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06/03/2017 Ac. do TRP de 24/09/2015 – 754/14.7YYPRT.

P1 – I – “Janelas […] abertas nas paredes perimetrais, que servem ao uso exclusivo de um condómino…

Outros acórdãos ­ Pedro Martins

SEM CATEGORIA

Ac. do TRP de 24/09/2015 –
754/14.7YYPRT.P1 – I – “Janelas […]
abertas nas paredes perimetrais, que servem
ao uso exclusivo de um condómino, não são
objecto de comunhão…” II – Uma
deliberação da Assembleia de Condóminos
que as tenha por objecto, delas dispondo
como se fossem partes comuns do edifício,
são ineficazes em relação aos condóminos
afectados…

Date: 11 de Março de 2016 Author: outrosacordaostrp   0 Comentários


Embargos 754/14.7YYPRT – 1.ª Secção de Execução do Porto – Juiz 6

            Sumário:   

              I – “Janelas […] abertas nas paredes perimetrais, que servem ao uso exclusivo de
um condómino, não são objecto de comunhão, pois, pela sua natureza e pelo fim a que se
destinam, não são idóneas ao gozo promíscuo por parte dos outros condóminos. […]”

              II – Uma deliberação da Assembleia de Condóminos que as tenha por objecto,
delas  dispondo  como  se  fossem  partes  comuns  do  edifício,  são  ineficazes  em  relação  aos
condóminos afectados, que podem arguir a ineficácia a todo o tempo, designadamente em
embargos de executado.                   

            Acordam no Tribunal da Relação do Porto os juízes abaixo assinados:

            O Condomínio do edifício X requereu, em 06/03/2014, uma execução de 15.770,12€
contra  o  Y,  soma  de  uma  dívida  de  15.320,12€  decorrente  de  uma  deliberação  da
Assembleia Geral de Condóminos para a reabilitação da fachada sul do edifício com uma

de  450€  a  título  de  despesas  administrativas  e  de  contencioso  que  o  administrador  do 1/15
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06/03/2017 Ac. do TRP de 24/09/2015 – 754/14.7YYPRT.P1 – I – “Janelas […] abertas nas paredes perimetrais, que servem ao uso exclusivo de um condómino…

de  450€  a  título  de  despesas  administrativas  e  de  contencioso  que  o  administrador  do
Condomínio fixou devido à necessidade de recurso à via judicial para a cobrança daquela
dívida.

            Y deduziu embargos de executado, entre o mais invocando a nulidade daquela
deliberação  na  parte  que  diz  respeito  à  substituição  das  caixilharias  das  janelas,
defendendo que as janelas em causa não constituem parte comum.

              O Condomínio contestou, defendendo a improcedência da oposição.

                        Depois  do  julgamento  foi  proferida  sentença,  julgando  os  embargos


improcedentes.

            Y interpôs recurso desta sentença, terminando as suas alegações com as seguintes
conclusões:

a)  A  única  questão  jurídica  em  causa  nos  presentes  autos  é  sabermos  se  as  caixilharias
existentes na fachada do prédio, são ou não parte comum do referido prédio;

b) Na sentença recorrida entendeu‑se «que as janelas numa parede exterior de um edifício
constituído em propriedade horizontal, nada se dizendo em contrário no título constitutivo
da propriedade horizontal, são parte comum do prédio»;

c)  Não  podemos  concordar  com  este  entendimento,  resultando  do  mesmo  uma  errada
interpretação do artigo 1421 do Código Civil;

d)  A  solução  para  o  facto  de  sabermos  se  as  janelas,  e  respetivas  caixilharias,  são  parte
comum, ou se pertencem ao proprietário da respetiva fração autónoma, poderá, tal como
fez  a  sentença  recorrida,  resultar  da  análise  da  alínea  e),  do  n.º  2,  do  art.  1421  do  CC,
segundo  a  qual  se  presumem  partes  comuns  «as  coisas  que  não  sejam  afectadas  ao  uso
exclusivo de um dos condóminos»;

e)  Contudo,  ainda  que  concordemos  com  a  solução  não  podemos  concordar  com  o
resultado.  Isto  na  medida  em  que  a  janela  e  o  respetivo  caixilho  são  do  uso  exclusivo  de
cada condómino, ou seja tal como se refere expressamente na parte final da alínea e), do n.º
2,  do  art.  1421  do  CC,  estão  afetados  ao  uso  exclusivo  de  cada  um  dos  condóminos,  pelo
que não são parte comum do prédio;

f) O requisito geral do afastamento da presunção prevista na alínea e), do nº 2, do art. 1421
do CC não tem de constar no título constitutivo, antes podendo resultar de uma provada
afetação  material,  uma  destinação  objetiva,  mesmo  que  verificada  após  a  constituição  da
propriedade horizontal;

g) A exclusividade referida na alínea e), do nº 2, do art. 1421 do CC determina‑se através da
utilidade funcional, do proveito objetivo que pode decorrer do uso do espaço em questão,
pelo  que,  se  a  utilidade  e  proveito  se  provarem  apenas  quanto  a  um  só  dos  condóminos,
deve assim a parte do edifício em causa ser considerada como integrante da propriedade
exclusiva da fração daquele;

h)  As  janelas  e  os  respetivos  caixilhos  de  cada  fração  são  utilizados  exclusivamente  por
cada condóminos pelo que não podem ser considerados partes comuns do prédio;

i) É certo que as referidas janelas e caixilhos são parte integrante da fachada do prédio, e 2/15
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06/03/2017 Ac. do TRP de 24/09/2015 – 754/14.7YYPRT.P1 – I – “Janelas […] abertas nas paredes perimetrais, que servem ao uso exclusivo de um condómino…

