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BIOESTATÍSTICA

E EPIDEMIOLOGIA
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
Copyright © UVA 2020
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meio sem a prévia autorização desta instituição.

Texto de acordo com as normas do Novo Acordo Ortográfico


da Língua Portuguesa.

AUTORIA DO CONTEÚDO PROJETO GRÁFICO


Carolina Pimentel Machado UVA

REVISÃO DIAGRAMAÇÃO
Janaina Vieira UVA
Lydianna Lima

M149 Machado, Carolina Pimentel.


Bioestatística e epidemiologia [recurso eletrônico] / Carolina Pimentel
Machado. – Rio de Janeiro: UVA, 2021.

1 recurso digital (4000 KB)

Formato: PDF
ISBN 978-65-5700-094-6

1. Bioestatística. 2. Epidemiologia. 3. Estatística. I. Universidade Veiga de
Almeida. II. Título.

CDD – 570.15195

Bibliotecária Adriana R. C. de Sá CRB 7 – 4049.


Ficha Catalográfica elaborada pelo Sistema de Bibliotecas da UVA.
SUMÁRIO

Apresentação 06
Autor 07

UNIDADE 1

Introdução ao estudo da Estatística 08


• Conceitos e aplicações básicas da Estatística

• População e amostra em estudos estatísticos

• Estudos estatísticos e inferenciais

UNIDADE 2

Organização dos dados 32


• Dados e variáveis

• Tabelas e gráficos

• Medidas de tendência central, medidas de dispersão


e distribuição normal
SUMÁRIO

UNIDADE 3

Introdução à Epidemiologia 55
• História da Epidemiologia, conceitos epidemiológicos

• Saúde, qualidade de vida e indicadores de saúde

• História natural das doenças

UNIDADE 4

Epidemiologia Descritiva 84
• Medidas da saúde coletiva

• Transições e variáveis

• Epidemias, endemias e surtos — diferença entre as ocorrências


APRESENTAÇÃO

A bioestatística é uma ciência exata que auxilia na quantificação de fenômenos relacio-


nados à saúde x doença (morbidade, mortalidade). Atua complementando a epidemiolo-
gia, ciência que visa estudar a incidência dos fenômenos de saúde/doença, fatores con-
dicionantes e determinantes do processo de adoecimento na população humana. Então,
podemos dizer que a bioestatística é a estatística aplicada à área de saúde. É importante
ressaltar que técnicas estatísticas são amplamente utilizadas em pesquisas.

Diante deste contexto, nesta disciplina serão abordados conceitos básicos de epidemio-
logia e bioestatística aplicados à saúde coletiva; conhecimento sobre vigilância epide-
miológica e estudos epidemiológicos para o levantamento de dados de morbidade e
mortalidade e sua aplicação no desenvolvimento de políticas de promoção, prevenção,
controle e erradicação de doenças e agravos. Além disso, trabalharemos a apresentação
e a leitura de dados em tabelas e gráficos, uso de medidas de tendência central, índices
e coeficientes. Análise crítica dos determinantes de saúde considerando os contextos
demográfico, social, econômico e cultural da população.

Pode-se considerar o cenário da pandemia do coronavírus para pontuar e exemplificar


a importância da epidemiologia e da bioestatística no acompanhamento da pandemia
e toda a atuação da vigilância epidemiológica para o controle dos agravos da doença.
Como profissional da área de saúde você conseguirá ter um olhar mais amplo de todo o
processo de adoecimento que envolve as coletividades e pode, dessa forma, contribuir
para manter a população cada vez mais saudável.

6
AUTOR

CAROLINA PIMENTEL MACHADO

Enfermeira graduada pela Universidade Veiga de Almeida – UVA. Especializada em


Enfermagem do Trabalho pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Mes-
tre em Bioética, Ética Aplicada e Saúde Coletiva pela Universidade Federal Fluminense
– UFF, Niterói (Tema: Saúde do Homem).Cursando Doutorado em Bioética, Ética Apli-
cada e Saúde Coletiva na UFF. Professora da UVA: Internato 9º período e na disciplina
Epidemiologia e Bioestatística.

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UNIDADE 1

Introdução ao estudo
da Estatística
INTRODUÇÃO

Nesta unidade você irá aprender os principais conceitos e aplicações básicas da estatís-
tica, conceituar população e amostra em estudos estatísticos para que torne-se possível
utilizá-la como ferramenta em pesquisas da área de saúde coletiva. Com esse conheci-
mento você compreenderá melhor o ambiente ao seu redor e poderá fazer melhorias em
seu processo de trabalho.

OBJETIVO

Nesta unidade você será capaz de:

• Conceituar os principais termos da estatística.

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Conceitos e aplicações básicas da Estatística

A Estatística Básica é uma ferramenta que pode ser utilizada para responder a uma de-
terminada questão. Por meio da estatística, é possível realizar coleta de dados, analisar
minuciosamente as informações e, a partir dos resultados obtidos, localizar soluções ou
respostas para um problema.

Para que fique mais claro, começaremos por um exemplo prático da rotina de um profis-
sional da saúde em uma clínica urológica.

Suponha que houve uma “reclamação” sobre o atendimento na clínica onde você tra-
balha e você foi escolhido para fazer um levantamento do grau de satisfação dos seus
pacientes sobre o atendimento da clínica. A partir dessa informação, o levantamento de
dados será feito para analisar se o problema foi um atendimento específico ou se exis-
te insatisfação de muitos pacientes. Então, para isso, você dará a alguns pacientes um
questionário para posteriormente analisar e entender o cenário real dos atendimentos
prestados. Após a coleta de dados e análise dos questionários, você conseguirá chegar
a conclusões que ajudarão na melhoria da gestão da clínica urológica, com um conse-
quente aumento do grau de satisfação dos pacientes.

Esse exemplo veio clarear um pouco a aplicabilidade da estatística.

Alguns alunos da área de saúde não se sentem confortáveis com os núme-


ros, e acredito que uma das razões pode ser porque, na maioria das vezes, a
aptidão no colégio dá-se pela disciplina de biologia, criando-se dessa forma
um tabu em torno dos números. Vamos tentar, com esta disciplina, mudar
esse paradigma.

É importante um olhar com mais curiosidade sobre os assuntos aqui traba-


lhados e por isso sugerimos: permita-se entrar nesse mundo dos cálculos e
compreender os conceitos básicos da estatística. Assim, conseguirá perce-
ber a importância dessa ciência para a saúde da coletividade, bem como de
que forma aplicá-la.

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Conceitos

Por que estudar estatística?

A estatística inicialmente referia-se à coleção de informações de interesse para o Estado


sobre a população e a economia. Nesse contexto a estatística possibilitou o conheci-
mento de uma população específica, quantificando alguns dados, como riqueza, tributos,
moradias etc.

Pode-se dizer que a estatística é uma ciência exata, sendo a parte da matemática aplica-
da que fornece métodos para realizar: coleta, organização, descrição, análise e inter-
pretação de dados para utilização na tomada de decisões. É um método científico utili-
zado para avaliar o grau de importância da informação, que constantemente buscamos
nos mais diferentes meios (VIEIRA, 2016, p. 95.)

Trata-se de um conhecimento essencial, porque em alguma fase do trabalho de um pes-


quisador ou profissional da área de saúde será preciso analisar e compreender causas
de mortes ou eficácia de uma medicação, ou seja, analisar um conjunto de dados.

Para aplicar a estatística é necessário aprender alguns conceitos, como:

População: é o conjunto do universo que iremos estudar (VIEIRA, 2016, p. 91).

Exemplo

Os alunos recém-formados da graduação de Enfermagem das faculdades par-


ticulares do Rio de Janeiro.

Amostra: é todo subconjunto de unidades retirado da população para obter-se a informa-


ção desejada (VIEIRA, 2016, p. 91).

11
Exemplo

População

Amostra

Amostragem: é a técnica especial de escolher amostras que garantam o acaso na esco-


lha. Assim, cada elemento da população tem a mesma chance de ser escolhido, o que pro-
porciona à amostra um caráter de representatividade da população (VIEIRA, 2016, p. 92).

Variável: é uma condição ou característica das unidades da população (VIEIRA, 2016, p. 1).

Dados estatísticos: é toda informação coletada e registrada a que se refere uma variável
(VIEIRA, 2016, p. 1).

Exemplo

Uma enfermeira trabalha em uma enfermaria de clínica urológica (médica e


cirúrgica) e quer saber a opinião dos pacientes sobre a qualidade do atendi-
mento. A variável de interesse, nesse caso, é a opinião dos pacientes. Os dados
serão obtidos quando a enfermeira realizar a pesquisa, se for solicitado que os
pacientes deem notas de 1 a 5, os dados obtidos poderão ser, por exemplo,
4, 5, 4, 3...

12
Vamos aproveitar este mesmo exemplo para ilustrar os conceitos vistos:

Qual seria a população?

Os pacientes que utilizam os serviços da clínica urológica.

Poderíamos chamar TODOS os pacientes que já foram atendidos na clínica


para a realização da pesquisa?

Seriam muitos, não seria viável. Então, pegaremos uma AMOSTRA da população.
Para escolher essa amostra, utilizaremos uma TÉCNICA DE AMOSTRAGEM,
amostragem aleatória.

Os pacientes que quiserem responder ao questionário e que estiverem pre-


sentes na clínica urológica durante duas semanas predefinidas, participarão
da pesquisa.

Censo: chama-se de censo o levantamento de dados de toda a população (IBGE – Instituto


Brasileiro de Geografia e Estatística).

Como exemplo, podemos citar o censo demográfico, que tem por objetivo obter o número
da população do território nacional, verificar suas características etc.

Parâmetros: é um valor em geral desconhecido, que representa determinada característi-


ca da população. Em dada população, em um dado momento, o parâmetro não varia, ou
seja, é um valor fixo (VIEIRA, 2016 apud STATISTICS GLOSSARY, p. 91).

Exemplo

Idade dos formandos de enfermagem das universidades particulares do Rio de


Janeiro. “Idade dos formandos” é um parâmetro.

Estatística Descritiva: está interessada na medida das características dos elementos de


toda a população, como o próprio nome diz: descreve (SILVESTRE, 2007, p. 4).

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A Estatística Descritiva visa descrever os dados. Daremos um exemplo bem simples do
nosso dia a dia: imagine que você quer comprar um carro, você tem um objetivo e a partir
desse objetivo fará uma pesquisa de mercado para escolher o melhor preço, as especi-
ficações, a marca... Toda essa pesquisa se dá por meio do uso da estatística. A parte da
coleta de dados, descrição dos dados e organização é a parte que refere-se à Estatística
Descritiva, já a análise e a interpretação dos dados fica a cargo da Estatística Inferencial,
que veremos a seguir.

Estatística Inferencial:

[...] o aspecto essencial da Estatística é o de proporcionar métodos infe-


renciais, que permitam conclusões que transcendam os dados obtidos
inicialmente. Assim, a análise e a interpretação dos dados estatísticos
tornam possível o diagnóstico de uma empresa (por exemplo, de uma
escola), o conhecimento de seus problemas (condições de funciona-
mento, produtividade), a formulação de soluções apropriadas e um pla-
nejamento objetivo de ação. (CRESPO, 2009)

Ampliando o foco

Como vimos, o objetivo último da estatística é tirar conclusões sobre o todo


(população) a partir de informações fornecidas por parte representativa do todo
(amostra). Assim, realizadas as fases anteriores (Estatística Descritiva), faze-
mos uma análise dos resultados obtidos a partir dos métodos da Estatística
Indutiva ou Inferencial, que tem por base a indução ou inferência, e tiramos
desses resultados conclusões e previsões (CRESPO, 2009).

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População e amostra em estudos estatísticos

Como vimos, a amostra é um subconjunto da população.

Como, porém, podemos definir a nossa amostra?

Qual o melhor método a ser utilizado?

Estas perguntas podem ser respondidas por meio dos métodos de amostragem, que
veremos a seguir.

Métodos de amostragem

Antes de obter-se uma amostra, é preciso definir quais serão os critérios para selecionar
as unidades que a comporão. De acordo com o critério, tem-se o tipo de amostra, con-
forme o diagrama a seguir.

AMOSTRA

ROBABILÍSTICA SEMIPROBABILÍSTICA NÃO PROBABILÍSTICA

A amostra probabilística

A amostra probabilística é constituída por unidades retiradas da população por procedi-


mento casual ou aleatório.

Amostragem casual ou aleatória simples

Como usar esse tipo de amostra?

Pode-se numerar alunos da disciplina de epidemiologia de 1 a 100 e posteriormente rea-


lizar o sorteio de “x” números dessa sequência, que serão os elementos da amostra.

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Exemplo:

Utiliza-se a tabela de números aleatórios

1. Numeram-se os alunos de 1 a 100.

2. Sorteiam-se 10 números (10% de 100) usando algum mecanismo aleatório ou, nesse
caso, será a partir de uma tabela de Números Aleatórios, conforme a tabela a seguir:

Tabela de números aleatórios:

6 5 0 2 1 2 6 5 7 6 5 1 4 3 7 5 2 7 7 0 5 7 3 0 1
5 6 5 3 0 9 1 9 0 9 7 9 6 4 5 8 7 0 5 1 3 3 7 8 7
5 0 6 8 3 4 3 0 2 4 3 9 6 8 8 8 7 7 5 8 1 1 8 8 0
9 5 3 2 7 4 8 1 4 1 5 3 5 1 8 5 6 0 2 4 0 1 1 6 1
1 4 3 5 3 0 1 9 6 6 2 7 7 7 4 5 3 8 4 6 3 9 8 3 9
5 6 6 0 9 3 3 0 4 0 4 5 0 9 0 1 8 5 5 3 9 5 6 8 5
5 7 1 1 5 6 5 6 8 5 9 4 0 9 0 8 0 7 4 9 7 5 8 4 4
3 4 9 1 0 9 2 6 6 0 0 2 8 9 5 5 6 0 4 2 9 4 7 5 6
8 9 3 9 9 7 2 1 2 3 4 6 8 1 5 4 2 8 2 3 0 5 4 0 7
6 0 9 9 2 1 9 1 7 4 0 2 2 0 2 8 6 6 0 9 9 4 1 1 9
7 1 5 5 8 1 5 5 6 5 6 3 3 4 8 2 2 3 7 5 4 9 7 4 9
2 7 8 8 2 2 8 4 1 0 1 9 1 7 2 6 5 0 7 3 9 8 5 9 9
4 7 9 6 2 5 1 8 8 3 9 8 8 1 6 3 0 5 8 6 1 0 7 7 9
5 5 7 8 4 6 5 6 8 6 3 2 0 0 1 5 6 5 2 8 9 2 1 5 6
1 6 4 8 1 8 3 0 3 1 2 3 8 0 1 5 8 7 6 0 8 6 0 7 9
8 3 9 1 7 2 3 1 0 4 4 6 4 3 4 4 1 0 7 9 1 3 8 1 5
2 3 0 6 6 1 4 1 3 3 9 8 3 1 3 7 2 3 3 7 8 9 5 1 1
3 1 2 1 9 6 4 5 0 7 8 7 3 0 7 9 1 3 7 4 4 5 2 3 6
8 5 4 5 9 3 2 8 9 8 4 4 9 4 7 5 4 9 4 4 7 5 2 5 9
5 2 3 8 4 1 2 6 3 9 5 9 8 5 4 2 7 1 0 1 6 3 7 9 1
1 9 4 8 0 4 3 8 3 4 8 8 6 4 7 7 7 2 1 7 7 9 3 3 2
7 2 5 4 0 2 9 6 6 1 3 5 7 1 3 0 8 2 1 5 9 7 8 4 8
3 1 0 1 4 6 2 3 6 2 7 7 5 8 6 1 9 9 5 1 4 4 1 4 0
5 4 0 2 5 2 2 8 6 7 0 8 7 9 2 9 5 2 1 6 2 2 0 9 6
3 2 1 7 6 8 3 3 1 0 0 7 3 7 1 7 2 3 5 0 0 3 5 7 5
7 3 5 1 1 5 5 3 5 3 6 7 7 3 7 7 9 4 8 6 5 4 5 5 9

Então, de forma aleatória, escolhemos a segunda linha da tabela.

