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BIOESTATÍSTICA

E EPIDEMIOLOGIA

ENSINO A
DISTÂNCIA
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca do Centro Universitário Avantis - UNIAVAN
Maria Helena Mafioletti Sampaio CRB 14 – 276

Sties, Sabrina.
S855b Bioestatística e epidemiologia. /EAD/ [Caderno pedagógico].
Sabrina Sties. Balneário Camboriú: Faculdade Avantis, 2020.
94 p. il.

Inclui Índice
ISBN: 978-65-87252-04-9
ISBNe: 978-65-87252-03-2

1. Bioestatística. 2. Saúde - Estatísticas. 3. Epidemiologia –


Processo saúde-doença. 4. Vigilância e saúde. 5. Bioestatística
– Ensino a Distância. I. Centro Universitário Avantis - UNIAVAN. II.
Título.

CDD 21ª ed.


570.15195 – Bioestatística e epidemiologia.
PLANO DE ESTUDO

EMENTA DA DISCIPLINA

Conceitos básicos de bioestatística. Coleta de dados em populações e amostras. Ti-


pos de amostragem. Variáveis qualitativas e quantitativas. Razão e proporção. Medidas
de tendência central e medidas de variação e dispersão. Probabilidade. Distribuição pa-
ramétrica e não paramétrica. Noções de testes de hipótese. Conceitos básicos de epide-
miologia. Processo saúde-doença. Modelos explicativos do processo saúde-doença. Indi-
cadores de saúde. Vigilância à saúde. Frequência e distribuição das doenças: epidemia e
endemia. Epidemiologia das doenças infecciosas e das doenças não-infecciosas.

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

Compreender os conceitos básicos de bioestatística e sua aplicação em populações e


amostras. Conhecer os tipos de amostragem, variáveis qualitativas e quantitativas. Com-
preender razão e proporção, saber diferenciar e utilizar as medidas de tendência central e
medidas de dispersão. Conhecer aspectos relacionados à probabilidade e testes paramé-
tricos e não paramétricos. Compreender a de epidemiologia e o processo saúde-doença.
APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA

Olá, Aluno(a)! Seja bem-vindo (a) a disciplina de Bioestatística e Epidemiologia.


A Bioestatística é uma área da ciência estatística que tem como objetivo determinar
um conjunto de métodos para obter, organizar, apresentar, analisar e interpretar os da-
dos de pesquisas que envolvem a área da saúde para então, estabelecer conclusões com
base nesses dados.
Esta disciplina tem um papel relevante para os profissionais da área da saúde pois, a
utilização da bioestatística é necessária para verificar informações relacionadas à saúde,
as quais são importantes para promover ações para a assistência em saúde.
Adicionalmente, enquanto a prática clínica é voltada para a prevenção e tratamento
das doenças, a epidemiologia preocupa-se com os fatores que influenciam na incidência
e prevalência das doenças na população.
Desta forma, na primeira unidade desta disciplina serão abordados os conceitos bási-
cos de bioestatística, os métodos para coleta de dados considerando os conceitos e técni-
cas relacionados à população e amostra. Serão descritos também os aspectos relaciona-
dos as variáveis qualitativas e quantitativas.
Na unidade II, vamos conhecer as medidas de tendência central e medidas de varia-
ção e dispersão assim como, cálculos de probabilidade, distribuição paramétrica e não
paramétrica e, noções de testes de hipótese. Na unidade III serão descritos os conceitos
básicos de epidemiologia, o processo saúde-doença e modelos explicativos do processo
saúde-doença. E na última unidade vamos conhecer e compreender os conceitos e ca-
racterísticas dos indicadores de saúde, vigilância à saúde e epidemiologia das doenças.
E aí, vamos iniciar a nossa disciplina?
Bons estudos!
PROFESSORA

APRESENTAÇÃO DO AUTOR

SABRINA STIES

Caro acadêmico (a), bem-vindo (a) a disciplina de Bioestatística


e Epidemiologia. Sou a Professora Sabrina, possuo Graduação em
Fisioterapia pela Universidade do Vale do Itajaí (2007), Especializa-
ção em Fisioterapia Cardiorrespiratória pela Universidade Tuiuti do
Paraná (2008), Licenciatura em Ciências Biológicas pela Faculdade
Avantis (2017), Mestrado (2013) e Doutorado (2016) em Ciências do
Movimento Humano pela Universidade Estadual de Santa Catarina.
Sou membro da Brigada de incêndio, da Comissão Interna de Pre-
venção de Acidentes – CIPA e do Comitê de Biossegurança da Faculdade Avantis. Tenho
experiência como Docente dos Cursos de Educação Física Bacharelado e Licenciatura,
Fisioterapia e Odontologia e em cursos de Pós-graduação. Sou coordenadora do curso de
Fisioterapia da UNIAVAN.

E-mail: sabrina.sties@uniavan.edu.br
Endereço para acessar este CV: http://lattes.cnpq.br/1247690965577240
SUMÁRIO

UNIDADE 1 - INTRODUÇÃO A BIOESTATÍSTICA.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11


1 INTRODUÇÃO A UNIDADE I...................................................................................................................................12
2. COLETA DE DADOS: AMOSTRAS E POPULAÇÃO ...................................................................................12
2.1 AMOSTRA E POPULAÇÃO..................................................................................................................................14
2.1.1 Amostragem........................................................................................................................................................................16
2.1.1.1 Tipos de amostragem.......................................................................................................................................17
2.1.1.1.1 Amostragem probabilística ...............................................................................................................17
2.1.1.1.1 1 Aleatória ........................................................................................................................................................18
2.1.1.1.1.2 Aleatória simples....................................................................................................................................18
2.1.1.1.1.3 Sistemática ................................................................................................................................................18
2.1.1.1.1.4 Estratificada ...............................................................................................................................................18
2.1.1.1.1.5 Por conglomerado.................................................................................................................................19
2.1.1.1.2 Amostragem não probabilística .................................................................................................20
2.1.1.1.2.1 De conveniência....................................................................................................................................20
2.1.1.1.2.2 Por julgamento ....................................................................................................................................21
2.1.1.1.2 3 Por cotas......................................................................................................................................................21
2.1.1.1.2.4 Amostragem em múltiplos estágios ....................................................................................21
2.1.2 Erros amostrais .............................................................................................................................................................22
3. VARIÁVEIS QUALITATIVAS E QUANTITATIVAS...........................................................................................23
3.1 VARIÁVEIS QUALITATIVAS ................................................................................................................................23
3.2 VARIÁVEIS QUANTITATIVAS.............................................................................................................................24
3.2.1 Variáveis quantitativas discretas.....................................................................................................................24
3.2.2 Variáveis quantitativas contínuas..................................................................................................................24
4. TIPOS DE ESTUDOS...............................................................................................................................................25
4.1 ESTUDO OBSERVACIONAL...............................................................................................................................25
4.2 ESTUDO EXPERIMENTAL .................................................................................................................................25
4.3 EXPERIMENTO CEGO ........................................................................................................................................ 26
4.4 ESTUDOS DE CASO.............................................................................................................................................27
4.5 ESTUDO RETROSPECTIVO ..............................................................................................................................27
4.6 ESTUDO PROSPECTIVO (OU LONGITUDINAL OU DE COORTE)....................................................27
CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................................................................28
EXERCÍCIOS DE REVISÃO DE CONTEÚDO...................................................................................................... 29
REFERÊNCIAS................................................................................................................................................................ 30

UNIDADE 2 - MEDIDAS DE TENDÊNCIA CENTRAL E MEDIDAS DE DISPER-


SÃO. PROBABILIDADE, RAZÃO E PROPORÇÃO. TESTES PARAMÉTRICOS E
NÃO PARAMÉTRICOS.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
1. INTRODUÇÃO A UNIDADE II...............................................................................................................................32
2. MEDIDAS DE TENDÊNCIA CENTRAL ............................................................................................................32
2.1. MÉDIA.........................................................................................................................................................................32
2.2 MEDIANA.................................................................................................................................................................. 34
2.3 MODA..........................................................................................................................................................................37
3. MEDIDAS DE DISPERSÃO ..................................................................................................................................37
3.1 AMPLITUDE.............................................................................................................................................................. 38
3.2 VARIÂNCIA............................................................................................................................................................... 38
3.3 DESVIO...................................................................................................................................................................... 39
3.4 DESVIO PADRÃO.................................................................................................................................................. 39
4. PROBABILIDADE..................................................................................................................................................... 40
4.1 EXPERIMENTO ALEATÓRIO.............................................................................................................................. 40
4.2 ESPAÇO AMOSTRAL (S).....................................................................................................................................41
4.3 EVENTO.......................................................................................................................................................................41
5. RAZÃO E PROPORÇÃO.........................................................................................................................................42
5.1 RAZÃO.........................................................................................................................................................................42
5.2 PROPORÇÃO.......................................................................................................................................................... 43
6. DISTRIBUIÇÃO PARAMÉTRICA E NÃO PARAMÉTRICA ...................................................................... 43
6.1 TESTES PARAMÉTRICOS.................................................................................................................................. 43
6.2 TESTES NÃO PARAMÉTRICOS...................................................................................................................... 44
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................................................................ 46
EXERCÍCIOS DE REVISÃO DE CONTEÚDO.......................................................................................................47
REFERÊNCIAS................................................................................................................................................................ 48

UNIDADE 3 - EPIDEMIOLOGIA E PROCESSO SAÚDE-DOENÇA.. . . . . . . . . . . . . . . . . 49


1. INTRODUÇÃO A UNIDADE III............................................................................................................................. 50
2. CONCEITOS BÁSICOS DE EPIDEMIOLOGIA............................................................................................... 50
2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS.....................................................................................................................................52
2.2 EPIDEMIOLOGIA NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE.............................................................................. 53
2.3 O QUE É SAÚDE.................................................................................................................................................... 53
2.4 O QUE É DOENÇA................................................................................................................................................ 54
2.5 PROCESSO SAÚDE-DOENÇA......................................................................................................................... 55
2.6 MODELOS EXPLICATIVOS DO PROCESSO SAÚDE-DOENÇA........................................................ 56
2.6.1 Teoria mística/religiosa...........................................................................................................................................56
2.6.2 Teoria Miasmas.............................................................................................................................................................56
2.6.3 Teoria Unicausal...........................................................................................................................................................56
2.6.4 Teoria Multicausal....................................................................................................................................................... 57
2.6.5 Teoria da determinação social do processo saúde-doença.................................................... 57
3 INDICADORES DE SAÚDE .................................................................................................................................. 58
3.1 MORBIDADE ........................................................................................................................................................... 59
3.2 INCIDÊNCIA ........................................................................................................................................................... 59
3.3 PREVALÊNCIA........................................................................................................................................................60
3.4 INDICADORES BÁSICOS PARA A SAÚDE NO BRASIL ..................................................................... 61
3.4.1 Taxa bruta de mortalidade.....................................................................................................................................61
3.4.2 Taxa de mortalidade infantil ..............................................................................................................................62
3.4.3 Mortalidade proporcional por grupos de causas.............................................................................63
3.4.4 Proporção de internações hospitalares (SUS) por grupos de causas.............................64
3.4.5 Incidência de sarampo...........................................................................................................................................65
3.4.6 Taxa de prevalência de diabete melito......................................................................................................65
3.4.7 Esperança/expectativa de vida ao nascer.............................................................................................66
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................................................................ 68
EXERCÍCIOS DE REVISÃO DE CONTEÚDO...................................................................................................... 68
REFERÊNCIAS.................................................................................................................................................................70

UNIDADE 4 - VIGILÂNCIA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
1 INTRODUÇÃO A UNIDADE IV...............................................................................................................................74
2 VIGILÂNCIA EM SAÚDE.........................................................................................................................................74
2.1 VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA.......................................................................................................................77
2.1.1 Vigilância epidemiológica de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT)............... 78
2.1.2 Vigilância epidemiológica de doenças transmissíveis (VEDT).................................................81
2.1.3 Notificação compulsória..........................................................................................................................................81
2.1.4 Vigilância sentinela.....................................................................................................................................................84
2.1.3 Laboratórios......................................................................................................................................................................85
2.1.4 Notificação de surtos e epidemias.................................................................................................................85
2.1.5 Sistema de Informação de Internação Hospitalar (SIHSUS) ....................................................85
2.1.6 Sistema de Informação de Mortalidade (SIM)......................................................................................86
2.1.7 Dados demográficos, ambientais e socioeconômicos..................................................................86
2.2 VIGILÂNCIA EM SAÚDE AMBIENTAL (VSA)............................................................................................87
2.3 VIGILÂNCIA SANITÁRIA.................................................................................................................................... 88
2.4 VIGILÂNCIA DO TRABALHADOR.................................................................................................................. 88
CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................................................................90
EXERCÍCIOS DE REVISÃO DE CONTEÚDO......................................................................................................90
REFERÊNCIAS.................................................................................................................................................................92
1
unidade

INTRODUÇÃO A
BIOESTATÍSTICA
1 INTRODUÇÃO A UNIDADE I

Para podermos obter informações e desenvolver ações de saúde são necessários os


resultados das pesquisas, que irão direcionar condutas tanto para a prevenção quanto
para o tratamento de doenças e agravos assim como tornar possível o entendimento dos
fatores que influenciam o processo de saúde e doença.
Porém, para isto é importante conhecer os aspectos básicos que envolvem a seleção da
população, da amostra, assim como, os métodos e técnicas para obtenção destes dados.
Você sabe o que são os dados de uma pesquisa?
Os dados de uma pesquisa são o conjunto de observações ou informações, como as
medidas. Os dados podem ser qualitativos ou quantitativos. A estatística é dividida em
estatística descritiva, inferencial e probabilística. A Descritiva é utilizada para realizar a
apresentação e descrição de dados, a inferencial utiliza os dados da estatística descritiva
para sua interpretação (para estimativa ou hipótese de resultados) e a probabilística é
utilizada para verificar a probabilidade de um evento acontecer e o seu grau de incerteza.
Portanto, nesta unidade você irá verificar os conceitos relacionados à população e
amostra, tipos de amostragem probabilística e não probabilística, variáveis qualitativas
e quantitativas.

Ao final desta unidade você deverá apresentar os seguintes aprendizados:


• Conhecer e compreender os aspectos relacionados à população, amostra e tipos
de amostragem
• Conhecer e compreender as características das variáveis qualitativas e quantita-
tivas.

2. COLETA DE DADOS: AMOSTRAS E POPULAÇÃO

Para realizar pesquisas são coletados dados de uma pequena parte de um determina-
do grupo para podermos verificar algo sobre um grupo maior.

Você sabe o que são dados de uma pesquisa?


Os dados de uma pesquisa são o conjunto de observações ou informações, como as
medidas. Os dados podem ser qualitativos ou quantitativos. Os qualitativos represen-
tam as características, qualidade ou atributos do item que é pesquisado, ou seja, estes

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BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
dados não são representados por números. Por exemplo, um indivíduo pode relatar que
sua qualidade de vida é ruim, boa ou excelente. Por outro lado, os dados quantitativos
representam o item ou característica assumindo valores numéricos. Os dados quantitati-
vos podem ainda ser divididos em discretos ou contínuos.
Os dados quantitativos discretos representam valores dentro de um conjunto com os
números. Por exemplo, em uma clínica de dermatologia, foi verificado o número de pa-
cientes que realizou aplicação de toxina botulínica em 100 mulheres que foram divididas
em 5 grupos conforme a faixa etária. Neste caso, temos os seguintes resultados: 1, 12, 24,
8, 3 e 2. Estes dados são apresentados na tabela 1.
Tabela 1. Número de mulheres que realizaram a aplicação de toxina botulínica, dividi-
das por grupos conforme a faixa etária.

Grupos Mulheres que realizaram a aplicação de toxina botulínica


1 1
2 12
3 24
4 8
5 3
6 2
Fonte: Própria autora.

Desta forma, a variável número de mulheres representa valores discretos, isto é, intei-
ros: 1, 12, 24, 8, 3 e 2.

Os dados quantitativos contínuos representam uma medida que é expressa por um


intervalo contínuo de números, número reais, inteiros ou não. Por exemplo, são dados
contínuos os que envolvem idade, peso e altura.
Verifique a tabela a seguir que expressa a altura dos indivíduos que participaram de
uma pesquisa:

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BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
Tabela 2. Altura dos indivíduos participantes da pesquisa.

Indivíduo Altura (m)


1 1,63
2 1,74
3 1,90
4 1,85
5 1,79
6 1,62

Fonte: Própria autora.

Portanto, as características mensuráveis que representam valores em uma escala con-


tínua, para as quais valores fracionados fazem sentido são dados contínuos.

