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Sandra Zeitoun
Graduada pela Faculdade de Enfermagem São José, em 1986 (Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de
São Paulo). Enfermeira intensivista titulada pela Sociedade Brasileira de Enfermeiros de Terapia Intensiva. Mestre em
Enfermagem na Saúde do Adulto pela Universidade Federal de São Paulo, em 2001, e doutora em Ciências da Saúde pela
Universidade Federal de São Paulo, em 2005. Membro do Grupo de Ensino, Pesquisa e Assistência em Sistematização
de Enfermagem (Gepasae/Unifesp). Revisora ad hoc do Journal of Clinical Nursing, International Journal of Nursing
Knowledge e Revista Brasileira de Enfermagem. Atualmente, é docente titular do curso de Enfermagem do Instituto
de Ciências da Saúde da Universidade Paulista. Docente convidada do curso de especialização na Assistência ao Adulto
em UTI da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo e do curso de especialização de Enfermagem em
Unidade de Terapia Intensiva do Centro Universitário São Camilo. Tem experiência clínica na enfermagem intensivista
desde sua formação, com ênfase em pneumologia, infecção hospitalar, sistematização da assistência de enfermagem,
ensino e pesquisa
Claudia Minazaki
Professora titular da Universidade Paulista, com especialização em educação a distância. Doutora em Reprodução
Animal e Biotecnologia pelo Departamento de Reprodução Animal e Biotecnologia – Laboratório de Andrologia
Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade de São Paulo, em 2013. Mestre em Biologia
Celular e do Desenvolvimento (ênfase em Histofisiologia e Embriologia) pelo Departamento de Biologia Celular e do
Desenvolvimento – Laboratório de Citofisiologia do Trofoblasto do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade
de São Paulo, em 2003. Formada em Medicina Veterinária pela Universidade Paulista, em 1994.
CDU 616-071
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permissão escrita da Universidade Paulista.
CENTRO UNIVERSITÁRIO PLANALTO DO DISTRITO FEDERAL – UNIPLAN
Reitoria
APRESENTAÇÃO.......................................................................................................................................................9
INTRODUÇÃO............................................................................................................................................................9
Unidade I
1 EXAME DE URINA DE ROTINA (URINA E PARASITOLÓGICO DE FEZES)...................................... 13
1.1 Considerações gerais sobre o exame de urina........................................................................... 13
1.1.1 Cuidados na fase pré‑analítica.......................................................................................................... 13
1.1.2 Tipos de coleta.......................................................................................................................................... 13
1.1.3 Manuseio e transporte da amostra.................................................................................................. 15
1.1.4 Fase pós‑analítica (interpretação dos resultados)...................................................................... 15
1.2 Considerações gerais sobre o exame parasitológico de fezes............................................. 17
1.2.1 Cuidados na fase pré‑analítica.......................................................................................................... 18
1.2.2 Fase pós‑analítica (interpretação dos resultados)...................................................................... 19
2 HEMOGRAMA COMPLETO............................................................................................................................ 20
2.1 Considerações gerais sobre o processo de hematopoiese.................................................... 20
2.2 Exame de hemograma......................................................................................................................... 21
2.2.1 Cuidados na fase pré‑analítica.......................................................................................................... 23
2.2.2 Cuidados durante a coleta................................................................................................................... 23
2.2.3 Fase pós‑analítica (interpretação do hemograma).................................................................... 24
3 EXAMES BIOQUÍMICOS.................................................................................................................................. 29
3.1 Considerações gerais............................................................................................................................ 29
3.2 Sódio (Na)................................................................................................................................................. 30
3.2.1 Cuidados na fase pré‑analítica.......................................................................................................... 31
3.2.2 Fase pós‑analítica (interpretação dos resultados)...................................................................... 31
3.3 Potássio (K+)............................................................................................................................................ 32
3.3.1 Cuidados na fase pré‑analítica.......................................................................................................... 32
3.3.2 Fase pós‑analítica (interpretação dos resultados)...................................................................... 32
3.4 Cálcio (Ca+)............................................................................................................................................. 33
3.4.1 Cuidados na fase pré‑analítica.......................................................................................................... 33
3.4.2 Fase pós‑analítica (interpretação dos resultados)...................................................................... 33
3.5 Magnésio (Mg++)................................................................................................................................. 34
3.5.1 Cuidados na fase pré‑analítica.......................................................................................................... 34
3.5.2 Fase pós‑analítica (interpretação dos resultados)...................................................................... 34
4 EXAMES MICROBIOLÓGICOS....................................................................................................................... 35
4.1 Considerações gerais sobre os exames microbiológicos........................................................ 35
4.1.1 Hemocultura.............................................................................................................................................. 36
4.1.2 Urocultura................................................................................................................................................... 38
4.1.3 Líquor............................................................................................................................................................ 40
4.1.4 Escarro.......................................................................................................................................................... 41
4.1.5 Cultura tópica (swab)............................................................................................................................. 43
4.2 Considerações gerais sobre os exames imunológicos............................................................ 45
4.2.1 Exames imunodiagnósticos................................................................................................................. 46
4.2.2 Cuidados na fase pré‑analítica.......................................................................................................... 47
4.2.3 Fase pós‑analítica (interpretação dos resultados)...................................................................... 48
Unidade II
5 BASES DIAGNÓSTICAS................................................................................................................................... 53
5.1 Riscos da radiação................................................................................................................................ 53
5.1.1 Precauções para proteção do paciente........................................................................................... 55
5.2 Solicitação de exames radiológicos............................................................................................... 57
5.3 Raio X......................................................................................................................................................... 58
5.3.1 Exames radiológicos............................................................................................................................... 58
5.4 Raio X convencional............................................................................................................................. 58
5.5 Radiografia simples de tórax............................................................................................................ 59
5.6 Mamografia............................................................................................................................................. 59
5.7 Raio X com contraste.......................................................................................................................... 62
5.7.1 Preparo do paciente para o raio X contrastado.......................................................................... 64
6 MEIOS DE CONTRASTE COM BÁRIO.......................................................................................................... 65
6.1 Exame ultrassonográfico.................................................................................................................... 65
6.2 Doppler...................................................................................................................................................... 66
6.3 Ultrassonografia da mama................................................................................................................ 68
6.4 Ultrassonografia abdominal.............................................................................................................. 68
6.5 Ultrassonografia vascular – ecodoppler...................................................................................... 69
6.6 Tomografia computadorizada.......................................................................................................... 69
6.7 Tomografia de crânio e pescoço, tomografia axial
computadorizada de encéfalo, olhos e seios da face.................................................................... 70
6.8 Tomografia computadorizada do corpo, tomografia axial computadorizada
do corpo e tomografia computadorizada do tórax, coluna vertebral, membros,
abdome e pelve.............................................................................................................................................. 71
6.9 Ressonância magnética...................................................................................................................... 73
6.9.1 Utilização pediátrica............................................................................................................................... 74
Unidade III
7 EXAMES DE TRAÇADO.................................................................................................................................... 78
7.1 Eletroencefalograma............................................................................................................................ 78
7.2 Eletrocardiograma................................................................................................................................. 80
7.2.1 Eletrofisiologia cardíaca........................................................................................................................ 80
7.2.2 Considerações gerais sobre o eletrocardiograma....................................................................... 81
7.2.3 Cuidados na fase pré‑analítica.......................................................................................................... 83
7.2.4 Fase pós‑analítica.................................................................................................................................... 84
8 EXAMES ESPECIAIS.......................................................................................................................................... 85
8.1 Gasometria arterial e venosa............................................................................................................ 85
8.2 Espirometria e oximetria de pulso.................................................................................................. 89
8.2.1 Espirometria............................................................................................................................................... 90
8.2.2 Oximetria de pulso.................................................................................................................................. 92
8.3 Métodos de monitorização............................................................................................................... 94
8.3.1 Pressão arterial invasiva........................................................................................................................ 94
8.3.2 Pressão venosa central.......................................................................................................................... 96
8.4 Anatomopatológico............................................................................................................................. 98
8.4.1 Necrópsias.................................................................................................................................................100
APRESENTAÇÃO
Caro(a) aluno(a),
Este livro-texto está dividido em unidades que buscam abarcar informações relevantes e de fácil
leitura sobre os diversos exames solicitados na prática clínica, com o objetivo de auxiliar no raciocínio
clínico da equipe de saúde.