Como iremos escolher 10% da amostra, o que, nesse caso, são 10 alunos, obtivemos os
seguintes números:

(56, 53, 9, 19, 9, 79, 64, 58, 70, 51).

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Como o número 9 (nove) está repetido nesta sequência, eliminamos o 9 (nove) em dupli-
cidade e escolhemos mais um número para supri-la. Mantendo a sequência, teremos o
número 33 (trinta e três).

Então, a nossa amostra seria:

(56, 53, 19, 9, 79, 64, 58, 70, 51, 33).

Os alunos numerados de acordo com a lista anterior são escolhidos e tomados os valo-
res dos seus pesos, obtendo assim uma amostra da população de 100 alunos.

Amostragem aleatória estratificada

Quando a população divide-se em subpopulações (grupos distintos de pessoas) ou es-


tratos, é necessário utilizar uma amostragem proporcional estratificada, que considere
esses estratos ou subgrupos para obter a amostragem aleatória e proporcional a estes
(VIEIRA, 2016, p. 93).

Exemplo:

Suponha que, no exemplo anterior, dos 100 alunos, 64 sejam homens e 36 sejam mulhe-
res. Neste caso poderemos obter a amostra estratificada e assim realizar a análise por
estratos (homem e mulher).

• Serão dois estratos (sexo masculino e sexo feminino) e queremos uma amostra
de 10% da população.

1. Definimos a tabela em estratos:

Sexo População 10% Amostra

M 64 6,4 6

F 36 3,6 4

Total 100 10% 10

2. Numeram-se os alunos de 1 a 100, sendo que de 1 a 64 são homens e de 65 a 100,


mulheres. Ainda utilizando a tabela aleatória, tomando a sexta e a sétima coluna (escolha
aleatória) da tabela de números aleatórios, de baixo para cima, temos esses números:

17
58, 26, 24, 13, 61, 28, 65, 21,17, 96, 30, 44, 92, 53, 93, 22, 44, 33...

Posteriormente escolhemos, dentro desse conjunto de números, os números elegíveis.

Observe que a sequência corrida da tabela aleatória, na sexta coluna, de baixo


para cima, seria:

58, 26, 24, 13, 61, 28, 65, 21, 17, 96, 30, 44, 92

Porém, como em nossa amostra é preciso ter 6 indivíduos de sexo masculino


e 4 do sexo feminino, não podemos utilizar os números 21, 17,30, 44. Por isso,
passamos para a próxima coluna, a sétima, onde encontramos a sequência
inicial “53, 22, 93”, da qual pularemos até encontrar o próximo número que
corresponda à população feminina, que, neste caso, é o 93

Nossa amostra então será:

Homens: 58, 26, 24, 13, 61, 28


Mulheres: 65, 96, 92, 93.

Amostra semiprobabilística

Quando usa-se um procedimento parcialmente aleatório para retirar da população uma


amostra, estamos usando uma amostra semiprobabilística.

A amostra semiprobabilística divide-se em três tipos, conforme o gráfico a seguir:

AMOSTRA
SEMIPROBABILÍSTICA

Amostra Amostra
por por
conglomerados Amostra quotas
sistemática

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Amostra sistemática

A amostra sistemática é constituída por unidades retiradas da população seguindo um


sistema preestabelecido (VIEIRA, 2016, p. 94).

A amostra é sistemática quando alguma forma aleatória de seleção é incorporada no


processo de amostragem.

Esta técnica de amostragem em populações que possuem os


elementos ordenados, em que não há a necessidade de cons-
truir um sistema de referência. Nesta técnica, a seleção dos
elementos que comporão a amostra pode ser feita por um sis-
tema criado pelo pesquisador. (BARBETTA, 2002)

Algumas vantagens em usar esse tipo de amostra é porque ela obtém boas proprie-
dades de representatividade, similares à amostragem aleatória, porém de forma mais
rápida e simples.

Exemplos: de 5 (cinco) em 5 (cinco) prontuários; a cada 10 (dez) prédios.

No exemplo a seguir foi decidido que de 3 em 3 seria retirada a amostra. No momento


em que escolhe-se aleatoriamente que a amostra será escolhida de 3 em 3 ela torna-se
sistemática e essa escolha define o tipo de amostra.

População

1 2 3 4 5
Procedimento

6 7 8 9 10

Amostra
3 6 9 Sistemática

19
Amostra por conglomerados

Utiliza-se a amostra por conglomerados quando é pertinente comparar dois ou mais deles.

Porém, para que esta explicação torne-se mais clara, vamos entender o que são
conglomerados.

Conglomerados são grupos de unidades que já existem na população por alguma razão
(VIEIRA, 2016, p. 95).

Exemplos de conglomerados: orfanato é um conglomerado de órfãos ou crianças aban-


donadas, asilo é um conglomerado de idosos, hospital é um conglomerado de pacientes.

Amostra por quotas

Exemplo

Exemplo de amostra por conglomerado:


Um médico quer estudar o efeito de um tratamento sobre a melhora de pa-
cientes. Para obter uma amostra por conglomerados, o médico sorteou dois
hospitais com as mesmas características, e avaliou a melhora dos pacientes
nos dois locais (conglomerados).

Na amostragem por quotas as pessoas são selecionadas para a amostra porque têm
uma característica bem específica. A ideia de quota é semelhante à de estrato, com uma
diferença básica: a amostra estratificada é selecionada ao acaso da população, enquan-
to a amostra por quotas não é aleatória (VIEIRA, 2016, p. 95).

Essa amostra possibilita, por exemplo, que façamos análises entre 2 (dois) subgrupos,
mas, como dito anteriormente, esses dois subgrupos não são aleatórios.

20
Exemplo

Segue um exemplo para que você possa compreender melhor esse conceito:

Uma empresa lança um jogo, para jovens de 12 a 16 anos, com tecnolo-


gia altamente inovadora e quer avaliar qual será a faixa etária que mais irá
adaptar-se a essa tecnologia. Resolve, então, selecionar alguns desses jo-
vens (amostra) e decide que o método de amostragem a ser utilizado será
amostra por quotas porque o pesquisador deseja comparar uma determina-
da idade a outra (e é exatamente isso que a amostra por quotas possibilita).
Para isso, ele divide o grupo em subgrupos, por idade:

Grupo 1: Idade de 12 a 14 anos.


Grupo 2: Idade de 14 a 16 anos.

Obtendo os resultados, faz a comparação entre os dois subgrupos com ca-


racterística bem específica.

Amostra Não Probabilística ou de Conveniência

A amostra não probabilística ou de conveniência é constituída por unidades reuni-


das em uma amostra simplesmente porque o pesquisador tem fácil acesso a elas
(VIEIRA, 2016, p. 97).

Quando, por exemplo, você, como profissional da saúde, decide pesquisar um evento que
ocorre no seu próprio campo de trabalho, por qual motivo faria essa pesquisa?

São inúmeras possibilidades. Entre elas: para melhorar o processo de trabalho ou a ges-
tão, aperfeiçoar o atendimento aos pacientes, economizar com as compras de determi-
nados itens etc.

Por que escolher esse tipo de amostra?

Porque a amostra por conveniência é uma amostra simples, fácil de ser aplicada
e econômica.

21
Exemplo

1. Você, como profissional de saúde, decide fazer uma pesquisa para avaliar
a satisfação da assistência prestada aos pacientes da clínica onde trabalha.
Então, escolhe aleatoriamente alguns usuários para responder à pesquisa. Nes-
se momento, está usando uma amostra de conveniência. Por quê? Você está
pesquisando os pacientes que estão próximos a você, usando pouco recurso
financeiro e de forma simples.

2. Uma nutricionista que quer estudar os hábitos alimentares de crianças de 4-6


anos, e trabalha em uma escola onde as crianças são dessa idade, pode pro-
curar as mães das crianças ali matriculadas para obter a amostra que precisa
para realizar suas entrevistas, no próprio local de trabalho.

Ampliando o foco

As amostras aleatórias exigem que o pesquisador tenha a lis-


tagem com todas as unidades da população, porque, dessa
listagem, serão sorteadas as unidades que comporão a amos-
tra. Essa exigência inviabiliza a tomada de amostras aleatórias
em grande parte dos casos. Por exemplo, não é possível obter
uma amostra aleatória de cariocas simplesmente porque não
temos uma lista com o nome de todos os cariocas. A amostra
sistemática não exige que a população seja conhecida, mas é
preciso que esteja organizada em filas, em arquivos, ou mesmo
em ruas, como os domicílios de uma cidade. A amostra por con-
glomerados exige livre acesso aos conglomerados, o que nem
sempre se consegue. Um médico pode sortear cinco hospitais
da cidade de São Paulo para entrevistar pacientes internados
por problemas cardíacos, mas dificilmente conseguirá permis-
são da diretoria de todos esses cinco hospitais para fazer sua
pesquisa. A amostra por quotas exige algum conhecimento da
população, mas as unidades não precisam estar numeradas ou
identificadas. Se você quiser uma amostra de homens e de mu-
lheres empregados de uma grande empresa, basta saber, por
exemplo, a proporção de homens e mulheres na empresa, e
amostrar na mesma proporção. (VIEIRA, 2016, p. 97-98).

22
Estudos estatísticos e inferenciais

Quando a estatística é usada para resumir os dados é chamada de estatística descritiva:


quando para extrapolar, analisar e projetar sobre a população o que foi obtido com o
estudo das amostras, é chamada de estatística inferencial. Usando as duas, podemos
extrair o máximo possível de informações dos dados que registramos em nossas pes-
quisas (RODRIGUES, 2014).

A coleta, a organização e a descrição dos dados estão a cargo da Estatística Descritiva,


enquanto a análise e a interpretação desses dados ficam a cargo da Estatística Indutiva
ou Inferencial (CRESPO, 2009)

Para que seja realizado um estudo estatístico é necessário seguir algumas etapas:

Coleta direta Coleta indireta de


Planejamento
de dados dados

2ª 3ª

Apuração Exposição
Crítica dos dados
dos dados dos dados

5ª 6ª

Análise

1ª - Etapa de planejamento

Neste ponto são definidos os objetivos, métodos a serem adotados e a definição do pro-
blema.

É importante que a primeira etapa seja construída com muita atenção, pois ela dará o
direcionamento a todo o estudo científico estatístico.

23
A primeira definição será escolher o objetivo, ou seja, a resposta que você quer obter com
a sua pesquisa e, logo após definir o método da pesquisa, o caminho pelo qual você irá
percorrer para encontrar o seu objetivo.

Exemplo

Em uma pesquisa realizada com o título: “O que é urgente e necessário para


subsidiar as políticas de enfrentamento da pandemia de Covid-19 no Brasil?”

Tem-se como objetivo: “Embasar a tomada de decisão de agentes públicos en-


volvidos no controle da epidemia.”

Ampliando o foco

Método da pesquisa

Exemplos de métodos: pesquisa qualitativa, quantitativa, quali-quanti, descriti-


va, exploratória, explicativa, pesquisa bibliográfica e pesquisa de campo.

Como você vai definir o seu método?

Escolhendo todas as etapas com muita criticidade, porque o método é justa-


mente a forma como você vai desenvolver sua pesquisa. Quanto mais detalha-
do for o seu método, mais valor científico ele terá.

Você poderá desenvolver sua pesquisa realizando questionários com pergun-


tas abertas ou alternativas, pode realizar uma entrevista gravada e depois trans-
crevê-la, pode analisar documentos, entre outros.

2ª – Coleta direta

São dados obtidos a partir de elementos informativos de registro obrigatório (ex: re-
gistro de natalidade, mortalidade) ou da coleta do próprio pesquisador. Ou seja, a coleta
pode ser considerada direta quando é feita pelo próprio pesquisador, seja por meio de
questionários, censo demográfico, entre outros meios.

24
A coleta direta pode ser (CRESPO, 2009):

a) Contínua: é a coleta de dados feita de forma contínua. Exemplo: acompanhamento


do número de natalidade ocorrido no Brasil no ano de 2020.

b) Periódica: é a coleta de dados realizada com intervalos de tempos. Exemplo: os


censos do IBGE, que são realizados de forma periódica, de 10 em 10 anos.

c) Ocasional: pesquisa realizada em um determinado momento, como pesquisa so-


bre a mortalidade de uma população específica. Exemplo: quantas pessoas morreram
por Covid-19 no Rio de janeiro nos meses de março a julho de 2020.

3ª. Coleta indireta

A coleta indireta é a coleta de dados que utiliza dados já registrados. Por exemplo, quan-
do você usa dados do prontuário dos pacientes, dos sistemas de informação.

Exemplo

Uso dos resultados de uma pesquisa sobre mortalidade materna, que é feita
a partir das informações obtidas pela coleta direta de dados de nascimentos
e óbitos.

4ª. Crítica dos dados

Os dados obtidos devem ser criticados à procura de falhas sistemáticas no planejamen-


to, aquisição e armazenamento dos dados (CRESPO, 2009).

Essa é uma etapa na qual iremos confrontar os dados para achar possíveis falhas no
processo. É o momento de revisar, verificar se foi tudo feito de forma correta.