2.1 AMOSTRA E POPULAÇÃO

A estatística nos auxilia a conhecer ou entender os dados de um grande grupo pela


análise de dados de alguns indivíduos. Por isso, é importante você compreender e saber
diferenciar os termos amostra e população.
Ao realizarmos uma pesquisa, queremos encontrar resultados que se apliquem a uma
população de pessoas ou objetos. Por exemplo, um pesquisador tem como objetivo ana-
lisar os processos patológicos que ocorrem nos humanos ou verificar os processos que
ocorrem em determinadas células ou tecidos do corpo humano. A população que será
pesquisada pode ser geral (todos os seres humanos) ou muito pequena (menor número
de indivíduos). Desta forma, os dados referentes a um pequeno subconjunto de uma po-
pulação são chamados de amostra. Estes dados (da amostra) podem servir para inferir
algo sobre toda a população.
Então, quando não possuímos acesso à população inteira (todos os indivíduos), coleta-
mos pequenas amostras (pequena parte da população) para usar o comportamento destas
amostras para inferir algo sobre o comportamento da população. Portanto, quanto maior
for o tamanho da amostra, maior será a probabilidade de ela refletir a população inteira.
Porém, caso sejam pesquisadas diversas amostras da população ao acaso, cada amos-
tra destas irá apresentar resultados diferentes. Em contrapartida, em média, resultados
de grandes amostras serão similares.

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BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
Definições dos termos amostra e população:

Verifique a representação de amostra e população na figura 1. A amostra representa


uma parte (subcoleção) de uma população e a população é o conjunto de todos os indi-
víduos.

Figura 1: Amostra e população.


Fonte: Shutterstock (2019).
https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/sample-population-statistics-research-survey-metho-
dology-688050838

Exemplo: Em um hospital, são atendidos 2000 pacientes, porém, não é possível en-
trevistar todos os indivíduos. Então, para realizar a pesquisa são selecionados aleatoria-
mente 500 pacientes para responder um questionário sobre o uso de álcool. Neste caso,
a população consiste em todos os 2000 indivíduos e a amostra consiste nos 500 indiví-
duos que serão entrevistados. O objetivo da pesquisa é utilizar o uso dos dados amostrais
como base para chegar a um resultado sobre a população de todos os indivíduos.

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BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
Figura 2: População: número total de pacientes (coleção). Amostra: uma parte dos pacientes (subcoleção).
Fonte: Shutterstock (2019).
https://www.shutterstock.com/pt/image-illustration/pie-chart-people-on-white-background-705661267

Assim, concluímos que população é um grupo de indivíduos, de células, tecidos, ou


objetos que apresentam ao menos uma característica em comum e a amostra é parte des-
ta população. No exemplo acima, todos os indivíduos apresentam como característica
comum, serem pacientes do mesmo hospital.
Ao realizar uma pesquisa ou ao consultar resultados de uma pesquisa tome cuidado
pois, conclusões sobre uma população não devem ser baseadas em amostras muito pe-
quenas. Por exemplo: ao realizar uma pesquisa você selecionou mulheres que residem
em um estado da região sul do Brasil. Após a pesquisa, você relata que a prática de exer-
cícios duas vezes por semana, durante duas semanas, sem qualquer modificação adicio-
nal no plano alimentar, foi capaz de promover redução significativa do índice de massa
corporal em 75% das mulheres obesas. Este resultado é surpreendente, porém, foi decor-
rente da amostra de apenas 4 mulheres, algo que representa um número muito pequeno.
Desta forma, não é possível obter conclusões sobre uma população quando a amostra é
muito pequena.

2.1.1 Amostragem

Quando os indivíduos ou objetos de uma amostra são escolhidos para um estudo es-
tamos selecionando uma amostragem.

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BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
Figura 3: Amostragem: processo de colher amostra de uma população.
Fonte: Shutterstock (2019).
https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/business-marketing-social-research-process-sam-
pling-555604561

Compreender os diferentes tipos de amostragem e suas características é algo impor-


tante para os profissionais da área saúde pois, irá auxiliar no desenvolvimento de pesqui-
sas e também na administração de clínicas e consultórios. Para isso, é necessário saber
qual o tipo de amostragem é mais indicado para que os dados obtidos possam refletir de
maneira real a investigação.

2.1.1.1 Tipos de amostragem

Os métodos de amostragem podem ser classificados em: probabilísticos ou não pro-


babilísticos.

2.1.1.1.1 Amostragem probabilística

Na amostragem probabilística todos os elementos ou indivíduos da população tem a


mesma chance/probabilidade de fazer parte da amostra, ou seja, tem probabilidade fixa e
maior que zero. Este tipo de amostragem visa a imparcialidade do pesquisador na seleção
da amostra.
Dentre as amostragens probabilísticas podemos citar a amostragem aleatória, aleató-
ria simples, sistemática, estratificada e por conglomerado.

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BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
2.1.1.1.1 1 Aleatória

Na amostragem aleatória, cada elemento ou indivíduo da população apresenta a mes-


ma chance de ser selecionado. Geralmente, para esta seleção são utilizados programas de
computador para gerar números aleatórios e sistema de sorteio.

2.1.1.1.1.2 Aleatória simples

Na amostragem aleatória simples, a amostra de n sujeitos é escolhida de maneira que


cada possível amostra, de mesmo tamanho n, apresente a mesma chance de ser selecio-
nada. Este tipo de amostragem é mais forte pois exige além da seleção de sujeitos para
que cada um tenha a mesma chance de ser selecionado, resultará em uma amostra alea-
tória simples, porque toda amostra possível tem, a mesma chance de ser escolhida.
Exemplo: Você gera uma amostra aleatória de pacientes, no computador, utilizando
o número da cédula de identidade dos indivíduos de forma que cada amostra de mesmo
tamanho tenha a mesma chance de ser escolhida.

2.1.1.1.1.3 Sistemática

A amostragem sistemática é utilizada quando os elementos estão ordenados de forma


organizada, em fila, lista e aleatória. Neste tipo, é escolhido algum ponto inicial e, após,
seleciona-se cada k-ésimo, por exemplo, 50º elemento da população. Os elementos são
escolhidos a partir de um fator que se repete.
Exemplo: A cada 100 pacientes atendidos, um é entrevistado para verificar sua satis-
fação com o atendimento.

2.1.1.1.1.4 Estratificada

A amostragem estratificada é utilizada quando a população pode ser dividida em sub-


grupos, chamados de estratos. Os indivíduos do mesmo subgrupo devem compartilhar

18
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
as mesmas características, após, é escolhida uma amostra de cada subgrupo.
Exemplo: Uma comunidade universitária com 3000 acadêmicos da área da saúde está
estratificada da seguinte forma:

Estrato População Amostra


Acadêmicos do curso de nutrição 500 50
Acadêmicos do curso de biomedicina 450 45
Acadêmicos do curso de fisioterapia 400 40
Acadêmicos do curso de enfermagem 500 50
Acadêmicos do curso de medicina 350 35
Acadêmicos do curso de odontologia 250 25

Acadêmicos do curso de educação física 550 55


Quadro 1. Comunidade universitária conforme o curso de graduação.
Fonte: Própria autora.

2.1.1.1.1.5 Por conglomerado

Neste tipo de amostragem a população é dividida em conglomerados (seções). Após,


aleatoriamente alguns destes conglomerados são selecionados e, são escolhidos todos os
membros destes conglomerados.
Exemplo: A população do Brasil é dividida em conglomerados, na figura 4, cada cor re-
presenta um conglomerado, dentre os conglomerados são selecionados aleatoriamente
apenas dois, e destes dois conglomerados são escolhidos todos os indivíduos que fazem
parte (residem) destes conglomerados.

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BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
Figura 4. Amostragem por conglomerado.
Adaptada: Shutterstock (2019).
https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/polygonal-map-brazil-297067946

É necessário diferenciar a amostragem estratificada e a amostragem por conglome-


rado. Apesar dos dois tipos contemplarem a formação de subgrupos, a amostragem por
conglomerado utiliza todos os elementos/indivíduos de uma amostra de conglomera-
dos, porém, a amostragem estratificada utiliza uma amostra de elementos/indivíduos de
todos os estratos.

2.1.1.1.2 Amostragem não probabilística

A amostragem não probabilística é decidida por elementos não aleatórios, ou seja,


a seleção da amostra é realizada conforme o julgamento do pesquisador. A escolha dos
elementos para compor a amostra é indicada.

2.1.1.1.2.1 De conveniência

Na amostragem de conveniência são utilizados resultados fáceis de serem obtidos. A


escolha da amostra ocorre a partir de elementos que estão ao alcance do pesquisador.
Este método é apenas utilizado conhecer os dados iniciais para realizar uma pesquisa
visto que esta amostragem não representa verdadeiro valor estatístico.
Exemplo: Você entrevistar os indivíduos que estão passando na rua.

20
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
2.1.1.1.2.2 Por julgamento

A amostragem por julgamento também é chamada de intencional. Neste caso um pro-


fissional ou pesquisador que apresenta experiência no assunto seleciona intencional-
mente os elementos a serem amostrados.
Exemplo: Você atende um grupo de pacientes de ambos os sexos, porém você selecio-
na apenas os indivíduos do sexo feminino.

2.1.1.1.2 3 Por cotas

Dentre as amostragens não probabilísticas, a amostragem por cotas tem maior rigor.
Inicialmente a população é classificada, é determinada a proporção da população para
cada grupo, são fixadas cotas conforme a proporção dos grupos considerados. Este tipo é
utilizado quando não há informações suficientes da população que possibilite o sorteio
para a amostragem aleatória, no entanto, apresenta informação mínima sobre o perfil da
população.
A fixação das cotas deve garantir que a amostra da população seja representativa.
Exemplo: Inicialmente você faz uma análise dos pacientes que são atendidos na sua
clínica: quantos indivíduos são do sexo masculino e quantos são de sexo feminino. Após,
você seleciona o número de pessoas que corresponde a proporcionalidade de cada um
desses grupos. Desta forma, terá uma amostragem representativa de cada um dos grupos.

2.1.1.1.2.4 Amostragem em múltiplos estágios

Quando utilizamos uma combinação dos métodos de amostragem chamamos de


amostragem em múltiplos estágios. Neste tipo de método uma amostra é selecionada em
diferentes estágios, sendo que cada um destes utiliza métodos de amostragem distintos.
Exemplo: cada conglomerado representa uma turma de um curso de graduação, você
faz uma seleção aleatória de conglomerados (de turmas), para que não seja necessário
entrevistar todos os acadêmicos de todas as turmas, você pode escolher aleatoriamente 2
homens e 2 mulheres em cada conglomerado (turma) escolhido. Desta forma, inicia com
amostragem por conglomerado e finaliza com amostragem estratificada.

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BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
Figura 5. Amostragem em múltiplos estágios.
Adaptada: Shutterstock (2019).
https://www.shutterstock.com/pt/image-vector/school-education-isometric-3d-set-pupils-760078453

Agora que você já conhece os tipos de amostragens, verifique o resumo na figura 6,


que traz a classificação dos tipos de amostragens probabilísticas e não probabilísticas.

Figura 6. Tipos de amostragens probabilísticas e não probabilísticas.


Fonte: Própria autora.

2.1.2 Erros amostrais

Quando utilizamos os métodos da bioestatística, há possibilidade do resultado estar


errado (erro amostral), mesmo utilizando as técnicas corretas e indicadas. O erro amos-
tral ocorre quando a amostra é selecionada de forma aleatória, porém apresenta dife-

22
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
rença entre o resultado amostral e o resultado real da população. Os erros amostrais são
decorrentes das oscilações amostrais derivadas do acaso.
Exemplo: 200 pacientes são selecionados aleatoriamente, são questionados quanto a
ingestão de alimentos gordurosos, a porcentagem amostral de respostas “sim” é anotada.
Caso seja escolhida aleatoriamente outra amostra de 200 pacientes, é possível que haja
uma porcentagem amostral diferente de respostas “sim”.

SAIBA MAIS
Sobre determinação do tamanho da amostra em pesquisas experimentais na
área de saúde, acesse:
https://nepas.emnuvens.com.br/amabc/article/view/301/282

3. VARIÁVEIS QUALITATIVAS E QUANTITATIVAS

Para que seja possível compreender um fenômeno que temos interesse precisamos
contextualizá-lo. Os conceitos podem ser subjetivos como a qualidade de vida ou objeti-
vos como a medida da pressão arterial ou da glicemia.
Quando este conceito pode ser mensurado, ele é chamado de variável, porque varia,
ou seja, pode assumir valores diferentes, dependendo da pessoa ou paciente (idade, sexo,
doença que apresenta), do tipo de intervenção ou tratamento, do tempo, entre outros.
Também, pode ser verificado como um conceito tem relação com outro conceito. Por
exemplo: como o número de cigarros consumidos ao longo dos anos está relacionado
com o câncer de pulmão.
As variáveis podem ser classificadas em qualitativas ou quantitativas.

3.1 VARIÁVEIS QUALITATIVAS

As variáveis qualitativas representam características que não podem ser medidas ou


calculadas. Por exemplo: a satisfação com o serviço de atendimento pode ser ruim, boa,
excelente.

23
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
Variáveis qualitativas nominais - não há ordem entre as categorias.
Exemplos: cor dos cabelos, etilista/não estilista, pele seca/pele normal.
Variáveis qualitativas ordinais – apresentam uma ordem entre as categorias.
Exemplos: fase do curso (1ª fase, 2ª fase, 3ª fase....), nível de risco (1,2,3,4...).

3.2 VARIÁVEIS QUANTITATIVAS

As variáveis quantitativas representam características mensuráveis, ou seja, atributos


que podem ser calculados (números). Por exemplo: número de pacientes com determina-
da doença, idade, altura, peso entre outros.

3.2.1 Variáveis quantitativas discretas

As variáveis discretas apresentam características mensuráveis que podem assumir so-


mente um número finito ou infinito, apenas em valores inteiros.
Exemplos: número de enfermeiros, número de bactérias por litro de água, número de
frutas consumidas por dia.

3.2.2 Variáveis quantitativas contínuas

As variáveis contínuas apresentam atributos mensuráveis que assumem valores em


uma escala contínua, assim, são admitidos valores fracionais.
Exemplos: altura, índice de massa corporal, perimetria.

SAIBA MAIS SOBRE:


Métodos qualitativos e quantitativos na área da saúde: definições, diferenças
e seus objetos de pesquisa. Acesse: https://www.scielosp.org/scielo.php?pi-
d=S0034-89102005000300025&script=sci_arttext&tlng=en

24
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
4. TIPOS DE ESTUDOS

Os métodos estatísticos são utilizados conforme os dados são coletados, para isto, são
frequentemente utilizados estudos observacionais ou experimentais.

4.1 ESTUDO OBSERVACIONAL

Em um estudo observacional são observadas e mensuradas características específicas,


sem que haja intervenção. Por exemplo: Você fará um estudo com o objetivo de verificar o
tempo de crescimento de determinada planta e as características das fases de crescimento
desta planta. Não serão realizadas intervenções, como tratamento com pesticidas ou alte-
ração genética da planta. Portanto, este estudo é caracterizado como observacional.

Figura 7: Estudo observacional.


Fonte: Shutterstock (2019).
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/young-farmers-corn-plantations-female-resear-
chers-1296692560

4.2 ESTUDO EXPERIMENTAL

Nos estudos experimentais ocorre algum tratamento ou intervenção e são observados


seus efeitos sobre a amostra. Neste tipo de estudo determina-se um objeto ou indivíduo
e são selecionadas as variáveis que são capazes de influenciá-lo. Por exemplo, um estudo
no qual o pesquisador irá realizar a modificação genética de uma planta para que ela seja

25
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
mais resistente ao ataque de pragas e, irá observar as varáveis que podem influenciar esta
planta e comparar com as plantas que não foram alteradas geneticamente, é considerado
um estudo experimental.

Figura 8: Estudo experimental.


Fonte: Shutterstock (2019).
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/experimental-research-analysis-laboratory-632151401

4.3 EXPERIMENTO CEGO

Neste tipo de estudo o indivíduo/participante não é informado se está recebendo um


tratamento ou um placebo (substância sem propriedades farmacológicas). Estes expe-
rimentos possibilitam verificar se o efeito do tratamento é diferente do efeito placebo
(imaginário).
Quando o paciente, e também o pesquisador não sabem quais são os indivíduos que
estão em tratamento ou utilizando placebo chamamos de experimento duplo cego ou de
dupla ocultação.
Exemplo: é realizada uma pesquisa para verificar o efeito da testosterona injetável na
força muscular de indivíduos adultos, os sujeitos que recebem a injeção não sabem se es-
tão recebendo a testosterona ou um placebo (soro) e os enfermeiros que estão aplicando
as injeções e verificando os resultados também não sabem. Apenas um terceiro pesquisa-
dor tem conhecimento sobre os códigos dos pacientes e das injeções. Então, este estudo
é considerado duplo cego.