Por fim, serão oferecidas informações relevantes sobre os exames de traçado (eletroencefalograma e
eletrocardiograma), bem como sobre os exames que, nesta obra, classificamos como especiais, a saber:
gasometria arterial e venosa (indicação e cuidados antes, no decorrer e depois da coleta), espirometria e
oximetria de pulso, métodos invasivos de monitorização hemodinâmica e os exames anatomopatológicos.
Boa leitura!
INTRODUÇÃO
Quando buscamos sobre a história dos exames laboratoriais, descobrimos que no início
dos cuidados com a pessoa enferma, o diagnóstico médico era restrito ao exame físico e à
observação do paciente. Os estudos laboratoriais estavam restritos às substâncias que eram
naturalmente eliminadas pelo corpo. Acredita-se que o exame de urina foi o primeiro exame
de diagnóstico laboratorial.
Uma das principais finalidades dos resultados dos exames laboratoriais é reduzir as dúvidas que a
história clínica do paciente, ou familiar, e o exame físico fazem surgir no raciocínio clínico. Para que os
dados laboratoriais possam atingir esse propósito, é indispensável que todas as fases do atendimento
ao paciente, desde solicitação do exame e orientações dadas ao paciente sobre o preparo, até o
momento da coleta, sejam feitas com excelência, a fim de minimizar variáveis que possam influenciar,
significativamente, no resultado do exame.
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Os laboratórios de análises clínicas são fundamentados em um processo dinâmico, que se inicia na
coleta do espécime diagnóstico (amostra biológica) e termina na emissão de um laudo. Didaticamente,
o processo pode ser dividido em três fases: pré-analítica, analítica e pós-analítica. Ao longo deste
livro-texto, abordaremos os principais exames laboratoriais e de imagem, destacando, na maioria deles,
os cuidados nas fases pré e pós-analíticas, principalmente.
Há relatos de que a medicina laboratorial teve sua origem a partir de uma análise de urina, pois
foram encontradas referências sobre urina nos desenhos feitos por nossos primeiros ancestrais e em
hieróglifos egípcios. Sabe-se que na Antiguidade, os médicos baseavam-se, na maioria das vezes, apenas
na análise da urina do paciente para obter um diagnóstico. Para isto, observavam a turvação, odor,
volume, cor e até presença ou não de açúcar na urina.
Hoje sabemos que o exame laboratorial é um importante instrumento de auxílio no raciocínio clínico
e na conduta terapêutica, configurando um indicador do estado de saúde do paciente.
Fase pré-analítica
Essa fase envolve um trabalho multidisciplinar, entretanto, o enfermeiro tem um papel fundamental
que inclui a orientação clara e precisa para o paciente em relação ao preparo e aos cuidados que ele
deve ter antes da realização de um determinado exame.
Fase analítica
Fase pós-analítica
Descreve o que ocorre após a obtenção do resultado e inclui o relatório ao médico que solicitou o
exame. Podem-se citar como erros mais comuns: perda do resultado, identificação incorreta do paciente,
interpretação incorreta, erro na transcrição do resultado, não identificação de substâncias interferentes
e tempo de liberação dos resultados superior ao especificado.
Da mesma forma que apresentamos as fases que envolvem a coleta de um exame laboratorial,
existem também as variáveis que interferem neles, as quais serão descritas a seguir.
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Variáveis biológicas
Variáveis de coleta
Muitas são as variáveis envolvidas nesse processo, daí a necessidade de se estabelecer protocolos de
coleta e de rejeição da amostra, evitando assim um resultado duvidoso.
Destacamos aqui, cuidados que são fundamentais antes da aquisição da amostra, a saber:
• verificar se o paciente está com o tempo de jejum necessário para alguns exames, bem como
se faz uso de medicamentos.
Outro ponto importante que devemos destacar é a escolha do tubo e/ou recipiente certo para
depositar a amostra biológica.
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Há uma recomendação da sequência dos tubos que deve ser respeitada para pacientes que possuem
diversas análises, para que não ocorra contaminação por aditivos nos tubos subsequentes. A sequência é:
• tubo com ativador de coágulo, com ou sem gel para obtenção de soro;
• tubo de heparina;
• tubo de EDTA;
• tubo de fluoreto/EDTA.
Variáveis de interferência
• Aplicação do garrote: não deve ultrapassar um tempo superior a 2 minutos, pois ocorre
aumento da pressão intravascular, levando a um risco aumentado de hemólise. O ato de abrir
e fechar a mão na hora da coleta deve ser evitado por causar aumento de potássio, fosfato,
lactato, amônia e cálcio ionizado.
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BASES DIAGNÓSTICAS
Unidade I
1 EXAME DE URINA DE ROTINA (URINA E PARASITOLÓGICO DE FEZES)
A urinálise, ou urina I, compreende as análises física, química e microscópica da urina, com o objetivo
de detectar doença renal, do trato urinário ou até mesmo sistêmica. Esse exame é definido pelo Clinical
and Laboratory Standards Institute como “o teste de urina com procedimentos normalmente realizados
de forma rápida, confiável, precisa, segura e custo‑efetiva” (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PATOLOGIA
CLÍNICA, 2014).
O desenvolvimento de técnicas analíticas mais práticas e eficientes permitiu que o exame de urina
de rotina se mantivesse como um dos testes mais frequentemente solicitados, seja para pacientes com
diferentes queixas clínicas, seja para indivíduos saudáveis que se submetem à avaliação periódica,
mesmo sem qualquer sintomatologia. Por essa razão, o exame de urina de rotina deve ser entendido
como um teste de triagem, capaz de fornecer informações úteis que possibilitam o diagnóstico
de eventuais problemas nos rins e nas vias urinárias, como processos irritativos, inflamatórios ou
infecciosos, além de alguns distúrbios metabólicos, como diabetes mellitus e insipidus, além de
distúrbios do equilíbrio acidobásico.
Não há necessidade de preparo especial para a coleta desse exame, mas não podemos esquecer
que algumas características da urina se modificam ao longo do dia. Tipo de dieta, jejum prolongado,
atividades físicas realizadas antes da coleta da amostra, bem como uso de determinados medicamentos,
são alguns dos elementos que podem alterar a característica da urina.
Dessa forma, preferencialmente, deve ser coletada a primeira urina da manhã, por ser mais
concentrada, garantindo, assim, a detecção de substâncias químicas e elementos formados que poderão
não ser observados em uma amostra aleatória mais diluída. Outra possibilidade é coletar, no mínimo,
duas horas após a última micção, sem que o indivíduo tenha realizado atividade física intensa nas seis
horas precedentes. Se for possível, deve‑se evitar a coleta no período menstrual.
A urina é um material biológico isento de microrganismos, porém durante a coleta pode ser
facilmente contaminada, comprometendo o resultado. A seguir, descreveremos as técnicas mais
rotineiramente utilizadas.
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Unidade I
Antes da coleta, é recomendável que o frasco de coleta já esteja identificado pelo laboratório,
colocando o nome do paciente, data e horário de coleta. É fundamental que seja feita assepsia da região
urogenital, seguindo os seguintes passos:
• Os homens deverão:
— coletar urina do jato médio até cerca de 1/3 ou metade da capacidade do frasco.
• As mulheres precisarão:
— fazer higiene da região genital com água e sabão, sempre no sentido de frente para trás.
É importante que os resíduos de pomadas, pós e cremes vaginais, eventualmente utilizados,
sejam totalmente removidos;
— enxugar toda a região genital com gaze ou toalha, sempre no sentido de frente para trás;
— coletar urina do jato médio até, mais ou menos, 1/3 ou metade da capacidade do frasco.
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BASES DIAGNÓSTICAS
Nos casos em que a coleta espontânea não seja possível e a amostra também seja utilizada para o
exame de cultura, lança‑se mão de procedimento invasivo para a coleta, como o cateterismo vesical.
Introduz‑se sob condições estéreis um cateter vesical através da uretra até a bexiga. Assim que a amostra
desejada for coletada, o cateter é retirado.