5ª. Apuração dos dados

Nada mais é do que a soma e o processamento dos dados obtidos e a disposição me-
diante critérios de classificação (CRESPO, 2009).

25
Após ter criticado os dados, é chegada a hora de somar, criar categorias, condensar e
tabular para posteriormente expô-los.

6ª. Exposição dos dados

Essa etapa consiste em apresentar os dados obtidos em sua pesquisa de maneira clara
para a melhor compreensão das pessoas que irão ler os dados. É o momento de criar
tabelas, gráficos, categorias.

7ª. Análise

Consiste em tirar conclusões sobre os dados levantados e processados, inferindo con-


clusões sobre o todo (população) a partir de dados coletados de uma parte representa-
tiva da população (amostra) (ARNOT, 2009).

É importante a representatividade da amostra em relação à população total, isto é, que as


suas características de uma parte (amostra) sejam em geral as mesmas que as do todo
(população). (ARNOT, 2009)

Quando fala-se de representatividade da amostra, é para que a amostra, de


fato, represente a população. Assim, a pesquisa realmente poderá ser utiliza-
da para a melhoria da gestão ou da saúde da população.

Estudos estatísticos buscam por veracidade em seus resultados, que somen-


te será atingida se todas as etapas do desenvolvimento de um método cientí-
fico forem respeitadas.

26
MIDIATECA

Para ampliar seu conhecimento veja o material complementar da Unidade 1,


disponível na midiateca.

NA PRÁTICA

Trouxemos um exemplo prático retirado do IBGE para exemplificar a aplicabili-


dade da estatística e sua importância.

“Objetivo:
O Censo Demográfico tem por objetivo contar os habitantes do território nacional,
identificar suas características e revelar como vivem os brasileiros, produzindo
informações imprescindíveis para a definição de políticas públicas e a tomada de
decisões de investimentos da iniciativa privada ou de qualquer nível de governo.
E também constituem a única fonte de referência sobre a situação de vida da
população nos municípios e em seus recortes internos, como distritos, bairros
e localidades, rurais ou urbanas, cujas realidades dependem de seus resultados
para serem conhecidas e terem seus dados atualizados.

População Alvo:
Toda a população residente no país.

Abrangência Geográfica:
Todo o Território Nacional.

Metodologia:
A coleta do Censo Demográfico é realizada por meio de entrevista presen-
cial, aplicando-se o questionário a todas as pessoas residentes em todo o
território nacional.

Os quesitos no questionário do Censo Demográfico de 1940 foram combinados


entre si de maneira a fornecer o máximo de informações úteis. Entre as inúmeras

27
combinações possíveis selecionaram-se aquelas que mais interessavam aos
fins do recenseamento, no âmbito nacional, e às exigências de comparabilidade
dos resultados no campo internacional. Já o questionário do Censo Demográfico
de 1950 sofreu considerável redução comparando com o de 1940. O número de
quesitos reduziu-se de 45 para 25.

A partir do Censo de 1960 foi adotado um modelo de técnica de amostragem


probabilística que vem se mantendo para os demais censos, em que utilizaram-
-se dois modelos de questionários: amostra e básico (não amostra).

O esquema de amostragem utilizado nos Censos Demográficos brasileiros é


uma amostra estratificada, considerando como estrato o setor censitário. A se-
leção de domicílios é feita de forma sistemática, independente em cada setor e
com equiprobabilidade.

Nos Censos de 1960, 1970 e 1980 o questionário da amostra foi aplicado em


25% dos domicílios particulares e pessoas nele residentes e 25% das famílias ou
pessoas sós residentes em domicílios coletivos.

Para os Censos de 1991 e 2000, após estudos realizados por especialistas em


amostragem, foram adotadas frações amostrais diferenciadas, de acordo com o
tamanho da população do município. Assim, os municípios com até 15.000 habi-
tantes tiveram 20% de seus domicílios investigados pelo questionário da amostra
e, nos municípios com mais de 15.000 habitantes, a fração amostral foi de 10%.

Diferentemente de censos anteriores, a amostra do Censo 2010 teve cinco fra-


ções diferentes usadas de acordo com o total da população do município. Nos
municípios com até 2.500 habitantes, a fração amostral foi de 50%, ou seja, em
metade do total de domicílios foi aplicado o questionário da amostra. Os que
têm mais de 2.500 até 8.000 habitantes tiveram a fração amostral de 33%. Nos
municípios com mais de 8.000 até 20.000 habitantes, a fração foi de 20%. Já
nos que têm mais de 20.000 até 500 mil habitantes, a fração foi de 10%. E, por
fim, nos municípios com população maior do que 500 mil, a fração foi de 5%. A
definição de mais de duas frações amostrais só se deu em função da facilidade
operacional, de aplicação e de controle, permitida com o uso dos computadores
de mão na operação de coleta de dados.

A seleção dos domicílios para a amostra, o que significava definir qual tipo de ques-
tionário seria aplicado em um determinado domicílio, foi feita automaticamente

28
no computador de mão (PDA). Os domicílios, cadastrados no PDA, fizeram parte
de uma lista da qual a amostra foi selecionada. A seleção é aleatória, indepen-
dente em cada setor censitário, de acordo com a fração amostral definida para o
município, e de forma que seja espalhada geograficamente por toda a extensão
do setor censitário.

Principais Variáveis:
Situação Urbana e Rural;
Características do Domicílio;
Emigração internacional, Sexo, Idade, Cor ou Raça, Etnia ou Povo a que pertence
e Língua falada só para indígenas, Religião ou Culto, Registro de Nascimento,
Deficiência Física ou Mental, Migração interna e Imigração internacional, Educa-
ção, Deslocamento para estudo, Nupcialidade, Características do Trabalho e do
Rendimento, Deslocamento para trabalho, Fecundidade e Mortalidade.”

Fonte do texto:
https://ces.ibge.gov.br/apresentacao/portarias/200-comite-de-estatisticas-so-
ciais/base-de-dados/1146-censo-demografico.html#:~:text=O%20Censo%20De-
mogr%C3%A1fico%20tem%20por,ou%20de%20qualquer%20n%C3%ADvel%20de

29
Resumo da Unidade 1

Nesta unidade conseguimos aprender os principais conceitos da estatística básica como


população, amostra, amostragem e tipos de amostragem. Além disso, também aborda-
mos as etapas do processo de um método estatístico, compreendendo a diferença entre
estatística descritiva e estatística inferencial.

30
Referências

BARRETO, M. L. et al. O que é urgente e necessário para subsidiar as políticas de en-


frentamento da pandemia de COVID-19 no Brasil? Revista Brasileira de Epidemiologia
[on-line]. v. 23. Disponível em: https://doi.org/10.1590/1980-549720200032. Acesso em:
24 jul. 2020. ISSN 1980-5497. https://doi.org/10.1590/1980-549720200032.

CRESPO, A. A. Estatística fácil. 19. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2009. 218 p. ISBN
9788502081062.

RODRIGUES, M. A. S. Bioestatística. São Paulo: Pearson, 2014. Biblioteca Virtual.

VIEIRA, S. Introdução à Bioestatística. 5. ed. São Paulo: Campus-Elsevier, 2016. ISBN


9788535277166.

SILVESTRE, A. L. Análise de Dados e Estatística Descritiva. Forte da Casa, Portugal:


Escolar, 2007. 352p. ISBN 9725922085, 9789725922088.

31
UNIDADE 2

Organização dos dados


INTRODUÇÃO

Nesta unidade conheceremos mais sobre variáveis estatísticas, leitura de dados, tabelas
e gráficos. Além disso, aprenderemos a calcular medidas de tendência central e como
transformar uma tabela de números observados em uma tabela de frequência. Este con-
teúdo é de grande relevância, tendo em vista a importância de saber organizar os dados
para que possamos apresentá-los com mais clareza e objetividade.

OBJETIVO

Após esta unidade você será capaz de:

• Organizar dados coletados em estudos bioestatísticos.

33
Dados e variáveis

Vamos relembrar a definição de variável?

De acordo com Vieira (2016, p.1), variável é uma condição ou característica das unidades
da população.

Mas, só existe um tipo de variável?


Quais são os tipos de variáveis existentes?

As variáveis são classificadas conforme mostra o organograma a seguir:

Tipos de variáveis.

Nominal

Qualitativa

Ordinal

Variável

Discreta

Quantitativa

Contínua

34
Variável qualitativa

Uma variável é considerada qualitativa quando ela assume uma categoria que automati-
camente exclui outra.

Exemplos

1 - Local de nascimento: São Paulo (não pode ter nascido em outro local).

2 - Sexo: feminino (exclui o masculino).

As variáveis qualitativas podem ser divididas em nominais e ordinais.

Nominais

A variável é nominal quando os dados são distribuídos em categorias mutuamente


exclusivas, nomeadas em qualquer ordem.

São variáveis nominais: cor de cabelos (loiro, castanho, preto, ruivo), tipo de sangue
(O, A, B, AB), não ter ou ter determinada doença.

Ordinais

Já a variável é ordinal quando os dados são distribuídos em categorias mutuamente


exclusivas que têm ordem natural. São variáveis ordinais: classe social (A, B, C, D, E),
gravidade de uma doença (leve, moderada, severa) etc. (VIEIRA, 2016, p. 2)

Ampliando o foco

O termo “mutuamente exclusivos” quer dizer que se um ocorre, o outro não


pode ocorrer. Pense no jogo de uma moeda: quando se joga uma moeda, não
há como ocorrer cara e coroa ao mesmo tempo (VIEIRA, p. 180).

35
Variáveis quantitativas

As variáveis quantitativas podem ser divididas em: discretas e contínuas.

Discretas

A variável discreta só pode assumir alguns valores em dado intervalo. Os valores


representam um conjunto finito ou enumerável de números, que resultam de uma
contagem: número de filhos (nenhum, 1, 2, 3, 4, 5 ou mais), quantidade de visitas ao
médico no último ano (zero, 1, 2, 3, 4 ou mais), número de pessoas na fila de espera de
um serviço de saúde (VIEIRA, 2016, p. 2) Outros exemplos: número de copos de água
tomados por dia, número de pessoas por amostra.

Contínuas

A variável contínua assume qualquer valor em dado intervalo. São variáveis contínuas:
peso, temperatura corporal, pressão sanguínea (VIEIRA, 2016, p. 2). Outros exemplos:
altura (régua), tempo (relógio).

Dados estatísticos

Sobre dados estatísticos, vamos relembrar sua definição?

De acordo com Vieira (2016, p.1), dado estatístico é toda informação coletada e registra-
da a que se refere uma variável.

Importante

De acordo com as definições formais, dados são observações coletadas (por


exemplo, medidas, sexo) e Estatística é um conjunto de métodos para o planeja-
mento de estudos, pesquisas, experimentos, obtenção de dados e consequente
organização, resumo, apresentação, análise, interpretação e elaboração de con-
clusões baseadas nos dados (TRIOLA, 2008).

36
Ampliando o foco

Grandes instituições e empresas — como IBGE ou Banco do Brasil — utilizam


computadores na coleta de dados. São construídas as chamadas bases de da-
dos, que armazenam dados de maneira a facilitar a busca de informações. O
registro de dados é feito de forma mais organizada. As bases de dados podem
ser manuseadas por meio de planilhas eletrônicas, o que traz maior eficiência
às pesquisas (VIEIRA, 2016, p. 3) Quando não tínhamos computadores fazía-
mos a coleta e o armazenamento de dados de forma manual. Imaginem só
quanto trabalho e o grande risco de os dados não terem representatividade.

37
Tabelas e gráficos

As tabelas e gráficos nos auxiliam a sintetizar dados, organizar e tornar sua apresenta-
ção mais clara para que possamos, em um breve momento, obter sua leitura simplifi-
cada. Imaginem como seria trazer todos os dados coletados se não conseguíssemos
organizá-los em tabelas e gráficos.

Então, vamos à construção de tabelas e gráficos?

Em um primeiro momento será descrita uma situação para que, posteriormente, possa-
mos construir nossa tabela. Para isso, começaremos a definir algumas etapas:

Cenário: uma Unidade Básica de Saúde (UBS) no Rio de Janeiro.


População do estudo: pacientes atendidos em um programa para controle de tabagismo.
Período: ano de 2020.

A partir desses dados iremos calcular a porcentagem de pacientes de cada sexo.


Para calcular esses dados o pesquisador principal avaliou 70 prontuários, obtendo os
seguintes dados:

Masculino: 52 pacientes.

Feminino: 18 pacientes.

A seguir, montamos uma tabela para representar os dados coletados.

É importante aproveitar esse primeiro momento e anotar alguns itens essenciais de uma
tabela, representados a seguir:

38
O título explica TÍTULO:
o tipo de dados
que a tabela Pacientes de cada sexo atendidos
contém. em um programa de controle de
Deve-se colocá-lo tabagismo no ano de 2020, durante
acima dos dados. a pandemia.

O cabeçalho
especifica
Sexo Nº de pacientes
o conteúdo
de cada coluna.

Masculino 52 O indicador
de linha
descreve
o conteúdo
Feminino 18
de uma linha.
Exemplo:
masculino,
A fonte identifica Total: 70 feminino.
o responsável
pelos dados
(pessoa física
ou jurídica). Fonte: Elaborada pela autora (2020).

Agora que estamos familiarizados com os itens de uma tabela, vamos aprofundar
nosso conhecimento.

Seguindo com este mesmo exemplo, vamos supor que o pesquisador principal decidiu
continuar a pesquisa para saber qual foi a faixa etária que mais procurou esse progra-
ma. Para isso, ele anotou a idade de cada paciente em uma tabela de apresentação
de dados contínuos e, posteriormente, transformou-a em uma tabela de distribuição
de frequências.

39
Apresentação de dados contínuos:

IDADE DOS PACIENTES ATENDIDOS EM UM PROGRAMA


DE CONTROLE DO TABAGISMO NO ANO DE 2020

25 32 21 41 68 34 67

27 37 36 24 27 34 66

31 28 32 26 27 20 54

22 29 33 24 42 38 46

33 29 29 60 52 53 60

30 24 25 48 44 29 53

37 38 36 31 29 38 21

28 25 25 34 29 21 35

31 35 23 32 27 31 38

53 55 29 37 38 26 56

OK! Temos todos os dados apresentados em uma tabela. A esse tipo de tabela, cujos ele-
mentos não foram numericamente organizados, denominamos tabela primitiva (CRES-
PO, 2009, p. 77-78). Como faremos para transformá-la em uma tabela de distribuição
de frequências?

Antes de montarmos a tabela de distribuição de frequências iremos entender


os conceitos de classes: limite inferior, superior e amplitude.

Exemplo de classe: 2 ---- 8

O número 2 é o Li – limite inferior da classe, é o menor número que temos em


uma amostra.

