante da ausência de dolo de matar (se o
agente não sabia que a vítima era hemofílica).

b) Concomitantes: atuam ao mesmo tempo da conduta. Exemplo: o ladrão anuncia


o assalto apontando um estilete para a vítima, que desmaia e morre de infarto.
Há nexo causal, mas não houve dolo nem culpa em matar. Nesse caso o agente
responderia por tentativa de roubo.

c) Supervenientes: atuam após a conduta. Exemplo: uma pessoa baleada no peito


está sendo levada ao hospital, quando a ambulância que a transporta capota,
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DIREITO PENAL

fazendo com que a vítima morra em decorrência de ter sua cabeça esmagada.
Supondo que o agente teve dolo de matar, por qual crime ele deverá responder?

As causas relativamente independentes não têm o condão de romper o nexo causal.


No caso das causas preexistentes e concomitantes, como existe nexo causal, o agente
responderá pelo resultado, a menos que não tenha concorrido para o mesmo com dolo ou
culpa. Afinal, dizer que existe nexo causal não dispensa a presença do elemento
psicológico (dolo) ou normativo (culpa) da conduta, sem os quais o fato será atípico.

Na hipótese, porém, das supervenientes, embora exista nexo causal físico-


naturalístico, o Código Penal, por expressa disposição do artigo 13, § 1.°, excepcionando a
regra geral, manda desconsiderá-lo, não respondendo o agente pelo resultado, mas somente
por tentativa.

2.3.7. Complicações cirúrgicas e infecção hospitalar


Nesses casos, a causa é dependente ou relativamente independente?

O Tribunal de Justiça de São Paulo entendeu que nesses casos a causa é dependente,
porque estatisticamente complicações cirúrgicas ocorrem com freqüência. Nesse caso o
agente responde por homicídio consumado se agiu com dolo ou culpa.

2.4. Tipicidade
O tipo é o modelo descritivo da conduta contido na lei. Quando o fato praticado
pelo agente se enquadra no tipo, ocorre a tipicidade.

O tipo legal é composto de elementares e circunstâncias.

2.4.1. Elementares
Elementar é todo componente essencial, imprescindível para a existência do tipo
penal. Ausente a elementar, o tipo penal desaparece (atipicidade absoluta) ou o tipo penal
será outro (atipicidade relativa).

Por serem essenciais, os elementos estão sempre no caput da norma incriminadora,


por isso o caput é chamado de tipo fundamental. Existem, no entanto, algumas figuras
típicas descritas em parágrafos; essas figuras, chamadas de figuras equiparadas, são as
únicas exceções.

2.4.2. Circunstâncias
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DIREITO PENAL

Circunstâncias são dados acessórios que ficam agregados ao tipo penal e cuja
função é influenciar na fixação da pena. A circunstância não é imprescindível para a
existência do crime, podendo torná-lo mais grave ou menos grave.

Ressalte-se que o crime será mais ou menos grave em decorrência da circunstância,


entretanto será sempre o mesmo crime (exemplo: furto durante o repouso noturno; trata-se
de circunstância, tendo em vista que, sendo ou não durante o repouso noturno, ainda assim
existirá o furto).

A circunstância não integra a essência do tipo penal, ou seja, se for retirado, o tipo
não deixa de existir. As circunstâncias estão dispostas em parágrafos (exemplo:
qualificadoras, privilégios etc.), não servindo para compor a essência do crime, mas sim
para influir na pena.

2.4.3. Espécies de elementos (elementares)


São três as espécies de elementos:

• Elementos objetivos ou descritivos: são aqueles cujo significado depende de


mera observação, tornando desnecessária qualquer interpretação. Todos os
núcleos (verbos) do tipo constituem elementos objetivos (exemplos: matar,
falsificar etc.). São aqueles que independem de juízo de valor, existem
concretamente no mundo (exemplos: mulher, coisa móvel, filho etc.). Se um
tipo penal possui somente elementos objetivos, ele oferece segurança máxima
ao cidadão, visto que, qualquer que seja o aplicador da lei, a interpretação será
a mesma. É o chamado tipo normal, pois é normal o tipo penal que ofereça
segurança máxima.

• Elementos subjetivos: compõem-se da finalidade especial do agente exigida por


alguns tipos. Determinados tipos não se satisfazem com a mera realização do
verbo. Existirá um elemento de ordem subjetiva sempre que houver no tipo as
expressões “com a finalidade de”, “para o fim de” etc. (exemplo: rapto com fim
libidinoso). O elemento subjetivo será sempre a finalidade especial que a lei
exige. Não confundir o elemento subjetivo do tipo com o elemento subjetivo do
injusto, que é a consciência do caráter inadequado do fato, a consciência da
ilicitude (elemento da culpabilidade e não do tipo penal). Tipos que exigem
finalidade especial são chamados tipos anormais.

• Elementos normativos: são aqueles que dependem de interpretação para se


extrair o significado, ou seja, é necessário um juízo de valor sobre o elemento
(exemplo: mulher honesta). O que é mulher honesta? Observe-se que os
elementos normativos trazem a possibilidade de interpretações equívocas,
divergentes, oferecendo um certo grau de insegurança, por isso são chamados
de tipos anormais.

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DIREITO PENAL

Existem duas espécies de elementos normativos:

• elemento normativo jurídico: é aquele que depende de interpretação jurídica


(exemplos: funcionário público, documento etc.);

• elemento normativo extrajurídico ou moral: é aquele que depende de


interpretação não jurídica (exemplo: mulher “honesta”).

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO II

DIREITO PREVIDENCIÁRIO
Lei n. 8.213, de 24.7.1991

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Praça Almeida Júnior, 72 – Liberdade – São Paulo – SP – CEP 01510-010
Tel.: (11) 3346.4600 – Fax: (11) 3277.8834 – www.damasio.com.br
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DIREITO PREVIDENCIÁRIO

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Lei n. 8.213, de 24.7.1991

Professor Ionas Deda Gonçalves

1. BENEFICIÁRIOS DA PREVIDÊNCIA SOCIAL

Beneficiários da previdência social são todas as pessoas naturais titulares de direitos


subjetivos perante o Sistema Previdenciário. O quadro abaixo fornece sua classificação.

– empregado
– empregado doméstico
– Obrigatórios – contribuinte individual
– trabalhador avulso

– Segurados – segurado especial

Beneficiários
(Artigos 10 a 17 da – Facultativos
Lei n. 8.213/91

- Dependentes – 1.ª Classe


– 2.ª Classe
– 3.ª Classe

A Lei n. 8.213/91 estabelece quem são as pessoas que têm direito aos benefícios
previdenciários e quais os requisitos necessários para fazer jus aos benefícios.

“Segurados são as pessoas físicas que, em razão de exercício de atividade ou


mediante o recolhimento de contribuições, vinculam-se diretamente ao Regime Geral”.

“Dependentes são as pessoas cujo liame jurídico existente entre elas e o segurado
permite que a proteção previdenciária lhes seja estendida de forma reflexa.” (“in”
Comentários à Lei de Benefícios da Previdência Social, Daniel Machado da Rocha e José
Paulo Baltazar Júnior, Porto Alegre, ed. Livraria do Advogado e ESMAFE – Escola
Superior da Magistratura Federal do Rio Grande do Sul, pág. 50, artigo 10)

1
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DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Os segurados são titulares de direitos próprios. Os dependentes também exercem


direitos próprios, mas sua vinculação com a previdência está condicionada à manutenção
da relação jurídica do segurado com o Sistema Previdenciário.

Os vínculos que os segurados e os dependentes mantêm com a previdência social


são diferentes.

Não se confunde o dependente da previdência social com os dependentes dos


demais ramos do Direito.

2. SEGURADO

O segurado mantém um vínculo com a previdência social baseado em contribuição


– ele contribui com a previdência.

O segurado mantém com a previdência uma relação que implica direitos e deveres
para ambas as partes, sendo que a previdência tem o direito de receber contribuições e o
dever de conceder as prestações, e o segurado tem o dever de contribuir e o direito de
receber as prestações.

Trata-se de uma relação que não tem caráter contratual, pois o segurado é obrigado a
filiar-se à previdência, com exceção do segurado facultativo, pois a relação aqui tem
caráter contratual (contrato de adesão). Há, nesse caso, autonomia da vontade. A lei não
impõe ao segurado facultativo o dever de ser filiado à previdência e, uma vez filiado, ele
pode desfiliar-se a qualquer momento.

2.1. Segurado Obrigatório


São segurados do Regime Geral de Previdência Social:

• empregado;

• empregado doméstico;

• contribuinte individual (empresário, autônomo, equiparado ao autônomo);

• trabalhador avulso;

• segurado especial.

O segurado empregado começa a ser considerado filiado à previdência no momento


em que é contratado como empregado.

2
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DIREITO PREVIDENCIÁRIO

O contribuinte individual só é considerado filiado à previdência após pagar a 1.ª


contribuição.

Percebe-se, nestes exemplos, que o vínculo com a previdência, nos dois casos,
começou em momentos distintos.

O segurado empregado não precisa comprovar que contribui, basta ser empregado
para ser considerado filiado.

Outra regra distinta é a de que o contribuinte empregado pode contribuir, desde o


início da sua filiação, pelo valor máximo, ou seja, o teto da contribuição; já o contribuinte
individual passa por fases, escalas de salário-base. A escala de salário-base está sendo
extinta. Já não se aplica mais aos segurados que se filiarem a partir de 29.11.1999 (ver Lei
n. 9.876/99).

Percebe-se, assim, que cada tipo de segurado tem tratamento específico.

2.1.1. Categoria de segurados obrigatórios


a) Empregado

É o segurado que presta pessoalmente serviço de natureza urbana ou rural a


empresa, em caráter não eventual, sob sua subordinação e mediante remuneração.

Se o Estado mantiver alguém na condição de empregado, deverá ser segurado


obrigatório do Instituto Nacional de Seguridade Social, na categoria empregado.

Todos os funcionários públicos federais comissionados são segurados obrigatórios


como empregados (ver Lei n. 8.213/91, artigo 11, inciso I, alíneas “a” a “i”).

“Por força da Lei n. 9.876/99, o empregado de organismo oficial internacional ou


estrangeiro em funcionamento no Brasil, salvo quando coberto por sistema próprio de
previdência social, anteriormente classificado como equiparado a autônomo, passou a
integrar o grupo dos empregados.” (“in” Comentários à Lei de Benefícios da Previdência
Social, Daniel Machado da Rocha e José Paulo Baltazar Júnior, Porto Alegre, ed. Livraria
do Advogado e ESMAFE – Escola Superior da Magistratura Federal do Rio Grande do
Sul, pág. 57, artigo 11)

b) Empregado doméstico

É aquele que presta serviço de natureza contínua, mediante remuneração, a pessoa


ou família, no âmbito residencial destas, em atividades sem fins lucrativos.

Diarista: se trabalhar duas ou mais vezes por semana, já é considerado o vínculo


empregatício.
3
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DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Caso haja alguma atividade comercial na residência, já não pode mais ser
considerado empregado doméstico (ver Lei n. 8.213/91, artigo 11, inciso II).

c) Contribuinte individual

Considera-se contribuinte individual o antigo autônomo, o equiparado a autônomo


e o empresário.

Também se enquadra na condição de contribuinte individual a pessoa física,


proprietária ou não, que explora atividade agropecuária ou pesqueira, em caráter
permanente ou temporário, diretamente ou por intermédio de prepostos e com auxílio de
empregados (é o antigo empregador rural).

São ainda considerados contribuintes individuais equiparados a autônomo o padre, o


pastor, o pai de santo, o bispo etc.

Por fim, também é autônomo a pessoa que mantém firma individual, urbana ou rural
(ver artigo 11, inciso V, da Lei n. 8.213/91).

d) Trabalhador avulso

É aquele que trabalha com a intermediação obrigatória do sindicato ou do órgão


gestor de mão-de-obra. Exemplo: trabalhadores da área portuária.

e) Segurado especial

É o pequeno produtor rural, o parceiro, o meeiro, o pescador artesanal, o garimpeiro


e os que exerçam a sua atividade em regime de economia familiar.

O segurado especial não contribui mensalmente; sua contribuição é anual.

Estes segurados podem requerer vários benefícios, no valor de um salário mínimo,


comprovando apenas o tempo de serviço, sem precisar comprovar a contribuição (artigo 39
da Lei 8213/91).

Observação: Não confundir o contribuinte individual (artigo 11, inciso V, alínea


“a”, da Lei n. 8.212/91) com o segurado especial (inciso VII), pois o primeiro possui
auxílio de empregados no exercício da atividade rural, já o segurado especial conta apenas
com a ajuda dos membros da família para a exploração da atividade rural.

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DIREITO PREVIDENCIÁRIO

2.2. Segurado Facultativo (artigo 13 da Lei n. 8213/91)


É toda pessoa que, sem exercer atividade que determine filiação obrigatória,
contribui voluntariamente para a previdência social.

É todo aquele que não é considerado obrigatório. Exemplos:

• dona de casa;

• estudante, com mais de 16 anos;

• síndico de edifício que não seja empregado.

Lembrete: a idade mínima para ingressar no sistema previdenciário é 16 anos.

As pessoas que começaram a trabalhar com 14 anos, portanto, antes da mudança


constitucional ocorrida com a Emenda Constitucional n. 20, de 15.12.1998, que proíbe o
trabalho aos menores de 16 anos, salvo na condição de aprendiz aos 14 anos (artigo 7.º,
inciso XXXIII), continuaram a ser filiadas da previdência social, em face do direito
adquirido.

2.3. Período de Graça (Artigo 15 da Lei n. 8.213/91)


Como regra, a pessoa mantém a sua condição de segurado enquanto contribui, ou
seja, enquanto estiver filiado à previdência.

Entretanto, a legislação prevê que, em determinadas circunstâncias, mesmo havendo


a interrupção das contribuições e não estando o trabalhador exercendo atividade que o
vincule obrigatoriamente à previdência, o segurado mantém o seu vínculo com a
previdência social.

Este período é denominado pela doutrina de Período de Graça.

Período de Graça, portanto, é aquele período em que, mesmo sem contribuir e/ou
sem exercer atividade que o vincule obrigatoriamente à previdência, o segurado mantém
seu vínculo com o Sistema, com todos os direitos inerentes a essa condição.

Exemplos:

Quem está recebendo auxílio-doença não está contribuindo, mas este período,
apesar de não haver contribuição, é contado como se tivesse ocorrido.

Casos diferentes são os que seguem:

• quem trabalha, mas vai prestar o serviço militar. Durante três meses, após o
término do serviço militar, o segurado encontra-se no Período de Graça;

• o preso tem um Período de Graça de 12 meses após o livramento.


5
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DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Tanto no caso de quem vai prestar serviço militar como no caso do preso, o tempo
de graça não conta como contribuição para fim de aposentadoria.

2.4. Regra Geral do Período de Graça Aplicada aos Segurados (artigo


15, § 1.º)
O segurado que deixar de exercer atividade remunerada abrangida pela previdência
social mantém sua condição de segurado até doze meses após a cessação das contribuições.
Esse prazo será prorrogado para até vinte e quatro meses se o segurado já houver pagado
mais de vinte e quatro contribuições.

2.5. Regra do Período de Graça Aplicada ao Segurado Empregado


(artigo 15, § 2.º)
O segurado empregado que deixar de exercer atividade remunerada abrangida pela
previdência social também mantém sua qualidade por doze meses após a cessação das
contribuições, prazo esse que pode ser prorrogado da seguinte forma:

• para até vinte e quatro meses, se tiver pagado mais de cento e vinte
contribuições;

• em mais doze meses, inclusive de forma cumulativa com a prorrogação acima


mencionada, para o segurado desempregado que registrou essa condição no
órgão próprio do Ministério do Trabalho.

Assim sendo, o prazo que era inicialmente de doze meses pode atingir trinta e seis
meses se o segurado empregado estiver desempregado e contar com mais de cento e vinte
contribuições.

Importante: o Período de Graça não conta como contribuição. Apenas mantém o


vínculo com a Previdência Social.

Se, durante o Período de Graça, houver pelo menos uma contribuição, ele será
interrompido e começará a contar novamente.

Pergunta: Como saber que a pessoa perdeu a condição de segurado?

Resposta: A lei estabelece que a perda da condição de segurado se dá no 16.º dia do


segundo mês seguinte àquele em que terminou o Período de Graça.

“O Regulamento da Previdência Social unificou o prazo, levando em conta a data


para o recolhimento da contribuição dos contribuintes individuais, favorecendo, assim, os
demais segurados”. (“in” Comentários à Lei de Benefícios da Previdência Social, Daniel
Machado da Rocha e José Paulo Baltazar Júnior, Porto Alegre, ed. Livraria do Advogado e

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DIREITO PREVIDENCIÁRIO

ESMAFE – Escola Superior da Magistratura Federal do Rio Grande do Sul, pág. 75, artigo
15)

Exemplos:

Serviço militar
3 meses 4.º mês 5.º mês
Fim do período do Período de Graça 15.º dia
serviço militar
Até o dia 15 ele
é segurado. A partir
do dia 16 ele perde
a condição de
segurado.

Preso
12 meses 13.º mês 14.º mês
Livrou-se. Período de Graça 15.º dia
Até o dia 15 ele
é segurado. A partir
do dia 16 ele perde
a condição de
segurado.

3. DEPENDENTES DA PREVIDÊNCIA SOCIAL (Artigo 16 da Lei


8.213/91)

Os dependentes são titulares de direitos próprios. Mantêm uma relação jurídica


pessoal com a Previdência.

A Lei da Previdência diz quem são seus dependentes e os classifica em dependentes


de 1.ª classe, 2.ª classe e 3.ª classe.

Os dependentes de 1.ª classe preferem aos de 2.ª classe que preferem aos de 3.ª
classe.

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DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Assim, o dependente de 2.ª classe só terá direito se não houver dependente


habilitado de 1.ª classe, e o dependente de 3.ª classe só terá direito se não houver
dependentes habilitados de 1.ª ou de 2.ª classe.

Percebe-se, assim, que uma classe exclui a outra.

3.1. Dependentes de 1.ª Classe


• cônjuge (a);

• companheiro (a);

• filhos de qualquer condição: menores de 21 anos, não emancipados, ou


inválidos de qualquer idade.

Os dependentes de 1.ª classe gozam da presunção legal de dependência econômica.

Os dependentes de 1.ª classe concorrem entre si. Havendo mais de um, deve-se
dividir o valor da pensão em cotas-partes iguais. Exemplo: esposa legítima, com dois filhos
maiores de 21 anos e dois filhos menores, provenientes de uma relação extraconjugal: a
pensão será dividida em três partes.

Não basta existir dependentes de 1.ª classe, é necessário que haja a habilitação dos
dependentes junto à previdência social.

Caso os dependentes de 1.ª classe não se habilitem, subsistirá o direito das classes
inferiores.

No momento que o dependente deixar de sê-lo, por completar 21 anos, por exemplo,
a sua cota-parte passará aos outros dependentes da mesma classe. Caso seja o único
dependente, cessará o benefício.

Exemplo: três dependentes de 1.ª classe: cada um receberá ⅓ do valor do benefício.


Caso um deixe de ser dependente, o benefício passará a ser dividido em duas partes
somente (a cota-parte dele vai para os outros). No momento em que os demais também
perderem o benefício, este cessará.

Os dependentes da 1.ª classe podem se habilitar a qualquer tempo.

Caso o filho perca a condição de dependente por completar 21 anos e depois vier a
se tornar inválido, não terá mais direito a ser dependente.

Equiparam-se a filho, mediante prova de dependência econômica, concorrendo em


condições de igualdade com os demais dependentes da classe 1, o menor sob tutela e o
enteado.

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___________________________________________________________________________MÓDULO II
DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Por fim, ressalta-se que o direito de ser dependente não se transmite. Assim, o filho
do filho dependente não terá o direito.

3.1.1. Cônjuge
Perdem a condição de dependentes caso se separem (separação de fato, separação
judicial ou divórcio) e não fiquem com direito a pensão alimentícia. Caso tenham direito a
pensão alimentícia, subsiste o direito de ser dependente.

Assim, se a mulher ficar com direito a alimentos, mas não o exercer, continuará a
ser dependente; caso o ex-marido venha a falecer, ela poderá se habilitar como dependente
e terá direito à pensão. O marido possui o mesmo direito.

Ressalta-se que a convolação de núpcias não faz perder o direito à pensão. Esse fato
só ocorrerá caso morra o segundo marido e a esposa opte pela pensão deste.

Ressalta-se, ainda, que é possível cumular aposentadoria com a pensão por morte do
marido (ou da mulher).

3.1.2. Companheiro/companheira
Podem habilitar-se como dependentes da previdência as pessoas que vivem em
união estável. Tem sido admitido, por força de decisões judiciais ainda passíveis de
reforma, tal direito, inclusive para os casais de mesmo sexo.

3.1.3. Filhos
São dependentes da previdência os filhos de qualquer natureza.

O menor tutelado e o enteado são considerados dependentes, equiparados aos filhos,


desde que não possuam recursos próprios.

Ressalta-se que, ao completar 21 anos, perde a condição de dependente, mesmo que


esteja fazendo faculdade. Caso seja inválido, a condição de dependente se perpetuará
enquanto durar a invalidez.

Frisa-se também que, caso a pessoa se emancipe antes dos 21 anos, perderá a
condição de dependente, exceto se a emancipação ocorrer em razão da aquisição de título
universitário. Nesta última situação, a condição de dependente será mantida.

3.2. Dependentes de 2.ª Classe

Pais (pai ou mãe): naturais ou adotivos.

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DIREITO PREVIDENCIÁRIO

É necessário que comprovem a dependência econômica, ainda que parcial, com o


segurado da previdência. Basta que comprovem que o filho ou filha contribuía para a
manutenção da casa.

Caso haja dependentes habilitados de 1.ª classe, os pais não terão direito ao
benefício da previdência como dependentes.

3.3. Dependente de 3.ª Classe


Irmãos: de qualquer natureza, menores de 21 anos, não emancipados, ou inválidos
de qualquer idade.

Também é necessário que comprovem a dependência econômica, ainda que parcial,


com o segurado da previdência.

Esses dependentes também só terão direito se não houverem habilitados de 1.ª ou 2.ª
classe.

Observação: Havia uma 4.ª classe, composta por pessoas designadas pelo
segurado.Hoje, essa 4.ª classe não existe mais.

3.4. Perda da Condição de Dependente

3.4.1. Para todos os dependentes (1.ª, 2.ª ou 3.ª classe)


A perda da condição de dependente ocorre com a morte.

3.4.2. Marido/mulher
Perdem a condição de dependente:

• Na separação de fato, judicial ou divórcio, caso não seja reconhecido o direito a


alimentos.

• Após a convolação de novas núpcias, antes do óbito do segurado. Neste caso, a


perda da condição de dependente decorre do fato de o novo casamento implicar
na perda do direito à pensão alimentícia fixada quando da separação ou do
divórcio.

• Quando a pessoa ficar novamente viúva e optar pela pensão do último marido.

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DIREITO PREVIDENCIÁRIO

3.4.3. Companheiro/companheira
A perda da condição de dependente ocorre com a separação de fato ou judicial, se
não for reconhecido o direito de alimentos.

3.4.4. Filhos
• ao se emanciparem;

• ao completarem 21 anos;

• se inválidos, quando recuperarem a capacidade.

O filho que completar 21 anos perde a condição de dependente no mês seguinte ao


seu aniversário; no mês do aniversário, ainda recebe o benefício.

O inválido, para a previdência, é aquele que não pode trabalhar devido a sua doença
e, assim, não possui recursos para sobreviver.

3.4.5. Pais
A perda da condição de segurado ocorre somente com a morte.

3.4.6. Irmãos
• ao se emanciparem;

• ao completarem 21 anos;

• se inválidos, quando recuperarem a capacidade.

4. CARÊNCIA. CONCEITO

Carência é o número mínimo de contribuições mensais necessário para que o


beneficiário faça jus ao benefício.

As contribuições devem ser mensais. Exemplo: carência de 12 meses deve ser paga
em 12 meses; não é permitido pagar contribuições atrasadas ou antecipar o recolhimento de
contribuições futuras para suprir período de carência.

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DIREITO PREVIDENCIÁRIO

Caso haja atraso no pagamento de uma prestação, esta não contará como carência.
Exemplo: a primeira prestação foi paga no dia certo, a segunda foi paga com atraso,
deverão ser pagas mais onze contribuições (desconsidera-se a segunda, que foi paga com
atraso).

4.1. Período de carência dos benefícios

4.1.1. Aposentadoria por invalidez e auxílio-doença


O período de carência é de 12 contribuições mensais.

Se a causa for acidente de qualquer natureza ou doença relacionada com o trabalho


(doença profissional ou doença do trabalho), dispensa-se a carência.

Dispensa-se também a carência se o segurado for portador de moléstia grave. O


artigo 151 da Lei n. 8.213/91 traz o rol das moléstias graves; esse rol elaborado pelos
Ministérios da Saúde, do Trabalho e da Previdência e Assistência Social, a cada três anos,
por meio de portaria conjunta, de acordo com os critérios de estigma, deformação,
mutilação, deficiência, ou outro fator que lhe confira especificidade e gravidade que
mereçam tratamento particularizado. Exemplo: AIDS, cegueira total etc.

O segurado facultativo, para que seja considerado filiado ao sistema, deve ter
contribuído pelo menos uma vez. Ressalta-se que essa contribuição não diz respeito à
carência, mas sim ao aperfeiçoamento da sua filiação ao Regime Geral de Previdência.

4.1.2. Aposentadoria por idade, aposentadoria por tempo de


contribuição e aposentadoria especial
A carência exigida é de 180 contribuições mensais.

Deve-se observar, nesses três casos, a tabela progressiva do artigo 142 da Lei n.
8.213/91, aplicável àqueles que já eram segurados da previdência quando da publicação da
Lei 8213/91, que é de 27 de julho de 1991. Para o ano de 2001, a carência para esses
benefícios é de 120 contribuições mensais.

A cada ano a carência aumenta em 6 contribuições. No ano 2011, chegará ao


número de 180 contribuições mensais, patamar no qual se estabilizará.

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DIREITO PREVIDENCIÁRIO

4.1.3. Salário-maternidade
A carência é de 10 contribuições mensais.

As seguradas: empregada, empregada doméstica e trabalhadora avulsa estão, porém,


dispensadas do período de carência.

Para as demais seguradas, a carência é de 10 meses. Essa carência, porém, é móvel,


sendo possível ser menor. Exemplo: se o bebê nasce com oito meses, a carência é de nove
meses; se o bebê nasce com sete meses, a carência é de oito meses.

4.2. Benefícios em que não é exigida a carência


• pensão por morte;

• auxílio-reclusão;

• auxílio-acidente;

• salário-família;

• serviço social;

• habilitação e reabilitação profissionais;

• benefícios previstos no artigo 39 e no artigo 143 da Lei 8213/91.

Bastam os segurados ou dependentes serem filiados para receberem o benefício. Na


última hipótese devem o segurado especial e/ou trabalhador rural comum comprovar essa
sua condição nos meses imediatamente anteriores ao requerimento dos benefícios previstos
naqueles artigos, por período igual ao exigido como carência para prestação. Exemplo: o
segurado especial não precisa provar que contribuiu doze meses para ter direito ao auxílio-
doença, no valor de um salário mínimo; basta provar que exerceu essa atividade nos doze
meses anteriores ao requerimento da prestação, ainda que de forma descontínua.

4.3. Problema Sobre a Carência


O problema surge quando o filiado perde a condição de segurado e, após um
período, volta a ser filiado. Nesse caso, surge a indagação: deve-se contar novamente a
carência?

Por exemplo:

• trabalhou 15 anos = fez 180 contribuições mensais;


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DIREITO PREVIDENCIÁRIO

• perdeu o emprego = ficou 48 meses sem trabalhar e contribuir;

• usufruiu do período de graça = 36 meses de período de graça;

• perdeu a condição de segurado no 16.º dia do 38.º mês.

48 meses

1.ª filiação 36 meses 16.º dia do mês 38 2.ª filiação

180 contribuições Período de Graça deixou de ser filiado

A lei diz que se pode aproveitar a contribuição da 1.ª filiação para efeito de carência,
desde que, na 2.ª filiação, o segurado cumpra pelo menos 1/3 da carência exigida.

Exemplo: em caso de auxílio-doença exigem-se 12 contribuições mensais, então, na


2.ª filiação deve haver no mínimo 4 contribuições. Em caso de aposentadoria por idade,
exigem-se 180 contribuições, então, na 2.ª filiação ,exigem-se no mínimo 60 contribuições.

