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República de Moçambique
Ministério da Saúde
Direção de Recursos Humanos
Departamento de Formação
Manual de Formação
para Técnicos de Medicina
Preventiva e Saúde do Meio
Epidemiologia
ii | Epidemiologia
Esta publicação do Ministério da Saúde de Moçambique (MISAU) foi realizada com apoio da Agência de Cooperação Inter-
nacional do Japão (JICA). É permitida a reprodução total ou parcial desta obra, desde que citada a fonte.
1.ª edição – Ano 2011
MINISTÉRIO DA SAÚDE
Departamento de Formação
Maputo – MZ
Coordenação
Colaboradores
Revisor de português
PREFÁCIO
Este manual foi concebido para estudantes de nível médio e tem a finalidade
de introduzir os princípios básicos de epidemiologia ciência médica que trata
de questões-chave como “Quem fica doente?” e Quais são os factores prog-
nósticos importantes?”
Ela tem o objectivo de descrever as condições de saúde e avaliar o impacto das
acções com vista a intervir na prevenção da doença
A elaboração deste manual contou com a colaboração de profissionais da área
de Medicina Preventiva, docentes e técnicos do departamento de formação.
Os capítulos que o constituem foram organizados seguindo a estrutura do pla-
no temático da disciplina do novo currículo de Técnicos de Medicina Preventi-
va e Saneamento do Meio. Apresentam no início de cada tema um quadro de
sugestões de metodologias de ensino e objectivos de aprendizagem e incluin-
do um glossário de termos comummente usados em epidemiologia.
A inserção efectiva do uso da epidemiologia na planificação das acções de
prevenção de enfermidades preveníveis é um assunto importante, por sugerir
uma tomada de decisão mais acertada no campo da saúde, podendo reflectir-
-se na prevenção de doenças e promoção da saúde.
O manual foi escrito numa linguagem simples e acessível para que seja de fácil
compreensão para o aluno das Instituições de Formação em Saúde. Neste sen-
tido, e com vista a melhorar cada vez mais, continuaremos a rever e analisar o
seu conteúdo de forma permanente.
Alexandre J. L. Manguele
Ministro da saúde
iv | Epidemiologia
Objectivos da Aprendizagem
No final do tempo lectivo desta disciplina, o formando deverá ser capaz de:
Í ndice
1. Contexto histórico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.1. História da epidemiologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
2. Introdução à epidemiologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2.1. Definição da epidemiologia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
2.2. Objectivo da epidemiologia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
2.3. Aplicação da epidemiologia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
3. Glossário epidemiológico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
5. Modelos de causalidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
5.1. Modelo da tríade epidemiológica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
vi | Epidemiologia
6. Métodos epidemiológicos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
6.1. Estudos descritivos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39
6.2. Estudos analíticos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
6.3. Estudos experimentais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
6.4. Estudos observacionais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 42
6.5. Relações entre incidência e prevalência. . . . . . . . . . . . . . . . 50
6.6. Relações entre exposição e doença . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
7. Vigilância epidemiológica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
7.1. História . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 54
7.2. Definição. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
7.3. Propósitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
7.4. Sistema de vigilância epidemiológica em Moçambique. . . 56
7.4. Classificação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
7.5. Funções da vigilância epidemiológica. . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
7.6. Elementos da vigilância. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
7.7. Mecanismos para obtenção dos dados . . . . . . . . . . . . . . . . 65
7.8. Princípios básicos do SVE. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68
7.9. Boletim epidemiológico semanal (BES) . . . . . . . . . . . . . . . . 68
7.10. Fluxograma de envio do BES de Moçambique. . . . . . . . . . 70
7.11. Elaboração e interpretação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71
8. Canal endêmico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 74
8.1. Definição. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
8.2. Métodos para construção de um canal endêmico. . . . . . . . 75
Epidemiologia | vii
9. Referências bibliográficas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
viii | Epidemiologia
Epidemiologia | 1
1. CONTEXTO HISTÓRICO
OBJETIVOS
99 Conhecer o início dos estudos epidemiológicos na história da me-
dicina
Alguns marcos:
99 Teoria miasmática.
O século XIX
99 Europa como centro das ciências - Revolução industrial e deslocamento das popu-
lações para as cidades e a ocorrência das epidemias de cólera, febre tifóide e febre
amarela. Os estudiosos se dividiam entre a teoria dos miasmas e teoria dos germes.
