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Bases Diagnósticas

Autoras: Profa. Sandra Zeitoun


Profa. Claudia Minazaki
Colaboradores: Profa. Renata Guzzo Souza Belinelo
Profa. Raquel Machado Cavalca Coutinho
Profa. Laura Cristina da Cruz Dominciano
Professoras conteudistas: Sandra Zeitoun / Claudia Minazaki

Sandra Zeitoun

Graduada pela Faculdade de Enfermagem São José, em 1986 (Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de
São Paulo). Enfermeira intensivista titulada pela Sociedade Brasileira de Enfermeiros de Terapia Intensiva. Mestre em
Enfermagem na Saúde do Adulto pela Universidade Federal de São Paulo, em 2001, e doutora em Ciências da Saúde pela
Universidade Federal de São Paulo, em 2005. Membro do Grupo de Ensino, Pesquisa e Assistência em Sistematização
de Enfermagem (Gepasae/Unifesp). Revisora ad hoc do Journal of Clinical Nursing, International Journal of Nursing
Knowledge e Revista Brasileira de Enfermagem. Atualmente, é docente titular do curso de Enfermagem do Instituto
de Ciências da Saúde da Universidade Paulista. Docente convidada do curso de especialização na Assistência ao Adulto
em UTI da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e do curso de especialização de Enfermagem em
Unidade de Terapia Intensiva do Centro Universitário São Camilo. Tem experiência clínica na enfermagem intensivista
desde sua formação, com ênfase em pneumologia, infecção hospitalar, sistematização da assistência de enfermagem,
ensino e pesquisa

Claudia Minazaki

Professora titular da Universidade Paulista, com especialização em educação a distância. Doutora em Reprodução
Animal e Biotecnologia pelo Departamento de Reprodução Animal e Biotecnologia – Laboratório de Andrologia
Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, em 2013. Mestre em Biologia
Celular e do Desenvolvimento (ênfase em Histofisiologia e Embriologia) pelo Departamento de Biologia Celular e do
Desenvolvimento – Laboratório de Citofisiologia do Trofoblasto do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade
de São Paulo, em 2003. Formada em Medicina Veterinária pela Universidade Paulista, em 1994.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Z48b Zeitoun, Sandra.

Bases diagnósticas. / Sandra Zeitoun, Claudia Kiyomi Minazaki.


– São Paulo: Editora Sol, 2017.

112 p., il.

Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e


Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXIII, n. 2-005/17, ISSN 1517-9230.

1. Exames bioquímicos. 2. Exames microbiológicos. 3. Exames de


traçado . I. Minazali, Claudia Kiyomi. II. Título.

CDU 616-071

© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou
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Reitoria

Reitor: Prof. Yugo Okida

Vice-Reitor: Prof. Fábio Nogueira Carlucci

Pró-Reitor Acadêmico: Prof. Humberto Venderlino Richter

Pró-Reitor Administrativo: Prof. Robson do Nascimento


Sumário
Bases Diagnósticas

APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................9
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................9

Unidade I
1 EXAME DE URINA DE ROTINA (URINA E PARASITOLÓGICO DE FEZES)...................................... 13
1.1 Considerações gerais sobre o exame de urina........................................................................... 13
1.1.1 Cuidados na fase pré‑analítica.......................................................................................................... 13
1.1.2 Tipos de coleta.......................................................................................................................................... 13
1.1.3 Manuseio e transporte da amostra.................................................................................................. 15
1.1.4 Fase pós‑analítica (interpretação dos resultados)...................................................................... 15
1.2 Considerações gerais sobre o exame parasitológico de fezes............................................. 17
1.2.1 Cuidados na fase pré‑analítica.......................................................................................................... 18
1.2.2 Fase pós‑analítica (interpretação dos resultados)...................................................................... 19
2 HEMOGRAMA COMPLETO............................................................................................................................ 20
2.1 Considerações gerais sobre o processo de hematopoiese.................................................... 20
2.2 Exame de hemograma......................................................................................................................... 21
2.2.1 Cuidados na fase pré‑analítica.......................................................................................................... 23
2.2.2 Cuidados durante a coleta................................................................................................................... 23
2.2.3 Fase pós‑analítica (interpretação do hemograma).................................................................... 24
3 EXAMES BIOQUÍMICOS.................................................................................................................................. 29
3.1 Considerações gerais............................................................................................................................ 29
3.2 Sódio (Na)................................................................................................................................................. 30
3.2.1 Cuidados na fase pré‑analítica.......................................................................................................... 31
3.2.2 Fase pós‑analítica (interpretação dos resultados)...................................................................... 31
3.3 Potássio (K+)............................................................................................................................................ 32
3.3.1 Cuidados na fase pré‑analítica.......................................................................................................... 32
3.3.2 Fase pós‑analítica (interpretação dos resultados)...................................................................... 32
3.4 Cálcio (Ca+)............................................................................................................................................. 33
3.4.1 Cuidados na fase pré‑analítica.......................................................................................................... 33
3.4.2 Fase pós‑analítica (interpretação dos resultados)...................................................................... 33
3.5 Magnésio (Mg++)................................................................................................................................. 34
3.5.1 Cuidados na fase pré‑analítica.......................................................................................................... 34
3.5.2 Fase pós‑analítica (interpretação dos resultados)...................................................................... 34
4 EXAMES MICROBIOLÓGICOS....................................................................................................................... 35
4.1 Considerações gerais sobre os exames microbiológicos........................................................ 35
4.1.1 Hemocultura.............................................................................................................................................. 36
4.1.2 Urocultura................................................................................................................................................... 38
4.1.3 Líquor............................................................................................................................................................ 40
4.1.4 Escarro.......................................................................................................................................................... 41
4.1.5 Cultura tópica (swab)............................................................................................................................. 43
4.2 Considerações gerais sobre os exames imunológicos............................................................ 45
4.2.1 Exames imunodiagnósticos................................................................................................................. 46
4.2.2 Cuidados na fase pré‑analítica.......................................................................................................... 47
4.2.3 Fase pós‑analítica (interpretação dos resultados)...................................................................... 48

Unidade II
5 BASES DIAGNÓSTICAS................................................................................................................................... 53
5.1 Riscos da radiação................................................................................................................................ 53
5.1.1 Precauções para proteção do paciente........................................................................................... 55
5.2 Solicitação de exames radiológicos............................................................................................... 57
5.3 Raio X......................................................................................................................................................... 58
5.3.1 Exames radiológicos............................................................................................................................... 58
5.4 Raio X convencional............................................................................................................................. 58
5.5 Radiografia simples de tórax............................................................................................................ 59
5.6 Mamografia............................................................................................................................................. 59
5.7 Raio X com contraste.......................................................................................................................... 62
5.7.1 Preparo do paciente para o raio X contrastado.......................................................................... 64
6 MEIOS DE CONTRASTE COM BÁRIO.......................................................................................................... 65
6.1 Exame ultrassonográfico.................................................................................................................... 65
6.2 Doppler...................................................................................................................................................... 66
6.3 Ultrassonografia da mama................................................................................................................ 68
6.4 Ultrassonografia abdominal.............................................................................................................. 68
6.5 Ultrassonografia vascular – ecodoppler...................................................................................... 69
6.6 Tomografia computadorizada.......................................................................................................... 69
6.7 Tomografia de crânio e pescoço, tomografia axial
computadorizada de encéfalo, olhos e seios da face.................................................................... 70
6.8 Tomografia computadorizada do corpo, tomografia axial computadorizada
do corpo e tomografia computadorizada do tórax, coluna vertebral, membros,
abdome e pelve.............................................................................................................................................. 71
6.9 Ressonância magnética...................................................................................................................... 73
6.9.1 Utilização pediátrica............................................................................................................................... 74

Unidade III
7 EXAMES DE TRAÇADO.................................................................................................................................... 78
7.1 Eletroencefalograma............................................................................................................................ 78
7.2 Eletrocardiograma................................................................................................................................. 80
7.2.1 Eletrofisiologia cardíaca........................................................................................................................ 80
7.2.2 Considerações gerais sobre o eletrocardiograma....................................................................... 81
7.2.3 Cuidados na fase pré‑analítica.......................................................................................................... 83
7.2.4 Fase pós‑analítica.................................................................................................................................... 84
8 EXAMES ESPECIAIS.......................................................................................................................................... 85
8.1 Gasometria arterial e venosa............................................................................................................ 85
8.2 Espirometria e oximetria de pulso.................................................................................................. 89
8.2.1 Espirometria............................................................................................................................................... 90
8.2.2 Oximetria de pulso.................................................................................................................................. 92
8.3 Métodos de monitorização............................................................................................................... 94
8.3.1 Pressão arterial invasiva........................................................................................................................ 94
8.3.2 Pressão venosa central.......................................................................................................................... 96
8.4 Anatomopatológico............................................................................................................................. 98
8.4.1 Necrópsias.................................................................................................................................................100
APRESENTAÇÃO

Caro(a) aluno(a),

Neste livro, abordaremos conteúdos referentes aos principais exames laboratoriais e de


imagem, bem como alguns métodos de monitorização. Todos esses temas estão relacionados à
disciplina Bases Diagnósticas.

Este livro-texto está dividido em unidades que buscam abarcar informações relevantes e de fácil
leitura sobre os diversos exames solicitados na prática clínica, com o objetivo de auxiliar no raciocínio
clínico da equipe de saúde.

Serão abordados os diversos tipos de exames de urina e parasitológico de fezes, hemograma


completo, exames bioquímicos, microbiológicos e imunológicos. Em todos os exames citados, será feita
uma breve fundamentação teórica, seguida das fases pré-analíticas e pós-analíticas, tão importantes
para que o resultado reflita a verdadeira condição clínica do indivíduo.

Em seguida, serão estudados os exames de imagem, como raios X, mamografia, ultrassonografia,


tomografia computadorizada, ressonância magnética nuclear, bem como o uso dos meios de contraste,
quando necessário, para esses exames, sempre buscando destacar o preparo do paciente e os cuidados
durante a realização dos exames.

Por fim, serão oferecidas informações relevantes sobre os exames de traçado (eletroencefalograma e
eletrocardiograma), bem como sobre os exames que, nesta obra, classificamos como especiais, a saber:
gasometria arterial e venosa (indicação e cuidados antes, no decorrer e depois da coleta), espirometria e
oximetria de pulso, métodos invasivos de monitorização hemodinâmica e os exames anatomopatológicos.

Boa leitura!

INTRODUÇÃO

Quando buscamos sobre a história dos exames laboratoriais, descobrimos que no início
dos cuidados com a pessoa enferma, o diagnóstico médico era restrito ao exame físico e à
observação do paciente. Os estudos laboratoriais estavam restritos às substâncias que eram
naturalmente eliminadas pelo corpo. Acredita-se que o exame de urina foi o primeiro exame
de diagnóstico laboratorial.

Uma das principais finalidades dos resultados dos exames laboratoriais é reduzir as dúvidas que a
história clínica do paciente, ou familiar, e o exame físico fazem surgir no raciocínio clínico. Para que os
dados laboratoriais possam atingir esse propósito, é indispensável que todas as fases do atendimento
ao paciente, desde solicitação do exame e orientações dadas ao paciente sobre o preparo, até o
momento da coleta, sejam feitas com excelência, a fim de minimizar variáveis que possam influenciar,
significativamente, no resultado do exame.

9
Os laboratórios de análises clínicas são fundamentados em um processo dinâmico, que se inicia na
coleta do espécime diagnóstico (amostra biológica) e termina na emissão de um laudo. Didaticamente,
o processo pode ser dividido em três fases: pré-analítica, analítica e pós-analítica. Ao longo deste
livro-texto, abordaremos os principais exames laboratoriais e de imagem, destacando, na maioria deles,
os cuidados nas fases pré e pós-analíticas, principalmente.

Há relatos de que a medicina laboratorial teve sua origem a partir de uma análise de urina, pois
foram encontradas referências sobre urina nos desenhos feitos por nossos primeiros ancestrais e em
hieróglifos egípcios. Sabe-se que na Antiguidade, os médicos baseavam-se, na maioria das vezes, apenas
na análise da urina do paciente para obter um diagnóstico. Para isto, observavam a turvação, odor,
volume, cor e até presença ou não de açúcar na urina.

Hoje sabemos que o exame laboratorial é um importante instrumento de auxílio no raciocínio clínico
e na conduta terapêutica, configurando um indicador do estado de saúde do paciente.

As fases das análises clínicas, basicamente, são: pré-analítica, analítica e pós-analítica, e é


fundamental entendermos cada uma delas.

Fase pré-analítica

Inclui indicação do exame, redação da solicitação, leitura e interpretação da solicitação, transmissão


de eventuais instruções de preparo do paciente, avaliação do atendimento às instruções previamente
transmitidas e procedimentos de coleta, acondicionamento, transporte e preservação da amostra
biológica até o momento da efetiva realização do exame. Ou seja, engloba todas as atividades que
precedem o ensaio laboratorial.

Essa fase envolve um trabalho multidisciplinar, entretanto, o enfermeiro tem um papel fundamental
que inclui a orientação clara e precisa para o paciente em relação ao preparo e aos cuidados que ele
deve ter antes da realização de um determinado exame.

Fase analítica

É a análise propriamente dita da amostra, através de controles internos do laboratório, e se encerra


quando é gerado um resultado.

Fase pós-analítica

Descreve o que ocorre após a obtenção do resultado e inclui o relatório ao médico que solicitou o
exame. Podem-se citar como erros mais comuns: perda do resultado, identificação incorreta do paciente,
interpretação incorreta, erro na transcrição do resultado, não identificação de substâncias interferentes
e tempo de liberação dos resultados superior ao especificado.

Da mesma forma que apresentamos as fases que envolvem a coleta de um exame laboratorial,
existem também as variáveis que interferem neles, as quais serão descritas a seguir.
10
Variáveis biológicas

É a variabilidade de ocorrência fisiológica e própria do indivíduo, frente a diferentes estímulos. Ela


é o reflexo da flutuação nas concentrações dos elementos bioquímicos (substratos, enzimas, eletrólitos)
em torno de seus pontos de equilíbrio. Algumas variáveis podem ser controladas e outras não:

• Variáveis controláveis: permanência prolongada no leito; postura corporal; atividade física,


jejum, dieta e ingestão de alimentos, uso de fármacos e outras drogas.