Outro caso:

1.ª filiação 9 meses desempregado 1.ª filiação

2 anos = Estava no Período de Graça voltou a


24 contribuições de 24 meses contribuir

Nesse caso, não houve perda da condição de segurado. Todas as contribuições fazem parte
da 1.ª filiação. Assim, caso o segurado necessitasse, por exemplo, de auxílio-doença, para o qual
são exigidas 12 contribuições, ele já teria direito, pois já cumpriu o período de carência.

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO III

DIREITO PROCESSUAL CIVIL


Ação e Exceção
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Ação e Exceção

Prof. Vitor Frederico Kümpel

1. INTRODUÇÃO

A doutrina processualista aponta como institutos fundamentais do processo civil a


jurisdição, a ação, a exceção (ou defesa) e o processo, este último como o instrumento
utilizado pelo Estado-juiz, pautado pela lei, para a resolução dos conflitos de interesses
apresentados ao Poder Judiciário. Uma vez explicitado o primeiro instituto fundamental
(jurisdição), bem como a competência e organização judiciária, cumpre dar
prosseguimento aos estudos dos demais institutos, o que passamos a fazer.

2. AÇÃO - CONCEITO E ELEMENTOS IDENTIFICADORES

A palavra “ação” é uma palavra equívoca, ou seja, possui mais de um significado.


Em que pese haver divergências quanto ao seu conceito, e principalmente em relação às
conseqüências da teoria da ação adotada pelo Código de Processo Civil, que analisaremos
abaixo, pode-se definir ação, de acordo com as lições da doutrina, como sendo o direito
público subjetivo abstrato, exercido contra o Estado-juiz, visando à prestação da tutela
jurisdicional.

2.1. Ação em Sentido Amplo ou em Nível Constitucional


Significa o direito que qualquer pessoa tem de obter uma resposta do Poder
Judiciário, seja ela qual for. É um direito incondicionado, tendo em vista que não há
necessidade de preenchimento das condições da ação para obter qualquer resposta do
judiciário. Por ser incondicionado o direito de ação em nível constitucional, é também
denominado pela doutrina como “direito de acesso ao judiciário”, conforme interpretação
dada ao artigo 5.º, incisos XXXIV, alínea “a” e XXXV, da Constituição Federal.

2.2. Ação em Sentido Estrito ou em Nível Processual


Várias teorias surgiram para explicar o significado de ação em sentido estrito,
algumas ampliando seu alcance, outras restringindo-o; entretanto, cumpre observar que
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

apenas três delas serão estudadas neste tópico, porque dotadas de maior importância, além
de adaptáveis ao sistema processual pátrio.

2.2.1. Teoria concretista da ação


Por meio da teoria concretista da ação, considerar-se-á tal direito exercido somente
quando o pedido formulado pela parte na inicial for julgado procedente pelo Juiz. De plano
salientamos que essa teoria não foi acolhida no Brasil, uma vez que restringe
demasiadamente seu campo de incidência, admitindo um número ilimitado de decisões
sobre a mesma demanda, desde que julgados os pedidos improcedentes, trazendo
obstáculos à segurança jurídica e atravancando injustificadamente o Poder judiciário.

2.2.2. Teoria abstratista da ação


De acordo com essa teoria, o direito de ação será exercido sempre que houver
resposta do judiciário, seja ela qual for. Logo, ainda que o poder judiciário reconheça não
possuir o autor o direito de um julgamento de mérito (de pedido), este julgamento
produziria coisa julgada. Essa teoria também não foi acolhida no Brasil, tendo em vista que
o seu acolhimento faria com que desaparecesse qualquer diferença entre a ação em sentido
estrito (em nível processual) e a ação em sentido amplo (em nível constitucional),
conferindo pouca proteção ao direito de invocar o judiciário pelo interessado, e sujeitando
o autor a possíveis prejuízos decorrentes de erros cometidos por seus patronos, no que toca
à observância dos requisitos de admissibilidade do mérito da demanda.

2.2.3. Teoria eclética da ação (atribuída a “Enrico Túllio Liebman”)


De acordo com a teoria eclética da ação, que assume a posição de intermediária em
relação às teorias acima, haverá ação sempre que houver uma resposta de mérito proferida
pelo Juiz, ou seja, sempre que o pedido for julgado, seja procedente ou improcedente, o
direito da ação em sentido estrito será exercido. A maior vantagem que se encontra na
adoção desta teoria é justamente não haver restrição excessiva ao exercício do direito de
ação, e nem ampliação injustificada a ponto de confundi-lo com o direito de acesso ao
judiciário.

Se o Juiz proferir resposta de indeferimento da petição inicial, o direito de ação em


sentido estrito não será exercido, haja vista não ser uma sentença de julgamento de mérito
(pedido).

Para haver o exercício do direito de ação em sentido estrito há necessidade de que se


preencham as condições da ação. Assim, quando a ação é julgada extinta por indeferimento
da petição inicial, ou ainda pela falta de qualquer das condições da ação, não houve o

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

exercício do direito de ação pelo autor, logo, ele precisa do direito de ação que lhe falta,
diz-se, portanto, que o autor é carecedor de ação.

Não é possível haver ação sem processo. É perfeitamente possível, no entanto, haver
processo sem ação, devidamente tipificado na hipótese de o Juiz não proferir uma sentença
de mérito.

No processo de conhecimento, o que o autor postula não é, ainda, a satisfação de seu


direito, visto que essa satisfação será dada no processo de execução. O que se pede no
processo de conhecimento é que o Juiz diga quem das partes possui razão em relação ao
direito ou objeto em litígio. A essa decisão dá-se o nome de acertamento.

No processo de execução, o que se pede é que o Juiz tome medidas para a satisfação
do direito, do crédito. A resposta do processo de execução não é uma sentença, é a tomada
de providências para a satisfação do crédito. Portanto, não há julgamento de mérito em
execução, todavia existe mérito, que em sede de processo civil entende-se como “pedido”,
traduzido na solicitação de satisfação do título.

No tocante à origem desta teoria, cumpre informar ter sido criada por Enrico Túllio
Liebman, processualista italiano, à frente de seu tempo, que residiu no Brasil por ocasião
da Segunda Guerra Mundial, lecionou na Faculdade de Direito do Largo do São Francisco,
e influenciou a Escola Paulista de Processo, deixando pupilos do jaez de Alfredo Buzaid,
José Frederico Marques, entre outros.

Quando Liebman fala em resposta de mérito, engloba tanto a resposta do processo


de conhecimento quanto a resposta do processo de execução, tendo em vista que, se falasse
em sentença de julgamento de mérito, não englobaria a resposta do processo de execução.
Por fim, nos cabe informar que a teoria eclética da ação é a adotada pelo ordenamento
processual civil brasileiro.

3. CONDIÇÕES DA AÇÃO

A ação somente existirá se houver o preenchimento das três condições abaixo, uma
vez que o direito de ação em seu sentido estrito, como vimos, é condicionado. Essas
condições da ação são de ordem pública, portanto, são reconhecíveis de ofício pelo Juiz.
De acordo com a doutrina pátria, apontam-se como condições da ação: legitimidade ad
causam; o interesse de agir; e, por fim, a possibilidade jurídica do pedido.

3.1. Legitimidade Ad Causam


Só poderá propor uma ação quem for parte legítima. Entende-se por parte legítima o
titular de direito próprio, capaz de postular em nome próprio o seu direito, ainda que
representado ou assistido, pois a capacidade de exercício é condicionada nos termos da lei
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

civil, diferente da capacidade de direito. A condição da ação denominada legitimidade ad


causam está prevista no artigo 6.º do Código de Processo Civil, que dispõe que ninguém
poderá ir a juízo para defender direito alheio, salvo quando autorizado por lei, hipótese em
que se configura a legitimação extraordinária. Logo, por via de regra entende-se que
somente quem alega ser titular de um direito poderá ir a juízo defendê-lo.

Espécies de legitimação:

• Legitimação ordinária: é a legitimação normal, ou seja, quando a pessoa vai a juízo


defender direito próprio, ainda que representada ou assistida, a depender de sua
incapacidade absoluta ou incapacidade relativa, respectivamente.

• Legitimação extraordinária ou substituição processual: é a legitimação de


anormalidade, ou seja, quando a lei autoriza que a pessoa vá a juízo defender direito
alheio. Aqueles que são titulares do direito material são chamados de substituídos, e
os titulares que figuram na ação são chamados substitutos processuais. Essa
legitimação pode ocorrer, a título de exemplo, nas seguintes situações:

− casamento no regime dotal: o titular do direito sobre os bens que constituem o


dote é a mulher, no entanto, o direito de entrar em juízo para salvaguardar os
bens é do marido. Existe então um titular do direito material que não pode ser
parte em juízo e uma parte que não é titular do direito material;

− condomínio no qual cada um dos condôminos possui uma parte ideal e apenas
um deles entra em juízo para propor ação reivindicatória. O artigo 1.314 do
Código Civil dispõe expressamente que, havendo um condomínio, cada qual dos
condôminos poderá, sozinho, reivindicar a coisa. A sentença proferida, no
entanto, ainda que apenas um dos condôminos ajuíze a ação, irá atingir os
demais;

Hoje, tem-se na seara legal a hipótese da usucapião coletiva, prevista no artigo 12,
inciso III, da Lei n. 10.257/01, estabelecendo a associação de moradores da comunidade
como substituta processual dos moradores de favelas, cortiços e outras moradias coletivas
análogas, para figurar no pólo ativo da referida ação de usucapião.

O Código de Processo Civil dispõe que é possível vender a coisa mesmo litigiosa. A
alienação da coisa litigiosa, entretanto, não altera a legitimidade das partes, ou seja, a ação
continuará correndo entre as partes originárias. A sentença proferida entre as partes
originárias estende seus efeitos ao adquirente da coisa (artigo 42, § 3.º, do Código de
Processo Civil). Então, a partir do momento em que a coisa for vendida e o direito passar
para terceiro, a parte originária estará defendendo direito alheio, ficando o adquirente como
substituído processual, podendo ingressar no processo como assistente litisconsorcial, de
acordo com previsão legal, caso não seja aceita, pelo autor, o ingresso do adquirente no
feito, no lugar do alienante.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

3.2. Possibilidade Jurídica do Pedido


De acordo com a doutrina, a possibilidade jurídica do pedido pode ser definida
como “a ausência de vedação expressa em lei ao pedido formulado pelo autor em sua
inicial”. O pedido deverá estar em conformidade com o ordenamento jurídico.

Um exemplo de impossibilidade jurídica do pedido é a ação de usucapião de bens


públicos. Quem ingressar com essa ação terá sua inicial indeferida pela impossibilidade
jurídica do pedido, pois, com efeito, a súmula 340 do Supremo Tribunal Federal, a
Constituição Federal, nos artigos 183, parágrafo terceiro, e 191, parágrafo único, ao tratar
das modalidades de usucapião constitucional, e recentemente o Novo Código Civil, em seu
artigo 102, retirando inclusive a eficácia da súmula anteriormente citada, vedam a
aquisição de bens públicos por este instituto. Ressalte-se que as disposições constitucionais
e as novas disposições legais sobre o tema da usucapião retiram inclusive do ordenamento
as regras previstas na Lei n. 6969/81, que permitiam a usucapião de terras devolutas
pertencentes a União.

Outro exemplo é a cobrança de dívida de jogo proibido, tendo em vista a causa de


pedir ser juridicamente impossível. Portanto, conclui-se que, além de ser necessário que o
pedido seja juridicamente possível, deve-se verificar ser possível juridicamente também a
causa de pedir. Se qualquer deles for impossível, a inicial será indeferida.

Em uma inicial, dois pedidos são formulados: o imediato, traduzido como o pedido
de provimento jurisdicional, instrumental, manifestação do Estado-juiz a respeito da razão
dos contendores na lide; e o mediato, entendido como o “bem da vida”, aquele em que se
funda todo o feito, o objeto de discussão (o direito material em litígio). A possibilidade
jurídica do pedido deve ficar restrita ao pedido imediato, instrumental, reservando-se à
análise do mérito, a discussão acerca da possibilidade jurídica (licitude) ou não do direito
material em litígio.

Quando a lei for omissa sobre um assunto, pode-se praticar o ato que a lei não
proíbe, todavia, na prática desse ato não defeso expressamente pela lei, deve-se observar a
moral e os bons costumes. Como exemplo, citamos a prostituição, que, apesar de não
proibida em lei, por ausência de contrariedade direta a esta, há ofensa à moral e aos bons
costumes; logo, qualquer dívida oriunda da prática da prostituição não poderá ser objeto de
cobrança judicial, por ser tal pedido juridicamente impossível.

3.3. Interesse de Agir


Há um binômio que integra o interesse de agir: necessidade e adequação, ou seja, só
haverá o interesse de agir quando houver a necessidade de ingressar com uma ação para
conseguir o que se deseja e quando houver adequação da ação (ação própria para o
pedido).

A primeira oportunidade que o réu tem para alegar a carência de ação é na


contestação. Por ser matéria de ordem pública, no entanto, não preclui, podendo ser
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

argüida a qualquer momento. Se o réu, entretanto, alegar carência de ação após a


contestação, deverá arcar com as custas e honorários decorrentes da extensão desnecessária
do feito, ou seja, desde a contestação.

Caso o Juiz, no saneador, afaste a carência de ação, ou seja, entenda presentes os


requisitos de admissibilidade para o exame do mérito, sem que ninguém recorra da decisão,
poderá ainda, em qualquer fase do processo, reconsiderar sua decisão e acolher a carência
da ação, tendo em vista ser matéria de ordem pública, reconhecível a qualquer tempo e em
qualquer grau de jurisdição. Quanto às custas e honorários, nesse caso, o Juiz só arcará
com as despesas se houver comprovado dolo de sua parte.

No caso de haver uma apelação por parte do réu em um processo no qual não foi
discutida a carência de ação, o Tribunal poderá conhecê-la de ofício, ainda que não tenha
sido matéria de apelação. O Tribunal irá reapreciar não só o objeto do recurso (efeito
devolutivo), mas também aquelas matérias de ordem pública, ainda que não tenham sido
suscitadas. A essa possibilidade de o Tribunal decidir tais questões, ainda que não pré-
questionadas, dá-se o nome de efeito translativo.

No reexame necessário, a Fazenda Pública não poderá ser prejudicada se houver


unicamente a remessa ex officio, sem recurso voluntário da parte contrária (Súmula n. 45
do Superior Tribunal de Justiça). O reexame necessário, no entanto, também tem efeito
translativo, ou seja, o Tribunal poderá conhecer a carência de ação.

Há na doutrina quem inclua neste rol a utilidade do provimento como condição da


ação, como um dos elementos do interesse de agir, além da necessidade e adequação,
todavia, de forma infundada, por ser requisito subjetivo e adaptável à situação fática em
que se encontra o autor quando da propositura da demanda, dentre os diversos
procedimentos oferecidos ao autor.

4. CLASSIFICAÇÃO DAS AÇÕES

De acordo com o provimento que constitui o pedido, a doutrina classifica a ação


correspondente. A natureza jurisdicional do provimento, por sua vez, é que possui o condão
de condicionar a nomenclatura dessa classificação.

Temos os processos de conhecimento, de execução e cautelar. Alguns autores


ampliam essa classificação tripartida, acrescendo a denominada ação monitória. No que se
refere aos provimentos jurisdicionais, na doutrina, além das decisões do conhecimento, de
execução e cautelares, incluem-se as decisões mandamentais e as executivas lato sensu, e
pode-se apontar, como exemplo, o mandado de segurança e a medida de manutenção de
posse, respectivamente. A ação executiva lato sensu gera uma sentença bastante próxima à
condenatória, porém, cuja execução não necessita de um novo processo. Temos como
exemplo a reintegração de posse. Portanto, é forçoso reconhecer a divergência em relação a

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

classificações quanto aos provimentos (se tripla, quádrupla, ou mesmo uma classificação
quíntupla das ações).

4.1. Ação de Conhecimento


A ação de conhecimento é denominada também declaratória em sentido amplo.
Aqui, o órgão jurisdicional declara qual das partes tem direito à pretensão deduzida. A essa
decisão, que promove o ajuste do direito ao caso concreto dá-se o nome de acertamento.
As partes, portanto, formulam pedidos aos órgãos da jurisdição, obtendo ou não
procedência. Em caso de procedência, será acolhida a pretensão do autor, em caso
contrário (improcedência dos pedidos formulados), desacolhida.

As ações de conhecimento se subdividem, de acordo com a natureza do provimento


em:

• meramente declaratórias;

• constitutivas;

• condenatórias.

Cumpre observar que, para alguns, aqui também se incluem as ações monitórias.

As ações meramente declaratórias, como o próprio nome diz, declaram a existência


ou não de uma relação jurídica em uma determinada situação de fato (artigo 4.º, Código de
Processo Civil). Temos como exemplo uma ação declaratória de inexistência de débito.
Podemos citar ainda a declaratória de inexistência de relação condominial, e a ação
declaratória de nulidade de ato registral. No processo penal são meramente declaratórias,
por exemplo, os procedimentos de habeas corpus.

As extinções de punibilidade também são meramente declaratórias. As ações


meramente declaratórias podem ser positivas ou negativas, declarando, respectivamente, a
existência ou não-existência de uma relação jurídica.

Por sua vez, as ações constitutivas são aquelas que criam, modificam ou extinguem
uma relação jurídica. Com efeito, ações constitutivas necessárias são aquelas em que a
modificação, constituição ou desconstituição da relação jurídica só pode ocorrer por meio
jurisdicional, a exemplo da ação de divórcio. Já as ações constitutivas não-necessárias são
aquelas cujos efeitos podem ser obtidos extrajudicialmente, como a resilição (unilateral ou
bilateral) de um contrato.

As ações condenatórias são aquelas que se encerram com uma sentença


condenatória, apresentando uma sanção. A partir desta decisão, a parte passa a obter um
título executivo judicial. A ação condenatória na esfera penal também origina o título
executivo judicial que possibilita a reparação do dano causado, todavia, somente após o seu
trânsito em julgado, por necessidade de observância do princípio da presunção de
inocência, constitucionalmente garantido.
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

• Observações quanto às divergências doutrinárias:

As ações monitórias, criadas pela Lei n. 9.079/95, são aquelas em que o credor que
possui documento escrito sem eficácia executiva, a exemplo de títulos prescritos, pode
citar o devedor para contestar o pedido formulado na inicial, ou para pagar determinada
soma ou entregar o bem móvel ou coisa fungível representados no documento, hipótese em
que se houver revelia, a monitória transforma-se em um processo de execução sui generis.
De acordo com a doutrina de José Rogério Cruz e Tucci, acompanhado por outros de igual
jaez, é modalidade de ação de conhecimento de procedimento especial, em razão de sua
disposição tópica (Artigos 1.102 A, B, e C, do Código de Processo Civil).

Ações mandamentais não se confundem com ações cujos provimentos são


condenatórios, porque nas ações mandamentais o provimento gera um comando imperativo
ao réu, capaz de obter resultados concretos, sob pena de sanção, não dependendo de uma
outra relação jurídico-processual de caráter executivo.

As ações executivas lato sensu são aquelas cuja sentença gera uma eficácia direta e
própria, não propriamente um comando imperativo, mas a possibilidade de sua efetivação
de forma direta, mediante mandado, também sem dependência, para sua concretização, de
um processo de execução autônomo.

4.2. Ação de Execução


A ação de execução é um instrumento do denominado processo de
conhecimento, pois faz gerar eficácia deste último, no mundo fático. É a hipótese de uma
pessoa ser condenada a cumprir uma determinada obrigação, resistindo, porém, ao
provimento jurisdicional. Exemplo: o réu é condenado a pagar uma determinada quantia
em dinheiro. Diante de sua recusa em satisfazer voluntariamente a decisão jurisdicional,
criou-se a ação de execução para compelir a parte a efetuar esse pagamento. São atos de
força que garantem o cumprimento da obrigação, e têm como pressupostos o título
executivo e o inadimplemento.

O resultado é o provimento satisfativo do direito do credor. Enquanto as ações


de conhecimento aplicam ao caso concreto à regra jurídica correspondente, indo dos fatos
ao direito, o processo de execução faz com que a pretensão pelo direito garantida se torne
concreta, indo, portanto, do direito ao fato.

O objeto da ação de execução, como já dissemos, é gerar eficácia das decisões


proferidas em sede de juízo de conhecimento. Aqui, o Juiz não vai dizer o direito, mas sim
satisfazer a parte detentora do título, que já representa o direito. Cabe ressaltar que a ação
de conhecimento é totalmente independente do processo de execução.

Já a execução penal, embora se instaure de ofício pelo próprio Juiz, também


apresenta função jurisdicional. Gera incidentes que têm caráter jurisdicional, apesar de
possuir aplicação administrativa e inicia-se por meio da expedição da guia de

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

recolhimento, após o trânsito em julgado da sentença condenatória, ao menos por via de


regra. A execução penal tem as seguintes peculiaridades:

• Seu processo se inicia de ofício, como já dissemos, independentemente de


provocação por parte do Ministério Público.

• A execução penal é sempre forçada, já que o réu não se submete voluntariamente


à pena privativa de liberdade.

• Não há citação para o processo de execução. Estão, porém, garantidos o


contraditório e o devido processo legal, entre outros princípios e garantias
constitucionais.

4.3. Ação Cautelar


É um instrumento para garantir futura eficácia dos provimentos de conhecimento e
execução. Isso porque a ação de conhecimento e a ação de execução são, muitas vezes,
morosos, ante a necessidade de resguardo da ampla defesa e do contraditório. Toda vez que
houver risco de ser ineficaz a decisão proferida nas ações de conhecimento e execução
poderá a parte, portanto, desde que demonstre a existência dos requisitos do periculum im
mora (perigo na demora da decisão) e fumus boni iuris (plausibilidade), requerer uma
medida de natureza cautelar, a fim de evitar a frustração dos efeitos concretos das ações em
andamento.

5. ELEMENTOS DA AÇÃO

Os elementos da ação são três, todavia, não se confundem com as condições da


ação, uma vez que as condições da ação são pré-requisitos de admissibilidade do exame de
mérito, ao passo que os elementos da ação servem para, prima facie, identificar a natureza,
o procedimento e a competência da ação proposta. São elementos da ação:

• as partes;

• a causa de pedir;

• o pedido.

5.1. Partes
Denominam-se partes, em sentido técnico, o autor (ou autores) e o réu (ou réus), que
figuram na demanda. Define-se autor como sendo aquele que pede a prestação
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

jurisdicional, e réu, aquele em face de quem se pede. O Ministério Público pode ser parte
em uma ação, a depender da qualidade em que atua no feito, a exemplo da legitimação
extraordinária, ocorrente nas ações civis públicas. O Ministério Público, quando a lei previr
que este deva atuar ao menos como custos legis na causa, deve ser pessoalmente intimado
dos atos a que deva estar presente, sob pena de nulidade do feito.

Normalmente, o Ministério Público figura como custos legis, ou autor nas ações de
que participa, entretanto é possível figurar como réu em uma ação. Cite-se como exemplo
o seguinte: O Ministério Público propõe ação contra uma determinada pessoa e obtém
procedência. Todavia, em sede de execução desta sentença de procedência, configura-se a
execução excessiva. O executado, então, propõe embargos de devedor contra o Ministério
Público. Nesse caso, por possuírem os embargos natureza de ação autônoma, e em razão de
o parquet figurar como réu dos embargos, conclui-se que o Ministério Público assume a
qualidade de réu.

Tem-se com acerto na doutrina a prescrição de que as partes devem estar


devidamente individualizadas. Todavia, é perfeitamente possível que o pólo passivo da
ação seja ocupado por réus incertos e indeterminados, quando impraticável a determinação
dos réus pelas mais variadas razões, inclusive de segurança, a exemplo da ação possessória
movida contra invasores de uma fazenda, em grande quantidade e que não são conhecidos
do autor. Nesses casos, a citação deverá ser feita por edital.

Outra questão interessante é a possibilidade de exercício do direito de ação, como


parte, pelo nascituro, desde que devidamente representado, uma vez que a legislação põe a
salvo os direitos inerentes à sua condição. O Tribunal de Justiça de São Paulo acolhe tal
entendimento.

Poderá, ainda, no campo da jurisdição voluntária, existir uma ação sem réu, a
exemplo da ação de separação consensual, em que as duas partes são autores, inexistindo o
réu.

Um exemplo de ação sem réu no campo da jurisdição contenciosa é a ação de


investigação de paternidade contra suposto pai que já tenha falecido sem deixar sucessores.
Nesse caso, ninguém figura no pólo passivo da ação. Alguns constitucionalistas defendem
que as ações declaratórias de constitucionalidade também são exemplos de ação sem réu.

Pode, de acordo com parte da doutrina, haver ação sem autor, nos casos em que o
juiz está autorizado a agir de ofício, como nos inventários abertos de ofício (sem que
ninguém requeira), as execuções oriundas do processo do trabalho etc. Sendo o Juiz quem
fez a abertura do inventário sem requerimento de qualquer interessado, não se pode dizer
que o próprio Juiz é o autor da ação.

5.2. Causa de Pedir


A causa de pedir é constituída pelos fatos e pelos fundamentos jurídicos do pedido.
Quem procura o judiciário, está sempre querendo formular um pedido. Assim, os fatos que
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

geraram o pedido devem ser expostos ao juiz, bem como as conseqüências jurídicas que
podem ser extraídas desses fatos, com o fim de gerar segurança nessas relações jurídicas
em litígio.

A doutrina, em voz uníssona, determina existirem a causa de pedir próxima e a


causa de pedir remota. Todavia, na definição dessas a doutrina diverge. Parte da doutrina
entende que os fundamentos jurídicos são a causa de pedir próxima e os fatos, a causa de
pedir remota. Outra facção da doutrina, minoritária, entretanto, entende exatamente o
contrário.

Duas são as teorias a respeito da causa de pedir: a teoria da individuação e a teoria


da substanciação. Pela teoria da individuação, o juiz reconhece ou não a identidade de
processos, e até mesmo a coisa julgada, de acordo com a espécie jurídica invocada
(fundamento jurídico que aparenta o direito legalmente protegido), independentemente dos
fatos que a embasam. Essa teoria não oferece segurança jurídica condizente com o sistema
constitucional pátrio, por não permitir a repropositura de ações com o mesmo pedido e
causa de pedir próxima (fundamento jurídico), mesmo se houvesse fatos constitutivos
diversos. Com efeito, a Constituição, em seu artigo 5.º, inciso XXXV, garante que
nenhuma lesão ou ameaça a direito será excluída da apreciação do poder judiciário.

A teoria da substanciação da causa de pedir, por sua vez, considera como elemento
identificador da ação não apenas a causa de pedir próxima, mas também a causa de pedir
remota, ou seja, os fatos que embasam o fundamento jurídico alegado pelo autor como
originário de seu direito. Assim, permite que uma ação que possui as mesmas partes, o
mesmo pedido, e a mesma causa de pedir próxima, seja novamente analisada pelo Poder
Judiciário, ante a presença de causa de pedir remota (fatos constitutivos) diversa, a
exemplo da repropositura de uma ação de despejo contra o mesmo locatário, cuja ação
anterior tinha como fato constitutivo a inadimplência dos aluguéis, e a atual tem por causa
de pedir remota a desocupação para uso próprio.

A teoria da substanciação é a teoria adotada pelo ordenamento jurídico brasileiro,


mesmo porque, havendo incoerência na classificação do fundamento jurídico pelo
advogado do autor, o juiz, atendendo ao princípio constante do brocardo narra mihi
factum, dabo tibi ius, pode modificá-lo, desde que respeite os fatos alegados como
constitutivos do direito que aparentemente é conferido pelo fundamento jurídico invocado
na inicial.

5.3. Pedido
Define-se como pedido aquilo que o autor quer obter do Poder Judiciário, ante a
resistência do réu em conceder-lhe. Por óbvio, não podem os autores de demandas solicitar
provimentos jurisdicionais sem nenhum pedido, uma vez que o Poder Judiciário não é
órgão consultivo, pois visa a resolução de litígios, aplicando a lei aos casos concretos
apresentados. Aqui, cabe ressaltar que, para fins de estudo do Direito Processual Civil,
entende-se a palavra mérito como pedido, seja ele de acertamento, seja de satisfação, como
ocorre nos processos de execução. A doutrina costuma distinguir pedido mediato e pedido
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

imediato. Pedido mediato (conseqüente, secundário) é o bem da vida que se quer obter na
relação jurídica levada ao Judiciário, a exemplo de uma ação de cobrança, em que o pedido
mediato é o dinheiro que se quer receber. Pedido imediato, a contrario sensu, é o
provimento jurisdicional que se espera. É aquele emanado do Estado-juiz capaz de levar a
efeito a pretensão deduzida relativa ao bem da vida. De acordo com o exemplo acima, na
mesma ação de cobrança, o pedido imediato configura-se na condenação do requerido ao
pagamento do numerário devido.