99 Louis Pasteur; “pai da bacteriologia”, bases biológicas para o estudo das doenças
infecciosas, identificou e isolou numerosas bactérias, estudo da fermentação da
cerveja e do leite, investigação das bactérias patogênicas e dos meios de destruí-las
ou impedir sua multiplicação e os princípios da “pasteurização”: consolidação das
teoria do agente. Seguem-se inúmeras pesquisas (Robert Koch), abandona a teoria
dos miasmas com a descoberta dos agentes causais das doenças.
nariopatias).
2. INTRODUÇÃO À
EPIDEMIOLOGIA
OBJETIVOS
99 Definir epidemiologia e explicar os seus principais objectivos
Os temas tratados na epidemiologia não são novos; relativamente novo é a disciplina aca-
démica que responde por este nome. Há registo, de uma sociedade de Epidemiologia,
fundada em Londres, em 1850. A partir desta época, aproximadamente, as investigações
etiológicas sobre as doenças transmissíveis tomaram grande impulso e geraram um vasto
conhecimento científico, que passou a constar de capítulos, nos livros de higiene, com a
denominação de “epidemiologia”. O status de disciplina científica, porém, só foi alcançado
6 | Epidemiologia
na metade do século XX, data do aparecimento dos primeiros livros-texto, detalhando con-
ceitos e métodos, exclusivamente dedicados ao assunto.
3. Avaliar o impacto das acções propostas para alterar a situação encontrada – en-
volve questões relacionadas à determinação da utilidade e segurança das acções
isoladas, dos programas e dos serviços de saúde.
Estas três formas de uso da epidemiologia fornecem valiosos subsídios para auxiliar as de-
cisões, seja a nível colectivo seja a nível individual.
A nível colectivo, as decisões são tomadas pelos planificadores de saúde, a partir das evi-
dências proporcionadas pela epidemiologia, no sentido de implementar novas interven-
ções, reorientar as actualmente existentes ou manter as mesmas estratégias em curso.
A nível individual, valem-se dos subsídios, apurados com o uso da epidemiologia, os profis-
sionais de saúde que lidam directamente com as pessoas, no sentido de fundamentar cien-
tíficamente decisões e conductas, tais como o diagnóstico clínico, a solicitação de exames
complementares e a prescrição de vacinas, de drogas e de regimes alimentares.
8 | Epidemiologia
3. GLOSSÁRIO EPIDEMIOLÓGICO
OBJETIVO
99 Conhecer as principais terminologias utilizadas na epidemiologia.
Este glossário foi incluído com o objetivo de esclarecer a terminologia mas frequentemente
usada na epidemiologia.
Agente: Entidade biológica, física ou química cuja presença ou deficiência é capaz de causar
doença.
Amostra: Um subgrupo selecionado de uma população. Uma amostra pode ser aleatória ou
não, podendo ser representativa ou não.
Amostra Aleatória: Amostra obtida através de uma selecção em que cada unidade da
amostragem (um setor censitário, um domicílio ou uma pessoa) tem a mesma chance de
ser incluída na amostra.
Anatoxina (toxóide): Toxina tratada pelo formol ou outras substâncias que perde a sua ca-
pacidade toxigênica mas conserva sua imunogenicidade. Os toxóides são usados para indu-
zir imunidade activa e específica contra doenças.
Associação: Relação estatística entre dois ou mais eventos, características ou outras variá-
veis.
Capacidade vetora: Propriedade do vetor, medida por meio de parâmetros, como abun-
dância, sobrevivência e grau de domiciliação, relacionada à transmissão do agente infec-
cioso em condições naturais.
Caso: Uma pessoa identificada como portadora de uma característica particular, como uma
doença, comportamento ou problema. A definição epidemiológica de um caso não é neces-
sariamente a mesma que a definição clínica. Os casos podem ser divididos entre possíveis,
prováveis e confirmados, à medida que satisfazem determinados critérios específicos.
Coeficiente específico por faixa etária: Taxa relativa a uma determinada faixa etária; o nu-
Epidemiologia | 11
Coeficiente de fecundidade total: Estimativa do número total de crianças que uma mulher
viria a dar à luz, se ela continuasse tendo filhos de acordo com os coeficientes vigentes de
fecundidade de cada grupo etário.