i) É certo que as referidas janelas e caixilhos são parte integrante da fachada do prédio, e
como  tal,  os  condóminos  estão  sujeitos  às  limitações  previstas  no  art.  1422  do  CC,
designadamente não podendo pôr em causa a linha arquitetónica ou o arranjo estético do
edifico,  mas  esse  facto  não  é  suficiente  para  se  considerar  que  as  janelas  e  respetivos
caixilhos sejam considerados partes comuns;

j) Foi o próprio legislador que, na definição imperativa das partes comuns do prédio no art.
1421/1  do  CC,  não  fez  propositadamente  qualquer  referência  às  janelas  ou  respetivos
caixilhos, pois as mesmas pertencem ao proprietário de cada fração autónoma;

I)  As  obras  que  incidam  sobre  as  caixilharias  de  cada  fração,  sendo  estas  propriedade
privada  de  cada  condómino,  não  são  da  esfera  de  competência  da  assembleia  de
condóminos, não podendo o executado, de modo algum, ser obrigado a contribuir para as
despesas  de  conservação  das  janelas/alteração  caixilharia  das  frações  que  não  são  sua
propriedade nem tão pouco são consideradas partes comuns;

m)  A  deliberação  da  Assembleia  de  Condómino  de  29/10/2012,  vertida  na  Acta  n.º  44,  ao
aprovar obras que não incidem sobre as partes comuns, viola de forma grave e manifesta
os princípios básicos da propriedade horizontal previstos nos arts 1414 e segs do CC, pelo
que é, assim, nula e de nenhum efeito devendo, em consequência, ser decretada a extinção
da presente execução (art. 732/4, do CPC) revogando‑se a sentença recorrida.

            O Condomínio contra‑alegou, defendendo a improcedência do recurso (passam‑se a
transcrever  as  “conclusões”  das  contra‑alegações,  pois  que  lhe  vão  ser  feitas  referências  e  assim  se
evitam as repetições):

“a) Na sentença recorrida entendeu‑se que as caixilharias de um edifício são parte comum
do prédio.

b)  Pela  análise  e  conteúdo  da  referida  deliberação  não  restarão  a  obrigação  [sic]  de  Y  é
certa,  liquida  e  exigível  e  que  se  encontra  vencida  dado  o  incumprimento  nos  prazos
expressamente definidos na deliberação em causa.

c)  A  obra  deliberada  consistia  numa  intervenção  na  fachada  do  edifício  a  qual  na  sua
globalidade não cumprirá a sua função de revestimento e isolamento da entrada de água
para o interior das fracções conforme consta da alínea f) dos factos provados.

d) Reproduzindo o texto do art. 1421 do CC em especial a alínea e) do nº 2 constata‑se que
as  caixilharias  do  edifício,  como  parte  integrante  da  fachada  do  mesmo  funcionam  como
um todo, e não obstante a sua utilização em termos funcionais poder ser de uso exclusivo
de  um  condómino,  fazem  parte  integrante  de  um  conjunto  de  elementos  estruturais  que
constituem uma fachada.

e)  As  caixilharias  são  indivisíveis  na  sua  forma  e  substancia  e  apenas  cumprem  a  sua
função  se  estiverem  integradas  num  contexto  estrutural  amplo  e  multifuncional  que  é  a
fachada do edifício.

f)  A  destinação  objectiva  da  caixilharia  não  é  apenas  servir  de  suporte  a  uma  janela  ou
elemento  envidraçado,  mas  sim  deverá  ser  enquadrada  numa  perspectiva  mais  ampla
como sendo a ligação de dois elementos sem o qual a fachada não pode desempenhar, em
termos concretos uma função de impermeabilização.

g) O título constitutivo da propriedade horizontal não prevê que as caixilharias sejam parte
integrante de cada fracção autónoma.
h) O título constitutivo da propriedade horizontal, não afecta a caixilharia ao uso exclusivo 3/15
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06/03/2017 Ac. do TRP de 24/09/2015 – 754/14.7YYPRT.P1 – I – “Janelas […] abertas nas paredes perimetrais, que servem ao uso exclusivo de um condómino…

h) O título constitutivo da propriedade horizontal, não afecta a caixilharia ao uso exclusivo
de uma determinada fracção autónoma art. 1421/3 a contrario.

i) Não pode assim ser ilidida a presunção de comunicabilidade previsto no art. 1421/2e) do
CC, nem pela sua utilidade funcional nem pela sua destinação efectiva.

j)  As  caixilharias,  pelo  seu  elemento  funcional  de  cumprimento  da  sua  função  e  ligação
estrutural à fachada do edifício ser consideradas como zona de intervenção comum.

K) E como tal, competência do administrador do condomínio após deliberação tomada em
assembleia geral de condóminos.

l)  A  deliberação  tomada  em  assembleia  geral  de  condóminos  de  29/10/2012  não  viola
qualquer preceito de natureza imperativa.

m) Nada na lei refere expressamente serem as caixilharias partes integrantes de uma facção
nem afectas exclusivamente a uma fracção, pelo que a deliberação que aprovou a realização
de obras na fachada do edifico não é nula.

n)  Uma  deliberação  tomada  pela  assembleia  de  condóminos  ao  dispor  que  todos  os
titulares de fracções autónomas com direito ao seu uso exclusivo [sic], seriam responsáveis
pelos  respectivos  custos,  mesmo  que  tal  deliberação  estivesse  ferida  de  qualquer
invalidade, sempre a mesma seria anulável cuja invocação está sujeita ao previsto no nº 4
do art. 1433 do CC.

o) E não nula como o pretende e arguiu Y.

p) É extemporâneo o direito a Y invocar e deduzir a anulabilidade de tal deliberação, pois
já decorreram mais de sessenta dias sobre a data da deliberação em apreço.”