Além dessa distinção, existem alguns pedidos que não têm necessidade de estar
expressos na petição inicial para que o Juiz os conceda, pois podem ser deferidos de ofício
pelo juiz. São chamados de pedidos implícitos e são eles:

• correção monetária;

• juros legais (6% ao ano);

• verbas de sucumbência (custas e despesas processuais);

• prestações que forem se vencendo à medida em que a ação prossegue (exigíveis


apenas nas relações jurídicas de execução continuadas, denominadas pela melhor
doutrina como relações de trato sucessivo).

Observa-se que, quanto à cumulação de pedidos em uma mesma ação, tais formas
serão melhor explicitadas oportunamente, quando do estudo dos requisitos das petições
iniciais.

5.4. Alteração do Pedido e da Causa de Pedir


O Código de Processo Civil admite a modificação de pedidos nas demandas em
andamento, todavia, de forma não-absoluta, condicionada aos seus termos, uma vez que,
para a estabilização da demanda, o sistema processual utiliza-se de um sistema de
preclusões. Para modificação do pedido e causa de pedir, para fins didáticos observam-se
três fases do processo:

• antes da citação do réu: a alteração é livre, tendo em vista não haver a relação
jurídica completa, submetendo o autor, todavia, ao custeio das despesas
acrescidas em razão do aditamento;

• entre a citação e o despacho saneador: poderá haver a alteração do pedido e/ou


da causa de pedir, desde que haja anuência do réu;

• após o despacho saneador: não é permitida a alteração.

Se o réu for citado, mas não se manifestar no processo, sendo declarado revel, o
autor poderá alterar o pedido e a causa de pedir sem a anuência do réu. Se isso ocorrer,
entretanto, o réu deverá ser novamente citado, reabrindo-se o prazo para contestar aquilo

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

que foi objeto da alteração, pois em relação aos pedidos alterados, não houve ainda o
direito ao contraditório, constitucionalmente consagrado.

6. EXCEÇÃO OU DEFESA

A ação, e por conseqüência, o processo, se desenvolvem como base no direito ao


contraditório, este entendido como a ciência bilateral dos atos e termos do feito, e a
possibilidade de contradição daqueles. Logo, se ao autor é permitido o direito de ação, ao
réu há de se permitir, como se permite, o direito de defender-se das alegações do réu, com
vistas a furtar-se da pretensão deduzida na inicial. A defesa do réu se faz por meio da
exceção, termo equívoco, pois pode ser traduzido de acordo com diversos significados,
mais amplos, ou restritos, conforme se verá.

Genericamente, a exceção, ou defesa, pode se dar sob dois enfoques, a saber, defesa
de mérito e defesa preliminar, que, por sua vez, se subdividem, conforme organograma
abaixo:

Exceções oferecidas em
preliminar de contestação:
Defesa processual constante
Exceções do artigo 301 do CPC.
Preliminares Exceções oferecidas em
(defesa preliminar)
peças autônomas(rituais):
nas modalidades de
Exceção ou Defesa Impedimento, suspeição e
(em sentido amplo) incompetência relativa.

Exceções Defesa de Mérito Direta:


Substanciais Atinge os fatos constitutivos
(defesa de mérito) do direito do autor.
Sempre oferecidas Defesa de Mérito Indireta:
em Contestação.
Atinge os fatos extintivos,
modificativos e impeditivos
do direito do autor.

Com efeito, as denominadas defesas preliminares, objetivam extinguir a relação


jurídica processual sem exame do mérito, seja procrastinando-a (exceções dilatórias), ou
extinguindo de forma definitiva (exceções peremptórias), e podem ser oferecidas em
preliminar de contestação, ou por meio de exceções procedimentais, rituais, ou em sentido
estrito.

A defesa de mérito ataca o pedido formulado pelo autor, de forma direta, quando
ataca os fatos constitutivos do direito alegado; e de forma indireta, quando, ao direito em
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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

questão se apresentam fatos impeditivos, modificativos ou extintivos deste direito em


litígio. Serão oportunamente extenuadas quando do estudo da resposta do réu, no
procedimento comum ordinário.

Cumpre observar que a palavra “exceção”, termo considerado equívoco, possui três
significados:

• Em sentido amplo: é toda e qualquer defesa que possa ser apresentada pelo réu no
processo civil.

• Em sentido estrito: considera-se exceção em sentido estrito, o inverso do que os


processualistas chamam de objeção no processo civil. Tanto a exceção em sentido
estrito quanto a objeção são espécies de defesa. A diferença é que a exceção em
sentido estrito é aquela defesa que o Juiz jamais poderá conhecer de ofício; já a
objeção é aquela defesa que o Juiz deve conhecer de ofício, a exemplo das
denominadas matérias de ordem pública.

• Procedimental (ritual): são aquelas três defesas que não devem ser inseridas na
contestação, havendo necessidade de existir peça autuada em apartado, isto é,
oferecidas em documento diverso da contestação.

6.1. Exceções Procedimentais (Rituais)


Uma vez observado que as exceções rituais são oferecidas em peças autônomas à
contestação, havendo verdadeira relação de prejudicialidade entre as exceções e a
contestação, passamos a descrever suas espécies e conceituá-las. São espécies de exceção
procedimental:

– exceção de suspeição;

– exceção de incompetência relativa;

– exceção de impedimento.

A incompetência relativa é uma exceção ritual, de interposição exclusiva do réu,


uma vez que o autor, ao escolher o juízo no qual propõe a ação, definiu a escolha do juízo
que considerava competente. Além disso, no que tange à possibilidade de ser reconhecida
de ofício pelo juiz, é considerada verdadeira exceção em sentido estrito. Logo, se não for
alegada pelo réu, o Juiz não poderá conhecê-la de ofício. Preclui, portanto, a possibilidade
de seu oferecimento e acatamento tanto para o réu quanto para o Juiz, caso não seja oposta
no prazo.

O impedimento do juiz e dos demais auxiliares da justiça, embora seja alegado por
exceção procedimental, tem natureza de verdadeira objeção para as partes e para o juiz,
pois, se não for alegado no prazo, poderá ser alegado a qualquer tempo pelas partes ou ser
reconhecido de ofício pelo Juiz.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

A suspeição, diferentemente do que ocorre com o impedimento e a suspeição, tem


natureza híbrida, ou seja: para a parte tem natureza de exceção, uma vez que preclui se não
alegada no seu prazo; e para o Juiz tem natureza de objeção, por ser reconhecível de ofício,
em qualquer tempo. Logo, assim que a parte, tomando conhecimento da suspeição do Juiz,
perder o prazo para opor exceção de suspeição, não poderá mais alegá-la, em virtude de ter
se operado a preclusão.

6.2. Procedimentos das Exceções


Antes de passarmos à breve análise dos procedimentos das exceções, cumpre
observar que o prazo para oferecimento destas é de 15 dias, contados do fato que tenha
ocasionado o vício que, por meio da exceção, objetiva-se sanar. Em relação à possibilidade
de reconhecimento destas exceções após o prazo legal de interposição, cabe ressaltar que
dependerá da natureza da exceção ritual (se exceção em sentido estrito ou objeção).

6.2.1. Procedimento da exceção de incompetência relativa


Também denominada exceção declinatória de foro, é modalidade de exceção
exclusiva do réu, e julgada pelo juiz de primeira instância, uma vez que se trata de vício
objetivo, relativo ao juízo, e não à pessoa do juiz.

Seu oferecimento se dá no prazo de 15 dias da juntada aos autos do mandado de


citação cumprido (ainda que o procedimento seja o sumário), sob pena de se prorrogar a
competência. É autuada em apenso, e, admitida pelo juiz, tem o condão de suspender o
processo até decisão final de primeira instância, aquela atacável por meio de agravo. A
seguir, intima-se o “excepto”, assim denominado o autor da ação, para manifestação no
prazo de 10 dias, segue se instrução e decisão. Se acolhida, os autos são remetidos ao juiz
competente, e tornados sem efeito os atos unicamente decisórios.

6.2.2. Procedimento das exceções de impedimento e suspeição


São exceções que visam à modificação da pessoa do juiz, portanto, referem-se ao
sujeito imparcial do processo, e não à inobservância de regras objetivas de competência.
Os motivos estão expostos no Código de Processo Civil, nos artigos 134 (impedimento) e
135 (suspeição), e aqui cabe ressaltar que tais exceções são julgadas pela superior
instância. São ainda sempre reconhecíveis de ofício pelo juiz, todavia, não pode a alegação
de suspeição, pelo réu, ocorrer fora do prazo legal de 15 dias, em razão de sua natureza
híbrida.

Quanto ao procedimento, em primeiro lugar observa-se que o juiz, ou o membro do


tribunal tem o dever de se declarar suspeito ou impedido. A exceção é oferecida por escrito,
e os motivos devem ser especificados, com as respectivas provas, inclusive testemunhal.

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL

Em seguida, o juiz de primeiro grau pode, no despacho, reconhecer o vício, enviando os


autos ao substituto, ou negar, remetendo os autos a superior instância, no prazo de dez dias,
já com suas razões e provas. Se no tribunal houver o reconhecimento do vício, os autos são
enviados ao substituto legal do juiz, e o juiz substituído, nos termos da lei processual, será
condenado nas custas até aquele momento, em havendo comprovação de dolo ou fraude,
atendendo assim ao disposto no artigo 133 do Diploma Processual Civil.

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO III

DIREITO PROCESSUAL PENAL


Inquérito Policial

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Inquérito Policial

Prof. Fernando Capez

1. CONCEITO

É o conjunto de diligências realizadas pela polícia judiciária para a apuração de uma


infração penal e de sua autoria, a fim de que o titular da ação penal possa ingressar em
juízo (artigo 4.º do Código de Processo Penal).

2. NATUREZA JURÍDICA

O inquérito policial é procedimento persecutório de caráter administrativo e


natureza inquisitiva instaurado pela autoridade policial.

É um procedimento, pois é uma seqüência de atos voltados a uma finalidade.

Persecutório porque persegue a satisfação do jus puniendi.

Persecução é a atividade estatal por meio da qual se busca a punição e se inicia,


oficialmente, com a instauração do inquérito policial, também conhecido como informatio
delicti.

3. FINALIDADE

Conforme dispõe os artigos 4.º e 12 do Código de Processo Penal, o inquérito visa a


apuração da existência de infração penal e a respectiva autoria, a fim de fornecer ao titular
da ação penal elementos mínimos para que ele possa ingressar em juízo.

A apuração da infração penal consiste em colher informações a respeito do fato


criminoso. Apurar a autoria consiste naautoridade policial desenvolver a necessária
atividade, visando descobrir o verdadeiro autor da infração penal.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

4. POLÍCIA JUDICIÁRIA

Quanto ao objeto, a polícia pode ser administrativa (preventiva) ou judiciária


(repressiva). A polícia judiciária tem a função de auxiliar a justiça, apurando as infrações
penais e suas respectivas autorias.

O artigo 4.º, caput, do Código de Processo Penal usava inadequadamente o termo


“jurisdição”. O termo jurisdição designa a atividade por meio da qual o Estado, em
substituição às partes, declara a preexistente vontade da lei ao caso concreto.

A Lei n. 9.043, de 9.5.1995, trocou o termo “jurisdição” por “circunscrição” (limites


territoriais dentro dos quais a polícia realiza suas funções).

O parágrafo único do citado artigo também contém uma impropriedade. Ao dispor


que “a competência definida neste artigo não excluirá a de autoridades administrativas, a
quem por lei seja cometida a mesma função”, o legislador foi infeliz, pois a autoridade
policial não tem competência, mas sim atribuições. O termo competência aqui empregado
deve ser entendido como poder conferido a alguém para conhecer determinados assuntos,
não se confundindo com competência jurisdicional, que é a medida concreta do Poder
Jurisdicional.

Salvo algumas exceções, a atribuição para presidir o inquérito policial é conferida


aos Delegados de Polícia (artigo 144, §§ 1.º e 4.º, da Constituição Federal de 1988),
conforme as normas de organização policial dos Estados. A atribuição pode ser fixada, quer
pelo lugar da consumação da infração (ratione loci), quer pela natureza da mesma (ratione
materiae).

A autoridade policial, em regra, não poderá praticar qualquer ato fora dos limites de sua
circunscrição, sendo necessário:

• se for em outro país: carta rogatória;

• se for em outra comarca: carta precatória;

Se for no Distrito Federal ou em circunscrição diferente dentro da mesma comarca,


a autoridade poderá ordenar diligências independente de precatórias ou requisições (artigo
22 do Código de Processo Penal).O flagrante deve ser lavrado no local em que se efetivou
a prisão, mas se neste não houver Delegado de Polícia, deverá o preso ser apresentado à
circunscrição mais próxima (artigos 290 e 308, ambos do Código de Processo Penal).
Concluído o flagrante, devem os atos subseqüentes ser praticados pela autoridade do local
em que o crime se consumou.

Observação: tem-se entendido que a falta de atribuição da autoridade policial não


invalida os seus atos, ainda que se trate de prisão em flagrante, pois a Polícia, por não
exercer atividade jurisdicional, não se submete à competência jurisdicional ratione loci.
Conforme já decidiu o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça, o
inquérito policial é peça meramente informativa, cujos vícios não contaminam a ação
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DIREITO PROCESSUAL PENAL

penal.

O inciso LIII do artigo 5.º da Constituição Federal não se aplica às autoridades


policiais, pois estas não processam (promotor natural) nem sentenciam (juiz natural).
Assim, não foi adotado pelo referido dispositivo constitucional o princípio do “Delegado
Natural”.

5. INQUÉRITOS EXTRAPOLICIAIS (artigo 4.º, parágrafo único, do


Código de Processo Penal)

Em regra, os inquéritos policiais são presididos por Delegado de Polícia de Carreira


(artigo 144, § 4.º, da Constituição Federal), mas o parágrafo único do artigo 4.º do Código
de Processo Penal deixa claro que o inquérito realizado pela polícia judiciária não é a única
forma de investigação criminal.

Excepcionalmente, portanto, há casos em que são presididos por outras autoridades


e não pelo Delegado de Polícia, tais como:

• Inquérito judicial para apuração de infrações falimentares (presidido pelo juiz da


vara onde tramita a falência).

• Comissões Parlamentares de Inquérito (artigo 58, § 3.º, da Constituição Federal).

• Crime cometido nas dependências da Câmara dos Deputados ou do Senado


Federal (Súmula n. 397 do Supremo Tribunal Federal – “O poder de polícia da
Câmara dos Deputados e do Senado Federal, em caso de crime cometido nas
suas dependências, compreende, consoante o regimento, a prisão em flagrante do
acusado e a realização do inquérito”).

• Inquérito civil (instaurado pelo Ministério Público, para proteção do patrimônio


público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;
conforme dispõe o artigo 129, inciso III, da Carta Magna).

• Inquérito policial militar.

• Magistrado (o delegado deve remeter os autos ao tribunal ou a órgão especial


competente para o julgamento).

• Membro do Ministério Público (os autos devem ser remetidos ao Procurador-


Geral de Justiça).

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

6. VALOR PROBATÓRIO

O inquérito policial tem conteúdo informativo; visa apenas fornecer elementos


necessários para a propositura da ação penal.

Tem valor probatório relativo, pois os elementos de informação não são colhidos
sob a égide do contraditório e da ampla defesa, tampouco na presença do Juiz de Direito.

7. DISPENSABILIDADE

O inquérito policial é uma peça útil, porém não imprescindível. Não é fase
obrigatória da persecução penal. Poderá ser dispensado sempre que o Ministério Público ou
o ofendido (no caso da ação penal privada) tiver elementos suficientes para promover a
ação penal (artigo 12 do Código de Processo Penal).

O artigo 27 do Código de Processo Penal dispõe que qualquer pessoa do povo


poderá fornecer, por escrito, informações sobre o fato e a autoria, indicando o tempo, o
lugar e os elementos de convicção, demonstrando que quando as informações forem
suficientes não é necessário o inquérito policial.

Segundo o artigo 39, § 5.º, do Código de Processo Penal, o órgão do Ministério


Público dispensará o inquérito se com a representação forem oferecidos elementos que o
habilitem a promover a ação penal.

Atenção: o titular da ação penal pode abrir mão do inquérito policial, mas não pode
eximir-se de demonstrar a verossimilhança da acusação, ou seja, não se concebe que a
acusação careça de um mínimo de elementos de convicção.

7.1. Juizados Especiais


De acordo com o disposto nos artigos 69 e 77, § 1.º, da Lei n. 9.099/95, o inquérito
policial é substituído por um simples boletim de ocorrência circunstanciado, lavrado pela
autoridade policial, chamado de termo circunstanciado, no qual constará uma narração
sucinta dos fatos, bem como a indicação da vítima, do autor do fato e das testemunhas, em
número máximo de três, seguindo em anexo um boletim médico ou prova equivalente,
quando necessário para comprovar a materialidade delitiva (dispensa-se o laudo de exame
de corpo de delito). Lavrado o termo, este será encaminhado ao Juizado Especial Criminal.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

8. CARACTERÍSTICAS

• Procedimento escrito: conforme determina o artigo 9.º do Código de Processo


Penal.

• Procedimento sigiloso (artigo 20 do Código de Processo Penal): o sigilo busca


salvaguardar a intimidade do indiciado, resguardando-se, assim, seu estado de
inocência. O sigilo não se estende ao representante do Ministério Público, nem à
autoridade judiciária. Advogado pode consultar os autos de inquérito, mas, caso
seja decretado judicialmente o sigilo, não poderá acompanhar a realização de atos
procedimentais (Lei n. 8.906/94, artigo 7.º, incisos XIII a XV, e § 1.º).

• Procedimento inquisitivo: todas as atividades concentram-se nas mãos de uma


única autoridade, que pode agir de ofício e discricionariamente para esclarecer o
crime e sua autoria. Não há acusação nem defesa, logo não há contraditório
(exceções: há contraditório no inquérito judicial e no inquérito para expulsão de
estrangeiro). Não pode ser argüida suspeição da autoridade policial (artigo 107 do
Código de Processo Penal). O artigo 14 do Código de Processo Penal dispõe que
a autoridade policial poderá indeferir pedido de diligência, exceto o exame de
corpo de delito (artigo 184 do Código de Processo Penal).

• Legalidade: o inquérito policial não pode ser arbitrário, ou seja, deve obedecer à
lei.

• Oficiosidade: esse princípio se funda no princípio da obrigatoriedade ou


legalidade. Sendo um crime de ação penal pública incondicionada, a autoridade
tem o dever de instaurar o inquérito policial de ofício (artigo 5.º, inciso I, do
Código de Processo Penal).

• Oficialidade: o inquérito policial é dirigido por órgãos públicos oficiais, no caso,


a autoridade policial. É uma atividade investigatória feita por órgãos oficiais.

• Indisponibilidade: uma vez instaurado, o inquérito policial não pode ser


arquivado pela autoridade policial (artigo 17 do Código de Processo Penal).

• Autoritariedade: é presidido por uma autoridade pública. Trata-se de exigência


constitucional (artigo 144, § 4.º).

9. INCOMUNICABILIDADE

Destinada a impedir que a comunicação do preso com terceiros venha a prejudicar o


desenvolvimento da investigação.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

Mediante despacho fundamentado do juiz a partir de requerimento da autoridade


policial ou do Ministério Público, respeitadas as prerrogativas do advogado, poderá ser
decretada a incomunicabilidade do indiciado pelo prazo de até três dias, por conveniência
da investigação ou interesse da sociedade (artigo 21 do Código de Processo Penal).

Entendemos que a incomunicabilidade não foi recepcionada pela nova ordem


constitucional. A Constituição Federal, em seu artigo 136, § 3.º, inciso IV, proíbe a
incomunicabilidade durante o estado de defesa. Assim, se é vedada em situações
excepcionais, com mais razão deve ser vedada em situações de normalidade. Em sentido
contrário, o Professor Damásio de Jesus entende que a proibição está relacionada com
crimes políticos ocorridos durante o estado de defesa.

A incomunicabilidade, de qualquer forma, não se estende ao advogado (Estatuto da


Ordem dos Advogados do Brasil, artigo 7.º, inciso III).

10. “NOTITIA CRIMINIS”

10.1. Conceito
É o conhecimento, espontâneo ou provocado, de um fato aparentemente delituoso
pela autoridade policial.

10.2. Espécies
• “Notitia Criminis” de cognição direta, imediata, espontânea ou inqualificada:
ocorre quando a autoridade policial toma conhecimento direto da infração penal
por meio de suas atividades rotineiras. Exemplo: policiamento, imprensa, pelo
encontro do corpo de delito ou até pela delação anônima. A delação anônima
(apócrifa) é chamada notitia criminis inqualificada.

• “Notitia Criminis” de cognição indireta, mediata, provocada ou qualificada:


ocorre quando a autoridade policial toma conhecimento do delito por meio de
algum ato jurídico de comunicação formal, como por exemplo a delatio criminis
(comunicação de um crime feito pela vítima ou por qualquer um do povo), a
requisição do Ministério Público ou autoridade judiciária e a representação do
ofendido.

• “Notitia Criminis” de cognição coercitiva: ocorre no caso de prisão em


flagrante, em que a notícia se dá com a apresentação do autor do fato.
Observação: se for crime de ação pública condicionada ou de iniciativa privada,
o auto de prisão em flagrante somente poderá ser lavrado se forem observados os
requisitos dos §§ 4.º e 5.º do artigo 5.º do Código de Processo Penal.

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DIREITO PROCESSUAL PENAL

11. INÍCIO

11.1. Nos Crimes de Ação Pública Incondicionada


• De ofício: a autoridade tem a obrigação de instaurar o inquérito policial,
independente de provocação, sempre que tomar conhecimento imediato e direto
do fato, por meio de delação verbal ou por escrito, feito por qualquer pessoa do
povo (delatio criminis simples), notícia anônima (notitia criminis inqualificada),
por meio de sua atividade rotineira (cognição imediata), ou no caso de prisão em
flagrante. O ato de instauração é a portaria.

• Por requisição da autoridade judiciária ou do Ministério Público: não obstante


a hipótese prevista no artigo 40 do Código de Processo Penal, se não estiverem
presentes os elementos indispensáveis ao oferecimento da denúncia, a autoridade
judiciária poderá requisitar a instauração de inquérito policial para a elucidação
dos fatos. A autoridade policial não pode se recusar a instaurar o inquérito, pois a
requisição tem natureza de determinação, de ordem, muito embora inexista
subordinação hierárquica.

• Delatio criminis: é a comunicação de um crime feita pela vítima ou por qualquer


um do povo. Caso a autoridade policial indefira a instauração de inquérito,
caberá recurso ao Secretário de Estado dos Negócios da Segurança Pública ou ao
Delegado-Geral de Polícia (artigo 5.º, § 2.º, do Código de Processo Penal). A
delatio criminis pode ser simples (mera comunicação) ou postulatória (comunica
e pede a instauração da persecução penal). Trata-se de faculdade conferida ao
cidadão de colaborar com a atividade repressiva do Estado. Contudo, há algumas
pessoas que, em razão do seu cargo ou função, estão obrigadas a noticiar a
ocorrência de crimes de que tenham tomado conhecimento no desempenho de
suas atividades (artigo 66, incisos I e II, da Lei das Contravenções Penais; artigo
45 da Lei n. 6.538/78; artigo 269 do Código Penal; artigos 104 e 105 da Lei de
Falências).

11.2. Nos Crimes de Ação Pública Condicionada


• Mediante representação do ofendido ou de seu representante legal: a
representação é simples manifestação de vontade da vítima ou de seu
representante legal, não havendo exigência formal para a sua elaboração.

• Mediante requisição do Ministro da Justiça: deve ser encaminhada ao chefe do


Ministério Público o qual poderá, desde logo, oferecer a denúncia ou requisitar
diligências à polícia.

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___________________________________________________________________________MÓDULO III
DIREITO PROCESSUAL PENAL

11.3. Nos Crimes de Ação Privada


Nesses casos a instauração do inquérito policial depende de requerimento do
ofendido, de seu representante legal ou sucessores, conforme disposto no artigo 5.º, § 5.º,
combinado com os artigos 30 e 31, todos do Código de Processo Penal.

O artigo 35 do Código de Processo Penal não foi recepcionado pela Constituição


Federal, por força do artigo 226, § 5.º, podendo a mulher casada requerer a instauração do
inquérito policial independentemente de outorga marital. Nada obstante, a Lei n. 9.520, de
27.11.1997, revogou expressamente a norma contida no artigo 35 do Código de Processo
Penal.

11.4. Observações
O inquérito policial também pode começar mediante auto de prisão em flagrante nos
três casos (ação penal pública incondicionada, condicionada e ação penal privada). Nos
crimes de ação pública condicionada e de ação privada, o ofendido deverá ratificar o
flagrante até a entrega da nota de culpa (24h).

A autoridade policial não poderá instaurar o inquérito policial se não houver justa
causa (se o fato for atípico ou se estiver extinta a punibilidade). Porém, o desconhecimento
da autoria ou a possibilidade do sujeito ter agido sob a proteção de alguma excludente da
ilicitude não impede a instauração do inquérito.

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO III

DIREITO TRIBUTÁRIO
Leis Tributárias
Classificação Jurídica dos Tributos: impostos, taxas e
contribuições de melhoria

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DIREITO TRIBUTÁRIO

DIREITO TRIBUTÁRIO

Leis Tributárias

Classificação Jurídica dos Tributos: impostos, taxas

e contribuições de melhoria

Prof. José Marcelo Martins Proença

1. LEIS TRIBUTÁRIAS

Em decorrência do princípio da legalidade, temos que o tributo só pode ser


instituído por meio de lei. Partindo-se desse princípio, e verificando-se o disposto no artigo
145, e incisos, da Constituição Federal é de se afirmar que a União é competente para a
edição de leis tributárias federais, instituindo, assim, tributos federais. Já aos Estados,
compete instituir tributos estaduais; aos Municípios, tributos municipais; e, finalmente, ao
Distrito Federal cabe a edição de leis tributárias distritais, instituindo os tributos distritais.

A Constituição Federal estabelece o campo de atuação de cada uma das leis,


delimitando a incidência das mesmas, e, por esse motivo, já fora mencionado que tal
diploma legal é denominado “carta das competências”. Esta faculdade de instituir tributos,
conferida pelo diploma a cada um dos entes políticos é denominada “competência
tributária” e só pode advir de expressa previsão constitucional, sendo indelegável.

Assim, obedecidos os dispositivos da Carta Magna, é de se entender que as normas


instituídas por quaisquer dos ditos “entes tributantes” (União, Estados, Distrito Federal e
Municípios) encontram-se no mesmo plano jurídico, não havendo qualquer hierarquia entre
elas. Só é possível falar em hierarquia entre normas jurídicas quando umas extraem das
outras a validade e a legitimidade.

Invadida a competência de uma entidade política por meio da edição de lei por ente
incompetente, esta norma será considerada inconstitucional. Assim, para tratar de um
determinado tributo, necessária a existência de uma única lei, sob pena de uma segunda lei
ser considerada inconstitucional, por invadir esfera de competência que não lhe pertence.

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DIREITO TRIBUTÁRIO

2. CLASSIFICAÇÃO JURÍDICA DOS TRIBUTOS

Classificar é dividir um conjunto de seres (coisas, objetos) em categorias, de acordo


com critérios preestabelecidos.

A classificação jurídica dos tributos baseia-se nas normas jurídicas tributárias em


vigor estabelecidas na Constituição Federal, tendo sofrido modificação no decorrer do
tempo.

Inicialmente, defendia-se a classificação “bipartide”, que arrolava duas espécies de


tributo: impostos e taxas. Posteriormente, surgiu a classificação “tripartide”, a qual
determina a existência de três espécies de tributo: impostos, taxas e contribuições.

Há corrente que defende esta última classificação em decorrência de expressa


previsão no artigo 5º do Código Tributário Nacional e artigo 145 do Diploma
Constitucional e, além disso, esse entendimento doutrinário baseia-se na afirmação de que
os empréstimos compulsórios e as contribuições especiais são tributos que podem ser
exteriorizados como taxa ou imposto, ou seja, não são outras espécies tributárias.
Entretanto deve-se ter em mente a classificação trazida pela Carta Magna, adiante
mencionada.

