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Bioestatística e Epidemiologia
UNIDADE 1 - CONCEITOS ESSENCIAIS EM
BIOESTATÍSTICA: COMO E QUANDO
APLICÁ-LOS?
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Introdução
Caro (a) estudante, nesta unidade, vamos
abordar os principais conceitos em bioestatística
e como aplicá-los em diferentes casos. A
estatística é uma ciência amplamente utilizada
em diversas áreas de conhecimento – exatas,
humanas ou biológicas. Ela é essencial na
solução de questões investigativas. Por
exemplo, como medir a probabilidade de uma
doença estar se alastrando em uma população de milhões de habitantes? Não é
viável mensurar manualmente, coletando informações sobre cada um dos habitantes
daquele local, não é mesmo? Por isso, a estatística torna-se uma ferramenta-chave,
pois permite que dados sejam interpretados com confiança a partir de uma
determinada população e uma condição ou característica de interesse. Você
certamente já utilizou estatística em sua rotina ou se deparou com dados estatísticos
em diversas situações.
De fato, a estatística passou a ser um recurso multidisciplinar a partir do século XVII,
quando aplicada nas áreas de investigação científica da saúde pública, indústria e
comércio e para estudos demográficos. Já no século seguinte, XVIII, ela passou a ser
aplicada em estudos meteorológicos, antropométricos, econômicos, sociais e
biológicos.
Na grande área das ciências biológicas, a estatística empresta suas ferramentas para
a criação de uma subárea, chamada de bioestatística, utilizada para mensurar
diversos problemas das áreas de saúde e ciências biológicas. Vamos a alguns
exemplos da aplicação da bioestatística: como identificar efeitos colaterais de
determinado medicamento em humanos? Como avaliar se os dados obtidos em uma
pesquisa clínica são estatisticamente significantes ou não? É importante destacar que
para os dados serem válidos é necessário não só a estatística, mas outros meios,
principalmente o desenho experimental.
Além disso, a bioestatística é um dos pilares do rastreamento de doenças, permitindo
que informações sobre o nível de disseminação e contenção sejam avaliadas e
utilizadas para o estabelecimento de medidas de prevenção. Vamos começar?
Bons estudos!
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1Origem
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2
Natureza
3
Tamanho
Na maioria dos casos, é inviável analisar uma população completa dada sua complexidade e
número de elementos. Por isso, para análises estatísticas, uma amostra é retirada para gerar
um conjunto representativo. O processo de determinação da amostra é baseado em um plano
de amostragem, em que o tamanho amostral e as características de interesse são previamente
definidos para assegurar se, de fato, aquele conjunto será válido para representar a população
geral (VIEIRA, 2008; BALDI; MOORE, 2014). Observe, a seguir, um exemplo do que seria a
amostragem.
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#PraCegoVer: imagem traz um diagrama com três círculos concêntricos. O círculo maior é
identificado com população geral; o do meio, com população-alvo; e o menor é identificado
como amostra.
Observe que uma amostra é selecionada a partir de uma população-alvo, que, por sua vez, faz
parte de uma população geral. Podemos associar esse tipo de amostragem considerando como
exemplo a população de uma cidade como sendo a população geral, as pessoas diabéticas
dessa população como a população-alvo, e, por fim, a seleção de algumas pessoas diabéticas
para determinado estudo como sendo a amostra.
Em pesquisas clínicas é importante que a amostra considere não apenas a variável de
interesse, mas também outros fatores que podem influenciar os resultados (BALDI; MOORE,
2014; LOPES et al., 2014). Continuando com nosso exemplo sobre sintomas de uma doença
em diferentes grupos etários, neste caso, é preciso considerar se os pacientes possuem outras
condições que podem influenciar os sintomas, como doenças crônicas.
Você o conhece?
Pierre Charles Alexandre Louis (1787-1872) é considerado o
pai da bioestatística, uma vez que foi um dos primeiros
pesquisadores a aplicar métodos estatísticos em pesquisas
clínicas. Formou-se em medicina e foi um notável
pesquisador, com trabalhos embasados em estatística,
inspirando gerações de estudiosos (HADAD FILHO, 2020).