O número 8 é o Ls – limite superior da classe, é o maior número que temos


em uma amostra.

A amplitude da classe é calculada como Ls – Li, que, nesse caso é igual a 6,


mas também existe o valor da amplitude total que calcularemos mais à frente

40
1. Determinar o menor e o maior valor para o conjunto:

Valor mínimo: 20
Valor máximo: 68

2. Definir o limite inferior (Li) da primeira classe, que deve ser igual ou ligeiramente inferior
ao menor valor das observações:

Li: 20 (a menor idade anotada)

3. Definir o limite superior (Ls) da última classe, que deve ser igual ou ligeiramente supe-
rior ao maior valor das observações:

Ls: 70 (a maior idade anotada é 68, então arredondamos o limite superior para 70)
Arredondamos esse valor para melhor demonstrarmos os dados.

4. Definir o número de classes (K).

Para definir o número de classe usamos a fórmula de Sturges:

k ≅ 1 + 3,3 · log n

K (nº de classes) = 1 + 3,3 . log 70 (log 70 pode ser calculado na calculadora científica)

Então fica: k = 1 + 3,3 x 1,84

K = 1 + 6,07

K = 7,07 (por conveniência arredondaremos para 7)

5. Conhecido o número de classes, define-se a amplitude (a) de cada classe:

(Ls − Li)
α=
κ

No exemplo, “α ” será igual a:

α = 70 – 20/ 7
α = 50 / 7
α =7

41
6. Com o conhecimento da amplitude de cada classe, definem-se os limites para cada
uma, em que o limite inferior será 20 e o limite superior será 20 + 7 = 27.

Classe (anos) Ponto médio Frequência Frequência relativa

20 |– 27 23,5 15 21,5%

27 |– 34 30,5 23 33%

34 |– 41 37,5 15 21,5%

41 |– 48 44,5 4 5,5%

48 |– 55 51,5 5 7%

55 |– 62 58,5 5 7%

62 |– 70 65,5 3 4,5%

Ponto médio: é o ponto que divide a classe em 2.


Frequência: número de vezes que os dados aparecem naquela classe.
Frequência relativa: é a porcentagem da frequência.

O uso desse símbolo “|” significa que o intervalo é fechado à esquerda, ou seja, pertencem
à classe os valores iguais ao extremo inferior desta (por exemplo, 20 na primeira classe).
Também significa que o intervalo é aberto à direita, ou seja, não pertencem à classe
os valores iguais ao extremo superior (por exemplo, o valor 27 não pertence à primeira
classe) (VIEIRA, 2016, p. 3)

Ampliando o foco

Por que é importante saber a frequência relativa para a saúde das coletividades?

Porque sabendo a porcentagem em que ocorre um evento nas coletividades


conseguimos tomar decisões de saúde mais assertivas, agir no foco principal
de um determinado problema.

Por exemplo, perceba como é diferente ter 40 hipertensos em uma população


de 100 pessoas comparado a 40 hipertensos em um universo de 2.000 pes-
soas. Esse tipo de avaliação conseguimos observar com a frequência relativa.

42
E qual é a importância da construção de gráficos e tabelas?

É bom termos em mente que a Estatística tem por finalidade específica analisar o con-
junto de valores, desinteressando-se por casos isolados. Então, toda ferramenta que nos
auxilie nesse processo, pela estatística, é bem-vinda (CRESPO, 2009, p. 80-81).

Considerando a finalidade da estatística, os dados, se bem representados, facilitam a vi-


sualização e a análise dos dados obtidos, podendo, dessa forma, levar a conclusões mais
assertivas, auxiliando nas tomadas de decisão e, assim como uma tabela de frequência,
os gráficos também têm a mesma finalidade: facilitar a visualização dos dados.

A seguir, veremos tipos de gráficos com os dados coletados anteriormente:

Gráfico em pizza:

Pacientes de cada sexo atendidos em um programa de controle de tabagismo


em uma Unidade Básica de Saúde no ano de 2020, durante a pandemia.

Masculino Feminino

Neste gráfico, conseguimos analisar com muita clareza que o maior número de pacien-
tes atendidos em um programa de controle do tabagismo no ano de 2020, em uma de-
terminada unidade de saúde, foi de homens.

43
Ampliando o foco

Tudo bem, mas em que momento devo usar o gráfico em pizza?


Você, como pesquisador da área da saúde, definirá qual é a forma que melhor
irá representar seus dados, de um jeito que fique claro e objetivo para as pes-
soas que irão utilizá-los.

Agora, vamos ao exemplo do gráfico em barras:

Pacientes de cada sexo atendidos em um programa de controle de tabagismo em


uma Unidade Básica de Saúde no ano de 2020.

60
52
50

40

30

20 18

10

0
Masculino Feminino

Ampliando o foco

No Excel você encontra vários gráficos que poderá utilizar. A escolha preci-
sa ser feita levando em consideração o melhor entendimento do seu leitor. O
que buscamos com o uso dos gráficos e tabelas é apresentar os dados com
maior clareza. Entre outros tipos de gráficos destacamos: de colunas, de setor,
de linhas etc.

44
Medidas de tendência central, medidas de
dispersão e distribuição normal

As medidas de tendência central medem o valor do ponto em torno do qual os dados se


distribuem. São consideradas as medidas de posição mais importantes e recebem tal
denominação pelo fato de os dados observados tenderem, em geral, a se agrupar em
torno dos valores centrais. Entre as medidas de tendência central, destacamos: média
aritmética, mediana, moda (CRESPO, 2009, p. 119).

A seguir, apresentaremos todas essas medidas e como as calculamos.

Média aritmética

Temos a seguir a apresentação dos dados do número de faltas de 10 alunos da disciplina


de Epidemiologia:

2 3 1 2 2

1 2 3 4 3

Vamos calcular a média aritmética dos dados apresentados acima? Mas como? O que é
média aritmética?

Que tal descobrirmos juntos?

Média aritmética (X) é a soma de todos os dados apresentados, dividida pela quantidade
de números (dados) somados.

2 + 3 + 1 + 2 + 2 + 1 + 2 + 3 + 4 + 3/ 10 = 23/ 10 = 2,3

Então, chegamos à nossa média aritmética desse conjunto, que é 2,3. A média aritmética
é a medida de tendência central mais utilizada no cotidiano.

Mas quando efetivamente a usamos e para quê?

45
Quando queremos saber, por exemplo:

• Qual é a média de idade dos alunos de Enfermagem do último período da gradua-


ção, para saber a projeção no mercado de trabalho.
• Qual é a média de gols em um campeonato de futebol, para saber a classificação
dos times.
• Qual é a média anual de gasto de energia da sua casa; dessa forma, você conse-
gue fazer um planejamento econômico.

Moda

A Moda (Mo), que também é uma medida de tendência central, é o valor que ocorre com
maior frequência na distribuição dos dados.

Para refletir

Sabe quando falamos que uma roupa está na moda? O que queremos dizer
com isso? Queremos dizer que muitas pessoas estão usando aquela roupa,
portanto ela está na moda. Em estatística é igual: dizemos que é moda o dado
que aparece com maior frequência em um conjunto.

Vamos utilizar o mesmo conjunto de dados:

Número de faltas de 10 alunos da disciplina de Epidemiologia:

2 3 1 2 2

1 2 3 4 3

Nesse conjunto de dados, a moda (Mo) é 2, porque este número de faltas aparece com
maior frequência.

46
Vamos às variações:

• Distribuição modal: é aquela que possui uma só moda, como visto no


exemplo anterior.

• Distribuição bimodal: possui duas modas:

Xi = { 10, 20, 10, 10, 15, 21, 20, 12, 20 } Mo = 10 e Mo = 20

• Distribuição amodal: não possui moda, ou seja, não há repetições, como


podemos ver no exemplo a seguir:

Xi = { 10, 20, 30, 60, 70, 220, 40 }

Mediana

A terceira e última medida de tendência central é a mediana (Md).

Como ela é calculada?

Primeiro, vamos começar apresentando sua definição. A mediana é o valor que ocupa a
posição central da amostra, ou seja, que divide a amostra em duas partes iguais. Porém,
para que essa observação seja feita, temos que ordenar os dados.

Vamos organizar os dados?

Conjunto: { 2 + 3 + 1 + 2 + 2 + 1 + 2 + 3 + 4 + 3 }

Dados organizados: { 1, 1, 2, 2, 2, 2, 3, 3, 3, 4 }

Como temos um conjunto com número par de elementos, a nossa mediana será os dois
números centrais divididos por 2:

Neste caso: 2 + 2 = 4 / 2 = 2

Agora observe um conjunto com número ímpar de elementos: { 2, 5, 6, 8, 10, 13, 15, 16, 18 };
o número que divide o conjunto ao meio é o número 10, portanto a nossa mediana é 10.

47
Posição relativa: média, mediana e moda

Quando a média, a mediana e a moda têm o mesmo valor é uma distribuição simétrica
(imagem 1). Agora, se a distribuição apresentar certa tendência a valores positivos ou
negativos as medidas de posição poderão diferir. Se temos a Mo < (menor) Md <x, é
considerado posição assimétrica positiva (imagem 2) e, no caso de uma distribuição
assimétrica negativa, temos que x <(menor) Md < Mo. (imagem 3).

1 2 3

X=Md+Mo Mo Md X X Md Mo

Medidas de dispersão

As medidas de tendência central vistas anteriormente resumem a informação contida


em um conjunto de dados, mas não contam toda a história. Por exemplo, observa-se,
diariamente, que, na mesma cidade, a temperatura varia ao longo do dia. Por isso, o cál-
culo da temperatura média do dia não dá toda a informação. O peso das pessoas varia ao
longo da vida e a quantidade de dinheiro que carregam nos bolsos varia em função das
circunstâncias. Por causa da variabilidade, a média, a mediana e a moda que estudamos
agora não são suficientes para descrever tudo sobre um determinado conjunto de dados:
informam apenas a tendência central, ou seja, onde está o centro, mas nada dizem sobre
a variabilidade (VIEIRA, 2016, p. 43).

Na imagem a seguir temos um conjunto de dados denominado valores observados,


que pode ser considerado, por exemplo, o número de faltas de cinco alunos. Em um
primeiro momento calculamos a média dos valores observados, que é = 4. Foi marcada
na figura a média do conjunto e, em seguida, marcamos os nossos valores observados:
1, 3, 4, 5, e 7. Dessa forma, conseguimos avaliar a variabilidade dos dados em relação à
nossa média 4.

48
xi = valores observados 1+3+5+7 20 média de conjunto
= = =4
13457 5 5 de dados

- média

d5 = 3
d1 = 3

d2 = 3 d4 = 1
d3 = 0

distância
média { d1+d2+d3+d4+d5
5
=
3+1+0+1+3
5
=
8
5
= 1,6

distância dos valores distânciamédia dos dados (xi)


(xi) até a média (x) em relação a média X

Já na imagem a seguir demonstramos que, quando a variabilidade é nula, os nossos da-


dos estão junto com a média (1); quando a variabilidade é baixa, os dados estão próximos
a média (2) e, quando a variabilidade é alta, os dados encontram-se distantes da média (3).

1 Variabilidade nula

2 Variabilidade baixa

3 Variabilidade alta

• As medidas de dispersão servem para avaliar o quanto os dados são semelhan-


tes, descrevem o quanto os dados distanciam-se do valor central.
• Às vezes, apenas a média é insuficiente para descrever um grupo de dados. Dois
grupos podem ter a mesma média, mas podem ser muito diferentes na amplitude
de variação de seus dados.

49
• Por exemplo:
-Grupo 1 (dados observados): 8; 8; 8.
-Grupo 2 (dados observados): 3; 8; 9.
-Grupo 3 (dados observados): 0; 8; 53.
• A média dos três grupos é a mesma (5), mas no grupo “A” não há variação entre os
dados, enquanto no grupo “B” a variação é menor do que no grupo “C”. Dessa forma,
uma maneira mais completa de apresentar os dados (além de aplicar uma medida
de tendência central como a média) é aplicar uma medida de dispersão.

As principais medidas de dispersão são:

Amplitude total: é a diferença entre o valor maior e o valor menor de um grupo de dados
(visto anteriormente); AT = é a diferença entre o maior e o menor número observado.
Variância: é a soma dos quadrados dividida pelo número de observações do grupo menos 1.
Desvio-padrão: é expresso na mesma medida das variações (Kg, cm, m³...).

Distribuição normal

Também conhecida como distribuição Gaussiana, a Distribuição Normal é a mais rele-


vante dentre as distribuições contínuas.

Pontos importantes:

Forma a curva que é denominada Curva de Gauss: as medidas que originam esses grá-
ficos são variáveis, com distribuição normal.

Gráficos com dois extremos: um máximo e um mínimo e entre eles, uma distribuição
gradativa (maioria dos valores ao redor da média).

Exemplo

Exemplo de gráfico de uma distribuição normal:

χ
μ

50
Características da distribuição normal:

• Curva em forma de sino, simétrico em torno da média (μ) (se lê “mi”).


• A média, a mediana e a moda são iguais e estão no centro da distribuição.
• A área total da curva vale 1, significando que a probabilidade de ocorrer qualquer
valor real é 1.
• Pelo fato de a curva ser simétrica em torno da média, os valores maiores do que
a média e os valores menores do que a média ocorrem com igual probabilidade.
• A curva abriga 100% da população. (VIEIRA, p. 104).

51
MIDIATECA

Para ampliar seu conhecimento veja o material complementar da Unidade 2,


disponível na midiateca.

NA PRÁTICA

Precisamos contratar profissionais da saúde para a reabertura de um hospital


após dois meses em obra. Porém, sabemos que cada profissão tem o seu pró-
prio cálculo de quantos profissionais são necessários para atender um número
“x” de pacientes.

Então, antes de iniciarmos o processo seletivo, precisamos ter a noção de quan-


tos pacientes serão atendidos nesse hospital. Para isso, calcularemos a média
de pacientes atendidos, referente ao período de três meses antes do hospital
entrar em obras. Os números que temos na base de dados são:

No primeiro mês foram atendidos 246 pacientes.


No segundo mês foram atendidos 359 pacientes.
No terceiro mês foram atendidos 300 pacientes.

Para obtermos a média do número de pacientes atendidos por mês, precisa-


mos somar todos os valores e dividi-los pelo número de vezes que eles apare-
cem, que, neste caso, é 3.

246 + 359 + 300 = 905

905 / 3 = 301,66

A partir dessa média será possível calcular o número de médicos, enfermeiros,


técnicos de enfermagem e de tantos outros profissionais que são necessários
para a reabertura do hospital.