Já foi decidido pelo Supremo Tribunal Federal que a classificação adotada pelo
constituinte foi a “qüinqüipartide”, segundo a qual o gênero tributo é dividido em cinco
espécies: impostos, taxas, contribuição de melhoria, contribuições especiais e empréstimos
compulsórios. No entanto, não houve unanimidade em tal decisão, havendo voto pela
classificação em quatro espécies (“quadripartide”): impostos, taxas, contribuições e
empréstimos compulsórios.

Finalmente, é de se concluir que as classificações acima mencionadas não se


substituíram gradativamente, pois ainda interagem. Entretanto, deve-se ter por vetor a
classificação dada pelo guardião da Constituição, o qual acolheu a divisão em cinco
espécies:

• impostos (artigo 145 da Constituição Federal);

• taxas (artigo 145 da Constituição Federal);

• contribuições de melhoria (artigo 145 da Constituição Federal);

• empréstimos compulsórios (artigo 148 da Constituição Federal);

• contribuições especiais (artigo 149 da Constituição Federal);

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DIREITO TRIBUTÁRIO

2.1. Impostos
Previstos geograficamente como a primeira modalidade de tributo, arrolados no
inciso I do artigo 145 da Constituição Federal, a teor do que dispõe o artigo 16 do Código
Tributário Nacional, “imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma situação
independente de qualquer atividade estatal específica relativa ao contribuinte”.
Denominado pelos tributaristas ibéricos tributo sem causa, tem fundamento de validade no
poder de império do ente tributante. É ato de soberania, e nasce sempre de fatos regidos
pelo Direito Privado. A título de exemplo temos a venda de mercadorias (regida pelo
Direito Comercial) que gera Imposto sobre Operações Mercantis (ICMS) e, também, a
prestação de serviços (regida pelo Direito Civil), a qual gera Imposto Sobre Serviços (ISS).

São os tributos economicamente mais importantes, pois se destinam,


primordialmente, à arrecadação de fundos para consecução dos fins do Estado. De acordo
com a classificação desenvolvida por Geraldo Ataliba, os impostos são tributos não
vinculados, isto é, não se faz necessário que a União, os Estados-membros, os Municípios
ou o Distrito Federal prestem, por exemplo, um serviço público ou realizem uma obra
pública para poderem cobrar imposto, pois não há uma equivalência entre o montante que
uma pessoa paga a título de imposto e o que o Estado reverte em seu benefício, ou seja,
não há necessidade de uma contraprestação por parte do ente tributante.

Como já mencionado, imposto é modalidade de tributo que tem por hipótese de


incidência um comportamento do contribuinte ou uma situação jurídica na qual ele se
encontra, e nunca uma atuação estatal. Com efeito, por comportamento do contribuinte
pode-se entender a aquisição de um imóvel, a venda de uma mercadoria ou a prestação de
um serviço. Sobre estas transações há a incidência, respectivamente, do Imposto sobre
Transmissão Inter Vivos (ITBI), Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de
Serviços de Transporte Interestadual ou Intermunicipal e Comunicação (ICMS) e Imposto
Sobre Serviços (ISS).

Já situação jurídica na qual o contribuinte se encontraé exemplificada pelo caso de


ser proprietário de um imóvel, o que obriga ao pagamento de Imposto sobre a Propriedade
Predial e Territorial Urbana, enquanto que a propriedade de um imóvel rural obriga ao
pagamento de Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural.

2.1.1. Competência dos impostos


A teor do disposto na Constituição Federal, a competência para instituição de
impostos divide-se em federal, estadual e municipal, segundo dispõem os artigos 153, 155
e 156.

A União tem competência para instituir impostos federais, os Estados, impostos


estaduais, os Municípios instituem impostos municipais e, finalmente, o Distrito Federal
tem competência dúplice: institui impostos estaduais e municipais, a depender da matéria
que esteja regulando.

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DIREITO TRIBUTÁRIO

Segue, abaixo, relação de impostos, de acordo com a competência para sua


instituição:

a) Impostos federais – artigo 153 da Constituição Federal

• Imposto sobre Importação (II);

• Imposto sobre a Exportação (IE);

• Imposto sobre a Renda e Proventos (IR);

• Imposto de Produtos Industrializados (IPI);

• Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).

• Imposto sobre a Propriedade Territorial Rural (ITR);

• Imposto sobre Grandes Fortunas (IGF).

b) Impostos estaduais e do Distrito Federal – artigo 155 da Constituição


Federal/88

• Imposto sobre Transmissão Causa Mortis e Doações (ITCMD);

• Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços de Transporte


Interestadual ou Intermunicipal e Comunicação (ICMS);

• Imposto sobre Propriedade de Veículos Automotores (IPVA).

c) Impostos municipais e do Distrito Federal – artigos 156 e 147, in fine, da


Constituição Federal/88

• Imposto Sobre a Propriedade Predial Territorial Urbano (IPTU).

• Imposto sobre Transmissão Inter Vivos (ITBI).

• Imposto sobre Serviços (ISS).

A teor do que fora mencionado anteriormente, o Distrito Federal pode criar os


impostos estaduais e municipais. Esta competência dúplice, também denominada
“competência impositiva dobrada”, decorre de expressa previsão, nos artigos 155, caput, e
147, in fine, ambos da Constituição Federal. Isto ocorre pois a competência impositiva
distrital é o somatório das competências impositivas dos Estados e Municípios.

Ainda, diz-se que a União tem a denominada “competência residual”, uma vez que
pode instituir impostos não previstos no artigo 153 desde que por meio de lei
complementar, não cumulativos e que não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios
de outros impostos discriminados na Carta Magna. Tal previsão é encontrada no inciso I do
artigo 154 da Constituição Federal e tal competência residual é tida como infinita (pois,

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DIREITO TRIBUTÁRIO

desde que cumpra as limitações ditas, não sofre qualquer restrição).A título de exemplo
pode ser citado o imposto sobre arrematações.

Cumpre ressaltar que dita “competência residual” limita-se apenas aos impostos e
não a qualquer tributo. Interessante se faz mencionar que a competência absoluta para
instituição de impostos, determinada pelos artigos supra mencionados, pode ser elidida por
expressa previsão constitucional. Assim, no caso de guerra externa ou quando esta se
demonstrar iminente, o inciso II do artigo 154 autoriza que a União institua impostos
extraordinários, compreendidos ou não em sua competência tributária. Isto significa que,
nestes casos particulares, a invasão de competência das outras entidades tributantes é
constitucionalmente autorizada. Em decorrência da falta de expressa previsão em relação à
espécie legislativa, os tributos em geral devem ser criados por lei ordinária. Exceção a esta
regra encontra-se nos impostos de competência impositiva residual da União, previstos no
inciso I do artigo 154 da Constituição Federal, nos empréstimos compulsórios (artigo 148
da Constituição Federal/88) e na contribuição para seguridade social (artigo 195, § 4.º, da
Constituição Federal), os quais devem ser criados por meio de lei complementar.

2.1.2. Classificação dos impostos


A doutrina apresenta classificação dos impostos, a depender das características que
determinam sua exigibilidade. Assim, temos a seguinte classificação:

a) Pessoais

Impostos de característica pessoal são aqueles que guardam diferenças tributárias


em função das condições próprias de cada um dos contribuintes. A título de exemplo temos
o Imposto Sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza de pessoa física, que verifica
questões de cunho pessoal de cada um dos contribuintes para consumar a cobrança
(número de dependentes, renda auferida no exercício etc)..

b) Reais

Impostos que incidem igualmente para todas as pessoas que realizam o fato
imponível, não levando em consideração as condições pessoais, isto é, considerando
apenas aspectos objetivos (nunca subjetivos) do contribuinte. Temos, como exemplo de
imposto real, o Imposto sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana (IPTU), que
incide sobre o contribuinte desde que este possua imóvel.

c) Diretos

Como diretos são classificados os impostos que reúnem no sujeito passivo as


condições de contribuinte de fato e de direito. Saliente-se que contribuinte de fato é aquele
sobre quem recai o ônus do imposto, enquanto que contribuinte de direito responsabiliza-se
pelo cumprimento de todas as obrigações tributárias previstas na legislação. É exemplo o
Imposto Sobre Serviços de autônomos, os quais praticam o fato imponível e são os
próprios obrigados a saldar o débito.
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DIREITO TRIBUTÁRIO

d) Indiretos

Impostos indiretos são aqueles suportados pelo contribuinte de fato.

Tais impostos surgem quando, na relação jurídico-tributária estabelecida entre


Estado e sujeito passivo que, neste caso, se demonstra contribuinte de direito, este último
paga o tributo correspondente e, posteriormente, se ressarce, ao cobrar de terceiro
(contribuinte de fato), por meio da inclusão do imposto no preço. Como anteriormente
mencionado, aquele que paga o imposto e mantém a relação pessoal e direta com o Estado
denomina-se contribuinte de direito; o terceiro, estranho à relação jurídico-tributária
(embora vinculado ao fato gerador), é denominado de contribuinte de fato (porque de fato
foi ele quem suportou o ônus do imposto). É o fenômeno econômico da transladação ou
repercussão dos tributos. A título de exemplo temos o Imposto sobre Operações Mercantis
(ICMS), no qual o consumidor final paga pelo produto, que inclui o valor do bem e o valor
do tributo (incidente sobre o produto). O consumidor final não é o atingido diretamente.
Ele é o contribuinte de fato e não o contribuinte de direito.

Há expressa previsão, no artigo 166 do Código Tributário Nacional, no sentido de


que a repetição dos chamados impostos indiretos só é possível quando o contribuinte de
direito não tiver repassado ao contribuinte de fato a carga econômica do tributo ou quando,
tendo havido tal repasse, o contribuinte de direito estiver expressamente autorizado, pelo
contribuinte de fato, a ingressar com o pedido de repetição. Podemos citar, como exemplo,
o caso de o contribuinte recolher ICMS a mais. Neste caso, ele só poderá pedir a repetição
se ocorrer uma das hipóteses mencionadas no artigo 166 do Código Tributário Nacional.
No entanto, essas situações não são verificadas corriqueiramente, uma vez que, geralmente,
há o repasse ao contribuinte de fato, sendo impossível, em tese, a obtenção de autorização
deste.

De acordo com a Súmula 546 do Supremo Tribunal Federal, “Cabe restituição do


tributo pago indevidamente, quando reconhecido por decisão que o contribuinte de jure
não recuperou do contribuinte de facto o quantum respectivo.”

2.1.3. Princípio informador dos impostos


Princípio é vetor; algo que ordena, dá direção. Assim, princípio informador dos
impostos é aquele que determina suas premissas, estabelece suas bases.

No Brasil, em decorrência de expressa previsão constitucional situada na primeira


parte do parágrafo 1º do artigo 145, temos que o princípio da capacidade contributiva
deverá reger as relações entre os sujeitos ativo e passivo, quando da instituição e cobrança
daqueles tributos. Segundo referido dispositivo, temos que “sempre que possível os
impostos terão caráter pessoal e serão graduados segundo a capacidade econômica do
contribuinte”.

O princípio acima mencionado extrai forças do princípio da igualdade e ajuda a


realizar os ideais republicanos, visando a tributar com maior intensidade aqueles que têm
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DIREITO TRIBUTÁRIO

maiores condições e, de maneira menos intensa, aqueles que possuem menor potencial
contributivo. Por meio das denominadas alíquotas progressivas é que se busca alcançar o
princípio da capacidade contributiva. Tal progressividade de alíquotas funciona da seguinte
forma: quanto maior a base de cálculo sobre a qual incide o tributo, tanto maior a alíquota
a ser suportada pelo contribuinte. A título de exemplo, temos o Imposto sobre a Renda e
Proventos de Qualquer Natureza (IR), o qual possui três alíquotas diferentes, a serem
verificadas de acordo com os valores auferidos em determinado exercício. Tais alíquotas
são 0% (para aqueles que possuem rendimento mensal até R$ 1.058,00), 15% (para
rendimentos entre R$ 1.058,00 e R$ 2.115,00) e 27,5% (àqueles que recebem,
mensalmente, valores acima de R$ 2.115,00).

É importante salientar que o princípio da capacidade contributiva não se trata de


princípio absoluto, vale dizer, deve ser aplicado “sempre que possível”, a teor do disposto
no parágrafo 1º do artigo 145 da Constituição Federal. Assim, quer destacar a Carta Magna
que há impostos aos quais se faz impossível imprimir qualquer caráter pessoal. Podemos
citar como exemplo o Imposto sobre Operações Mercantis (ICMS), o qual não respeita o
princípio em estudo, pois é o consumidor final que suporta a carga econômica, e este
suportará sempre a mesma alíquota, pouco importando a sua capacidade contributiva.
Outro exemplo a ser mencionado é o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), o qual
também não respeita esse princípio.

Finalmente, interessante informar que o Imposto sobre Operações Mercantis


(ICMS), previsto no inciso II do artigo 155 da Constituição Federal e o Imposto sobre
Produtos Industrializados, verificado no inciso IV do artigo 153 da Carta Magna, embora
não respeitem o princípio da capacidade contributiva, são impostos seletivos em função das
mercadorias e serviços e da essencialidade dos produtos industrializados, respectivamente.

2.2. Taxa
Trata-se de modalidade prevista no inciso II do artigo 145 da Constituição Federal,
segundo o qual taxa é tributo que tem por hipótese de incidência uma atuação estatal
diretamente referida ao contribuinte consistente em um serviço específico e divisível ou em
um ato de polícia. Assim, é de se afirmar que se trata, de acordo com a clássica
classificação de Geraldo Ataliba, de tributo vinculado a uma atuação estatal. Isto significa
que o fato gerador não é um comportamento do contribuinte ou situação jurídica em que
este se encontre, e sim uma atuação estatal. Deve-se salientar que a especificidade da taxa
advém de seu fato gerador ser uma atividade estatal específica relativa ao contribuinte.

O artigo 77 do Código Tributário Nacional, que teve sua regra repetida pela Magna
Carta, estabelece que a atuação estatal, a depender de sua natureza, pode originar a taxa de
serviço ou taxa de polícia. Assim, somente a prestação de um serviço público ou a prática
de ato de polícia são hipóteses de incidência deste tributo.

Salienta-se que, em nosso ordenamento jurídico, existem apenas a de serviço e a


taxa de polícia, a seguir explicitadas.

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DIREITO TRIBUTÁRIO

Outrossim, qualquer outra pretensa modalidade de taxa deve ser repugnada por
absoluta inconstitucionalidade.

2.2.1. Taxa de serviço


É modalidade de taxa que tem por hipótese de incidência um serviço público
específico e divisível prestado ao contribuinte ou colocado à sua disposição.

Segundo Celso Antonio Bandeira de Mello, “serviço público é a prestação de


utilidade material usufruível individualmente sob o regime de Direito Público”. É dito
público todo serviço submetido ao regime de Direito Público.

Classificam-se, os serviços públicos, em:

a) Gerais (universais)

Têm amplo espectro, alcançando a comunidade considerada como um todo. Não se


referem diretamente a ninguém.

São prestados uti universi e, por esse motivo, devem ser custeados pelas receitas
gerais da pessoa política que os presta (impostos), e nunca por meio de taxas, posto que
não podem ser divididos entre os contribuintes.

A título de exemplo temos o serviço de segurança pública, o serviço diplomático, o


serviço de defesa da soberania nacional e serviço de iluminação pública, dentre outros.

b) Específicos (singulares)

Serviços públicos específicos, ou singulares, são os que alcançam pessoas


individualmente consideradas, referindo-se diretamente a alguém.

São prestados uti singuli, dotados de divisibilidade (possibilidade de aferir-se a


utilização efetivo-potencial individualmente considerada) e, por esse motivo, devem ser
pagos por aqueles que os aproveitaram.

Estes devem ser tributados por meio de taxas, devido à sua divisibilidade e
possibilidade de identificação de cada um dos contribuintes.

É exemplo de serviço público específico o serviço de fornecimento domiciliar de


água potável, o serviço de fornecimento domiciliar de energia elétrica, o serviço de
transporte coletivo etc.

c) Divisíveis

Em razão do que dispõe o inciso III do artigo 79 do Código Tributário Nacional,


divisibilidade é a possibilidade de o contribuinte aferir a utilização efetiva ou potencial,
individualmente considerada.

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DIREITO TRIBUTÁRIO

No Brasil, a taxa pode ser cobrada de quem efetivamente se utiliza do serviço


público ou de quem tem a disponibilidade do serviço público. A simples disponibilidade já
dá ensejo à cobrança da taxa.

d) Fruíveis

Em obediência ao que determina o inciso II do artigo 145 da Magna Carta, o serviço


público a ser tributado por meio de taxa necessita estar, no mínimo, à disposição do
contribuinte. Neste caso, diz-se que o serviço é potencialmente utilizado.

Entretanto, não é necessário que o contribuinte utilize efetivamente do serviço,


bastando o preenchimento deste requisito mínimo acima mencionado.

Assim, para que o serviço público possa servir como fato gerador da taxa, deve este
ser:

- específico e divisível;

- prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição;

- utilizado, efetiva ou potencialmente, pelo contribuinte.

Discussão que ainda não teve solução faz referência à natureza jurídica do pedágio.
Quanto a isso, temos que uma parte da doutrina define o pedágio como sendo uma taxa de
serviço, com base no artigo 150, inciso V, da Constituição Federal, cuja divisibilidade
somente se manifesta no momento da utilização da via pública. Já outra corrente
doutrinária defende tratar-se de um preço público (vide item 2.2.6.).

Quanto a esse tema, já houve decisão pelo Supremo Tribunal Federal, no sentido de
que o pedágio tem natureza jurídica de taxa (STF, 2ª Turma, unânime, RE 181.475-6-RS,
DJU-e-1 de 25-6-99, p.28). Entretanto, a doutrina ainda diverge, fazendo diferenciação
com base nas características de caso a caso. Assim, deverá ser verificada, inicialmente, a
existência de compulsoriedade no pagamento. Sendo compulsório o pagamento, estaremos
diante de uma taxa.

Caso contrário, sendo o pagamento facultativo, estaremos diante de um preço


público (ou tarifa).

De acordo com Vittorio Cassone, a compulsoriedade pode se caracterizar pela


inexistência de via alternativa para passagem, além daquela em que se cobra o pedágio.
Portanto, se não houver margem para escolha do contribuinte, estaremos diante da
cobrança de uma taxa. Outrossim, se houver possibilidade de o indivíduo optar pela
passagem por tal ou qual rodovia, estaremos diante de um preço público (tarifa).

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DIREITO TRIBUTÁRIO

2.2.2. Taxa de polícia


É a espécie de tributo que tem por hipótese de incidência um ato de polícia de
efeitos concretos, ou seja, um ato que se refere diretamente ao contribuinte e que envolve o
exercício do chamado poder de polícia.

Poder de polícia é a faculdade que o Estado tem de, observados os limites


constitucionais, baixar regras de nível constitucional legal ou infralegal para disciplinar o
exercício dos direitos à liberdade e à propriedade das pessoas, compatibilizando-os com o
bem comum.

O Código Tributário Nacional, em seu artigo 78, enumera casos considerados


“exercício do poder de polícia” reportando-se ao interesse público concernente à
segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção e do mercado, ao
exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder
Público, à tranqüilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais ou
coletivos.

Há divergência quanto à natureza do quadro enumerado pelo legislador. Enquanto


alguns autores entendem que a enumeração possui caráter taxativo, outros ensinam que sua
abrangência é praticamente ilimitada, tendo caráter exemplificativo.

2.2.3. Base de cálculo e alíquota


No artigo 145, § 2.º, da Constituição Federal, verifica-se que as taxas não podem ter
base de cálculo própria de impostos.

Carrazza, explicando o dispositivo acima mencionado, cita Paulo de Barros


Carvalho, dizendo que o referido no parágrafo deste artigo é mera disposição doutrinária,
uma vez que a hipótese de incidência da taxa é a prestação de serviço público ou exercício
de poder de polícia, não podendo ser igual, de maneira alguma, à hipótese de incidência do
imposto (anteriormente mencionada). Assim, a base de cálculo do tributo em apreço
deverá, demonstrar a intensidade da participação do Estado, na realização da hipótese de
incidência.

Devemos entender que as taxas não se destinam a angariar fundos, e sim para fazer
frente aos gastos experimentados na prestação de um serviço público ou no exercício do
poder de polícia.

O Pretório Excelso editou a Súmula 595, segundo a qual “É inconstitucional a taxa


municipal de conservação de estradas de rodagem cuja base de cálculo seja idêntica à do
imposto territorial rural.”

Na maioria das vezes, esta modalidade de tributo é estabelecida em quantias


prefixadas. Entretanto, há possibilidade de o legislador preferir indicar uma base de cálculo
e uma alíquota. Também, é possível que a determinação do valor da taxa seja feita em

10
___________________________________________________________________________MÓDULO III
DIREITO TRIBUTÁRIO

função de outros elementos, como, por exemplo, a área do imóvel que foi beneficiado pelo
serviço público.

2.2.4. Competência para instituir e cobrar taxas


A competência para instituição e cobrança de taxas é da pessoa jurídica de Direito
Público competente para a realização da atividade à qual se vincule o fato gerador
respectivo.

Assim, como referido no artigo 80 do Código Tributário Nacional, a entidade estatal


competente para o desempenho da atividade é competente, por conseqüência, para instituir
e cobrar a taxa correspondente.

Como acima mencionado, há “pretensas modalidades de taxas” que, não obstante


serem inconstitucionais, têm sido cobradas pelos entes fiscais. Tratam-se das taxas de uso
(têm por hipótese de incidência a realização de obras públicas) e taxas de obra (têm por
hipótese de incidência a realização de obras públicas).

A cobrança de taxa fica a critério do ente tributante, não havendo impedimento à


prática de um ato de polícia a título gratuito, como, por exemplo, o serviço de vacinação.

Com apoio no inciso IV do artigo 206 da Constituição Federal, temos que o serviço
público que, necessariamente, deve ser gratuito, é o serviço de ensino quando prestado em
estabelecimento oficial de ensino.

Caso o Poder Público resolva cobrar os serviços e os atos de polícia, deve fazê-lo
por meio de taxa, mas sempre obedecido o regime jurídico tributário (princípios que
protegem o contribuinte contra excessos fazendários. Exemplos: legalidade, igualdade,
reserva de competência, anterioridade).

2.2.5. Princípio informador das taxas


Como ensina o Prof. Carrazza, o princípio norteador das taxas é o da retributividade.
Isto é, por intermédio da taxa a pessoa política se ressarce, compensa-se dos gastos que
teve para prestar o serviço público ou para praticar o ato de polícia.

Sendo este o princípio que dá base à sua cobrança, é lógica a necessidade de


existência de correlação entre o custo do serviço e o valor da taxa, tendo-se por vetor,
também, certo critério de razoabilidade.

Como já afirmado, taxa e imposto são tributos totalmente diferentes em sua


essência, e a primeira não pode ser cobrada para enriquecer os cofres públicos, papel
cumprido pelo imposto, mas para recompor o erário das despesas experimentadas quando
da prestação do serviço.

11
___________________________________________________________________________MÓDULO III
DIREITO TRIBUTÁRIO

2.2.6. Tarifa (ou preço público)


A tarifa é o preço público pago pela utilização de serviços facultativos (e não
compulsórios) que a Administração Pública ou seus delegados colocam à disposição da
população.

A diferença entre taxa e preço público é determinada pela sua obrigatoriedade


(compulsoriedade), a teor do disposto na Súmula n. 545 do Supremo Tribunal Federal:
“Preços de serviços públicos e taxas não se confundem, porque estas, diferentemente
daqueles, são compulsórias e têm sua cobrança condicionada à prévia autorização
orçamentária, em relação à lei que as instituiu”. O preço é cabível quando se está diante de
coisa em comércio.

Observação para o concurso do Ministério Público e da Magistratura: os serviços e


atos de polícia praticados não podem ser cobrados por meio de preço (preços públicos e
tarifas).

Observação para o concurso da Procuradoria: preço é a quantidade devida pelo


serviço público ou pelo ato de polícia de fruição facultativa. Não precisa obedecer ao
regime jurídico tributário, podendo ser criado ou aumentado por meio de decreto, portaria,
ato administrativo etc., sem atenção ao princípio da anterioridade.

A comparação que segue entre taxa e preço público foi retirada do Código Tributário
Nacional Comentado, coordenado por Vladimir Passos de Freitas, Revista dos Tribunais,
artigo 77:

Taxa:

- exercício do poder de polícia;

- utilização efetiva ou potencial do serviço público;

- remuneração por serviços públicos essenciais ou cuja atividade econômica não


compete originariamente à iniciativa privada.

Preço Público:

- remunera serviços que não têm natureza de públicos;

- atividade monopolizada;

- pressupõe contratação;

- serviços não essenciais, que admitem concessão.

12
___________________________________________________________________________MÓDULO III
DIREITO TRIBUTÁRIO

2.3. Contribuição de Melhoria


Prevista no artigo 145, inciso III, da Carta Magna, e regulamentada pelos artigos 81
e 82 do Código Tributário Nacional, trata-se de modalidade de tributo que tem por hipótese
de incidência uma atuação estatal indiretamente referida ao contribuinte. Diz-se que a
atuação estatal é indiretamente referida uma vez que se faz necessário que o contribuinte
experimente uma valorização imobiliária que decorra de obra pública. Assim, seria
diretamente referida ao contribuinte caso a simples existência de obra pública permitisse a
cobrança do tributo.

Desta forma, temos que a contribuição de melhoria tem como fato gerador a
valorização do imóvel do contribuinte em decorrência de obra pública. Havendo tal
valorização, decorrente da obra, os beneficiários diretos devem entregar contraprestação
em razão da valorização. Assim, o tributo busca evitar o enriquecimento sem causa dos
beneficiários e estes, de forma reflexa, arcam com seu custo, total ou parcial, observando-
se os limites para cobrança, previstos no artigo 81 do Código Tributário Nacional. É,
portanto, tributo vinculado e sua cobrança advém de uma atuação estatal, consistente de
uma obra pública.

Com efeito, obra pública é a edificação, a ampliação, a reforma total ou parcial de


um bem imóvel pertencente ou incorporado ao patrimônio público. Assim, a título de
fixação, deve-se lembrar da necessidade de valorização imobiliária decorrente de obra
pública, sendo que a última deu causa à primeira.

O entendimento corrente, apesar de algumas manifestações em sentido contrário na


doutrina, é no sentido de que este tributo só pode ser cobrado depois que a obra pública
estiver concluída, quando só então se perceberá a valorização do imóvel, o quantum
valorativo experimentado em função de sua realização.

2.3.1. Base de cálculo e alíquota


A contribuição de melhoria, como tributo que é, tem base de cálculo e alíquota que
devem ser apontadas em lei. A base de cálculo possível da contribuição de melhoria é o
quantum da valorização experimentada pelo imóvel, valorização esta decorrente da obra
pública.

No tocante à alíquota, esta será um percentual desse quantum.

Importante lembrar que a contribuição de melhoria só pode ser cobrada uma vez
para cada obra pública que valorize o imóvel. Ainda, trata-se de “tributo social”, pois visa
devolver à sociedade uma parte do enriquecimento experimentado pelo contribuinte, já que
o dono do imóvel valorizado por uma obra pública, custeada pela sociedade, prestará sua
retribuição com o pagamento desta modalidade tributária.

13
___________________________________________________________________________MÓDULO III
DIREITO TRIBUTÁRIO

2.3.2. Competência para instituir e cobrar contribuição de melhoria


Tem competência para instituir e cobrar contribuição de melhoria a pessoa política
(União, Estados, Distrito Federal e Municípios) responsável pela obra pública que trouxe
ocasionou a valorização imobiliária.

2.3.3. Princípio informador da contribuição de melhoria


A contribuição de melhoria é guiada pelo princípio da proporcionalidade ao especial
benefício experimentado pelo proprietário do imóvel em razão da obra pública.

Em decorrência deste princípio norteador, temos que o tributo será cobrado


proporcionalmente, isto é, em razão do benefício experimentado por cada um dos
proprietários do imóvel. Assim, há proprietários que terão uma prestação maior, enquanto
que outros terão uma menor prestação a pagar.

3. Observações Finais
De se frisar, em tempo, que as taxas e contribuições de melhoria são tributos
vinculados a certa atuação estatal.