Exame solicitado para a dosagem quantitativa de componentes urinários. Amostras de urina devem
ser recolhidas em frascos apropriados e identificadas por um período de 24 horas. O frasco no qual a
amostra será coletada pode ficar no piso do banheiro (local fresco e arejado) durante todo o período de
coleta, até que o frasco seja levado ao laboratório. O paciente deverá começar e terminar o período da
coleta com a bexiga urinária vazia, uma vez que a quantidade das substâncias eliminadas será calculada
a partir do volume urinário produzido durante as 24 horas de coleta.
As amostras devem ser coletadas em frasco de material inerte, limpo e seco, com boca larga e
tampa de rosca para que não haja vazamento. Recipientes esterilizados e embalados individualmente
são reservados para exames microbiológicos.
Os frascos para urina de 24 horas precisam ser de plástico, com boca larga e tampa de rosca, além
de conter um volume médio de 2,5 a 3 litros.
Após a coleta, a urina deve ser entregue imediatamente ao laboratório e testada dentro de duas horas.
Uma amostra que não possa ser analisada nesse prazo necessita ser refrigerada a uma temperatura de
2 a 8 ºC, porém nunca deve ser congelada. Caso a refrigeração não seja possível, o frasco deverá ter um
conservante químico adequado adicionado.
• pH: o valor normal fica entre 5.5 – 6.5. Os rins têm grande participação no equilíbrio ácido‑base do
organismo. Um pH alcalino (≥ 7.5), sugere infecção por bactérias como Proteus e Klebsiella. Um pH
ácido (≤ 5.5) pode estar associado a distúrbios, como cetoacidose diabética, estado hiperosmolar
não cetótico, sepse, entre outras patologias;
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Unidade I
• proteínas: em função do alto peso molecular, sua presença na urina deve ser imperceptível. A
proteinúria pode indicar presença de doenças renais;
• glicose e corpos cetônicos: ambos devem estar ausentes na urina. Em situações normais, quase toda a
glicose filtrada pelos glomérulos é reabsorvida pelos túbulos proximais. Já as cetonas são produzidas
a partir do metabolismo das gorduras (ácido acetoacético e ácido beta‑hidroxibutírico). A glicosúria
e cetonúria estão presentes em caso de diabetes mellitus descompensada, períodos prolongados de
jejum ou perda rápida de peso. Seus resultados são apresentados na forma de cruzes, variando de +
a +++. Quanto maior o número de cruzes, maior a quantidade desses elementos;
• nitritos: devem estar ausentes na urina. Sua presença pode indicar infecção do trato urinário, pela ação
de bactérias redutoras de nitrato em nitrito (todas as enterobactérias e alguns cocos gram‑positivos);
• leucócitos: podem estar presentes na urina normal. São consideradas anormais contagens
superiores a 10.000 leucócitos/ml ou 10 leucócitos/campo. Em laboratórios que se utilizam de
tecnologia mais avançada (citometria de fluxo), contagem de leucócitos de até 30.000/ml são
consideradas normais em mulheres;
• células epiteliais: a presença de raras células epiteliais na urina é considerada normal, principalmente
em mulheres, devido à descamação fisiológica do epitélio.
• clearance (depuração) de creatinina: exame que mede a taxa de filtração glomerular. Seu cálculo
é obtido através de uma equação que corrige fatores como idade, sexo e peso corporal. A seguir
será exibida a taxa de filtração glomerular e a sua interpretação;
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BASES DIAGNÓSTICAS
Lembrete
O parasitismo é uma associação entre os seres vivos, sendo o hospedeiro um dos associados e o
prejudicado na associação, pois fornece o alimento e o abrigo ao parasita, sendo assim, a parasitose é o
estado de infecção cuja agressão repercute prejudicialmente sobre o hospedeiro.
Para que uma parasitose seja classificada como enteroparasitose, é necessário que o parasita
envolvido na doença passe uma das fases do seu ciclo biológico no aparelho digestivo, provocando
alterações patológicas.
A principal fonte para contaminação do ser humano é oral‑fecal, através da ingestão de água e
alimentos contaminados pelos parasitas. Os ovos, cistos e larvas dos parasitas contaminam a água,
que os transporta a longas distâncias, promovendo dessa forma a infecção de novos hospedeiros.
Sendo assim, a realização de obra de saneamento básico está intimamente relacionada à profilaxia
de enteroparasitoses.
Apesar de bem estudadas em sua profilaxia e controle, as parasitoses ficam entre as doenças mais
frequentes na população de baixa renda, estando associadas a quadros de diarreia crônica e desnutrição,
afetando principalmente as crianças devido aos hábitos inadequados de higiene, comprometendo o
desenvolvimento físico e intelectual, principalmente em indivíduos jovens. Outros fatores que contribuem
para as enteroparasitoses são migrações humanas, condições ambientais, maior densidade populacional,
potencial biótico elevado (capacidade máxima de reprodução de uma espécie biológica).
A coleta de fezes não requer jejum do paciente nem restrição de alimentação. As amostras
de fezes podem ser de consistências diversas, e isso não é impeditivo para a realização do exame
parasitológico. Alguns pacientes procuram o profissional de saúde para dizer que foi solicitado o exame
protoparasitológico de fezes (PPF), mas como as fezes estão diarreicas, esperam passar essa fase para
depois coletar a amostra, o que não deve ser feito. A coleta deve ser orientada a ser feita na consistência
em que as fezes se encontram, pois nas fezes diarreicas podem ser encontradas formas trofozoíticas
com maior facilidade do que em fezes formadas. Porém, as amostras devem ser isentas de água ou urina.
• Amostras aquosas ou liquefeitas: deve ser feita diretamente no frasco coletor universal. Se não for
possível, pode ser utilizado um frasco com boca larga, que precisa ser transportado imediatamente
ao laboratório para a realização do exame.
• Conservação: amostras de fezes liquefeitas ou diarreicas frescas devem ser examinadas até
30 minutos após a coleta; amostras pastosas, até 60 minutos; e amostras formadas ou endurecidas
podem ser examinadas no mesmo dia ou no dia seguinte. Até que sejam enviadas para análise,
a temperatura de conservação das amostras é a ambiente. O uso de frascos com conservantes,
fornecidos pelo laboratório, pode ser indicado (solução de formaldeído, mertiolato‑iodo‑formaldeído,
acetato de sódio‑ácido acético‑formaldeído, álcool polivinílico, bicromato de potássio e Schaudinn),
pois eles impedem a proliferação de bactérias e fungos. Os frascos coletores com conservantes
disponíveis no mercado são Coprotest®, Paratest®, Coproplus®, TFTest®, entre outros.
pela intermitência dos parasitas intestinais. Os frascos precisam ser identificados com nome, sexo,
idade, data e hora da coleta e número da amostra.
No resultado do exame, devem constar os parasitas patogênicos ou não, com seus nomes científicos,
anormalidades observadas no exame micro ou macroscópico, métodos utilizados para a pesquisa parasitológica,
valor de referência e outras informações que sejam importantes, como presença de interferentes no exame,
amostra em quantidade inadequada ou acondicionamento inadequado do material.
Saiba mais
19
Unidade I
2 HEMOGRAMA COMPLETO
A medula óssea é o órgão produtor das células sanguíneas. Até os cinco anos de idade, a medula
de todos os ossos do corpo participa desse processo. Na medida em que os anos avançam, ocorre uma
substituição gordurosa na medula dos ossos longos, até que, na idade adulta, somente os ossos da pelve,
o esterno, os ossos do crânio, os arcos costais, as vértebras e as epífises femorais e umerais são capazes
de gerar células sanguíneas.
Todos os elementos do sangue (hemácias, plaquetas e leucócitos) originam‑se de uma única célula
progenitora, denominada célula‑tronco (stem cell). Inicialmente, a célula‑tronco se diferencia em dois
tipos, cada um comprometido com a formação de uma grande linhagem hematológica: a linhagem
mieloide, que dará origem às hemácias, plaquetas, granulócitos e monócitos; e a linhagem linfoide,
que gerará os linfócitos.
A linhagem linfocítica dará origem aos linfócitos T e B; enquanto a mieloide gerará os eritrócitos, os
monócitos, os granulócitos (neutrófilos, basófilos e eosinófilos) e as plaquetas.
Eritropoiese
A primeira célula no interior da medula óssea identificada como pertencente à série eritroide é o
proeritroblasto. Uma vez formado, ele se divide várias vezes. Durante o seu processo de maturação, dois
importantes fenômenos ocorrem de forma progressiva: condensação da cromatina nuclear (maturação
do núcleo), e hemoglobinização do citoplasma, à medida que a hemoglobina vai sendo sintetizada.