52
Resumo da Unidade 2

Nesta unidade aprofundamos nossos conhecimentos sobre variáveis e dados. Além


disso, aprendemos como montar tabelas e gráficos, bem como sua importância para
facilitar a apresentação dos dados, buscando sempre opções que tragam clareza para
as informações a serem representadas. Também aprendemos, a partir de explicações e
contextualizações, informações importantes sobre as principais medidas centrais: moda,
média e mediana, medidas de dispersão e distribuição normal.

53
Referências

RESPO, A. A. Estatística fácil. 19. ed. atual. São Paulo: Saraiva, 2009. 218 p.
ISBN 9788502081062.

TRIOLA, M. Introdução à estatística. 10. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2008.

Vieira, S. Introdução a Bioestatística. 5. ed. Rio de Janeiro: Campus-Elsevier,


2016. 245 p. ISBN 9788535277166.

54
UNIDADE 3

Introdução à Epidemiologia
INTRODUÇÃO

Nesta unidade abordaremos a história da Epidemiologia, bem como relevantes conceitos


epidemiológicos. Aprenderemos o que é considerado saúde e como medi-la. Veremos,
também, o que é conceituado doença e o que é classificado como qualidade de vida.
Conheceremos os principais indicadores de saúde.

Além disso, assuntos como evolução natural das doenças, período epidemiológico e pa-
togênico, morbidade e mortalidade e os principais agravos que afetam a população bra-
sileira também serão abordados ao longo desta unidade.

Todo esse conhecimento é de extrema importância para a manutenção da saúde das


coletividades. Conseguimos, com a epidemiologia, ampliar o foco e perceber onde deve-
mos atuar na rotina de saúde para a melhoria da vida das pessoas. Com a epidemiologia
estudamos o processo de saúde e doença e propomos ações como: proteção específica,
prevenção, diminuição de danos.

OBJETIVO

Nesta unidade você será capaz de:

• Obter conhecimentos sobre epidemiologia aplicada.

56
História da Epidemiologia, conceitos
epidemiológicos

Neste tópico abordaremos as raízes históricas desse campo do conhecimento chamado


epidemiologia. É necessário saber como se deu a construção desse campo para que
possamos compreender a atuação da epidemiologia atualmente.

Para tanto, vamos adentrar na história da medicina.

Grécia Antiga

Hipócrates (c. 460 a 377 a.C.)

Era médico da Grécia antiga e viveu há cerca de 2.500 anos. Analisava as doenças em
bases racionais. Em vez de atribuir origem divina ou sobrenatural para as doenças, co-
meçou a discutir suas causas ambientais. Escreveu sobre a distribuição de enfermidades
ou doenças nos vários ambientes, e acerca de epidemias, iniciando o raciocínio epide-
miológico. Neste sentido, sugeriu considerar fatores tais como clima, água e situação
da população em um determinado lugar como elementos que podem ajudar a avaliar a
saúde geral de seus habitantes (ALMEIDA; BARRETO, 2017).

Resumindo, para Hipócrates a doença era um produto da relação complexa da constitui-


ção do indivíduo e seu ambiente.

Hipócrates.

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Hip%C3%B3crates#/media/Ficheiro:Hippocrates.jpg

57
Ampliando o foco

Vale destacar que Hipócrates acreditava que poderia predizer a evolução de


uma doença avaliando um número suficiente de casos e essa ideia era consi-
derada revolucionária naquela época (ALMEIDA; BARRETO, 2017).

Como era o pensamento grego na época?

Desde os primórdios do pensamento grego já existia tensão entre a medicina indivi-


dual e a medicina coletiva, representada pelo antagonismo entre Panaceia e Higeia,
que eram filhas do deus Asclépio. Higeia personificava a saúde por meio da harmonia
do universo (adjetivo em português: “hígido”) e Panaceia pela cura universal (ALMEIDA;
BARRETO, 2017).

Higeia considerava a saúde como resultante da harmonia dos homens e dos ambientes
e buscava promovê-la por meio de ações preventivas e de equilíbrio entre os elementos
fundamentais: terra, fogo, ar e água.

Panaceia preconizava a medicina curativa, prática terapêutica baseada em intervenções


sobre indivíduos doentes por meio de manobras físicas, encantamentos e uso de medi-
camentos (ALMEIDA; BARRETO, 2017).

Ampliando o foco

Herdeiros do pensamento de Hipócrates

Roma Antiga: os primeiros médicos romanos eram escravos gregos de grande


valor monetário. Trabalhavam para o exército e famílias nobres e receitavam
muitos fármacos para poucos enfermos, exercendo uma prática privada só
para ricos (ALMEIDA; BARRETO, 2017).

Roma trouxe grande contribuição para a epidemiologia, eles criaram sensos


periódicos e registro compulsório de nascimentos e óbitos na época do impe-
rador Marco Aurélio e mais tarde essas criações ficaram conhecidas com as
“estatísticas vitais” (ALMEIDA; BARRETO, 2017).

58
Galeno (201-130 a.C.)

Galeno (Galeno de Pérgamo) era médico e filósofo romano de origem grega, e provavel-
mente o mais talentoso médico investigativo do período romano. Suas teorias domina-
ram e influenciaram a ciência médica ocidental por mais de um milênio.

Ampliando o foco

Seus relatos de anatomia médica eram baseados em macacos, visto que a


dissecação humana não era permitida naquele tempo.

Galeno também foi o responsável pela saúde do imperador romano Marco Aurélio. De-
monstrou que as artérias transportavam sangue e não ar, momento que foi considerado
um marco. Ele também foi responsável pelo controle de óbitos e nascimentos (ALMEIDA;
BARRETO, 2017).

Galeno de Pérgamo. Litografia de Pierre Roche Vigneron.


(Paris: Litografia de Gregoire et Deneux, ca. 1865).

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Cl%C3%A1udio_Galeno#/media/Ficheiro:Galen_detail.jpg

59
Idade Média (século V-XV)

A Idade Média ou medieval inicia-se com a queda do Império Romano e segue até a Ida-
de Moderna (XVI). Caracterizou-se pelas invasões dos bárbaros e posterior crescimento
do cristianismo, e pelas Cruzadas — as várias tentativas de libertar a Terra Santa das
mãos dos muçulmanos. Nesse período as práticas de saúde eram de caráter mágico-re-
ligiosas, acreditava-se que as doenças eram castigos e a cura seria uma dádiva de Deus
e que Ele era o curador. O objetivo dos tratamentos era a salvação da alma, porque em
terra acreditavam que estava condenado. Neste período houve início da prática médica
para os pobres exercida caritativamente por religiosos, por leigos e por profissionais, os
barbeiros-cirurgiões (ALMEIDA; BARRETO, 2017).

Avicena (989-1037 d.C.)

Ainda na Idade Média, Avicena teria vivido no que hoje é o Uzbequistão. Escreveu tratados
sobre variado conjunto de assuntos: 150 em filosofia e 40 em medicina. Suas obras mais
importantes são o Livro da cura e o Cânone da medicina — que era o texto-padrão em
instituições medievais, como a Universidade de Montpellier e a Universidade Católica de
Leuven. Apresenta um sistema completo de medicina em acordo com os princípios de
Galeno e Hipócrates e os reintroduz na medicina ocidental (ALMEIDA; BARRETO, 2017).

Teoria miasmática

Ainda na Idade Média a população vivia em ambientes poluídos e insalubres, sem sanea-
mento e água potável. Acreditavam que as doenças eram geradas por miasmas — doen-
ças eram adquiridas por meio de emanações (gases/vapores) ambientais vindas do solo
e do ar. As emanações passariam do doente para os suscetíveis causando as epidemias.
Nota-se que ainda hoje o sobrenatural e os miasmas são utilizados por leigos para expli-
car muitas doenças.

Nessa época, as hospedarias de ordens religiosa destinadas a viajantes passaram a re-


ceber doentes e assim tornaram-se local de referência. Os médicos deixaram sua prática
privada com as famílias de posse para ter contato com muitos pacientes e patologias
nessas hospedarias e, com isso, iniciou-se a investigação sistemática de enfermos e
doenças (ALMEIDA; BARRETO, 2017).

Medida dos Estados

No final da Idade Média surgiu a medida dos Estados, porque houve a necessidade de
contar o povo (produção agrícola) e o exército (poder) e, com isso, surgiu a estatística

60
(estado = “status”, isticum = “contar”). A estatística tem seu nascimento originado pela
necessidade de implantação do modo capitalista de produção e indicava a necessidade
não apenas de contar o povo e o exército, ou seja, o Estado, mas também verificar sua
disciplina e saúde. Podemos dizer, então, que a constituição histórica da epidemiologia
está pautada na medida do Estado, ou seja, contagem da população e exército, assim
como sua saúde (ALMEIDA; BARRETO, 2017).

Importante

Tendo como referência a medida dos estados, uma manifestação da epidemio-


logia aconteceu já no século XVII, na Idade Moderna, com John Graunt (1620-
1674) em 1662, que publicou o tratado das tabelas mortuárias de Londres com
a proporção de crianças que morriam antes dos seis anos de idade. Analisou
nascimentos e óbitos semanais e quantificou o padrão de doença na popula-
ção. Foi o reconhecimento do valor dos registros coletados sistematicamente,
ou a base da epidemiologia moderna (ALMEIDA; BARRETO, 2017).

Epidemiologia moderna

Como já vimos os elementos históricos que pautaram o surgimento da epidemiologia,


agora já estamos aptos para aprofundarmo-nos em sua conceituação.

O que é epidemiologia?

É a ciência que estuda a distribuição das doenças e suas causas em populações hu-
manas e aplica esses estudos no controle dos eventos relacionados com a saúde. É a
principal ciência de informação da saúde, sendo a ciência básica para a saúde coletiva
(ROUQUAYROL, 2018 ).

A epidemiologia é pautada em três grandes pilares descritos a seguir:

61

Medicina clínica
(Ciências Biológicas)

Os pilares da
Epidemiologia

3º 2º

Medicina social Estatística


(Ciências sociais) (Ciências exatas)

A Epidemiologia estuda o processo saúde-doença em coletividades humanas, analisan-


do a distribuição e os fatores determinantes das enfermidades, danos à saúde e eventos
associados à saúde coletiva, propondo medidas específicas de prevenção, controle ou
erradicação de doenças, e fornecendo indicadores que sirvam de suporte ao planeja-
mento, administração e avaliação das ações de saúde (ROUQUAYROL, 2018).

E quais foram as primeiras manifestações da Medicina Social –


Saúde Coletiva?

Inglaterra: Revolução Industrial – final do século XVIII.


Movimento hospitalário e assistencialismo geraram a Medicina da “Força de Trabalho”
(ALMEIDA; BARRETO, 2017).

Alemanha: Polícia Médica (1779).


Medidas compulsórias de controle e vigilância das doenças: Medicina de Estado (policial).

França: Revolução Sanitarista (1789).


Necessidade de sanear as cidades, ventilar ruas e construções isolando miasmas (fonte
de doenças endêmicas).
Medicina Sanitarista (urbana) e medicina preventiva.

Quem são os destaques na área da Saúde Coletiva?

62
Willian Farr (1807-1883)
Trabalhou no Registro Geral inglês. Seus relatórios permitiram verificar as desigualdades
regionais e sociais nos perfis de saúde, fazendo com que muitos estudiosos alardeas-
sem esses problemas, como Engels e Chadwick, advogado cujos relatórios deram subsí-
dios à reforma sanitária inglesa (ALMEIDA; BARRETO, 2017).

John Snow (1813-1858)


Realizou grande investigação de epidemias de cólera em Londres, elucidando com um
minucioso trabalho de campo a relação da cólera com o fornecimento de água (contami-
nada) de certa companhia de abastecimento londrina (ALMEIDA; BARRETO, 2017).

Louis Pasteur (1822-1895)


Louis Pasteur identifica e comprova que várias doenças são causadas por microrganis-
mos vivos transmissíveis (agente etiológico) com comprovação laboratorial e prevenções
de doenças. Suas experiências deram fundamento à teoria microbiológica da doença.

A partir disso passou a investigar os microscópicos agentes patogênicos, terminando


por descobrir vacinas, em especial a antirrábica, que utilizou com sucesso em 1885.

Ele também inventou o método para impedir que o leite e o vinho causem doenças, um
processo que veio a ser chamado de pasteurização (ALMEIDA; BARRETO, 2017).

Importantes consequências dessas influências:

• Criação de institutos de pesquisa.


• Preocupação com saneamento ambiental, vetores e reservatórios de agentes.
• Determinação das condições de saúde da população (indicadores, inquéritos).
• Investigações de fatores causadores de doença.

A ciência epidemiológica no século XX

A epidemiologia tem a influência da microbiologia: a clínica patológica busca comprova-


ção laboratorial da existência de germes. Oswaldo Cruz, no Brasil (1872-1917), criou em
Manguinhos o instituto que possibilitou numerosas pesquisas, entre elas a descoberta
do agente da doença de Chagas (ALMEIDA; BARRETO, 2017).

63
Ampliando o foco

Ainda existente e atuante, essa instituição é chamada Fiocruz (Fundação Os-


waldo Cruz). Localizada na cidade do Rio de Janeiro, é vinculada ao Ministério
da Saúde e considerada a mais destacada instituição de ciência e tecnologia
em saúde da América Latina.

Houve então, nessa época, o desdobramento da teoria dos germes com grandes avan-
ços nesse campo a partir do progresso das tecnologias, caminhos que consolidaram a
prevenção e a proteção específica com uso de vacinas e saneamento ambiental (ALMEI-
DA; BARRETO, 2017).

A segunda metade do século XX

Na segunda metade do século XX houve ênfase em pesquisas, pois ocorreu um cresci-


mento das doenças crônicas como causa de mortalidade e morbidade.

Assim, a epidemiologia progride na determinação das condições de saúde da população


e na busca sistemática de fatores de risco. A avaliação da situação era feita a partir de
estudos para controlar as doenças (ALMEIDA; BARRETO, 2017).

Situação atual: multicausalidade

Tornou-se claro que os agentes microbiológicos e físicos não explicavam totalmente as


questões de etiologia e prognóstico das doenças. Houve a necessidade de incorporar
conceitos e técnicas de outras áreas, como sociologia e psicologia, iniciando-se a avalia-
ção de intervenções e a medicina baseada em evidência (epidemiologia – dados estatís-
ticos) (ALMEIDA; BARRETO, 2017).

Tendências atuais

• Epidemiologia clínica: aplicação da epidemiologia em diagnósticos clínicos e no


cuidado direto do paciente com maior rigor científico na prática médica, relembran-
do a época de Hipócrates e a “panaceia”.
• Epidemiologia social: estudo da determinação social da doença, busca melho-
rar o atendimento à saúde da população, especialmente as mais subdesenvolvidas,
de maneira multidisciplinar, procurando trabalhar a diminuição das desigualdades
sociais e a prevenção de doenças evitáveis, que relembra Hipócrates e a “higeia”
(ALMEIDA; BARRETO, 2017).