                                                      *

            A questão a decidir é a saber se a decisão recorrida está certa quando considera que
a  deliberação  da  assembleia  de  condóminos  de  29/10/2012,  na  parte  que  diz  respeito  à
substituição  das  caixilharias  das  janelas,  não  é  nula,  e  isso  por  considerar  que  aquelas
constituem parte comum do edifício.

                                                      *

                        São  os  seguintes  os  factos  dados  como  provados,  para  além  do  que  resulta  do
requerimento  executivo  já  sintetizado  acima,  que  antes  constava  como  facto  provado,  em
alínea onde também se fazia remissão para as actas 44 a 46, que se davam por reproduzidas
e que agora passam a ser de facto transcritas na parte que interessa:

               A) Na acta 44 (fls. 370/371 do processo em papel), da Assembleia de Condóminos
de 29/10/2012, escreve‑se na parte que interessa:

         “Ordem dos trabalhos.

1. Análise, discussão e aprovação do melhor orçamento para a realização da obra de
reabilitação da fachada sul do edifício.

2. Forma de financiar esta obra.

         […]

                  No  ponto  1  da  ordem  de  trabalhos,  foram  informados  os  presentes  do  custo  dos 4/15
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06/03/2017 Ac. do TRP de 24/09/2015 – 754/14.7YYPRT.P1 – I – “Janelas […] abertas nas paredes perimetrais, que servem ao uso exclusivo de um condómino…

                  No  ponto  1  da  ordem  de  trabalhos,  foram  informados  os  presentes  do  custo  dos
vidros a aplicar e o seu coeficiente de transmissão térmica, conforme anexo○.

                  Após  análise  e  discussão  foi  deliberado  por  unanimidade  adjudicar  à  empresa  W,


Lda, a realização da obra de reabilitação da fachada sul do edifício, conforme Anexo 3, com
os documentos Doc nº 1 a Doc nº 4.

         O prazo previsto para o começo da obra será Maio de 2013.

         No ponto dois da ordem de trabalhos, para fazer face a esta obra ficou deliberado por
unanimidade a administração efetuar uma cobrança extraordinária do valor de 159.833,32€,
a respeitar a permilagem de cada condómino e dividir em 4 prestações mensais a começar
em  Janeiro  de  2013  e  acabar  em  Abril  de  2013.  O  não  pagamento  de  uma  mensalidade
implica o vencimento integral da dívida.”

                                               *

         Nos docs. 3 e 4 (fls. 379/380 do processo em papel) dividem‑se os trabalhos e preços
assim:

0. Trabalhos preparatórios […] 5634€;

1. Tratamentos das fachadas […] 5577,60€ + 1998,64€ + 33.093,76€;

2. Tratamento dos vãos exteriores – remoção das caixilharias […]; aplicação da argamassa
[…]; colocação de novos perfis […]; colocação de novas caixilharias […]2621,05€ + 3920€ +
2623,35€ + 55.631,05€

3.Tratamento de cobertura em terraço […] 8372,73€.

         Total = 119.472,18€

                                               *

         Na acta 46, da Assembleia de Condóminos realizada no dia 27/09/2013 (fls. 382/384),
escreve‑se, na parte que interessa:

         «No quinto ponto da ordem de trabalhos [ponto de situação da cobrança das obras de
reabilitação,  medidas  a  tomar],  foram  informados  os  presentes  dos  valores  referentes  à
obra que ainda se encontram por liquidar, tendo apenas existido uma reclamação recente
por parte de Y, que não aceita que a caixilharia das suas frações seja substituída, embora o
caderno de encargos da obra já tenha sido aprovado em 2009.

         Tomou  da  palavra  o  representante  de  Y  explanando  as  razões  da  posição  tomada,
nomeadamente  que  no  entendimento  de  Y,  a  caixilharia  não  pode  ser  considerada  como
um elemento comum do edifício. No entanto comprometem‑se a reanalisar a questão.

         Pelos presentes foi sugerido dar o prazo de 30 dias após a recepção da presente acta
para  todos  os  condóminos  em  dívida  liquidarem  os  valores  relativos  à  obra  que  se
encontrem em atraso.

         Os condóminos decidiram por unanimidade mandatar a administração para levar a
cabo as deliberações aprovadas se necessário com recurso à via judicial.”

B)  Por  escritura  pública  intitulada  «constituição  de  propriedade  horizontal  em  prédio  da 5/15
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06/03/2017 Ac. do TRP de 24/09/2015 – 754/14.7YYPRT.P1 – I – “Janelas […] abertas nas paredes perimetrais, que servem ao uso exclusivo de um condómino…

B)  Por  escritura  pública  intitulada  «constituição  de  propriedade  horizontal  em  prédio  da
sociedade  “Z,  Limitada”»,  com  o  teor  que  consta  a  fls.  285‑293  do  presente  processo,  que
aqui  se  dá  por  integralmente  reproduzido,  foi  constituída  a  propriedade  horizontal
relativamente ao edifício em causa, o qual está descrito na Conservatória do Registo Predial
de K, sob o n.º xxx/19910122, freguesia de H.