Coeficiente de incidência: Taxa em que novos eventos ocorrem em dada população. O nu-
merador é o número de novos eventos ocorridos em período definido; o denominador, a
população exposta ao risco durante aquele período.
Coeficiente de mortalidade perinatal: Número de mortes fetais tardias (28 semanas ou mais
de gravidez) mais as mortes pós-natais na primeira semana de vida, dividido pelo número
de mortes fetais mais o total de nascidos vivos na mesma população no mesmo período.
Em alguns países onde os registros de estatísticas vitais não são bons, as mortes fetais são
excluídas do denominador. Normalmente é apresentada como uma taxa por 1.000 nasci-
mentos por ano.
12 | Epidemiologia
Comensal: Organismo associado a outro, ambos pertencentes a espécies distintas entre si,
não sofrendo efeitos adversos em decorrência desse relacionamento.
Coorte: Grupo bem definido de pessoas que possuem uma experiência ou exposição em
comum, grupo esse que é acompanhado para que se identifique a incidência de novas do-
enças ou eventos, como no caso de um estudo de coorte ou prospectivo.
Confusão (ou factor de confusão): Situação em que os efeitos de duas variáveis são difíceis
de serem separados um do outro (exemplo: idade materna e paridade como causas de
baixo peso ao nascer).
Correlação: Medida de associação que indica o grau em que dois ou mais grupos de obser-
vação apresentam uma inter-relação de tipo linear ou em linha reta. A correlação pode ser
positiva, quando ambas as variáveis aumentam concomitantemente, ou negativa, quando
uma aumenta à proporção que a outra diminui.
Denominador: Porção inferior da fração utilizada para calcular a proporção ou razão. Nas
taxas e coeficientes, o denominador é constituído pela população exposta ao risco.
Doença notificável: Doença que, de acordo com exigências estatutárias, deve ser notificada
à autoridade de saúde pública responsável.
Ecologia: Estudo das relações entre seres vivos e seu ambiente. Ecologia humana diz respei-
to ao estudo de grupos humanos em face da influência de factores do ambiente, incluindo
muitas vezes factores sociais e do comportamento.
Estudo de casos e controles: Estudo epidemiológico de tipo analítico que examina casos de
uma determinada doença e uma amostra adequada de indivíduos que não apresentem a
condição (controles), comparando a frequência de factores associados à condição entre os
dois grupos. Às vezes é também chamado de estudo retrospectivo. Frequentemente é usa-
do para testar hipóteses etiológicas, como, por exemplo, a relação entre câncer de pulmão
e tabagismo.
Estudo experimental: Estudo destinado ao esclarecimento, por meio da experiência dire ta,
das relações causais. Geralmente levado a efeito em populações de animais de laboratório.
Factor de risco: Termo usado pelo menos de duas maneiras diferentes: 1) uma caracterís-
tica, variável ou exposição associada a um aumento na probabilidade de que um evento
específico ocorra, como um aumento na frequência de uma doença; tais factores não são
necessáriamente causais, sendo também chamados de marcadores de risco; 2) uma carac-
terística, variável ou exposição que realmente aumente a probabilidade de que um evento
específico ocorra, sendo, portanto, aceita como causal; também chamada de determinante.
Grupo controle: Grupo de pessoas utilizadas para fins de comparação que não apresentem
uma determinada doença ou problema, ou que não tenham sido expostas à doença, inter-
16 | Epidemiologia
venção, procedimento ou outra variável que esteja sendo estudada. Controles de vizinhan-
ça, que freqüentemente são usados por comodidade, são pessoas que vivem na mesma
vizinhança. Ver também Estudos de casos e controles.
Grupo de risco: Conjunto das pessoas que têm, em comum, excesso de risco, ou seja, expo-
sição ao fa tor de risco além do grau a partir do qual pode ocorrer a doença.
Grupo exposto: Grupo de indivíduos com contato com determinado fa tor relacionado ao
agravo à saúde que está sendo focalizado.
Hipótese: Conjecturas com as quais se procura explicar, por tentativa, fenômenos ocorridos
ou ocorrentes. Serão científicas à medida que responderem a problemas colocados cien-
tíficamente, e mais: se afirmarem relações entre variáveis e se forem abertas à refutação.