26
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
4.4 ESTUDOS DE CASO

O estudo de caso é um método verificar as variáveis de que influenciam um sujeito.


Este tipo de estudo auxilia na compreensão dos fenômenos individuais.

4.5 ESTUDO RETROSPECTIVO

No estudo retrospectivo os dados são analisados a partir de avaliações realizadas no


passado, a coleta de informações é registrada por meio de exames, fotos, ou instrumen-
tos utilizados anteriormente.

4.6 ESTUDO PROSPECTIVO (OU LONGITUDINAL OU DE COORTE)

Neste tipo de estudo, os dados de grupos (chamados coortes) que compartilham fato-
res em comum são coletados no futuro.

SAIBA MAIS
Sobre o documento: Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade no Sistema Úni-
co de Saúde, o item 2, Epidemiologia no âmbito do SUS. Nesse item são abordados
os modelos de atenção à saúde no Brasil e a transição epidemiológica no Brasil.
REIS, R. S. Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade no Sistema Único de Saúde. São Luís:
EDUFMA, 2017. Disponível em: https://ares.unasus.gov.br/acervo/handle/ARES/9070.

27
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
SUGESTÃO DE LIVRO
A melhor forma de se obter uma amostra representa-
tiva é realizar um procedimento aleatório para a seleção
dos indivíduos. Faça a leitura do livro, Bioestatística: princípios e
aplicações, de autoria de CALLEGARI-JACQUES, capítulo 16, intitulado:
Principais procedimentos de amostragem.
CALLEGARI-JACQUES, S. M. Bioestatística: princípios e aplicações.
Porto Alegre: Artmed, 2007.

FÓRUM
Acesse o unimestre e participe do fórum desta unidade. Verifique o texto
abaixo e descreva qual o tipo de amostragem foi utilizado, e quais são as caracte-
rísticas deste tipo de amostragem.
Em sua clínica há 10.000 prontuários de pacientes. Você quer uma amostra de 500 pacientes,
ou seja, 5% ou um a cada 20 indivíduos da população. O ponto de partida será um prontuário
selecionado aleatoriamente dentre os primeiros 20, por exemplo o de número 9. O próximo que
será retirado é o 29º, o seguinte o 49º, etc.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta unidade você pode verificar como é relevante escolher o método correto para
realizar a coleta de dados e assim como realizar a adequada seleção dos indivíduos con-
forme os objetivos de cada pesquisa.
Compreender os diferentes tipos de amostragem e suas características é essencial
para os profissionais da área saúde tanto para obter informações no dia a dia como para
realizar novas descobertas no âmbito da saúde.
Lembre-se que para realizar uma pesquisa ou ao consultar resultados de uma pesqui-
sa, devemos levar em consideração o tamanho da amostra, pois as conclusões sobre uma
população não devem ser baseadas em amostras muito pequenas.

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BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
Agora, teste seus conhecimentos, responda aos exercícios de revisão e até a próxima
Unidade!

EXERCÍCIOS DE REVISÃO DE CONTEÚDO

1. Os dados de uma pesquisa são o conjunto de observações ou informações. Estes


dados podem ser qualitativos ou quantitativos.
Verifique as asserções abaixo e assinale a alternativa correta:

I. Os dados qualitativos representam as características, qualidade ou atributos do


item que é pesquisado.
II. Os dados quantitativos não são representados por números.
III. Os dados quantitativos representam o item ou característica assumindo valores
numéricos.
IV. Os dados quantitativos discretos representam valores dentro de um conjunto com
os números.

Está correto apenas o que se afirma em:


A. I, III e IV
B. I e II
C. III e IV
D. I e III
E. I

2. Quando os indivíduos ou objetos de uma amostra são escolhidos para um estudo


estamos selecionando uma amostragem. Verifique as asserções abaixo e assinale a alter-
nativa correta:

I. Na amostragem probabilística todos os elementos ou indivíduos da população


tem a mesma chance/probabilidade de fazer parte da amostra
II. Na amostragem aleatória, cada elemento ou indivíduo da população apresenta a
mesma chance de ser selecionado. Geralmente, para esta seleção são utilizados
programas de computador para gerar números aleatórios e sistema de sorteio.
III. Na amostragem aleatória simples, a amostra de n sujeitos é escolhida de maneira
que cada possível amostra, de mesmo tamanho n, apresente a mesma chance de
ser selecionada.

29
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
IV. A amostragem não probabilística é utilizada quando os elementos estão ordena-
dos de forma organizada, em fila, lista e aleatória. Neste tipo, é escolhido algum
ponto inicial e, após, seleciona-se cada k-ésimo, por exemplo, 50º elemento da
população. Os elementos são escolhidos a partir de um fator que se repete.

Está correto apenas o que se afirma em:


A. I e II
B. III e IV
C. I, II e III
D. I
E. II

3. Você irá realizar uma pesquisa com os pacientes que frequentam a sua clínica. Você
sabe que pacientes de ambos os sexos são atendidos em seu estabelecimento. Para reali-
zar esta pesquisa você opta por selecionar apenas os indivíduos do sexo feminino. Este
tipo de amostragem é chamado de:
A. Amostragem por conglomerado
B. Amostragem estratificada
C. Amostragem por julgamento
D. Amostragem por cotas
E. Amostragem por conveniência

REFERÊNCIAS

CALLEGARI-JACQUES, S. M. Bioestatística: princípios e aplicações. Porto Alegre: Art-


med, 2007.

DANCEY, C. P. Estatística sem matemática para as ciências da saúde. Porto Alegre:


Penso, 2017.

FIELD, A. Descobrindo a estatística usando o SPSS. Porto Alegre: Artmed, 2009.

GLANTZ, S. A. Princípios de bioestatística. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014.

PARENTI, T. Biostatística. Porto Alegre: SAGAH, 2017.

ROSNER, B. Fundamentos de bioestatística. São Paulo: Cengage Learning, 2016.

TRIOLA, M. F. Introdução à estatística. 12. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2017.

30
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
2
unidade
MEDIDAS DE TENDÊNCIA
CENTRAL E MEDIDAS
DE DISPERSÃO.
PROBABILIDADE, RAZÃO
E PROPORÇÃO. TESTES
PARAMÉTRICOS E NÃO
PARAMÉTRICOS.

31
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
1. INTRODUÇÃO A UNIDADE II

Olá, Aluno (a)! Seja bem-vindo (a) ao segundo capítulo da disciplina.


A estatística auxilia os profissionais da saúde na análise dos dados para que possam
testar as hipóteses estatísticas, identificar a força da evidência clínica e verificar se exis-
tem associações entre grupos ou as características dos fenômenos de interesse.
Por meio das análises estatísticas, é possível trazer informações para os pacientes,
clientes e gestores de saúde.
Neste contexto, a estatística descritiva é uma ferramenta para a descrever os dados
através de números ou medidas que podem representar de forma mais adequada os da-
dos coletados em uma pesquisa.
Na estatística descritiva podemos utilizar as medidas de tendência central e de dispersão.
Portanto, serão abordadas a seguir os conceitos e particularidades das medidas de
tendência central, das medidas de dispersão, probabilidade, razão e proporção e os testes
de hipóteses paramétricos e não paramétricos.
Ao final desta unidade você deverá apresentar os seguintes aprendizados:
• Conhecer e compreender os aspectos relacionados às medidas de tendência cen-
tral e medidas de dispersão;
• Compreender os conceitos relacionados a probabilidade, razão e proporção;
• Saber diferenciar os testes paramétricos e não paramétricos.

2. MEDIDAS DE TENDÊNCIA CENTRAL

As medidas de tendência central configuram-se como uma maneira de representar


um conjunto de dados utilizando somente um número. E são utilizadas para calcular va-
riáveis quantitativas.
As medidas de tendência central mais utilizadas são: média, mediana e moda.

2.1. MÉDIA

A média é calculada através da soma de todos os números/ valores que compõem os


dados de uma amostra seguida da divisão deste valor (da soma) pelo número de valores.

32
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
Por exemplo:
Em uma pesquisa você tem 5 pacientes, cada criança apresenta uma idade diferente
(conforme o quadro a seguir), para obter a média de idade das crianças você precisa somar
todas as idades (soma = 34) e dividir pelo número de crianças (número de crianças = 5).

Paciente Idade
João 5
Maria 7
José 8
Pedro 10
Letícia 4
Quadro 2: Idade das crianças.
Fonte: Própria autora.

Figura 9: Crianças.
Fonte: Shutterstock (2019).
https://www.shutterstock.com/pt/image-photo/childhood-motion-happiness-concept-happy-litt-
le-1573291411

Portanto:

Figura 10: Média de idade.


Fonte: Própria autora.

A média é representada por e a fórmula para cálculo é

33
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
Sendo que, representa a soma dos números, e o total de valores somados.

No quadro a seguir, estão representados os índices de massa corporal (IMC) dos indi-
víduos participantes de uma pesquisa:

Participantes da pesquisa Índice de massa corporal (IMC)


Indivíduo 1 1 18,5
Indivíduo 2 24
Indivíduo 3 25
Indivíduo 4 30
Quadro 3: índice de massa corporal dos participantes da pesquisa.
Fonte: Própria autora.

Figura 11: Índices de massa corporal.


Adaptada: Shutterstock (2019).
https://www.shutterstock.com/pt/download/confirm/750150418?src=xwuC1s85h_eFCFc5rUmH-
4g-1-4&size=huge_jpg

Para obter a média do IMC dos participantes da pesquisa você precisa somar todos os va-
lores e dividir pelo número de indivíduos. Então, qual é a média do IMC destes indivíduos?

2.2 MEDIANA

A mediana é utilizada para verificar o valor central da distribuição dos dados. Para
isso, é necessário colocar os valores em ordem crescente ou decrescente, pois o valor cen-
tral (mediana) divide a distribuição ao meio, portanto, a metade dos valores será menor
ou igual a mediana e a outra metade terá valores maiores ou iguais a mediana.
Vamos utilizar o seguinte exemplo: em uma pesquisa os indivíduos adultos apresen-
tam idade conforme o quadro a seguir:

34
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
Indivíduos Idade
Indivíduo 1 21
Indivíduo 2 32
Indivíduo 3 44
Indivíduo 4 25
Indivíduo 5 33
Indivíduo 6 42
Indivíduo 7 50
Indivíduo 8 56
Indivíduo 9 20
Quadro 4: Idade dos indivíduos.
Fonte: Própria autora

Para identificar a mediana desta amostra, devemos iniciar reorganizando em ordem


crescente ou decrescente:

Desta forma, a mediana é igual a 33, e é possível perceber que a metade dos valores é
menor ou igual a mediana e a outra metade apresenta valor maior ou igual a mediana.
A mediana, quando a amostra apresenta número ímpar, é calculada pela fórmula:

Portanto, quando possuímos número ímpar, é fácil determinar a mediana, basta iden-
tificar o valor central. Porém, quando o número da amostra é par, torna-se necessário
somar os dois valores centrais e calcular destes dois valores centrais.
Vamos utilizar o seguinte exemplo: em uma pesquisa os indivíduos apresentam dife-
rentes níveis de glicemia conforme o quadro a seguir:

35
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
Indivíduos Nível de glicemia
Indivíduo 1 65
Indivíduo 2 70
Indivíduo 3 104
Indivíduo 4 220
Indivíduo 5 110
Indivíduo 6 80
Indivíduo 7 99
Indivíduo 8 100
Quadro 5: Nível de glicemia dos indivíduos.
Fonte: Própria autora.

Então, organizando o conjunto temos:


220, 110, 104, 100, 99, 80, 70, 65

Os números 100 e 99 são os valores centrais, que devem ser somados e divididos por 2.
100+99 / 2 99,5

Assim, a mediana dos dois valores centrais é: 99,5.


A mediana, quanto a amostra apresenta número par, é calculada pela fórmula:

Vamos a mais um exemplo, em uma pesquisa após realizar um teste, foi verificada a
distância percorrida de 5 sujeitos.

Indivíduos Distância percorrida


Indivíduo 1 650 metros
Indivíduo 2 450 metros
Indivíduo 3 300 metros
Indivíduo 4 220 metros
Indivíduo 5 520 metros
Quadro 6: Nível de glicemia dos indivíduos.
Fonte: Própria autora.

36
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
Qual é a mediana da distância percorrida?

2.3 MODA

Para verificar a moda, não é necessário utilizar fórmulas pois basta identificar qual é o
valor/número que aparece com maior frequência.
Por exemplo, após fazer a correção das provas dos alunos o professor tem o seguinte
conjunto de números: 6,0; 5,0; 7,5; 8,0; 7,5; 9,0. Assim, analisando os valores, a moda é
7,5, visto que foi o número que apareceu com maior frequência.
Você deve estar pensando, e como identificamos a moda quando há mais de um nú-
mero repetido que aparece com a mesma frequência. Bom, se tivermos 2 valores que se
repetem com a mesma frequência, teremos duas modas, ou seja, será bimodal. Se tiver-
mos 3 valores com a mesma frequência será trimodal, se tivermos diversas modas será
multimodal.
Exemplo: 6,0; 5,0; 7,5; 8,0; 7,5; 9,0, 5,0; 4,5; 45 3 modas = trimodal, percebemos
que tanto a nota 5,0 quanto a 7,5 e a 4,5 se repetem o mesmo número de vezes.
No entanto, se tivermos as seguintes notas: 6,0; 5,0; 7,5; 8,0; 9,0, não há valores re-
petidos, ou seja, não há nenhum valor mais frequente, desta forma, não possui moda, a
distribuição é amodal.

SAIBA MAIS
Saiba mais, faça a leitura do artigo: Medidas de tendência central: onde a
maior parte dos indivíduos se encontra?
Os autores abordam as medidas de tendência central (MTC) e trazem exemplos fáceis de
compreender.

3. MEDIDAS DE DISPERSÃO

As medidas de dispersão são utilizadas para verificar o grau de variação dos números
de um conjunto com relação à sua média, mediana ou moda. Essas medidas possibilitam

37
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
observar a homogeneidade ou heterogeneidade dos dados. Podemos dizer que as medi-
das de dispersão servem para analisar a distância dos números de um conjunto.

3.1 AMPLITUDE

A amplitude de um conjunto, é caracterizada pela diferença entre o maior valor desse


conjunto e o menor. Para encontrar a amplitude de um conjunto de valores, é necessário
subtrair o menor valor pelo maior valor. Portanto, amplitude (a) = valor máximo – valor
mínimo a= xmáx - xmín
Por exemplo, são realizados 4 testes de habilidade com um sujeito, nesses testes
ele recebe as seguintes pontuações: 9,6,7,8.
Então: a= xmáx - xmín a= 9–6 a=3

Agora, se outro sujeito apresenta nos testes de habilidade as seguintes pontuações:


14,12,15,17, qual é a amplitude?

3.2 VARIÂNCIA

Considerando um conjunto de dados, a variância é uma medida que demonstra a dis-


tância que cada valor desse conjunto está em relação ao valor central, ou seja, em relação à
média. Portanto, quanto menor for a variância, mais próximos os valores estarão da média,
em contrapartida, quanto maior for a variância, mais distantes os valores estarão da média.
Para realizar o cálculo da variância populacional é necessário obter a soma dos qua-
drados da diferença entre cada valor e a média aritmética, e então dividir pela quantidade
de elementos observados.
Por exemplo: há 4 pontuações de um sujeito referente a um teste de equilíbrio,
7,8,9,10,13 sendo a média destes valores = 9,4.

+ 1,08

Caso você queira verificar a variância amostral, deve fazer a divisão pela quantidade
de elementos subtraída de um (– 1).

38
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
3.3 DESVIO

O desvio é identificado pela diferença entre um dos números de um conjunto e a mé-


dia do conjunto. Desta forma, cada número de um conjunto apresenta um desvio, sendo
que esse resultado pode ser diferente conforme o número que for considerado.
Verifique, por exemplo, o resultado do cálculo dos desvios nas pontuações dos 4 testes
de aptidão física realizados com um sujeito, sabendo que a média foi 5,0:

d1 = 6,0 – 5,0 = 1,0

d2 = 5,0 – 5,0 = 0

d3 = 5,0 – 5,0 = 0

d4 = 7,0 – 5,0 = 2,0

3.4 DESVIO PADRÃO

O desvio padrão (dp) é verificado junto à média aritmética, demonstra o quanto o con-
junto de dados é uniforme. O desvio padrão é identificado pela raiz quadrada da variância
dp = √var
Se o dp é baixo demonstra que os dados do conjunto estão mais próximos da média.
Para calcular o desvio padrão utiliza-se a seguinte fórmula:

39
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
Por exemplo, antes de uma corrida é verificada a frequência cardíaca de 3 corredores.