Isto ocorre porque tais tributos têm, por hipótese de incidência, uma atuação estatal
de algum modo referida ao contribuinte, lembrando-se que as taxas decorrem de atuação
estatal diretamente referida (prestação de serviço público ou atos de poder de polícia
potencialmente aproveitados pelo contribuinte), enquanto as contribuições de melhoria
decorrem de atuação estatal indiretamente referida (valorização imobiliária decorrente de
obra de responsabilidade do ente público tributante).

Finalmente, é de se recordar que estes tributos, vinculados por natureza, nascem


sempre de fatos regidos pelo direito público, obedecendo sempre a esse regime.

14
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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO II

DIREITOS HUMANOS

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DIREITOS HUMANOS

DIREITOS HUMANOS

1. INSTRUMENTOS INTERNACIONAIS DE PROTEÇÃO DOS DIREITOS


HUMANOS

1.1. Sistema Global


A Prof. Flávia Piovesan declara que “sempre se mostrou intensa a polêmica sobre o
fundamento e a natureza dos direitos humanos – se são direitos naturais e inatos, ou
direitos positivos e históricos ou, ainda, direitos que derivam de determinado sistema
moral”.

Para Norberto Bobbio, o problema no que tange aos direitos humanos “não é mais o
de fundamentá-los, e sim o de protegê-los”.

Com o fim da Segunda Guerra Mundial começaram os grandes questionamentos


sobre o Direito Humanitário: “foi a primeira expressão de que, no plano internacional, há
limites à liberdade e à autonomia dos Estados, ainda que na hipótese de conflito armado”.
Reforçando este ponto de vista, foi criada a Liga das Nações, que apontava “a necessidade
de relativização da soberania dos Estados”. A seguir, foi introduzida a Organização
Internacional do Trabalho que colaborou, profundamente, a fim de tornar internacional os
direitos humanos1.

Quer em conjunto, quer em separado, esses institutos foram a base para a


internacionalização dos direitos humanos.

O sistema internacional de proteção dos direitos humanos é formado por


documentos internacionais voltados à garantia dos direitos humanos, tanto no âmbito
global quanto no âmbito regional.

O sistema global de proteção é composto de instrumentos de alcance geral (pactos) e


instrumentos de alcance especial (convenções específicas), e sua incidência não se limita a
uma determinada região, podendo alcançar qualquer Estado integrante da ordem
internacional. Os Estados aderem aos documentos internacionais no exercício de sua
soberania. Eles têm total liberdade para aceitar ou não o documento, mas se aderirem ao
regramento internacional, ficam obrigados a cumprir o seu conteúdo, o que equivaleria
dizer “terem aberto mão de parte de sua soberania”.

A real consolidação do Direito Internacional dos Direitos Humanos, no entanto,


ocorreu após a Segunda Guerra Mundial. Diz o Prof. Buergenthal: “O moderno Direito
Internacional dos Direitos Humanos é um fenômeno do pós-guerra. Seu desenvolvimento
pode ser atribuído às monstruosas violações de direitos humanos da era Hitler e à crença de

1
PIOVESAN, Flávia. Direitos Humanos e o Direito Constitucional Internacional. 3.ª ed. Ed. Max Lemonad, 1997.
1
___________________________________________________________________________MÓDULO II
DIREITOS HUMANOS

que parte destas violações poderiam ser prevenidas se um efetivo sistema de proteção
internacional de direitos humanos existisse”.

Acrescenta a Prof. Flávia Piovesan: “A necessidade de uma ação internacional mais


eficaz para a proteção dos direitos humanos impulsionou o processo de internacionalização
desses direitos, culminando na criação da sistemática normativa de proteção internacional,
que faz possível a responsabilização do Estado no domínio internacional, quando as
instituições nacionais se mostram falhas ou omissas na tarefa de proteção dos direitos
humanos”2.

As teses de que os Estados deveriam ter uma soberania absoluta e sem limites e
cederam lugar a que os doutrinadores afirmassem que “a soberania estatal não é um
princípio absoluto, mas deve estar sujeita a certas limitações em prol dos direitos humanos.
Os direitos humanos tornam-se uma legítima preocupação internacional com o fim da
Segunda Guerra Mundial, com a criação das Nações Unidas, com a adoção da Declaração
Universal dos Direitos Humanos pela Assembléia Geral da ONU, em 1948 e, como
conseqüência, passam a ocupar um espaço central na agenda das instituições
internacionais. No período do pós-guerra, os indivíduos tornam-se foco de atenção
internacional. A estrutura do contemporâneo Direito Internacional dos Direitos Humanos
começa a se consolidar. Não mais poder-se-ia afirmar, no fim do século XX, que o Estado
pode tratar de seus cidadãos da forma que quiser, não sofrendo qualquer responsabilização
na arena internacional. Não mais poder-se-ia afirmar no plano internacional that king can
do no wrong”3.

E, sem dúvida, como declara a Prof. Flávia Piovesan: “Neste contexto, o Tribunal de
Nuremberg, em 1945-1946, significou um poderoso impulso ao movimento de
internacionalização dos direitos humanos. Ao final da Segunda Guerra e após intensos
debates sobre o modo pelo qual poder-se-ia responsabilizar os alemães pela guerra e pelos
bárbaros excessos do período, os aliados chegaram a um consenso, com o Acordo de
Londres de 1945, pelo qual ficava convocado um Tribunal Militar Internacional para julgar
os criminosos de guerra”.

“O Tribunal de Nuremberg aplicou fundamentalmente o costume internacional para


a condenação criminal de indivíduos envolvidos na prática de crime contra a paz, crime de
guerra e crime contra a humanidade, previstos pelo Acordo de Londres”4.

Ao lado do sistema global, surge o sistema regional de proteção, que busca


internacionalizar os direitos humanos no plano regional, particularmente na Europa,
América e África, e também é formado por instrumentos de alcance geral e de alcance
especial.

Compõem o sistema global de proteção os seguintes documentos internacionais,


ratificados pelo Brasil:

2
PIOVESAN, Flávia. op. cit.
3
PIOVESAN, Flávia. op. cit.
4
Ib. op. cit.
2
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DIREITOS HUMANOS

1. Carta das Nações Unidas, adotada e aberta à assinatura pela Conferência de


São Francisco em 26.6.1945 e assinada pelo Brasil em 21.9.1945;

2. Declaração Universal dos Direitos Humanos, adotada e proclamada pela


Resolução n. 217 A (III) da Assembléia Geral das Nações Unidas em 10.12.1948 e assinada
pelo Brasil nesta mesma data;

3. Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos, adotado pela Resolução n.


2.200 A (XXI) da Assembléia Geral das Nações Unidas em 16.12.1966, assinada pelo
Brasil em 24.1.1992;

4. Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, adotado


pela Resolução n. 2.200-A (XXI) da Assembléia Geral das Nações Unidas em 16.12.1966,
assinada pelo Brasil em 24.1.1992;

5. Convenção contra a Tortura e outros Tratamentos ou Penas Cruéis,


Desumanos ou Degradantes, adotada pela Resolução n. 39/46, da Assembléia Geral das
Nações Unidas em 10.12.1984, assinada pelo Brasil em 28.9.1989;

6. Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra


a Mulher, adotada pela Resolução n. 34/180 da Assembléia Geral das Nações Unidas em
18.12.1979, assinada pelo Brasil em 1.2.1984;

7. Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial,


adotada pela Resolução n. 2.106 A (XX) da Assembléia Geral das Nações Unidas em
21.12.1965, assinada pelo Brasil em 27.3.1968;

8. Convenção sobre ao Direitos da Criança, adotada pela Resolução L.44


(XLIV) da Assembléia Geral das Nações Unidas em 20.11.1989, assinada pelo Brasil em
24.9.1990.

Compõem o sistema regional interamericano:

1. Convenção Americana de Direitos Humanos, adotada e aberta à assinatura na


Conferência Especializada Interamericana sobre Direitos Humanos, em San José da Costa
Rica, em 22.11.1969, assinada pelo Brasil em 25.9.1992;

2. Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura, adotada pela


Assembléia Geral da Organização dos Estados Americanos, em 9.12.1985, assinada pelo
Brasil em 20.7.1989;

3. Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra


a Mulher.

3
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DIREITOS HUMANOS

Com todas estas disposições legais internacionais “testemunha-se uma mudança


significativa nas relações interestatais, o que vem a sinalizar transformações na
compreensão dos Direitos Humanos que, a partir daí, não mais poderiam ficar confinados à
exclusiva jurisdição doméstica. São lançados, assim, os mais decisivos passos para a
internacionalização dos direitos humanos”5.

2. PRECEITOS DA CARTA DAS NAÇÕES UNIDAS (1945)

O Prof. Fabio K. Comparato declara que: “A Guerra Mundial de 1939 a 1945


costuma ser apresentada como a conseqüência da falta de solução, na Conferência
Internacional de Versalhes, às questões suscitadas pela Primeira Guerra Mundial e,
portanto, de certa forma, como as retomadas das hostilidades, interrompidas em 1918. Essa
interpretação é plausível, mas deixa na sombra o fato de que o conflito bélico deflagrado
na madrugada de 1.º de setembro de 1939, com a invasão da Polônia pelas forças armadas
da Alemanha nazista, diferiu profundamente da guerra de 1914 a 1918”.

“Diferiu não tanto pelo maior número de países envolvidos e a duração mais
prolongada do conflito – seis anos, a partir das primeiras declarações oficiais de guerra,
sem contar, portanto, a ocupação da Manchúria pelo Japão, em 1932, e a da Etiópia pela
Itália, em 1935 –, quanto pela descomunal cifra de vítimas. Calcula-se que 60 milhões de
pessoas foram mortas durante a Segunda Guerra Mundial, a maior parte delas civis, ou
seja, seis vezes mais do que no conflito do começo do século, em que as vítimas, em sua
quase totalidade, eram militares. Além disso, enquanto a guerra do início do século
provocou o surgimento de cerca de 4 milhões de refugiados, com a cessação das
hostilidades na Europa, em maio de 1945, contavam-se mais de 40 milhões de pessoas
deslocadas, de modo forçado ou voluntário, dos países onde viviam em meados de 1939”.

Continua: “Mas, sobretudo, a qualidade ou índole das duas guerras mundiais foi
bem distinta. A de 1914-1918 desenrolou-se, apesar da maior capacidade de destruição dos
meios empregados (sobretudo com a introdução dos tanques e aviões de combate), na linha
clássica das conflagrações anteriores, pelas quais os Estados procuravam alcançar
conquistas territoriais, sem escravizar ou aniquilar os povos inimigos. A Segunda Guerra
Mundial, diferentemente, foi deflagrada com base em proclamados projetos de subjugação
de povos considerados inferiores, lembrando os episódios de conquista das Américas a
partir dos descobrimentos. Ademais, o ato final da tragédia – o lançamento da bomba
atômica em Hiroshima e Nagasaki, em 6 e 9 de agosto de 1945, respectivamente – soou
como um prenúncio de apocalipse: o homem acabara de adquirir o poder de destruir toda a
vida na face da Terra”.

Conclui dizendo: “As consciências se abriram, enfim, para o fato de que a


sobrevivência da humanidade exigia a colaboração de todos os povos na reorganização das
relações internacionais, com base no respeito incondicional à dignidade humana”6.
5
PIOVESAN, Flávia. op. cit.
6
COMPARATO, Fábio Konder. A Afirmação Histórica dos Direitos Humanos. São Paulo: Saraiva, 1999.
4
___________________________________________________________________________MÓDULO II
DIREITOS HUMANOS

A proteção dos direitos humanos surgiu como decorrência do processo de


internacionalização e universalização desses direitos, e teve como principais precedentes o
Direito Humanitário, a Liga das Nações e a Organização Internacional do Trabalho.

“Estes institutos rompem, assim, o conceito tradicional que concebia o Direito


Internacional apenas como a lei da comunidade internacional dos Estados e que sustentava
ser o Estado o único sujeito de Direito Internacional. Rompem ainda com a noção de
soberania nacional absoluta, na medida em que admitem intervenções no plano nacional,
em prol da proteção dos direitos humanos.

Prenunciava-se o fim da era em que a forma pela qual o Estado tratava seus
nacionais era concebida como um problema de jurisdição doméstica, restrito ao domínio
reservado do Estado, decorrência de sua soberania, autonomia e liberdade. Aos poucos,
emerge a idéia de que o indivíduo é não apenas objeto, mas também sujeito de direito
internacional. A partir desta perspectiva, começa a se consolidar a capacidade processual
internacional dos indivíduos, bem como a concepção de que os direitos humanos não mais
se limitam à exclusiva jurisdição doméstica, mas constituem interesse internacional”7.

Pouco a pouco, compreendeu-se que a proteção dos Direitos Humanos não se


encerra na atuação do Estado, nem é questão meramente nacional.

Diante desse panorama, após a Segunda Guerra Mundial, as consciências se abriram


para o fato de que a sobrevivência da humanidade exigia a colaboração de todos os Estados
na reorganização das relações internacionais.

Desse modo, as nações se aperceberam que era urgente a criação de um órgão


internacional para a contenção das guerras. Na realidade, pode-se tomar como termo inicial
efetivo da manifestação dessa vocação a Primeira Guerra Mundial, ocorrida entre 1914 e
1918. Com a derrota da Alemanha e de seus aliados, as nações vencedoras houveram por
bem criar uma organização internacional, que se denominou “Liga das Nações”, que não
prosperou e dissolveu-se em 1946, com a criação das Nações Unidas – ONU.

A eclosão da Segunda Guerra Mundial trouxe à tona a necessidade de criação de um


órgão internacional de controle efetivo da paz mundial. Então, representantes de 50 países,
entre os dias 25.4 e 26.6.1945, na cidade de São Francisco, Califórnia, redigiram a Carta
das Nações Unidas e, aos 24.10.1945, a Organização das Nações Unidas (ONU) estava
oficialmente criada.

“A ONU difere da Liga das Nações, na mesma medida em que a Segunda Guerra
Mundial se distingue da Primeira Enquanto em 1919 a preocupação única era a criação de
uma instância de arbitragem e regulação dos conflitos bélicos, em 1945 objetivou-se
colocar a guerra definitivamente fora da lei. Por outro lado, o horror engendrado pelo
surgimento dos Estados totalitários, verdadeiras máquinas de destruição de povos inteiros,
suscitou em toda parte a consciência de que, sem o respeito aos direitos humanos, a
convivência pacífica das nações tornava-se impossível.

7
COMPARATO, Fábio Konder. op. cit.
5
___________________________________________________________________________MÓDULO II
DIREITOS HUMANOS

Por isso, enquanto a Liga das Nações não passava de um clube de Estados, com
liberdade de ingresso e retirada conforme suas conveniências próprias, as Nações Unidas
nasceram com a vocação de se tornarem a organização da sociedade política mundial, à
qual deveriam pertencer, portanto, necessariamente, todas as nações do globo empenhadas
na defesa da dignidade humana”8.

Os objetivos principais da ONU são:

• a manutenção da paz e segurança internacionais;

• incremento de relações amistosas entre nações;

• cooperação internacional para a solução de problemas mundiais de ordem social,


econômica e cultural, incentivando o respeito pelos direitos e liberdades
individuais.

A ONU se compõe de seis órgãos especiais, que são (Carta das Nações Unidas, art.
7.º):

• Assembléia Geral;

• Conselho de Segurança;

• Conselho Econômico e Social;

• Conselho de Tutela;

• Corte Internacional de Justiça;

• Secretaria.

“Ao lado da preocupação de evitar a guerra e manter a paz e a segurança


internacional, a agenda internacional passa a conjugar novas e emergentes preocupações. A
coexistência pacífica entre os Estados, combinada com a busca de inéditas formas de
cooperação econômica e social, caracterizam a nova configuração da agenda da
comunidade internacional”.

A Carta das Nações Unidas de 1945 consolida o movimento de internacionalização


dos direitos humanos, a partir do consenso de Estados que elevam a promoção desses
direitos ao propósito e finalidade das Nações Unidas. Definitivamente, a relação de um
Estado com seus nacionais passa a ser uma problemática internacional, objeto de
instituições internacionais e do Direito Internacional, bastando, para tanto, examinar os
arts. 1.º (3), 13, 55, 56, 62 (2 e 3) da Carta das Nações Unidas.

8
COMPARATO, Fábio Konder. op. cit.
6
___________________________________________________________________________MÓDULO II
DIREITOS HUMANOS

Nos termos do art.1.º (3), fica estabelecido que um dos propósitos das Nações
Unidas é alcançar a cooperação internacional para a solução de problemas econômicos,
sociais, culturais ou de caráter humanitário e encorajar o respeito aos direitos humanos e
liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião.

Neste sentido, cabe à Assembléia Geral iniciar estudos e fazer recomendações, com
o propósito de promover a cooperação internacional para a solução de problemas
econômicos, sociais, culturais ou de caráter humanitário e encorajar o respeito aos direitos
humanos e às liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou
religião, em conformidade com o art. 13 da Carta. Também ao Conselho Econômico e
Social cabe fazer recomendações, com o propósito de promover o respeito e a observância
dos Direitos Humanos e das liberdades fundamentais, bem como preparar projetos de
Convenções Internacionais para este fim, nos termos do art. 62 da Carta da ONU.

O art. 55 reforça o objetivo de promoção dos Direitos Humanos, quando determina:


“Com vistas à criação de condições de estabilidade e bem estar, necessárias para a pacífica
e amistosa relação entre as Nações, e baseada nos princípios da igualdade dos direitos e da
autodeterminação dos povos, as Nações Unidas promoverão o respeito universal e a
observância dos Direitos Humanos e liberdades fundamentais para todos, sem distinção de
raça, sexo, língua ou religião”. O art. 56 reafirma o dever de todos os membros das Nações
Unidas em exercer ações conjugadas ou separadas, em cooperação com a própria
organização, para o alcance dos propósitos lançados no art. 55.

O Prof. Comparato diz que: “No texto da Carta, como se vê, da leitura dos artigos
13 e 55, os direitos humanos foram concebidos como sendo, unicamente, as liberdades
individuais”. É verdade que o tratado instituidor da ONU atribui às Nações Unidas a
incumbência de favorecer entre os povos “níveis mais altos de vida, trabalho efetivo e
condições de progresso e desenvolvimento econômico e social”. Mas o efetivo direito ao
desenvolvimento só veio a ser reconhecido mais tarde.

Em contrapartida, a Carta das Nações Unidas afirma, inequivocamente, a existência


de um direito de autodeterminação dos povos.

O Texto

(Excertos)

“NÓS, OS POVOS DAS NAÇÕES UNIDAS, RESOLVIDOS a preservar as gerações


vindouras do flagelo da guerra, que por duas vezes, no espaço de nossa vida, trouxe
sofrimentos indizíveis à humanidade, e a reafirmar a fé nos direitos fundamentais do
homem, na dignidade e no valor do ser humano, na igualdade de direitos dos homens e
das mulheres, assim como das nações grandes e pequenas, e a estabelecer condições sob
as quais a justiça e o respeito às obrigações decorrentes de tratados e de outras fontes do
direito internacional possam ser mantidos, e a promover o progresso social e melhores
condições de vida dentro de uma liberdade mais ampla,

7
___________________________________________________________________________MÓDULO II
DIREITOS HUMANOS

E PARA TAIS FINS, praticar a tolerância e viver em paz, uns com outros, como
bons vizinhos, e unir nossas forças para manter a paz e a segurança internacionais, e a
garantir, pela aceitação de princípios e a instituição de métodos, que a força armada não
será usada a não ser no interesse comum, a empregar um mecanismo internacional para
promover o progresso econômico e social de todos os povos,

RESOLVEMOS CONJUGAR NOSSOS ESFORÇOS PARA A CONSECUÇÃO


DESSES OBJETIVOS.

Em vista disso, nossos respectivos Governos, por intermédio de representantes


reunidos na cidade de São Francisco, depois de exibirem seus plenos poderes, que foram
achados em boa e devida forma, concordaram com a presente Carta das Nações Unidas e
estabelecem, por meio dela, uma organização internacional que será conhecida pelo nome
de Nações Unidas”.

Embora a Carta das Nações Unidas seja enfática em determinar a importância de se


defender, promover e respeitar os direitos humanos e as liberdades fundamentais – como
demonstram os dispositivos destacados – ela não define o conteúdo dessas expressões,
deixando-as em aberto. Daí o desafio em se desvendar o alcance e significado da expressão
“direitos humanos e liberdades fundamentais”, não definida pela Carta. Três anos após o
advento da Carta das Nações Unidas, a Declaração Universal dos Direitos Humanos, em
1948, veio a definir com precisão o elenco dos “direitos humanos e liberdades
fundamentais a que fazia menção os arts. 1.º (3), 13, 55, 56 e 62 da Carta”9.

Módulo elaborado pelos Professores Vitor Kümpel e Luiz Antonio de Souza.

9
PIOVESAN, Flávia. op. cit.
8
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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO III

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL


Drogas
Leis n. 6.368/76 e n. 10.409/2002

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LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

Drogas

Leis n. 6.368/76 e n. 10.409/2002

Luiz Fernando Vaggione

1. ARTIGO 13

“Fabricar, adquirir, vender, fornecer ainda que gratuitamente, possuir ou guardar


maquinismo, aparelho, instrumento ou qualquer objeto destinado à fabricação, preparação,
produção ou transformação de substância entorpecente ou que determine dependência
física ou psíquica, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar:

Pena – reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 50 (cinqüenta) a 360


(trezentos e sessenta) dias-multa”.

Trata-se, à semelhança do artigo antecedente (artigo 12), de um crime de conteúdo


múltiplo ou variável. Seu tipo é misto alternativo. Aplicando-se, portanto, o princípio da
alternatividade, haverá crime único se uma ou mais condutas forem cometidas em um
mesmo contexto fático.

O crime definido no artigo 13 visa reprimir a instalação e o funcionamento de


laboratórios clandestinos destinados à fabricação, preparação, produção ou transformação
de substâncias entorpecentes ou que determinem dependência física ou psíquica. A infração
se consuma com a prática do comportamento típico, independentemente, pois, da efetiva
fabricação, preparação, produção ou transformação de substância entorpecente. A tentativa
é viável tecnicamente; todavia, de difícil configuração prática.

O objeto material do delito será qualquer objeto, apto a ser destinado aos fins
indicados no tipo. Poderá ser uma estufa, um destilador etc. Será o exame do conjunto
probatório e a perícia que darão às autoridades os elementos necessários à tipicidade do
comportamento.

2. ARTIGO 14

“Associarem-se 2 (duas) ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou


1
___________________________________________________________________________MÓDULO III
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

não, qualquer dos crimes previstos nos artigos 12 ou 13 desta Lei:

Pena – reclusão, de 3 (três) a 10 (dez)1 anos, e pagamento de 50 (cinqüenta) a 360


(trezentos e sessenta) dias-multa”.

O crime é de concurso necessário (plurissubjetivo) e especial em relação ao artigo


288 do Código Penal, crime de quadrilha ou bando. O artigo 14 exige um número mínimo
de agentes, ou seja, duas pessoas. Os inimputáveis podem ser considerados no cômputo. O
crime só se configura com o vínculo associativo para a prática dos crimes definidos nos
artigos 12 e 13 da Lei e com a predisposição de todos para o cometimento de um número
indeterminado de delitos.

Segundo Vicente Greco Filho, a expressão "reiteradamente ou não", inserida no tipo,


não pode levar o aplicador do Direito a admitir o delito de associação independentemente
da permanência ou estabilidade.

Há consumação com a simples associação (crime formal ou de consumação


antecipada), independentemente da concretização das infrações penais visadas. No caso do
cometimento dos crimes visados, haverá concurso material (Supremo Tribunal Federal). A
tentativa é inadmissível. Não incide sobre o artigo 14 a causa de aumento prevista no artigo
18, inciso III, 1.ª parte (“... se qualquer deles decorrer de associação ...”), para evitar bis in
idem. Tal aumento se aplicará ao mero concurso de pessoas.

A Lei n. 8.072/90 revogou o artigo 14 da Lei n. 6.368/76?

A 2.ª Turma do Supremo Tribunal Federal decidiu que houve simples derrogação do
artigo 14, cujo preceito primário permanece em vigor, inalterado. As penas, no entanto,
foram alteradas. Desde a entrada em vigor da Lei n. 8.072/90, deve ser cominada a sanção
prevista no artigo 8.° da supracitada lei, por ser mais benéfica ao agente. Ou seja, ao crime
previsto no artigo 14 da Lei Antitóxicos será cominada a pena de reclusão de 3 (três) a 6
(seis) anos. A multa não foi prevista no artigo 8.°, de modo que não será imposta ao
condenado. A alteração, por ser benéfica, retroage às condenações, ainda que
definitivamente julgadas.

A causa de diminuição de pena (traição benéfica), definida no parágrafo único do


artigo 8.° da Lei n. 8.072/90, aplica-se à associação criminosa, por analogia.

3. ARTIGO 15

“Prescrever ou ministrar, culposamente, o médico, dentista, farmacêutico ou


profissional de enfermagem substância entorpecente ou que determine dependência física
1
A pena máxima, cominada em abstrato, foi alterada pelo artigo 8.º, caput, da Lei n. 8.072/90 (Lei dos Crimes Hediondos). Veja a
explicação no presente Módulo.
2
___________________________________________________________________________MÓDULO III
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

ou psíquica, em dose evidentemente maior que a necessária ou em desacordo com


determinação legal ou regulamentar:

Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pagamento de 30 (trinta) a 100


(cem) dias-multa”.

Cuida-se de crime culposo. Quanto ao sujeito ativo, temos que o crime é próprio. Só
podem cometê-lo, na modalidade prescrever, médico ou dentista. Quanto à conduta
ministrar, podem realizá-la, ainda, o farmacêutico e o pessoal de enfermagem.

Consuma-se com a entrega da receita ou com a prescrição oral ao paciente.


Consuma-se na ação ministrar, com a efetiva introdução da substância entorpecente no
corpo de outrem. A tentativa é inadmissível, porquanto se trata de crime culposo.

Atenção! O crime só se configura com o prescrever ou o ministrar de dose


evidentemente maior que a necessária. A disparidade deve ser gritante. Vê-se que a
infração pressupõe que o paciente necessite da droga para seu tratamento. Nas condutas
dolosas, aplica-se o artigo 12, caput. A prescrição em desacordo com determinação legal
ou regulamentar é denominada prescrição irregular.

Admite-se a substituição de pena privativa por alternativa, nos moldes previstos no


Código Penal.

4. ARTIGO 16

“Adquirir, guardar ou trazer consigo, para uso próprio, substância entorpecente ou


que determine dependência física ou psíquica, sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar:

Pena – detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pagamento de 20 (vinte) a 50


(cinqüenta) dias-multa”.

A objetividade jurídica é a saúde pública.

A razão da punição daquele que traz consigo, adquire ou guarda para uso próprio, é
a ameaça que seu comportamento representa para a sociedade.

Os núcleos do tipo são adquirir, guardar e trazer consigo. As condutas exigem o uso
próprio como finalidade exclusiva do agente. Essa finalidade distingue o artigo 16 do
artigo 12 da Lei n. 6.368/76, porquanto este contém, no seu preceito primário, os mesmos
três núcleos acima mencionados.
3
___________________________________________________________________________MÓDULO III
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

Frisa-se que usar substância entorpecente ou psicotrópica deve ser considerado


comportamento atípico. Além do citado verbo (núcleo do tipo) não constar na redação do
artigo 16, há a ausência de prova da materialidade da infração em razão da não apreensão
da substância consumida pelo usuário. Para a configuração do artigo 16 é imprescindível a
apreensão da droga que causa dependência e o seu exame, para verificar a presença do
princípio ativo da substância.

4.1. Fornecimento de pequena quantidade para uso comum


Admite-se que o fornecimento de pequena quantidade de substância entorpecente,
destinada ao uso comum, desde que se trate de fato ocasional que envolva pessoas do
convívio do agente, possa ser enquadrado no artigo 16, aplicando-se analogia in bonam
partem. Evitam-se, assim, as graves conseqüências penais oriundas de uma condenação no
artigo 12 da Lei, desproporcionais à gravidade do comportamento do agente. Não há,
contudo, entendimento pacífico a respeito. Para parte da doutrina e da jurisprudência, o
enquadramento será feito no artigo 12, dado que houve fornecimento da substância para
terceiros.