História natural da doença: Descrição que inclui características das fontes de infecção,
distribuição da doença segundo os atributos das pessoas, tempo e espaço, distribuição e
características ecológicas do(s) reservatório(s) do agente; mecanismos de transmissão e
efeitos da doença sobre o homem.
Hospedeiro: Organismo simples ou complexo, inclusive o homem, que é capaz de ser infec-
tado por um agente específico.
Indicadores de saúde: Indicador de saúde é uma variável que pode ser medida directamen-
te para refletir o estado de saúde das pessoas dentro de uma comunidade. Anualmente, a
OMS apresenta dados atualizados para 50 indicadores de saúde de todos os países mem-
bros. Os indicadores de saúde podem ser utilizados como componentes no cálculo de inú-
meros índices de desenvolvimento social. O melhor exemplo é o Índice de Desenvolvimen-
to Humano (IDH), que, baseado nos níveis de desenvolvimento econômico, social, literário,
educacional e expectativa de vida ao nascer, classifica anualmente os países (http://hdr.
undp.org).
Latência: Período na evolução clínica de uma doença parasitária no qual os sintomas desa-
parecem, apesar de estar o hospedeiro ainda infectado e de já ter sofrido o ataque primá-
rio, ou uma ou várias recaídas. Terminologia utilizada com frequência em relação à malária.
“Odds ratio” (OR): Medida de associação tipo proporcionalidade, que é uma estimativa do
risco relativo, específica para a análise dos estudos caso-controle.
Pandemia: Epidemia de uma doença que afeta pessoas em muitos países e continentes.
Período latente (sinônimo: período de incubação aplicado a doenças não infecciosas): In-
tervalo entre a exposição a agentes químicos tóxicos e o início dos sinais e sintomas da
doença.
Período prodrômico: Lapso de tempo entre os primeiros sintomas da doença e o início dos
sinais ou sintomas com os quais o diagnóstico pode ser estabelecido.
Profilaxia: Conjunto de medidas que têm por finalidade prevenir ou atenuar as doenças,
suas complicações e consequências.
Recidiva: Reaparecimento do processo mórbido após sua cura aparente. No caso da malá-
ria, recidiva significa recaída na infecção malárica entre a 8a e a 24ª semanas posteriores
ao ataque primário.
Recorrente: Estado patológico que evolui através de recaídas sucessivas. No caso da malá-
ria, recorrência significa recaída na infecção malárica depois de 24 semanas posteriores ao
ataque primário.
Em outros termos, a reprodutibilidade refere-se ao grau pelo qual os resultados obtidos por
uma mensuração podem ser reproduzidos.
Essa medida é obtida através da subtração entre a proporção do evento entre os expostos e
20 | Epidemiologia
a proporção entre os não-expostos. Assume-se que o efeito das outras causas é igual entre
os expostos e os não-expostos.
Risco relativo (sinônimo: razão de risco ou razão de incidências): Razão entre o risco de
morrer, ou de ter uma doença, em uma população exposta a um determinado fator e em
uma população não exposta ao fator. Um RR com valor 1,0 implica ausência de associação,
porque será o resultado da razão entre dois riscos iguais. A razão de prevalência é um su-
cedâneo do risco relativo, geralmente estimado a partir de dados de estudos do tipo corte
transversal.
Suscetível: Qualquer pessoa ou animal que supostamente não possui resistência suficiente
contra um determinado agente patogênico que a proteja da enfermidade caso venha a
entrar em contacto com o agente.
Taxa de letalidade: Medida de frequência de óbitos por determinada causa entre membros
de uma população atingida por essa doença.
Transmissão directa mediata: Transmissão directa em que não há contato físico entre a fon-
te primária de infecção e o novo hospedeiro; a transmissão se faz por meio das secreções
oronasais (gotículas de Flügge).
Vacina: Preparação que contém microrganismos vivos ou mortos ou frações deles possui-
dora de propriedades antigênicas. As vacinas são empregadas para induzir em um indivíduo
a imunidade ativa e específica contra um microrganismo.