Indivíduos Frequência cardíaca


Indivíduo 1 75
Indivíduo 2 80
Indivíduo 3 83
Quadro 7: Frequência cardíaca dos indivíduos.
Fonte: Própria autora.
MA = 79,33

Então:

Aplicar número imaginário (i) a fórmula


DP = 1.26

4. PROBABILIDADE

Para realizar as pesquisas utilizamos as probabilidades. A probabilidade é utilizada


para determinar as chances de ocorrência de um evento.
A distribuição de frequências é uma ferramenta que permite avaliar a variabilidade de
um fenômeno aleatório. Por meio dessas frequências é possível calcular medidas como
mediana, média, desvio padrão entre outras. As frequências e medidas calculadas através
dos dados são estimativas de quantidades desconhecidas. Assim, as frequências (relati-
vas) são estimativas de probabilidades de ocorrer certos eventos de interesse.

4.1 EXPERIMENTO ALEATÓRIO

Um experimento aleatório ocorre quando as ocorrências têm possibilidade de apre-


sentar resultados diferentes. O exemplo mais clássico, é quando lançamos uma moeda
com faces diferentes. Não podemos prever o resultado desse lançamento, pois pode ficar
para cima tanto a face cara quanto a face coroa.

40
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
4.2 ESPAÇO AMOSTRAL (S)

O espaço amostral verifica as possibilidades de resultados possíveis ocorrerem. Desta


forma, ao lançar uma moeda possuímos apenas duas respostas possíveis, então o con-
junto do espaço amostral é representado por:

4.3 EVENTO

Quando falamos de probabilidade, um evento é considerado a ocorrência de um fato


ou situação. Utilizando ainda o exemplo da moeda, ao lançar essa moeda você está esta-
belecendo a ocorrência do evento. Portanto, os subconjuntos do espaço amostral devem
ser considerados como um evento. Se você lançar uma moeda 4 vezes, pode obter como
resultados do evento o seguinte conjunto:

Esse evento é considerado o subconjunto do espaço amostral e para representar isso


utilizamos:

SAIBA MAIS
Acesse o artigo “Probabilidade risco ou chance?” das autoras Luciana Neves
Nunes, Suzi Alves Camey e entenda os aspectos relacionados a probabilidade,
risco relativo, chance e razão de chances. É frequente a procura dos profissionais da saúde
por informações provenientes de análises de dados, porém, nem sempre essas são claras e de
fáceis de interpretar. Este artigo aborda os conceitos e termos estatísticos comumente presen-
tes em artigos científicos. Clique aqui: http://apps.einstein.br/revista/arquivos/PDF/1508-EC_
v7n4p175-6.pdf

41
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
5. RAZÃO E PROPORÇÃO

Para que você possa entender a teoria das probabilidades, que possibilita verificar a
frequência de ocorrer um fenômeno específico, é importante você compreender as gran-
dezas, razão e proporção para calcular essa frequência.

5.1 RAZÃO

A razão é utilizada para podermos fazer a comparação relativa entre duas grandezas.
Quando dividimos uma grandeza por outra, estamos fazendo a comparação da primeira
com a segunda. Por exemplo, se a área de uma região do corpo mede 50 cm² e a área de
outra região do corpo mede 100 cm², ao calcularmos a razão das áreas, teremos:

50/100 = 5/10= 0,5

Podemos dizer então que estamos calculando o quanto a área menor representa da
área maior, ou seja, a área menor representa 0,5, ou 50%, da área maior.
Se tivermos dois números reais representados por a e b, sendo b diferente de zero,
denominados de razão entre a e b ao quociente a/b = К
Verifique que К é um número real, a (numerador) chamamos de antecedente, e b (de-
nominador) de consequente dessa razão (então, “a está para b”). A razão К se refere ao
valor do número a quando comparado ao número b.
Exemplo: Uma clínica apresenta 800 m² de área construída e 1000 m² de área livre. A
razão da área construída para a área livre é:

A) 80/10
B) 8/5
C) 10/5
D) 8/10
E) 2/5

Solução: razão = área construída/área livre = 800/1000 = 8/10 = 0,8


Desta forma, podemos dizer que a área construída representa 8/10 = 0,8 ou 80% da
área livre.

42
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
5.2 PROPORÇÃO

A igualdade entre duas razões é chamada de proporção. Quando consideramos:

a1/b1 = a2/b2 = К

Sendo a1, a2, b1, b2 números reais, b1 e b2 números diferentes de zero, e К é a constante
da proporção. Assim, a1 está para b1 da mesma forma que a2 está para b2.
Então, o antecedente de a1 (primeira razão) e o consequente de b2 (segunda razão) são
os extremos. O consequente de b1 (primeira razão) e o antecedente de a2 (segunda razão)
são os meios.

Exemplo:
Para realizar a desinfecção de materiais você precisa utilizar apenas 5 litros de um
produto novo que tem maior concentração, em vez de 10 litros de outro produto que
apresenta capacidade inferior.
Qual será a economia diária de produto, se você substituir o produto antigo que gasta
cerca de 30 litros por dia pelo produto novo?

10/30 = 5/ x = 10 x = 150 então, x = 15 litros

6. DISTRIBUIÇÃO PARAMÉTRICA E NÃO PARAMÉTRICA

Os testes estatísticos são utilizados conforme as características da amostra, ou seja, de


acordo com a distribuição normal ou não normal da amostra. Para realizar a estatística
são utilizados os testes paramétricos ou os testes não paramétricos.

6.1 TESTES PARAMÉTRICOS

Esses testes são utilizados quando a amostra apresenta distribuição normal (gaussia-
na) e a distribuição de probabilidades é conhecida. São testes superiores (‘mais fortes”)
que os não paramétricos e podem ser utilizados apenas para análise de dados numéricos.

43
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
A distribuição normal é uma das distribuições contínuas de probabilidade, na qual
muitos fenômenos aleatórios comportam-se próximos a essa distribuição. A distribuição
normal serve para calcular, de forma aproximada, as probabilidades para outras distri-
buições. Apresenta como características probabilidade igual a 1 e curva simétrica em tor-
no da média. Uma curva normal padrão na distribuição, normalmente apresenta média
igual a zero e desvio padrão igual a 1.
Testes paramétricos servem para testar hipóteses sobre parâmetros específicos da po-
pulação como, média, proporção ou desvio padrão.
Como exemplos desses testes podemos citar: o teste t, teste t pareado e análise de va-
riância – ANOVA, os quais dependem, conforme citado acima, da condição de a amostra
ser extraída de uma população com distribuição normal (de Gauss), além disso, ser con-
tínua a escala de medida da variável aleatória e o tamanho da amostra ser superior a 30
observações.

6.2 TESTES NÃO PARAMÉTRICOS

Esses testes são utilizados quando a amostra não é normal, quando a distribuição de
probabilidades não é conhecida, assim, não são tão “fortes” quanto os testes paramé-
tricos. Podem ser utilizados para análise de dados não numéricos, ou seja, qualitativos
como variáveis categóricas não ordenáveis.
Testes não paramétricos servem para testar hipóteses sobre os parâmetros da popula-
ção e permite verificar o tipo de distribuição ou relacionamentos entre amostras.
Os testes estatísticos não paramétricos possibilitam as análises com pequenas amostras,
e permitem poucas hipóteses relacionadas a distribuição de probabilidade da população.
Como exemplos desses testes podemos citar: Mann-Whitney, Wilcoxon e Kruskal-
-Wallis.
Agora você deve estar pensando qual teste utilizar na sua pesquisa, de maneira geral,
é necessário analisar o seu modelo experimental verificando se há ou não vinculação
entre dois ou mais fatores de variação e o número de elementos da amostra, que serão
comparados.
Alguns testes servem para amostras em que existe independência entre os fatores de
variação, e outros testes são utilizados para amostras apresentam vinculação ou depen-
dência entre eles.
Verifique também que existem testes específicos para duas amostras, ou para várias com-
parações. Na tabela a seguir são demonstradas as subdivisões de alguns testes estatísticos.

44
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
Tabela 3: Subdivisões dos testes estatísticos.

Fonte: Campos (2000).


Significância estatística (H1) e não-significância estatística (H0).

É importante analisar o valor numérico calculado pelo teste pois esse va-
lor precisa levar em consideração valores críticos, que são encontrados em tabe-
las apropriadas a cada teste. As tabelas frequentemente associam dois parâme-
tros, que possibilitam verificar o nível de probabilidades (usualmente 5 % [a =
0,05], ou 1 % [a = 0,01]), e o número de graus de liberdade das amostras comparadas.
Valores menores que esses demonstram que não-significância estatística, ou de nulidade
(H0). No entanto, se o valor for igual ou maior, há significância estatística (H1), ou hipóte-
se alternativa (H1) (CAMPOS, 2000).

SAIBA MAIS
Saiba mais, leia o artigo: Importância do uso adequado da estatística básica nas
pesquisas clínicas. Os autores relatam que o uso inadequado da estatística básica
é o grande responsável pelo erro de interpretação dos artigos científicos por isso a necessidade
do conhecimento dos tópicos básicos de estatística. O artigo também auxiliará você na escolha
dos testes estatísticos por meio de um guia geral que traz as indicações dos testes de hipóteses.
Acesse: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0034709417300673

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BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
SUGESTÃO DE LIVRO
Faça a leitura do livro Estatística, verifique os ca-
pítulos 3 - média, mediana e moda, capítulo 4- desvio
padrão e outras medidas de dispersão e o capítulo 6 – teoria elemen-
tar da probabilidade.
SPIEGEL, M.R; STEPHENS, L.J. Estatística. São Paulo: Artmed, 2009.

FÓRUM
Participe do fórum dessa unidade e descreva quais são os testes paramétricos e não
paramétricos que você encontrou descritos neste caderno e nos materiais de apoio.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nessa unidade você pode verificar a importância da estatística descritiva e como pode
ser dividida. Foram descritas as principais medidas de tendência central como a média,
a moda e a mediana, que utilizam um valor que demonstra o que é mais comum e que
pode ser utilizado para representar os valores coletados numa pesquisa. Também foram
relatadas as medidas de dispersão a como a variância, o desvio padrão e a amplitude que
utilizam valor que demonstra como os dados variam em torno desse valor que é mais
comum.
Além disso, foi possível verificar como a probabilidade pode nos auxiliar a determinar
as chances de ocorrência de um evento e como a compreensão das grandezas, razão e
proporção podem nos ajudar no cálculo da frequência.
Quanto aos testes de hipóteses, foram abordadas as diferenças entre os paramétricos
e não paramétricos, alguns dos testes mais utilizados e o seu poder estatístico.
Cada pesquisa tem características peculiares e a determinação do teste estatístico
deve levar em consideração a vinculação entre os fatores de variação, o número de ele-
mentos da amostra, que serão comparados, a dependência entre os fatores de variação.
Agora, teste seus conhecimentos, responda aos exercícios de revisão e até a próxima Unidade!

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BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
EXERCÍCIOS DE REVISÃO DE CONTEÚDO

1. As medidas de tendência central configuram-se como uma maneira de representar


um conjunto de dados utilizando somente um número. E são utilizadas para calcular
variáveis quantitativas. Verifique as asserções e assinale a alternativa correta.
I. média é uma medida de tendência central
II. amplitude é uma medida de tendência central
III. mediana é uma medida de tendência central
IV. moda é uma medida de tendência central
V. desvio padrão é uma medida de tendência central

Está correto apenas o que se afirma em:


A. I
B. I e II
C. II e V
D. III, IV e V
E. I, III e IV

2. As medidas de dispersão são utilizadas para verificar o grau de variação dos núme-
ros de um conjunto com relação à sua média, mediana ou moda. Sobre essas medidas é
correto afirmar que:
I. Possibilitam observar a homogeneidade dos dados.
II. Possibilitam observar a heterogeneidade dos dados.
III. Configuram-se como uma maneira de representar um conjunto de dados utilizan-
do somente um número.
IV. Podemos dizer que as medidas de dispersão servem para analisar a distância dos
números de um conjunto.

Está correto apenas o que se afirma em:


A. I
B. I e II
C. II e III
D. III e IV
E. I, II e IV

3. Para realizar as pesquisas podemos utilizar as probabilidades. A probabilidade é uti-

47
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
lizada para determinar as chances de ocorrência de um evento. Verifique as asserções e
assinale a alternativa correta.
I. Por meio das frequências é possível calcular medidas como mediana e média.
II. A distribuição de frequências é uma ferramenta que permite avaliar a variabilida-
de de um fenômeno aleatório.
III. Por meio das frequências é possível calcular medidas como o desvio padrão.
IV. A distribuição de frequências é uma ferramenta muito importante, porém, não
permite avaliar a variabilidade de um fenômeno aleatório.

Está correto apenas o que se afirma em:


I. I
II. I, II e III
III. II e III
IV. III e IV
V. I, II e IV

REFERÊNCIAS
CALLEGARI-JACQUES, S. M. Bioestatística: princípios e aplicações. Porto Alegre: Art-
med, 2007.

CAMPOS, G. M. Estatística prática para docentes e pós-graduandos. 2000. Disponível em: http://
www.forp.usp.br/restauradora/gmc/gmc_livro/gmc_livro_cap14.html. Acesso em: 04 mai 2019.

DANCEY, C. P. Estatística sem matemática para as ciências da saúde. Porto Alegre:


Penso, 2017.

FIELD, A. Descobrindo a estatística usando o SPSS. Porto Alegre: Artmed, 2009.

GLANTZ, S. A. Princípios de bioestatística. 7. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014.

PARENTI, T. Biostatística. Porto Alegre: SAGAH, 2017.

RODRIGUES, C.F.S.; LIMA, F. J. C.; BARBOSA, F. T. Importância do uso adequado da esta-


tística básica nas pesquisas clínicas. Braz Journ Anesthesiol, v. 67, n. 6, p. 619-625, 2017.

ROSNER, B. Fundamentos de bioestatística. São Paulo: Cengage Learning, 2016.

SPIEGEL, M.R; STEPHENS, L.J. Estatística. São Paulo: Artmed, 2009.

TRIOLA, M. F. Introdução à estatística. 12. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2017.

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BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
3
unidade
EPIDEMIOLOGIA E
PROCESSO SAÚDE-
DOENÇA

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BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
1. INTRODUÇÃO A UNIDADE III

Olá, Aluno (a)! Seja bem-vindo (a) a terceira unidade da disciplina.


Nesta unidade você irá conhecer os conceitos básicos e aspectos históricos da epi-
demiologia, o processo saúde-doença, modelos explicativos do processo saúde-doença,
coeficientes e índices mais usados em epidemiologia.
Desta forma, irá compreender o papel e a importância da epidemiologia para o estudo,
observação, análise e ações na área da saúde.
A epidemiologia apresenta diversas definições. É considerada, de forma geral, o estu-
do da distribuição e dos fatores que determinam estados de saúde ou eventos em deter-
minadas populações, contribuindo para o controle de problemas de saúde.
Podemos definir também a epidemiologia como a observação, dos fenômenos da saú-
de-doença-cuidado, que utiliza métodos de quantificação, por meio de técnicas estatísti-
cas de amostragem e de análise. Porém, a epidemiologia não está restrita à quantificação
desses fenômenos visto que usa técnicas diversificadas como fontes de dados e de infor-
mação para verificar as situações de saúde das populações.
Desta forma, a epidemiologia é essencial para a saúde pública, pois permite a compre-
ensão do processo saúde-doença.
Ao final desta unidade você deverá apresentar os seguintes aprendizados:
• Conhecer os conceitos básicos e aspectos históricos da epidemiologia
• Conhecer o processo saúde-doença e modelos explicativos deste processo
• Compreender os indicadores de saúde.