• Variáveis não controláveis: sexo e idade.

Variáveis de coleta

Muitas são as variáveis envolvidas nesse processo, daí a necessidade de se estabelecer protocolos de
coleta e de rejeição da amostra, evitando assim um resultado duvidoso.

Destacamos aqui, cuidados que são fundamentais antes da aquisição da amostra, a saber:

• certificar-se de que ela será colhida do paciente especificado na requisição;

• solicitar que o paciente, se consciente, forneça nome completo e data de nascimento;

• identificar o material coletado na presença do paciente;

• verificar se o paciente está com o tempo de jejum necessário para alguns exames, bem como
se faz uso de medicamentos.

Outro ponto importante que devemos destacar é a escolha do tubo e/ou recipiente certo para
depositar a amostra biológica.

Quadro 1 – Principais anticoagulantes utilizados para a coleta de


sangue e seus respectivos tubos/cor da tampa

Cor da tampa Anticoagulante Finalidade


Sem anticoagulante/com ou sem gel Exame sorológico e bioquímico em
Vermelha/amarela separador geral
Roxa EDTA* Hemograma
Cinza Fluoreto de sódio Análise glicêmica
Verde Heparina Análise bioquímica e de gasometria
Azul Citrato de sódio Análises de coagulação
*EDTA: Ácido Etilenodiamino Tetracético

Adaptado de: Fischbach e Dunning (2010).

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Há uma recomendação da sequência dos tubos que deve ser respeitada para pacientes que possuem
diversas análises, para que não ocorra contaminação por aditivos nos tubos subsequentes. A sequência é:

• frasco para hemocultura;

• tubo de citrato de sódio;

• tubo com ativador de coágulo, com ou sem gel para obtenção de soro;

• tubo de heparina;

• tubo de EDTA;

• tubo de fluoreto/EDTA.

Variáveis de interferência

• Hemólise: refere-se à ruptura da hemácia e consequente liberação da hemoglobina.


Podemos perceber que houve hemólise quando notamos a aparência avermelhada no
soro ou plasma. Para que isso não ocorra, devem-se evitar agulhas de pequeno calibre;
o volume de sangue precisa estar adequado ao volume do aditivo; o sangue deve ser
homogeneizado suavemente.

• Aplicação do garrote: não deve ultrapassar um tempo superior a 2 minutos, pois ocorre
aumento da pressão intravascular, levando a um risco aumentado de hemólise. O ato de abrir
e fechar a mão na hora da coleta deve ser evitado por causar aumento de potássio, fosfato,
lactato, amônia e cálcio ionizado.

• Procedimentos diagnósticos: certos procedimentos diagnósticos, cada vez mais frequentes,


como a administração de contrastes para exames de imagem, a realização de toque retal e
de eletromiografia e alguns procedimentos terapêuticos, como hemodiálise, diálise peritoneal,
cirurgias, transfusão sanguínea e infusão de fármacos, podem causar variações nos resultados
de exames laboratoriais. Em relação à infusão de fármacos, é importante lembrar que a coleta de
sangue deve ser realizada sempre em local distante da instalação do cateter, preferencialmente
no outro braço, e, se possível, pelo menos uma hora após o final da infusão.

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BASES DIAGNÓSTICAS

Unidade I
1 EXAME DE URINA DE ROTINA (URINA E PARASITOLÓGICO DE FEZES)

1.1 Considerações gerais sobre o exame de urina

A urinálise, ou urina I, compreende as análises física, química e microscópica da urina, com o objetivo
de detectar doença renal, do trato urinário ou até mesmo sistêmica. Esse exame é definido pelo Clinical
and Laboratory Standards Institute como “o teste de urina com procedimentos normalmente realizados
de forma rápida, confiável, precisa, segura e custo‑efetiva” (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PATOLOGIA
CLÍNICA, 2014).

O desenvolvimento de técnicas analíticas mais práticas e eficientes permitiu que o exame de urina
de rotina se mantivesse como um dos testes mais frequentemente solicitados, seja para pacientes com
diferentes queixas clínicas, seja para indivíduos saudáveis que se submetem à avaliação periódica,
mesmo sem qualquer sintomatologia. Por essa razão, o exame de urina de rotina deve ser entendido
como um teste de triagem, capaz de fornecer informações úteis que possibilitam o diagnóstico
de eventuais problemas nos rins e nas vias urinárias, como processos irritativos, inflamatórios ou
infecciosos, além de alguns distúrbios metabólicos, como diabetes mellitus e insipidus, além de
distúrbios do equilíbrio acidobásico.

1.1.1 Cuidados na fase pré‑analítica

Não há necessidade de preparo especial para a coleta desse exame, mas não podemos esquecer
que algumas características da urina se modificam ao longo do dia. Tipo de dieta, jejum prolongado,
atividades físicas realizadas antes da coleta da amostra, bem como uso de determinados medicamentos,
são alguns dos elementos que podem alterar a característica da urina.

Dessa forma, preferencialmente, deve ser coletada a primeira urina da manhã, por ser mais
concentrada, garantindo, assim, a detecção de substâncias químicas e elementos formados que poderão
não ser observados em uma amostra aleatória mais diluída. Outra possibilidade é coletar, no mínimo,
duas horas após a última micção, sem que o indivíduo tenha realizado atividade física intensa nas seis
horas precedentes. Se for possível, deve‑se evitar a coleta no período menstrual.

1.1.2 Tipos de coleta

A urina é um material biológico isento de microrganismos, porém durante a coleta pode ser
facilmente contaminada, comprometendo o resultado. A seguir, descreveremos as técnicas mais
rotineiramente utilizadas.

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Unidade I

Coleta de urina por micção espontânea

Antes da coleta, é recomendável que o frasco de coleta já esteja identificado pelo laboratório,
colocando o nome do paciente, data e horário de coleta. É fundamental que seja feita assepsia da região
urogenital, seguindo os seguintes passos:

• Os homens deverão:

— lavar as mãos com água e sabão;

— retrair o prepúcio para expor o meato uretral;

— lavar a glande com água e sabão, começando pelo meato uretral;

— enxugar, utilizando gaze ou toalha, a partir do meato uretral;

— com uma das mãos, manter o prepúcio retraído;

— com a outra mão, segurar o frasco de coleta de urina já destampado;

— iniciar a micção, desprezando o primeiro jato de urina no vaso sanitário;

— coletar urina do jato médio até cerca de 1/3 ou metade da capacidade do frasco.

• As mulheres precisarão:

— lavar as mãos com água e sabão;

— fazer higiene da região genital com água e sabão, sempre no sentido de frente para trás.
É importante que os resíduos de pomadas, pós e cremes vaginais, eventualmente utilizados,
sejam totalmente removidos;

— enxugar toda a região genital com gaze ou toalha, sempre no sentido de frente para trás;

— separar os grandes lábios, limpar o meato urinário e a região ao redor da uretra;

— com uma das mãos, manter os grandes lábios separados;

— com a outra mão, segurar o frasco de coleta já destampado;

— iniciar a micção, desprezando o primeiro jato de urina no vaso sanitário;

— coletar urina do jato médio até, mais ou menos, 1/3 ou metade da capacidade do frasco.

14
BASES DIAGNÓSTICAS

Coleta por cateterismo uretral

Nos casos em que a coleta espontânea não seja possível e a amostra também seja utilizada para o
exame de cultura, lança‑se mão de procedimento invasivo para a coleta, como o cateterismo vesical.
Introduz‑se sob condições estéreis um cateter vesical através da uretra até a bexiga. Assim que a amostra
desejada for coletada, o cateter é retirado.

Amostra de urina de 24 horas

Exame solicitado para a dosagem quantitativa de componentes urinários. Amostras de urina devem
ser recolhidas em frascos apropriados e identificadas por um período de 24 horas. O frasco no qual a
amostra será coletada pode ficar no piso do banheiro (local fresco e arejado) durante todo o período de
coleta, até que o frasco seja levado ao laboratório. O paciente deverá começar e terminar o período da
coleta com a bexiga urinária vazia, uma vez que a quantidade das substâncias eliminadas será calculada
a partir do volume urinário produzido durante as 24 horas de coleta.

As amostras devem ser coletadas em frasco de material inerte, limpo e seco, com boca larga e
tampa de rosca para que não haja vazamento. Recipientes esterilizados e embalados individualmente
são reservados para exames microbiológicos.

Os frascos para urina de 24 horas precisam ser de plástico, com boca larga e tampa de rosca, além
de conter um volume médio de 2,5 a 3 litros.

1.1.3 Manuseio e transporte da amostra

Após a coleta, a urina deve ser entregue imediatamente ao laboratório e testada dentro de duas horas.
Uma amostra que não possa ser analisada nesse prazo necessita ser refrigerada a uma temperatura de
2 a 8 ºC, porém nunca deve ser congelada. Caso a refrigeração não seja possível, o frasco deverá ter um
conservante químico adequado adicionado.

1.1.4 Fase pós‑analítica (interpretação dos resultados)

Para a urina I os elementos analisados são:

• cor: geralmente é amarelada devido à presença de um pigmento chamado urocromo;

• pH: o valor normal fica entre 5.5 – 6.5. Os rins têm grande participação no equilíbrio ácido‑base do
organismo. Um pH alcalino (≥ 7.5), sugere infecção por bactérias como Proteus e Klebsiella. Um pH
ácido (≤ 5.5) pode estar associado a distúrbios, como cetoacidose diabética, estado hiperosmolar
não cetótico, sepse, entre outras patologias;

• densidade: ajuda a avaliar a função de filtração e concentração renais e o estado de hidratação


do corpo. Os valores normais variam entre 1.010 e 1.035 mmol/L;

15
Unidade I

• proteínas: em função do alto peso molecular, sua presença na urina deve ser imperceptível. A
proteinúria pode indicar presença de doenças renais;

• glicose e corpos cetônicos: ambos devem estar ausentes na urina. Em situações normais, quase toda a
glicose filtrada pelos glomérulos é reabsorvida pelos túbulos proximais. Já as cetonas são produzidas
a partir do metabolismo das gorduras (ácido acetoacético e ácido beta‑hidroxibutírico). A glicosúria
e cetonúria estão presentes em caso de diabetes mellitus descompensada, períodos prolongados de
jejum ou perda rápida de peso. Seus resultados são apresentados na forma de cruzes, variando de +
a +++. Quanto maior o número de cruzes, maior a quantidade desses elementos;

• hemácias/hemoglobinas: devem estar ausentes na urina. A hematúria pode ocorrer na presença


de cálculos renais, glomerulonefrite, pielonefrite, tumores, trauma, exposição a produtos ou
drogas tóxicas e exercício físico intenso. Por sua vez, a hemoglobinúria pode ocorrer em reações
transfusionais, anemia hemolítica, queimaduras graves, infecções e exercício físico intenso;

• nitritos: devem estar ausentes na urina. Sua presença pode indicar infecção do trato urinário, pela ação
de bactérias redutoras de nitrato em nitrito (todas as enterobactérias e alguns cocos gram‑positivos);

• leucócitos: podem estar presentes na urina normal. São consideradas anormais contagens
superiores a 10.000 leucócitos/ml ou 10 leucócitos/campo. Em laboratórios que se utilizam de
tecnologia mais avançada (citometria de fluxo), contagem de leucócitos de até 30.000/ml são
consideradas normais em mulheres;

• cilindros: a presença de cilindros leucocitários sugere pielonefrite (referência idem anterior);

• células epiteliais: a presença de raras células epiteliais na urina é considerada normal, principalmente
em mulheres, devido à descamação fisiológica do epitélio.

Para a urina de 24 horas, os principais elementos analisados são:

• clearance (depuração) de creatinina: exame que mede a taxa de filtração glomerular. Seu cálculo
é obtido através de uma equação que corrige fatores como idade, sexo e peso corporal. A seguir
será exibida a taxa de filtração glomerular e a sua interpretação;

Tabela 1 – Cálculo de clearance de creatinina

Estágio Descrição Taxa de filtração glomerular (TFG)


1 Afecções renais com TFG normal 90 ml/min ou acima
2 Afecções renais com leve redução na TFG 60 a 89 ml/min
3 Redução moderada da TFG 30 a 59 ml/min
4 Redução grave da TFG 15 a 29 ml/min
5 Falência renal Menos de 15 ml/min

Fonte: Kirsztajn et al. (2014, p. 64).

16
BASES DIAGNÓSTICAS

• outros elementos que podem ser verificados: cortisol e hidroxicorticosteroides urinários,


cetosteroide urinário, hidroxiesteroides cetogênicos, ácido cítrico, ácido homovanílico, ácido úrico
e microalbuminúria.

Lembrete

O exame de urina é indicado como o marco inicial da medicina


laboratorial e, ainda hoje, é considerado de grande valor diagnóstico e
prognóstico na prática clínica.

1.2 Considerações gerais sobre o exame parasitológico de fezes

O parasitismo é uma associação entre os seres vivos, sendo o hospedeiro um dos associados e o
prejudicado na associação, pois fornece o alimento e o abrigo ao parasita, sendo assim, a parasitose é o
estado de infecção cuja agressão repercute prejudicialmente sobre o hospedeiro.

Os parasitas intestinais estão entre os patógenos mais frequentemente encontrados em seres


humanos, constituindo agravo importante à saúde. A Organização Mundial da Saúde alerta sobre a
alta frequência das doenças parasitárias na população mundial, estimando que cerca de 980 milhões
de pessoas estejam parasitadas pelo Ascaris lumbricoides, 200 milhões pelo Schistosoma mansoni e 16
milhões pelo Trypanosoma cruzi.

Para que uma parasitose seja classificada como enteroparasitose, é necessário que o parasita
envolvido na doença passe uma das fases do seu ciclo biológico no aparelho digestivo, provocando
alterações patológicas.

