Você está na página 1de 9

BIOESTATÍSTICA

Tatiana Marques da Silva Parenti


Estatística e bioestatística:
da população à amostra
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Definir estatística, bioestatística, população e amostra.


„„ Diferenciar os conceitos de estatística, bioestatística, população e
amostra.
„„ Relacionar esses conceitos com as suas aplicações na rotina diária do
profissional da saúde.

Introdução
Neste texto, você vai estudar os conceitos de estatística, bioestatística,
população e amostra, bem como as suas características e sua utilização
em bioestatística.

Algumas definições importantes


A estatística é usada como fonte de dados há muitos séculos, “é a ciência
que tem por objetivo orientar a coleta, o resumo, a apresentação, a análise e
a interpretação de dados”. Apesar de estarmos habituados à análise de infor-
mações populacionais (especialmente nos censos demográficos), ela também
pode ser usada como fonte em outras ciências e, no nosso caso, especialmente
nas ciências ligadas à vida e aos seres vivos.
Mais do que dados, a estatística nos oferece a oportunidade de olhar para
as informações fornecidas, de maneira crítica, e analisá-las a partir disto.
Ela é aplicada à area da saúde em diversos contextos, desde diagnósticos
com base no levantamento de ocorrências, até a comprovação da eficácia

Bioestatistica_LIVRO.indb 13 13/03/2018 09:16:31


14 Estatística e bioestatística: da população à amostra

de medicamentos e outros dados importantes. Nas ciências biológicas e na


medicina veterinária não é diferente. Ao pesquisador, cabe a interpretação e a
análise das conclusões, possibilitando readequação de tratamentos, opções por
medicamentos mais eficientes ou interferência nas atividades desenvolvidas
em determinado ambiente, por exemplo. Oferece ainda a possibilidade de
análise e interpretação de informações sobre medicamentos, equipamentos,
avaliação de protocolos e artigos científicos.
Dizemos, então, que a estatística é auxiliar da pesquisa científica e que
deve estar aliada ao conhecimento e ao estudo do objeto em si, seja ele uma
determinada enfermidade, a ação de um medicamento, a intervenção em
uma unidade de preservação ambiental ou outras. Nestes casos, referimo-nos
à bioestatística, segmento aplicado às ciências relacionadas à vida, à saúde,
como medicina, enfermagem, fisioterapia, veterinária, biologia, ecologia,
agronomia, engenharia ambiental e tantas outras especialidades.
Dois conceitos são primordiais ao entendimento da análise estatística de
dados: população e amostra. A população se refere ao grupo mais amplo de
análise, como, por exemplo, todos os homens entre 50 e 60 anos com diabetes
do tipo 2. Porém, sabemos que fazer uma pesquisa com uma população tão
ampla se torna inviável. Então, cria-se um “subgrupo”, que chamamos de
amostra (Figura 1). Esta opção permite que se faça a mesma análise em um
grupo menor, desde que estabelecidos parâmetros de seleção.

Amostra
População
Figura 1. Ilustração de pesquisa por meio de amostra.
Fonte: ANÁLISE... (2015).

Bioestatistica_LIVRO.indb 14 13/03/2018 09:16:31


Estatística e bioestatística: da população à amostra 15

No mesmo exemplo, tomaríamos um grupo composto por homens, pacientes


de diabetes do tipo 2, com idades entre 50 e 60 anos e que estivessem em
tratamento na unidade básica de saúde de um determinado bairro da cidade de
Porto Alegre. Poderiam ser estabelecidos parâmetros ainda mais específicos,
diminuindo o tamanho da amostra até atingirmos a necessidade da pesquisa,
mas de maneira que não interferisse na qualidade dos dados. Por exemplo,
no grupo, selecionaríamos apenas os que fazem uso de insulina, ou os que
não fazem, e poderíamos usar como parâmetro o gênero, separando assim
homens e mulheres que tenham a mesma idade e a mesma condição de saúde.
Devemos considerar ainda as variáveis que podem interferir nos resultados
da pesquisa. No caso do exemplo, considerar se os pacientes realizam atividades
físicas ou não, se fazem controle da alimentação, se possuem neuropatias,
se utilizam medicamentos para cardiopatias e também outros aspectos que
possam inteferir nos resultados.
Há várias possibilidades de uso estatístico, como, por exemplo, os dados
obtidos no site da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia,
pois, segundo estes, a diabetes atinge mais homens do que mulheres (Figura
2). Em uma projeção, é possível perceber a tendência a aumentar o número
de pacientes nas próximas décadas.