C) No dia 12/06/1995, realizou‑se uma assembleia geral de condóminos do edifício, na qual
foi  aprovado  o  regulamento  do  condomínio,  nos  termos  que  constam  do  documento
intitulado  acta  n.º  5,  junto  a  fls.  76‑103  do  presente  processo,  cujo  teor  se  dá  aqui  por
integralmente reproduzido [este acórdão do TRP esclarece que no art. 23 se estabelece uma
penalidade  por  falta  de  pagamento  das  prestações  de  condomínio  e  prevê‑se  que  serão
suportadas  pelo  condómino  que  deu  causa  à  acção,  todas  as  despesas  judiciais  e
extrajudiciais  que  o  administrador  faça  para  haver  a  quantia  em  divida,  incluindo
advogados  de  advogado  e  salários  do  procurador,  e  isto  mesmo  que,  verificando‑se  o
pagamento antes da propositura da acção, não se tenha passado dos actos preliminares a
esta, bem como juros de mora; no art. 24 prevêem‑se sanções para a infracção das normas
do  regulamento  ou  das  ordens  que,  em  seu  cumprimento,  sejam  dadas  pelo
administrador…].

D) As fracções autónomas designadas pelas letras BQ. BR, BS, BT, AZ, BA, BB, BC, BD, BE,
BF,  BG,  BH  e  BI  integram  o  edifício  e  está  definitivamente  inscrita,  na  CRK,  a  aquisição
dessas fracção a favor do Y.

E)  Aquelas  fracções  correspondem  as  permilagens  de,  respectivamente,  18,668,  9,485,
14,319, 14,898, 3,848, 3,848, 3,848, 3,848, 3,848, 3,848, 3,848, 3,848, 3,848 e 3,848.

F) As caixilharias referidas na acta n.º 44 são elementos integrantes da fachada sul (voltada
para a Av. T) do edifício.

G)  As  caixilharias  actualmente  colocadas  na  fachada  sul  do  edifício  não  cumprem  a  sua
função de revestimento e isolamento da entrada de água para o interior das fracções.

                                        *

            São as seguintes as razões da decisão recorrida:

         “[…]

                  As  partes  referidas  no  n.º  1  do  artigo  transcrito  [art.  1421  do  CC]  são  partes
imperativamente  ou  necessariamente  comuns,  já  as  partes  referidas  no  n.º  2  são  partes
presumidamente  comuns,  sendo  que  tal  presunção  é  uma  presunção  iuris  tantum,  que
poderá  ser  ilidida  mediante  prova  em  contrário  (cfr.,  inter  alia,  Sandra  Passinhas,  A
assembleia  de  condóminos  e  o  administrador  na  propriedade  horizontal,  Almedina,
Coimbra, 2.ª edição, 2.ª reimpressão, 2006, p. 29).

         Lendo o n.º 1 do art. 1421 do CC não encontramos expressa referência a caixilharias ou
janelas. E outro tanto sucede face às alíneas a) a d), do n.º 2, do mesmo artigo. Pelo que a
solução para o caso em análise poderá encontrar‑se na alínea e), do nº 2, segundo a qual se
presumem partes comuns «as coisas que não sejam afectadas ao uso exclusivo de um dos
condóminos».

                  Nas  palavras  de  Sandra  Passinhas,  com  as  quais  concordamos,  “a  afectação
susceptível de vencer a presunção de comunhão prevista no n.º 2 do artigo 1421, terá de ser
uma  afectação  formal,  a  realizar  no  título  constitutivo.  Ou  seja,  tudo  o  que  não  estiver
descrito no título constitutivo como parte própria é propriedade comum dos condóminos. 6/15
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06/03/2017 Ac. do TRP de 24/09/2015 – 754/14.7YYPRT.P1 – I – “Janelas […] abertas nas paredes perimetrais, que servem ao uso exclusivo de um condómino…

descrito no título constitutivo como parte própria é propriedade comum dos condóminos.
O legislador presume que, em geral, as partes que não estão descritas no título constitutivo
como  pertencendo  exclusivamente  a  um  dos  condóminos  são  partes  comuns  do  edifício”
(op. cit., p. 43).

         […]

         “[…] A exclusão de alguma das partes do edifício que se presumem comuns, do rol
das coisas comuns, incide sobre a constituição ou modificação de um direito real sobre um
imóvel, devendo resultar ad substantiam de escritura pública, conforme o art. 875 do CC e o
art. 80 do Código do Notariado” (op.cit., p. 43‑44). Conclui a autora que “são comuns, além
das indicadas no n.º 1 do art. 1421, todas as partes do edifício que não estejam especificadas
no título constitutivo como sendo partes próprias” […].

         No caso em análise, resulta da factualidade provada que as caixilharias referidas na
acta 44 são elementos integrantes da fachada sul […] do edifício […] e que […] actualmente
[…]  não  cumprem  a  sua  função  de  revestimento  e  isolamento  da  entrada  de  água  para  o
interior das fracções.

         Além disso, analisados os diversos documentos juntos aos autos, nomeadamente, o
título constitutivo da propriedade horizontal […], daí resulta que as caixilharias em causa
não  estão  afectas  ao  uso  exclusivo  de  Y  –  pois  o  título  constitutivo  da  propriedade
horizontal não contém qualquer referência a janelas ou caixilharias. […].