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Outro ponto muito importante é estabelecer um grupo controle. O grupo controle terá as
mesmas características da população, mas não será submetido ao teste de interesse. Uma das
formas de obter um grupo controle é a utilização de placebo. Você sabe o que isso significa?
Interessante, não é mesmo? Vale destacar que de acordo com a resolução nº 466/2012, que
rege a pesquisa científica com seres humanos no Brasil, há diversas restrições e critérios éticos
quanto ao uso de placebos em pesquisas clínicas. A regulação permite que sejam utilizados
medicamentos comprovadamente eficazes e seguros frente à comparação com o novo
medicamento, mas, casos em que não há medicamentos ou procedimentos em uso para o
referido uso clínico, é liberado o teste com grupo controle utilizando placebo (BRASIL, 2012).
Por conveniência
Intencional
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Aleatória simples
Sistemática
Estratificada
Por aglomerados
Multiestágios
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Agora, vamos compreender conceitos que influenciam no cálculo do tamanho amostral e são
essenciais em bioestatística, como medidas de dispersão, tendência, cálculo de erro e nível de
confiança.
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isso, o estabelecimento prévio do tamanho adequado de uma amostra é parte essencial para
um estudo em bioestatística, evitando que sejam coletados dados exageradamente ou dados
sem uma representatividade suficiente.
Além disso, a representação dos dados é um dos conceitos mais importantes em análises
estatísticas, visto que auxilia na interpretação dos resultados de modo mais rápido. Vamos
aprender sobre o cálculo do tamanho das amostras em diferentes condições e as ferramentas
de visualização e análise de dados.
#PraCegoVer: imagem traz três pinos nas cores verde, vermelho e azul. Eles estão sob folhas
de papel contendo gráficos com barra verticais. Uma lupa foca os três pinos, destacando-os na
imagem.
Nos conceitos iniciais, vimos que a amostra deve ser representativa da população geral. Mas
como garantir que isso aconteça? Podemos utilizar cálculos estatísticos para estabelecer o
número de elementos necessários para que a amostra seja válida estatisticamente. Assim,
evita-se que sejam coletadas amostras muito grandes, o que pode gerar desperdício de
recursos, ou muito pequenas, gerando problemas como resultados não representativos da
realidade.
Em uma análise de uma população temos dois cenários: populações finitas e infinitas. As
populações infinitas são aquelas muito grandes, em que seria impossível quantificar
exatamente. Já as finitas são aquelas que representam valores menores, de até 5% da
população geral. Os testes de tamanho amostral devem considerar dois parâmetros: se está
sendo testada a média populacional ou a proporção populacional.
A média populacional (µ) testa parâmetros que envolvem toda uma população, ao passo que
os testes com a proporção populacional (p) envolvem apenas uma parcela (ANDRADE;
OGLIARE, 2013; BUSSAB; MORETTIN, 2006). Para o cálculo do tamanho da amostra infinita,
em testes de média populacional, temos:
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Observe que no gráfico A temos um histograma em formato de sino, ao passo que no gráfico B
não temos esse padrão. O que isso nos diz? No gráfico A, a maioria dos elementos amostrais
estão distribuídos próximos às médias, ou seja, há uma maior frequência de indivíduos com
valores próximos à média que se agrupam na região central do gráfico, e uma menor frequência
de indivíduos em valores mais distantes da média que se espalham nas extremidades do
gráfico.
Já no gráfico B, a maioria dos indivíduos está agrupado nos valores iniciais, mais distantes dos
valores centrais da média. Aqui temos dois conceitos a destacar: o gráfico A mostra um
histograma de distribuição normal, e o gráfico B de distribuição não normal (LOPES et al.,
2014).
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Observe atentamente o gráfico a seguir. Estão representativos os valores esperados para uma
distribuição normal, em que a maioria dos valores (68.2%) se concentra ao redor da média (μ),
e os demais se espalham nas extremidades, considerando a dispersão do desvio-padrão ( ).
#PraCegoVer: gráfico traz uma curva, de cor vermelha, formada por sete pontos do eixo
horizontal. A área formada por essa curva está destacada na cor laranja. Três valores de
porcentagem estão marcados no gráfico, na área acima da curva.