Diabetes por gênero

Número de homens com diabetes Número de mulheres com diabetes

2015 215.1 milhões 2015 199.5 milhões


2040 328.4 milhões 2040 313.3 milhões

Figura 2. Gráfico de acometidos pela diabetes.


Fonte: Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (2015).

Bioestatistica_LIVRO.indb 15 13/03/2018 09:16:32


16 Estatística e bioestatística: da população à amostra

Você sabia que os parâmetros podem alterar os resultados da pesquisa? No caso dos
pacientes com diabetes, por exemplo, o uso de insulina pode ser uma parâmetro, pois
deverá interferir nos resultados se o objetivo for a aplicação de algum medicamento
novo. Gênero, idade, uso de medicamentos e doenças crônicas são parâmetros que
devem ter sua relevância considerada nas análises.

Diferenciando conceitos
Vamos analisar um exemplo para diferenciar na prática os termos estudados.
Uma médica pediatra quer fazer uma análise estatística do uso de me-
dicamentos homeopáticos por pacientes de 1 a 3 anos de idade. Ela deseja
comparar os efeitos do uso destes medicamentos com os alopáticos. Seu
objetivo é investigar se os homeopáticos oferecem vantagem em relação aos
medicamentos alopáticos. Para isto, inicia definindo a população: todos os
seus pacientes nesta faixa etária. Após essa primeira etapa, seleciona duas
amostras que considerará como parâmetro para o tipo de medicação oferecida
aos pacientes:

„„ Amostra 1 – aqueles cujos pais optam por medicamentos homeopáticos


sistematicamente, que são seus pacientes desde o nascimento e que
não apresentam doenças crônicas. Sua análise terá como indicadores
o número de vezes que as crianças apresentaram alguma alteração na
saúde no período de um ano, bem como o tipo de doença que apresen-
taram. Serão consideradas variáveis importantes a evolução do peso
e o desenvolvimento físico das crianças.
„„ Amostra 2 – composta por pacientes cujos pais não utilizam medica-
mentos homeopáticos nos tratamentos, que são seus pacientes desde o
nascimento e que não apresentam doenças crônicas. Para obter resultados
mais confiáveis, os parâmetros e as variáveis serão os mesmos.

Supondo que a médica realize os registros e as verificações necessárias


ao longo de 1 ano, conforme a proposta da pesquisa, ao final deste prazo ela
poderá, por intermédio dos dados obtidos, verificar se a sua hipótese inicial
foi comprovada ou não. Se os dados das variáveis e os parâmetros forem

Bioestatistica_LIVRO.indb 16 13/03/2018 09:16:32


Estatística e bioestatística: da população à amostra 17

registrados, estes podem oferecer pistas das razões pelas quais a hipótese se
comprova ou não. Assim, os dados podem ser utilizados em desdobramentos
da mesma pesquisa ou provocar a necessidade de uma nova coleta de dados
A vantagem desse tipo de análise é que ele oportuniza ao profissional uma
maior segurança na tomada de decisões, além de melhores e mais confiáveis
argumentos aos pacientes e aos clientes e maior sucesso nas abordagens
escolhidas.

As variáveis podem interferir nos resultados da pesquisa e não é sempre que elas
podem ser previstas pelo pesquisador. São variáveis, por exemplo, a idade e o peso
dos indivíduos ou o tempo de exposição a determinado parâmetro. Supondo que
fosse realizada uma pesquisa acerca da relação do hábito de fumar com a incidência
de tumores nos pulmões, uma variável óbvia e previsível seria o tempo de exposição
ao fumo, enquanto uma variável imprevisível seria a intercorrência de outras doenças
ao longo da análise.