         Acresce ainda que, em nosso entender, a expressão “paredes mestras” (sublinhe‑se
que, de acordo com o art. 1421/1a do CC, as paredes mestras integram o elenco das partes
imperativamente  comuns)  deverá  ser  interpretada  de  uma  forma  actualista,  de  modo  a
incluir  as  paredes  perimetrais  (paredes  exteriores  que  delimitam  o  edifício)  bem  como  as
fachadas  de  edifícios  (independentemente  dos  materiais  aí  utilizados),  com  todos  os  seus
elementos integrantes, pois desempenham funções essenciais para o edifício: por exemplo,
delimitam‑no,  determinando  a  consistência  volumétrica  do  edifício,  definem  o  perfil
arquitectónico  do  edifício,  isolam  o  edifício  do  exterior,  protegendo‑o  termicamente,
protegendo‑o  de  infiltrações  e  de  outras  agressões  de  elementos  naturais  (no  sentido  de
que  as  paredes  perimetrais  são  de  considerar  partes  comuns,  pronunciaram‑se,  de  forma
expressa,  Sandra  Passinhas,  op.  cit.,  p.  33,  e  Aragão  Seia,  Propriedade  Horizontal,
Almedina,  Coimbra,  2.ª  edição,  p.  72;  na  jurisprudência,  cfr.,  por  exemplo,  o  acórdão  do
Tribunal  da  Relação  de  Lisboa  de  08/01/2008,  processo  n.º  9673/2007‑7,  disponível  em
hĀp://www.dgsi.pt, e o acórdão do STJ de 19/02/2008, in CJ‑STJ, 2008, I, pp. 114‑116).

         […Isto] pese embora a tolerância com que se permitem actos dos condóminos sobre as
janelas e caixilharias utilizadas pelas respectivas fracções […].

                  Consequentemente,  a  deliberação  tomada  na  assembleia  de  condóminos  de


29/10/2012,  documentada  na  acta  4,  sobre  a  substituição  das  caixilharias  não  padece  de
nulidade.”

                                                      *

            Decidindo:

            Antes de mais, e como pano de fundo, lembre‑se que, segundo o art. 204/1, alíneas a)
e e) do CC, são coisas imóveis: os prédios rústicos e urbanos; […] as partes integrantes dos
prédios rústicos e urbanos. Acrescenta o n.º 3: é parte integrante toda a coisa móvel ligada
materialmente ao prédio com carácter de permanência.
       Uma janela é, por isso, parte integrante (ou mais precisamente uma parte componente) 7/15
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06/03/2017 Ac. do TRP de 24/09/2015 – 754/14.7YYPRT.P1 – I – “Janelas […] abertas nas paredes perimetrais, que servem ao uso exclusivo de um condómino…

       Uma janela é, por isso, parte integrante (ou mais precisamente uma parte componente)
de um prédio; e os caixilhos de uma janela são parte integrante da janela.

            Logo, os caixilhos de uma janela são parte integrante do prédio, ou seja, da fracção
autónoma de um edifício.

            Ora, o art. 1305 do CC, sob a epígrafe de conteúdo do direito de propriedade, diz
que o proprietário goza de modo pleno e exclusivo dos direitos de uso, fruição e disposição
das coisas que lhe pertencem, dentro dos limites da lei e com observância das restrições por
ela impostas.

                                                      *

                  Posto isto, Antunes Varela e Pires de Lima dizem:

                  “Deverão  considerar‑se  também  propriedade  do  respectivo  condómino,  […]  as


janelas,  com  tudo  o  que  as  integra  (caixilhos,  vidros,  persianas,  etc.),  pois  trata‑se  de
elementos destinados ao uso exclusivo do condómino a cuja fracção respeitam. Em sentido
contrário,  poderá  dizer‑se  que,  encontrando‑se  estes  elementos  implantados  em  paredes
comuns, deverá caber‑lhes a mesma natureza jurídica. Esta consideração, porém, conforme
sublinham alguns autores (cfr., por ex., F. Aeby, ob. cit., n.º 120), peca por excesso de lógica,
não ponderando devidamente a realidade. Com efeito, os elementos em questão, alguns de
natureza muito frágil, estão sujeitos ao uso contínuo por parte dos utentes da fracção em
que  se  integram,  dependendo  o  seu  estado,  essencialmente,  do  modo  como  cada  um  se
sirva  deles  e  os  conserve.  Há  toda  a  conveniência,  por  isso,  em  atribuir‑lhes  natureza
privativa.” (CC anotado, vol. III, 2ª edição, Coimbra Editora, 1984, pág. 417).

            E mais à frente escrevem:

                  “Distintas  das  paredes  mestras  ou  dos  muros  comuns  são  as  aberturas  (janelas,
balcões, varandas, sacadas, etc.) que neles se rasguem ou neles se apoiem, pertencentes ao
dono da respectiva  fracção  autónoma  (G.  Branca,  ob.  cit.,  pág.  334;  vide, supra, nota 3 ao
art.  1420)  (obra  citada,  pág.  421;  Y  também  cita  esta  passagem  da  obra  destes  autores  no
corpo das suas alegações de recurso).

            No mesmo sentido, Aragão Seia, na obra citada pela sentença recorrida, agora em
anotação aos art. 1420 e 1421 do CC, págs. 61 e 71/72, edição de 2001.

            Contra isto, não vale invocar as passagens citadas de Sandra Passinhas, pois que esta
autora logo a seguir a elas escreve (passa a fazer‑se citações de passagens das páginas 42 a 45 da
edição de 2000 da obra em causa):

                  “A  função  própria  do  n.º  2  e,  em  particular,  da  alínea  e),  é  a  de  qualificar  como
comuns  todas  as  partes  que  não  estejam  previstas  no  título  constitutivo  como  próprias.
Tudo  aquilo  que  não  for  atribuído,  no  título  constitutivo,  exclusivamente  a  algum
condómino, não pertence ao construtor, ao vendedor do prédio ou a qualquer terceiro, mas
é parte comum do prédio, objecto de compropriedade entre os vários condóminos.