Valor de p: A letra p seguida por < (o símbolo de “menor que”) e um número (normalmente
0,05, 0,01 ou 0,001) é uma expressão da probabilidade de que uma associação ou observa-
ção possa ter acontecido por acaso. O número 0,05 significa que se poderia esperar que tal
observação fosse devida ao acaso em 1 de cada 20 vezes; da mesma forma, 0,01 significa
que 1 em cada 100 vezes o achado poderia ser devido unicamente ao acaso. Frequente-
mente uma associação é aceita como estatisticamente significativa se o p for < 0,05.
Valor preditivo: Probabilidade de que uma pessoa com um resultado positivo (ou negati-
vo) em um exame de triagem ou exame diagnóstico seja verdadeiramente um caso ou um
não-caso. Estas são chamadas, respectivamente, de valores preditivos positivo e negativo
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Variável dependente: Por definição, são expressas pelas medidas de ocorrência de doença.
Viés (ou bias): Qualquer influência durante a colheita ou a interpretação dos dados que
leve a um erro sistemático em uma determinada direcção; por exemplo, erros resultantes
de balança, que dá peso inferior ao peso real da criança, ou uma tendenciosidade do en-
trevistador ao interpretar respostas às perguntas de um questionário. Também é chamado
de vício ou tendenciosidade.
OBJETIVOS
99 Conhecer o processo Saúde-Doença
mente praticaram-se quatro políticas de saúde, cada qual na sua época, definindo-se pelo
imenso panteão de filósofos, clérigos, estudiosos e pessoas comuns que praticavam a me-
dicina.
A primeira fase ou política de saúde foi conhecida como a fase da magia ou dos aspectos
sociais, onde entendia-se que os factores determinantes da doença provinham de forças
sobrenaturais, atribuídos a deuses ou demônios, ou forças do mal.
Essas três primeiras fases têm um ponto em comum, a abordagem unicausal, que relaciona
o agravo à saúde a um único agente etiológico, e assim, as intervenções se direccionavam
para um único factor determinante da doença. Uma visão simplificada, que deixa de tratar
o homem como ser complexo, dotado de necessidades, desejos e vontades, de ordem in-
termitente, cíclica, sazonal, regional e variável.
Nessa perspectiva, a saúde e a doença estão interligadas num processo dinâmico, inter-
dependente que, quando desequilibrado, leva o individuo a um estado não favorável de
satisfação orgânica, que então chamaremos de doença. Ainda segundo essa concepção, o
adoecer deixa de ser o resultado de apenas um factor, passando a ser entendido como um
26 | Epidemiologia
Proposto por Leavell e Clark (1976), esse modelo da HND considera a interação, o relacio-
namento e o condicionamento de três elementos fundamentais:
a) Ambiente
b) Agente
c) Hospedeiro
A história natural das doenças na ausência da interferência médica, pode ser subdividida
em quatro fases:
c) Fase clínica.
Na fase inicial, ainda não há doença, mas, sim, condições que a favoreçam. Dependendo da
existência de factores de risco ou de protecção, alguns indivíduos estarão mais ou menos
propensos a determinadas doenças do que outros.
Por último, se a doença não evoluiu para a morte nem foi curada, ocorrem as sequelas da
mesma - fase de incapacidade residual.
Factores do hospedeiro
1. Herança genética
3. Estilo de vida
1. Ambiente físico
2. Ambiente biológico
3. Ambiente social
3. Que recurso o agente utiliza para alcançar um novo hospedeiro? Via de transmis-
são (VT).
O saneamento procura atuar em todos os elos desta cadeia, principalmente na via de trans-
missão e fontes de infecção.
Epidemiologia | 31
1. Em relação à herança
99 Aconselhamento genético
99 Diagnóstico pré-natal
99 Aborto terapêutico
99 Exercícios físicos
99 Não fumar
Meio ambiente
1. Meio físico
99 Saneamento do ar
99 Saneamento do solo
2. Meio biológico
99 Vigilância de alimentos
3. Meio Social
99 Organização dos serviços de saúde, de modo a permitir acesso das pessoas a meios
eficazes de prevenção, cura e reabilitação.
5. MODELOS DE CAUSALIDADE
OBJETIVO
99 Descrever e compreender os critérios epidemiológicos da “causa-
lidade”
Causalidade
c) têm factores associados que, para serem causais, cumprem com os seguintes
critérios: a temporalidade (toda causa precede a seu efeito, o chamado princípio
do determinismo causal), a força de associação, a consistência da observação, a es-
pecifidade da causa, o gradiente biológico (efeito dose-resposta) e a plausibilidade
biológica (Hill, 1965).