20
BASES DIAGNÓSTICAS
Leucopoiese
Toda produção de leucócitos começa na medula pela mesma célula‑tronco que produz os eritrócitos
e megacariócitos. Alguns estímulos agem sobre a célula‑tronco para determinar qual tipo de leucócito
será produzido. Os granulócitos terminam sua maturação na medula, porém as formas bastão/bastonetes
e segmentados, embora não completamente maduras, são liberadas no sangue. Os monócitos terminam a
maturação na medula e dirigem‑se para diversos locais do organismo, onde se transformam em macrófagos
(exercem a fagocitose). Os linfócitos T terminam sua maturação no timo, já os linfócitos B terminam na
medula óssea, porém, chegam à fase de plasmócito produtor de anticorpos nos linfonodos e baço.
Trombocitopoiese
O hemograma completo compreende uma análise quantitativa e morfológica das células do sangue
periférico, para avaliar o estado geral do paciente. É dividido didaticamente em três partes:
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Unidade I
• leucograma: refere‑se à contagem do número de leucócitos por milímetro cúbico e sua contagem
diferencial, ou seja, o percentual de cada célula da série branca;
Os aspectos morfológicos das células vermelhas são: volume corpuscular médio (VCM), hemoglobina
corpuscular média (HCM) e concentração da hemoglobina corpuscular média (CHCM). Esses aspectos são
utilizados, principalmente, para identificar o tipo de anemia, pelo tamanho e conteúdo da hemoglobina.
Tais elementos estão apresentados a seguir.
A contagem de cada célula branca pode aumentar (leucocitose) ou diminuir (leucopenia) na presença
de doenças. Os valores normais dos leucócitos e suas células diferenciais estão ilustrados na tabela a seguir,
lembrando que os valores de referência podem ter pequenas alterações de um laboratório para outro.
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BASES DIAGNÓSTICAS
Basófilos 0 – 200/mm3
Linfócitos 1.000 – 3.900/mm3
Monócitos 100 – 1.000/mm3
A fase pré‑analítica é responsável por 46 a 68,2% do total de erros ocorridos nos laboratórios clínicos
com um sistema de controle de qualidade consolidado. Embora o paciente seja instruído sobre o preparo
para o exame, dados importantes devem ser considerados imediatamente antes da coleta da amostra.
Além do registro correto do gênero e idade, outras condições clínicas devem ser checadas:
• atividade física: se a pessoa praticou exercícios físicos, deve‑se solicitar que ela descanse por 30
minutos antes da coleta, pois pode aumentar a contagem de células vermelhas e leucócitos;
• uso de drogas terapêuticas e álcool: deve ser questionado sobre seu uso, pois medicamentos
como a penicilina e outros antibióticos, metildopa, carbonato de lítio, alguns anti‑inflamatórios e
glicocorticoides podem induzir a formação de anticorpos que agirão contra as hemácias. O álcool
tem um efeito tóxico sobre a hematopoiese.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Patologia Clínica (2010), os seguintes passos devem ser
seguidos para a coleta da amostra de sangue venoso para o hemograma:
• higienizar as mãos em lavatório com água e sabão ou por meio de fricção com soluções
alcoólicas a 70%, pois possuem maior eficácia germicida in vitro; posteriormente, calçar luvas
de procedimento;
• se o torniquete for usado para seleção preliminar da veia, pedir para que o paciente abra e feche
a mão. Afrouxar o torniquete e esperar cerca de 2 minutos para usá‑lo novamente;
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Unidade I
• fazer a antissepsia do local da punção com álcool etílico a 70% (em gaze ou algodão), em
movimento circular do centro para a periferia;
• garrotear o braço do paciente por não mais de 1 minuto (idealmente até 30 segundos). Isso evita
hemoconcentração e falsos resultados nos parâmetros hematológicos;
• fazer a punção (agulha com ângulo de 30º) com o bisel voltado para cima. Se necessário,
para melhor visualizar a veia, esticar a pele com a outra mão, sem tocar o local onde foi
feita a antissepsia;
• caso haja outros exames além do hemograma, inserir tubo a tubo na sequência recomendada pelo
Clinical and Laboratory Standards Institute;
Assim como o garroteamento prolongado não é recomendado, devem‑se evitar também massagem
no local da coleta e tapinhas, pois podem ocasionar redução da contagem de células de até 5%.
A amostra ideal é aquela coletada com anticoagulante EDTA (tubo de tampa roxa), pois inibe
a agregação plaquetária e mantém a morfologia e integridade das células sanguíneas. Após a
coleta, a amostra deve ser homogeneizada 8 a 10 vezes, por inversão. O volume de sangue coletado
precisa estar em conformidade com o tamanho do tubo utilizado (conferir no rótulo do tubo),
sem coágulo e hemólise e ser entregue no setor analítico, em até quatro horas após a coleta. Em
coletas com pequeno volume de sangue, a quantidade de EDTA fica excessiva, tornando o meio
hipertônico, podendo reduzir o tamanho dos eritrócitos, diminuir o VCM, aumentar a CHCM, bem
como desintegrar leucócitos e plaquetas.
Série vermelha
24
BASES DIAGNÓSTICAS
Policitemia vera
Produção aumentada das células
Hematócrito Doença pulmonar obstrutiva crônica
vermelhas
aumentado Cardiopatia congênita
Hemoconcentração
Desidratação
Anemias megaloblásticas
VCM Síntese de DNA prejudicada, gerando Anemias hemolíticas
aumentado megaloblastos Anemias perniciosas
Consumo excessivo de álcool
Anemia ferropênica
Perda sanguínea crônica Talassemia
VCM diminuído
Deficiência de ferro Anemia sideroblástica
Anemia de doença crônica
HCM Anemias megaloblásticas
Deficiência de ácido fólico ou vitamina B
aumentada Anemias macrocíticas
Deficiência de ferro Anemia ferropriva
HCM diminuída Perda sanguínea crônica Anemia microcítica
Hemoglobinopatia Talassemia
25
Unidade I
Anemia falciforme
CHCM Aumento da concentração de Anemia hemolítica autoimune
aumentada hemoglobina
Esferocitose hereditária
Anemia ferropênica
CHCM Deficiência de ferro Talassemia
diminuída
Anemia sideroblástica
A anemia é definida como uma redução nos níveis de hemoglobina no sangue. Entretanto, definir
os níveis normais de hemoglobina não é tão simples, uma vez que cada pessoa possui concentrações
adequadas para sua massa muscular ou tecido metabolicamente ativo. A OMS, baseando‑se em um
estudo de âmbito mundial, estabeleceu parâmetros ou valores de referência para hemoglobina a fim de
orientar a prática clínica, sendo eles: Hb > 13 g/dL para homens, Hb > 12 g/dL para mulheres e Hb >11 g/dL
para grávidas e crianças de seis meses a seis anos. É considerada anemia grave quando a Hb ≤ 8 g/dL.
Observação
26
BASES DIAGNÓSTICAS
Série branca
27
Unidade I
Leucemia
Policitemia vera
Basofilia Colite
(aumento dos basófilos)
Nefrose
Estado de hipersensibilidade crônica
Anemia falciforme
Asma
Eosinofilia Parasitoses
(aumento dos eosinófilos) Reações de hipersensibilidade
Doenças autoimunes
Doenças inflamatória crônicas e dermatoses
Lúpus eritematoso sistêmico
Estresse
Eosinopenia Insuficiência cardíaca congestiva
(diminuição dos eosinófilos)
Mononucleose infecciosa
Acromegalia
Infecções agudas virais
Linfocitose Alguns linfomas
(aumento dos linfócitos) Leucemia linfoide crônica
Leucemia linfoblástica aguda
Doença de Hodgkin
Febre reumática
Sepse
Queimaduras
Linfopenia
(diminuição dos linfócitos) Radiação, antineoplásicos
Adrenocorticoides em altas doses
Reações transfusionais
Infecções bacterianas, virais, micóticas
Cirrose
Linfomas
Monocitose Leucemia monocítica
(aumento dos monócitos) Doença de Hodgkin
Radiação
Policitemia vera
Lúpus eritematoso sistêmico
Plaquetas
A trombocitose pode ocorrer por causa de um processo primário, que é a chamada trombocitemia
essencial e talvez seja um processo reativo a outras patologias. A trombocitose secundária é muito
mais frequente que a trombocitemia essencial. Ela acontece principalmente devido ao aumento de
trombopoietina, IL‑6 e catecolaminas em doenças inflamatórias, neoplásicas e infecciosas.