         Diferente é a situação que, colocando‑se num estádio temporal anterior, existente já à
data da constituição do condomínio, configura uma destinação objectiva […]. É a coisa que,
pela  sua  estrutura  objectiva,  pela  sua  situação  ou  por  alguma  outra  circunstância
juridicamente relevante, se encontra destinada à fracção autónoma (v.g., um jardim a que
só se possa aceder pela sala do rés‑do‑chão). Estas coisas que, não estando especificadas no

título constitutivo, deveriam ser consideradas comuns, nos termos da presunção do n.º 2 do 8/15
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06/03/2017 Ac. do TRP de 24/09/2015 – 754/14.7YYPRT.P1 – I – “Janelas […] abertas nas paredes perimetrais, que servem ao uso exclusivo de um condómino…

título constitutivo, deveriam ser consideradas comuns, nos termos da presunção do n.º 2 do
artigo  1421,  não  poderão,  todavia,  deixar  de  ser  consideradas  como  partes  próprias.  A
destinação objectiva da coisa funciona como um elemento limitador do seu domínio.”

            Em nota, a autora acrescenta:

“Esta  é  a  opinião  unânime  da  doutrina  portuguesa  que  se  tem  pronunciado  sobre  o
assunto,  embora  nem  sempre  com  a  mesma  formulação.  Para  Luís  Carvalho  Fernandes,
Lições, pág. 343, “poderia parecer implícita na lei a ideia de o afastamento da presunção de
cenas coisas como comuns resultar necessariamente do título constitutivo. Mas não é assim,
porquanto  isso  pode  resultar  da  sua  própria  natureza  ou  função.  Por  virtude  da  sua
natureza,  não  pode  considerar‑se  comum  um  pátio  que  só  tem  acesso  por  uma  das
fracções.  Se  atendermos  à  sua  função,  não  podemos  ignorar  a  destinação  da  parte  do
edifício e esta não depende apenas da vontade do dono do edifício, dadas as limitações de
vária ordem decorrentes das normas relativas à edificação urbana […]”.

                      Outros  autores  não  acentuam  a  afectação  real,  mantendo‑se  presos  à  letra  da  lei.
Pires  de  Lima/Antunes  Varela,  ob.  e  loc.  cits.,  escrevem  ainda  quanto  à  presunção  de
comunhão  estabelecida  no  n.º  2:  “E  deve  mesmo  considerar‑se  afastada  em  relação  às
coisas  que,  exorbitando  das  necessariamente  comuns,  não  possam  servir  senão,  pela  sua
destinação  objectiva,  um  dos  condóminos”.  Para  Oliveira  Ascensão,  ob.  cit.,  pág.  462,
presumem‑se  comuns  as  coisas  que  não  sejam  afectadas  ao  uso  exclusivo  de  um  dos
condóminos. Esta afectação pode dar‑se por natureza (em nota: assim o jardim que só tem
acesso através de uma das fracções não se presume comum) ou por negócio jurídico. […]

No  mesmo  sentido,  embora  a  propósito  de  outra  questão  jurídica,  se  tem  pronun ciado  a
jurisprudência  italiana:  “A  presunção  legal  de  condomínio  de  algumas  partes  do  edifício
constituído  em  propriedade  horizontal  no  sentido  do  artigo  1  117  do  Codice  funda‑se  na
destinação  ao  uso  ou  ao  gozo  comum,  que  deve  resultar  de  elementos  objectivos  e
determinam  uma  aptidão  funcional  do  bem  ao  serviço  e  ao  gozo  colectivo.  Ao  invés,
quando o bem, pelas suas características estruturais objectivas serve de modo exclusivo ao
uso e gozo de uma parte do imóvel, objecto de um autónomo direito de propriedade, decai
o  pressuposto  de  uma  contitularidade  necessária,  pois  a  destinação  particular  vence  a
presunção legal de compropriedade ( … )”.

            E a autora continua:

“[…] uma coisa que pela sua destinação objectiva só possa servir um condómino não pode
deixar de ser considerada parte própria.”

            E de seguida realça:

         “segundo a nossa opinião, a destinação objectiva não afasta a presunção de comunhão
do artigo 1421.°, n.º 2, mas impede, obsta à sua actuação. É um factor pré‑negocial ou, pelo
menos, extra negocial. Está antes e para além do título constitutivo, não ao lado dele.”

            Em suma: havendo uma destinação objectiva da coisa, a presunção do art. 1421/2 do
CC  não  chega  a  funcionar,  pelo  que  ela  não  tem  de  ser  afastada  pelo  título  constitutivo,
bem ao contrário da conclusão a que a sentença recorrida chegou.

                        Quanto  ao  argumento  da  analogia  com  as  paredes  perimetrais,  que  na  sentença
recorrida se sugere que decorre da posição da Sandra Passinhas,  veja–se o que ela diz logo
a seguir à passagem citada (ao menos na edição de 2000, pág. 31):

         “As janelas ou varandas abertas nas paredes perimetrais, que servem ao uso exclusivo 9/15
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06/03/2017 Ac. do TRP de 24/09/2015 – 754/14.7YYPRT.P1 – I – “Janelas […] abertas nas paredes perimetrais, que servem ao uso exclusivo de um condómino…

         “As janelas ou varandas abertas nas paredes perimetrais, que servem ao uso exclusivo
de um condómino, não são objecto de comunhão, pois, pela sua natureza e pelo fim a que
se  destinam,  não  são  idóneas  ao  gozo  promíscuo  por  parte  dos  outros  condóminos.
[…]”           

            Ou seja, por um lado, a autora chega à conclusão contrária da sentença; por outro,
demonstrar‑se  que  há  analogia  entre  as  paredes  perimetrais  e  as  paredes  mestras  não  é
suficiente para demonstrar que existe analogia entre as paredes mestras e as janelas abertas
nas paredes perimetrais. Trata‑se de um salto lógico da sentença.