2. CONCEITOS BÁSICOS DE EPIDEMIOLOGIA

A clínica se diferencia da epidemiologia uma vez que a primeira se preocupa com a


doença do indivíduo, estudando caso a caso, e a segunda se dedica aos problemas de
saúde nos grupos de pessoas.
A Epidemiologia abrange um conjunto de conceitos, teorias e métodos que possibilitam
o estudo, o conhecimento e a transformação do processo saúde-doença no âmbito coletivo.
Algo, que está relacionado as transformações biológicas, antropológicas ou sociais.
A epidemiologia é caracterizada pelo estudo da distribuição das doenças nas popula-
ções e também dos fatores que determinam ou influenciam essa distribuição. A epide-
miologia supõe que as doenças e agravos, ou, a ausência desses não ocorre ao acaso. Os

50
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
fatores que causam as doenças ou os agravos podem ter origem genética, ser decorrentes
da exposição a determinados agentes ambientais, determinadas atividades cotidianas ou
de trabalho.
Desta forma, o homem, atua na transformação da sociedade, e ao observar os fatos,
analisa os problemas, observa, compara e formula hipóteses e inferências para verificar
os fenômenos e desenvolver teorias. Assim, aspectos relevantes promovem o surgimento
de pesquisas que permitem descobertas e transformações dos conhecimentos no meio
social, cirando novos fatos.
O estudo das relações entre os fatores sociais e as doenças nas populações é definido
como epidemiologia social. Os aspectos para distinção social são: raça/etnia, gênero e
classe/posição socioeconômica. Na epidemiologia clínica, também são considerados os
eventos em grupos de pessoas que compartilham uma determinada característica, são
realizadas comparações de taxas dos eventos entre grupos e inferências. Na epidemio-
logia clínica, a característica que determina o grupo pode ser um sinal ou sintoma, uma
doença ou o tratamento desses.
A epidemiologia é uma ciência abrangente e apresenta diversas possibilidades de
uso na saúde pública, principalmente, para o desenvolvimento de estratégias e ações de
promoção e proteção à saúde, sendo essencial na formulação de políticas de saúde. Esta
área é caracterizada por gerar o desenvolvimento metodológico para todas as ciências
da saúde. Desse modo, a ciência epidemiológica amplia o seu papel na consolidação do
saber científico sobre a saúde humana, contribuindo significativamente para as práticas
de saúde.
Segundo Almeida Filho (2011), a epidemiologia contempla três pontos fundamentais:
1) o estudo dos determinantes de saúde-doença; 2) a análise das situações de saúde e 3) a
avaliação de tecnologias e processos no campo da saúde (quadro 8).

Pontos fundamentais da epidemiologia


A pesquisa epidemiológica permite o desenvolvimento do conhecimento
Estudo dos determinantes
dos determinantes do processo saúde/doença, no âmbito coletivo, auxilian-
de saúde-doença.
do o avanço do conhecimento etiológico-clínico.
A epidemiologia desenvolve e utiliza métodos eficazes para descrição e
Análise das situações de
análise das situações de saúde permitindo o planejamento e organização
saúde.
de ações de saúde.
Os métodos epidemiológicos podem ser utilizados na análise de progra-
Avaliação de tecnologias
mas, atividades e condutas preventivas e terapêuticas. Isso permite o
e processos no campo da
conhecimento sobre o impacto das medidas de saúde na população, a
saúde
eficiência e efetividade de serviços de saúde.
Quadro 8. Pontos fundamentais da epidemiologia.
Fonte: Almeida Filho, (2011).

51
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
Você percebeu como a epidemiologia procura respostas para os fatores relacionados a
saúde e a doença? E para a associação de fatores com determinadas doenças ou agravos
que acometem as populações?
Então, descreva abaixo como a epidemiologia pode auxiliar no contexto da sua futura
profissão:

2.1 ASPECTOS HISTÓRICOS

Na história da Epidemiologia é possível verificar uma contradição, em diferentes lu-


gares e épocas, no que se refere a saúde do indivíduo e da coletividade. Hipócrates foi o
criador do termo “epidemia” e é considerado o precursor da Epidemiologia. No estudo
das origens da Epidemiologia, o governo de Roma realizava censos e registros, medidas
de cunho político e administrativo, o que posteriormente seria conhecido como estatís-
tica vital.
Um aspecto importante para o desenvolvimento da clínica moderna foi a substituição
da gestão das ordens religiosas dos hospitais pela política dos médicos. Os médicos pu-
deram analisar os pacientes com as mesmas moléstias, quadro clínico, sinais e sintomas,
isso possibilitou a aquisição de dados estatísticos e conclusões sobre as doenças.
O primeiro eixo essencial para a formação histórica da epidemiologia é o saber clí-
nico, racionalista e moderno, que busca a comprovação do projeto científico da clínica.
Posteriormente, surgiu a Fisiologia Moderna, que se estruturou a partir da definição de
patologia. Adicionalmente, com o desenvolvimento da biologia experimental e a teoria
microbiana, essa medicina científica teve grande relevância para as práticas médicas
contemporâneas por meio do Relatório Flexner.
Na história da epidemiologia, o segundo eixo fundamental é a Estatística que permite
quantificar as doenças. Com o desenvolvimento de técnicas para análise de dados surgiu

52
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
a Tábua de Vida, após foi desenvolvida a teoria das probabilidades, fórmulas para estimar
anos de vida, para verificar os efeitos da vacinação contra as doenças, para analisar os
procedimentos clínicos e taxas de mortalidade.
Desta forma, a história da epidemiologia contempla uma trilogia representada pela
clínica, estatística e pela medicina social. Assim, a partir da associação desses, foi insti-
tucionalizada a ciência epidemiológica no século XX.

2.2 EPIDEMIOLOGIA NO SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE

A epidemiologia é considerada uma ferramenta essencial para o desenvolvimento do


Sistema Único de Saúde, devido a sua aplicabilidade em toda a extensão do SUS. Desta
forma, é extremamente relevante que os profissionais da saúde saibam utilizar a epide-
miologia como forma de otimização e desenvolvimento para fortalecer esse sistema. A
epidemiologia é um meio importante para investigar e analisar os fatores de risco e agra-
vos à saúde, que permite o planejamento de ações em saúde.
Para compreender a epidemiologia, é necessário pensar sobre os conceitos de saúde e
doença. Estes conceitos são multidimensionais, e diferem conforme os diferentes aspec-
tos históricos, teóricos e culturais.

2.3 O QUE É SAÚDE

O conceito de saúde, segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS (2006), é: um


estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença
ou enfermidade.
Outra definição bastante utilizada é a da Constituição Federal de 1988, que considera
a saúde como um direito de todos e dever do Estado, garantido através de políticas so-
ciais e econômicas que objetivam à diminuição do risco de doenças, de outros agravos,
assim como, o acesso igualitário e universal aos serviços para sua promoção, proteção e
recuperação.

53
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
2.4 O QUE É DOENÇA

A doença está relacionada ao sofrimento, a dor, aos sentimentos subjetivos de cada


indivíduo, por isso não pode ser considerada somente através da avaliação ou diagnósti-
co fisiopatológico.
É importante considerar que quadros clínicos similares, podem influenciar de manei-
ras distintas cada indivíduo e consequentemente causar sinais, sintomas e disfunções
diferentes.
Alguns autores consideram outros conceitos para descrever a condição de saúde - do-
ença, levando em conta três planos: subindividual, individual e coletivo. Verifique o qua-
dro a seguir.

Planos
Corresponde ao nível biológico e orgânico, fisiológico ou fisiopatológico. O processo
saúde-adoecimento depende do equilíbrio dinâmico entre a normalidade – anormali-
Subindividual dade. A enfermidade seria a situação percebida ou o sintoma relatado pelo indivíduo.
A doença seria a condição verificada pelo profissional de saúde, por meio de quadro
clínico definido e classificada como uma entidade ou classificação nosológica.
As disfunções e anormalidades acometem indivíduos que são seres biológicos e
sociais. Assim, as alterações no processo saúde-doença são decorrentes de aspec-
Individual
tos biológicos e também de condições gerais da existência das pessoas, grupos e
classes sociais, com dimensões individuais e coletivas.
O processo saúde-doença, que é visto além da soma das condições orgânicas e
sociais de cada pessoa, mas a expressão de um processo social abrangente, que é
decorrente da articulação de fatores e relações, representados por determinantes do
Coletivo
fenômeno nos vários níveis de análise: domicílio, família, microárea, bairro, município,
região, país, continente etc.
sobre saúde: “fenômeno clínico e sociológico vivido culturalmente.
Quadro 9. Condição de saúde, considerando três planos: subindividual, individual e coletivo.
Adaptado: Narvai et al., (2008); Vianna (2012).

Segundo Vianna (2012), esses três planos, auxiliam a compreender porque apenas em
situações muito específicas a saúde pode resultar somente da disponibilidade e do acesso
aos serviços de saúde.
Para o entendimento das doenças, pode haver diferentes níveis explicativos, que com-
prometem desde as alterações biológicas intracelulares, até os relacionados à sociedade
como um todo (figura 12).

54
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
Figura 12. Níveis explicativos da doença.
Adaptado: Franco; Passos (2011).

Neste contexto, fatores causais (exemplo: exposição a produtos carcinogênicos) po-


dem representar os níveis 1,2 ou 3; fatores ligados ao hospedeiro (exemplo: doenças as-
sociadas a etnia, alterações genéticas) podem representar os níveis 4 ou 5; e, fatores am-
bientais (exemplo: exposição à fumaça, ou ao sol), podem ser fatores explicativos para as
doenças no nível 6.
Portanto, é necessário analisar, prevenir, tratar e se possível resolver os fatores que
atuam de forma direta ou indireta no processo saúde-doença.

2.5 PROCESSO SAÚDE-DOENÇA

O processo saúde-doença pode ser definido como o conjunto de fatores que produ-
zem e condicionam o estado de saúde e de doença da população. Este conceito sofre a
influência do processo histórico e do desenvolvimento científico.
Portanto, as teorias que interpretam o processo saúde-doença representam as di-
ferentes formas de pensar do ser humano ao longo da história em relação aos fatos
sociais. As diferentes teorias foram desenvolvidas e sintetizadas nos séculos passados,
nas vertentes ontológica: na qual a doença tem o caráter místico/religioso ou sobre-
natural, que se manifesta ao invadir o corpo, e na vertente dinâmica na qual a doença
é considerada como o resultado do desequilíbrio entre forças vitais. Posteriormente,
foram desenvolvidas as teorias unicausal, multicausal e da determinação social do pro-
cesso saúde-doença.

55
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
2.6 MODELOS EXPLICATIVOS DO PROCESSO SAÚDE-DOENÇA

A história das explicações das doenças vai desde a teoria mística/religiosa até os con-
ceitos criados por Jaime Breilh e a Epidemiologia Social.

2.6.1 Teoria mística/religiosa

Na antiguidade, na teoria mística ou religiosa, as forças sobrenaturais eram responsá-


veis pelas doenças. As condutas assistenciais utilizavam procedimentos mágico-religio-
sos, irracionais. No entanto, houve a necessidade de considerar a ciência e a tecnologia,
para explicar os fenômenos.

2.6.2 Teoria Miasmas

Durante a Idade Média, Hipócrates descrevia o processo saúde-doença pela teoria dos
miasmas, a qual explicava que as doenças eram causadas pelo ar, gases, águas, resíduos,
solo e outros locais insalubres. Acreditava-se que estes fatores nocivos eram transmiti-
dos de um indivíduo doente para outro. Desta forma, pela primeira vez foi criada uma
explicação racional para as causas das doenças.

2.6.3 Teoria Unicausal

Os movimentos sociais revolucionários do século XIX estavam em decadência por


outro lado, houve o desenvolvimento da “teoria dos germes” de Pasteur assim como a
evolução de conhecimentos, relacionados a anatomia, patologia, fisiologia, química e
microbiologia. Então, entre o período de 1870 a 1900, a medicina social perdeu força para
a teoria da unicausalidade.
A primeira Conferência Sanitária Internacional (1851), foi voltada a teoria unicausal,
que explicava que cada doença tinha um agente específico e foram criadas ações para a
prevenção das doenças, como quarentena e controle de animais.

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BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
A partir da descoberta das bactérias, vírus, fungos, entre outros, esses foram conside-
rados como fatores causais únicos do adoecimento, sendo que o indivíduo é interpretado
apenas como ser biológico.
Os problemas sociais foram mascarados por conta da estrutura capitalista, a qual ob-
tinha vantagens em culpar o próprio indivíduo pela sua condição de saúde, em vez de
diminuir as jornadas de trabalho, oferecer condições melhores de saúde e moradia.

2.6.4 Teoria Multicausal

Na segunda metade do século 20, a teoria unicausal não servia mais para explicar as
causas de algumas doenças. Além disso, melhorar as condições de saúde da população
era necessário para que os indivíduos mantivessem o ritmo nas jornadas de trabalho. As
evidências indicavam outras causas para as doenças e que essas ocorriam devido a uma
somatória de causas.
Desta forma, surgiu a teoria multicausal, na qual as doenças são causadas por vários
fatores que se relacionam. Esta teoria leva em consideração no surgimento de uma do-
ença, os fatores de risco, as características individuais e comportamentais, os hábitos de
vida, entre outros.
O modelo multicausal, no entanto, não preocupa-se com a organização social e as de-
sigualdades sociais.

2.6.5 Teoria da determinação social do processo saúde-doença

As teorias anteriores possibilitaram o desenvolvimento do que hoje chamamos de De-


terminantes Sociais de Saúde, os quais consideram que as condições de vida e de traba-
lho tem influência sobre a situação de saúde do indivíduo.
Neste contexto, a compreensão do processo saúde-doença avançou para a percepção
da importância do estudo da estrutura socioeconômica para explicar o processo saúde-
-doença. Assim, a visão do processo saúde-doença foi ampliada, pois é um processo so-
cial e biológico.
A qualidade de vida dos indivíduos pode diferir conforme os grupos sociais e condi-
ções econômicas de cada indivíduo o que pode influenciar de maneira positiva ou nega-
tiva no processo de saúde-doença interferindo nos diferentes níveis: individual, familiar
ou social.

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BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
SAIBA MAIS
Saiba mais sobre a historicidade das teorias interpretativas do processo
saúde-doença. Neste artigo os autores relatam que ao longo da história, foram
criadas diferentes teorias para interpretar o processo saúde-doença, em decorrência da ativi-
dade racional humana na procura de inferências causais para as doenças. Essas teorias são
expressões de maneiras de pensar o mundo e representam diversos projetos filosóficos, quando
não antagônicos. Acesse: http://www.scielo.br/pdf/reeusp/v34n1/v34n1a02.pdf.

3 INDICADORES DE SAÚDE

A análise de medidas relacionadas a saúde da população é essencial para a saúde pú-


blica. Essas medidas servem para o controle e monitoramento das doenças, para verificar
o estado de saúde, acesso a serviços de saúde, morbidade, incapacidade, aspectos am-
bientais, condições de vida, entre outros.
Desta forma, foram criados indicadores de saúde para possibilitar a quantificação e
a avaliação das informações, pois essas medidas avaliam o desempenho do sistema de
saúde e são utilizadas para a vigilância das condições de saúde.
Conforme as Diretrizes do Ministério da Saúde (BRASIL, 2013), os indicadores uni-
versais representam o acesso e a qualidade da organização em redes, e consideram os in-
dicadores epidemiológicos de abrangência nacional e desempenho do sistema (IDSUS),
e os indicadores específicos representam as características epidemiológicas locais e de
organização do sistema e de desempenho do sistema (IDSUS).
Para obter dados epidemiológicos e utilizar os indicadores de saúde é importante co-
nhecer alguns coeficientes e índices relacionados a morbidade e mortalidade.
As medidas de morbidade, são decorrentes de vários eventos em diversas ocasiões da
vida e as de mortalidade, configuram-se por registro único e obrigatório em uma decla-
ração de óbito.

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BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
3.1 MORBIDADE

As medidas de morbidade, são extremamente relevantes pois permitem identificar as


repercussões das doenças na vida dos indivíduos. Essas medidas são fundamentais para
as análises de causa/efeito e, os coeficientes de morbidade auxiliam no diagnóstico, a
verificar a prevalência e incidência das doenças, assim como, o comportamento dessas.
Neste sentido, é essencial conhecer os termos incidência e prevalência.

3.2 INCIDÊNCIA

A incidência da doença representa o número de novos casos que transcorrem em de-


terminado período de tempo, em uma população. A incidência pode ser representada em
número absoluto de novos casos, ou por um coeficiente, que indica a proporção de novos
casos de uma doença. No entanto, quando analisada por meio de números absolutos,
não é considerado o tamanho da população que está em risco, por isso o mais indicado é
utilizar o coeficiente de incidência que pode ser obtido pela equação:

Figura 13: Coeficiente de incidência.


Fonte: FRANCO; PASSOS, (2011).

O cálculo é realizado pela divisão do número de casos novos de uma doença em uma
população (durante um período de tempo específico), pelo número de indivíduos expos-
tos ao risco de adquirir a doença e multiplicado pelo total da população. Lembre-se que,
não deve ser utilizado no numerador os casos notificados anteriormente.
O resultado deste coeficiente de incidência possibilita a comparação com outros lo-
cais. A incidência é uma medida de eventos, e representa que a doença se desenvolve em
pessoas que não estavam doentes, ou seja, são casos novos.

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BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
3.3 PREVALÊNCIA

A prevalência determina o total de casos de uma doença específica e o coeficiente de


prevalência verifica o número de casos de uma doença existente em uma população em
um período de tempo, dividido pelo número de indivíduos na população (no mesmo pe-
ríodo). Esse coeficiente pode ser obtido pela expressão a seguir:

Figura 14: Coeficiente de prevalência.


Fonte: FRANCO; PASSOS, (2011).