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Cabe destacar que os histogramas são apenas uma das formas de representar a distribuição
de uma amostra. Em alguns casos são necessários testes estatísticos específicos para
determinar se a amostra segue ou não uma distribuição normal. Por exemplo, em amostras
muito amplas, torna-se necessária a aplicação de um teorema, chamado de Limite Central, para
análise da normalidade da distribuição, ao passo que em amostras muito pequenas, pode-se
utilizar outros testes, como Shapiro-Wilk (LOPES et al.,2014; ANDRADE; OGLIARE, 2013;
BUSSAB; MORETTIN, 2006).
Em bioestatística, a distribuição normal, simétrica, é muito importante para validação dos
dados. Além da distribuição amostral e métricas estatísticas principais, as variáveis também são
conceitos essenciais em bioestatística e em alguns estudos podem existir milhares delas.
Vamos compreender um pouco melhor sobre isso no próximo tópico. Acompanhe!
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Uma variável é definida como uma característica de interesse que está sendo monitorada em
determinado estudo. Ela é um parâmetro estatístico que pode variar entre os diferentes
elementos da amostra e população. De modo geral, a variável de um estudo é aquilo que está
submetido à variância, ou seja, que se altera em condições determinadas.
As variáveis representam características e podem ser medidas em termos quantitativos ou
qualitativos. As variáveis quantitativas são aquelas que podem ser representadas
numericamente; também são chamadas de variáveis numéricas. Elas podem ser expressas em
unidades matemáticas de medida. Por outro lado, nem todas as características podem ser
expressas em termos numéricos, e essas variáveis são chamadas de qualitativas ou
categóricas, pois expressam uma qualidade da amostra/população ou uma categoria (VIEIRA,
2008).
As variáveis numéricas ainda podem ser do tipo discretas ou contínuas. No primeiro caso,
são as variáveis que podem assumir valores únicos, inteiros, finito ou infinito, e costumam
refletir contagens (PAGANO; GAUVREAU, 2006). Já nas variáveis contínuas, os valores estão
contidos em escalas e podem ser fracionários. São exemplos de variáveis contínuas: peso,
tempo, idade, medidas de distância, entre outras métricas dependentes de instrumentos.
As variáveis qualitativas são classificadas em nominais e ordinais. Nas nominais, a
ordenação é ausente ou não importante, ao passo que nas ordinais, uma ordem é necessária e
influencia a variável (PAGANO; GAUVREAU, 2006). Como exemplos de variável categórica
nominal, podemos citar cor da pele, presença ou ausência de características – como sardas ou
pintas, nacionalidade, logradouro, entre outros. Já como exemplos das ordinais, podemos citar
graduações de coloração (claro, escuro), meses e níveis (1º, 2º, 3º). Veja um resumo dos tipos
de variáveis e suas subdivisões.
#PraCegoVer: diagrama traz a palavra “variável”, que se divide em dois itens: numérica
(quantitativa) e categórica (qualitativa). O item “numérica (quantitativa) se divide em dois outros
itens: contínua e discreta; e “categórica (qualitativa)” também se divide em dois outros itens:
nominal e ordinal.
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Os gráficos de barra e coluna são utilizados majoritariamente para ilustrar variáveis distintas,
de modo quantitativo. Todavia, nem sempre representam unicamente variáveis numéricas. No
exemplo trazido na imagem, temos uma medida de efeitos colaterais, em que as variáveis
qualitativas nominais são os sintomas apresentados, contrastados com o número de pessoas
coletadas que apresentaram tal sintoma. Os mesmos dados no gráfico de pizza mostram uma
noção de proporção, em que concluímos rapidamente que a maior parte dos indivíduos não
teve sintomas.
Já os gráficos de linha são mais indicados para ilustrar variáveis numéricas discretas ou
contínuas, pois indicam uma sequência de acontecimentos, em que a variável passa a crescer
ou diminuir. O mesmo ocorre para o gráfico de área, uma alternativa de representar os dados
de linha, com maior destaque para a área formada pela sequência avaliada. Por fim, o gráfico
de dispersão utiliza-se duas variáveis contrastantes, quantitativas, para identificar relações
entre elas (MOORE, 2005).
Você sabia?