Observação
3 EXAMES BIOQUÍMICOS
Existem inúmeras substâncias envolvidas na água, entre elas os eletrólitos que, além de suas ações
específicas, exercem pressão osmótica. O sódio é o íon mais importante do espaço extracelular, e a
manutenção do volume do líquido extracelular depende do balanço de sódio.
Segue ilustrada a distribuição dos principais íons do organismo, bem como a sua distribuição nos
compartimentos intra e extracelular.
29
Unidade I
Por ser o eletrólito mais abundante no meio extracelular, existe uma estreita relação entre a água e
o sódio, de tal modo que os distúrbios desses dois elementos, como, por exemplo, a desidratação, não
deve ser tratada de maneira independente. É possível que ocorra a desidratação por sequestro interno
de líquido. Na vigência de lesões como queimaduras, traumas, processos inflamatórios e infecciosos, o
líquido extracelular é sequestrado, formando um novo espaço de líquido anormal, o que não mantém
qualquer relação com o balanço hidroeletrolítico na manutenção da homeostase corporal.
Por outro lado, a intoxicação hídrica é causada por excessiva ingestão de água na presença de baixa
diurese, levando à sobrecarga de água corporal total e consequente diminuição da osmolaridade.
Tendo em vista a importância dos eletrólitos na homeostase, abordaremos cuidados sobre a coleta e
a interpretação clínica dos resultados.
Como explicado, o sódio é o íon extracelular mais abundante na corrente sanguínea (Na = 135 a
145 mEq/L), tendo um papel fundamental de equilíbrio hídrico do organismo. Uma série de fatores está
relacionada ao distúrbio do Na e será apresentada a seguir.
30
BASES DIAGNÓSTICAS
— hiponatremia hipotônica: ocorre hiposmolalidade (< 280 mOsm/kg H2O), sendo necessária a
avaliação da volemia.
Hiponatremias agudas e graves costumam ser sintomáticas, podendo levar a crises convulsivas
(edema cerebral). O clínico deve procurar remover a causa: reverter a hipovolemia, suspender o
medicamento suspeito, interromper ingestão excessiva de água, repor um hormônio que esteja deficitário
(hipotireoidismo, insuficiência suprarrenal) e adequar o tratamento da doença de base (insuficiência
cardíaca, cirrose).
• Hipernatremia: é a concentração sérica de sódio > 150 mmol/L. Desenvolve‑se a partir de um ganho
de sódio ou pela perda de água livre (desidratação), ou pela combinação desses fatores. Está sempre
associada à hiperosmolalidade plasmática. O aumento da concentração de sódio sérico leva a um
desvio da água do intra para o extracelular, situação grave quando se considera o sistema nervoso
central, no qual a hipotonicidade nos capilares sanguíneos (barreira hematoencefálica) leva a um
desvio de água do líquor, interstício e neurônios com consequente desidratação neuronal.
O valor normal para o sódio sérico é de 135 a 145 mEq/L. Diversas causas podem levar à hiponatremia
(Na < 130 mEq/L). A ingestão insuficiente (dieta hipossódica recomendada para nefropatas) ou por
perdas renais e extrarrenais exageradas, como poliúria, diarreia crônica e aspiração gastrintestinal,
as nefropatias perdedoras de Na+, frequentemente associadas a drogas e infecção, o uso abusivo de
diuréticos e a insuficiência adrenal são situações que acarretam perda importante de Na+, condicionando
a hiponatremia.
A hipernatremia pode ser decorrente de perda de água proporcionalmente maior que a de Na+
(diabetes insípido, diabetes mellitus, febre, insolação, hiperventilação), reposição insuficiente de perdas
hídricas (redução da ingestão hídrica por náuseas, vômitos ou incapacidade física), administração
excessiva de solutos em pacientes renais (sal na alimentação por sonda, diuréticos osmóticos, diálise
peritoneal), excesso de esteroides. Considera‑se hipernatremia grave quando o Na+ alcança 160 mEq/L.
31
Unidade I
Devido à grande diferença entre as concentrações intra e extracelular de potássio, os fatores que
controlam sua distribuição transcelular são críticos para a manutenção de níveis séricos normais. Os
principais fatores são:
• acidose: provoca a saída de potássio do meio intra para o extracelular, aumentando sua
concentração sérica;
Os cuidados antes e durante a coleta de amostra para dosagem de potássio sérico são os mesmos
recomendados para a coleta de sódio sérico:
O valor de referência do potássio sérico é de 3,5 a 4,5 mEq/L, podendo haver pequenas diferenças
entre laboratórios. As seguintes alterações podem ser encontradas:
A forma biologicamente ativa é o cálcio livre ou ionizado. A manutenção dos níveis séricos de cálcio
ionizado tem importante papel no tratamento de pacientes em estado crítico. Há várias situações nas
quais o quadro clínico requer que a dosagem de cálcio ionizado seja maior do que a calcemia total.
Dentre elas, citam‑se: transplantes hepáticos, transfusões sanguíneas e durante o ato cirúrgico em
tireoidectomias para avaliação das hipocalcemias.
• jejum por pelo menos 4 horas, pois após a ingestão de alimentos há uma redução de 5% do cálcio
ionizado por aumento do pH e da concentração proteica;
• o paciente deve estar relaxado e com frequência respiratória normalizada por, pelo menos,
10 minutos;
• manter a estabilidade postural por, pelo menos, 5 minutos antes da coleta, sentado ou em pé;
• em pacientes recebendo nitroprussiato de sódio, deve‑se considerar que essa droga origina
tiocianato e cianeto, que se combinam ao cálcio, gerando valores mais baixos.
O valor de referência do cálcio iônico é de 1,17 a 1,32 mg/dL, já o cálcio total varia de 8,5 a 10,5 mg/dL,
podendo ocorrer pequenas variações desses valores entre laboratórios.
33
Unidade I
• hipercalcemia: a necessidade de tratamento em urgência ocorre, quando o nível de cálcio total está
acima de 14 mg/dL. As repercussões gastrintestinais mais frequentes são dispepsia, constipação,
anorexia, náusea e vômito, sendo rara a ocorrência de pancreatite. Os sintomas urinários são
poliúria, polidipsia e litíase renal. As manifestações neurológicas podem variar entre dificuldade para
concentração, sonolência, confusão mental e, finalmente, coma. As manifestações cardiovasculares
mais frequentes são hipertensão arterial, bradicardia e bloqueio atrioventricular de primeiro grau;
• hipocalcemia: a redução dos níveis séricos de cálcio iônico aumenta a permeabilidade de membrana ao
sódio e amplia a excitabilidade neuromuscular. Os achados clínicos dependem da rapidez da instalação
do déficit e correlacionam‑se com a hipomagnesemia, mas geralmente não aparecem até um cálcio
total de 7,0 a 7,5 mg/dL. As manifestações mais frequentes, são: parestesia periférica e perioral, cãibras,
podendo ocorrer nos casos mais graves laringoespasmo, broncoespasmo, convulsão e óbito.
O magnésio é o segundo cátion mais prevalente no meio intracelular. É essencial para a função
enzimática, metabolismo energético celular, estabilização de membranas, condução nervosa, transporte
iônico e atividade dos canais de cálcio. O rim é o principal órgão envolvido na homeostase do magnésio
corporal total, pois 95% do magnésio filtrado é reabsorvido pelo néfron e o rim pode diminuir até 0,5%
sua excreção devido a diminuição da ingestão, aumentos de perdas intestinais ou com a redistribuição
do espaço extra para o intracelular.
Os níveis de magnésio sérico estão entre 1,5 a 2,5 mEq/L, sendo sua regulação influenciada por
fatores hormonais e não hormonais como paratormônio, calcitonina, glucagon, vasopressina, restrição
de magnésio, distúrbios acidobásicos e depleção de potássio.