Portanto, o coeficiente de prevalência faz a análise da relação entre o número total de


casos de uma doença e o número da população que apresenta risco de ter essa doença. Algo
que permite a comparação ao longo do tempo da prevalência uma doença de um mesmo
local, estado ou país e em diferentes grupos (conforme faixa etária, sexo, etnia, etc).
Podemos dizer que a prevalência é uma “fotografia imediata” da população que apre-
senta uma doença específica, ou seja, é o resultado da adição de casos novos e prévios,
que acometem a população durante determinado período de tempo.
Porém, a prevalência não é capaz de verificar o risco de ter uma doença, visto que ca-
sos novos e casos e antigos são somados.
Além disso, há uma relação entre incidência e prevalência, pois quanto maior for a
incidência, maior será a prevalência, conforme também a duração da doença, do trata-
mento, se houver cura, óbito ou perda do acompanhamento.
Você sabia, que a partir da prevalência de uma doença ou agravo, é que ocorrem os
planejamentos no âmbito da saúde?
Por isso, são muito importantes as fontes de dados, que podem ser obtidas em ambu-
latórios, consultórios, empresas, hospitais, clínicas, enfim, tanto nos setores públicos de
saúde quanto nos privados.

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BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
SAIBA MAIS
Saiba mais, existem outros diversos indicadores de saúde, acesse na íntegra o
documento: Indicadores básicos para a saúde no brasil: conceitos e aplicações,
acesse: http://tabnet.datasus.gov.br/tabdata/livroidb/2ed/indicadores.pdf

3.4 INDICADORES BÁSICOS PARA A SAÚDE NO BRASIL

A Rede Interagencial de Informações para a Saúde – Ripsa, instituída por iniciativa


em conjunto com Ministério da Saúde e a Organização Pan-Americana da Saúde, articula
órgãos de governo e apresenta como o objetivo aperfeiçoar a produção, análise e dissemi-
nação de informações relacionadas às questões de saúde no País.
Desta forma, para compreensão dos indicadores para a saúde no Brasil, relacionados
a mortalidade e morbidade e fatores de risco, foram utilizados os documentos propostos
pela Rede Interagencial de Informação para a Saúde, pelo Ministério da Saúde e pela Or-
ganização Pan-Americana (RIPSA, 2008; BRASIL, 2013).

3.4.1 Taxa bruta de mortalidade

A taxa bruta de mortalidade representa o número total de óbitos, por mil habitantes,
em uma população que reside em determinado local, no ano considerado. Essa medida
avalia a intensidade que a mortalidade ocorre sobre uma determinada população e sofre
influência das características da população (idade, sexo).
Adicionalmente, altas taxas de mortalidade podem ser decorrentes más condições so-
cioeconômicas ou de grande número de idosos.
A taxa bruta de mortalidade é fundamental para verificar as alterações geográficas e
temporais da mortalidade e estimar o componente migratório. A seguir segue o método
de cálculo:

Figura 15. Cálculo da taxa bruta de mortalidade.


Fonte: RIPSA, (2008).

61
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
3.4.2 Taxa de mortalidade infantil

A taxa de mortalidade infantil corresponde ao número de óbitos de indivíduos com


menos de um ano de idade, por mil nascidos vivos, em uma população residente em de-
terminado local, no ano considerado.
Essa medida analisa o risco de óbito dos nascidos vivos durante primeiro ano de vida.
Representa não apenas o retrato do desenvolvimento socioeconômico e infraestrutura
ambiental, mas a acessibilidade a saúde materna e infantil.
Para classificar esta taxa podemos considerar:

Valor Taxa de mortalidade infantil


Alto 50 por mil ou mais e baixo
Médio 20 a 49 por mil
Baixo menos de 20 por mil
Quadro 10. Classificação da taxa de mortalidade infantil.
Adaptado: RIPSA, (2008).

Para essa classificação são realizadas revisões periódicas devidas as mudanças no per-
fil epidemiológico.
Para calcular a taxa de mortalidade infantil utiliza-se o cálculo:

Figura 16. Cálculo da taxa de mortalidade infantil.


Fonte: RIPSA, (2008).

Essa medida é importante para desenvolver o planejamento, gestão e análise das polí-
ticas e ações de saúde para a assistência pré-natal, ao parto, e para a saúde infantil.
Razão de mortalidade materna
A razão de mortalidade materna busca identificar o número de mortes maternas, por
100 mil nascidos vivos de mães residentes em uma área específica, no ano considerado.
Essa medida analisa os óbitos maternos, que ocorreram até 42 dias após o término da
gravidez, os quais podem ser decorrentes tanto de fatores que estavam presentes durante
à gravidez, quanto aos que ocorreram no parto ou no puerpério.
Esses dados são essenciais para planejar estratégias voltadas para à saúde da mulher.
A seguir segue o cálculo da razão de mortalidade materna:

62
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
Figura 17. Razão de mortalidade materna.
Fonte: RIPSA, (2008).

3.4.3 Mortalidade proporcional por grupos de causas

Essa medida é utilizada para verificar a distribuição percentual de óbitos por grupos
de causas definidas, em uma população que reside em determinado local geográfico, no
ano considerado.
O índice de mortalidade proporcional por grupos de causas sofre influência de fa-
tores que proporcionam aumento ou redução de determinadas causas, e desta forma,
modificam a distribuição proporcional das demais causas como: as condições socioeco-
nômicas, infraestrutura de serviços públicos, perfil demográfico, acesso e qualidade dos
serviços de saúde.
Verifique o cálculo para mortalidade proporcional por grupos de causas:

*grupos de causas definidas.


Figura 18. Mortalidade proporcional por grupos de causas.
Fonte: RIPSA, (2008).

Fazem parte do grupo de causas definidas: neoplasias, algumas doenças infecciosas e


parasitárias, doenças do aparelho circulatório e respiratório, algumas afecções que ocor-
rem no período perinatal, causas externas e outras causas definidas.
Esse índice auxilia no planejamento, gestão e análise de políticas públicas para possi-
bilitar ações preventivas e assistenciais a cada grupo de causas.

Existem vários outros indicadores de mortalidade:


• Taxa de mortalidade neonatal precoce
• Taxa de mortalidade neonatal tardia
• Taxa de mortalidade pós-neonatal
• Taxa de mortalidade perinatal

63
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
• Taxa de mortalidade em menores de cinco anos
• Mortalidade proporcional por causas mal definidas
• Mortalidade proporcional por doença diarreica aguda em menores de 5 anos de
idade
• Mortalidade proporcional por infecção respiratória aguda em menores de 5 anos
de idade
• Taxa de mortalidade específica por doenças do aparelho circulatório
• Taxa de mortalidade específica por causas externas
• Taxa de mortalidade específica por neoplasias malignas
• Taxa de mortalidade específica por acidentes do trabalho
• Taxa de mortalidade específica por diabete melito
• Taxa de mortalidade específica por aids
• Taxa de mortalidade específica por afecções originadas no período perinatal
• Taxa de mortalidade específica por doenças transmissíveis

3.4.4 Proporção de internações hospitalares (SUS) por grupos de causas

Esse indicador serve para verificar o percentual das internações hospitalares reali-
zadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS), por grupos de causas selecionadas, em uma
população residente em um local, em determinado ano.
Essa medida representa a demanda hospitalar que é condicionada pela oferta de ser-
viços no SUS.

Figura 19. Proporção de internações hospitalares (SUS) por grupos de causa.


Fonte: RIPSA, (2008).

A proporção de internações hospitalares (SUS) por grupos de causas auxilia a compa-


ração da concentração de recursos médico-hospitalares para promoção de planejamento
de políticas públicas relacionadas a assistência médico-hospitalar.

64
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
3.4.5 Incidência de sarampo

Conforme vimos anteriormente a incidência está relacionada a novos casos de uma


doença, assim, a incidência de sarampo é referente ao número absoluto de casos novos
confirmados de sarampo, em uma população que reside em um local geográfico, no ano
considerado.
Portanto, essa medida reflete frequência anual de casos novos confirmados de saram-
po e auxilia na análise dos níveis de saúde da população.
Para realizar o cálculo basta realizar o somatório anual do número de casos novos de
sarampo confirmados em residentes.

3.4.6 Taxa de prevalência de diabete melito

O coeficiente de prevalência verifica o número de casos de uma doença existente em


uma população, desta forma, a taxa de prevalência de diabete melito representa o núme-
ro de casos desta doença, por 100 habitantes, existentes em uma população que reside
em determinado local, na data de referência do ano considerado.
Para fazer o cálculo dessa medida é utilizada a expressão a seguir:

Figura 20. Taxa de prevalência de diabete melito.


Fonte: RIPSA, (2008).

Essa taxa contempla os casos de diabete do tipo 1 e tipo 2 e serve para o desenvolvi-
mento de políticas e ações preventivas do diabete melito assim como para as doenças
associadas.
Há outros diversos indicadores de morbidade e fatores de risco, verifique no quadro
a seguir:

65
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
Figura 21. Indicadores de morbidade e fatores de risco.
Adaptado: RIPSA, (2008).

3.4.7 Esperança/expectativa de vida ao nascer

O número médio de anos que se pode esperar que um recém-nascido viva, manten-
do-se o padrão de mortalidade existente na população residente, em espaço geográfico
específico, no ano considerado, é chamado de esperança ou expectativa de vida.
Quando ocorre um aumento da esperança de vida, pode significar que ocorreram me-
lhoras das condições de vida e saúde da população.
Por meio da utilização de tábuas de vida desenvolvidas para cada área geográfica, con-
sidera-se o número de uma geração inicial de nascimentos (l0) e é determinado o tempo
cumulativo vivido por essa mesma geração (T0) até a idade limite.
Desta forma, a expectativa de vida ao nascer é determinada pelo quociente da divisão
de T0 por l0.

SAIBA MAIS
Saiba mais sobre os indicadores de desempenho no Sistema Único de Saúde
seus avanços e lacunas.
Acesse: https://www.scielosp.org/pdf/sdeb/2017.v41nspe/118-137

66
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
SUGESTÃO DE LEITURA
Faça a leitura do capítulo 2 Epidemiologia: conceitos
e usos do livro Fundamentos de epidemiologia.
FRANCO, L. J.; PASSOS, A. D. C. Fundamentos de epidemiologia. 2.
ed. Barueri: Manole, 2011.

Leia também a parte 1 Fundamentos


da epidemiologia no livro Epidemiologia &
saúde: fundamentos, métodos, aplicações.
ALMEIDA FILHO, M. L. B. Epidemiologia & saúde: fundamentos,
métodos, aplicações. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.

Verifique o capítulo 3, Processo


Saúde-Doença na Sociedade do livro Epidemiologia: indicadores de
saúde e análise de dados.

GALLEGUILLOS, T. G.B. Epidemiologia: indicadores de saúde e


análise de dados. 1. ed. São Paulo: Érica, 2014.

FÓRUM
Participe do fórum da disciplina e descreva quais indicadores de saúde você
poderia utilizar em pesquisas epidemiológicas relacionadas ao seu curso de
graduação.

67
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta unidade você conheceu os conceitos básicos e aspectos históricos relacionados


à epidemiologia. Foram destacados os aspectos históricos que fizeram parte e auxiliaram
na compreensão do processo saúde-doença.
Desta forma, por meio do conhecimento dos indicadores de saúde, é possível perceber
a importância dos dados epidemiológicos no contexto da saúde pública e como essas
informações contribuem para a promoção do planejamento de políticas públicas e para
o desenvolvimento de ações de prevenção para doenças e assistência de saúde para a
população.
Portanto, a epidemiologia além de analisar a distribuição e dos fatores que determi-
nam estados de saúde das populações, auxiliam no controle de problemas de saúde.
Agora, teste seus conhecimentos, responda aos exercícios de revisão e até a próxima
Unidade!

EXERCÍCIOS DE REVISÃO DE CONTEÚDO

1. A Epidemiologia abrange um conjunto de conceitos, teorias e métodos que possibi-


litam o estudo, o conhecimento e a transformação do processo saúde-doença no âmbito
coletivo. Verifique as asserções e assinale a alternativa correta:
I. A epidemiologia está relacionada as transformações biológicas, antropológicas ou
sociais.
II. A epidemiologia é caracterizada pelo estudo da distribuição das doenças nas po-
pulações
III. A epidemiologia é caracterizada pelos fatores que determinam ou influenciam a
distribuição das doenças.
IV. Atualmente a epidemiologia supõe que as doenças e agravos, ou, a ausência des-
ses ocorre ao acaso.

Está correto apenas o que se afirma em:


A. I
B. II
C. I, II e III
D. I e II

68
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
E. III e IV

2. As teorias que interpretam o processo saúde-doença representam as diferentes for-


mas de pensar do ser humano ao longo da história em relação aos fatos sociais. Verifique
as asserções e assinale a alternativa correta:
I. Na Teoria Multicausal as doenças são causadas por um único fator. Esta teoria leva
em consideração no surgimento de uma doença apenas a característica individual
II. A Teoria mística/religiosa as forças sobrenaturais eram responsáveis pelas doen-
ças. As condutas assistenciais utilizavam procedimentos mágico-religiosos, irra-
cionais.
III. Na Teoria Miasmas explicava que as doenças eram causadas pelo ar, gases, águas,
resíduos, solo e outros locais insalubres.

Está correto apenas o que se afirma em:


A. I
B. II
C. II e III
D. I e III
E. III

3. As medidas de morbidade são fundamentais para as análises de causa/efeito e, os


coeficientes de morbidade auxiliam no diagnóstico, a verificar a prevalência e incidência
das doenças, assim como, o comportamento dessas. Neste sentido, é essencial conhecer
os termos incidência e prevalência. Verifique as asserções e assinale a alternativa correta:
I. A incidência da doença representa o número de novos casos que transcorrem em
determinado período de tempo, em uma população.
II. A prevalência pode ser representada em número absoluto de novos casos, ou por
um coeficiente, que indica a proporção de novos casos de uma doença.
III. O coeficiente de prevalência verifica o número de casos de uma doença existente
em uma população em um período de tempo.

Está correto apenas o que se afirma em:


A. I
B. II
C. I e III
D. I e II
E. III

69
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE, C.; MARTINS, M. Indicadores de desempenho no Sistema Único de


Saúde: uma avaliação dos avanços e lacunas. Saúde em Debate. v. 41, n. spe, p. 118-137,
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ALMEIDA FILHO, M. L. B. Epidemiologia & saúde: fundamentos, métodos, aplicações.


Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.

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mento de Articulação Interfederativa. Caderno de diretrizes, objetivos, metas e indi-
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CANGUILHEM, G. O.; CAPONI, S. O normal e o patológico. 4. ed. Rio de Janeiro: Forence


Universitária, 1995. In: BRÊTAS, A. C. P.; GAMBA, M. A. (Org.). Enfermagem e saúde do
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FRANCO, L. J.; PASSOS, A. D. C. Fundamentos de epidemiologia. 2. ed. Barueri: Manole,


2011.

GALLEGUILLOS, T. G.B. Epidemiologia: indicadores de saúde e análise de dados. 1. ed.


São Paulo: Érica, 2014.

MORELLI, T. C.; FERNANDES, M.; BASTOS, J. Determinação social do processo saúde-


-doença: conceito para uma nova prática em saúde. Revista COES em movimento. n. 1,
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NARVAI, P. C. et al. Práticas de saúde pública. In: Saúde pública: bases conceituais. São
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Documentos básicos, suplemento da 45ª edição, outubro de 2006. Disponível em espa-
nhol em: http://www.who.int/governance/eb/who_constitution_sp.pdf.

PAHO. Pan American Health Organization. Indicadores de saúde: elementos conceitu-


ais e práticos (Capítulo 1). Disponível em:

70
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
h t t p s : / / w w w. p a h o . o r g / h q / i n d e x . p h p ? o p t i o n = c o m _ c o n t e n t & -
v i e w = a r t i c l e & i d = 1 4 4 0 1 : h e a l t h - i n d i c a t o r s - c o n c e p t u a l - a n d - o p e ra t i o -
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PUTTINI, R. F.; PEREIRA JUNIOR, A.; OLIVEIRA, L. R. Modelos explicativos em saúde


coletiva: abordagem biopsicossocial e auto-organização. Physis, Rio de Janeiro, v. 20, n.
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REIS, R. S. Epidemiologia: conceitos e aplicabilidade no Sistema Único de Saúde. São


Luís: EDUFMA, 2017.

RODRIGUES, T. Determinação social da saúde. Disponível em: http://www.epsjv.fio-


cruz.br/noticias/acontece-na-epsjv/determinacao-social-da-saude. Acesso em: 20 de
out 2019.

RIPSA - Interagencial de Informação para a Saúde. Indicadores básicos para a saúde


no Brasil: conceitos e aplicações. 2. ed. – Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde,
2008. 349 p.: il.