A principal fonte para contaminação do ser humano é oral‑fecal, através da ingestão de água e
alimentos contaminados pelos parasitas. Os ovos, cistos e larvas dos parasitas contaminam a água,
que os transporta a longas distâncias, promovendo dessa forma a infecção de novos hospedeiros.
Sendo assim, a realização de obra de saneamento básico está intimamente relacionada à profilaxia
de enteroparasitoses.

Apesar de bem estudadas em sua profilaxia e controle, as parasitoses ficam entre as doenças mais
frequentes na população de baixa renda, estando associadas a quadros de diarreia crônica e desnutrição,
afetando principalmente as crianças devido aos hábitos inadequados de higiene, comprometendo o
desenvolvimento físico e intelectual, principalmente em indivíduos jovens. Outros fatores que contribuem
para as enteroparasitoses são migrações humanas, condições ambientais, maior densidade populacional,
potencial biótico elevado (capacidade máxima de reprodução de uma espécie biológica).

Mesmo sendo considerado um problema de saúde pública no Brasil, a investigação das


enteroparasitores tem sido negligenciada, agravando o quadro dessas parasitoses, uma vez que os
portadores assintomáticos não são diagnosticados previamente, transformando‑os em disseminadores
dos parasitas.
17
Unidade I

As enteroparasitores se dividem em protozoários e helmintos, que se diferem pela morfologia,


rotas de transmissão, formas de infecção/infestação, sítios de localização, ciclos biológicos e processos
fisiopatológicos específicos. As manifestações clínicas são variáveis, desde a ausência de sintomatologia
até a morte por agravamento de situações mórbidas associadas, passando de diarreia, dores abdominais,
perda proteica, desnutrição, anemia e aumento da suscetibilidade a outras infecções.

As principais enteroparasitoses que acometem o organismo humano podem se localizar em diversos


sítios, como intestino delgado (Giardia, Ascaris, Ancylostoma), intestino grosso (amebas), ceco (Trichuris),
fígado (amebas) e cérebro (cisticercose – Taenia), e vários métodos para o diagnóstico dessas parasitoses
devem ser utilizados.

1.2.1 Cuidados na fase pré‑analítica

A coleta de fezes não requer jejum do paciente nem restrição de alimentação. As amostras
de fezes podem ser de consistências diversas, e isso não é impeditivo para a realização do exame
parasitológico. Alguns pacientes procuram o profissional de saúde para dizer que foi solicitado o exame
protoparasitológico de fezes (PPF), mas como as fezes estão diarreicas, esperam passar essa fase para
depois coletar a amostra, o que não deve ser feito. A coleta deve ser orientada a ser feita na consistência
em que as fezes se encontram, pois nas fezes diarreicas podem ser encontradas formas trofozoíticas
com maior facilidade do que em fezes formadas. Porém, as amostras devem ser isentas de água ou urina.

A seguir descreveremos como deve proceder a coleta.

• Amostras formadas ou pastosas: coletar a amostra de fezes formadas (pastosas ou petrificadas)


e colocá‑las em frasco coletor universal de plástico limpo e seco com tampa de rosca. Pode‑se
utilizar um penico, comadre ou mesmo plástico, e imediatamente transferir parte das fezes com
espátula para o coletor universal.

• Amostras aquosas ou liquefeitas: deve ser feita diretamente no frasco coletor universal. Se não for
possível, pode ser utilizado um frasco com boca larga, que precisa ser transportado imediatamente
ao laboratório para a realização do exame.

• Conservação: amostras de fezes liquefeitas ou diarreicas frescas devem ser examinadas até
30 minutos após a coleta; amostras pastosas, até 60 minutos; e amostras formadas ou endurecidas
podem ser examinadas no mesmo dia ou no dia seguinte. Até que sejam enviadas para análise,
a temperatura de conservação das amostras é a ambiente. O uso de frascos com conservantes,
fornecidos pelo laboratório, pode ser indicado (solução de formaldeído, mertiolato‑iodo‑formaldeído,
acetato de sódio‑ácido acético‑formaldeído, álcool polivinílico, bicromato de potássio e Schaudinn),
pois eles impedem a proliferação de bactérias e fungos. Os frascos coletores com conservantes
disponíveis no mercado são Coprotest®, Paratest®, Coproplus®, TFTest®, entre outros.

• Número de amostras: são recomendáveis três amostras de 30 gramas, coletadas em dias


sequenciais ou alternados, em um período máximo de 10 dias. Nunca se deve coletar uma só
amostra e colocá‑la em três frascos, pois a coleta única poderá resultar em exame falso negativo,
18
BASES DIAGNÓSTICAS

pela intermitência dos parasitas intestinais. Os frascos precisam ser identificados com nome, sexo,
idade, data e hora da coleta e número da amostra.

1.2.2 Fase pós‑analítica (interpretação dos resultados)

Citaremos a seguir alguns parasitas mais comumente encontrados no exame PPF.

Quadro 2 - Algumas parasitoses intestinais

Doença/Parasita Quadro clínico


Amebíase Varia de desconforto abdominal leve ou moderado, com sangue ou muco nas dejeções, até
(Entamoeba histolytica) diarreia aguda e fulminante, acompanhada de febre e calafrios.
Habitualmente não causa sintomas, mas pode haver dor abdominal, náusea, diarreia e
Ascaridíase anorexia. O grande número de parasitas pode levar à obstrução intestinal. Pode ocorrer o
(Ascaris lumbricoides) ciclo pulmonar da larva, levando a manifestações de broncospasmo, hemoptise e pneumonite
(síndrome de Löeffler).
Tem como característica principal o prurido perianal, frequentemente noturno. As
Enterobíase/oxiuríase escoriações provocadas pelo ato de coçar podem resultar em infecções secundárias em torno
(Enterobius vermiculares) do ânus, causando inflamação, com pontos hemorrágicos, nos quais se encontram fêmeas
adultas e ovos.
Atinge principalmente a porção superior do intestino delgado. Normalmente é assintomática,
Giardíase porém pode ocorrer diarreia de aspecto gorduroso, dor abdominal, anorexia, flatulência e
(Giardia lamblia) distensão abdominal. Não há invasão intestinal. Também é descrita a transmissão oro‑anal pela
relação sexual.
Ingestão de carne de porco (Taenia solium) e de vaca (Taenia saginata) contendo larvas de
Teníase/Cisticercose Taenia. A presença do verme adulto no intestino (teníase) produz anorexia, náuseas, vômitos,
(Taenia solium e Taenia fadiga, insônia, irritação e fraqueza. Quando a larva atinge outros tecidos, dá‑se o nome de
saginata) cisticercose, como, por exemplo, sistema nervoso central (forma mais grave), com sintomas
como convulsões, aumento da pressão intracraniana, entre outros.

No resultado do exame, devem constar os parasitas patogênicos ou não, com seus nomes científicos,
anormalidades observadas no exame micro ou macroscópico, métodos utilizados para a pesquisa parasitológica,
valor de referência e outras informações que sejam importantes, como presença de interferentes no exame,
amostra em quantidade inadequada ou acondicionamento inadequado do material.

Saiba mais

Para saber mais sobre as doenças parasitárias, leia o material científico:

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde.


Departamento de Vigilância Epidemiológica. Doenças infecciosas e
parasitárias: guia de bolso. 8. ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2010.
Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/doencas_
infecciosas_parasitaria_guia_bolso.pdf>. Acesso em: 16 jan. 2017.

19
Unidade I

2 HEMOGRAMA COMPLETO

2.1 Considerações gerais sobre o processo de hematopoiese

A medula óssea é o órgão produtor das células sanguíneas. Até os cinco anos de idade, a medula
de todos os ossos do corpo participa desse processo. Na medida em que os anos avançam, ocorre uma
substituição gordurosa na medula dos ossos longos, até que, na idade adulta, somente os ossos da pelve,
o esterno, os ossos do crânio, os arcos costais, as vértebras e as epífises femorais e umerais são capazes
de gerar células sanguíneas.

Todos os elementos do sangue (hemácias, plaquetas e leucócitos) originam‑se de uma única célula
progenitora, denominada célula‑tronco (stem cell). Inicialmente, a célula‑tronco se diferencia em dois
tipos, cada um comprometido com a formação de uma grande linhagem hematológica: a linhagem
mieloide, que dará origem às hemácias, plaquetas, granulócitos e monócitos; e a linhagem linfoide,
que gerará os linfócitos.

A linhagem linfocítica dará origem aos linfócitos T e B; enquanto a mieloide gerará os eritrócitos, os
monócitos, os granulócitos (neutrófilos, basófilos e eosinófilos) e as plaquetas.

Eritropoiese

A primeira célula no interior da medula óssea identificada como pertencente à série eritroide é o
proeritroblasto. Uma vez formado, ele se divide várias vezes. Durante o seu processo de maturação, dois
importantes fenômenos ocorrem de forma progressiva: condensação da cromatina nuclear (maturação
do núcleo), e hemoglobinização do citoplasma, à medida que a hemoglobina vai sendo sintetizada.

O citoplasma do proeritroblasto é azulado (basofílico). À medida que aumenta a concentração


de hemoglobina nesse compartimento, a coloração vai se tornando mais próxima ao avermelhado
(eosinofílico). A ordem de maturação e diferenciação dessas células está ilustrada a seguir.

Quadro 3 – Diferenciação das células da série vermelha na medula

Etapa Célula Característica


1 Proeritroblasto
2 Eritroblasto basófilo Possui capacidade de divisão celular
3 Eritroblasto policromatófilo Sintetiza hemoglobina
Eritroblasto ortocromático ou Atravessa as paredes dos capilares e entra em contato com a
4 hemácia nucleada corrente sanguínea
5 Reticulócito É lançado na circulação sanguínea
6 Hemácia ou eritrócito Transporta O2 para os tecidos por meio da hemoglobina

Adaptado de: Lopes e Silva (2015, p. 50).

20
BASES DIAGNÓSTICAS

Leucopoiese

Toda produção de leucócitos começa na medula pela mesma célula‑tronco que produz os eritrócitos
e megacariócitos. Alguns estímulos agem sobre a célula‑tronco para determinar qual tipo de leucócito
será produzido. Os granulócitos terminam sua maturação na medula, porém as formas bastão/bastonetes
e segmentados, embora não completamente maduras, são liberadas no sangue. Os monócitos terminam a
maturação na medula e dirigem‑se para diversos locais do organismo, onde se transformam em macrófagos
(exercem a fagocitose). Os linfócitos T terminam sua maturação no timo, já os linfócitos B terminam na
medula óssea, porém, chegam à fase de plasmócito produtor de anticorpos nos linfonodos e baço.

Os leucócitos participam de maneiras diferentes na resposta imune e dividem‑se em granulócitos


(neutrófilos, basófilos e eosinófilos), monócitos e linfócitos T e B. Entretanto, os neutrófilos encontram‑se
de forma mais abundante na corrente sanguínea e suas células precursoras situam‑se na medula óssea.
Elas estão apresentadas a seguir.

Quadro 4 – Diferenciação dos neutrófilos na medula óssea

Etapa Célula Característica


0 Blasto Citoplasma escasso e azulado
1 Promielócito Grânulos primários
2 Mielócito Grânulos secundários
3 Metamielócito Núcleo em forma de ferradura, grânulos primários e secundários
4 Bastonetes/Bastões Sem separação entre os lobos nucleares. Encontrados na corrente sanguínea
5 Neutrófilos Lobos nucleares separados por filamentos. Localizados na corrente sanguínea

Adaptado de: Lopes e Silva (2015, p. 54).

Trombocitopoiese

As plaquetas originam‑se na medula óssea, a partir dos megacariócitos. A regulação na produção de


plaquetas é atribuída à trombopoietina, produzida principalmente no fígado.

A diminuição da contagem de plaquetas para menos de 150.000/mm3 é denominada trombocitopenia


ou plaquetopenia. O aumento do número de plaquetas para mais de 450.000/mm3 é denominado
trombocitose ou plaquetose.

2.2 Exame de hemograma

O hemograma completo compreende uma análise quantitativa e morfológica das células do sangue
periférico, para avaliar o estado geral do paciente. É dividido didaticamente em três partes:

• eritrograma: avalia a contagem global de células vermelhas (hemácias/eritrócitos), hemoglobina


(Hb), hematócrito (Ht) e ainda as suas características morfológicas;

21
Unidade I

• leucograma: refere‑se à contagem do número de leucócitos por milímetro cúbico e sua contagem
diferencial, ou seja, o percentual de cada célula da série branca;

• plaquetograma: avalia quantitativamente o número de plaquetas e suas alterações quanto ao


tamanho. Elas têm participação importante no processo de coagulação. Suas funções principais
são adevisidade e agregação.

Os aspectos morfológicos das células vermelhas são: volume corpuscular médio (VCM), hemoglobina
corpuscular média (HCM) e concentração da hemoglobina corpuscular média (CHCM). Esses aspectos são
utilizados, principalmente, para identificar o tipo de anemia, pelo tamanho e conteúdo da hemoglobina.
Tais elementos estão apresentados a seguir.

Quadro 5– Parâmetros e aspectos morfológicos


da série vermelha avaliados no hemograma

Parâmetro e aspecto morfológico Definição


Eritrócitos Quantidade de eritrócitos por unidade de volume de sangue
Hemoglobina Quantidade de hemoglobina presente nos eritrócitos
Hematócrito Número de eritrócitos em um dado volume de sangue total
Volume corpuscular médio Volume médio ou tamanho de cada eritrócito
Hemoglobina corpuscular média Conteúdo médio de hemoglobina em cada eritrócito
Concentração da hemoglobina Concentração de hemoglobina em um dado volume de eritrócito
corpuscular média

Adaptado de: Lopes e Silva (2015, p. 62).

A contagem de leucócitos é a principal informação da série branca. Entretanto, a sua contagem


diferencial fornece informações especificas sobre o tipo de leucócitos que está sendo afetado, avaliando
a capacidade do organismo de combater infecções e também de detectar reações alérgicas, infestações
parasitárias, leucemias, entre outras patologias.

A contagem de cada célula branca pode aumentar (leucocitose) ou diminuir (leucopenia) na presença
de doenças. Os valores normais dos leucócitos e suas células diferenciais estão ilustrados na tabela a seguir,
lembrando que os valores de referência podem ter pequenas alterações de um laboratório para outro.