4.2. Plantio para uso próprio


Convém lembrar, ainda, que a conduta de plantar para uso próprio também poderá
ser enquadrada no artigo 16, pelo mesmo motivo exposto anteriormente, aplicando-se
analogia em favor do réu. Há outras duas posições a respeito:

1.ª) enquadramento no artigo 12, posto que a Lei não distingue a plantação em
escala comercial daquela realizada para consumo próprio;

2.ª) o fato é atípico, porquanto não está descrito no artigo 12 ou no artigo 16. Não se
enquadra no artigo 12, § 1.º, inciso II, porque é nítida a intenção do legislador de punir
grandes plantadores, bastando, para tanto, ressaltar que a pena imposta ao “plantio” é
idêntica àquela definida para o caput do artigo 12. A conduta também não se subsume no
artigo 16 porque não há no tipo os núcleos semear, cultivar e colher. Para essa orientação, a
tipificação do plantio para uso próprio no artigo 16 constitui aplicação de analogia in
malam partem, ou seja, prejudicial ao acusado.

4.3. Pequena quantidade de droga apreendida


É irrelevante a quantidade de droga portada pelo agente (crime de perigo), desde
que, levada à perícia químico-toxicológica, seja constatada a presença do princípio ativo da
substância.

4
___________________________________________________________________________MÓDULO III
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

A pequena quantidade não afasta, por si só, a eventual configuração do tráfico. Faz-
se necessário o exame do conjunto probatório à luz dos parâmetros indicados,
exemplificativamente, no artigo 30 da Lei n. 10.409/2002, a saber:

• quantidade e natureza da substância apreendida;

• local e condições em que se desenvolveu a ação criminosa;

• circunstâncias da prisão;

• conduta, qualificação e antecedentes do agente.

4.4. Consumação
A consumação do artigo 16 ocorre com a prática do comportamento típico,
independentemente da produção de qualquer resultado. Na modalidade adquirir, a tentativa
é possível.

4.5. Ação penal e procedimento


A ação penal é pública incondicionada.

Quanto ao rito, a entrada em vigor da Lei n. 10.409/2002 gerou um quadro de


incertezas. Explica-se: na doutrina sustenta-se, majoritariamente, que o procedimento a ser
adotado para a apuração dos crimes previstos na Lei n. 6.368/76 é aquele disciplinado nos
artigos 27 e seguintes da nova lei, adotando-se alguns dispositivos da Lei n. 6.368/76 para
suprir lacunas. Há outra orientação que, baseada na redação do artigo 27 – "O
procedimento relativo aos processos por crimes definidos nesta Lei rege-se pelo disposto
neste Capítulo ..." –, sustenta a não-observância do novo procedimento, porquanto como
não há infrações penais previstas na Lei n. 10.409/2002, não há que se falar em aplicar o
respectivo procedimento, nos termos do disposto no artigo 27 supracitado. O argumento,
segundo nosso entendimento, é frágil. Diante da permanência do procedimento, mesmo
após o veto de grande número de dispositivos pelo Excelentíssimo Senhor Presidente da
República, é certa a intenção de vê-lo aplicado, não obstante as dificuldades práticas que
existem na sua implantação. Espera-se que a jurisprudência indique aos operadores do
Direito a tendência predominante, pondo fim ao quadro de incertezas ora reinante.
Ressalta-se, no entanto, que o novo procedimento é mais amplo, dando maior possibilidade
de defesa ao acusado. O tema será retomado no Módulo IV.

Seja qual for o procedimento adotado, por ser especial em relação ao existente no
Código de Processo Penal (artigo 539), e pelo fato da pena máxima cominada no artigo 16
ser de dois anos de detenção, está afastada a incidência da Lei dos Juizados Especiais
Criminais, ou seja, da Lei n. 9.099/95. Quanto aos Juizados Especiais Criminais há
observação a fazer. Com a entrada em vigor da Lei n. 10.259/2001, que instituiu e definiu
os Juizados Especiais Criminais Federais, parcela considerável dos Promotores de Justiça e
5
___________________________________________________________________________MÓDULO III
LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

Juízes Criminais do Fórum Central da Capital de São Paulo passou a considerar o artigo 16
como uma infração de pequeno potencial ofensivo. Essa conduta baseia-se na incidência da
Lei dos Juizados Federais no âmbito estadual, possibilitando que infrações, com pena
máxima abstrata não superior a dois anos, independentemente da existência de
procedimento especial para apurá-las, possam ser consideradas de pequeno potencial
ofensivo. Convém ressaltar, no entanto, que a orientação da Procuradoria-Geral de Justiça
do Estado de São Paulo, bem como da Polícia Civil, opõe-se à aplicação da Lei n.
10.259/2001 nos Juizados Especiais Criminais Estaduais.

4.6. Penas Alternativas


Superados os temas anteriormente abordados, na hipótese de condenação é viável e
conveniente a substituição da pena privativa de liberdade por sanção alternativa. Deve-se,
no entanto, evitar a substituição da pena privativa de liberdade por multa, considerando a
existência da Súmula n. 171 do Superior Tribunal de Justiça, segundo a qual é vedada a
aludida substituição quando houver, no preceito secundário da norma, a aplicação
cumulativa de pena privativa e pecuniária. Lembre-se que o § 2.° do artigo 60 do Código
Penal foi derrogado pelo § 2.° do artigo 44 do Código Penal.

Na impossibilidade de aplicação de pena alternativa, admite-se a suspensão


condicional da pena.

A pena de multa, fixada em 20 a 50 dias-multa, deverá ser calculada na forma do


artigo 38 da Lei.

6
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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO II

MEDICINA LEGAL

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1. IDENTIFICAÇÃO

A identificação pode ser efetuada quanto:

a) Espécie

Entre animal e ser humano. Pode-se chegar a essa classificação pela análise dos
ossos e dos canais de Havers.

b)Raça

Há cinco tipos étnicos fundamentais: caucasiano, mongólico, negróide, indiano e


australóide. A raça é identificada pelo índice cefálico (forma do crânio e ângulo facial).

c)Sexo

O sexo do indivíduo pode ser identificado das seguintes maneiras:

•sexo cromossomial: avaliação dos cromossomos. Ex.: sexo masculino: quem tem
cromossomo XY; sexo feminino: quem tem cromossomo XX;

•sexo gonadal: os indivíduos humanos que têm ovário são do sexo feminino; os que
têm testículos são do sexo masculino;

•sexo cromatímico: com a aplicação, nas células humanas, de corante que se adere
ao corpúsculo cromatino. A presença da cromatina indica o sexo feminino; sua
ausência indica o sexo masculino.

•sexo da genitália interna: quem tem útero e ovário é do sexo feminino; quem tem
próstata é do sexo masculino;

•sexo da genitália externa: quem tem vagina e clitóris é do sexo feminino; quem
tem pênis e escroto é do sexo masculino;

•sexo jurídico: é o sexo constante nos documentos do indivíduo. Pressupõe-se que


alguém constatou o sexo do indivíduo;

•sexo de identificação: é o sexo psíquico, sexo do comportamento, é a sexualidade


do indivíduo. Na maioria das vezes, tem tudo a ver com o sexo físico. É o sexo que
o indivíduo projeta no plano da sexualidade;

•sexo pericial: é o sexo de avaliação, por meio de toda uma avaliação dá-se um
laudo sopesando todos os aspectos.

1
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MEDICINA LEGAL

Legalmente, no Brasil, o que vale é o sexo físico. O judiciário não pode autorizar a
mudança de sexo na documentação, pois poderia estar incorrendo em uma fraude.

1.1. Idade
Existem algumas faixas etárias juridicamente importantes: 13, 16, 18 e 21 anos.
Especialmente a faixa dos 18 anos, que é a faixa da imputabilidade.

Universalmente, hoje se aceita a Tabela de Grevlisch para determinar a idade das


pessoas. Grevlich, ao radiografar os ossos dos braços das pessoas, chegou a um padrão de
calcificação para determinar as faixas etárias jurídicas. Esse processo de calcificação dos
osso se encerra com 21 (vinte e um) anos. Não é possível distinguir uma radiografia de
uma pessoa com 25 (vinte e cinco) anos de outra com 35 (trinta e cinco) anos, porém, é
possível identificar, pela radiografia, um indivíduo de 20 (vinte) anos e 9 (nove) meses de
outro indivíduo de 21 (vinte e um) anos.

Os ossos do antebraço são o rádio e o úmero. Posição anatômica é a posição da


pessoa voltada para a frente, com os braços voltados para a frente e as pernas ligeiramente
afastadas. Sendo essa a posição anatômica, o rádio localiza-se no exterior do antebraço.

Ossos do punho: escalóide, semilunar, piramidal, psiforme, na primeira fileira. Na


segunda fileira: trapézio, trapezóide, grande osso e ganchoso ou unciforme.

Os ossos da mão são cinco e chamam-se metacarpianos.

Dedos: indicador, polegar, médio, anular e mínimo. O polegar tem dois ossos, duas
falanges, que recebem o nome de proximidal e distal. Os quatro outros dedos possuem três
falanges: proximidal, medial e distal. Além disso, existem pequenas esferas ósseas que
ajudam no processo de articulação, chamados semamóides.

Temos então 32 (trinta e dois) pontos de observação (ossos) para identificar a idade
das pessoas. É por isso que se adota essa parte do corpo para proceder a identificação: pela
quantidade de detalhes e variedade de pontos de observação.

1.2. Altura
Existem tabelas para que se possa verificar a altura do indivíduo. Ex.: se o fêmur
mede 48,6 cm, o indivíduo vivo tinha 1,80 m. A tabela pode ser aplicada sobre vários
ossos: fêmur, tíbia etc.

1.3. Outros Tipos de Identificação


Para ajudar numa identificação individual, são valiosos os seguintes sinais:
2
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a) sinais individuais: verrugas, manchas etc.;

b) malformações: lábio leporino, desvio de coluna, consolidação viciosa de uma


fratura etc.;

c) sinais profissionais: calosidade de sapateiros, calo nos lábios de sopradores de


vidro, de músicos de instrumentos de sopro etc.;

d) cicatrizes: traumática (ação de agentes mecânicos, queimaduras), patológicas


(vacinas) ou cirúrgicas.

A identificação pelos dentes, no morto, é relevante. Porém, para que tal


identificação seja possível, seria necessário dispor de uma ficha dentária fornecida pelo
dentista da vítima. Uma cárie com restauração de determinado material, colocação de
prótese, influem na identificação do indivíduo. Deve-se levar em conta, também, as
alterações adquiridas pelos agentes mecânicos, químicos, físicos e biológicos (desgastes
dos dentes, dentes manchados de fumo etc.).

A identificação por fotografia não é um método de grande segurança. Ele será usado
quando falhar os métodos mais significativos. Consiste na superposição de fotos do
indivíduo tiradas em vida sobre a foto do esqueleto do crânio.

1.4. Identificação Jurídica


Jean de Vucetich, estudando as cristas que todo ser humano possui nas polpas
digitais (pontas dos dedos), chegou à conclusão que nenhuma pessoa possui as impressões
iguais às de outra, e também que a impressão das cristas em papel (impressão digital)
poderia mudar de tamanho conforme a idade do indivíduo, mas jamais mudaria o desenho.

Essa forma de identificação, embora fosse barata, esbarrava na dificuldade de se


encontrar determinada impressão num arquivo imenso.

Vucetich começou, então, a classificar as impressões por grupos. Essas cristas


digitais consistem em uma série de linhas, mais ou menos horizontais, as quais Vucetich
denominou de sistema basilar. No centro da polpa digital existe o sistema nuclear. Grande
parte dos indivíduos possuem também o sistema marginal.

Vucetich verificou que certas pessoas, na confluência dos três sistemas, formam
uma figura chamada delta. O delta pode aparecer nas pessoas de diferentes maneiras: dois
deltas, ausência de delta, só do lado interno ou só do lado externo.

A figura de 2 (dois) deltas é chamada de verticilo (V). As pessoas que têm o delta
só do lado externo, chamou-se de presilha externa (E). As que têm só do lado interno,
presilha interna (I). As pessoas que não têm o delta, chamou-se de arco (A).

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MEDICINA LEGAL

Para seu estudo, Vucetich resolveu colher a impressão dos dez dedos das mãos. O
sistema de letras fica restrito aos polegares; os demais dedos recebem a numeração
seguinte:

V (verticilo) = 4

E (presilha externa) = 3

I (presilha interna) = 2

A (arco) = 1

Todos os indivíduos de uma população a ser identificada que tiverem a forma


A4214, A2421 ficam arquivados em conjunto, facilitando, dessa maneira, a identificação.

As cristas não são lineares e formam inúmeros desenhos. Ex.: ao examinar


determinada impressão, se encontrados 12 (doze) pontos de coincidência, pode-se
identificar certamente o indivíduo.

A esse sistema de identificação dá-se o nome de sistema decadactilar 10 (dez)


dedos.

A ciência que se propõe a identificar as pessoas fisicamente, por meio de impressões


dos desenhos formados pelas cristas papilares, recebe o nome de datiloscopia.

2. TRAUMATOLOGIA MÉDICO LEGAL

A traumatologia estuda as formas de vulneração do corpo humano. Basicamente


tudo aquilo que ofende a saúde é um trauma. O trauma produzido por energia pode ser
físico ou psíquico.

A energia vulnerante é classificada em: mecânica, física, química, biológica e


mista.

2.1. Energia Mecânica


É a energia cinética, que atua sobre um corpo (E = M x V), isto é, (Energia = Massa
x Velocidade). O que varia é a velocidade. Ex.: se colocar suavemente um tijolo sobre a
4
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cabeça de alguém, o mesmo não produzirá nenhum trauma. Porém, se o tijolo for atirado
com força, pode provocar um corte ou até mesmo uma fratura de crânio. O tijolo (massa) é
o mesmo; o que variou foi a velocidade.

Existem alguns objetos cuja massa, por si só, já produzem energia suficiente para
provocar um trauma. Ex.: um cofre de 3.000 Kg sobre a cabeça de alguém.

O que determina a intensidade do trauma é o resultado M x V (massa x velocidade).

A energia pode atuar de várias maneiras: explosão, impacto, tração etc.

Existem três grupos de instrumentos:

• que atuam num único ponto – ex.: perfurantes;

• que atuam numa linha – ex.: cortantes;

• que atuam num plano ou superfície – ex.: contundentes.

a) Perfurantes

São instrumentos punctórios, finos e pontiagudos. Atuam por pressão,


afastando as fibras do tecido e, raramente, secionando-as. As feridas produzidas por
esse tipo de instrumento recebem o nome de punctória ou puntiforme. Exemplo de
objetos perfurantes: agulha, prego, picador de gelo, compasso etc.

b) Cortantes

São instrumentos que agem por um gume mais ou menos afiado, por
mecanismo de deslizamento sobre os tecidos. A ferida causada por esse tipo de
instrumento chama-se incisa. É errado falar “ferida cortante”: o instrumento é
cortante, a ferida é incisa. Exemplo de objetos cortantes: faca, bisturi etc.

c) Contundentes

São instrumentos que agem por pressão, deslizamento, torção etc. Os


instrumentos são como uma superfície plana que atua sobre o corpo humano. A
lesão típica provocada por objeto contundente tem vários estágios, dependendo da
força ou do objeto. Exemplo de instrumentos contundentes: martelo, soco, balaustre,
veículo, escada etc.

• Espécies de lesões contundentes

− Eritema ou rubefação

É a primeira lesão provocada por objeto contundente e a mais simples. Alguns


penalistas não aceitam o eritema como lesão corporal. Não há lesão anatômica, somente
uma mancha vermelha transitória que não deixa vestígios. É provocada por impacto de
baixa densidade, produzindo uma dilatação dos vasos sangüíneos. Enquanto existir,
retrata com fidelidade o instrumento que a causou. Ex.: tapa.
5
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MEDICINA LEGAL

− Equimose

Se a lesão foi provocada com tal intensidade que chegou a romper alguns vasos
sangüíneos, recebe o nome de equimose. São as famosas manchas roxas provocadas por
ruptura de vasos capilares, que são vasos pouco expressivos, perto da superfície da
pele. Não há sangramento, mas pequena infiltração de sangue entre as malhas do
tecido. As manchas seguem uma evolução padronizada: mudam de cor até o décimo
quinto dia, quando então desaparecem.

− Hematoma

Ocorre quando o instrumento contundente, atuando no tecido corporal, provoca


ruptura de vasos importantes, produzindo o afastamento de tecidos; quando o
instrumento bate mais pesado e chega a romper um vaso, provocando vazamento de
sangue.

− Escoriação

É a lesão superficial de atrito (ralada) que rompe a epiderme, deixando a derme a


descoberto. Não há sangramento e não deixa seqüelas. A escoriação é produzida quando
o instrumento tangencia e produz um ralamento na epiderme.

− Ferida contusa

Produzida quando o instrumento age com muita violência que é capaz de rasgar
os tecidos, formando uma lesão aberta.

2.1.1. Feridas produzidas pelos instrumentos


Com freqüência, os instrumentos misturam as seqüências da lesão. Ex.: instrumento
perfuro-cortante, produzido por uma faca de ponta.

Existem instrumentos que por sua velocidade, mais do que por sua forma, produzem
lesões. Ex.: instrumento perfuro-contundente (projétil de arma de fogo), que atua
perfurando e contundindo.

Existe também uma combinação de instrumento que corta e que contunde:


instrumento corto-contundente. O instrumento típico corto-contundente é o machado.

Temos, então, 3 (três) instrumentos básicos (perfurantes, cortantes e contundentes) e


3 (três) formas combinadas (perfuro-cortante, perfuro-contundente e corto-contundente).

A ferida produzida pelo instrumento perfuro-cortante é denominada perfuro-incisa.

A lesão produzida pelo instrumento perfuro-contundente denomina-se perfuro-


concisa.

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A lesão típica produzida pelo instrumento corto-contundente, denomina-se corto-


contusa.

Instrumentos básicos

Instrumento Característica Ferida

Perfurante Perfura Punctória

Cortante Corta Incisa

Contundente Contunde Eritema, equimose,


hematoma, escoriação, ferida
contusa

Instrumentos combinados

Instrumento Característica Lesão

Perfuro-contundente Perfura e contunde Perfuro-concisa

Perfuro-cortante Perfura e corta Perfuro-incisa

Corto-contundente Corta e contunde Corto-contusa

a) Feridas punctórias (produzidas por instrumentos perfurantes)

Feridas punctórias são feridas produzidas por instrumentos perfurantes, porém


apresentam características de corte, como a casa de um botão; em razão disso, surgem três
leis a respeito das feridas punctórias:

1.ª Lei: as feridas punctórias provocam, quando retirado o instrumento, a forma de casa de
botão ou botoeira;

2.ª Lei: feridas punctórias numa mesma região de linhas de tensão ou linhas de Languer,
têm todas o mesmo sentido;

3.ª Lei: diz respeito às feridas que acontecem coincidentemente numa mesma região de
linhas de tensão, e diz respeito à forma que a lesão vai apresentar, ou seja, forma triangular.

As feridas na zona de confluência das linhas de força tomam a forma de triângulo.

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MEDICINA LEGAL

A importância desses instrumentos perfurantes na Medicina Legal localiza-se no


fato de serem esses instrumentos inoculares de infecção, pois as feridas produzidas,
embora aparentemente pequenas, são profundas.

Esses instrumentos também têm uma propriedade do sinal do acordeão, ou sinal de


Lacassagne, cuja ferida, em virtude de ser comprimida, apresenta uma extensão maior do
que o instrumento que a produziu.

b) Feridas incisas (produzidas por instrumentos cortantes)

Características das feridas incisas:

− regularidade das bordas (pois não foi rasgada);

− regularidade do fundo da lesão;

− ausência de vestígios traumáticos em torno da ferida;

− hemorragia abundante;

− predominância do comprimento sobre a profundidade;

− afastamento das bordas da ferida, se o corpo é vivo, em razão da retratilidade


da pele;

− cauda de escoriação voltada para o lado em que terminou a ação do


instrumento;

− a extensão da ferida é quase sempre menor do que aquela que realmente foi
produzida, em virtude da elasticidade dos tecidos;

− as vertentes (encostas) da lesão são emparedadas (regulares) e serão verticais


se o instrumento agiu perpendicularmente, e em forma de bizel se o
instrumento agiu inclinadamente (oblíquo);

− o centro da ferida é mais profundo que as extremidades.

Nas feridas incisas, quando existem duas lesões cruzadas, é possível determinar qual
a primeira e qual a segunda, pois a primeira foi feita sobre a pele íntegra e, na segunda, vai
haver um degrau, porque foi feita sobre a lesão anterior. A esse “degrau” dá-se o nome de
Sinal de Chavigny: angulação que se verifica na segunda ferida, na hipótese de duas feridas
se entrecortarem.

Algumas feridas incisas têm nome próprio:

1. esgorjamento: ferida incisa na região anterior do pescoço;

2. degolamento: ferida incisa no plano posterior do pescoço (nuca);

3. decapitação: ferida incisa secionando todo o pescoço (guilhotina).


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MEDICINA LEGAL

c) Feridas produzidas por instrumento contundente

• Rubefação ou eritema: No período em que é visível, tem uma grande


importância, porque reproduz o instrumento que a produziu. Caracteriza-se por
uma vermelhidão no local atingido. Há uma forte corrente dizendo que a
rubefação não possui os requisitos de uma lesão corporal, pois não tem uma
base anatômica e dura pouco tempo (em média, 15 minutos).

• Escoriação: Abrasão, lixamento da pele. Só é escoriação a abrasão que se


verifica na epiderme por atrito tangencial ou instrumento contundente. Quando
a abrasão se estende em profundidade, pegando a segunda camada da pele, não
se trata de escoriação. Não existe cicatriz de escoriação. Na escoriação há uma
reconstrução integral da pele. Se houver cicatriz, trata-se de uma perda de
substância e não de escoriação.

• Equimose: Manchas roxas. A seqüência das cores da equimose permite


estabelecer um diagnóstico cronológico da mesma. Outra característica da
equimose é que, nos impactos, costumam haver equimoses exatamente na
forma do objeto que as produziu.

• Hematomas: São provocados por objetos contundentes. Consistem no


extravasamento dos vasos sangüíneos. O sangue forma uma bolsa que
caracteriza o hematoma. Independentemente dos hematomas superficiais, os
instrumentos contundentes podem provocar hematomas de extrema gravidade.
Podem provocar uma onda de choque que pode levar a uma lesão dentro do
fígado ou do baço. Essa ruptura intra-baço, nos primeiros momentos, não
produzem graves sintomas e podem passar desapercebidos num exame clínico.
O sangue fica dentro da cápsula que envolve o baço, quando a cápsula se
rompe, ocorre a hemorragia e o indivíduo entra em choque. Chama-se
hematoma em dois tempos e é mais comum no baço e no fígado. Outra situação
extremamente grave são alguns traumatismos no crânio.

Ainda que não haja uma fratura ou ferida externa, pode ocorrer a ruptura de um
pequeno vaso na parte externa do cérebro, que vai gotejando sangue e descolando a
membrana que se expande até comprimir violentamente o cérebro, levando o indivíduo ao
coma. É um hematoma extradural em dois tempos que leva à uma compressão do cérebro.
Quando o impacto é maior e há um anteparo ósseo, prensando partes moles entre o
instrumento e o osso, pode ser que a lesão se abra. Aí recebe o nome de ferida contusa. Ex.:
soco no supercílio.

d) Feridas contusas:

É uma espécie de contusão. Suas características são:

− bordas irregulares;

− traumas nas proximidades das bordas;

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MEDICINA LEGAL

− vertentes e fundo irregulares;

− entre uma lateral e outra pode haver ponte de tecido íntegro;

− sangram menos;

− são mais profundas do que compridas.

Esses são os itens que permitem diferenciar uma ferida contusa de uma ferida incisa.

As contusões podem provocar também ruptura de órgãos internos. Existem órgãos


que, por suas características, são mais sujeitos à ruptura, como o fígado e o baço.

Se o órgão é comprimido por aumento de pressão interna, ele se rompe no ápice da


curvatura. Na medida em que se aumenta a pressão interna do órgão, por compressão, ele
se rompe.

As contusões podem provocar ainda algumas lesões típicas. Ex.: martelada na


cabeça provoca uma lesão característica que recebe o nome de ferida de Strassmann. Outra
característica da pancada com martelo é o sinal de Carrara (pequenos círculos na região
afetada).

e) Empalamento

O indivíduo é amarrado e suspenso. Coloca-se uma haste e o indivíduo é descido


pela haste, que penetra na região perianal. Era uma prática utilizada como pena de morte.
Acidentalmente podem ocorrer empalações. Ex: quedas a cavaleiro; quedas no campo da
construção civil.

f) Lesões produzidas por cinto de segurança

Quando a colisão ultrapassa em energia a capacidade do cinto, ele passa a funcionar


como instrumento contundente. Hoje existem três tipos de cinto:

− pélvico: provoca lesão na bacia, luxações na coxa com relação ao quadril;

− transverso toráxico: costumam provocar uma violenta projeção do pescoço e


da cabeça;

− cinto de três pontos: toráxico, diagonal e pélvico. Provocam o chicote


cervical que provoca luxação cervical ou fratura com morte imediata.

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO II

PORTUGUÊS
Pronomes Demonstrativos

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PORTUGUÊS

PORTUGUÊS

Pronomes Demonstrativos

1. REFERÊNCIA A ALGO DO PRÓPRIO TEXTO

Na produção textual, muitas vezes se quer fazer referência a elementos já


mencionados ou a ser introduzidos ainda. Para tal tarefa de referência dentro do próprio
texto, usa-se o pronome demonstrativo, criando movimentos de regressão e progressão. As
possibilidades são as seguintes:

a) Projeção

Para citar algo: este(s), esta(s), isto.

Exemplos:

• O total era este: R$ 10,00. Estes são os artigos definidos: o, a, os, as.

• Esta é a solução para muitos problemas brasileiros: educação.

• Estes são dois problemas graves: desemprego e violência.

b) Regressão geral (sem termos concorrentes)

Para resgatar algo citado: esse(s), essa(s), isso.

Exemplos:

• Os documentos foram enviados ontem. Esses documentos não lhes pertenciam.

• O desemprego e a violência aumentaram. Esses problemas caminham juntos.

• O pronome tal/tais também funciona nesse resgate.

• A inscrição para o concurso termina hoje. Tal inscrição exige documentos.

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PORTUGUÊS

c) Regressão específica (com termos concorrentes)

Para dar exatidão: este(s), esta(s), isto (para o termo mais próximo) e aquele (s),
aquela (s) e aquilo (para o termo mais distante).

Exemplos:

• O Brasil e o Chile fizeram novo acordo. Este aceitou a proposta, aquele a fez.

• Maria saiu, mas sua irmã ficou. Esta faria o trabalho enquanto aquela passearia.

d) Regressão específica (com termos concorrentes)

Para dar exatidão: este(s), esta(s), isto (há vários elementos, porém só se quer citar o
último).

Exemplos:

• Foram visitados vários países: o Chile, a Espanha, a Argentina e o Brasil. Neste


país, ocorreu a divulgação.

• Havia verduras, carnes, peixes e frutas. Estas foram as mais apreciadas pelos
turistas.

Observação — Deve-se observar que os pronomes este, esta e isto só regridem


(retomam algo já citado no texto) para determinar com extrema exatidão, evitando
ambigüidades. Não havendo a necessidade de exatidão, usa-se sempre corretamente o
pronome esse (essa, isso) para retomar os elementos já citados.

2. REFERÊNCIA A ALGO EXTERNO AO TEXTO

Também se usa o pronome demonstrativo para indicar o lugar no espaço em que um


ser ou um objeto está. As hipóteses de construção têm como base as pessoas do discurso:

Perto da Perto da Distante


1a pessoa 2a pessoa (de ambos)
(falante/escritor) (ouvinte/leitor) aquele
este esse aquela
esta essa aquilo
isto isso

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PORTUGUÊS

Exemplo: Essa sua camisa é diferente desta camisa que visto, mas aquela na vitrine
merece elogios.

Também pode haver correlação entre esses pronomes e os advérbios de lugar:

Exemplos:

• Pegue este livro aqui/cá. Pegue esse livro aí. Pegue aquele livro ali.

• Não ali, lá. Não lá, acolá.

Há palavras que são um misto de pronome indefinido e advérbio, que também


trazem noções espaciais: algures (em algum lugar), alhures (em outro lugar) e nenhures
(em nenhum lugar). São classificadas como advérbios de lugar.

3. REFERÊNCIA AO TEMPO

O pronome demonstrativo pode fazer referência ao tempo vivido e a viver. Ao


presente sempre indica com muita exatidão, porém o passado e o futuro trarão noções
imprecisas:

presente
passado este futuro
esta
mais distante mais próximo isto mais próximo mais distante
aquele esse esse aquele
aquela essa essa aquela
aquilo isso isso aquilo

Exemplos:

• Naquele tempo, Adão vivia no Éden (passado distante). Recebeu a notícia por
esses dias (passado próximo).