64
No quadro a seguir podemos ver claramente a diferença das Ciências Médicas e das
Ciências Epidemiológicas:

Ciências Ciências
médicas epidemiológicas

Objeto singular: Objeto singular:


a doença no indivíduo. a doença na população.

Que segmentos
Qual o estágio
da população
da doença?
são acometidos?

Quais os órgãos Em que circunstâncias


afetados? ou época?

Como se distribui
a doença espacialmente/
geograficamente?

Quem são os epidemiologistas?

Podem ser epidemiologistas:


• Médicos.
• Enfermeiros.
• Fisioterapeutas.
• Assistentes sociais.
• Biomédicos.
• Bioestatísticos.
• Dentistas.
• Nutricionistas.

65
Importante

Para atuar como epidemiologista o profissional deverá cursar mestrado ou


doutorado e atuar na área acadêmica ou fazer um curso de pós-graduação
lato sensu. Vale destacar que algumas graduações permitem que o profissional
atue como epidemiologista, então é sempre válido verificar suas habilitações.

Para que serve a epidemiologia?

Epidemiologia constitui a principal ciência de informação em saúde (ROUQUAYROL,


2018). A Associação Internacional de Epidemiologia (1973) a define como: o estudo dos
fatores que determinam a frequência e a distribuição das doenças na coletividade huma-
na. A epidemiologia serve, por exemplo, para que consigamos mapear as ocorrências de
uma determinada doença em uma população específica e, a partir dessa análise, possa-
mos atuar para a diminuição dessas ocorrências, focando sempre na melhoria da saúde
da coletividade.

De acordo com Rouquayrol (2017), os principais objetivos e atribuições da epidemiologia


são: descrever a distribuição e a magnitude dos problemas de saúde nas populações
humanas, proporcionar dados essenciais para o planejamento, execução e avaliação
das ações de prevenção, controle e tratamento das doenças, bem como estabele-
cer prioridades e identificar fatores etiológicos (fatores determinantes ou causadores)
das enfermidades.

Exemplo

Exemplos de aplicação:

• Conhecer a distribuição de características de um grupo ou de uma população


(sexo, idade, estatura, peso, cor, renda, causas de morte etc.).
• Conhecer a morbidade e/ou mortalidade de certa doença em uma população.
• Compará-las entre populações.
• Conhecer a evolução de doenças durante um período de tempo em uma de-
terminada população.

66
Saúde, qualidade de vida e indicadores
de saúde

Antes de aprendermos como mensurar a saúde e conhecer seus indicadores, precisa-


mos compreender alguns conceitos, como saúde, doença e qualidade de vida.

Então, o que é saúde e o que é doença?

Segundo Pereira (1995), a prática clínica considera saúde como “ausência de doença” e
traz a definição de doença como “falta ou perturbação da saúde” (PEREIRA, 1995).

Já a Organização Mundial da Saúde – OMS, em 1948, na 8ª Conferência Nacional de


Saúde, definiu saúde como sendo “um completo estado de bem-estar físico, mental e so-
cial,” sendo também resultado das formas de organização social, as quais podem gerar
profundas desigualdades nos níveis de saúde.

Dessa forma, de acordo com este posicionamento da OMS, os determinantes de


saúde seriam:

Renda

Meio
Acesso
ambiente

Transporte Saúde Educação


é o resultante
das condições
de:

Emprego Alimentação

Liberdade Lazer

67
Neste sentido, para compreender o estado de saúde ou de doença de uma pessoa pre-
cisamos observar vários aspectos que envolvem a vida das pessoas e enxergar o ser
humano como um ser bio-psico-social.

Ser humano: bio-psico-social.

Biológico

Psicológico Social

Assim, tendo em vista todo este contexto, a qualidade de vida resulta da adequação das
condições socioambientais às exigências e necessidades humanas. Isso quer dizer que
a qualidade de vida depende de:

• Um ambiente saudável.
• Ter suas necessidades básicas atendidas.
• Ter seus direitos assegurados e respeitados — proteção social.

68
Logo, podemos dizer que:

Alimentação e nutrição

Habitação e saneamento

Trabalho
determinada por padrões de:
Qualidade de Vida é

Educação

Ambiente físico

Apoio social

Práticas/Comportamentos

Atenção a saúde

Tríade epidemiológica: agente x hospedeiro x ambiente

Hospedeiro

Agente Meio ambiente

Hospedeiro: atacados pelo agente quando apresenta suscetibilidade e que se interpõe


na cadeia de transmissão. Por exemplo, o hospedeiro da dengue é o ser humano.

69
Fatores do hospedeiro (o homem) que podem facilitar o processo de adoecimento
(ALMEIDA; BARRETO, 2017):

• Idade.
• Sexo.
• Estado civil.
• Ocupação.
• Escolaridade.
• Características genéticas.
• História patológica pregressa.
• Estado imunológico.
• Estado emocional.

Agente: serve de estímulo ao início ou à perpetuação do processo patológico. Um agente


infectante é qualquer parasita, protozoário, bactéria ou vírus capaz de infectar um orga-
nismo. Um agente pode ser uma bactéria como a Mycobacterium tuberculosis ou o Baci-
lo de Koch (BK), que causa a tuberculose, uma doença infectocontagiosa.

Fatores do Agente (podem servir de estímulo para iniciar o processo patológico causado
pelo agente):

• Biológicos (microrganismos).
• Químicos (mercúrio, álcool, medicamentos).
• Físicos (trauma, calor, radiação).
• Nutricionais (carência, excesso).

Cabe destacar que, muitas vezes, para que um agente consiga contaminar
um hospedeiro, ele precisa de um vetor. O que é isso?

Vetor é todo ser vivo capaz de transmitir um agente infectante, de maneira ati-
va ou passiva. Um exemplo de vetor é o Aedes aegypti, mosquito transmissor
do vírus causador da dengue.

Meio ambiente: meio propício a infecção. O que seria um meio propício a infecção? Va-
mos a um exemplo: falta de saneamento básico, tornando o espaço propicio ao cresci-
mento de bactérias (ALMEIDA; BARRETO, 2017).

70
Fatores do meio Ambiente (ALMEIDA; BARRETO, 2017):

• Determinantes físico-químicos (temperatura, umidade, poluição, acidentes).


• Determinantes biológicos (acidentes, infecções).
• Determinantes sociais (comportamentos, organização social).

Etiologia

A etiologia é uma ciência que estuda as causas ou origem das doenças. De acordo com
a etiologia, podemos classificar as doenças da seguinte forma:

Doenças
infecciosas

Doenças não
Etiologia
infecciosas
Doença
aguda

Duração

Doença
crônica

Doenças infecciosas: são causadas por vírus, bactérias e/ou parasitas. Podem ser trans-
mitidas pelo sangue, líquidos corporais (vírus da imunodeficiência humana – HIV, causa-
dor da doença chamada aids), vetores (insetos, animais, como é o caso da dengue).

Como exemplos de doenças infecciosas podemos citar: tuberculose, meningites, papilo-


ma vírus humano - HPV, vírus T- linfotrópico humano - HTLV, entre outras. Algumas des-
sas doenças são imunopreviníveis, ou seja, podem ser evitadas com aplicação de vacina.

Doenças não infecciosas: nesta classificação podemos citar as doenças degenerativas


(Parkinson e Alzheimer) e as autoimunes (diabetes mellitus tipo 1, lúpus, artrite reumatoi-
de, problemas de tiroide). As doenças autoimunes ocorrem quando as células de defesa
do organismo atacam alguma estrutura do próprio organismo.

71
De acordo com a duração

Doença aguda: têm acelerado e duram até três meses. Em sua maioria são causadas
por infecção por vírus ou bactérias, como constipação, resfriado, gripe, infecções gas-
trointestinais, pneumonia, meningite. Porém, também entram nesta classificação trau-
mas físicos, infartes, hemorragias, bem como outras condições cardiovasculares.

Doença crônica: são doenças que não põem em risco a vida da pessoa em curto prazo
(doença hipertensiva, diabetes mellitus, síndromes dolorosas, câncer). Portanto, em um
primeiro momento não são consideradas emergências médicas, mas podem ser extre-
mamente sérias e letais. Incluem também todas as condições em que um sintoma existe
continuamente. Mesmo não pondo em risco a saúde física da pessoa, são extremamen-
te incômodas, diminuindo a qualidade de vida e atividades das pessoas.

Indicadores de saúde

Depois de vermos o que é saúde, doença, qualidade de vida, podemos nos perguntar:

Como posso medir a saúde?


O que são e para que servem os indicadores de saúde?
Quais são os principais indicadores de saúde da população?

Para que a saúde seja mensurada estatisticamente, utilizamos como base os indicado-
res de saúde. Eles são parâmetros utilizados internacionalmente de forma comparativa
para apresentar perfis de saúde e acompanhar tendências históricas das coletividades
(países, regiões).

Exemplos

Mortalidade: indicadores relacionados a morte, podendo ser identificado por


causa, morte infantil, materna.
Morbidade: adoecimento da população.
Indicadores nutricionais: visa avaliar como está a nutrição de uma determina-
da população.
Indicadores demográficos: mostram o número de habitantes de um determi-
nado local e as principais características destes.
Indicadores sociais: gênero, saúde, pobreza, educação.
Indicadores ambientais: Representa algum aspecto relacionado ao meio ambiente.

72
Indicadores servem também para:

• Orientar as políticas de saúde para o país.


• Orientar a própria prática clínica.
• Aperfeiçoar o sistema de saúde.
• Planejar a infraestrutura dos serviços de saúde.
• Melhorar a condição de saúde das coletividades.

Podemos aqui citar a demanda de Saúde do Homem: doenças da próstata, estilo de


vida, estresse no trabalho. Todos esses e outros fatores inspiraram a comunidade de
urologia e o Ministério da Saúde na criação da Política Nacional de Atenção Integral a
Saúde do Homem.

73
História natural das doenças

Para abordar a definição da história natural da doença, trouxemos um conceito bem ex-
plicado por Leavell e Clark (1976), que definem a história natural da doença como:

[...] nome dado ao conjunto de processos que interagem desde as primei-


ras forças que criam o estímulo patológico no meio ambiente, passando
pela resposta do homem ao estímulo, até as alterações que o levam a
incapacidade, invalidez, à recuperação ou morte.

Esse estímulo patológico no meio ambiente pode estar relacionado ao clima, à geografia
do local ou mesmo a um ambiente que não tenha saneamento básico. Pontos como o
comportamento humano em relação ao local, bem como a predisposição genética são
fatores que também fazem parte desse estímulo patológico e podem fazer com que
aquelas “primeiras forças” facilitem o desenvolvimento de determinada doença.

Nesse contexto, podemos dividir a escala do estado de saúde em dois períodos


sequenciados:

1. No período epidemiológico ou pré-patogênico

É relevante a interação entre o indivíduo suscetível à doença e o ambiente e as condicio-


nantes genéticas ou somáticas pré-patogênicas (antes de adoecer).

Fatores influenciadores no período pré-patogênico:

• Genéticos.
• Sociopolíticos.
• Socioculturais.
• Socioeconômicos.
• Ambientais.
• Psicossociais.

74
Fatores
genéticos

Fatores Fatores
sociopolíticos psicossociais

Período
pré-patogênico

Fatores Fatores
socioculturais ambientais

Fatores
socioeconômicos

2. Período patogênico ou patológico:

Esse período inicia-se quando o patógeno começa a exercer mudanças no ser afetado:
primeiras alterações bioquímicas, por exemplo. A doença ainda não está instalada, mas
são encontrados ali todos os fatores para que ela se desenvolva.

75
Interação
estímulo-
suscetível

Alterações
bioquímicas,
Cronicidade Período
histológicas
patogênico
e fisiológicas

Sinais
e sintomas

Na presença de fatores que já existem, os estímulos externos transformam-se em es-


tímulos patogênicos. Entre as precondições internas estão fatores hereditários, congê-
nitos ou adquiridos em consequência de alterações orgânicas resultantes de doenças
anteriores.

O conceito de história natural da doença demonstra que a prevenção deve estar presente
em todas as circunstâncias em que seja possível alguma intervenção que evite o adoeci-
mento ou suas consequências.

Esses diferentes níveis de prevenção vão desde transformações de condições ambien-


tais (saneamento básico), comportamentais (educação em saúde) e sociais (local de tra-
balho) que predisponham o surgimento dos agravos e doenças até a redução de seus
piores sintomas ou sequelas.

76
A prevenção primária (período pré-patogênico)

É direcionada para evitar que os processos patogênicos se iniciem. Atua na promoção da


saúde e na proteção específica (ROUQUAYROL, 2018).

Promoção da saúde:

• Moradia adequada.
• Alimentação adequada.
• Áreas de lazer.
• Escolas.
• Educação em todos os níveis.
• Apoio social e de saúde mental.
• Informação, educação em saúde.

Proteção específica:

• Imunização, vacinação.
• Saúde ocupacional.
• Higiene pessoal e do lar.
• Proteção contra acidentes, uso de vestimenta e procedimentos adequados (aci-
dentes biológicos, por exemplo).
• Aconselhamento genético.
• Controle de vetores (mosquito da dengue, tratamento da água, coleta de lixo).
• Uso de preservativos (ROUQUAYROL, 2018).

A prevenção secundaria (período patológico)

Atua onde o processo de saúde-doença está instaurado. Visa propiciar a melhor evolu-
ção clínica para os indivíduos afetados conduzindo um processo para desfechos favorá-
veis de recuperação, bem como para interromper ou reduzir a cadeia de disseminação
do problema a outras pessoas (ROUQUAYROL, 2018).

Diagnóstico precoce:

• Inquéritos para descoberta de casos na comunidade.


• Exames periódicos, individuais, para detecção precoce de casos.
• Isolamento para evitar a propagação de doenças (doenças contagiosas).
• Tratamento específico para evitar a progressão da doença e alcançar a cura.

77
• Limitação da Incapacidade.
• Evitar futuras complicações.
• Evitar sequelas (tratar a doença, recuperar a pessoa totalmente).
(ROUQUAYROL, 2018).

A prevenção terciaria (período patológico)

Refere-se ao processo em que a cura deixou sequelas ou doença crônica. Nesse plano,
o objetivo é conseguir a redução da incapacidade e a melhoria da qualidade de vida da
pessoa/paciente (ROUQUAYROL, 2018).

Exemplos:

• Reabilitação (impedir a incapacidade ou incapacidade total) .