Tabela 2 – Valores normais do leucograma e suas células diferenciais

Parâmetro Contagem diferencial


Leucócitos 5.000 – 10.000/mm3
Neutrófilos 1.600 – 7.700/mm3
– Bastões 180 – 300/mm3
– Segmentados 3.250 – 5.000/mm3
Eosinófilos 0 – 300/mm3

22
BASES DIAGNÓSTICAS

Basófilos 0 – 200/mm3
Linfócitos 1.000 – 3.900/mm3
Monócitos 100 – 1.000/mm3

2.2.1 Cuidados na fase pré‑analítica

A fase pré‑analítica é responsável por 46 a 68,2% do total de erros ocorridos nos laboratórios clínicos
com um sistema de controle de qualidade consolidado. Embora o paciente seja instruído sobre o preparo
para o exame, dados importantes devem ser considerados imediatamente antes da coleta da amostra.
Além do registro correto do gênero e idade, outras condições clínicas devem ser checadas:

• atividade física: se a pessoa praticou exercícios físicos, deve‑se solicitar que ela descanse por 30
minutos antes da coleta, pois pode aumentar a contagem de células vermelhas e leucócitos;

• jejum: de um modo geral, para a coleta do hemograma não é necessário jejum;

• tabagismo: pode aumentar a concentração do número de hemácias e o volume corpuscular médio


(alterações laboratoriais ocasionadas pelo tabagismo);

• uso de drogas terapêuticas e álcool: deve ser questionado sobre seu uso, pois medicamentos
como a penicilina e outros antibióticos, metildopa, carbonato de lítio, alguns anti‑inflamatórios e
glicocorticoides podem induzir a formação de anticorpos que agirão contra as hemácias. O álcool
tem um efeito tóxico sobre a hematopoiese.

Outro fator importante é a condição cronobiológica no momento da coleta. Trata‑se de alterações


cíclicas na concentração de um determinado parâmetro em função do tempo, por exemplo, a variação
diária dos eosinófilos e basófilos decorrentes do ciclo circadiano do cortisol.

2.2.2 Cuidados durante a coleta

De acordo com a Sociedade Brasileira de Patologia Clínica (2010), os seguintes passos devem ser
seguidos para a coleta da amostra de sangue venoso para o hemograma:

• conferir a identificação do paciente e o material a ser coletado;

• higienizar as mãos em lavatório com água e sabão ou por meio de fricção com soluções
alcoólicas a 70%, pois possuem maior eficácia germicida in vitro; posteriormente, calçar luvas
de procedimento;

• posicionar corretamente o braço do paciente, inclinando‑o para baixo, na altura do ombro;

• se o torniquete for usado para seleção preliminar da veia, pedir para que o paciente abra e feche
a mão. Afrouxar o torniquete e esperar cerca de 2 minutos para usá‑lo novamente;

23
Unidade I

• fazer a antissepsia do local da punção com álcool etílico a 70% (em gaze ou algodão), em
movimento circular do centro para a periferia;

• garrotear o braço do paciente por não mais de 1 minuto (idealmente até 30 segundos). Isso evita
hemoconcentração e falsos resultados nos parâmetros hematológicos;

• fazer a punção (agulha com ângulo de 30º) com o bisel voltado para cima. Se necessário,
para melhor visualizar a veia, esticar a pele com a outra mão, sem tocar o local onde foi
feita a antissepsia;

• caso haja outros exames além do hemograma, inserir tubo a tubo na sequência recomendada pelo
Clinical and Laboratory Standards Institute;

• retirar o garrote do braço do paciente;

• para auxiliar a oclusão do local da venopunção, usar curativos ou adesivos hipoalergênicos.

Assim como o garroteamento prolongado não é recomendado, devem‑se evitar também massagem
no local da coleta e tapinhas, pois podem ocasionar redução da contagem de células de até 5%.

A amostra ideal é aquela coletada com anticoagulante EDTA (tubo de tampa roxa), pois inibe
a agregação plaquetária e mantém a morfologia e integridade das células sanguíneas. Após a
coleta, a amostra deve ser homogeneizada 8 a 10 vezes, por inversão. O volume de sangue coletado
precisa estar em conformidade com o tamanho do tubo utilizado (conferir no rótulo do tubo),
sem coágulo e hemólise e ser entregue no setor analítico, em até quatro horas após a coleta. Em
coletas com pequeno volume de sangue, a quantidade de EDTA fica excessiva, tornando o meio
hipertônico, podendo reduzir o tamanho dos eritrócitos, diminuir o VCM, aumentar a CHCM, bem
como desintegrar leucócitos e plaquetas.

2.2.3 Fase pós‑analítica (interpretação do hemograma)

Série vermelha

Seguem apresentados os resultados com as possíveis causas e situações clínicas associadas.

24
BASES DIAGNÓSTICAS

Quadro 6 – Resultados da contagem de células vermelhas com as possíveis causas e


situações clínicas associadas

Resultado Possíveis causas Patologias


Anemia hemolítica
Eritropoiese prejudicada Doenças inflamatórias crônicas
Destruição das células sanguíneas Hemorragias agudas
Perda sanguínea Prejuízo da função renal
Eritrócitos Produção insuficiente de eritropoietina Depressão da medula óssea devido a drogas,
diminuídos Medula óssea não responde ao estímulo toxinas, radiação ionizante, cânceres ou
da eritropoietina hipotireoidismo
Hemodiluição Deficiência de vitamina B12, ácido fólico ou ferro
Gravidez
Policitemia vera
Doença pulmonar obstrutiva crônica
Eritropoiese aumentada
Eritrócitos Desidratação
Hipóxia
aumentados Exercício excessivo
Hemoconcentração
Ansiedade
Dor
Hematócrito Perda sanguínea aguda Anemia hemolítica
diminuído Hipervolemia Hemorragias

Policitemia vera
Produção aumentada das células
Hematócrito Doença pulmonar obstrutiva crônica
vermelhas
aumentado Cardiopatia congênita
Hemoconcentração
Desidratação

Anemias megaloblásticas
VCM Síntese de DNA prejudicada, gerando Anemias hemolíticas
aumentado megaloblastos Anemias perniciosas
Consumo excessivo de álcool
Anemia ferropênica
Perda sanguínea crônica Talassemia
VCM diminuído
Deficiência de ferro Anemia sideroblástica
Anemia de doença crônica
HCM Anemias megaloblásticas
Deficiência de ácido fólico ou vitamina B
aumentada Anemias macrocíticas
Deficiência de ferro Anemia ferropriva
HCM diminuída Perda sanguínea crônica Anemia microcítica
Hemoglobinopatia Talassemia

25
Unidade I

Anemia falciforme
CHCM Aumento da concentração de Anemia hemolítica autoimune
aumentada hemoglobina
Esferocitose hereditária
Anemia ferropênica
CHCM Deficiência de ferro Talassemia
diminuída
Anemia sideroblástica

Adaptado de: Lopes e Silva (2015, p. 72).

A anemia é definida como uma redução nos níveis de hemoglobina no sangue. Entretanto, definir
os níveis normais de hemoglobina não é tão simples, uma vez que cada pessoa possui concentrações
adequadas para sua massa muscular ou tecido metabolicamente ativo. A OMS, baseando‑se em um
estudo de âmbito mundial, estabeleceu parâmetros ou valores de referência para hemoglobina a fim de
orientar a prática clínica, sendo eles: Hb > 13 g/dL para homens, Hb > 12 g/dL para mulheres e Hb >11 g/dL
para grávidas e crianças de seis meses a seis anos. É considerada anemia grave quando a Hb ≤ 8 g/dL.

Observação

A avaliação da morfologia da hemácia no hemograma permite


determinar o tipo de anemia e sua possível causa.

Seguem as alterações mais comuns.

Quadro 7 – Morfologia anormal das células vermelhas

Resultado Possíveis causas Situações clínicas


morfológico
Hipercromia Esferocitose hereditária
Aumento da concentração de hemoglobina
(esferócitos) Anemia hemolítica autoimune
Anemia ferropênica
Talassemia
Hipocromia Diminuição da concentração de hemoglobina
Deficiência de ferro
Anemia sideroblástica
Desenvolvimento celular anormal por deficiência
Anisocitose de vitamina B12, ácido fólico ou ferro Anemia megaloblástica/deficiência de
vitamina B12, ácido fólico
Defeito congênito na estrutura celular
Anemia ferropênica
Talassemia
Microcitose Síntese de hemoglobina prejudicada Anemia sideroblástica
Intoxicação por chumbo
Hemoglobinopatia

26
BASES DIAGNÓSTICAS

Anemia por déficit de vitamina B12,


ácido fólico
Alcoolismo
Anemia hemolítica
Megaloblástica: síntese de DNA prejudicada Uso de fármacos (AZT)
Macrocitose
Não megaloblástica: eritropoiese acelerada Hemorragia
Doença hepática
Pós‑esplenectomia
Pós‑quimioterapia
Hipotireoidismo
Regeneração pós‑hemorrágica
Anemias hemolíticas
Policromatocitose Aumento dos reticulócitos circulantes Após tratamento adequado das
anemias carenciais
Regeneração da medula óssea após
quimioterapia
Sideroblastos Acúmulo de ferro no eritrócito Anemia sideroblástica

Adaptado de: Lopes e Silva (2015, p. 73).

Série branca

A leucocitose é uma reação a várias infecções, processos inflamatórios e, em certas circunstâncias, a


processos fisiológicos, estresse extremo, por exemplo. A leucopenia está associada a uma ampla variedade
de infecções virais e bacterianas, quando causada por uma doença viral. Entretanto, é fundamental
o entendimento das alterações das células diferenciais da série branca. Descreveremos as alterações
dessas células e a associação com algumas das possíveis causas.

Quadro 8 – Alterações na série branca e suas possíveis causas

Alteração Possíveis causas


Infecções bacterianas
Neoplasias
Neutrofilia Doenças metabólicas
(aumento dos neutrófilos)
Hemorragia aguda
Inflamação e necrose tecidual
Depressão da medula por infecções virais
Anorexia nervosa, desnutrição
Deficiência de ácido fólico e/ou vitamina B12
Neutropenia
(diminuição dos neutrófilos) Lúpus eritematoso
Uso de medicamentos: antibióticos (cloranfenicol, imipenem,
trimetoprima/sulfametoxazol), anticonvulsivantes (fenitoína, carbamazepina),
psicotrópicos e antidepressivos (imipramina, clozapina)

27
Unidade I

Leucemia
Policitemia vera
Basofilia Colite
(aumento dos basófilos)
Nefrose
Estado de hipersensibilidade crônica
Anemia falciforme
Asma
Eosinofilia Parasitoses
(aumento dos eosinófilos) Reações de hipersensibilidade
Doenças autoimunes
Doenças inflamatória crônicas e dermatoses
Lúpus eritematoso sistêmico
Estresse
Eosinopenia Insuficiência cardíaca congestiva
(diminuição dos eosinófilos)
Mononucleose infecciosa
Acromegalia
Infecções agudas virais
Linfocitose Alguns linfomas
(aumento dos linfócitos) Leucemia linfoide crônica
Leucemia linfoblástica aguda
Doença de Hodgkin
Febre reumática
Sepse
Queimaduras
Linfopenia
(diminuição dos linfócitos) Radiação, antineoplásicos
Adrenocorticoides em altas doses
Reações transfusionais
Infecções bacterianas, virais, micóticas
Cirrose
Linfomas
Monocitose Leucemia monocítica
(aumento dos monócitos) Doença de Hodgkin
Radiação
Policitemia vera
Lúpus eritematoso sistêmico

Adaptado de: Lopes e Silva (2015, p. 77)

Plaquetas

Os distúrbios plaquetários podem causar formação defeituosa de tampões hemostáticos e sangramento


devido à diminuição do número de plaquetas (trombocitopenia), da função plaquetária, apesar do número
adequado de plaquetas (disfunção plaquetária), e trombocitose (aumento do número de plaquetas).
28
BASES DIAGNÓSTICAS

A trombocitose pode ocorrer por causa de um processo primário, que é a chamada trombocitemia
essencial e talvez seja um processo reativo a outras patologias. A trombocitose secundária é muito
mais frequente que a trombocitemia essencial. Ela acontece principalmente devido ao aumento de
trombopoietina, IL‑6 e catecolaminas em doenças inflamatórias, neoplásicas e infecciosas.

A trombocitopenia pode ocorrer por: hipoproliferação na medula óssea (quimioterapia, insuficiência


hepática, doença metastática); destruição (hiperesplenia, anemia microangiopática, anticorpos
induzidos por medicamentos); consumo (sangramento agudo, febre e sepse); diluição (transfusão
massiva, sobrecarga hídrica).

Observação

É importante que você saiba que os riscos envolvendo sangue ou


outros líquidos orgânicos potencialmente contaminados correspondem às
exposições ocupacionais mais comumente relatadas. Por isso, fique atento
e siga as rígidas recomendações de precaução padrão.

3 EXAMES BIOQUÍMICOS

3.1 Considerações gerais

A água é o maior componente do organismo humano e tem papel fundamental no desempenho


do metabolismo em geral. A proporção de água na constituição dos diferentes órgãos e tecidos varia
amplamente, desde 3% no esmalte dentário até mais de 73% nos músculos estriados e tecido nervoso
central. A água corresponde em média a 60% do peso corporal no homem adulto normal com idade
entre 18 e 40 anos e varia de acordo com sexo, idade e biótipo; proporcionalmente sua quantidade é
maior na criança, sobretudo até 12 meses de idade, e menor no idoso. Em princípio, a água corporal
varia em relação inversa à quantidade de gordura.

A água total do organismo distribui-se em dois grandes compartimentos:

• líquido intracelular: corresponde aproximadamente a 40% do peso corporal de um adulto;

• líquido extracelular: equivale a 20% do peso corporal e compreende dois subcompartimentos, o


intravascular (5% do peso corporal) e o intersticial (15% do peso corporal).