De acordo com esse foco, existem dois modelos de causalidade em epidemiologia ampla-
mente aceitos:
a. Tríade Epidemiológica
b. Causas Componentes
Ela nos indica que as relações recíprocas entre “agente-hospedeiro”, “agente-meio ambien-
te” e “hospedeiro-meio ambiente” devem ser detalhadamente examinadas, para esclare-
cer factores causais – assim como todo o conjunto “agente-hospedeiro-meio ambiente”.
Qualquer que seja a representação escolhida, ela sugere que tanto as características do
agente quanto as características do hospedeiro e do meio ambiente devem ser analisadas,
a quando do estudo de qualquer agravo à saúde.
36 | Epidemiologia
Os agentes podem ser infecciosos ou não infecciosos e serem necessários, mas nem sem-
presuficientes, para causar a doença.
Os agentes não infecciosos podem ser químicos ou físicos. Os fatores do hospedeiro são
os que determinam a exposição de um indivíduo, sua suscetibilidade e capacidade de res-
posta e suas características de idade, grupo étnico, constituição genética, gênero, situação
socioeconômica e estilo de vida. Por último, os factores ambientais englobam o ambiente
social, físico e biológico.
todo tipo de doenças. Conforme esse modelo, a doença se produz por um conjunto mínimo
de condições que agem em sintonia. Todas as possíveis condições ou eventos são denomi-
nados causas componentes.
O conjunto mínimo de condições que age em sintonia e causa a doença é denominado cau-
sa suficiente. Desse modo, uma causa suficiente é um conjunto de causas componentes,
nenhuma das quais é supérflua. Uma causa suficiente representa um mecanismo causal de
doença: a doença inicia-se quando se completa uma causa suficiente.
Uma doença pode ter várias causas suficientes, cada uma “suficiente” para produzi-la.
Epidemiologia | 37
As causas componentes podem actuar em um, dois ou três mecanismos causais. A causa
componente cuja presença é imprescindível em todos os mecanismos causais da doença é
chamada causa necessária (componente A).
Em termos gerais, não é necessário identificar todos os componentes de uma causa sufi-
ciente para efetuar uma prevenção eficaz, já que a remoção de um só dos seus componen-
tes bloqueia a interação com os outros e previne a ocorrência do efeito, isto é, da doença.
Não obstante, a doença na população pode continuar produzindo-se pela acção de outras
causas suficientes. Entende-se por isto que a única opção para erradicar uma doença é a
remoção de sua causa necessária.
38 | Epidemiologia
6. MÉTODOS EPIDEMIOLÓGICOS
OBJETIVOS
99 Descrever os princípios em que se baseiam os métodos epidemio-
lógicos, bem como os usos destes
Por exemplo em pesquisa sobre a relação entre o fumo de tabaco e o cancro do pulmão.
Tenta-se verificar se o consumo das substâncias contidas no tabaco acarretam risco dife-
renciados de ocorrência daquele tipo de doença pulmonar. Os dois eventos analisados são
respectivamente uma suposta causa (o consumo de tabaco) e um dos seus efeitos (o cancro
do pulmão). Se os riscos são consideravelmente elevados entre os fumadores, tem-se forte
evidência da relação causal entre o fumo de tabaco e o cancro do pulmão.
Estudo de coorte
Exposição Doença
Estudo de caso-
controle
Estudo Transversal
Não há limites à criação de situações artificiais para investigação, a não ser as ditas pelos
condicionantes práticos ou preceitos éticos. A etiologia das doenças por exemplo é dificil-
mente pesquisada de maneira experimental. É impossível fazer com que as pessoas jovens,
sadias, por exemplo, limitem suas actividades físicas e outras não, durante anos, com intui-
to de verificar a relação entre o sedentarismo e a saúde. Por outro lado é anti-ético provo-
car doenças em seres humanos a fim de estudá-la cientificamente.
Por estas limitações, os estudos não experimentais, vistos a seguir ocupam posição de des-
taque como método de investigação.