É possível atribuir graduações de valores a variáveis qualitativas,
para que elas possam ser quantificadas e representadas
graficamente. Esse método é chamado de atribuição de
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Vimos neste tópico conceitos básicos e essências para uma análise em bioestatística, sobre a
determinação da amostra, os cálculos principais de dispersão e tendências, variabilidade,
distribuição amostral, variáveis e principais representações gráficas. A seguir, vamos aprender
um elemento muito importante para validar os dados obtidos em estudos e pesquisas: o valor-p.
Vamos lá!
1.4 Valor-
p
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#PraCegoVer: infográfico ilustrado tem como título “método científico” e traz, no lado esquerdo,
dois personagens, um masculino e um feminino, vestidos de jaleco, com lupas nas mãos e com
balão de fala escrito “por quê?”; no lado direito, há um fluxograma indicando as etapas da
pesquisa: observação, questionamento, hipóteses, experimentação, análises e conclusão.
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Caso
O estudo de um novo medicamento para enxaqueca considerou
200 participantes: metade tomou o novo medicamento
(ENXAKILL), e outra metade, outro comprimido já em uso no
mercado (FREEENXAQ). O objetivo era observar se havia uma
melhora significativa no grupo ENXAKILL. Ao realizar os testes,
foi verificado uma distribuição normal, e o valor de p calculado
em 0,1. Um dos pesquisadores afirmou categoricamente que o
medicamento não tinha efeito contra enxaqueca, pois o valor de
p estava superior a 0,05.
Rapidamente, o bioestatístico o corrigiu, dizendo que aquilo não
poderia ser afirmado, pois o que havia sido observado é que
cerca de 10% do grupo FREENXAQ poderia apresentar a
mesma melhora observada em quem tomou ENXAQUIL, mas
havia um problema na pesquisa: não havia um grupo controle,
sem ingestão de medicamentos, assim, não era possível saber
se as melhoras observadas eram de fato referente aos
medicamentos. Com isso, uma nova coleta foi desenhada para
atender aos parâmetros estatísticos necessários.
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O valor-p estará presente na maioria dos estudos envolvendo as ciências biológicas, sendo
considerado uma das métricas mais importantes em bioestatística. Por isso, sua compreensão
é essencial, pois certamente os profissionais em saúde irão se deparar com esse valor ao
analisar ou elaborar um estudo.
Vamos Praticar!
As ferramentas estatísticas são essenciais para a pesquisa clínica e
para todas as áreas do conhecimento. Pode meio delas, pode-se obter
dados numéricos e confiáveis acerca de estudos e hipóteses. Vamos
considerar a seguinte situação: você está trabalhando em um
laboratório de pesquisa clínica e é responsável pelas análises do teste-
piloto. Sua função é fornecer os relatórios contendo as medidas de
tendência central e de dispersão, e um gráfico representativo desses
dados. A pesquisa envolve o uso de óleo essencial de Jojoba
(Simmondsia chinensis) no crescimento de cabelo. Para isso, foram
utilizados camundongos geneticamente modificados para apresentarem
um fenótipo de redução de pelo. Você recebe os seguintes dados, já
tabulados pelo técnico responsável pela coleta de dados.
Tabela 1 – Dados do uso do óleo essencial de Jojoba
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Conclusão
Assim, finalizamos nossa unidade sobre os principais conceitos
em bioestatística, em que pudemos conhecer ferramentas
essenciais para a metodologia científica e pesquisa clínica. Ao
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Referências
ANDRADE, D. F; OGLIARI, P.J. Estatística para as ciências
agrárias e biológicas: com noções de experimentação.
Florianópolis: Editora da UFSC, 2013.
BALDI, B.; MOORE, D. S. A prática da estatística nas
ciências da vida. 2. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2014. E-Book.
BRASIL. Conselho Nacional de Saúde. Resolução nº 466, de 12 de dezembro de
2012. Brasília, DF: Conselho Nacional de Saúde, 2012. Disponível em:
https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/cns/2013/res0466_12_12_2012.html
(https://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/cns/2013/res0466_12_12_2012.html).
Acesso em: 19 nov. 2020.
BUSSAB, W. O; MORETTIN, P. A. Estatística Básica. 5. ed. São Paulo: Editora
Saraiva, 2006.
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