Existem inúmeras substâncias envolvidas na água, entre elas os eletrólitos que, além de suas ações
específicas, exercem pressão osmótica. O sódio é o íon mais importante do espaço extracelular, e a
manutenção do volume do líquido extracelular depende do balanço de sódio.

Segue ilustrada a distribuição dos principais íons do organismo, bem como a sua distribuição nos
compartimentos intra e extracelular.

29
Unidade I

Tabela 3 – Distribuição dos eletrólitos nos compartimentos aquosos do organismo (mEq/l)

Eletrólito Intravascular Intersticial Intracelular


Sódio (Na )
+
143 147 14
Potássio (K+) 5 4 140
Cálcio (Ca+) 5 2 5
Magnésio (Mg ) ++
2 2 25

Adaptado de: Ceneviva e Vicente (2008, p. 288).

Por ser o eletrólito mais abundante no meio extracelular, existe uma estreita relação entre a água e
o sódio, de tal modo que os distúrbios desses dois elementos, como, por exemplo, a desidratação, não
deve ser tratada de maneira independente. É possível que ocorra a desidratação por sequestro interno
de líquido. Na vigência de lesões como queimaduras, traumas, processos inflamatórios e infecciosos, o
líquido extracelular é sequestrado, formando um novo espaço de líquido anormal, o que não mantém
qualquer relação com o balanço hidroeletrolítico na manutenção da homeostase corporal.

Por outro lado, a intoxicação hídrica é causada por excessiva ingestão de água na presença de baixa
diurese, levando à sobrecarga de água corporal total e consequente diminuição da osmolaridade.

Tendo em vista a importância dos eletrólitos na homeostase, abordaremos cuidados sobre a coleta e
a interpretação clínica dos resultados.

3.2 Sódio (Na)

Como explicado, o sódio é o íon extracelular mais abundante na corrente sanguínea (Na = 135 a
145 mEq/L), tendo um papel fundamental de equilíbrio hídrico do organismo. Uma série de fatores está
relacionada ao distúrbio do Na e será apresentada a seguir.

• Hiponatremia: é definida como a diminuição da concentração sérica do íon sódio. É um distúrbio


hidroeletrolítico, que requer internação e está associado ao aumento da mortalidade. A velocidade
de instalação determina a gravidade, sendo que em casos crônicos, há uma adaptação cerebral
e menor lesão tecidual. São considerados emergências os casos de instalação aguda (< 48 h) e
graves (< 125 mEq/L). A hiponatremia pode se apresentar de três formas:

— pseudo‑hiponatremia: a osmolaridade sérica é normal ou elevada. Essas situações não


representam distúrbios no metabolismo da água e não necessitam de medidas direcionadas
para correção do sódio sérico;

— hiponatremia hipertônica: ocorre hiperosmolalidade no plasma (> 295 mOsm/kg H2O) na


presença de solutos osmoticamente ativos, como manitol, sorbitol, contraste e glicose com
consequente translocação de água do espaço intra para o extracelular com perda de sódio pela
diurese osmótica. Acontece na cetoacidose diabética, por exemplo;

30
BASES DIAGNÓSTICAS

— hiponatremia hipotônica: ocorre hiposmolalidade (< 280 mOsm/kg H2O), sendo necessária a
avaliação da volemia.

Hiponatremias agudas e graves costumam ser sintomáticas, podendo levar a crises convulsivas
(edema cerebral). O clínico deve procurar remover a causa: reverter a hipovolemia, suspender o
medicamento suspeito, interromper ingestão excessiva de água, repor um hormônio que esteja deficitário
(hipotireoidismo, insuficiência suprarrenal) e adequar o tratamento da doença de base (insuficiência
cardíaca, cirrose).

• Hipernatremia: é a concentração sérica de sódio > 150 mmol/L. Desenvolve‑se a partir de um ganho
de sódio ou pela perda de água livre (desidratação), ou pela combinação desses fatores. Está sempre
associada à hiperosmolalidade plasmática. O aumento da concentração de sódio sérico leva a um
desvio da água do intra para o extracelular, situação grave quando se considera o sistema nervoso
central, no qual a hipotonicidade nos capilares sanguíneos (barreira hematoencefálica) leva a um
desvio de água do líquor, interstício e neurônios com consequente desidratação neuronal.

3.2.1 Cuidados na fase pré‑analítica

Os seguintes cuidados devem ser tomados:

• certificar‑se que o paciente está em jejum de 4 horas para a coleta de sódio;

• utilizar tubo com tampa amarela, contendo gel separador;

• não coletar após exercícios intensos;

• não coletar do membro que o paciente estiver recebendo soroterapia.

3.2.2 Fase pós‑analítica (interpretação dos resultados)

O valor normal para o sódio sérico é de 135 a 145 mEq/L. Diversas causas podem levar à hiponatremia
(Na < 130 mEq/L). A ingestão insuficiente (dieta hipossódica recomendada para nefropatas) ou por
perdas renais e extrarrenais exageradas, como poliúria, diarreia crônica e aspiração gastrintestinal,
as nefropatias perdedoras de Na+, frequentemente associadas a drogas e infecção, o uso abusivo de
diuréticos e a insuficiência adrenal são situações que acarretam perda importante de Na+, condicionando
a hiponatremia.

A hipernatremia pode ser decorrente de perda de água proporcionalmente maior que a de Na+
(diabetes insípido, diabetes mellitus, febre, insolação, hiperventilação), reposição insuficiente de perdas
hídricas (redução da ingestão hídrica por náuseas, vômitos ou incapacidade física), administração
excessiva de solutos em pacientes renais (sal na alimentação por sonda, diuréticos osmóticos, diálise
peritoneal), excesso de esteroides. Considera‑se hipernatremia grave quando o Na+ alcança 160 mEq/L.

31
Unidade I

3.3 Potássio (K+)

O potássio é o principal cátion do compartimento intracelular. No compartimento extracelular sua


concentração é baixa, variando normalmente entre 3,5 a 4,5 mEq/l.

Devido à grande diferença entre as concentrações intra e extracelular de potássio, os fatores que
controlam sua distribuição transcelular são críticos para a manutenção de níveis séricos normais. Os
principais fatores são:

• acidose: provoca a saída de potássio do meio intra para o extracelular, aumentando sua
concentração sérica;

• insulina: exerce um papel importante na manutenção da distribuição sérica normal do potássio.


Indivíduos diabéticos possuem menor tolerância à infusão de potássio, por apresentarem
mecanismos de defesa debilitados. A insulina exerce seu efeito protetor na hiperpotassemia
através do aumento da captação de potássio pelas células hepáticas e musculares;

• aldosterona: o principal efeito da aldosterona ocorre através da modificação da excreção renal de


potássio. Sua ação ocorre no duto coletor, abrindo canais de Na+, o que aumenta a reabsorção
desse cátion, com consequente secreção de K+.

3.3.1 Cuidados na fase pré‑analítica

Os cuidados antes e durante a coleta de amostra para dosagem de potássio sérico são os mesmos
recomendados para a coleta de sódio sérico:

• certificar‑se que o paciente está em jejum de 4 horas para a coleta de sódio;

• utilizar tubo com tampa amarela, contendo gel separador;

• não coletar após exercícios intensos;

• não coletar do membro que o paciente estiver recebendo soroterapia.

3.3.2 Fase pós‑analítica (interpretação dos resultados)

O valor de referência do potássio sérico é de 3,5 a 4,5 mEq/L, podendo haver pequenas diferenças
entre laboratórios. As seguintes alterações podem ser encontradas:

• hiperpotassemia ou hipercalemia: concentração plasmática do íon potássio acima de 5,0 mEq/1.


Deve‑se excluir a pseudo‑hiperpotassemia, que ocorre na leucocitose (> 105/ml), plaquetose e
hemólise. O aumento do potássio pode manifestar‑se desde a ausência de qualquer sintoma até
parada cardíaca. As células excitáveis são as mais sensíveis aos altos valores de potássio, entre elas
estão as células miocárdicas e as neuromusculares;
32
BASES DIAGNÓSTICAS

• hipopotassemia ou hipocalemia: quando a concentração do potássio no soro é inferior a 3,5 mEq/l.


Embora possa ser assintomática, talvez ocorram sinais sutis de fraqueza muscular até quadros
mais graves, como paralisia da musculatura esquelética. É um distúrbio eletrolítico comum em
pacientes pós‑ressuscitação cardiopulmonar por fibrilação ventricular.

3.4 Cálcio (Ca+)

O cálcio encontra‑se em maior concentração nos ossos e em menor concentração no plasma e no


meio extracelular. Sua importância no organismo se resume em manter a integridade da membrana
celular, condução de estímulos cardíacos, coagulação sanguínea e formação óssea. É considerado um
dos cinco elementos mais comuns dentro do corpo humano, apresentando‑se no plasma sob três
formas físico‑químicas: cerca de 50% na forma ionizada ou livre, 40% ligado às proteínas (albumina e
globulinas) e 10% formando complexos com íons difusíveis como lactato, fosfato, citrato e bicarbonato.

A forma biologicamente ativa é o cálcio livre ou ionizado. A manutenção dos níveis séricos de cálcio
ionizado tem importante papel no tratamento de pacientes em estado crítico. Há várias situações nas
quais o quadro clínico requer que a dosagem de cálcio ionizado seja maior do que a calcemia total.
Dentre elas, citam‑se: transplantes hepáticos, transfusões sanguíneas e durante o ato cirúrgico em
tireoidectomias para avaliação das hipocalcemias.

3.4.1 Cuidados na fase pré‑analítica

Os seguintes cuidados são recomendáveis para a coleta do cálcio:

• jejum por pelo menos 4 horas, pois após a ingestão de alimentos há uma redução de 5% do cálcio
ionizado por aumento do pH e da concentração proteica;

• utilizar tubo com tampa amarela, contendo gel separador;

• o paciente deve estar relaxado e com frequência respiratória normalizada por, pelo menos,
10 minutos;

• manter a estabilidade postural por, pelo menos, 5 minutos antes da coleta, sentado ou em pé;

• em pacientes recebendo nitroprussiato de sódio, deve‑se considerar que essa droga origina
tiocianato e cianeto, que se combinam ao cálcio, gerando valores mais baixos.

3.4.2 Fase pós‑analítica (interpretação dos resultados)

O valor de referência do cálcio iônico é de 1,17 a 1,32 mg/dL, já o cálcio total varia de 8,5 a 10,5 mg/dL,
podendo ocorrer pequenas variações desses valores entre laboratórios.

33
Unidade I

Os distúrbios do cálcio encontrados são:

• hipercalcemia: a necessidade de tratamento em urgência ocorre, quando o nível de cálcio total está
acima de 14 mg/dL. As repercussões gastrintestinais mais frequentes são dispepsia, constipação,
anorexia, náusea e vômito, sendo rara a ocorrência de pancreatite. Os sintomas urinários são
poliúria, polidipsia e litíase renal. As manifestações neurológicas podem variar entre dificuldade para
concentração, sonolência, confusão mental e, finalmente, coma. As manifestações cardiovasculares
mais frequentes são hipertensão arterial, bradicardia e bloqueio atrioventricular de primeiro grau;

• hipocalcemia: a redução dos níveis séricos de cálcio iônico aumenta a permeabilidade de membrana ao
sódio e amplia a excitabilidade neuromuscular. Os achados clínicos dependem da rapidez da instalação
do déficit e correlacionam‑se com a hipomagnesemia, mas geralmente não aparecem até um cálcio
total de 7,0 a 7,5 mg/dL. As manifestações mais frequentes, são: parestesia periférica e perioral, cãibras,
podendo ocorrer nos casos mais graves laringoespasmo, broncoespasmo, convulsão e óbito.

3.5 Magnésio (Mg++)

O magnésio é o segundo cátion mais prevalente no meio intracelular. É essencial para a função
enzimática, metabolismo energético celular, estabilização de membranas, condução nervosa, transporte
iônico e atividade dos canais de cálcio. O rim é o principal órgão envolvido na homeostase do magnésio
corporal total, pois 95% do magnésio filtrado é reabsorvido pelo néfron e o rim pode diminuir até 0,5%
sua excreção devido a diminuição da ingestão, aumentos de perdas intestinais ou com a redistribuição
do espaço extra para o intracelular.

Os níveis de magnésio sérico estão entre 1,5 a 2,5 mEq/L, sendo sua regulação influenciada por
fatores hormonais e não hormonais como paratormônio, calcitonina, glucagon, vasopressina, restrição
de magnésio, distúrbios acidobásicos e depleção de potássio.

3.5.1 Cuidados na fase pré‑analítica

Os seguintes cuidados são recomendados para a coleta do magnésio:

• jejum por pelo menos 4 horas;

• utilizar tubo com tampa amarela contendo gel separador;

• não ter praticado exercícios vigorosos antes da coleta.

3.5.2 Fase pós‑analítica (interpretação dos resultados)

Os distúrbios a seguir, relacionados ao nível sérico do magnésio, podem ser identificados:

• hipermagnesemia: pacientes com níveis séricos de magnésio aumentado podem exibir sinais
e sintomas, incluindo náuseas, vômitos, reflexos tendinosos profundos abolidos, hipotensão,
bradicardia e alterações do ECG (aumento do intervalo PR, QRS alargado);
34
BASES DIAGNÓSTICAS

• hipomagnesemia: as causas clínicas estão associadas a perdas gastrintestinais ou renais. Os sinais


e sintomas mais comuns são hiperirritabilidade do sistema nervoso central e neuromuscular como
flapping (tremores amplos), balismos, nistagmo, sinal de Babinski, delírios, apneia, taquicardia,
arritmias ventriculares, hipertensão e distúrbios vasomotores.

4 EXAMES MICROBIOLÓGICOS

4.1 Considerações gerais sobre os exames microbiológicos

Os microrganismos que causam doenças infecciosas são definidos como patógenos, pois se
multiplicam e causam lesão tecidual. Os processos infecciosos demonstram respostas fisiológicas à
invasão de multiplicação do microrganismo agressor. Todos os microrganismos isolados em cultura de
um local do corpo devem ser considerados potenciais patógenos.