E na prática, como fica?


O maior ganho da aplicabilidade da estatística no trabalho do profissional da
saúde é poder conhecer seus pacientes e seus clientes de uma maneira mais
objetiva e obter dados concretos que podem interferir na qualidade do seu
trabalho.
Por exemplo: uma dentista que atende em dois consultórios localizados em
regiões bem distantes de uma mesma cidade. Em um deles, ela atende pacientes
de baixa renda, que consultam ocasionalmente e, em geral, com diagnósticos de
tratamento de canal e outros; no outro consultório, atende pacientes de classe
média alta, acostumados a realizar consultas periódicas e que, na maioria das
vezes, buscam por tratamentos estéticos e ortodônticos. A profissional deseja
organizar seu material de trabalho, otimizando investimentos e reduzindo
custos e desperdícios de materiais. Neste caso, a população se refere aos seus
pacientes nos dois consultórios. Ela estabelece como amostra os pacientes
que procuraram seus serviços nos últimos seis meses e cria uma tabela para
cada consultório, em que os dados que lhe servirão de parâmetros (Figura 3).

Bioestatistica_LIVRO.indb 17 13/03/2018 09:16:32


18 Estatística e bioestatística: da população à amostra

Figura 3. Exemplo de tabela utilizada pela dentista para controle do material necessário.

Após verificar os dados, a profissional poderá analisar em qual consultório


ela tem maior necessidade de estoque e de que tipo de material e também
com que outros profissionais ela deve estabelecer parcerias (na produção de
implantes, próteses e aparelhos).
Outro exemplo: um médico ginecologista pretende analisar os efeitos de
um novo medicamento que interfere na produção hormonal pós-menopausa.
Como tem muitas pacientes nesta condição, organizou uma planilha e solicitou
que algumas das suas clientes respondessem e lhe enviassem seus pareceres
após o uso do medicamento. Determinou como população suas pacientes em
pós-menopausa e as dividiu por faixa etária em duas amostras: a amostra
1, constituída por pacientes com idades entre 50 e 60 anos, e a amostra 2,
composta por pacientes com idades entre 60 e 70 anos.
Na planilha, solicita às pacientes que informem sobre os sintomas que o
medicamento se propõe a combater e como se sentem após o uso deste durante
um período de três meses. Finalizado este período, ao receber o retorno das
pacientes, o médico poderá analisar se houve diminuição/melhora dos sintomas,
em qual faixa etária o medicamento traz melhores efeitos, se o uso contínuo
produz o efeito esperado e outras dúvidas que ele possa ter a esse respeito.
A estatística também está presente em artigos e estudos a respeito de do-
enças e de tratamentos na área médica. Ler e interpretar os dados, as tabelas
e os gráficos proporciona maior segurança e entendimento dos resultados

Bioestatistica_LIVRO.indb 18 13/03/2018 09:16:32


Estatística e bioestatística: da população à amostra 19

informados. Assim como, ao escrever artigos e dados médicos, é de suma


importância que se utilize dados estatísticos que sustentem as afirmações que
se faça sobre determinado estudo, seja ele na medicina, na biomedicina, na
biologia ou em outras áreas às quais se dediquem as análises.

O link a seguir contém um exemplo de pesquisa que utiliza


dados estatísticos na área da ginecologia.

https://goo.gl/eJp58z

ANÁLISE estatística: como definir a dimensão da amostra. [2015]. Disponível em: <http://
analise-estatistica.pt/2015/03/como-definir-a-dimensao-da-amostra.html>. Acesso
em: 22 ago. 2017.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE ENDOCRINOLOGIA E METABOLOGIA. Atlas mundial de
diabetes 2015. 2015. Disponível em: <https://www.endocrino.org.br/atlas-2015-dis-
ponivel/>. Acesso em: 24 jul. 2017.

Leitura recomendada
CALLEGARI-JACQUES, S. M. Bioestatística: princípios e aplicações. Porto Alegre: Art-
med, 2003.

Bioestatistica_LIVRO.indb 19 13/03/2018 09:16:32

Você também pode gostar