            Por fim, a observação crítica da sentença de que a prática tem tolerado actos dos
condóminos  sobre  as  janelas  e  caixilharias  utilizadas  pelas  respectivas  fracções,  traduz‑se
no reconhecimento implícito de que o entendimento que seguiu não é o mais corrente, pelo
que se lhe impunha um ónus acrescido de demonstração de que o seu entendimento é que
era  o  correcto.  Dito  de  outro  modo,  a  crítica  não  pode  ser  utilizada  como  argumento,
porque pressupõe que o entendimento que segue está correcto.

                        Quanto  às  contra‑alegações  do  Condomínio  ainda  não  rebatidas  com  o  que
antecede, diga‑se que o facto de deslizar da qualificação dos caixilhos como parte comum
do  edifício  para  a  sua  qualificação  como  zona  de  intervenção  comum  da  competência  do
administrador, é, por si só, demonstrativo da fragilidade da construção feita. Se são parte
comum  não  se  precisa  de  dizer  que  são  zona  de  intervenção  da  competência  do
administrador.

            Por outro lado, repare‑se na sua insistência no facto de os caixilhos permitirem a
entrada da água nas fracções; como o que se passa nas fracções não é da competência do
Condomínio, o Condomínio não pode dizer apenas que a água entra nas fracções, para daí
concluir que tem legitimidade para tratar do problema. Aliás, dito daquela forma acaba por
ser  o  reconhecimento  de  que  os  caixilhos  servem  as  fracções  a  que  pertencem  e  não  o
edifício, por mais que o Condomínio insista na sua qualificação como “elemento funcional
de  cumprimento  da  sua  função  e  ligação  estrutural  à  fachada”  ou  na  “função  de
impermeabilização”  da  fachada.  É  que  o  Condomínio  não  diz  que  as  águas  entrem  nas
partes comuns do edifício.

            Por fim, o seu argumento de que os caixilhos fazem parte da fachada, equivale ao
argumento  já  rebatido  da  sentença  recorrida  da  analogia  das  janelas  com  as  paredes
perimetrais.  E,  na  prática,  equivale  a  dizer  que  tudo  o  que  está  integrado  nas  paredes
comuns é parte comum, o que entra em clara contradição com as especificações de partes
comuns feitas na al. a) do n.º 1 do art. 1421. Ou seja, não faria sentido a lei ter restringido a
parte comum às paredes‑mestras, se tudo o que está implantado numa fachada fosse parte
comum.

            Entretanto, note‑se que, se entrar água para as fracções de Y pelos caixilhos e isso
vier a causar prejuízos aos edifício ou às outras fracções, Y é responsável por esses danos
(arts.  1352  e  492  do  CC).  Só  que  isto  é  uma  consequência  precisamente  do  facto  de  os
caixilhos  serem  de  Y  e  não  do  Condomínio  e  não  se  resolve  com  deliberações  dos
condóminos que tratem os caixilhos como partes comuns do edifício.

                                                      *

            Sendo os caixilhos das janelas coisas próprias de Y, a Assembleia de Condóminos
não  se  podia  pronunciar  sobre  os  mesmos  como  se  eles  fossem  parte  comum  do  edifício,
determinando  a  sua  substituição  (no  caso  através  da  sua  retirada  e  colocada  de  novos,

como se vê no doc. 4 para que a acta 44 remete).
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06/03/2017 Ac. do TRP de 24/09/2015 – 754/14.7YYPRT.P1 – I – “Janelas […] abertas nas paredes perimetrais, que servem ao uso exclusivo de um condómino…

como se vê no doc. 4 para que a acta 44 remete).

            Tendo‑o feito, invadiu uma área de competência que não era sua e a consequência é
a da ineficácia da deliberação nessa parte.

            Como dizem Pires de Lima e Antunes Varela:

         “A sanção cominada no artigo 1433 é a anulabilidade (e não a nulidade: cfr. arts. 285 e
segs.) da deliberação.

                  Deve  entender‑se,  no  entanto,  que  no  âmbito  desta  disposição  não  estão
compreendidas, nem as deliberações que violem preceitos de natureza imperativa, nem as
que  tenham  por  objecto  assuntos  que  exorbitam  da  esfera  de  competência  da  assembleia
dos condóminos.

         […]

         Quando a assembleia se pronuncie sobre assuntos para que não tenha competência
(tal  será  o  caso  em  que,  por  exemplo,  a  assembleia  sujeite  ao  regime  das  coisas  comuns,
sem  o  consentimento  do  respectivo  titular,  uma  parte  do  prédio  pertencente  em
propriedade  exclusiva  a  um  dos  con dóminos),  a  deliberação  deve  considerar‑se  ineficaz:
desde que a não rati fique, o condómino afectado a todo o tempo pode arguir o vício de que
ela  enferma,  ou  por  via  de  excepção,  ou  através  de  uma  acção  de  natureza  meramente
declarativa.  E  é  este,  sem  dúvida,  o  regime  mais  aconselhável:  seria  violento,  com  efeito,
obrigar  o  condómino  afectado  a  propor  em  curto  prazo,  e  sob  pena  de  convalidação  do
acto, uma acção anulatória de uma deliberação tornada sobre assunto estranho à esfera de
competência  da  assembleia.  De  resto,  a  sanção  da  ineficácia  é  a  que  a  lei  comina  para  os
actos praticados por um representante sem poderes (art. 268.°, 1), e as duas situações são
em  tudo  análogas:  em  qualquer  dos  casos  faltam  ao  autor  ou  autores  do  comportamento
negocial  os  poderes  necessários  para  interferir  na  esfera  jurídica  de  outrem  (vide,  neste
sentido, ac. da Relação de Coimbra, de 2 de Novembro de 1982, na Col. Jurisp., ano VII, t. 5.
págs. 22 e scgs.) (obra citada, págs. 447/448)