42 | Epidemiologia
99 Estudo ecológico
99 Estudo transversal
99 Estudo de caso-controle
99 Estudo de coorte
grupos. O estudo ecológico pode utilizar dados primários, quando, por exemplo, o
propósito do estudo é averiguar difusão de doenças infecciosas.
99 Registros de mortalidade.
99 Registros de morbidade.
99 Censos demográficos.
99 Censos econômicos.
A idéia central do estudo transversal é que a prevalência da doença deverá ser maior
entre os expostos do que entre os não-expostos, se for verdade que aquele factor de
risco causa a doença.
IC 95% = P ± 1,96 √ (P (1 – P) / N)
Existem duas dimensões quando estudamos uma associação entre variáveis: uma
em que a Estatística nos diz até que ponto o que vemos na nossa amostra poderá ser
o que existe na população, ou seja, até que ponto é estatisticamente significativo;
outra em que procuramos verificar até que ponto os nossos resultados implicam
associações fortes entre variáveis, calculadas através de simples subtracções (Dife-
rença de Riscos ou Risco Atribuível) ou quoeficiente (Risco Relativo, Odds Ratio, etc).
É possível haver uma associação forte nos resultados da nossa amostra que, no en-
tanto, não sendo estatisticamente significativos, têm pouco interesse porque não te-
mos garantias de existirem na população real. Por outro lado, tal como já referimos,
é possível haver uma associação estatisticamente significativa mas que, por ser tão
fraca, não tem importância nenhuma.
O risco relativo (RR) é uma medida da força da associaçäo entre um factor de risco
e o desfecho em um estudo epidemiológico. E definido como sendo a razão entre a
incidência entre indivíduos expostos e a incidência entre os não-expostos. É usual-
mente utilizado em estudos de coorte.
Epidemiologia | 45
O odds ratio (OR) é uma estimativa do risco relativo. Possui a mesma interpretação,
apesar de ser baseado em uma fórmula diferente. Esta medida é particularmente
indicada para estudos de caso-controle.
O estudo de casos e controles parte do desfecho (do efeito ou da doença) para che-
gar à exposição. O grupo, tanto de casos quanto de controles, não precisa ser neces-
sáriamente representativo da população em geral. Os casos podem ser um subgrupo
de pessoas, desde que atendam aos critérios de elegibilidade préviamente estabele-
cidos pelo pesquisador.
Por exemplo, o propósito do investigador pode ser o estudo de pacientes com asma
grave que requeiram hospitalização. A população de origem dos casos, portanto, é a
população de asmáticos, e desta mesma população devem originar-se os controles.
Os controles devem representar a população de onde se originaram os casos, e não
a população geral.
46 | Epidemiologia
99 Registros de mortalidade.
99 Centros de saúde.
Os mesmos critérios de inclusão e exclusão para os casos devem ser aplicados aos
controles. Por exemplo, para simplificar o estudo em termos logísticos, decide-se
estudar casos de cancro de pulmão somente da zona urbana de uma localidade; os
controles também deverão ser apenas da zona urbana.
Definição dos controles. Um dos princípios básicos para a escolha dos controles é
Epidemiologia | 47
que a probabilidade de incluir um controle não pode estar associada com o factor
de risco em estudo (a exposição), para não ocorrer viés de seleção. Por exemplo, um
controle para um caso de cancro de pulmão não deve ser um paciente com cancro
de bexiga, já que esse tipo de câncer está bastante ligado ao fumo (factor de exposi-
ção). Outro item a considerar é que o controle deve ser alguém, que, se desenvolver
a doença, deve ser detectado pelo estudo e participar como caso.
de doenças.
Doentes (a)
Expostos
Ñ Doentes (b)
População
Doentes (c)
Ñ Expostos
Ñ Doentes (d)
Doença
Exposição ao factor Total*
Sim Não
Sim a b a+b
Não c d c+d
Total a+c b+d N
7. VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA
OBJETIVOS
99 Compreender os princípios básicos da Vigilância Epidemiológica e
sua importância
7.1. HISTÓRIA
A expressão vigilância epidemiológica passou a ser aplicada ao controle das doenças trans-
missíveis na década de 50, para designar uma série de actividades subsequentes à etapa
de ataque da campanha de erradicação da malária, vindo a designar uma de suas fases
constitutivas. Originalmente, significava “a observação sistemática e activa de casos suspei-
tos ou confirmados de doenças transmissíveis e de seus contactos”. Tratava-se, portanto,
da vigilância de pessoas, com base em medidas de isolamento ou quarentena, aplicadas
individualmente, e não de forma coletiva.