ROTHMAN, K. J. Epidemiologia moderna. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2011.

VIANNA, L. A. C. Processo saúde-doença. UMA-SUS/UNIFESP, 2012. Disponível em:


https://www.unasus.unifesp.br/biblioteca_virtual/esf/2/unidades_conteudos/unida-
de01/unidade01.pdf . Acesso em: 10 set 2019.

71
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
72
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
4
unidade
VIGILÂNCIA

73
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
1 INTRODUÇÃO A UNIDADE IV

Olá, Aluno (a)! Seja bem-vindo (a) a quarta unidade da disciplina.


Nesta unidade você irá conhecer os aspectos relacionados à vigilância em saúde, a
epidemiologia das doenças.
Cada doença ou agravo apresenta um comportamento na população de determinado
local em um período de tempo e sua importância na saúde pública. Conforme vimos no
capítulo anterior, os índices relacionados às doenças, possibilitam o conhecimento da
incidência e prevalência destas morbidades na população.
Desta forma, alguns conceitos importantes relacionados à morbidade são: surto, en-
demia, epidemia e pandemia. Esses termos e suas características serão abordados ao lon-
go desta unidade.
Ao final desta unidade você deverá apresentar os seguintes aprendizados:
• Conhecer e compreender a vigilância em saúde;
• Conhecer a epidemiologia das doenças e os termos relacionados;

2 VIGILÂNCIA EM SAÚDE

A Vigilância em Saúde tem como objetivo realizar ações de vigilância, para promo-
ver a prevenção e controlar os riscos, as doenças e agravos. Contempla a vigilância de
doenças agudas e crônicas, transmissíveis e não transmissíveis, de fatores de risco para
doenças crônicas, vigilância da saúde ambiental e do trabalhador.
O termo vigilância se refere ao processo utilizado para realizar coleta de dados, ge-
renciar, fazer a análise, interpretar e oferecer as informações sobre as demandas e os
problemas de saúde. Assim, a vigilância é um conjunto integrado e articulado de ações
específicas que é desenvolvido conforme a situação de saúde da população em determi-
nado território.
As ações de saúde pública são incluídas em diferentes estratégias e tecnologias, desse
modo, a vigilância em saúde é compreendida como um processo sistemático e contínuo
de coleta, consolidação e disseminação de dados e informações sobre eventos relaciona-
dos à saúde (BRASIL, 2017a).
Portanto, a vigilância em saúde permite o planejamento e a implementação de medi-
das de saúde pública para a proteção da saúde da população.
A coordenação dos programas de prevenção e controle de doenças no âmbito nacio-

74
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
nal é realizada pelo Ministério da Saúde, através da Secretaria de Vigilância em Saúde
(SVS). A SVC tem como funções:
• analisar surtos de doenças;
• gerir a rede nacional de laboratórios de saúde pública;
• administrar sistemas de informação de mortalidade;
• fazer a gestão dos agravos de notificação obrigatória;
• gerir os índices de nascidos vivos;
• gerir e desenvolver inquéritos de fatores de risco de doenças;
• gerir as doenças e agravos transmissíveis e não-transmissíveis;
• analisar as situações de saúde.

Figura 22: Vigilância em saúde.


Fonte: Shutterstock (2019).

Para compreender os aspectos relacionados a vigilância em saúde é importante você


conhecer os termos relacionados à morbidade. Você sabe qual a diferença entre endemia,
surto, epidemia e pandemia?

• Endemia: quando ocorre uma doença em um local geográfico limitado, de forma


controlada. Exemplo: febre amarela que é comum na Amazônia.
• Surto: é caracterizado pelo aumento súbito do índice de casos de uma doença em
determinada região. A elevação do número de casos é maior do que o previsto.
Exemplo: quando o sarampo atinge determinada região.
• Epidemia: é caracterizada por um aumento súbito, inesperado da incidência de
uma determinada doença, que excede os índices previstos para uma população, e
não é limitado a determinado local. Exemplo: Dengue.
• Pandemia: quando determinada doença acomete várias populações de forma dis-
seminada, podendo atingir não apenas países, mas continentes ou todo o mundo.
Exemplo: Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS) (BRASIL, 2002).

75
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
Agora analise o mapa referente a gripe H1N1, abaixo e responda as perguntas:

Figura 23. Casos confirmados de Gripe H1N1.


Fonte: WHO, 2009.

1. Qual é o caso representado pelo mapa (pandemia, epidemia ou endemia)?

2. Quais continentes foram afetados pela gripe H1N1?

Você sabia que, após a constituição de 1988, o sistema de saúde brasileiro tem busca-
do desenvolver modelos de atenção que permitam resultados eficazes e efetivos às reais
necessidades da população brasileira?
Pois, os modelos médico-assistencial e sanitarista, não possibilitam dar respaldo à
diversidade e complexidade das questões relacionadas ao processo de saúde e doença.
O desenvolvimento de modelos alternativos que, adicionem as ações existentes a outras
formas de assistência como as que levam em consideração a qualidade de vida, inse-
rindo indivíduos sociais que anteriormente eram excluídos desse processo, é estratégia
essencial para o sistema de saúde (TEIXEIRA; PAIM; VILASBOAS,1998; MONKEN, BA-
TISTELLA, 2009).
A União, por meio da Secretaria de Vigilância em Saúde, determina todos os anos, as

76
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
metas e ações que precisam ser desenvolvidas pelos estados e municípios, baseadas na
análise epidemiológica de cada doença. As ações prioritárias de vigilância em saúde vi-
sam atividades e metas para fortalecer o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica
e Ambiental em Saúde, para aumentar as atividades de notificação através dos estados e
municípios, imunização, investigação, confirmação laboratorial, sistemas de informação
e vigilância ambiental em saúde (GALLEGUILLOS, 2014).
Conforme as agências de saúde pública ampliam seus domínios para permitir uma
abrangência maior dos problemas de saúde, o estabelecimento da vigilância é frequente-
mente a conduta inicial para informações que determinem a prioridade de novos progra-
mas (ROTHMAN; GREENLAND; LASH; 2011).
A vigilância em saúde está associada atividades de atenção e promoção da saúde dos
indivíduos e aos mecanismos usados para prevenção de doenças. Adicionalmente, inte-
gra várias áreas de conhecimento e contempla diferentes temas, como política e plane-
jamento, epidemiologia, territorialização, processo saúde-doença, situação de saúde e
condições de vida da população, ambiente e saúde e processo de trabalho. Desta forma, a
vigilância é distribuída em: epidemiológica, ambiental, sanitária e saúde do trabalhador
(BRASIL, s/d.a).

2.1 VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA

A vigilância epidemiológica é caracterizada pela atividade de informação–decisão–


ação. As informações do Sistema de Vigilância Epidemiológica configuram-se como um
instrumento relevante para o planejamento, e organização serviços de saúde, assim como
para sua operacionalização (ALMEIDA; BARRETO, 2011).
A vigilância epidemiológica visa detectar as principais doenças de notificação com-
pulsória e analisa epidemias que acontecem em territórios específicos, atuando no con-
trole das doenças específicas.

Desta forma, tem como objetivos:


• contemplar os procedimentos relacionados aos prazos, fluxos, instrumentos, de-
finições de casos suspeitos assim como de casos confirmados;
• contribuir para o funcionamento dos sistemas de informação em saúde, no que se
refere as condutas, medidas de controle e diretrizes técnicas para operacionaliza-
ção do Sistema Nacional de Vigilância em Saúde, considerando o cenário epide-
miológico atual do país;

77
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
• contribuir para o conhecimento científico e para as novas tecnologias do Sistema
Único de Saúde (SUS);
• contribuir para o desenvolvimento de ações de vigilância, prevenção e controle de
doenças e agravos da saúde pública.
(BRASIL, 2019).

2.1.1 Vigilância epidemiológica de doenças crônicas não transmissíveis


(DCNT)

Essa vigilância contempla ações e processos que possibilitam o conhecimento da


ocorrência, magnitude e distribuição das DCNT e também dos seus principais fatores de
risco no Brasil. Além disso, permite a identificação dos determinantes e condicionantes
sociais, econômicos e ambientais. Os componentes fundamentais dessa vigilância são:
o monitoramento dos fatores de risco, da morbidade, da mortalidade e da avaliação das
atividades de assistência e promoção da saúde (BRASIL, 2018a).
As DCNT são determinadas por diversos fatores sociais ou individuais e acometem os
indivíduos no decorrer da vida e apresentam longa duração.

As principais DCNT são:


• as doenças cardiovasculares;
• doenças respiratórias crônicas;
• diabetes mellitus.
• neoplasias.
(BRASIL, 2018a).

Essas doenças apresentam fatores de risco (modificáveis) em comum. Verifique a fi-


gura a seguir.

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BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
Figura 24. Fatores de risco em comum das principais DCNT.
Adaptada: BRASIL, (2018a).

O tabagismo é um fator de risco preocupante para diversas doenças crônicas e é líder


global entre as causas de mortes evitáveis (WHO, 2011). No Brasil, segundo a Pesquisa Na-
cional de Saúde (PNS) em 2013 (BRASIL, 2014), 14,5% dos adultos eram fumantes cigarro,
dentre estes, 51,1% referiram que tentaram parar de fumar no ano anterior a pesquisa, e
8,8% procuraram tratamento para parar de fumar no mesmo período. Além disso, 17,5%
declarou ser-fumante.
Outros dados foram relatados pela Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Do-
enças Crônicas por Inquérito Telefônico – Vigitel em 2017 (BRASIL, 2018b) que demons-
traram que a prevalência de fumantes reduziu significativamente, de 15,6% em 2006
para 10,1% em 2017.
Quanto ao consumo nocivo do álcool, configura-se como um dos cinco principais fa-
tores que causam incapacidade e está associado a mais de 200 doenças e lesões como
câncer, cirrose hepática, distúrbios neurológicos e maior exposição a acidentes e violên-
cias além de morte (BRASIL, 2014; REHM, 2010).
Segundo a Vigitel, 19,1% dos adultos procedentes de 26 capitais brasileiras e Distrito
Federal apresentaram consumo abusivo de bebida alcóolica em 2017 (BRASIL, 2018b).
No que se refere a atividade física insuficiente é quarto maior fator de risco de morta-
lidade global (WHO, 2014). Em contrapartida, a prática de atividade física recomendada
é considerada um fator de proteção à saúde do indivíduo. Segundo a PNS 2013, a preva-
lência no país, de adultos que praticavam o nível sugerido de atividade física no lazer, foi

79
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
de apenas 23,8% na área urbana e 13,8% na área rural. Além disso, foi relatado que 14%
dos adultos praticavam 150 minutos de atividade física por semana no trabalho e 12,1%
quando durante atividades domésticas, sendo que os insuficientemente ativos represen-
taram 46,0% (BRASIL, 2014).
Outro fator importante é a alimentação não saudável, que contribui com as DCNT de-
vido ao consumo excessivo de gorduras saturadas, sódio e açúcares livres.
Por outro lado, um padrão alimentar saudável contempla o consumo de frutas e hor-
taliças. Desta forma, a Organização Mundial de Saúde recomenda a que sejam ingeridas
diariamente, no mínimo 400 gramas (cinco porções) de frutas e hortaliças. No entanto,
foi verificado em 26 capitais e Distrito Federal, em 2016, que 80,4% dos adultos não apre-
sentaram consumo recomendado desses alimentos (BRASIL, 2018a).
Logo, é extremamente relevante o desenvolvimento de ações para prevenção desses
fatores de risco assim como os demais que contribuem para o aparecimento e agravo das
DCNT.
Neste contexto, o instrumento que orienta a Vigilância de DCNT é o Plano de Ações
Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) no
Brasil, 2011-2022.

Os objetivos da área técnica de vigilância das DCNT, além de realizar a vigilância, são:
• Coordenar a realização de diretrizes nacionais e atividades para a prevenir as
DCNT;
• Coordenar o desenvolvimento de diretrizes nacionais e atividades para monitorar
e avaliar os fatores de risco para as DCNT, como: uso de tabaco, uso nocivo do ál-
cool, alimentação e atividade física inadequadas;
• Coordenar o desenvolvimento de pesquisas e inquéritos populacionais relaciona-
dos aos fatores de risco para DCNT e promoção da saúde, como: PNS, Vigitel e
PeNSE;
• Coordenar a normatização, planejamento e implantação, monitorar dos indicado-
res nacionais e internacionais relevantes para a vigilância e prevenção de DCNT;
• Realizar o planejamento, elaboração, coordenação e publicação da análise de situ-
ações de saúde para vigilância e para prevenir as DCNT;
• Apresentar estudos de avaliação da efetividade e eficácia das condutas adotadas
para vigilância e prevenção de DCNT;
• Apresentar linhas prioritárias para desenvolver pesquisas, análises e demais ativi-
dades técnico-científicas para vigilância de DCNT;
• Realizar a capacitação de profissionais para vigilância da saúde das Secretarias Es-
taduais de Saúde e do Distrito Federal, estimulando a propagação para as Secreta-

80
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
rias Municipais de Saúde;
• Oferecer subsídio, apoiando e fazendo o e acompanhamento da comunicação
social e disseminação de informações relacionadas à vigilância e prevenção de
DCNT.
(BRASIL, 2018a).

2.1.2 Vigilância epidemiológica de doenças transmissíveis (VEDT)

A Vigilância das Doenças Transmissíveis tem como atribuição realizar o planeja-


mento, programação, coordenação e cumprimento das ações de vigilância das doenças
imunopreveníveis de notificação compulsória. É responsável pelo monitoramento e por
traçar o perfil epidemiológico dessas doenças, assim como, elaborar, atualizar e quando
necessário adaptar normas e procedimentos relacionados aos programas e ações de vigi-
lância epidemiológica (BRASIL, s/d.b).
A evolução da vigilância epidemiológica permitiu o desenvolvimento de diversos mé-
todos e práticas para aplicação na maioria dos países ocidentais, especialmente sobre
uma lista de determinadas doenças, definidas para cada país.
A disponibilidade de dados para o processo de informação-ação é fundamental para
as funções de vigilância epidemiológica, sendo que a notificação compulsória é fonte
de informação mais importante da vigilância epidemiológica de doenças transmissíveis.
Porém, outras fontes de dados devem ser usadas, como os do setor saúde e de institui-
ções extrassetoriais (demográficos, socioeconômicos, ambientais, registros de acidentes,
entre outros (ALMEIDA; BARRETO, 2011).

2.1.3 Notificação compulsória

É obrigatória a todos os profissionais de saúde a notificação compulsória, assim como


pelos responsáveis por estabelecimento ou organização de saúde pública ou privada de
saúde e de ensino, em conformidade com a Lei Federal n. 6.259, de 1975.
O Ministério da Saúde por conta dessa lei, pode atualizar a lista de doenças através de
portaria, na qual são eleitas as doenças de notificação obrigatória, e agravos inusitados
à saúde. Assim, os Estados também podem adicionar outras doenças na lista, de acordo
com o perfil epidemiológico local. O Sistema de Informação de Agravos de Notificação

81
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
(SINAN) foi desenvolvido pelo Centro Nacional de Epidemiologia, com respaldo do Da-
tasus para ser operado nas Unidades de Saúde. É recomendado pelo Ministério da Saúde
um fluxo padrão para indepentende do tipo de caso notificado e as fichas de notificação
precisam ser preenchidas nas unidades assistenciais. Essas unidades retêm uma cópia
e encaminham a outra para os serviços de vigilância epidemiológica. Além disso, uma
ficha de investigação, deve ser digitada na mesma unidade ou em Secretarias, devem ser
enviados por meio magnético os dados para os níveis estadual e federal (FRANCO; PAS-
SOS, 2011).
As doenças de notificação compulsória, geralmente, são as muito graves ou que apre-
sentam problema para a saúde pública.
A portaria número 204, de 17 de fevereiro de 2016, define a Lista Nacional de Notifica-
ção Compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde pública nos serviços de saúde
públicos e privados.