Dentro desse contexto, os exames microbiológicos têm como função identificar o foco e o agente
agressor. Para que isso ocorra, é fundamental que a amostra do material biológico seja coletada e
transportada adequadamente, caso contrário podem ocasionar falhas no isolamento do agente etiológico
e favorecer o desenvolvimento da flora contaminante, induzindo a um tratamento não apropriado.
Portanto, procedimentos adequados de coleta devem ser adotados para evitar o isolamento de um falso
agente etiológico, resultando em uma orientação terapêutica inadequada. Enfim, o material coletado
deve ser representativo do processo infeccioso investigado, precisando ser eleito o melhor sítio da lesão,
evitando contaminação com as áreas adjacentes.

Para que a coleta do material seja adequada, devemos considerar alguns preceitos:

• conhecer o processo infeccioso ajuda a determinar o período ideal da coleta da amostra;

• colher antes de iniciar a antibioticoterapia, sempre que possível;

• quantidade suficiente de material deve ser coletada para permitir uma completa
análise microbiológica;

• os swabs, quando utilizados, necessitarão ser confeccionados com algodão alginatado


e encaminhados ao laboratório em meio de transporte ou em solução salina, mas nunca secos;

• existem microrganismos que exigem cultivos especiais, sendo fundamental informar ao laboratório
a suspeita do agente. Por exemplo, Campylobacter spp., entre outros;

• a origem da amostra/sítio deve ser informada para que os meios de cultura sejam
adequadamente selecionados;

• o frasco precisa ser encaminhado ao laboratório com a correta identificação: nome completo e
registro do paciente, leito ou ambulatório de especialidade, material colhido, data, hora e quem
realizou a coleta.
35
Unidade I

Devemos sempre lembrar que os microrganismos são seres vivos, portanto multiplicam‑se
e/ou morrem com facilidade. Se isso ocorrer durante a coleta, o transporte ou a estocagem, a amostra
enviada ao laboratório não será representativa do processo infeccioso. A seguir ilustraremos o tempo
crítico, frascos e meio de transporte correto para cada amostra biológica.

Quadro 9 – Tempo crítico para entrega da amostra ao laboratório e meios de transporte

Amostra Tempo crítico Frascos e meio de transporte


Líquor Imediatamente (não refrigerar) Tubo seco estéril
Líquido pleural Imediatamente (não refrigerar) Tubo seco estéril
Tubo seco estéril ou meio semissólido
Swab Imediatamente (não refrigerar) (Stuart, Amies)
Feridas e tecidos 30 minutos Meio de transporte apropriado
Frascos com meios de cultura para rotina
Hemocultura 30 minutos (não refrigerar) manual ou automatizada
Trato respiratório 30 minutos Tubo seco estéril
Trato gastrintestinal 1 hora Tubo seco estéril
Urina 1 hora ou refrigerada até 24 horas Pote seco estéril
Meio Cary Blair modificado para transporte de
Fezes 12 horas fezes, com pH 8,4. Boa recuperação também
para Vibrio sp. e Campylobacter sp.

Adaptado de: Anvisa (2004, p. 6).

4.1.1 Hemocultura

As infecções da corrente sanguínea estão entre as mais frequentes no ambiente hospitalar. O


aumento na prevalência de bacteremias (presença de bactérias viáveis na corrente sanguínea) tem sido
determinado por fatores como o aumento de pacientes com risco de infecções, o surgimento de novos
patógenos na corrente sanguínea, a difusão de procedimentos diagnósticos e terapêuticos invasivos e o
uso de cateteres intravasculares. A hemocultura é o exame de escolha na suspeita clínica de bacteremia,
que algumas vezes ocorrem por um único microrganismo, mas outras vezes a etiologia é polimicrobiana.

As bacteremias classificam‑se em quatro tipos:

• bacteremia transitória: é rápida e a mais comum, com duração que pode variar de alguns minutos a
poucas horas. Ocorre após a manipulação de algum tecido infectado, como em casos de abscessos,
furúnculos e celulites, durante algum procedimento cirúrgico envolvendo tecidos contaminados
ou colonizados, por exemplo, em procedimentos dentários, cistoscopia, cateterização ou dilatação
uretral, abortamento ou endoscopias digestivas;

• bacteremia intermitente: é a que se manifesta em intervalos de tempo variáveis, tendo como agente
o mesmo microrganismo e frequentemente se manifestando com febre de origem indeterminada.
Geralmente, ocorre em processos infecciosos como pneumonias, abscessos intracavitários, como
os pélvicos, perinefréticos, hepáticos, prostáticos e outros;
36
BASES DIAGNÓSTICAS

• bacteremia contínua: é característica das endocardites infecciosas agudas e subagudas, além de


outras infecções endovasculares;

• bacteremia de escape (breakthrough): é a que ocorre mesmo enquanto o paciente ainda está
recebendo antibioticoterapia sistêmica apropriada. Quando surge no início da terapêutica,
geralmente se deve a concentrações insuficientes do antimicrobiano na corrente sanguínea. É
comum haver escape nos primeiros dias de tratamento; já os episódios que acontecem tardiamente
se dão, em geral, por drenagem inadequada do foco infeccioso, acesso inadequado da droga ou
comprometimento do sistema imunológico do paciente.

Cuidados na fase pré‑analítica

Atualmente, a recomendação do Clinical and Laboratory Institute (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PATOLOGIA


CLÍNICA, 2014), é obter as amostras sem intervalo, ou seja, simultaneamente. Dados experimentais mostram
que as bactérias caem na corrente sanguínea em torno de uma hora antes do início da febre.

Em relação ao número de frascos, dados mostram que um frasco detecta 65 a 91% dos casos;
dois frascos, 80 a 99%; e três frascos, 93% ou mais (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PATOLOGIA CLÍNICA,
2010). O Clinical and Laboratory Institute recomenda dois a três pares de frascos anaeróbico/aeróbico
de hemocultura (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PATOLOGIA CLÍNICA, 2014).

O método de antissepsia da pele e o volume de sangue coletado influenciam na identificação do


agente infeccioso. Sobre o volume, recomenda‑se que 20 a 30 ml de sangue sejam coletados no adulto;
em crianças, recomenda‑se a coleta de 1 a 5 ml ou até 1% de sua volemia. Sobre o método de assepsia
e outros cuidados, descreveremos a seguir:

• lavar e secar as mãos, utilizar luvas, materiais estéreis e descartáveis;

• preparar o frasco para a inoculação de sangue, identificando com os dados do paciente, data, hora
e quem o coletou;

• remover a tampa protetora e fazer a limpeza da tampa de borracha com álcool a 70%;

• escolher e preparar o local da punção (acesso venoso);

• com algodão embebido em álcool a 70%, fazer limpeza da pele com movimentos centrífugos a
partir do local onde será feita a punção. Com algodão embebido em clorexidina alcoólica, repetir
os movimentos anteriores, aguardando 1 minuto para o local secar;

• garrotear o braço e realizar a punção, sem tocar novamente o local;

• inocular o sangue no frasco de hemocultura, sem troca da agulha. A substituição não diminui a
chance de contaminação da amostra e aumenta o risco de acidente;

• nas demais coletas, repetir o mesmo procedimento.

37
Unidade I

A coleta de sangue arterial não está associada a um aumento da sensibilidade do exame. Também
não é recomendada a coleta de amostra direto do cateter central. Estão disponíveis no mercado vários
tipos de frasco para hemocultura. Existem aqueles para bactérias aeróbicas, anaeróbicas, fungos,
micobactérias e até com resinas aniônicas e catiônicas para adsorção de antibióticos.

Figura 1 – Frasco anaeróbico Figura 2 – Frasco aeróbico

Fase pós‑analítica (interpretação da hemocultura)

Por muitos anos, tem sido consenso entre clínicos e microbiologistas que a hemocultura é um dos
testes laboratoriais mais importantes para o diagnóstico de infecções graves.

Na maioria das vezes, o paciente com hemocultura positiva apresenta sinais e sintomas característicos
de infecção, febre, calafrios, alterações do nível de consciência e, nas suas formas mais graves, alterações
bioquímicas (lactato, gases arteriais, fatores de coagulação). Entretanto, quando uma hemocultura é
inesperadamente positiva (na ausência de sinais ou sintomas) ou quando somente uma dentre várias
amostras é positiva para um determinado microrganismo, ele pode eventualmente ser considerado um
contaminante (hemocultura: recomendações de coleta, processamento e interpretação dos resultados).

Alguns microrganismos têm alto valor preditivo positivo para bacteremia verdadeira (> 90%), mesmo
quando isolado em somente uma amostra, como, por exemplo: Staphylococcus aureus, Escherichia
coli e outras Enterobacteriaceae, Neisseria meningitidis, Streptococcus pneumoniae, Pseudomonas
aeruginosa, Brucella spp., Streptococcus pyogenes, Streptococcus agalactiae, Listeria monocytogenes,
Neisseria meningitidis, Neisseria gonorrhoeae e Haemophilus influenzae.

4.1.2 Urocultura

Infecção do trato urinário (ITU) representa um sítio frequente de infecção tanto em pacientes da
comunidade como naqueles internados em unidades hospitalares, significando uma das principais causas
de infecção hospitalar, cerca de 40% do total de infecções nosocomiais. Mulheres adultas têm 50 vezes
mais chances de adquirir ITU do que os homens, e 30% das mulheres apresentam ITU sintomática ao
longo da vida. Como a principal rota de contaminação do trato urinário é por via ascendente, atribui‑se
esse fato à menor extensão anatômica da uretra feminina e à maior proximidade entre a vagina e o
ânus, característica da genitália feminina.
38
BASES DIAGNÓSTICAS

A ITU pode ser classificada da seguinte forma:

• bacteriúria assintomática: infecção com ausência de sintomas;

• ITU baixa (cistite): apresenta‑se, habitualmente, com disúria, urgência miccional, polaciúria,
nictúria e dor suprapúbica;

• ITU alta (pielonefrite): inicia-se, habitualmente, com quadro de cistite, sendo frequentemente
acompanhada de febre elevada, geralmente superior a 38 °C, associada a calafrios e dor lombar
uni ou bilateral.

Cuidados na fase pré‑analítica

A coleta da amostra de urina para cultura pode ser realizada de forma pela coleta espontânea do
jato médio ou pelo cateterismo uretral. Seus tipos são:

• coleta espontânea: ideal que seja coletada a primeira urina da manhã, ou aguardar 3 a 4 horas
após a última micção. Não estimular a ingestão hídrica, pois isto dilui a urina. Fazer antissepsia
da genitália (conforme explicado no exame de urina de rotina). A mulher deve afastar os grandes
lábios e o homem, retrair o prepúcio. Coletar o jato médio de urina em frasco estéril, no mínimo
10 ml, e enviar ao laboratório;

• cateterismo uretral: na suspeita de falta de habilidade do paciente ou dificuldade para obter o


material adequado, a amostra pode ser coletada por cateterismo uretral. Ele deve ser realizado
de forma asséptica, por profissional preparado, sendo que o primeiro jato de urina após a
cateterização deve ser desprezado para minimizar a contaminação da amostra. Para a coleta em
pacientes portadores de cateter vesical de demora, antes de realizar a coleta, ele deve ser fechado
por 1 a 2 horas. Após esse período, fazer a desinfecção do dispositivo do cateter com álcool a 70%
e coletar a amostra de urina com seringa e agulha estéril (nunca colete da bolsa coletora).

Fase pós‑analítica (interpretação da urocultura)

A história clínica, o exame físico e as queixas do paciente, como aspecto da urina, polaciúria, nictúria,
urgência miccional e dor lombar, são de grande valia para o diagnóstico de ITU.

No ambiente hospitalar, o diagnóstico de ITU é complicado por diversos fatores. A presença de


cateter urinário dificulta ou impede a verificação dos sinais e sintomas associados à ITU. A sensação de
disúria, urgência miccional ou desconforto suprapúbico pode estar relacionada à presença do cateter
urinário, independentemente da existência de ITU.

O diagnóstico de ITU é confirmado pela presença de bactéria na urina, tendo como limite mínimo
definido a existência de 100.000 unidades formadoras de colônias bacterianas por mililitro de urina (ufc/ml),
colhida em jato médio e de maneira asséptica. Em determinadas circunstâncias (paciente idoso, infecção
crônica, uso de antimicrobianos), pode ser valorizado crescimento bacteriano igual ou acima 10.000 ufc/
ml. Para pacientes cateterizados e mediante realização de assepsia rigorosa, contagens superiores a 100
39
Unidade I

ufc/ml podem ser consideradas significativas. O antibiograma direciona a terapêutica antimicrobiana,


para que ela não ocorra de maneira empírica.

Em casos de suspeita de pielonefrite, pode ser necessário avaliar o trato urinário superior, através de
exames de imagem, para afastar obstrução urinária ou doença litiásica.

4.1.3 Líquor

Desde que foi descrita pela primeira vez, em 1891, por Quincke, a punção lombar é o método mais
utilizado para coletar amostras de líquido cefalorraquiano (LCR). A punção lombar é uma importante
ferramenta de auxílio diagnóstico de doenças neurológicas, utilizada tanto para diagnóstico quanto para
terapias. Muitas doenças neurológicas estão associadas a alterações na dinâmica e/ou na composição
do LCR, e os médicos dependem desses dados para diagnóstico e acompanhamento de seus pacientes.
Seus riscos, embora raros, podem ser substanciais e potencialmente fatais. Podem ser minimizados por
meio de uma compreensão adequada das indicações, contraindicações e técnicas do procedimento. As
principais indicações diagnósticas são as doenças infecciosas, inflamatórias, vasculares, metabólicas e
neoplásicas que acometem o sistema nervoso central.

O LCR é um fluido aquoso que circula pelo espaço intracraniano, preenchendo o sistema ventricular,
o canal central da medula e os espaços subaracnóideo craniano e raquiano, representando a maior parte
do fluido extracelular do sistema nervoso central. Esse líquido apresenta diversas funções, entre elas, o
fornecimento de nutrientes essenciais ao cérebro, a remoção de produtos da atividade neuronal do SNC
e a proteção mecânica das células cerebrais.