• hipermagnesemia: pacientes com níveis séricos de magnésio aumentado podem exibir sinais
e sintomas, incluindo náuseas, vômitos, reflexos tendinosos profundos abolidos, hipotensão,
bradicardia e alterações do ECG (aumento do intervalo PR, QRS alargado);
34
BASES DIAGNÓSTICAS
4 EXAMES MICROBIOLÓGICOS
Os microrganismos que causam doenças infecciosas são definidos como patógenos, pois se
multiplicam e causam lesão tecidual. Os processos infecciosos demonstram respostas fisiológicas à
invasão de multiplicação do microrganismo agressor. Todos os microrganismos isolados em cultura de
um local do corpo devem ser considerados potenciais patógenos.
Dentro desse contexto, os exames microbiológicos têm como função identificar o foco e o agente
agressor. Para que isso ocorra, é fundamental que a amostra do material biológico seja coletada e
transportada adequadamente, caso contrário podem ocasionar falhas no isolamento do agente etiológico
e favorecer o desenvolvimento da flora contaminante, induzindo a um tratamento não apropriado.
Portanto, procedimentos adequados de coleta devem ser adotados para evitar o isolamento de um falso
agente etiológico, resultando em uma orientação terapêutica inadequada. Enfim, o material coletado
deve ser representativo do processo infeccioso investigado, precisando ser eleito o melhor sítio da lesão,
evitando contaminação com as áreas adjacentes.
Para que a coleta do material seja adequada, devemos considerar alguns preceitos:
• quantidade suficiente de material deve ser coletada para permitir uma completa
análise microbiológica;
• existem microrganismos que exigem cultivos especiais, sendo fundamental informar ao laboratório
a suspeita do agente. Por exemplo, Campylobacter spp., entre outros;
• a origem da amostra/sítio deve ser informada para que os meios de cultura sejam
adequadamente selecionados;
• o frasco precisa ser encaminhado ao laboratório com a correta identificação: nome completo e
registro do paciente, leito ou ambulatório de especialidade, material colhido, data, hora e quem
realizou a coleta.
35
Unidade I
Devemos sempre lembrar que os microrganismos são seres vivos, portanto multiplicam‑se
e/ou morrem com facilidade. Se isso ocorrer durante a coleta, o transporte ou a estocagem, a amostra
enviada ao laboratório não será representativa do processo infeccioso. A seguir ilustraremos o tempo
crítico, frascos e meio de transporte correto para cada amostra biológica.
4.1.1 Hemocultura
• bacteremia transitória: é rápida e a mais comum, com duração que pode variar de alguns minutos a
poucas horas. Ocorre após a manipulação de algum tecido infectado, como em casos de abscessos,
furúnculos e celulites, durante algum procedimento cirúrgico envolvendo tecidos contaminados
ou colonizados, por exemplo, em procedimentos dentários, cistoscopia, cateterização ou dilatação
uretral, abortamento ou endoscopias digestivas;
• bacteremia intermitente: é a que se manifesta em intervalos de tempo variáveis, tendo como agente
o mesmo microrganismo e frequentemente se manifestando com febre de origem indeterminada.
Geralmente, ocorre em processos infecciosos como pneumonias, abscessos intracavitários, como
os pélvicos, perinefréticos, hepáticos, prostáticos e outros;
36
BASES DIAGNÓSTICAS
• bacteremia de escape (breakthrough): é a que ocorre mesmo enquanto o paciente ainda está
recebendo antibioticoterapia sistêmica apropriada. Quando surge no início da terapêutica,
geralmente se deve a concentrações insuficientes do antimicrobiano na corrente sanguínea. É
comum haver escape nos primeiros dias de tratamento; já os episódios que acontecem tardiamente
se dão, em geral, por drenagem inadequada do foco infeccioso, acesso inadequado da droga ou
comprometimento do sistema imunológico do paciente.
Em relação ao número de frascos, dados mostram que um frasco detecta 65 a 91% dos casos;
dois frascos, 80 a 99%; e três frascos, 93% ou mais (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PATOLOGIA CLÍNICA,
2010). O Clinical and Laboratory Institute recomenda dois a três pares de frascos anaeróbico/aeróbico
de hemocultura (SOCIEDADE BRASILEIRA DE PATOLOGIA CLÍNICA, 2014).
• preparar o frasco para a inoculação de sangue, identificando com os dados do paciente, data, hora
e quem o coletou;
• remover a tampa protetora e fazer a limpeza da tampa de borracha com álcool a 70%;
• com algodão embebido em álcool a 70%, fazer limpeza da pele com movimentos centrífugos a
partir do local onde será feita a punção. Com algodão embebido em clorexidina alcoólica, repetir
os movimentos anteriores, aguardando 1 minuto para o local secar;
• inocular o sangue no frasco de hemocultura, sem troca da agulha. A substituição não diminui a
chance de contaminação da amostra e aumenta o risco de acidente;
37
Unidade I
A coleta de sangue arterial não está associada a um aumento da sensibilidade do exame. Também
não é recomendada a coleta de amostra direto do cateter central. Estão disponíveis no mercado vários
tipos de frasco para hemocultura. Existem aqueles para bactérias aeróbicas, anaeróbicas, fungos,
micobactérias e até com resinas aniônicas e catiônicas para adsorção de antibióticos.
Por muitos anos, tem sido consenso entre clínicos e microbiologistas que a hemocultura é um dos
testes laboratoriais mais importantes para o diagnóstico de infecções graves.
Na maioria das vezes, o paciente com hemocultura positiva apresenta sinais e sintomas característicos
de infecção, febre, calafrios, alterações do nível de consciência e, nas suas formas mais graves, alterações
bioquímicas (lactato, gases arteriais, fatores de coagulação). Entretanto, quando uma hemocultura é
inesperadamente positiva (na ausência de sinais ou sintomas) ou quando somente uma dentre várias
amostras é positiva para um determinado microrganismo, ele pode eventualmente ser considerado um
contaminante (hemocultura: recomendações de coleta, processamento e interpretação dos resultados).
Alguns microrganismos têm alto valor preditivo positivo para bacteremia verdadeira (> 90%), mesmo
quando isolado em somente uma amostra, como, por exemplo: Staphylococcus aureus, Escherichia
coli e outras Enterobacteriaceae, Neisseria meningitidis, Streptococcus pneumoniae, Pseudomonas
aeruginosa, Brucella spp., Streptococcus pyogenes, Streptococcus agalactiae, Listeria monocytogenes,
Neisseria meningitidis, Neisseria gonorrhoeae e Haemophilus influenzae.
4.1.2 Urocultura
Infecção do trato urinário (ITU) representa um sítio frequente de infecção tanto em pacientes da
comunidade como naqueles internados em unidades hospitalares, significando uma das principais causas
de infecção hospitalar, cerca de 40% do total de infecções nosocomiais. Mulheres adultas têm 50 vezes
mais chances de adquirir ITU do que os homens, e 30% das mulheres apresentam ITU sintomática ao
longo da vida. Como a principal rota de contaminação do trato urinário é por via ascendente, atribui‑se
esse fato à menor extensão anatômica da uretra feminina e à maior proximidade entre a vagina e o
ânus, característica da genitália feminina.
38
BASES DIAGNÓSTICAS
• ITU baixa (cistite): apresenta‑se, habitualmente, com disúria, urgência miccional, polaciúria,
nictúria e dor suprapúbica;
• ITU alta (pielonefrite): inicia-se, habitualmente, com quadro de cistite, sendo frequentemente
acompanhada de febre elevada, geralmente superior a 38 °C, associada a calafrios e dor lombar
uni ou bilateral.
A coleta da amostra de urina para cultura pode ser realizada de forma pela coleta espontânea do
jato médio ou pelo cateterismo uretral. Seus tipos são:
• coleta espontânea: ideal que seja coletada a primeira urina da manhã, ou aguardar 3 a 4 horas
após a última micção. Não estimular a ingestão hídrica, pois isto dilui a urina. Fazer antissepsia
da genitália (conforme explicado no exame de urina de rotina). A mulher deve afastar os grandes
lábios e o homem, retrair o prepúcio. Coletar o jato médio de urina em frasco estéril, no mínimo
10 ml, e enviar ao laboratório;
A história clínica, o exame físico e as queixas do paciente, como aspecto da urina, polaciúria, nictúria,
urgência miccional e dor lombar, são de grande valia para o diagnóstico de ITU.