• O recado chegou agora, neste minuto (presente). Neste século, o homem terá
muitas preocupações energéticas (presente).

• O salário virá por esses dias (futuro próximo). Ele estava escrevendo uma ficção
científica e naquele tempo o homem estava em extinção (futuro distante).

3
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PORTUGUÊS

EXERCÍCIO

1) (MP-SC) Assinale a alternativa que contenha erro no emprego do demonstrativo:

a) Estas são algumas das características do Romantismo: subjetivismo, apego à natureza,


nacionalismo.

b) Que as reformas sejam efetuadas rapidamente: é isso o que mais desejo.

c) Pense bem no teu futuro, filho meu, és moço e podes ainda lutar; estas palavras de
admoestação e carinho eram diárias.

d) Ramaiana e Os Lusíadas são dois poemas épicos: aquele pertencente à literatura hindu;
este é de Camões e constitui uma verdadeira enciclopédia dos conhecimentos humanos.

e) Foi vista, então, ali uma boa oportunidade. Essa aparece raro.

Gabarito: c.

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO II

TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E


COLETIVOS
Estatuto da Criança e do Adolescente
Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990

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TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

Estatuto da Criança e do Adolescente

(Lei n. 8.069/90)

Prof. Márcio Fernando Elias Rosa

1. PRINCÍPIO DA PROTEÇÃO INTEGRAL

O sistema normativo pode deferir proteção a determinados interesses (como, por


exemplo, o meio ambiente), mas também é orientado a tutelar pessoas, em face de uma
condição peculiar e da presunção de que sejam suscetíveis a danos ou prejuízos. A proteção
pode decorrer de uma situação especial em que eventualmente estiver a pessoa, como
também pode ser presumida e aplicável a toda e qualquer situação.

O Estatuto da Criança e do Adolescente, ao eleger a doutrina da proteção integral


como o matiz de todo o sistema que ele institui, colocou sob proteção permanente e
integral a criança e o adolescente, independentemente de qualquer situação externa. Com
isso, esteja ou não sob o risco de sofrer danos ou prejuízos (morais, materiais ou para o seu
desenvolvimento), a criança e o adolescente estarão sempre sob proteção especial.

Não prevê, assim, que a tutela a que fazem jus somente lhes seja aplicada nas
situações de perigo ou de risco, mas sempre que, por qualquer motivo, seus direitos
puderem ser violados. A criança e o adolescente acham-se em situação de permanente
proteção Estatal e qualquer violação ou ameaça de violação de seus direitos ensejará a
aplicação de medidas legais próprias. A situação que enseja a proteção pode decorrer de
ação ou omissão do Estado, da sociedade, da família ou mesmo em face de conduta do
próprio adolescente ou da criança.

1.1. Artigo 1.º do Estatuto da Criança e do Adolescente


“Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança e ao adolescente.”

O antigo Código de Menores, Lei 6.697, de 10 de outubro de 1979, protegia a


criança e o adolescente somente quando se encontrassem em situação irregular; situações
não irregulares deveriam ser tratadas pelo Código Civil.

O advento do Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei 8.069 de 13 de julho de


1990, trouxe mudanças em relação ao antigo código de menores. Hoje, o Estatuto da
Criança e do Adolescente tem a pretensão de proteger a criança e o adolescente em
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___________________________________________________________________________MÓDULO II
TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

quaisquer circunstâncias: situações irregulares de fato, situações de mero risco,


caracterizada pelo simples potencial lesivo aos menores, e até em situações nas quais os
menores se encontram em boas condições e cuidados (é a doutrina da proteção integral).

Assim, o Estatuto da Criança e do Adolescente trata o menor como uma pessoa em


desenvolvimento e, para assegurar o seu bom desenvolvimento físico, mental, espiritual ou
social, tutela todos direitos e interesses necessários para a formação da sua personalidade.

1.2.Artigo 2.º do Estatuto da Criança e do Adolescente


“Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade
incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.

Parágrafo Único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este


Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade.”

O artigo 2º se refere à competência do Estatuto da Criança e do Adolescente em


razão da pessoa; em princípio e em regra, atinge pessoas até os 18 anos incompletos.

O conceito de menor distingue a situação da “criança” e do “adolescente” pelo


critério etário e entende ser, para os efeitos dessa lei:

Criança → pessoa até 12 (doze) anos incompletos.

Adolescente → pessoa dos 12 (doze) aos 18 (dezoito) anos incompletos.

Essa é a regra, o Estatuto da Criança e do Adolescente, no entanto, por exceção,


poderá proteger os maiores de 18 anos nas seguintes hipóteses:

1ª) Aplicação das medidas sócio-educativas previstas no artigo 104, parágrafo único,
do Estatuto da Criança e do Adolescente, aos maiores de 18 anos, desde que tenham
praticado a conduta antes de completarem os 18 anos. A idade máxima para essa aplicação
é de até 21 anos.

Evidentemente, se aquele que está cumprindo medida sócio-educativa depois de 18


anos não mais responderá, por novas condutas, à luz do Estatuto da Criança e do
Adolescente, mas do Código Penal.

2ª) No caso de adoção, desde que o adotando já esteja anteriormente sob a proteção
do Estatuto da Criança e do Adolescente (exemplo: se a pessoa que estava com a guarda do
menor decide adotá-lo após ele completar 18 anos, essa adoção será feita sob os
regulamentos do Estatuto da Criança e do Adolescente). Isso perderá o efeito prático com o
advento do novo Código Civil (Lei n. 10.406 de 10 de janeiro de 2002), que entrará em
vigor a partir de 11 de janeiro de 2003, pois as normas foram aproximadas. A adoção pelo

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TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

novo Código Civil somente será conferida por procedimento judicial, assim como sempre
foi no Estatuto da Criança e do Adolescente.

Em resumo, temos que: o critério cronológico é absoluto (pouco importa se o


adolescente é casado, solteiro ou viúvo, a ele será aplicável o Estatuto da Criança e do
Adolescente, porque prevalece sempre a idade ao tempo da ação ou omissão).

1.3. Artigo 4.º do Estatuto da Criança e do Adolescente –“Garantia da


Prioridade”
“É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do Poder Público
assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à
alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade,
ao respeito, à liberdade e a convivência familiar e comunitária.

Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:

a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias;

b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública;

c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas;

d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a


proteção à infância e à juventude.”

O artigo 4º, caput, refere-se a entidades que são formas básicas de convivência para
o menor. Como as crianças e os adolescentes são dependentes e vulneráveis a qualquer
forma de violência, é coerente que toda a sociedade seja responsável por eles, minimizando
a falta de apoio para que não gere discriminações e desajustes que levam o menor à prática
de atos anti-sociais.

Na efetivação dos direitos deve ser dada prioridade para as crianças e os


adolescentes. Essa garantia não é somente obrigação do Estado, mas sim obrigação de toda
a sociedade, atingindo, inclusive, os particulares (pessoas físicas ou jurídicas).

Significa que a criança e o adolescente têm prioridade no atendimento, na


destinação dos recursos públicos e na formulação de políticas públicas.

Trata-se de prioridade efetiva, não sendo simplesmente normativa. O cumprimento


dessa garantia poderá ser exigido judicialmente.

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___________________________________________________________________________MÓDULO II
TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

2. REGRAS DE INTERPRETAÇÃO DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO


ADOLESCENTE - ARTIGOS 5.º E 6.º DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO
ADOLESCENTE

“Art. 5º- Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de


negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma
da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.

Art. 6º- Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se
dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a
condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento.”

Na interpretação do Estatuto da Criança e do Adolescente, deve-se levar sempre em


consideração a peculiar condição da criança e do adolescente como pessoas em
desenvolvimento, prevalecendo seus interesses (Princípio da Prevalência dos Interesses do
Menor).

Qualquer tipo de ação ou omissão que não atenda às necessidades básicas de


alimentação, moradia, educação, saúde, lazer constitui descuido à criança e ao adolescente,
portanto, negligência. Sofrem eles discriminação por atos de diferenciação que os
banalizam; são explorados, no trabalho e na família com a intenção de lhes tirar proveito.

Em relação à violência temos qualquer forma de constrangimento físico ou moral.

No contexto, damos como exemplo a permissão que um juiz deu para que os
adolescentes ajudassem no corte de cana-de-açúcar. Esse juiz, entretanto, não levou em
conta a condição de pessoa em desenvolvimento, e sim, colocou os adolescentes em
condição de adultos. Essa permissão foi revogada, tendo em vista que o adolescente, em
desenvolvimento físico, poderá sofrer lesões graves em razão da atividade de corte de
cana-de-açúcar (exemplo: pode ficar com um braço mais comprido do que o outro).

O artigo 6.º nos traz um dos chamados sistemas interpretativos. Quanto a esse
aspecto da matéria devemos considerar as diversas orientações esboçadas pelos juristas
quanto ao uso e à importância atribuída à várias espécies de interpretação

3. DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS PREVISTOS NO ESTATUTO DA


CRIANÇA E DO ADOLESCENTE – ARTIGOS 7.º AO 69 DO ESTATUTO
DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE

Os direitos fundamentais são oponíveis erga omnes, ou seja, seus titulares podem
opô-los contra todos; seja o Estado, seja pessoa física, jurídica, particular ou não.

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___________________________________________________________________________MÓDULO II
TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

Abaixo, relacionamos os mais importantes previstos no Estatuto da Criança e do


Adolescente.

3.1. Direito à Vida e à Saúde


A proteção à vida começa desde a concepção. O Estatuto da Criança e do
Adolescente protege a criança desde a vida intra-uterina, ainda como feto, a partir da
fecundação e não do nascimento.

O direito à suplementação alimentar da gestante e da nutriz (mulher que amamenta,


ama-de-leite), além dos cuidados pré e perinatais (períodos imediatamente anteriores e
posteriores ao parto), fortalecem a existência da ampla proteção à vida e à saúde que o
Estatuto da Criança e do Adolescente prescreve.

A Consolidação das Leis do Trabalho, em seu artigo 396, protege o direito da


mulher que trabalha, e a Constituição Federal, em seu artigo 5º, incisos XLIX e L, assegura
aos presos o respeito à integridade física e moral, bem como o direito de a presidiária
permanecer com o filho durante o período de amamentação; em qualquer circunstância a
criança tem o direito ao aleitamento materno, quer em presídios, quer no trabalho.

Ainda, temos a proteção à maternidade de acordo com a Consolidação das Leis do


Trabalho, artigo 392, que proíbe o trabalho da mulher grávida pelo prazo determinado de
120 dias (ver artigo 7, inciso XVIII, da Constituição Federal e artigo 71, da Lei 8.213/91 –
Plano de Benefícios da Previdência Social).

Toda criança e adolescente têm direito a atendimento médico e odontológico


obrigatório pelo Sistema Único de Saúde (SUS).

A comunicação de maus tratos, tipificado como crime (artigo 136 do Código Penal),
à criança e ao adolescente é obrigatória. Essa obrigação é das escolas, hospitais, creches,
enfim, das pessoas da sociedade em geral. Tal comunicação deverá ser feita ao Conselho
Tutelar ou, onde não houver, ao Ministério Público ou qualquer outra autoridade judicial.

3.2. Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade


A criança e o adolescente não gozam da liberdade de locomoção em termos amplos,
porque sua condição jurídica impõe limitações a essa sua liberdade. São ressalvadas as
restrições legais, por exemplo: a criança e o adolescente só terão acesso às diversões
públicas e espetáculos classificados como adequados à sua faixa etária, sendo que a criança
só poderá ingressar e permanecer nos locais de apresentação e exibição quando
acompanhada dos pais ou responsáveis (artigo 75 do Estatuto da Criança e do
Adolescente); não podem entrar nem permanecer em locais que explorem jogos e apostas
(artigo 80 do Estatuto da Criança e do Adolescente); a criança não pode viajar para fora da
comarca , onde reside, desacompanhada dos pais ou responsável, sem autorização judicial
(artigo 83 do Estatuto da Criança e do Adolescente), dentre outros.
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___________________________________________________________________________MÓDULO II
TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

O direito de ir, vir e permanecer em logradouros públicos e espaços comunitários,


como já dito, não é absoluto. Quando a criança ou o adolescente estiver em qualquer
situação de risco, deverão ser retirados do local.

→ A criança e o adolescente podem ficar na rua?

Depende. Em uma situação de normalidade, sim. Em uma cidade do interior,


geralmente, as crianças brincam na rua. Nas grandes cidades há presunção de elevado risco
e algumas condutas são indicativas da inadequação da permanência (por exemplo, quando
estão pedindo esmolas). Para ser retirada das ruas é necessária a presença de um assistente
judicial e deve atuar o Conselho Tutelar.

O Estatuto da Criança e do Adolescente proíbe o transporte do menor em


compartimento fechado de viatura policial. A criança, em hipótese alguma poderá usar
algemas, diferentemente do adolescente que, excepcionalmente, para garantia da ordem
pública poderá usá-las, mas nunca em caráter de humilhação, vedação que ocorre da
mesma forma para os adultos.

A criança e o adolescente têm a sua dignidade preservada por estarem em


desenvolvimento. Toda vez que a exposição de criança ou adolescente ofender sua
dignidade, deverá ser proibida. Determina-se, ainda, a preservação da imagem, da
identidade, dos valores, dos espaços e de seus objetos pessoais.

3.3. Direito à Convivência Familiar e Comunitária


A regra é a permanência da criança e do adolescente com a sua família natural; eles
têm direito de serem criados no seio de sua família (artigo 19 do Estatuto da Criança e do
Adolescente).

A definição de família natural é estabelecida no artigo 25 do Estatuto da Criança e


do Adolescente, é aquela formada pelos ascendentes e descendentes.

Retirar a criança ou o adolescente da família natural é medida de exceção, só


podendo ser aplicada quando a lei determinar, casos em que os menores serão retirados da
convivência familiar e colocados em família substituta.

3.3.1. Hipóteses de exceção


Excepcionalmente, a criança e o adolescente poderão ser retirados da família natural
e colocados em família substituta, especialmente se descumpridos os deveres inerentes ao
pátrio poder ou, de qualquer modo, colocada a criança ou o adolescente em situação de
risco.

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TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

São deveres inerentes ao pátrio poder (artigo 22 do Estatuto da Criança e do


Adolescente): sustento, guarda, educação, obrigação de cumprir e fazer cumprir as
determinações judiciais.

O pátrio poder é exercido em igualdade de condições entre a mãe e o pai e as


pendências deverão ser resolvidas pelo juiz em cada caso concreto.

O artigo 20 do Estatuto da Criança e do Adolescente proíbe qualquer distinção entre


os filhos naturais e adotivos.

De acordo com o artigo 23 do Estatuto da Criança e do Adolescente, a falta ou a


carência de recursos materiais não é motivo suficiente para a suspensão ou perda do pátrio
poder. O artigo 23 combina-se com o artigo 129, parágrafo único, ambos do Estatuto da
Criança e do Adolescente, que dispõem que a falta ou carência de recursos materiais não
pode gerar a aplicação de qualquer medida em relação aos pais ou responsáveis. A pobreza
ou miserabilidade não são hipóteses de exceção.

3.3.2. Regras gerais para formação de uma família substituta:


No Direito brasileiro, a família substituta é admitida por três formas: guarda, tutela e
adoção.

As regras de formação da família substituta são:

1ª) Idoneidade para formar família substituta, o que para o Estatuto da Criança e do
Adolescente nada mais é que a compatibilidade com a natureza da medida - formação da
família.

2ª) Ambiente familiar adequado.

3ª) A aquisição ou perda da família substituta só ocorre por decisão judicial.

4ª) Termo de Compromisso – aplicável somente para guarda e tutela, exclui-se a


adoção porque nela o vínculo é permanente (filiação).

5ª) Família substituta estrangeira - a única forma é pela adoção, sendo vedada nas
formas de tutela ou guarda. Os estrangeiros residentes e domiciliados fora do país formam
família substituta estrangeira. O critério que o Estatuto da Criança e do Adolescente adota
é o da Territorialidade e não o da Nacionalidade. Assim, os estrangeiros com residência no
Brasil formam família substituta nacional.

Os brasileiros que residem no exterior devem receber o mesmo tratamento de


família substituta estrangeira ao adotar. Isso porque o critério também é o da
territorialidade.

O Brasil é signatário da Convenção sobre cooperação internacional e proteção de


crianças e adolescentes em matéria de adoção internacional firmada em Haia em 20 de
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___________________________________________________________________________MÓDULO II
TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

maio de 1993. O objetivo da convenção de Haia é exatamente este: no superior interesse da


criança, buscar: a cooperação dos países, moralizar as adoções, sujeitando todas as ações e
intervenções a uma ética comum (veja-se que o Conselho Superior da Magistratura de São
Paulo baixou determinação para que os juízes cumpram o que foi determinado na
convenção).

3.4. Direito à Educação, Cultura, Esporte e Lazer


A educação é um dos direitos fundamentais da criança e do adolescente, devendo ser
assegurado pelo Poder Público, encarregado de fornecer as condições necessárias para sua
efetivação.

O artigo 54, § 1.º, do Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe que o acesso ao


ensino obrigatório e gratuito é um Direito Público Subjetivo da criança e do adolescente. É
um direito que pode ser exigido judicialmente por ação civil pública ou por ação particular.

Dentro do Direito à Educação, a criança e o adolescente têm direito a escola


próxima à residência, ou seja, a escola deve ser acessível. O Estado tem o dever de
assegurar o ensino fundamental (primeiro grau). O não oferecimento desse ensino acarreta
a responsabilidade pessoal da autoridade competente (artigo 54, § 2.º).

O artigo 55 dispõe sobre a obrigação dos pais de matricularem os filhos no ensino


fundamental. É também um direito que pode ser exigido judicialmente.

Os dirigentes dos estabelecimentos de ensino, além de comunicar maus-tratos


envolvendo seus alunos, têm obrigação de comunicar ao Conselho Tutelar evasão escolar
(saída injustificada da criança e do adolescente da escola), reiteração de faltas
injustificadas e elevados níveis de repetência, para que este possa tomar as medidas
cabíveis.

3.5. Direito à Profissionalização e Proteção no Trabalho


Os artigos 60 a 69 do Estatuto da Criança e do Adolescente dispõem sobre o direito
à profissionalização e à proteção do trabalho. A Emenda Constitucional n. 20/98 modificou
a Constituição Federal, alterando seu artigo 7.º, inciso XXXIII; inciso este, que não
recepciona as disposições do Estatuto da Criança e do Adolescente no tocante à matéria, ou
seja, com relação às idades limites para exercer o trabalho.

Contudo, a matéria agora é regulada pela Constituição Federal. Três regras ficaram
constitucionalmente estabelecidas, a saber:

1ª) proibição de trabalho perigoso, noturno ou insalubre para menores de 18 anos;

2ª) proibição de qualquer trabalho para menores de 16 anos;

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TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

3ª) permissão da condição de aprendiz para os maiores de 14 anos.

Assim:

• até os 14 anos a criança não pode exercer qualquer forma de trabalho;

• dos 14 aos 16 anos não pode trabalhar, excepcionando-se na condição de


aprendiz;

• dos 16 aos 18 anos poderá trabalhar desde que observada a exceção do


trabalho noturno, insalubre ou perigoso.

O artigo 67 do Estatuto da Criança e do Adolescente dispõe sobre o trabalho de


aprendiz, dizendo que o aprendiz não pode :

• trabalhar durante a noite, estipulando ser trabalho noturno aquele realizado das 22
horas às 5 horas;

• trabalhar em local insalubre ou penoso;

• trabalhar em local impróprio para sua formação;

• trabalhar em horários e locais que não permitam sua freqüência na escola.

O artigo 68 permite o chamado “trabalho educativo”, que é aquele realizado em


programas sociais. É uma atividade de trabalho pedagógico. A finalidade desse trabalho
educativo é preparar o adolescente para o mercado de trabalho.

O menor tem direito à profissionalização, desde que observados sempre o respeito à


condição peculiar de pessoa em desenvolvimento e a sua capacitação profissional adequada
ao mercado de trabalho.

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CURSO DO PROF. DAMÁSIO A DISTÂNCIA

MÓDULO III

EXERCÍCIOS
CURSO ANUAL
OPÇÃO 3

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Praça Almeida Júnior, 72 – Liberdade – São Paulo – SP – CEP 01510-010
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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO ADMINISTRATIVO

1. Resolução do Secretário de Segurança Pública proibindo a venda de bebidas


alcoólicas no dia das eleições é ato administrativo pelo qual a Administração
manifesta seu poder :
a) hierárquico;
b) regulamentar;
c) de polícia;
d) disciplinar;

2. A respeito da teoria do Poder de Polícia assinale a opção incorreta:


a) em princípio, a competência para o exercício do poder de polícia é da entidade
competente para legislar sobre a matéria;
b) a teoria geral dos atos de polícia administrativa é a teoria geral dos atos administrativos;
c) a polícia judiciária é reputada modalidade de polícia administrativa;
d) o poder de polícia é, em princípio, discricionário, mas pode ter caráter vinculado em
algumas hipóteses.

3. Discricionariedade, autoexecutoriedade e coercibilidade são atributos específicos e


peculiares ao:
a) ato administrativo complexo;
b) poder regulamentar do Estado;
c) poder de polícia administrativa;
d) poder de polícia judiciária.

4. O poder de polícia é:
a) mecanismo de que dispõe a polícia para a manutenção da ordem pública visando a evitar
danos ao patrimônio;
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___________________________________________________________________________MÓDULO III

b) A faculdade da administração para condicionar e limitar o uso do bem público em


detrimentos dos cofres da comunidade;
c) a faculdade da administração de restringir o uso e gozo de bens, atividades e direitos
individuais, em benefício da coletividade ou do próprio Estado;
d) a faculdade de que dispõem os órgãos de inspeção de apurar e punir seus servidores
quando incidirem em falta funcional.

5. Assinale a alternativa correta:


a) poder vinculado é aquele derivado da delegação de autoridade administrativa
hierarquicamente superior que se vincula às ordens desta autoridade;
b) o poder regulamentar é aquele atribuído aos chefes de poder para a interpretação da lei
no âmbito de suas competências e pode ser delegado por decreto;
c) o poder discricionário é aquele que o Direito concede à Administração para a prática de
atos administrativos com liberalidade de escolha quanto a conveniência, oportunidade e
conteúdo;
d) poder hierárquico é aquele que dá ao Executivo a possibilidade de distribuir e escalonar
as funções de seus órgãos, mas não poderá rever a atuação dos agentes que ocupem este
órgão, que somente poderão ser modificados por ordem judicial;
e) todas as assertivas estão corretas.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO CIVIL

1. Assinale a alternativa correta:


a) O relativamente incapaz está proibido de praticar qualquer ato da vida civil, sob pena
de ser nulo o ato praticado.
b) A personalidade se adquire com o nascimento com vida, ressalvados os direitos do
nascituro desde a concepção.
c) A declaração de ausência considera o ausente como morto, para todos os efeitos.
d) n.d.a.

2. Assinale a alternativa incorreta:


a) Os bens de uma fundação podem ser alienados livremente, desde que o produto da
venda seja aplicado na própria fundação.
b) O ato praticado pelo amental não declarado interdito é nulo, se a incapacidade era
notória.
c) A pessoa jurídica possui personalidade própria distinta da personalidade de seus
membros.
d) n.d.a.

3. Os bens reciprocamente considerados dividem-se em:


a) Singulares e coletivos.
b) Divisíveis e indivisíveis.
c) Principais e acessórios.
d) Fungíveis e infungíveis.

4. Benfeitorias úteis são:


a) As que dão mais aproveitamento à coisa.

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b) São as destinadas à conservação da coisa.


c) São as de mera recreação.
d) São aquelas que se não forem feitas a coisa pode perecer.

5. A individualização das pessoas naturais ocorre:


a) Pelo nome, estado e domicílio.
b) Pelo nascimento e morte.
c) Pela capacidade e incapacidade.
d) n.d.a.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO COMERCIAL

1. Assinale a opção correta.


O imóvel onde está localizado o estabelecimento comercial:
a) pode ser elemento da empresa;
b) é considerado o fundo de comércio;
c) é passível sempre de ação renovatória;
d) é elemento integrante do fundo de comércio.

2. Assinale a alternativa incorreta.


a) A proteção ao nome empresarial decorre automaticamente do arquivamento dos atos
constitutivos de firma individual e de sociedades, ou de suas alterações.
b) O nome empresarial obedecerá aos princípios da veracidade e da novidade.
c) A alienação da firma individual pode ocorrer independentemente do estabelecimento a
que se refere.
d) O princípio da novidade impede a adoção de nome igual ou semelhante ao de outro
empresário.

3. Assinale a alternativa correta.


I – A personalidade jurídica da sociedade empresária começa com o registro de seus atos
constitutivos na Junta Comercial e termina com o procedimento dissolutório judicial que
possui três fases: dissolução, liquidação e partilha.
II – O princípio da autonomia patrimonial, decorrente da personalização das sociedades
empresarias, é um dos elementos fundamentais do direito societário. Em razão desse
princípio, em regra, os sócios não respondem pelas obrigações da sociedade.
III – O sujeito de direito personalizado tem aptidão para prática de qualquer ato, exceto os
expressamente proibidos, enquanto que o despersonalizado somente pode praticar ato
essencial ao cumprimento de sua função ou atos expressamente autorizados.

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IV – O princípio da autonomia patrimonial tem sua aplicação limitada às obrigações da


sociedade.
a) Todas estão corretas;
b) III e IV estão corretas;
c) Somente a III está correta;
d) II – III e IV estão corretas.

4. Assinale a alternativa incorreta.


a) A empresa tem natureza jurídica de sujeito de direito.
b) A empresa é a atividade econômica organizada para a produção ou circulação de bens
ou serviços.
c) Sujeito de direito na empresa é o empresário.
d) estabelecimento empresarial não se confunde com a empresa.

5. Adquire personalidade jurídica:


a) a sociedade comercial, pela celebração válida do seu contrato social, em que sejam
observadas a capacidade dos sócios e a finalidade lícita da sociedade;
b) a sociedade comercial, pela publicação do seu contrato social ou do seu ato constitutivo
no Diário Oficial;
c) a sociedade comercial, pelo arquivamento do seu contrato social ou do seu ato
constitutivo no Registro de Comércio;
d) o comerciante, pelo registro da sua declaração de firma individual perante o Registro de
Comércio.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO CONSTITUCIONAL

1. A norma constitucional que garante a todos “o livre exercício de qualquer trabalho,


ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer”, é
norma:
a) de eficácia plena;
b) de eficácia limitada;
c) de eficácia redutível;
d) programática.

2. Aponte a alternativa em que se inclui norma constitucional de eficácia contida:


a) “A lei disporá sobre a criação, estruturação e atribuições dos Ministérios” (art. 88).
b) “Aos juízes federais compete processar e julgar...nos casos determinados por lei, os
crimes contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira” (art. 109, VI).
c) “A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento das
necessidades inadiáveis da comunidade.” (§ 1º do art. 9º) O caput do art. 9º dispõe que
é assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a
oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender.
d) “A lei disciplinará a remoção ou a permuta de juízes dos Tribunais Regionais Federais
e determinará sua jurisdição e sede.” (art. 107, parágrafo único).

3. O artigo 2.º da CF: “São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o
Legislativo, o Executivo e o Judiciário” é norma de:
a) eficácia plena;
b) eficácia limitada;
c) eficácia contida;
d) eficácia semi-plena.

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4. Assinale a alternativa falsa:


a) A norma constitucional de eficácia jurídica plena é também chamada auto-executável
ou bastante em si;
b) A aplicabilidade da norma constitucional de eficácia limitada é mediata;
c) Uma norma constitucional pode ser ao mesmo tempo de eficácia limitada e contida;
d) A norma constitucional de eficácia jurídica limitada é também chamada redutível ou
restringível.

5. Norma constitucional de eficácia limitada:


a) é aquela que não produz qualquer efeito, antes da norma integrativa infraconstitucional;
b) é aquela que produz todos os seus efeitos, mas restringe os direitos individuais e
coletivos;
c) é aquela que produz todos os seus efeitos, podendo ser limitada pelo legislador
infraconstitucional;
d) é aquela que não contém todos os elementos necessários à sua integral aplicabilidade,
pois ela depende da interpositio legislatoris. Produz, entretanto, efeitos negativos.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO DO TRABALHO E PROCESSO DO TRABALHO

1. São requisitos legais que configuram a relação de emprego:


a)A dependência, o salário, pessoalidade e a não eventualidade do trabalho prestado.
b)O salário, a pessoalidade, a não eventualidade e a exclusividade
c)A pessoalidade, a não eventualidade, a exclusividade e a dependência
d)A não eventualidade, a exclusividade, a dependência e a onerosidade.
e)A impessoalidade, eventualidade, exclusividade.