A pressão normal de abertura do LCR varia de 10 a 100 mmH2O em


crianças jovens, de 60 a 200 mmH2O após os 8 anos de idade e fica acima
de 250 mmH2O em pacientes obesos. Valores abaixo de 60 e acima de 250
mmH2O, definem hipotensão e hipertensão intracraniana, respectivamente
(COMAR, 2009, p. 94).

Cuidados na fase pré‑analítica

O Departamento Científico de LCR da Academia Brasileira de Neurologia recomenda, desde 2002,


a adoção do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), como procedimento prévio à punção
lombar, tendo como finalidade o adequado esclarecimento quanto aos riscos do método e às medidas
de prevenção das complicações do procedimento (PUCCIONI-SOHLER et al., 2002).

A punção lombar é a mais utilizada, seguida pela punção suboccipital e a via ventricular. Quanto ao
posicionamento, os pacientes podem ser colocados em decúbito lateral com pescoço e joelhos fletidos,
ou sentados com pescoço e costas em anteroflexão. Caso haja a necessidade de aferir a pressão liquórica
de abertura (inicial), a posição lateral é a de escolha.

A punção lombar é um procedimento médico e sua realização deve seguir a técnica asséptica. Ao
ser identificado o local para punção, realiza‑se assepsia da pele com técnica padrão. Anestesia local
40
BASES DIAGNÓSTICAS

pode ser realizada com cloridrato de lidocaína 0,5% sem vasoconstritor, por aplicação inicialmente
subcutânea até camadas mais profundas. Agulhas 22G são melhores para a aferição da pressão de
abertura (inicial), mas agulhas de menor calibre (23‑25G), reconhecidamente minimizam a ocorrência
de cefaleia pós‑punção.

A amostra deve ser colocada em três tubos, sendo que o primeiro é destinado à análise bioquímica
e sorológica do material, o segundo é destinado a exames microbiológicos e o terceiro objetiva‑se a
contagens de células, em virtude da menor probabilidade de conter material, particularmente células
sanguíneas, introduzidas de modo acidental.

A amostra coletada deve chegar ao laboratório o mais rápido possível, no máximo em 2 horas,
pois, após esse tempo, pode ocorrer degradação e/ou alterações morfológicas de hemácias, leucócitos e
outros tipos celulares, diminuição da glicose e aumento de concentração das proteínas e de bactérias.

Fase pós‑analítica (interpretação clínica)

Uma variedade de células pode ser encontrada, indicando uma série de patologias do sistema nervoso
central. Entretanto, será descrito somente o predomínio celular indicativo de processos infecciosos.

• Linfócitos: meningite viral, tuberculosa, fúngica e bacteriana e esclerose múltipla.

• Neutrófilos: meningite bacteriana, fase inicial da meningite viral, tuberculosa e fúngica.


Hemorragia subaracnóidea, injeções intratecais, tumores meningeais. Reação celular mista
(linfócitos, monócitos e neutrófilos), meningite bacteriana, parcialmente tratada, abcesso cerebral,
meningite tuberculosa, fúngica e amebiana.

• Eosinófilos: infecções parasitárias, reações alérgicas e derivação ventricular.

• Macrófagos: meningite crônica, meningite bacteriana tratada, injeções intratecais e


hemorragia subaracnóidea.

4.1.4 Escarro

Graças ao crescimento da incidência e à grande mortalidade por tuberculose


em vários países, com indícios desse aumento também no Brasil, torna‑se
necessário maior esforço no sentido de implementar todas as ações
de controle da doença. A principal medida de controle da tuberculose
continua sendo a busca de casos bacilíferos, seguida de seu tratamento
correto, esperando‑se, assim, reduzir a transmissão (NOGUEIRA; ABRAHÃO;
MALUCELLI, 2000, p. 264).

Apesar de o Brasil ser ainda um dos 22 países responsáveis por 90% dos casos de tuberculose do mundo,
até o ano de 2007, ocorreu em nosso país uma queda de 26% na incidência e de 32% na mortalidade.

41
Unidade I

As principais estratégias para a busca de casos de tuberculose são a busca passiva e a ativa.
O exame de escarro para pesquisa do bacilo álcool‑ácido resistente (BAAR), ou Mycobacterium
tuberculosis, é indicado para todos os indivíduos que apresentem tosse, com ou sem expectoração,
por mais de duas semanas, associado à febre vespertina, sudorese noturna, hemoptise e radiografia
sugestiva de tuberculose.

Cuidados na fase pré‑analítica

Se possível, o paciente deve participar ativamente da coleta de material (escarro). A melhor coleta é
feita sob a supervisão direta da equipe de enfermagem. Seguem algumas dicas:

• orientar o paciente da importância da coleta do escarro e não da saliva. As amostras de saliva são
impróprias para análise bacteriológica, pois não representam o processo infeccioso;

• colher somente uma amostra por dia, se possível o primeiro escarro da manhã, antes da ingestão
de alimentos;

• aconselhar o paciente a escovar os dentes somente com água (não utilizar pasta dental) e enxaguar
a boca várias vezes, inclusive com gargarejos;

• respirar fundo várias vezes e tossir profundamente, recolhendo a amostra em um frasco de boca
larga. Se o material obtido for escasso, coletar a amostra depois de nebulização;

• na suspeita de infecção por micobactérias ou fungos, coletar pelo menos três amostras, em dias
consecutivos (somente uma por dia);

• em caso de pacientes com dificuldades para escarrar, essa amostra poderá ser induzida por
nebulizador ultrassônico ou ser realizada coleta por aspiração transtraqueal;

• a amostra deve ser coletada em frasco estéril e transportada ao laboratório em temperatura


ambiente em até 30 minutos. Caso contrário, deve ser refrigerada;

• o procedimento precisa ser executado com os cuidados de biossegurança necessários, para que
não haja risco de transmissão aérea do bacilo no local.

Fase pós‑analítica (interpretação do resultado)

Além da positividade do exame microbiológico, os portadores de tuberculose pulmonar


apresentam os seguintes sintomas: tosse com expectoração, febre vespertina, sudorese noturna
abundante, emagrecimento, fraqueza, anorexia, hemoptise, dor torácica moderada. São
procedimentos a serem seguidos:

• instruir precauções de gotículas na suspeita de tuberculose;

42
BASES DIAGNÓSTICAS

• monitorizar padrão respiratório e gases arteriais por meio da gasometria arterial,


quando adequado;

• manter cabeceira da cama elevada;

• utilizar precaução reversa durante o transporte do paciente.

4.1.5 Cultura tópica (swab)

A coleta de secreções swabs ainda é muito utilizada, nos dias de hoje, quando há suspeita de
infecções prévias (cultura de vigilância) até diagnóstico para o vírus H1N1. Esse método de coleta tem
como vantagem o baixo custo e a não invasividade do paciente.

Especificamente, em relação à coleta de material biológico de feridas, o swab é o mais utilizado e


com resultado microbiológico geralmente relatado pela análise qualitativa. Dessa forma, a coleta de
material biológico de ferida, quando baseada em princípios técnico‑científicos, permitirá a identificação
dos microrganismos potenciais causadores de infecção. Entretanto, há evidências da relação entre coleta
inadequada e falsos resultados.

Atualmente, pesquisadores mostraram que culturas com swab têm alta sensibilidade, variando
aproximadamente de (87‑100%), especificidade (85‑94%) e precisão (90‑99%), quando comparadas com
aspiração ou biópsia de tecido, exceto em úlceras por pressão. Há evidência de que o swab quantitativo
é um método mais aceitável do que a aspiração ou biópsia, que são procedimentos mais invasivos e,
portanto, ocasionam dor nos pacientes.

A maioria das feridas precisa de alguma preparação, a fim de reduzir o risco de introduzir
microrganismos não desejados à cultura. Dessa forma, o exsudato e/ou resíduos de terapias tópicas que
se acumulam no leito da ferida ou abaixo da cobertura irão conter bactérias que, não necessariamente,
são as mesmas que podem estar causando infecção. O swab utilizado deve ser esterilizado e composto
de alginato de cálcio, pois provavelmente captura com mais eficácia os microrganismos da ferida.

Cuidados na fase pré‑analítica

Hoje em dia, no Brasil, a forma recomendada de limpar feridas tem sido pela técnica de irrigação
sob pressão, utilizando solução salina estéril a 0,9%, seringa de 20 ml e agulha 25x8. Limpar a ferida
anteriormente à coleta irá diminuir os riscos de se obter resultados falso‑positivos, ou seja, identificar
os microrganismos na área cultivada, mas não os que estão presentes no tecido.

Os passos são:

• explicar o procedimento e a finalidade da coleta ao paciente;

• proceder a limpeza da ferida com o material citado;

43
Unidade I

• umedecer a extremidade do swab em solução fisiológica 0,9%;

• proceder a coleta a partir do tecido de granulação ou com menos sinal de infecção, pressionando
o swab e rodando em 1 cm2, por cerca de 5 segundos.

• encaminhar imediatamente ao laboratório em meio de transporte adequado.

Fase pós‑analítica (interpretação do resultado)

Infecções de pele podem mostrar presença de pus, mudança de odor ou característica do exsudato,
sinais de inflamação (vermelhidão, tumefação, edema, dor), déficit da cicatrização em feridas limpas
após duas semanas de tratamento adequado, tecido de granulação frágil, tecido epitelial que reveste
algumas partes da ferida, mas não outras, e sinais sistêmicos de infecção (febre, leucocitose, aumento
repentino da glicemia). Deve‑se:

• monitorar sinais e sintomas de infecção;

• instruir técnicas de isolamento, quando necessário;

• promover ingesta hídrica e nutricional adequadas;

• examinar a ferida diariamente e registrar o aspecto.

Saiba mais

Para aprofundar seu conhecimento sobre exames microbiológicos,


leia também:

SIMSEK, A. et al. Procedimentos diagnósticos broncoscópicos e exames


microbiológicos para a confirmação de tuberculose endobrônquica. J. Bras.
Pneumologia, v. 42, n. 3, p. 191‑195, 2016. Disponível em: <http://www.
scielo.br/pdf/jbpneu/v42n3/pt_1806‑3713‑jbpneu‑42‑03‑00191.pdf>.
Acesso em: 16 jan. 2017.

CARRARA, D. Boas práticas para a assistência ao paciente portador


de agentes multirresistentes: medidas de prevenção e controle. Conselho
Regional de Enfermagem de São Paulo, 2010. Disponível em: <http://inter.
coren‑sp.gov.br/sites/default/files/agentes‑multiresistentes.pdf>. Acesso
em: 16 jan. 2017.

44
BASES DIAGNÓSTICAS

4.2 Considerações gerais sobre os exames imunológicos

O sistema imunológico é constituído de uma complexa rede de células e moléculas dispersas por
todo o organismo e se caracteriza, biologicamente, pela capacidade de reconhecer, de modo específico,
determinadas estruturas moleculares ou antígenos e desenvolver uma resposta efetora diante desses
estímulos, provocando a sua destruição ou inativação. Portanto, representa um sistema eficaz de defesa
contra microrganismos que penetrem no organismo ou contra a transformação maligna de células.

A função imunológica tem sido conceitualmente dividida em imunidade inata ou natural e imunidade
adaptativa ou adquirida, as quais serão abordadas a seguir:

• Imunidade inata ou natural: é considerada a primeira linha de defesa celular sem gerar memória
imunológica. É caracterizada por uma resposta rápida e estereotipada a um número grande,
mas limitado, de estímulos. É representada por barreiras físicas, químicas e biológicas, células
especializadas e moléculas solúveis, presentes em todos os indivíduos, independentemente
de contato prévio com imunógenos ou agentes agressores, e não se altera qualitativa ou
quantitativamente após o contato. As principais células efetoras da imunidade inata são:
monócitos, neutrófilos, células dendríticas e natural killer cells (células destruidoras naturais).
Outros mecanismos são fagocitose, liberação de mediadores inflamatórios, ativação de proteínas
do sistema complemento, bem como as citocinas. Algumas moléculas específicas comumente
encontradas na superfície de microrganismos (bactérias, fungos e parasitas) constituem padrões
moleculares associados a patógenos (PAMP) e ativam a resposta imune inata, por interação com
diferentes receptores conhecidos. Os neutrófilos atuam na defesa contra bactérias e fungos.
Os monócitos migram para o tecido extravascular, diferenciando‑se em macrófagos. As células
natural killer representam 10% dos linfócitos e atuam no reconhecimento e destruição de células
tumorais e células infectadas por vírus.

• Imunidade adaptativa ou adquirida: é a resposta, em longo prazo, caracterizada pela manutenção


da resposta imunológica ao antígeno específico ou pela indução de células de memória. Sendo
assim, as principais características da resposta adquirida são: especificidade e diversidade de
reconhecimento, memória, especialização de resposta, autolimitação e tolerância a componentes
do próprio organismo. Embora as principais células envolvidas na resposta imune adquirida
sejam os linfócitos, as células apresentadoras de antígenos (APC) desempenham papel
fundamental em sua ativação, apresentando antígenos associados a moléculas do complexo
de histocompatibilidade principal (MHC, major histocompatibility complex) para os linfócitos T.
Como a resposta é de alta especificidade, pequenas mutações no antígeno são suficientes para
ele escapar da resposta de memória imunológica, sendo capaz de causar novamente a doença.
Existem dois tipos de imunidade adquirida, a imunidade humoral (imunoglobulinas/anticorpos
produzidas pelos linfócitos B) e a imunidade celular (citocinas produzidas pelos linfócitos T). Os
anticorpos apresentam‑se em diferentes tipos.

45
Unidade I

Quadro 10 – Tipos de anticorpos e funções

Anticorpo Função
Neutralização de microrganismos e toxinas.
IgG Imunidade neonatal pela transferência de anticorpos maternos por meio da placenta e intestino.
Ativação das células B.
IgM Ativação da via clássica do complemento.
Imunidade mucosa: secreção de IgA no lúmen dos tratos gastrintestinal e respiratório,
IgA neutralizando microrganismos e toxinas.
Citotoxicidade celular: dependente de anticorpos e mediada por eosinófilos.
IgE
Desgranulação de mastócitos: reações de hipersensibilidade imediata.
IgD Receptor de antígeno em células B virgens.