            Y, utilizando parcialmente a citação que está feita acima, mas através do ac. do TRL
de  02/05/2013,  2917/09.8TBMTJ.L2‑6,  concluiu  pela  nulidade  da  deliberação,  sem  explicar
porque  é  que  a  delilberação  em  causa  nestes  autos  se  deve  entender  como  violando
preceitos  de  natureza  imperativa,  em  vez  de  se  entender  que  o  que  faz  é  deliberar  sobre
assuntos que exorbitam da esfera de competência. da assembleia dos condóminos.

            Ora,  o  que  se  passa,  realmente,  é  que  a  assembleia  de  condóminos,  ao  deliberar
sobre  a  substituição  dos  caixilhos  das  fracções  do  edifício,  está  a  ir  para  além  da  sua
competência  de  “administração  das  partes  comuns  do  edifício”  (art.  1430/1  do  CC).  Pelo
que,  nessa  parte,  repete‑se,  do  que  se  trata  é  da  ineficácia  (em  sentido  estrito)  da
deliberação em causa, que pode ser arguida por Y a todo o tempo – não estando, por isso,
sujeita  a  qualquer  prazo,  como,  por  sua  vez,  pretende  o  Condomínio  ‑,  designadamente
através dos embragos de executado como o fez (neste sentido, também, Sandra Passinhas,
obra citada, págs. 255/256).

                        E  é  disto  que  se  trata,  e  não  de  qualquer  anulabilidade,  como  pretende  o
Condomínio,  invocando  para  tanto  o  ac.  do  TRP  de  19/12/2007,  como  se  vê  do  corpo  das
suas contra‑alegações; é que o acórdão reporta‑se a situação que nada tem a ver com a dos
autos,  pois  que,  como  resulta  da  leitura  do  seu  sumário  (referência  0736562  da  base  de
dados  do  IGFEJ)  o  mesmo  diz  respeito  a  uma  deliberação  que  se  limita  a  reproduzir  o
critério vazado no art. 1424/3 do CC, não tendo, por isso, nada a ver com uma deliberação
que  trata  como  comuns  (decide  do  seu  destino)  de  partes  próprias  de  uma  fracção
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06/03/2017 Ac. do TRP de 24/09/2015 – 754/14.7YYPRT.P1 – I – “Janelas […] abertas nas paredes perimetrais, que servem ao uso exclusivo de um condómino…

que  trata  como  comuns  (decide  do  seu  destino)  de  partes  próprias  de  uma  fracção
autónoma. Dito de outro modo, o art. 1433 do CC trata das deliberações anuláveis, não das
nulas  ou  das  ineficazes  (neste  sentido,  expressamente,  Sandra  Passinhas,  obra  citada,
edição de 2000, pág. 243).

                                                      *

            Assim sendo, a deliberação com base na qual o Condomínio está a executar Y é
ineficaz em relação a ele, pelo que não pode servir de base à execução.

                        Mas  isto  é  assim  apenas  em  relação  à  parte  da  deliberação  que  se  refere,  por
remissão,  à  substituição  dos  caixilhos,  não  quanto  a  tudo  o  mais  (quer  a  petição  de
embargos,  quer  as  conclusões  do  recurso,  quer  este,  apenas  põem  a  causa  a  qualificação
dos caixilhos como partes comuns do edifício, não tudo o mais que tenha sido objecto de
intervenção a título de reabilitação da fachada).

                        Ora,  dos  159.833.32€  (que  incluem  IVA)  que  foram  aprovados  para  financiar  a
reabilitação da fachada sul do edifício, foram exigidos 15.320,12€ a Y.

            Mas, daquele valor, sabe‑se que 2621,05€ + 3920€ + 2623,35€ + 55.631,05€, tudo com
IVA, têm a ver com trabalhos de remoção e colocação dos caixilhos em causa nestes autos.
O que dá o total de 64795,45€ + 21% de IV = 78.402,49€.

                        Assim,  dos  159.833,32€  não  podem  ser  exigidos  78.402,49€,  pelo  que  restam
81.430,83€.

            Se dos 159.833,32€ a permilagem das fracções de Y correspondia a 15.320,12€, dos
81.430,83€  a  permilagem  corresponde  a  7805,19€.  Pelo  que  é  só  este  o  valor  que  pode  ser
exigido a Y para a reabilitação da fachada sul do edifício.

            A este valor acresce o de 450€ das despesas ditas administrativas e de contencioso, a
que  o  recurso  não  se  refere  e  que  apenas  poderiam  cair  se  a  execução  não  pudesse
prosseguir quanto a nenhuma dívida de Y ao Condomínio.

                                                      *

                        Pelo  exposto,  julga‑se  o  recurso  parcialmente  procedente,  julgando‑se  extinta  a


execução no que se refere ao valor de 7064,93€, prosseguindo pelo valor de 8705,19€.

            Custas por Y em 55,20% e pelo Condomínio em 44,80%.

            Porto, 24/09/2015

            Pedro Martins                     

            1º Adjunto

            2º Adjunto

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