2. Em tema de contrato de trabalho a prazo:


I- Justifica-se a determinação do prazo no contrato de trabalho quando a natureza do
serviço tiver caráter transitório.
II- É válido o contrato de trabalho de prazo determinado para atender à realização de
certo acontecimento futuro, de previsão aproximada, não podendo ser estipulado por
mais de 2 (dois) anos.
III- Findo o contrato de trabalho por prazo determinado, pelo advento do termo, poderão
de imediato as partes celebrar um novo contrato a prazo certo, desde que esteja
fundado em motivo que justifique a predeterminação do prazo.
IV- Não descaracteriza o contrato de trabalho por prazo determinado a simples
prorrogação por mais de uma vez, quando há concordância das partes.
V- Findo o contrato de trabalho por tempo determinado, renova-se tacitamente se o
empregador não se manifestar em contrário.
Em face das afirmações acima, assinale :
a) todas as alternativas estão corretas;
b) apenas a IV e V estão incorretas;
c) as questões I e II estão corretas;
d) apenas a III está incorreta;
e) todas as alternativas estão incorretas.
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3. A prova do contrato de trabalho é feita:


a) apenas pelas anotações constantes na Carteira de Trabalho e Previdência Social;
b) pelas anotações constantes na Carteira de Trabalho e Previdência Social ou por
instrumento público;
c) por todos os meios em direito admitidos, na falta de anotação em carteira profissional;
d) por todos os meios permitidos em direito, com exceção testemunhal;
e) n.d.a.

4. São assegurados à categoria dos trabalhadores domésticos:


a) piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho;
b) salário mínimo fixado em lei e nacionalmente unificado capaz de atender as
necessidades vitais básicas e às de sua família, como moradia, alimentação, educação,
saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes
periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para
qualquer fim;
c) garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração
variável;
d) jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento,
salvo negociação coletiva;
e) redutibilidade salarial de acordo com as horas trabalhadas, hora-extra, dissídio coletivo.

5. O contrato de trabalho temporário tem por limite normal:


a) 3 meses;
b) 6 meses;
c) 12 meses;
d) 24 meses;
e) 18 meses.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO ECONÔMICO E FINANCEIRO

1. São fases das despesas públicas:


a)empenho e liquidação;
b)dotação e pagamento;
c)condição e ordem de pagamento;
d)liquidação e adiantamento;
e)crédito e empenho.

2. Sobre despesas públicas, é incorreto afirmar:


a) é possível o servidor receber diretamente do público ;
b) o acerto deve ser feito em dinheiro;
c) deve ser precedida de previsão orçamentária;
d) deve ser feita por ente público;

3. Despesa Pública, para Aliomar Baleeiro, é “a aplicação de certa quantia, em


dinheiro, por parte da autoridade ou agente público competente dentro de uma
autorização legislativa, para execução de fim a cargo do governo”. Na despesa
pública, será proibida a:
a) realização de programas não incluídos em lei;
b) realização de despesas que excedam os créditos orçamentários ou adicionais;
c) inclusão de operações de créditos que excedam o montante das despesas;
d) utilização de créditos ilimitados;
e) utilização de recursos da seguridade social.

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4. Da distinção entre preços públicos e taxas, estas, segundo previsão constitucional,


são consideradas como:
a) contraprestação contratualmente assumida de um serviço ou de uma coisa;
b) redistribuição de contribuição de melhoria;
c) retribuição de serviços públicos efetivos ou postos à disposição de cada contribuinte;
d) pagamento pelo contribuinte, em razão do poder de polícia, ou pela utilização de
serviços públicos prestados ou postos à sua disposição;
e) complementação do imposto predial.

5. Quanto a classificação das despesas públicas, assinale a alternativa incorreta:


a)As despesas extraordinárias não se renovam todos os anos, enquanto que as despesas
ordinárias são renovadas a cada orçamento;
b)A despesa transferência limita-se a criar rendimentos para os indivíduos sem qualquer
contraprestação;
c)as despesas concorrentes são realizadas para a compra de serviços e produtos;
d)as despesas produtivas criam utilidades por meio de atuação estatal.

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Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO ELEITORAL

1. São requisitos da capacidade política ativa obrigatória, além da nacionalidade


brasileira:
a)a idade de 21 anos;
b)a alfabetização e a idade de 18 a 70 anos;
c)a idade de 18 a 70 anos;
d)a idade entre 18 e 65 anos para mulher e 18 a 70 para homem.

2. A capacidade política ativa é facultativa para:


a)menores de 16 e maiores de 70 anos de idade, alfabetizados ou não;
b)menores entre 16 a 18 anos, e maiores de 70 anos, alfabetizados ou não;
c)menores de 16 anos e maiores de 70 anos de idade;
d)menores de 18 anos e analfabetos.

3. Será concedida a transferência de domicílio eleitoral ao eleitor que provar:


a) que tem 1 ano de inscrição anterior e que está residindo no novo endereço há 3 meses;
b) que tem 3 meses de inscrição anterior e que está residindo no novo endereço há 1 ano;
c) que tem novo endereço residencial;
d) que está residindo no novo endereço há 1 ano.

4. Assinale a alternativa incorreta:


a) quem não tiver em dia com as obrigações eleitorais não pode participar de concursos
públicos;
b) todos os brasileiros maiores de 18 anos são obrigados a votar;
c) o estrangeiro não pode votar, nem que tenha residência ininterrupta no Brasil por mais
de 30 anos;
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d) o soldado das forças armadas tem capacidade política ativa e passiva.

5. A legislação sobre matéria eleitoral é de competência:


a) privativa da União;
b) dos Estados;
c) comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;
d) concorrente da União, dos Estados e do Distrito Federal.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO INTERNACIONAL

1. Sobre o Direito Interno e o Direito Internacional é correto afirmar:


a) Buscam resolver os conflitos internacionais;
b) Se completam para aqueles que acreditam numa ordem jurídica internacional que
abrange todas as ordens internas;
c) Formam um Direito único;
d) Buscam resolver somente os conflitos de normas advindas de tratados.

2. Qual a finalidade das teorias “Monismo” e “Dualismo”?


a) Buscar resolver os problemas de conflitos entre as norma nacionais e internacionais;
b) Cuidar de problemas internos do Estado;
c) Estabelecer apenas a prioridade do Direito Internacional;
d) Estabelecer apenas a prioridade do Direito Internacional.

3. É correto afirmar sobre o monismo:


a) Acredita na existência de duas ordens distintas;
b) Não haverá conflito entre norma advinda de tratado e norma estatal;
c) Acredita que o Direito é um só;
d) Cuida de problemas internacionais.

4. Assinale a alternativa correta:


a) O Direito Internacional surgiu com a finalidade de solucionar conflitos de normas
internas;
b) O Direito Internacional Privado cuida das relações entre os sujeitos de Direito
Internacional;

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c) O pensamento monista com primazia do Direito Interno resolve eventual conflito


advindo das relações internacionais com a sua própria norma;
d) Se ocorrer conflito entre norma advinda de um tratado e norma estatal, a norma interna
será incorporada ao Direito Internacional.

5. É incorreto afirmar sobre o dualismo:


a) Acredita na existência de duas ordens distintas: a do Direito Interno e a do direito
Internacional;
b) O Direito Internacional e o Direito Interno de cada Estado são sistemas rigorosamente
independentes e distintos;
c) A validade jurídica de uma norma interna não se condiciona à sua sintonia com a ordem
internacional;
d) Sustenta a unicidade da ordem jurídica sob o primado do Direito Internacional, a que se
ajustariam todas as ordens internas.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO PENAL

1. Segundo a teoria tradicional ou tridimensional, os elementos essenciais do crime


são:
a) o agente, a vítima e o objeto jurídico;
b) o fato típico, a antijuridicidade e a culpabilidade;
c) o objeto jurídico, o objeto material e o resultado;
d) a ilicitude, o dolo e a culpa.

2. Assinale a alternativa incorreta:


a) capacidade penal é o conjunto das condições exigidas para que o sujeito possa tornar-se
titular de direitos ou obrigações no campo de direito penal;
b) fato típico é o comportamento humano que provoca um resultado e é previsto na lei
penal como infração;
c) elementares são determinados dados que, agregados a figura típica fundamental, tem a
função de aumentar ou diminuir a pena;
d) culpabilidade é a reprovação da ordem jurídica em face de estar ligado o homem ao fato
típico e antijurídico;

3. O nexo de causalidade entre a conduta e o resultado integram o fato típico.


Admite-se a existência de crime sem resultado nas hipóteses de:
a) crimes materiais;
b) crimes plurissubjetivos;
c) crimes de mera conduta e formais;
d) crimes complexos;
e) crimes preterdolosos.

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4. O latrocínio é:
a) crime permanente;
b) crime complexo;
c) crime multidinário;
d) n.d.a.

5. Assinale a alternativa errada:


a) elementares do crime são os elementos específicos que compõem o tipo penal. Por
exemplo, no homicídio são elementares: a) matar; b) alguém (ser humano);
b) pressupostos do crime são circunstâncias antecedentes ao fato que condicionam a
tipificação do delito. Ante a ausência do pressuposto o agente responde por outro
delito. Por exemplo, a qualidade de funcionário público é pressuposto do crime de
peculato, pois se o agente não o for terá cometido apropriação indébita;
c) objeto material é a pessoa ou coisa sobre a qual recai a conduta criminosa. Por
exemplo, o homem vivo no homicídio, a coisa no furto;
d) se, excluindo determinado elemento, o crime desaparece ou surge outro, estamos em
face de uma circunstância.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO PREVIDENCIÁRIO

1. É segurado obrigatório da Previdência Social a pessoa física que:


a) como empregado doméstico, presta serviços de natureza contínua ou não, no âmbito
residencial do empregador, em atividades não-lucrativas;
b) como trabalhador autônomo, presta serviços urbanos ou rurais, sem relação de
emprego, a mais de uma empresa;
c) como empresário, somente é o titular de firma individual, urbana ou rural, cadastrada
como microempresa;
d) como trabalhador avulso, presta serviços a mais de uma empresa, sem vínculo
empregatício com qualquer uma delas.

2. São beneficiários, na condição de dependentes do segurado:


a) o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho de qualquer condição, menor de 21
anos ou inválido; os pais; o irmão menor de 21 anos ou maior de 60 anos ou inválido; a
pessoa designada menor de 21 anos ou maior de 60 anos ou inválida;
b) quaisquer das pessoas acima, desde que comprovado que não possuem condições
suficientes para o próprio sustento;
c) todas as pessoas descritas na letra “a”, menos as designadas menores de 21 anos ou
maiores de 60 anos ou inválidas;
d) o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho de qualquer condição, menor de 21
anos ou inválido; os pais, o irmão menor de 21 anos ou inválido de qualquer idade,
deste último exigida a comprovação de que não possui condições suficientes para o
próprio sustento.

3. Quanto ao período de graça é incorreto afirmar que:


a) para o segurado que contribuiu com até 120 contribuições mensais é de 12 meses;
b) para o segurado que contribuiu com até 120 contribuições mensais é de 24 meses;
c) para o segurado que contribui com mais de 120 contribuições mensais é de 24 meses;
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___________________________________________________________________________MÓDULO III

d) n.d.a.

4. Assinale a afirmativa correta:


a) O auxílio-desemprego é um benefício previdenciário pago pelo INSS.
b) O salário-família é pago ao trabalhador de baixa renda que tiver filho de até 12 anos ou
inválido de qualquer idade.
c) O auxílio-reclusão é pago aos dependentes do segurado de baixa renda que se encontre
detido ou recluso em razão de condenação judicial.
d) Com a morte do segurado os benefícios previdenciários são extintos, visto serem
personalíssimos, não podendo, portanto, serem concedidos aos dependentes do
segurado.

5. Não são considerados dependentes do segurado:


a) o cônjuge separado ou divorciado, desde que não receba alimentos do segurado;
b) a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, menor de 21 anos ou
inválido;
c) os pais, comprovada a dependência econômica;
d) o irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 anos ou inválido, o
enteado e o menor tutelado, desde que comprovada a dependência econômica.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO PROCESSUAL CIVIL

1. A relação jurídica processual depende, para o exercício do direito processual da


ação, dos seguintes requisitos indispensáveis:
a) petição inicial apta; jurisdição; competência; citação; capacidade; legitimação
processual;
b) petição inicial apta; jurisdição; citação;
c) petição inicial; jurisdição; citação válida;
d) petição inicial; competência; legitimação processual.

2. São elementos que identificam a ação:


a) interesse de agir, pedido e legitimidade da parte;
b) partes, causa de pedir e pedido;
c) legitimidade da parte, causa de pedir e defesa;
d) nenhuma das alternativas.

3. Analise as assertivas:
I –A jurisdição, monopólio do poder estatal, é una e indivisível.
II –As formas de solução da lide não são monopólio do poder judiciário.
III –A jurisdição pressupõe um território onde é exercida. Assim, somente o Supremo
Tribunal Federal tem jurisdição em todo o território nacional.
IV –É possível alterar o pedido ou a causa de pedir até o saneamento do processo, desde
que haja a concordância do réu, caso não seja ele revel.
V –Extingue-se o processo, sem julgamento do mérito, declarando-se o autor carecedor da
ação, quando se verificar a ausência de pressupostos de constituição e de
desenvolvimento válido e regular do processo.
Alternativas:
a) somente as alternativas II, III e V estão corretas;
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___________________________________________________________________________MÓDULO III

b) somente as alternativas I, II, III e IV estão corretas;


c) somente as alternativas I, II e IV estão corretas;
d) somente as alternativas I e V estão corretas;
e) todas as alternativas estão corretas.

4. Os pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo:


a) constituem categoria que se destina a legitimar a relação processual;
b) não podem ser decretados de ofício pelo Juiz;
c) afetam o plano de eficácia da relação processual;
d) são de ordem pública, não precluindo e podendo ser decretados de ofício;
e) provocam, quando ausentes, decisão de carência da ação.

5. Não haverá ação, com a conseqüente extinção do processo, no momento da


prolatação da sentença:
a) se faltar capacidade à parte;
b) se inexistir capacidade postulatória;
c) se restar clara a suspeição do Juiz;
d) se o autor não tiver interesse processual;
e) em nenhum dos casos.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO PROCESSUAL PENAL

1. Em relação à eficácia temporal da lei processual penal, é válido afirmar:


a)à norma processual penal, com conteúdo predominantemente de direito penal, não se
aplicam os princípios da temporalidade das leis penais;
b)em razão do princípio da irretroatividade da lei mais severa, a norma processual penal
propriamente dita só retroagirá quando beneficiar o réu;
c)a norma processual penal propriamente dita, caso não haja disposição em contrário, terá
aplicação imediata, pouco importando se mais severa ou não;
d)a norma processual propriamente dita terá aplicação imediata, ficando prejudicados os
atos realizados sob a vigência da lei anterior;
e)a norma processual penal propriamente dita terá efeito retroativo, com a aplicação dos
princípios da temporalidade das leis penais.

2. Assinale a alternativa correta:


a)a lei processual penal é sempre retroativa;
b)a lei processual penal é de aplicação imediata, retroagindo nos processos em curso
apenas para beneficiar o réu;
c)a lei processual é de aplicação imediata, mas, nos processos em curso, não invalida os
atos praticados sob a vigência da lei anterior;
d)a lei processual penal só é aplicável aos processos iniciados após sua vigência.

3. Em face do princípio da retroatividade da lei mais benéfica, consagrado na


legislação penal e na Constituição, pode-se dizer que:
I –a lei nova só retroage, como exceção ao princípio do tempus regit actum, antes de
transitada em julgado a sentença penal condenatória;
II –compete ao tribunal declarar a extinção da punibilidade, em caso de a lei nova
supressiva de incriminação surgir após o trânsito em julgado da sentença condenatória;

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___________________________________________________________________________MÓDULO III

III –quer antes de iniciada a persecutio criminis, quer exista processo em andamento, ou
prolatada sentença ainda não transitada em julgado, deve-se declarar a extinção da
punibilidade para excluir todos os efeitos jurídicos penais do comportamento antes
considerada infração;
IV –existindo sentença condenatória com trânsito em julgado, só o Juiz da execução da
pena poderá declarar a cessação da sanctio juris.
Alternativas:
a) a resposta I está correta;
b) a resposta III está incorreta;
c) a resposta II está correta;
d) as respostas III e IV estão corretas.

4. Assinale a alternativa incorreta:


a)O inquérito policial deverá terminar em dez (10) dias se o indiciado estiver preso, e no
prazo de trinta (30) dias quando estiver solto;
b)Inquérito policial consiste nas diligências efetivadas para a elucidação de fato delituoso e
sua autoria, possibilitando o início da ação penal pelo respectivo titular;
c)O delegado de polícia tem jurisdição;
d)O inquérito policial não é imprescindível para o oferecimento da denúncia.

5. Assinale a alternativa correta:


a) no relatório, o delegado deve opinar sobre o mérito da infração penal;
b) o inquérito policial não pode ser sigiloso;
c) o inquérito policial é procedimento persecutório de caráter administrativo, com
natureza inquisitiva e conteúdo informativo;
d) n.d.a.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITO TRIBUTÁRIO

1. A Contribuição de Melhoria cobrada pela União, Estados, Distrito Federal e


Municípios, no âmbito de suas respectivas atribuições, é instituída:
a) em razão do exercício do Poder de Polícia;
b) pela utilização efetiva de serviços públicos prestados ao contribuinte;
c) pela utilização potencial de serviços públicos específicos e divisíveis, postos à
disposição do contribuinte;
d) para fazer face ao custo de obras públicas de que decorra valorização imobiliária.

2. Assinale a opção correta:


Na distinção entre imposto e taxa, um dado diferencial fundamental reside:
a) na obrigatoriedade de contraprestação específica de taxa, inexistente no imposto;
b) na existência de fato gerador no imposto, ao contrário da taxa;
c) na competência federal dos impostos, enquanto as taxas podem ser federais, estaduais
ou municipais;
d) na alíquota que se usa nos impostos, não nas taxas.

3. As taxas são os tributos que têm por hipótese de incidência uma atuação estatal.
Assinale a alternativa que corretamente delimite tal atuação, nos termos da CF e da
legislação tributária vigente:
a) os serviços públicos universais (uti universi) podem ser custeados por meio de taxas, já
que alcançam a coletividade considerada como um todo, o mesmo não podendo se dizer
a respeito dos atos de polícia;
b) tanto os serviços públicos uti universi, como os uti singuli, também chamados
singulares, na medida em que são mensuráveis e divisíveis, podem ser custeados por
meio de taxas, juntamente com os atos de polícia;

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c) somente os serviços públicos específicos, por serem de utilização individual e


mensurável, podem ser custeados mediante taxas de serviço, ocorrendo o mesmo com os
atos de polícia, que devem ser custeados mediante taxas de polícia;
d) a atuação estatal suscetível de ser custeada mediante taxa é aquela que se refere
indiretamente ao contribuinte, tal como uma obra pública que causa valorização
imobiliária, aumentando o valor de mercado dos imóveis localizados em sua
imediações.

4. Em relação ao Sistema Tributário Nacional é correto afirmar:


a) lei complementar é o instrumento legislativo exigido constitucionalmente para dispor
sobre as limitações ao poder de tributar;
b) as taxas e os impostos poderão ter a mesma base de cálculo;
c) lei ordinária é sede própria para dispor a respeito de decadência e créditos tributários;
d) os impostos devem atender o princípio da impessoalidade.

5. As taxas:
a) podem ter como base de cálculo a que foi utilizada para a cobrança de impostos;
b) não podem ter como base de cálculo a que foi utilizada para a cobrança de impostos;
c) podem, em certos casos, ter como base de cálculo a que foi utilizada para a cobrança de
impostos;
d) não são tributos.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

DIREITOS HUMANOS

1. Pela Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa


Rica), ratificada pelo Brasil, o direito à vida deve ser protegido pela lei desde:
a) o nascimento;
b) a concepção;
c) a comprovação da viabilidade do feto;
d) O término da fase embrionária.

2. Segundo expressamente estabelece a Convenção Americana de Direitos Humanos


(Pacto de San José da Costa Rica), o direito de submeter casos à decisão da Corte
Interamericana de Direitos Humanos pertence
a) a qualquer pessoa;
b) somente aos Estados-partes e à Comissão Interamericana de Direitos Humanos;
c) somente à Comissão Interamericana de Direitos Humanos;
d) a qualquer pessoa que esteja sob jurisdição dos Estados-partes.

3. Qual a natureza jurídica da Declaração Universal de 1948, que constitui um dos


documentos mais importantes em toda a história dos direitos humanos?
a) Convenção Internacional;
b) Tratado Internacional;
c) Pacto da Nações Unidas;
d) Resolução da Assembléia Geral das Nações Unidas.

4. A Proteção dos Direitos Humanos:


I) independe, segundo a doutrina contemporânea, de fronteiras nacionais e jurisdição
doméstica, por serem tais direitos inerentes à dignidade da pessoa humana e não
dependentes de reconhecimento estatal;

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II) tem como importantes instrumentos, no plano global, a Declaração Universal dos
Direitos Humanos de 1948 das Nações Unidas e os Pactos Internacionais de Direitos
Civis e Políticos e de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais de 1966, e, no plano
regional, a Convenção Americana sobre Direitos Humanos de 1969 (“Pacto de San José
de Costa Rica”);
III)no sistema da OEA, tem como órgãos competentes a Comissão Interamericana de
Direitos Humanos, com sede em Washington DC, nos Estados Unidos da América, e a
Corte Interamericana de Direitos Humanos, sediada em San José da Costa Rica.
Analisando-se as asserções acima, pode-se afirmar que:
a) todas são corretas;
b) todas são incorretas;
c) somente as de números I e II estão corretas;
d) somente as de números II e III estão corretas.

5. Caso a Comissão Interamericana de Direitos Humanos solicite informações sobre


uma violação de direito ocorrida em território nacional, o governo brasileiro
a) é obrigado a fornecê-las em razão da Convenção Americana de Direito Humanos de
1969;
b) é obrigado a prestá-las, pois sendo signatário da Declaração Universal dos Direitos
Humanos de 1948, obrigou-se a prestar informações à Comissão Interamericana de
Direitos Humanos;
c) é obrigado a prestá-las, caso o Governo brasileiro, ao ratificar a Convenção Americana
de Direitos Humanos, tivesse feito menção expressa a esta possibilidade de supervisão
pela Comissão Interamericana de Direitos Humanos;
d) não tem nenhuma obrigação de fornecer a referida informação, pois isto constituiria
uma violação da soberania brasileira.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

LEGISLAÇÃO PENAL ESPECIAL

1. O tipo penal relativo ao artigo 12 da Lei n. 6.368/76 é:


a) aberto vinculativo;
b) misto alternativo;
c) aberto cumulativo;
d) n.d.a.

2. Assinale as alternativas falsas. O delito definido no artigo 13 da Lei n. 6.368/76:


a) será absorvido quando crime-meio;
b) visa reprimir a instalação e o funcionamento de laboratórios de patologias clínicas;
c) tem como objetos materiais: maquinismos, aparelhos, instrumentos ou quaisquer
objetos;
d) consuma-se com a efetiva produção ilegal de substância entorpecente.

3. O artigo 14 da Lei n. 6.368/76:


a) é figura subsidiária, absorvida pelo artigo 288 do Código Penal;
b) foi revogado pelo artigo 8.º, caput, da Lei n. 8.072/90;
c) foi derrogado pelo artigo 8.º, caput, da Lei dos Crimes Hediondos, tendo sido alterado,
exclusivamente, seu preceito secundário;
d) n.d.a.

4. Assinale a resposta correta. O crime definido no artigo 15 da Lei n. 6.368/76:


a) é figura preterdolosa;
b) trata-se da única figura culposa da Lei n. 6.368/76;
c) não exige sujeito ativo com qualidade especial;
d) n.d.a.
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5. Não é correto afirmar em relação ao artigo 16 da Lei n. 6.368/76 que:


a) sua objetividade jurídica é a saúde pública;
b) o simples uso é considerado comportamento atípico;
c) a apreensão de menos de um grama de substância entorpecente não o configura;
d) se exige a finalidade exclusiva de uso próprio.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

MEDICINA LEGAL

1. Uma ferida de comprimento maior do que a profundidade, com bordas lineares


regulares e superfícies internas lisas foi produzida, com maior probabilidade, por
instrumento:
a) pérfuro-cortante;
b) corto-contundente;
c) cortante;
d) inciso.

2. Escoriação, equimose, edema e hematoma são sinais muito freqüentes em


ferimentos contusos. Destes, não são produzidos por rotura de vasos sangüíneos e
conseqüente hemorragia:
a) escoriação e equimose;
b) equimose e edema;
c) edema e hematoma;
d) escoriação e edema.

3. Ferimento inciso profundo na região interior do pescoço da vítima caracteriza:


a) esgorja;
b) degola;
c) decapitação;
d) decepamento.

4. O hematoma, coleção de sangue decorrente de hemorragia interna,


a) desenvolve-se exclusivamente sob a pele, na região subcutânea;
b) é sempre provocado por instrumento contundente;

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c) desaparece normalmente em três semanas, passando pelas cores do espectro


equimótico;
d) pode-se formar inclusive em órgãos internos, como os pulmões e o coração.

5. A equimose:
a) tem sempre a cor arroxeada;
b) resulta sempre de uma pancada;
c) pode localizar-se também em vísceras;
d) aparece apenas em cadáveres.

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EXERCÍCIOS

Curso Anual – Opção 3

Aluno(a):

TUTELA DOS INTERESSES DIFUSOS E COLETIVOS

1. Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente, criança é pessoa que conta:


a) entre zero (0) e dois (2) anos de idade incompletos.
b) entre zero (0) e dezoito (18) anos de idade incompletos.
c) entre zero (0) e quatorze (14) anos de idade incompletos.
d) entre zero (0) e dezesseis (16) anos de idade incompletos.
e) entre zero (0) e doze (12) anos de idade incompletos.

2. Dentre outros são direitos e garantias da Criança e do Adolescente, exceto:


a) ser criado e educado no seio familiar e, excepcionalmente, em família substituta.
b) ensino fundamental gratuito fornecido pelo Estado.
c) participar da vida política na forma da lei.
d) ir e vir livremente, sem restrição alguma da lei ou da autoridade.
e) acesso à Defensoria Pública, ao Ministério Público e ao Poder Judiciário, por qualquer
de seus órgãos.

3. Pode o ECA ter aplicação à pessoa com dezenove (19) anos de idade ?
a) Sim, no caso de resultar provado, através de laudo médico oficial, ser a pessoa, até
vinte e um (21) anos, portadora de severa doença mental.
b) Não, porque a pessoa com dezenove (19) anos é penalmente responsável.
c) Sim, em casos expressos em leis.
d) Não. O ECA só é aplicável a crianças e adolescentes até 18 (dezoito) anos de idade.

4. O Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei n. 8.069/90):


a) Distingue criança e adolescente por faixa etária, considerando criança o menor com até
dezesseis anos de idade e adolescente o menor entre dezesseis e vinte e um anos de
idade.
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b) Distingue criança e adolescente por faixa etária e por grau de instrução, considerando
criança o menor com até dez de idade, qualquer que seja sua escolaridade, ou até
dezesseis anos, desde que ainda não tenha completado o primeiro grau, e adolescente o
menor que não seja qualificado como criança, com teto de idade de vinte e um anos.
c) Distingue criança e adolescente por faixa etária, considerando criança o menor com até
doze anos de idade e adolescente o menor entre doze e dezoito anos de idade.
d) Não distingue criança e adolescente a não ser para efeitos de colocação em família
substituta, quando essa distinção se dá em função da faixa etária, considerando-se
criança o menor impúbere e adolescente o menor púbere.

5. Assinale a alternativa incorreta. É dever do Estado assegurar à criança e ao


adolescente:
a)atendimento no ensino fundamental, por meio de programas suplementares de material
didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde;
b)atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente
na rede regular de ensino;
c)ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram acesso
na idade própria;
d)oferta de ensino noturno regular, adequado às condições da criança e do adolescente
trabalhadores;
e)progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio.

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