Adaptado de: Lopes e Silva (2015, p. 124).

4.2.1 Exames imunodiagnósticos

Os exames imunodiagnósticos ou sorodiagnósticos pesquisam reações antígeno‑anticorpo para


diagnóstico de doença infecciosa, distúrbios autoimunes, alergias e doença neoplásica. No sangue é
realizada pesquisa de anticorpos contra antígenos específicos, daí a expressão sorologia do sangue.

Anticorpos são proteínas produzidas pelo sistema imune do corpo em reposta a um ou mais
antígenos. Antígenos são substâncias que estimulam e reagem com os produtos de uma resposta
imune, podendo ser enzimas, toxinas, microrganismos (bacterianos, virais, parasitários ou fúngicos),
tumores ou fatores autoimunes.

• Distúrbios autoimunes: são produzidos por anticorpos que atacam o próprio organismo, como,
por exemplo, artrite reumatoide e lúpus eritematoso.

• Reações de hipersensibilidade: são definidas como o aumento anormal da resposta imune a


alguns alérgenos (reações alérgicas a picadas ou pólens) e são usados testes de hipersensibilidade
imediata. Os testes de hipersensibilidade tardia são usados para avaliar a imunidade celular. Os
antígenos de histocompatibilidade e os testes para antígeno leucocitário humano são importantes
para detectar e evitar rejeição imune no transplante.

• Doenças por imunodeficiência: ocorrem na ausência de um ou mais componentes básicos do


sistema imune, incluindo linfócitos B, linfócitos T, células fagocíticas e o sistema complemento.
Essas doenças são classificadas como primárias/congênitas (síndrome de DiGeorge) e secundárias
(síndrome da imunodeficiência adquirida – aids, doença de Chagas, sífilis, hepatites).

Daremos um enfoque maior nas sorologias para detecção de doenças infecciosas, por serem exames
importantes no pré‑natal, pela possibilidade de transmissão vertical, e também pela importância na
triagem sanguínea nos bancos de sangue para indicar presença de infecção aguda, pregressa ou crônica.

46
BASES DIAGNÓSTICAS

Diversos são os métodos sorológicos para avaliar a presença de anticorpos provocados por antígenos
de bactérias, vírus, fungos e parasitas. A seguir apresentaremos de forma resumida esses métodos:

Quadro 11 – Alguns testes para determinar reação antígeno‑anticorpo

Nome do teste Reação observável Alteração visível Testes para


Aglutinação, hemaglutinação O antígeno particulado reage Anticorpos
(HA), ensaio de imuno‑ Agregação
com o anticorpo correspondente treponêmicos
-hemaglutinação (IHA)
O antígeno solúvel reage com o Anticorpos fúngicos,
Precipitação anticorpo correspondente por Precipitados intoxicação alimentar
imunodifusão ou contagem
Competição entre dois sistemas Ativação do
Fixação de complemento (FC) Anticorpos virais
antígeno‑anticorpo complemento, hemólise
Anticorpo com marcador Anticorpos
fluorescente reage com complexo Fluorescência antinucleares,
Imunofluorescência antígeno‑anticorpo na presença microscópica visível anticorpos
de luz ultravioleta antimitocondriais
Alteração cromogênica Vírus da
Enzimas são utilizadas fluorescente ou hepatite, vírus da
Imunoensaio enzimático (EIA) para marcar reações luminescente no imunodeficiência
antígeno‑anticorpo induzidas substrato adquirida (HIV)
Doença de Lyme,
EIA indireto para quantificação Mudança de cor indica Vírus Epstein‑Barr,
Ensaio imunoabsorvente ligado à de uma enzima de antígenos ou reação ao substrato doença do tecido
enzima (ELISA) anticorpo e substrato enzimático conjuntivo e
reumática, HIV
Detecção de anticorpos
Imunoblot (por exemplo: Separação eletrosférica de por mobilidade Confirma HIV
western blot – WB) subespécies de antígenos específica
Acúmulo exponencial Pode‑se detectar
Amplifica baixos níveis de
Reação em cadeia de polimerase do fragmento de DNA até mesmo o menor
sequência de DNA específicas sendo amplificado traço de infecção
A dispersão da
Mede antígenos ou anticorpos luz é diretamente IgA, IgM, proteína C
Nefelometria em solução, mediante dispersão proporcional ao número reativa
de um feixe luminoso de imunocomplementos

Adaptado de: Fischbach e Dunning (2010, p. 247).

4.2.2 Cuidados na fase pré‑analítica

O aconselhamento pré‑teste deve ser realizado como uma forma de atenção individualizada e
singular, além de representar um importante componente do processo de diagnóstico do HIV, da sífilis
e das hepatites virais.

Fazem parte dessa etapa o acolhimento, o estabelecimento do vínculo, o mapeamento de situações


de vulnerabilidade e a orientação sobre o teste. É direito dos usuários optar pela realização ou não do
procedimento de aconselhamento pré‑teste, independentemente da metodologia diagnóstica utilizada,
seja rápida ou convencional. Isso não significa suprimir o acolhimento e o diálogo sobre a motivação
do teste, a metodologia a ser utilizada e as expectativas do resultado. O aconselhamento poderá ser

47
Unidade I

realizado por profissionais que estejam devidamente capacitados para a realização dessa atividade,
devendo ter passado por formação específica e adequada para desempenhá‑lo. Ele pode ser:

• aconselhamento individual;

• aconselhamento coletivo;

• aconselhamento para casais, inclusive casais soropositivos e sorodiscordantes;

• aconselhamento continuado para pessoas que aguardam os resultados de exames (HIV, sífilis,
hepatites), até que sejam encaminhados e atendidos nos serviços de referência para tratamento.

Faz parte do processo de aconselhamento explicar a necessidade da assinatura do Termo de


Consentimento Livre e Esclarecido (LOPES; SILVA, 2015), que autoriza ou não o profissional da saúde
a entrar em contato com o paciente, caso ele não compareça ao serviço de saúde para a busca do
resultado do exame.

As etapas da coleta do material são:

• explicar o procedimento de coleta do material;

• antes da coleta, solicitar que o paciente assine o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido;

• não é necessário jejum para exames sorológicos;

• o teste sorológico deve ser feito antes do cutâneo, pois esse último pode induzir a formação de
anticorpos e interferir no resultado do primeiro;

• colocar a amostra de aproximadamente 5 ml de sangue em tubo seco ou contendo gel ativador


de coágulo;

• após a coleta, homogeneizar o tubo por inversão de 7 a 8 vezes para evitar hemólise, pois ela
interfere nos níveis de anticorpos ativadores de complementos;

• a amostra pode ser deixada em temperatura ambiente por, no máximo, 3 horas, até a retenção do
coágulo, com o tubo na posição vertical.

4.2.3 Fase pós‑analítica (interpretação dos resultados)

Considerando‑se a necessidade de manejar adequadamente as reações do paciente frente ao diagnóstico,


bem como de reiterar as orientações preventivas, todas as entregas de resultados de exames devem ser
acompanhadas de aconselhamento pós‑teste individual, garantindo inclusive a confidencialidade e o
sigilo. Outras pessoas como familiares ou amigos poderão participar da sessão de aconselhamento.

48
BASES DIAGNÓSTICAS

Os resultados dos exames sorológicos são expressos como: positivo, reativo, reagente ou negativo,
não reativo e não reagente ou inconclusivo ou duvidoso.

Alguns fatores podem influenciar no resultado dos testes sorológicos, como:

• janela imunológica (tempo decorrido da contaminação até a presença de anticorpos) — na


sífilis primária, o resultado não é positivo antes de 7 a 10 dias do aparecimento do cancro. Na
infecção por HIV, a presença do anticorpo pela sorologia convencional só é possível 30 dias após
a contaminação (> 95% até 6 meses);

• vacinação prévia;

• história de infecção prévia pelo microrganismo;

• reatividade cruzada (anticorpos produzidos por uma espécie de microrganismos podem reagir
com outra espécie diferente);

• presença de outras condições e doenças graves que alteram a resposta imune (câncer e uso de
drogas imunossupressoras).

Lembrete

O enfermeiro tem um papel fundamental no preparo, coleta e envio da


amostra ao laboratório, para que o resultado reflita de forma fidedigna o
processo de saúde‑doença do indivíduo.

Resumo

A avaliação de um paciente/cliente é complexa e envolve os dados


obtidos na entrevista, exame físico, exames laboratoriais e de imagem. O
enfermeiro tem um papel fundamental não somente na avaliação física do
paciente/cliente, mas também no conhecimento dos cuidados no preparo,
coleta e interpretação dos resultados destes exames.

Para a coleta de urina I, preferencialmente deve‑se colher a primeira


urina da manhã ou após duas horas de estase vesical e após a realização
da higienização urogenital adequada. Para a coleta de urina de 24 horas, o
paciente deverá começar e terminar o período da coleta com a bexiga urinária
vazia, uma vez que a quantidade das substâncias eliminadas será calculada a
partir do volume urinário produzido durante as 24 horas de coleta.

49
Unidade I

Para a coleta de hemograma, o jejum não é necessário, mas se a


pessoa praticou exercícios físicos, deve‑se solicitar que ela descanse por
30 minutos antes da coleta, pois pode aumentar a contagem de células
vermelhas e leucócitos.

É necessário certificar‑se de que o paciente está em jejum de 4 horas (esse


tempo pode variar entre laboratórios) para a coleta de exames bioquímicos.
Deve-se utilizar tubo com tampa amarela, contendo gel separador.

Nos exames microbiológicos, deve‑se dar atenção especial para os


cuidados relacionados à antissepsia e à cadeia asséptica, principalmente
na coleta da hemocultura e urocultura, evitando assim a contaminação
acidental da amostra.

Exercícios

Questão 1. Segundo alguns autores, cerca de 70% dos problemas relacionados à realização de um
exame laboratorial ocorrem devido a problemas nessa fase. Essa fase apresenta maior possibilidade de
erros devido à participação de vários profissionais, que vai desde o médico no momento da solicitação
até o pessoal de coleta e processamento da amostra no laboratório. Está‑se referindo à(s) fase(s):

A) Analítica.

B) Pré‑analítica.

C) De orientação do paciente.

D) Pós‑analítica, em que o médico interpreta os exames.

E) Processamento e análise da amostra.

Resposta correta: alternativa B.

Análise das alternativas

A) Alternativa incorreta.

Justificativa: a fase analítica consiste na realização do teste e garante que os resultados produzidos
pelos laboratórios atendam a um nível de qualidade desejado, ou seja, procede‑se a análise dos controles
para avaliar a precisão dos ensaios. Essa atividade tem também a finalidade de garantir a exatidão
dos resultados, verificar a calibração dos equipamentos e indicar o momento de se promover ações
corretivas quando surgir uma não conformidade.

50
BASES DIAGNÓSTICAS

B) Alternativa correta.

Justificativa: a fase pré‑analítica é responsável por cerca de 70% do total de erros ocorridos nos
laboratórios clínicos que possuem um sistema de controle da qualidade bem estabelecido. A despeito de
todas as dificuldades para a comprovação dessa afirmativa, a implantação, cada vez mais frequente, de
procedimentos automatizados e robotizados na fase analítica permite assumi‑la como verdadeira. Além
disso, algumas características próprias da fase pré‑analítica aumentam, em muito, o grau de complexidade
e, por consequência, a oportunidade de ocorrência de erros e não conformidades. É nessa fase que os
responsáveis pelas orientações devem estar bem atentos e observar se o paciente entendeu as orientações
que precisam ser seguidas, em especial, quando os exames requerem procedimentos específicos.

C) Alternativa incorreta.

Justificativa: essa etapa é de orientação e cuidado do paciente. Nesse momento de pré‑coleta, o


paciente deve receber todas as informações necessárias para a realização do exame, e não se pode
esperar que as orientações sejam dadas pelo médico, mas pelo laboratório. O paciente deve receber do
laboratório informações sobre o tempo de jejum, a realização de exercícios físicos, o consumo de bebida
alcoólica, dentre outras.

D) Alternativa incorreta.

Justificativa: essa fase pós‑analítica é a da emissão dos laudos, na qual as instruções escritas
devem ser legíveis, sem rasuras de transcrição, escritas em língua portuguesa, datadas e assinadas por
profissional de nível superior legalmente habilitado.

E) Alternativa incorreta.

Justificativa: o processamento da amostra se dá na fase pós‑analítica e, portanto, com menos chance


de erro, por ser a fase de impressão, interpretação e tomada de decisões por parte do médico em relação
ao paciente.

Questão 2. Umas das principais finalidades dos resultados dos exames laboratoriais é reduzir as
dúvidas que a história clínica do paciente e o exame físico fazem surgir no raciocínio médico. Para que
o laboratório clínico possa contribuir de maneira adequada para este propósito, é indispensável que
todas as fases do atendimento ao paciente sejam desenvolvidas seguindo os mais elevados princípios de
correção técnica, considerando a existência e a importância de diversas variáveis que podem influenciar,
significativamente, a qualidade final do trabalho de realização e liberação de um exame laboratorial.

Considerando os fatores que podem provocar interferências na fase pré‑analítica, o período de


jejum, para maioria dos exames de rotina, é de 8 horas, podendo variar para mais ou menos tempo, de
acordo com o tipo de exame. O período de jejum pode ser definido como:

A) O período no qual o paciente é proibido de ingerir qualquer aporte calórico, incluindo cafés, chás,
água e medicamentos, exceto quando está internado.
51
Unidade I

B) O período no qual o paciente não recebe nenhum aporte calórico. Dessa forma, a ingestão de
água não interfere no período de jejum do paciente.

C) O período no qual o paciente não pode ingerir nenhum aporte calórico. Dessa forma, a nutrição
parenteral não é considerada interferente.

D) O período no qual o paciente não realizará nenhuma refeição importante. Pequenas ingestas,
como de café e chás, podem ser permitidas, visando evitar hipoglicemia importante.

E) O período no qual o paciente não pode ingerir nenhum aporte calórico. Normalmente, só é
considerado jejum após um tempo de 12 horas sem ingestão de nenhum tipo de alimento.

Resolução desta questão na plataforma.

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