O diagnóstico de ITU é confirmado pela presença de bactéria na urina, tendo como limite mínimo
definido a existência de 100.000 unidades formadoras de colônias bacterianas por mililitro de urina (ufc/ml),
colhida em jato médio e de maneira asséptica. Em determinadas circunstâncias (paciente idoso, infecção
crônica, uso de antimicrobianos), pode ser valorizado crescimento bacteriano igual ou acima 10.000 ufc/
ml. Para pacientes cateterizados e mediante realização de assepsia rigorosa, contagens superiores a 100
39
Unidade I
Em casos de suspeita de pielonefrite, pode ser necessário avaliar o trato urinário superior, através de
exames de imagem, para afastar obstrução urinária ou doença litiásica.
4.1.3 Líquor
Desde que foi descrita pela primeira vez, em 1891, por Quincke, a punção lombar é o método mais
utilizado para coletar amostras de líquido cefalorraquiano (LCR). A punção lombar é uma importante
ferramenta de auxílio diagnóstico de doenças neurológicas, utilizada tanto para diagnóstico quanto para
terapias. Muitas doenças neurológicas estão associadas a alterações na dinâmica e/ou na composição
do LCR, e os médicos dependem desses dados para diagnóstico e acompanhamento de seus pacientes.
Seus riscos, embora raros, podem ser substanciais e potencialmente fatais. Podem ser minimizados por
meio de uma compreensão adequada das indicações, contraindicações e técnicas do procedimento. As
principais indicações diagnósticas são as doenças infecciosas, inflamatórias, vasculares, metabólicas e
neoplásicas que acometem o sistema nervoso central.
O LCR é um fluido aquoso que circula pelo espaço intracraniano, preenchendo o sistema ventricular,
o canal central da medula e os espaços subaracnóideo craniano e raquiano, representando a maior parte
do fluido extracelular do sistema nervoso central. Esse líquido apresenta diversas funções, entre elas, o
fornecimento de nutrientes essenciais ao cérebro, a remoção de produtos da atividade neuronal do SNC
e a proteção mecânica das células cerebrais.
A punção lombar é a mais utilizada, seguida pela punção suboccipital e a via ventricular. Quanto ao
posicionamento, os pacientes podem ser colocados em decúbito lateral com pescoço e joelhos fletidos,
ou sentados com pescoço e costas em anteroflexão. Caso haja a necessidade de aferir a pressão liquórica
de abertura (inicial), a posição lateral é a de escolha.
A punção lombar é um procedimento médico e sua realização deve seguir a técnica asséptica. Ao
ser identificado o local para punção, realiza‑se assepsia da pele com técnica padrão. Anestesia local
40
BASES DIAGNÓSTICAS
pode ser realizada com cloridrato de lidocaína 0,5% sem vasoconstritor, por aplicação inicialmente
subcutânea até camadas mais profundas. Agulhas 22G são melhores para a aferição da pressão de
abertura (inicial), mas agulhas de menor calibre (23‑25G), reconhecidamente minimizam a ocorrência
de cefaleia pós‑punção.
A amostra deve ser colocada em três tubos, sendo que o primeiro é destinado à análise bioquímica
e sorológica do material, o segundo é destinado a exames microbiológicos e o terceiro objetiva‑se a
contagens de células, em virtude da menor probabilidade de conter material, particularmente células
sanguíneas, introduzidas de modo acidental.
A amostra coletada deve chegar ao laboratório o mais rápido possível, no máximo em 2 horas,
pois, após esse tempo, pode ocorrer degradação e/ou alterações morfológicas de hemácias, leucócitos e
outros tipos celulares, diminuição da glicose e aumento de concentração das proteínas e de bactérias.
Uma variedade de células pode ser encontrada, indicando uma série de patologias do sistema nervoso
central. Entretanto, será descrito somente o predomínio celular indicativo de processos infecciosos.
4.1.4 Escarro
Apesar de o Brasil ser ainda um dos 22 países responsáveis por 90% dos casos de tuberculose do mundo,
até o ano de 2007, ocorreu em nosso país uma queda de 26% na incidência e de 32% na mortalidade.
41
Unidade I
As principais estratégias para a busca de casos de tuberculose são a busca passiva e a ativa.
O exame de escarro para pesquisa do bacilo álcool‑ácido resistente (BAAR), ou Mycobacterium
tuberculosis, é indicado para todos os indivíduos que apresentem tosse, com ou sem expectoração,
por mais de duas semanas, associado à febre vespertina, sudorese noturna, hemoptise e radiografia
sugestiva de tuberculose.
Se possível, o paciente deve participar ativamente da coleta de material (escarro). A melhor coleta é
feita sob a supervisão direta da equipe de enfermagem. Seguem algumas dicas:
• orientar o paciente da importância da coleta do escarro e não da saliva. As amostras de saliva são
impróprias para análise bacteriológica, pois não representam o processo infeccioso;
• colher somente uma amostra por dia, se possível o primeiro escarro da manhã, antes da ingestão
de alimentos;
• aconselhar o paciente a escovar os dentes somente com água (não utilizar pasta dental) e enxaguar
a boca várias vezes, inclusive com gargarejos;
• respirar fundo várias vezes e tossir profundamente, recolhendo a amostra em um frasco de boca
larga. Se o material obtido for escasso, coletar a amostra depois de nebulização;
• na suspeita de infecção por micobactérias ou fungos, coletar pelo menos três amostras, em dias
consecutivos (somente uma por dia);
• em caso de pacientes com dificuldades para escarrar, essa amostra poderá ser induzida por
nebulizador ultrassônico ou ser realizada coleta por aspiração transtraqueal;
• o procedimento precisa ser executado com os cuidados de biossegurança necessários, para que
não haja risco de transmissão aérea do bacilo no local.
42
BASES DIAGNÓSTICAS
A coleta de secreções swabs ainda é muito utilizada, nos dias de hoje, quando há suspeita de
infecções prévias (cultura de vigilância) até diagnóstico para o vírus H1N1. Esse método de coleta tem
como vantagem o baixo custo e a não invasividade do paciente.
Atualmente, pesquisadores mostraram que culturas com swab têm alta sensibilidade, variando
aproximadamente de (87‑100%), especificidade (85‑94%) e precisão (90‑99%), quando comparadas com
aspiração ou biópsia de tecido, exceto em úlceras por pressão. Há evidência de que o swab quantitativo
é um método mais aceitável do que a aspiração ou biópsia, que são procedimentos mais invasivos e,
portanto, ocasionam dor nos pacientes.
A maioria das feridas precisa de alguma preparação, a fim de reduzir o risco de introduzir
microrganismos não desejados à cultura. Dessa forma, o exsudato e/ou resíduos de terapias tópicas que
se acumulam no leito da ferida ou abaixo da cobertura irão conter bactérias que, não necessariamente,
são as mesmas que podem estar causando infecção. O swab utilizado deve ser esterilizado e composto
de alginato de cálcio, pois provavelmente captura com mais eficácia os microrganismos da ferida.
Hoje em dia, no Brasil, a forma recomendada de limpar feridas tem sido pela técnica de irrigação
sob pressão, utilizando solução salina estéril a 0,9%, seringa de 20 ml e agulha 25x8. Limpar a ferida
anteriormente à coleta irá diminuir os riscos de se obter resultados falso‑positivos, ou seja, identificar
os microrganismos na área cultivada, mas não os que estão presentes no tecido.
Os passos são:
43
Unidade I
• proceder a coleta a partir do tecido de granulação ou com menos sinal de infecção, pressionando
o swab e rodando em 1 cm2, por cerca de 5 segundos.
Infecções de pele podem mostrar presença de pus, mudança de odor ou característica do exsudato,
sinais de inflamação (vermelhidão, tumefação, edema, dor), déficit da cicatrização em feridas limpas
após duas semanas de tratamento adequado, tecido de granulação frágil, tecido epitelial que reveste
algumas partes da ferida, mas não outras, e sinais sistêmicos de infecção (febre, leucocitose, aumento
repentino da glicemia). Deve‑se:
Saiba mais
44
BASES DIAGNÓSTICAS
O sistema imunológico é constituído de uma complexa rede de células e moléculas dispersas por
todo o organismo e se caracteriza, biologicamente, pela capacidade de reconhecer, de modo específico,
determinadas estruturas moleculares ou antígenos e desenvolver uma resposta efetora diante desses
estímulos, provocando a sua destruição ou inativação. Portanto, representa um sistema eficaz de defesa
contra microrganismos que penetrem no organismo ou contra a transformação maligna de células.