A lista das doenças, é apresentada a seguir:


DOENÇA OU AGRAVO
Acidente de trabalho com exposição a material biológico
Acidente de trabalho: grave, fatal e em crianças e adolescentes
Acidente por animal peçonhento
Acidente por animal potencialmente transmissor da raiva
Botulismo
Cólera
Coqueluche
Dengue – Casos e Dengue - Óbitos
Difteria
Doença de Chagas Aguda
Doença de Creutzfeldt-Jakob (DCJ)
Doença Invasiva por “Haemophilus Influenza”
Doença Meningocócica e outras meningites
Doenças com suspeita de disseminação intencional: a. Antraz pneumônico b. Tularemia c. Varíola
Doenças febris hemorrágicas emergentes/reemergentes: a. Arenavírus b.Ebola c. Marburg d. Lassa e. Febre
purpúrica brasileira
Doença aguda pelo vírus Zika
Doença aguda pelo vírus Zika em gestante
Óbito com suspeita de doença pelo vírus Zika

82
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
Esquistossomose
Evento de Saúde Pública (ESP) que se constitua ameaça à saúde pública
Eventos adversos graves ou óbitos pós vacinação
Febre Amarela
Febre de Chikungunya
Febre de Chikungunya em áreas sem transmissão
Óbito com suspeita de Febre de Chikungunya
Febre do Nilo Ocidental e outras arboviroses de importância em saúde pública
Febre Maculosa e outras Riquetisioses
Febre Tifoide
Hanseníase
Hantavirose
Hepatites virais
HIV/AIDS - Infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana ou Síndrome da Imunodeficiência Adquirida
Infecção pelo HIV em gestante, parturiente ou puérpera e Criança exposta ao risco de transmissão vertical
do HIV
Infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV)
Influenza humana produzida por novo subtipo viral
Intoxicação Exógena (por substâncias químicas, incluindo agrotóxicos, gases
tóxicos e metais pesados)
Leishmaniose Tegumentar Americana
Leishmaniose Visceral
Leptospirose
Malária na região amazônica
Malária na região extra Amazônica
Óbito: a. Infantil b. Materno
Poliomielite por poliovirus selvagem X X X
Peste
Raiva humana
Síndrome da Rubéola Congênita
Doenças Exantemáticas: a. Sarampo b.Rubéola
Sífilis: a. Adquirida b. Congênita c. Em gestante
Síndrome da Paralisia Flácida Aguda

83
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
Síndrome Respiratória Aguda Grave associada a Coronavírus a. SARS-CoV b.
MERS- CoV
Tétano: a. Acidental b. Neonatal
Toxoplasmose gestacional e congênita
Tuberculose
Varicela - caso grave internado ou óbito
a. Violência doméstica e/ou outras violências; b. Violência sexual e tentativa de suicídio
Quadro 11. Lista Nacional de Notificação Compulsória de doenças, agravos e eventos de saúde pública.
Adaptada: Brasil, (2016a).

2.1.4 Vigilância sentinela

A estratégia de vigilância sentinela visa realizar o monitoramento dos indicadores


chaves em determinadas unidades de saúde, “unidades sentinelas”, que possam servir
de alerta precoce para o sistema de vigilância. Vigilância sentinela é considerada um
modelo de vigilância realizada através de estabelecimento estratégico de saúde para a
vigilância de mortalidade, morbidade, ou agentes etiológicos relevantes para a saúde pú-
blica, com participação facultativa, conforme norma técnica específica determinada pela
Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS/MS) (BRASIL, 2016b).

SAIBA MAIS
Saiba mais sobre vigilância em saúde. Faça a leitura do Guia de Vigilância em
Saúde. Acesse:
http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/guia_vigilancia_saude_3ed.pdf
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Coordenação-Geral de De-
senvolvimento da Epidemiologia em Serviços. Guia de Vigilância em Saúde: volume único. 3. ed.
Brasília: Ministério da Saúde, 2019.

84
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
2.1.3 Laboratórios

Devido ao fato de poderem identificar casos que não foram conhecidos através da no-
tificação compulsória, laboratórios de bacteriologia, imunologia, virologia, parasitolo-
gia, biologia molecular, micologia e anatomopatológicos configuram-se também como
importantes fontes de informação (ALMEIDA; BARRETO, 2011).

2.1.4 Notificação de surtos e epidemias

Os dados relacionados aos surtos podem ser obtidos através de várias maneiras, como
a notificação compulsória de doenças, busca ativa em uma investigação, inquéritos ou
detecção laboratorial. A identificação de surtos necessita de medidas para o seu contro-
le e para prevenir novos casos. Grande parte dos surtos apresenta etiologia infecciosa e
transmissível (BRASIL, 2018c).

Os surtos podem ser detectados de diversas maneiras, principalmente através de:


• Notificação realizada pelos profissionais de saúde que identificam em sua rotina
um aumento do número de casos ou gravidade de determinada doença;
• Informações que procedem da comunidade e notificadas às autoridades.
• Informações que procedem da imprensa;
• Análise de rotina dos dados de vigilância epidemiológica. (BRASIL, 2018c).

Portanto, os surtos e epidemias devem ser prontamente informados aos serviços de


vigilância epidemiológica para que haja acompanhamento e adotadas medidas específi-
cas de controle. As áreas próximas precisam ser alertadas (ALMEIDA; BARRETO, 2011).

2.1.5 Sistema de Informação de Internação Hospitalar (SIHSUS)

O SIH-SUS foi o primeiro sistema do DATASUS a possibilitar a captação implementa-


da em microcomputadores e descentralizada, dando fim a era dos pólos de digitação. O
SIHSUS visa fazer o registro de todos os atendimentos decorrentes de internações hos-
pitalares que foram financiados pelo SUS, e criar relatórios para os gestores poderem

85
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
realizar os pagamentos dos estabelecimentos de saúde. Adicionalmente, o nível Federal
obtém mensalmente uma base de dados relacionada a todas as internações autorizadas
para repasse dos valores de Produção de Média e Alta complexidade às Secretarias de
Saúde, assim como, dos valores de outros tipos de contrato de gestão (BRASIL, s.d.c).

2.1.6 Sistema de Informação de Mortalidade (SIM)

O Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) foi desenvolvido pelo DATASUS com
intuito de obter de forma regular dados relacionados a mortalidade no país. Com a criação
do SIM houve a possibilidade de obter dados sobre mortalidade, de maneira abrangente,
para auxiliar na gestão da saúde pública. Esses dados possibilitam análises de planejamen-
to, situação e avaliação das ações e programas na área da saúde (BRASIL, s.d.d).

2.1.7 Dados demográficos, ambientais e socioeconômicos

Os indicadores demográficos e socioeconômicos são essenciais para caracterizar a di-


nâmica populacional e as condições gerais de vida, pois estão associadas aos fatores de
risco de doença ou agravo sob vigilância. Dados sobre o clima e dados ecológicos podem
auxiliar para a compreensão de determinado fenômeno analisado. Os dados demográfi-
cos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísitica (IBGE), são frequentemente usados
pela vigilância epidemiológica para o cálculo dos indicadores de saúde (ALMEIDA; BAR-
RETO, 2011).
Portanto, você deve ter verificado que para a vigilância epidemiológica poder auxiliar
na prevenção, promoção e planejamento da saúde, é imprescindível obter diversas dados
e informações periódicas.

SAIBA MAIS
Saiba mais sobre o Sistema de Vigilância em Saúde no Brasil avanços e desa-
fios de OLIVEIRA, Cátia Martins de; CRUZ, Marly Marques.
Os autores fazem uma reflexão sobre o percurso político e organizacional do Sistema
de Vigilância em Saúde no Brasil apresentando a trajetória das vigilâncias epidemiológica,

86
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
ambiental e sanitária. Acesse: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pi-
d=S0103-11042015000100255&lng=en&nrm=iso>.

2.2 VIGILÂNCIA EM SAÚDE AMBIENTAL (VSA)

A vigilância ambiental se preocupa com as interferências dos ambientes psicológico,


físico e social na saúde. Suas atividades trazem benefícios por exemplo, no controle da
água que consumimos, no controle dos resíduos e de vetores de transmissão de doenças,
como os roedores e insetos (BRASIL, s.d.a).
A VSA contempla um conjunto de ações que auxiliam no conhecimento e a identifi-
cação de mudanças nos fatores determinantes e condicionantes do meio ambiente que
influencia na saúde, para determinar as medidas de prevenção e controle dos fatores de
risco ambientais associados às doenças ou agravos à saúde. A VSA também realiza a vi-
gilância epidemiológica das doenças e agravos, relacionadas aos contaminantes ambien-
tais, principalmente quanto a exposição de agrotóxicos, mercúrio, amianto, benzeno e
chumbo (BRASIL, 2017b).

As áreas de atuação da Vigilância em Saúde Ambiental são descritas a seguir:


• Vigilância da qualidade da água para consumo humano (Vigiágua): contempla em
ações continuas, pelas autoridades de saúde pública, para assegurar à população
acesso à água com qualidade e quantidade suficientes conforme o padrão de po-
tabilidade, determinado pela legislação vigente, visando a promoção da saúde e
prevenção das doenças e agravos transmitidos pela água.
• Vigilância em saúde de populações expostas a contaminantes químicos (Vigipeq):
desenvolve e adota medidas de promoção e prevenção contra doenças e agravos,
oferece assistência integral às populações que estão expostas a contaminantes
químicos.
• Vigilância em saúde de populações expostas a poluentes atmosféricos (Vigiar):
suas ações têm como objetivo identificar e priorizar os municípios que apresen-
tam risco de exposição humana a poluentes atmosféricos, definir áreas de atenção
ambiental atmosférica e detectar os efeitos agudos e crônicos decorrentes da ex-
posição a poluentes atmosféricos para a caracterizar a situação de saúde.
• Vigilância em saúde ambiental relacionada aos riscos decorrentes de desastres
(Vigidesastres): realiza atividades de forma contínua para a atuação em desastres

87
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
de origem natural e tecnológica. Dentre esses estão as inundações, estiagem, seca,
deslizamentos, emergência radiológica e nuclear, os acidentes com produtos quí-
micos.
• Vigilância em saúde ambiental relacionada aos fatores físicos (Vigifis): contempla
ações para proteção da saúde relacionada a exposição a radiações não ionizantes
(RNI) e ionizantes (RI) que se caracterizam pela fonte de exposição, e não pela na-
tureza da radiação. (BRASIL, 2017b).

2.3 VIGILÂNCIA SANITÁRIA

A Vigilância Sanitária de estabelecimentos que prestam serviços de saúde visa a pre-


venção de agravos a saúde possam acontecer em decorrência do uso dos serviços ofere-
cidos por esses estabelecimentos.
As atividades de vigilância sanitária são voltadas, geralmente, para o controle de bens,
produtos e serviços que podem oferecer riscos à saúde. Dentre esses, estão os alimentos,
cosméticos, produtos de limpeza e medicamentos. A vigilância sanitária também é res-
ponsável pela fiscalização de serviços de saúde, como hospitais, como escolas, clubes,
parques, academias e centros comerciais. Faz a inspeção dos processos produtivos que
podem causar riscos e danos ao meio ambiente e ao trabalhador (BRASIL, s.d.a).

Desta forma a vigilância sanitária atua:


• Nas tecnologias de alimentos, analisa as formas e processos de produção de ali-
mentos;
• Nas tecnologias de limpeza, higiene e beleza, analisa os processos de produção de
cosméticos, produtos de higiene e saneantes
• Nas tecnologias de produção industrial e agrícola, relacionadas aos componentes
agrícolas, drogas veterinárias e produtos químicos
• Nass tecnologias médicas, como medicamentos, vacinas, soros, cuidados médicos
e cirúrgicos, equipamentos médico-hospitalares.

2.4 VIGILÂNCIA DO TRABALHADOR

A Vigilância do trabalhador (VISAT) tem como objetivos a promoção da saúde e a re-

88
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
dução da morbidade e mortalidade dos trabalhadores, através da integração de ações que
atuem nos agravos e seus determinantes. Atua na relação do ambiente e da saúde com os
processos de trabalho, por meio de práticas sanitárias com a participação dos trabalha-
dores (RENAST, s.d).
O perfil de morbimortalidade dos trabalhadores, é influenciado pelo trabalho que
contribui de forma direta para os acidentes de trabalho e doenças profissionais, e, de
maneira indireta, para as doenças relacionadas com o trabalho (GALLEGUILLOS, 2014).
Portanto, a VISAT é fundamental para o modelo de Atenção Integral em Saúde do
Trabalhador, pois contempla atividades contínuas e sistemáticas, para pesquisar, iden-
tificar, conhecer e analisar os fatores relacionados aos agravos à saúde relacionados aos
processos e ambientes de trabalho, no âmbito social, organizacional, tecnológico e epi-
demiológico, para realizar o planejamento, execução e prevenir intervenções sobre esses
aspectos (RENAST, s.d).

SAIBA MAIS
Saiba mais sobre saúde do trabalhador: aspectos históricos, avanços e desa-
fios no Sistema Único de Saúde.
Acesse https://www.scielosp.org/article/csc/2018.v23n6/1963-1970/

SUGESTÃO DE LEITURA
Verifique o capítulo 17, Vigilância em saúde, do
livro Epidemiologia: indicadores de saúde e análise
de dados.
GALLEGUILLOS, T. G.B. Epidemiologia:
indicadores de saúde e análise de
dados. 1. ed. São Paulo: Érica, 2014.
Leia também a parte 7 Epidemiologia
aplicada a sistemas de saúde, no livro
Epidemiologia & saúde: fundamentos, métodos, aplicações.
ALMEIDA N.; BARRETO, M.L. Epidemiologia & saúde: fundamentos,
métodos, aplicações. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.

89
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
FÓRUM
Participe do fórum dessa unidade, descreva quais são os desafios atuais rela-
cionados à vigilância em saúde no Brasil.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta unidade você conheceu a importância da vigilância em saúde no contexto da


saúde pública.
Foram contemplados os aspectos que em conjunto contribuem para a vigilância em saú-
de da população, como a vigilância de doenças transmissíveis e não transmissíveis, dos
fatores de risco para doenças e agravos, vigilância ambiental, sanitária e do trabalhador.
Desta forma, as pesquisas, coletas de dados e as análises do perfil de saúde da popu-
lação permitem ações de vigilância, para promoção, prevenção e controle dos fatores de
riscos causados pelas as doenças e agravos.

Agora, teste seus conhecimentos, responda aos exercícios de revisão!

EXERCÍCIOS DE REVISÃO DE CONTEÚDO

1. Para compreender os aspectos relacionados a vigilância em saúde é importante co-


nhecer os termos relacionados à morbidade. Verifique as asserções e assinale a alterna-
tiva correta.
I. Pandemia: quando ocorre uma doença em um local geográfico limitado, de forma
controlada. Exemplo: febre amarela que é comum na Amazônia.
II. Surto: é caracterizado pelo aumento súbito do índice de casos de uma doença em
determinada região. A elevação do número de casos é maior do que o previsto.
Exemplo: quando o sarampo atinge determinada região.
III. Epidemia: é caracterizada por um aumento súbito, inesperado da incidência de
uma determinada doença, que excede os índices previstos para uma população, e
não é limitado a determinado local. Exemplo: Dengue.
IV. Endemia: quando determinada doença acomete várias populações de forma dis-

90
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
seminada, podendo atingir não apenas países, mas continentes ou todo o mundo.
Exemplo: Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (AIDS)

Está correto apenas o que se afirma em:


A. I e II
B. II e III
C. III
D. I, II e IV
E. III e IV

2. A Vigilância epidemiológica de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) con-


templa ações e processos que possibilitam o conhecimento da ocorrência, magnitude e
distribuição das DCNT e também dos seus principais fatores de risco no Brasil. Verifique
as asserções e assinale a alternativa correta.
I. As principais DCNT são: as doenças cardiovasculares e doenças respiratórias crô-
nicas
II. As principais DCNT são: diabetes mellitus e neoplasias
III. As principais DCNT são: gripe H1N1, hanseníase
IV. As principais DCNT são: AIDS e doença arterial coronariana

Está correto apenas o que se afirma em:


A. I e II
B. II e III
C. III
D. I, II e IV
E. III e IV

3. As doenças de notificação compulsória, geralmente, são as muito graves ou que


apresentam problema para a saúde pública. Verifique as asserções e assinale a alternati-
va correta.
A. A notificação compulsória é obrigatória a todos os profissionais de saúde
B. A notificação compulsória é obrigatória aos responsáveis por estabelecimento ou
organização de saúde pública ou privada de saúde e de ensino
C. O Ministério da Saúde não pode atualizar a lista doenças de notificação obrigató-
ria pois essas doenças já foram eleitas e publicadas previamente.

Está correto apenas o que se afirma em:

91
BIOESTATÍSTICA
E EPIDEMIOLOGIA
A. I e II
B. II e III
C. I
D. II
E. III

REFERÊNCIAS

ALMEIDA N.; BARRETO, M.L. Epidemiologia & saúde: fundamentos, métodos, aplica-
ções. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.

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Revista. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2002. Disponível em:

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out 2019.

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saúde, estilos de vida e doenças crônicas: 2013. Rio de Janeiro: IBGE; 2014.

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eventos de saúde pública nos serviços de saúde públicos e privados em todo o ter-
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BRASIL. Define a lista nacional de doenças e agravos, na forma do anexo, a serem


monitorados por meio da estratégia de vigilância em unidades sentinelas e suas di-
retrizes. Portaria n. 205, de 17 de fevereiro de 2016b. Disponível em: http://bvsms.saude.
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