• Diminuir as consequências negativas da doença por meio de fisioterapia, terapia
ocupacional etc.
• Aumentar a qualidade de vida do paciente por meio de tratamentos, terapias, pos-
sibilitando, inclusive, que a pessoas retornem a suas atividades de trabalho ou con-
vívio social (ROUQUAYROL, 2018).

Principais indicadores de saúde

Os principais indicadores de saúde, ou seja, os mais utilizados são: mortalidade


e morbidade.

O que seria mortalidade?

Conjunto de indivíduos que morreram de uma doença ou agravo específico em um dado


intervalo de tempo.

Ampliando o foco

Segundo a OMS, a doença arterial isquêmica e o AVC (acidente vascular cere-


bral), são as doenças que registraram o maior número de mortes no mundo em
2015. Em relação às doenças transmissíveis, as doenças respiratórias como
bronquite e pneumonia causaram 3,2 milhões de mortes em todo o mundo.

78
No Brasil, temos o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da
Saúde, que foi implantado em 1975/76.

As principais causas de morte no Brasil, segundo o DATASUS, são: doenças do aparelho


circulatório, tumores, doenças do aparelho respiratório etc.

E morbidade?

Conjunto de indivíduos que adquiriram uma doença (ficaram doentes) em um dado inter-
valo de tempo. Por exemplo, segundo o relatório de saúde World Health Statistics 2018
(p. 6), 325 milhões de pessoas no mundo vivem com hepatite B ou C.

Como os tumores ocupam um dos primeiros lugares de causas de morte no Brasil


trouxemos, a seguir, uma tabela que ilustra as principais causas de morte por câncer no
Brasil, no ano de 2018.

Em homens, Brasil, 2018

Localização Primária Óbitos %

Traqueia, brônquios e pulmões 16.371 13,9

Próstata 15.576 13.3

Cólon e reto 9.608 8,2

Estômago 9.387 8,0

Esôfago 6.756 5,8

Fígado e vias biliares intra-hepáticas 6.181 5,3

Pâncreas 5.497 4,7

Cavidade oral 4.974 4,2

Sistema nervoso central 4.803 4,1

Laringe 3.859 3,3

Todas as neoplasias 117.477 100,0

79
Em mulheres, Brasil, 2018

Localização Primária Óbitos %

Mama 17.572 16,4

Traqueia, brônquios e pulmões 12.346 11,5

Cólon e reto 9.995 9,3

Colo do útero 6.526 6,1

Pâncreas 5.601 5,2

Estômago 5.374 5,0

Sistema nervoso central 4.506 4,2

Fígado e Vias biliares intra-hepáticas 4.369 4,1

Ovário 3.984 3,7

Leucemias 3.316 3,1

Todas neoplasias 107.235 100,0

Fonte: MS/SVS/DASIS/CGIAE - Sistema de Informação sobre Mortalidade (2020).

80
MIDIATECA

Para ampliar seu conhecimento veja o material complementar da Unidade 3,


disponível na midiateca.

NA PRÁTICA

Temos a seguir os determinantes de saúde da doença coronariana. Suponha


que estamos atendendo a uma paciente com essa patologia e vamos, então,
identificar os determinantes de saúde para que possamos traçar um plano de
cuidados, atuando cada qual em sua respectiva área.

Determinantes da doença coronariana

Fatores
Fatores Agentes biológicos:
ambientais:
relacionados químico, físico,
físico, químico,
ao hospedeiro nutricional
biológico ou social
Alta taxa LDL-
Sexo (M>F) Sedentarismo
colesterol

Idade Baixa taxa HDL- Estresse


50+ colesterol (trabalho, família)
Nível socioeconômico,
Genética
Hipertensão arterial menor acesso a
(predisposição)
comidas saudáveis
Características Menor acesso a
da pessoa Tabagismo serviços de saúde, a
Obesidade prevenção e cuidados

Se a paciente é sedentária, podemos estimular exercício físico ou estimular e


ajudar para que ela diminua o estresse, realize o controle da pressão arterial,
orientando para que ela participe de um programa de controle de tabagismo,
entre outros.

81
Resumo da Unidade 3

Nesta unidade aprendemos sobre a origem histórica do campo de ciência da epidemiolo-


gia, bem como seus principais conceitos. Vimos também a história natural da doença, os
níveis de prevenção à saúde e informações relevantes sobre mortalidade e morbidade.
Além disso, compreendemos como os determinantes de saúde nos auxiliam nas avalia-
ções e intervenções na busca de melhorias de saúde das coletividades.

82
Referências

ALMEIDA FILHO, N.; BARRETO, M. L. Epidemiologia e saúde: fundamentos, métodos e


aplicações. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2017. ISBN 978-85-277-2081-6.

PEREIRA, M. G. Epidemiologia: teoria e prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2018.


Cap. 3: Saúde e Doença. ISBN 978-85-277-3606-0.

ROUQUAYROL, M. Z. Epidemiologia e Saúde. 8. ed. Rio de Janeiro: Medbook, 2018. Cap.


2: Epidemiologia, História Natural e Prevenção de Doenças. ISBN 978-85-8369-029-0

83
UNIDADE 4

Epidemiologia Descritiva
INTRODUÇÃO

Nesta unidade, abordaremos conceitos como prevalência e incidência. Aprenderemos,


também, a calcular os principais coeficientes na área da saúde coletiva. Além disso, es-
tudaremos a epidemiologia descritiva entendendo a importância das perguntas “Quem?”,
“Onde?” e “Quando?” para traçarmos um perfil epidemiológico.

OBJETIVO

Nesta unidade você será capaz de:

• Aplicar o conhecimento sobre investigação e vigilância epidemiológica com o


uso dos cálculos dos coeficientes na área de saúde coletiva.

85
Medidas da saúde coletiva

Neste tópico aprenderemos os principais coeficientes em epidemiologia e alguns concei-


tos como incidência e prevalência, mas, antes de tratarmos sobre os cálculos de coefi-
cientes, precisamos fixar seu conceito.

Então, o que é coeficiente?

Trata-se de um termo usado para as medidas que descrevem um fenômeno observado.

Exemplo

Por exemplo, o coeficiente de natalidade observa o número de nascidos vivos


em um determinado local e período. Já o coeficiente de mortalidade observa
o risco de morte por todas as causas em um determinado local e período [...]
(ROUQUAYROL; SILVA, 2018).

Principais coeficientes:

Natalidade Letalidade Mortalidade Morbidade

Razão de
Prevalência Incidência e índice
masculinidade

Incidência e prevalência

A incidência e a prevalência são as medidas de ocorrência de uma doença (morbidade)


em uma determinada população.

A incidência é o número de casos novos de uma doença específica em um determi-


nado local e período. Em epidemiologia, incidência diz respeito à intensidade com que
acontece uma doença em uma população; ela mede a frequência e a probabilidade de

86
ocorrência de casos novos da doença na população exposta. Assim, sabemos que as
sentenças “mil novos casos de coronavírus por dia” ou “200 casos de dengue por ano”
são expressões que revelam a incidência, ou seja, a intensidade com que aquela doença
aparece (ROUQUAYROL; SILVA, 2018).

Como calculamos a incidência de uma doença?

Ela pode ter valor absoluto, como citado anteriormente, ou podemos calcular o coeficien-
te de incidência – CI.

Para calcular o coeficiente, aplicamos a seguinte fórmula:

Nº de casos novos de uma doença em um dado local e período


CI= × 10n
População do mesmo local e período

Então, podemos afirmar que o coeficiente de incidência é definido como a razão entre o
número de casos novos de uma doença e o número de uma população exposta vezes mil.

Exemplo:

Suponhamos que no ano de 2020 tenhamos tido um surto de dengue em uma determi-
nada cidade do interior do Rio de Janeiro, provocando muitas mortes, e que ao final do
ano esse número tenha abaixado consideravelmente. Então, podemos dizer que no ano
de 2020 tivemos alta incidência (número de casos novos) de casos de dengue.

Exemplo de cálculo:

Nº de casos
Local Ano População
diagnosticados

CIDADE X 60 2020 23.000

60
X 1.000=0,0026 X 1.000=2,60
23000

87
O que esse cálculo nos mostra?
Que na cidade X houve 2,60 casos novos da doença por mil habitantes no ano de 2020.

Qual é a importância em saber a incidência de uma doença em uma determinada


população?

Alta incidência significa elevado risco coletivo de adoecer, logo ela mede o risco/proba-
bilidade de uma determinada doença acontecer na população exposta, e, dessa forma,
podemos criar políticas públicas para que haja controle, diminuição ou até mesmo a
erradicação dessa doença.

E prevalência? O que é?

Prevalência também é uma medida de ocorrência de uma doença e refere-se ao total do


número de casos novos e antigos de uma doença em um determinado local e em um
certo tempo.

O coeficiente de prevalência – CP é valioso para o planejamento de ações de saúde em


razão do conhecimento do número de doentes existentes em uma comunidade específi-
ca (ROUQUAYROL; SILVA, 2018).

Apresentamos esta imagem para exemplificar incidência e prevalência em comunidades.

Doentes Doentes que


novos imigraram

Incidência

Número de Prevalência
casos

Cura
Óbitos

Doentes que
emigram
Fonte: Adaptada de Rouquayrol e Silva (2018).

88
Com essa imagem podemos compreender melhor o que são incidência e prevalência.

O que comporá a incidência?

• Doentes novos.
• Doentes que imigram (doentes que chegam de outros países).

E a prevalência?

• Doentes novos.
• Doentes que imigram.
• Doentes curados.
• Óbitos.
• Doentes que emigram (doentes que saem do país).

E como se calcula o coeficiente de prevalência?

Pela seguinte fórmula:

Nº de casos existentes de uma doença (novos+antigos)


em um determinado perído e local
CP= × 100.000
População do mesmo período e local

CP = número de casos existentes (novos +antigos) em um determinado período, em uma


área, dividido pela/população da área no mesmo período e multiplicado por cem mil.

Exemplo

Vamos a um exemplo: no dia 2/11/2020, tivemos os seguintes dados sobre a


covid-19 no Brasil:

5.554.206 de casos acumulados e uma população de risco de 210.000.000.

5.554.206
Prevalência de covid-19 no Brasil no dia 2/11/2020 = X 100.000
210.000.000

89
= 0,0264500 x 100.000
= 2.644,86
Então, temos 2.644,86 casos por 100.000 habitantes.

Da mesma forma como a incidência, saber a prevalência de uma doença em um determi-


nado local faz com que consigamos trabalhar com políticas de saúde para a prevenção,
o controle, ou até mesmo a erradicação de uma doença em um determinado local se
essa prevalência for significante.

Principais coeficientes em epidemiologia

Acabamos de conhecer um pouco mais sobre os coeficientes de incidência e preva-


lência. Agora, veremos os demais principais, que são os coeficientes: de mortalidade e
suas ramificações, índice ou razão de masculinidade, letalidade, geral de fecundidade e
de natalidade.

No entanto, como são realizados os principais cálculos?

Considere a tabela a seguir para exemplificar os cálculos (dados fictícios).

CIDADE FICTÍCIA

Ano
Especificação
2018

População total 10.200.000

População masculina 5.000.000

População feminina 5.200.000

Mulheres em idade fértil 3.640.700

População de nascidos vivos 300.000

População de menores de 1 ano 240.000

Total de óbitos 71.000

Óbitos de crianças entre 28 dias e < 1 ano 800

Óbitos de crianças menores de 1 ano 1.300

90
Óbitos masculinos 45.000

Óbitos maternos 340

Óbitos por câncer de próstata 300

Número de casos de câncer de próstata 1.150

1 – Coeficiente de mortalidade geral – CMG: calcula o risco de morte por todas as cau-
sas de toda a população e em um determinado período e local.

Total de óbitos registrado em um dado local e período


CMG = × 103
População do mesmo local e período

De acordo com a tabela, temos:

Total de óbitos 71.000

População total 10.200.000

71.000
CMG = × 103
10.200.000

CMG = 0,006960 x 1000

CMG = 6,96

Podemos calcular o CMG em dois anos diferentes de um determinado local para que
possamos compará-los. Vamos supor que fazendo isso você perceba que o CMG au-
mentou, então poderemos criar ações para que haja a diminuição do CMG, mas para isso
será necessário ampliar o foco para a causa do aumento do número do CMG.

2 – Coeficiente de mortalidade infantil – CMI: mede o risco de morte de menores de 1


ano em um dado local e período.

91
Nº de óbitos de menores de 1 ano em um dado local e período
CMI = × 103
Nº de nascidos vivos no mesmo local e período

Assim, de acordo com as informações da tabela:

Óbitos de crianças menores de 1 ano 1.300

População de nascidos vivos 300.000

1.300
CMI = × 103
300 000

CMI = 0,0043 X 1000

CMI = 4,33

3 – Coeficiente de mortalidade infantil tardia – CMIT: calcula o risco de morte de crian-


ças entre 28 dias e 1 ano em um dado local e período.

Nº de óbitos em crianças entre 28 dias e menores de 1 ano


em um dado local e período
CMIT = × 103
Nº de nascidos vivos no mesmo local e período

Considerando os dados da tabela:

Óbitos de crianças entre 28 dias e < 1 ano 800

População de nascidos vivos 300.000

92
800
CMIT = × 103
300 000

CMIT = 0,0026 X 1000

CMIT = 2,66

4 – Coeficiente de mortalidade materna – CMM: calcula o risco de morte materna (ges-


tação, parto ou puerpério) em um determinado local e período.

Nº de morte materna em um determinado local e período


CMM = × 105
Nº de nascidos vivos em um mesmo local e período

Dessa forma, de acordo com a tabela, temos:

Óbitos maternos 340

População de nascidos vivos 300.000

340
CMM = × 103
300 000

CMM = 0,001133 x 1000

CMM = 1,13

5 – Índice ou razão de masculinidade – RM: expressa a relação quantitativa


entre os sexos.

Nº de indivíduos do sexo masculino


RM = ×1000 (ou χ 100)
Nº de inivíduos do sexo feminino

93
Tendo como base as informações da tabela:

População masculina 5.000.000

População feminina 5.200.000

5.000.000
RM = × 1000 (ou χ 100)
5.200.000

RM = 0,961 x 100 = 96,1

6 – Coeficiente de letalidade – CL: mostra o risco que uma pessoa tem de morrer por
uma determinada doença.

Nº de óbitos de uma determinada doença em um determinado


local e período
CL = ×100
Nº de casos da doença no mesmo local e período

Utilizando os dados da tabela, temos que:

Óbitos por câncer de próstata 300

Número de casos de câncer de próstata 1.150

300
CL = × 100
1150

CL = 0,2608 x 100

CL = 26,08

7 – Coeficiente de mortalidade por causa – CMC: calcula o risco de morte por determi-
nada causa em um dado local e período.