A função imunológica tem sido conceitualmente dividida em imunidade inata ou natural e imunidade
adaptativa ou adquirida, as quais serão abordadas a seguir:
• Imunidade inata ou natural: é considerada a primeira linha de defesa celular sem gerar memória
imunológica. É caracterizada por uma resposta rápida e estereotipada a um número grande,
mas limitado, de estímulos. É representada por barreiras físicas, químicas e biológicas, células
especializadas e moléculas solúveis, presentes em todos os indivíduos, independentemente
de contato prévio com imunógenos ou agentes agressores, e não se altera qualitativa ou
quantitativamente após o contato. As principais células efetoras da imunidade inata são:
monócitos, neutrófilos, células dendríticas e natural killer cells (células destruidoras naturais).
Outros mecanismos são fagocitose, liberação de mediadores inflamatórios, ativação de proteínas
do sistema complemento, bem como as citocinas. Algumas moléculas específicas comumente
encontradas na superfície de microrganismos (bactérias, fungos e parasitas) constituem padrões
moleculares associados a patógenos (PAMP) e ativam a resposta imune inata, por interação com
diferentes receptores conhecidos. Os neutrófilos atuam na defesa contra bactérias e fungos.
Os monócitos migram para o tecido extravascular, diferenciando‑se em macrófagos. As células
natural killer representam 10% dos linfócitos e atuam no reconhecimento e destruição de células
tumorais e células infectadas por vírus.
45
Unidade I
Anticorpo Função
Neutralização de microrganismos e toxinas.
IgG Imunidade neonatal pela transferência de anticorpos maternos por meio da placenta e intestino.
Ativação das células B.
IgM Ativação da via clássica do complemento.
Imunidade mucosa: secreção de IgA no lúmen dos tratos gastrintestinal e respiratório,
IgA neutralizando microrganismos e toxinas.
Citotoxicidade celular: dependente de anticorpos e mediada por eosinófilos.
IgE
Desgranulação de mastócitos: reações de hipersensibilidade imediata.
IgD Receptor de antígeno em células B virgens.
Anticorpos são proteínas produzidas pelo sistema imune do corpo em reposta a um ou mais
antígenos. Antígenos são substâncias que estimulam e reagem com os produtos de uma resposta
imune, podendo ser enzimas, toxinas, microrganismos (bacterianos, virais, parasitários ou fúngicos),
tumores ou fatores autoimunes.
• Distúrbios autoimunes: são produzidos por anticorpos que atacam o próprio organismo, como,
por exemplo, artrite reumatoide e lúpus eritematoso.
Daremos um enfoque maior nas sorologias para detecção de doenças infecciosas, por serem exames
importantes no pré‑natal, pela possibilidade de transmissão vertical, e também pela importância na
triagem sanguínea nos bancos de sangue para indicar presença de infecção aguda, pregressa ou crônica.
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BASES DIAGNÓSTICAS
Diversos são os métodos sorológicos para avaliar a presença de anticorpos provocados por antígenos
de bactérias, vírus, fungos e parasitas. A seguir apresentaremos de forma resumida esses métodos:
O aconselhamento pré‑teste deve ser realizado como uma forma de atenção individualizada e
singular, além de representar um importante componente do processo de diagnóstico do HIV, da sífilis
e das hepatites virais.
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Unidade I
realizado por profissionais que estejam devidamente capacitados para a realização dessa atividade,
devendo ter passado por formação específica e adequada para desempenhá‑lo. Ele pode ser:
• aconselhamento individual;
• aconselhamento coletivo;
• aconselhamento continuado para pessoas que aguardam os resultados de exames (HIV, sífilis,
hepatites), até que sejam encaminhados e atendidos nos serviços de referência para tratamento.
• antes da coleta, solicitar que o paciente assine o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido;
• o teste sorológico deve ser feito antes do cutâneo, pois esse último pode induzir a formação de
anticorpos e interferir no resultado do primeiro;
• após a coleta, homogeneizar o tubo por inversão de 7 a 8 vezes para evitar hemólise, pois ela
interfere nos níveis de anticorpos ativadores de complementos;
• a amostra pode ser deixada em temperatura ambiente por, no máximo, 3 horas, até a retenção do
coágulo, com o tubo na posição vertical.
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BASES DIAGNÓSTICAS
Os resultados dos exames sorológicos são expressos como: positivo, reativo, reagente ou negativo,
não reativo e não reagente ou inconclusivo ou duvidoso.
• vacinação prévia;
• reatividade cruzada (anticorpos produzidos por uma espécie de microrganismos podem reagir
com outra espécie diferente);
• presença de outras condições e doenças graves que alteram a resposta imune (câncer e uso de
drogas imunossupressoras).
Lembrete
Resumo
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Unidade I
Exercícios
Questão 1. Segundo alguns autores, cerca de 70% dos problemas relacionados à realização de um
exame laboratorial ocorrem devido a problemas nessa fase. Essa fase apresenta maior possibilidade de
erros devido à participação de vários profissionais, que vai desde o médico no momento da solicitação
até o pessoal de coleta e processamento da amostra no laboratório. Está‑se referindo à(s) fase(s):
A) Analítica.
B) Pré‑analítica.
C) De orientação do paciente.
A) Alternativa incorreta.
Justificativa: a fase analítica consiste na realização do teste e garante que os resultados produzidos
pelos laboratórios atendam a um nível de qualidade desejado, ou seja, procede‑se a análise dos controles
para avaliar a precisão dos ensaios. Essa atividade tem também a finalidade de garantir a exatidão
dos resultados, verificar a calibração dos equipamentos e indicar o momento de se promover ações
corretivas quando surgir uma não conformidade.
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BASES DIAGNÓSTICAS
B) Alternativa correta.
Justificativa: a fase pré‑analítica é responsável por cerca de 70% do total de erros ocorridos nos
laboratórios clínicos que possuem um sistema de controle da qualidade bem estabelecido. A despeito de
todas as dificuldades para a comprovação dessa afirmativa, a implantação, cada vez mais frequente, de
procedimentos automatizados e robotizados na fase analítica permite assumi‑la como verdadeira. Além
disso, algumas características próprias da fase pré‑analítica aumentam, em muito, o grau de complexidade
e, por consequência, a oportunidade de ocorrência de erros e não conformidades. É nessa fase que os
responsáveis pelas orientações devem estar bem atentos e observar se o paciente entendeu as orientações
que precisam ser seguidas, em especial, quando os exames requerem procedimentos específicos.
C) Alternativa incorreta.
D) Alternativa incorreta.
Justificativa: essa fase pós‑analítica é a da emissão dos laudos, na qual as instruções escritas
devem ser legíveis, sem rasuras de transcrição, escritas em língua portuguesa, datadas e assinadas por
profissional de nível superior legalmente habilitado.
E) Alternativa incorreta.
Questão 2. Umas das principais finalidades dos resultados dos exames laboratoriais é reduzir as
dúvidas que a história clínica do paciente e o exame físico fazem surgir no raciocínio médico. Para que
o laboratório clínico possa contribuir de maneira adequada para este propósito, é indispensável que
todas as fases do atendimento ao paciente sejam desenvolvidas seguindo os mais elevados princípios de
correção técnica, considerando a existência e a importância de diversas variáveis que podem influenciar,
significativamente, a qualidade final do trabalho de realização e liberação de um exame laboratorial.
A) O período no qual o paciente é proibido de ingerir qualquer aporte calórico, incluindo cafés, chás,
água e medicamentos, exceto quando está internado.
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Unidade I
B) O período no qual o paciente não recebe nenhum aporte calórico. Dessa forma, a ingestão de
água não interfere no período de jejum do paciente.
C) O período no qual o paciente não pode ingerir nenhum aporte calórico. Dessa forma, a nutrição
parenteral não é considerada interferente.
D) O período no qual o paciente não realizará nenhuma refeição importante. Pequenas ingestas,
como de café e chás, podem ser permitidas, visando evitar hipoglicemia importante.
E) O período no qual o paciente não pode ingerir nenhum aporte calórico. Normalmente, só é
considerado jejum após um tempo de 12 horas sem ingestão de nenhum tipo de alimento.
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