94
Nº de óbitos por causa em determinado local e período
CMC = × 105
Nº de pessoas expostas no mesmo local e período

Considerando o exemplo, temos na tabela:

Óbitos por câncer de próstata 300

População masculina 5.000.000

300
CMC = × 105
5.000.000

CMC = 0,00006 x 100.000

CMC = 6

8 – Coeficiente geral de fecundidade – CGF: esse indicador mostra como está a condi-
ção reprodutiva das mulheres em idade fértil de um determinado local e período.

Nº de nascidos vivos em um determinado local e período


CGF = × 1000
População de mulheres de 15 a 49 anos no mesmo local e período

Tendo em vista as informações da tabela:

Mulheres em idade fértil 3.640.700

População de nascidos vivos 300.000

95
300.000
CGF = × 1.000
3.640.700

CGF = 0,0824 x 1.000

CGF = 82,40

9 – Coeficiente de natalidade – CN: mostra o número de nascidos vivos, ou seja, ex-


cluindo as crianças que nasceram mortas ou que morreram logo após o nascimento.
Representa a razão entre os nascidos vivos em um determinado local e período e a po-
pulação total da mesma área no mesmo período.

É importante calcular o coeficiente de natalidade porque, junto com o coeficiente de mor-


talidade, indica o desenvolvimento demográfico de um país, cidade etc. Países subdesen-
volvidos tendem a ter uma taxa de natalidade alta, e isso pode se dar devido à ineficiência
das políticas públicas naquele determinado local.

Nascidos vivos em determinada área e período


CN = × 1000
População total da mesma área e período

Considerando os dados da tabela, temos:

População de nascidos vivos 300.000

População total 10.200.000

300.000
CN = × 1.000
10.200.000

CN = 0,029 x 1000

CN = 29,41

96
Ampliando o foco

Expectativa de vida ao nascer entre 1940 a 1980 e em 2000:

68,55 anos em 1980 (homens: 59,62 anos; mulheres: 65,69 anos)

70,40 anos em 2000 (homens: 66,71 anos; mulheres: 74,29 anos)

74,79 anos em 2015 (homens: 71,13 anos; mulheres: 78,6 anos)

81,29 anos em 2050 (homens: 78,16 anos; mulheres: 84,54 anos)

Fonte: IBGE (2007).

Como podemos ver no exemplo, a estatística e a epidemiologia são campos da


ciência que têm grande contribuição no aumento da expectativa de vida. E por
quê? Porque com essas duas ciências é possível calcular, por exemplo, do que
a população mais adoeceu e quais são as principais causas de morte e realizar
ações relacionadas a prevenção, controle e diminuição de casos.

97
Transições e variáveis

Transições

Transição epidemiológica

O que é?

É toda mudança em padrões como morbidade, mortalidade, fecundidade e outras que


ocorrem em um determinado lugar. À medida que os países aumentam seus níveis de
desenvolvimento, podemos perceber uma mudança em todo o processo de adoecimen-
to e morte da população e, a esse processo, damos o nome de transição epidemiológica,
mudando, por exemplo, a expectativa de vida dessa população.

A tendência é que, conforme esses países elevem os níveis de desenvolvi-


mento social, econômico e demográfico, haja uma diminuição das taxas de
mortalidade por doenças infecciosas e parasitárias, por exemplo, em faixas
de idades de crianças e adolescentes, e um aumento das mortes por doenças
não transmissíveis.

Mudanças básicas observadas

Substituição das doenças transmissíveis por doenças não transmissíveis


1 (enfermidades do aparelho circulatório, neoplasias, diabetes e outras) e cau-
sas externas (acidentes e violência).

Deslocamento da carga de morbimortalidade dos grupos mais jovens para


2 os mais idosos.

Transformação de uma situação em que predomina a mortalidade para outra


3 na qual a morbidade é dominante.

98
Transição demográfica

São as alterações importantes no perfil da população (distribuição por idade e sexo), ou


seja, são as mudanças na composição etária em determinada área.

Veja algumas mudanças expressivas na composição etária no Brasil:


• Envelhecimento da população, indicando a redução da participação dos mais
jovens na estrutura etária
• Maior controle de natalidade.

E qual é o reflexo dessa mudança de composição etária?

Com a diminuição das taxas de natalidade e mortalidade, a população envelhece cada


vez mais e acaba por acontecerem mudanças expressivas na transição epidemiológica,
por exemplo, o aumento do peso dos mais idosos. Dessa forma, a mortalidade predo-
mina entre os mais idosos e suas principais causas são doenças referentes ao enve-
lhecimento. Com toda essa mudança, no SUS, por exemplo, temos que acompanhar
e começar a trabalhar mais com programas específicos para a saúde do idoso, treinar
profissionais, mudar o foco das ações de saúde. É um processo cada vez mais dinâmico.

Observe as pirâmides etárias a seguir:

Fonte: IBGE (2000).

99
Fonte: IBGE (2010).

Após a análise das pirâmides, quais informações podemos extrair?

1 – A população brasileira está envelhecendo ao longo dos anos.


2 – Houve um aumento expressivo do número de mulheres com mais de 70 anos.
3 – A base da pirâmide sofreu uma pequena reduzida.

Indicadores de transição demográfica

Um indicador importante na transição demográfica é a taxa média de crescimento


anual da população. O que essa taxa significa? A taxa de crescimento é um fator que
determina a magnitude das novas demandas a que um país deve atender. Isso quer dizer
que as políticas deverão se adaptar às novas necessidades de seu povo para infraestru-
tura (escolas, hospitais, habitação, estradas), recursos (alimentos, água, energia elétrica)
ou geração de emprego.

Variáveis

Variáveis epidemiológicas (epidemiologia descritiva)

As variáveis epidemiológicas são determinantes centrais envolvidas no processo saúde-


-doença das coletividades e elas respondem às perguntas:

100
Quem? Quando? Onde?

Quanto mais informações tivermos, mais conseguiremos definir um cenário em epidemio-


logia e, dessa forma, modelarmos o processo saúde-doença da população. Por isso é im-
portante e necessário sermos investigativos. Para tanto, podemos fazer perguntas como:

• Onde, quando e com quem ocorre determinado evento?


• Ocorre sempre em um mesmo período do ano?
• Acomete mais homens do que mulheres?
• Qual é a população que se enquadra como grupo de risco? Atinge mais idosos?
Mais crianças? Grávidas?
• As diferenças de riscos mudam levando em consideração determinada
classe social?
• Acomete mais uma região específica? Como é o clima dessa região?

Para ser possível responder a essas perguntas em um contexto real de pesquisa, preci-
samos conhecer mais sobre as variáveis relacionadas a tempo, pessoa e lugar. Vamos lá!

Quem? (pessoa)

Pessoas de diferentes etnias, idades, classes sociais etc.

101
Variáveis relacionadas à pessoa:

- Características gerais (ex.: gênero).


- Características familiares (ex.: morbidade familiar).
- Características étnicas (ex.: cultura).
- Nível socioeconômico (ex.: renda pessoal).
- Características endógenas, entre outras (ex.: estado de nutrição).

Quando? (tempo)

O calendário, um sistema de gerenciamento de tempo.

Dezembro Fevereiro JANEIRO | 20121 FEVEREIRO | 20121 MARÇO | 20121

JANEIRO | 2021

Domingo Segunda-feira Terça-feira Quarta-feira Quinta-feira Sexta-feira Sábado


ABRIL | 20121 MAIO | 20121 JUNHO | 20121

JULHO | 20121 AGOSTO | 20121 SETEMBRO | 20121

OUTUBRO | 20121 NOVEMBRO | 20121 DEZEMBRO | 20121

Variáveis relacionadas ao tempo:

• Intervalo de tempo (ex.: tempo de incubação).


• Intervalo cronológico (ex.: de 2010 a 2020).
• Período (ex.: no mês de janeiro).

102
Onde? (lugar)

Mundo. Em qual localização o evento está inserido?

Variáveis relacionadas ao lugar:

• Geograficamente (ex.: morro, planície, próximo a um rio etc.).


• Relacionado a água ou alimentos (ex.: saneamento básico ou não).

103
Epidemias, endemias e surtos — diferença
entre as ocorrências

Endemia

Endemia é qualquer doença especialmente localizada, temporalmente ilimitada, habitual-


mente presente entre os membros de uma população e cujo nível de incidência se situe
sistematicamente nos limites de uma faixa endêmica que foi previamente convenciona-
da para uma população e época determinadas (ROUQUAYROL; SILVA, 2018).

Então, é chamada de endemia a ocorrência de uma determinada doença que aparece


com frequência em um local específico, não se espalhando para outras áreas.

Exemplos de endemias: febre amarela na Amazônia, dengue em algumas regiões do


Brasil e aids em várias regiões da África.

Epidemia

Epidemia é a ocorrência de doença em grande número de pessoas ao mesmo tempo


(lato sensu). Em sentido restrito, pode ser considerada uma alteração, espacial e crono-
logicamente delimitada, do estado de saúde-doença de uma população, caracterizada
por uma elevação progressiva crescente, inesperada e descontrolada dos coeficientes
de incidência de determinada doença, ultrapassando e reiterando valores acima do limiar
epidêmico preestabelecido (conceito operativo) (ROUQUAYROL; SILVA, 2018).

Como epidemia, podem-se considerar surtos de determinada doença que não se espa-
lha para outros países, podendo ocorrer em alguns munícipios ou alguns estados.

Exemplos de epidemia: tuberculose, malária, febre amarela, aids.

Pandemia

Nome dado à ocorrência epidêmica caracterizada por larga distribuição espacial, atingin-
do várias nações (ROUQUAYROL; SILVA, 2018).

Exemplo: coronavírus, H1N1, gripe espanhola.

104
Um exemplo com gráficos de vários países acometidos pela pandemia causada pelo
coronavírus em 2020:

Surto

Surto é uma epidemia de proporções reduzidas, atingindo uma pequena comunidade hu-
mana. Muitos restringem o termo para o caso de instituições fechadas, enquanto outros
usam como sinônimo de epidemia (SCHMID, 1956).

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Exemplo: a dengue, em algumas cidades, pode ser tratada como surto por atingir, nesse
caso, um bairro específico.

Vigilância epidemiológica

A vigilância epidemiológica é definida pela Lei n° 8.080/1990 como:

[...] um conjunto de ações que proporciona o conhecimento, a detec-


ção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e
condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de re-
comendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças
ou agravos.

Como profissionais atuantes nessa área, faremos o controle de todas as doenças e cau-
sas de mortalidade de uma determinada região e proporemos ações no SUS, como:

• Redução do tabagismo (programa antitabagismo).


• Melhora na alimentação (programa nutricional com educação alimentar).
• Proposta de saneamento básico (para regiões que não tenham).
• Treinamentos profissionais.

Entre outras medidas, o que determinará as ações serão os estudos epidemiológicos


feitos em determinado local.

106
MIDIATECA

Para ampliar seu conhecimento veja o material complementar da Unidade 4,


disponível na midiateca.

NA PRÁTICA

Apresentamos um exemplo da aplicabilidade da vigilância epidemiológica na


pandemia do H1N1 em 2009.

A primeira etapa da vigilância epidemiológica foi detectar o aparecimento dos


primeiros casos da doença causada pelo vírus H1N1 no Brasil. Com a observa-
ção do aumento do número de casos, ficou claro que medidas de prevenção e
controle deveriam ser adotadas — e foram.

Este é um trecho do Protocolo de vigilância epidemiológica da influen-


za pandêmica (H1N1)2009: notificação, investigação e monitoramento, do
Ministério da Saúde:

MEDIDAS GERAIS DE PREVENÇÃO E CONTROLE DE SÍNDROME


RESPIRATÓRIA AGUDA

As medidas de prevenção e controle que devem ser adotadas, baseadas em


intervenções não farmacológicas, para reduzir o risco de adquirir ou transmi-
tir doenças agudas de transmissão respiratória, incluindo o vírus por influenza
pandêmica A (H1N1)2009, são:

• Higienizar as mãos com água e sabonete antes das refeições, antes de


tocar os olhos, boca e nariz e após tossir, espirrar ou usar o banheiro;
• Evitar tocar os olhos, nariz ou boca após contato com superfícies
contaminadas;

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• Proteger com lenços (preferencialmente descartáveis) boca e nariz, ao
tossir ou espirrar, para evitar disseminação de aerossóis;
• Indivíduos com síndrome gripal devem evitar contato com outras
pessoas suscetíveis;
• Indivíduos com síndrome gripal devem evitar aglomerações e ambientes
fechados;
• Manter os ambientes ventilados;
• Indivíduos que sejam casos suspeitos ou confirmados devem ficar em
repouso, utilizar alimentação balanceada e aumentar a ingestão de líquidos.

Essas medidas são exemplos da atuação da vigilância epidemiológica.

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Resumo da Unidade 4

Nesta unidade aprendemos sobre medidas de saúde coletiva, bem como a realizar os
cálculos dos principais coeficientes em epidemiologia. Além disso, entendemos como
é a dinâmica das transições epidemiológicas e demográficas. Aprendemos, também,
os principais conceitos em epidemiologia, como: epidemia, endemia, pandemia e surto.
Dessa forma, por meio dos conteúdos estudados, fortalecemos o entendimento acerca
da atuação da vigilância epidemiológica.

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Referências

BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos.


Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção,
proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços corres-
pondentes e dá outras providências. Brasília: Presidência da República, 19 set. 1990. Dis-
ponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8080.htm. Acesso em: 21 out. 2020.

IBGE. Censo demográfico 1950/2010. Estatísticas do Século XX. Rio de Janeiro:


IBGE, 2007.

OLIVEIRA, Anderson Silva. Transição demográfica, transição epidemiológica e enve-


lhecimento populacional no Brasil. Hygeia, v. 15, n. 31, p. 69-79, jun. 2019. Disponível
em: http://www.seer.ufu.br/index.php/hygeia/article/view/48614/27320. Acesso em:
27 out. 2020.

ROUQUAYROL, M. Z.; SILVA, M. G. C. Epidemiologia e Saúde. 8. ed. Rio de Janeiro:


Medbook, 2018. Capítulos 3 e 4.

SCHMID, A. W. GLOSSÁRIO DE EPIDEMIOLOGIA. Arquivos da Faculdade de Higie-


ne e Saúde Pública da Universidade de São Paulo, [S. l.], v. 10, n. 1-2, p. 1-20, 1956.
DOI: 10.11606/issn.2358-792X.v10i1-2p1-20. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/
afhsp/article/view/85426. Acesso em: 13 nov. 2020.

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