Na década de 60, o programa de erradicação da varíola também instituiu uma fase de vigi-
lância epidemiológica, subsequente à de vacinação em massa da população. Simultanea-
mente, o programa disseminou a aplicação de novos conceitos que se firmavam no âmbito
Epidemiologia | 55
7.2. DEFINIÇÃO
Vigilância em Saúde é um acompanhamento sistemático de recolha, análise e interpreta-
ção de dados sobre eventos de saúde ou condições relacionadas, cujo principal objectivo é
alertar as autoridades competentes, com oportunidade suficiente para tomar as medidas
necessárias, sejam preventivas ou controle.
Todos esses dados devem ser reunidos, analisados e apresentados na forma de informes,
que serão distribuídos a todas as pessoas que colaboraram na sua obtenção e a outras que
necessitem conhecer os resultados das actividades da vigilância. Esses procedimentos se
aplicam a todos os níveis dos serviços de saúde pública, desde o local até o internacional.
7.3. PROPÓSITOS
A vigilância epidemiológica deve fornecer orientação técnica permanente para os profissio-
nais de saúde que têm a responsabilidade de decidir sobre a execução de acções de con-
trole de doenças e agravos, tornando disponíveis, para esse fim, informações atualizadas
sobre a ocorrência dessas doenças e agravos, bem como dos factores que a condicionam,
56 | Epidemiologia
A partir de 1990 com a introdução do novo sistema de informação para a saúde, o sistema
anterior foi revisto e as alterações introduzidas foram:
7.4. CLASSIFICAÇÃO
Os dados e informações que alimentam o Sistema Nacional de Vigilância Epidemiológica
são os seguintes:
a. dados demográficos
b. ambientais
c. socioeconômicos
Dados de morbidade
São os dados mais utilizados em vigilância epidemiológica, por permitirem a detecção ime-
diata ou precoce de problemas sanitários. Correspondem à distribuição de casos segundo a
condição de portadores de infecções ou patologias específicas, como também de sequelas.
Trata-se, em geral, de dados oriundos da notificação de casos e surtos, da produção de
serviços ambulatórios e hospitalares, de investigações epidemiológicas, da busca activa de
casos, de estudos amostrais e de inquéritos, entre outras formas.
Dados de mortalidade
Fontes de dados
99 Colheita de dados
A colelheira dos dados deve ser precedida de uma selecção cuidadosa de quais doenças
ou condições serão objecto de vigilância e se fará a colheita, como e com que frequência.
Deve-se evitar a colheita de dados supérfluos. Não se deve solicitar dados para os quais não
esteja prevista uma utilização específica.
3. Organizar registos simples dos dados no serviço de saúde (fichas, livros, arqui-
vos, etc.).
Cada um dos centros de notificação deverá ser claramente instruído sobre o tipo de dados
que deverá colectar quando identifica algum caso suspeito de algumas das doenças ob-
jecto de vigilância. Geralmente os dados mínimos requeridos são: idade do paciente, seu
endereço, data do início dos sintomas e, se for o caso, antecedentes de vacinação. Quando
se pretende realizar alguma investigação individual de casos o nome também deverá ser
anotado.
Para cada um dos níveis de notificação deverá ser elaborado um formulário que torne ho-
mogenica a colheita dos dados. A frequência com que estes formulários deverão ser envia-
dos aos níveis superiores será estabelecida de acordo com a capacidade de resposta e das
acções de controlo que serão executadas.
O envio rotineiro dos formulários deverá realizar-se mesmo em situações em que caso não
tenham sido detectados, de tal maneira que os responsáveis pelos programas de controlo
conheçam a situação epidemiológica e que saibam também que os centros de notificação
estão vigiando de maneira activa e contínua as doenças que foram estabelecidas como de
notificação obrigatória.
Epidemiologia | 61
Entretanto, nem todos os casos ocorridos numa área são notificados e é importante que se
saibam as razões que explicam o sub-registo.
Quando uma pessoa se infecta na área de uma jurisdição de saúde e a notificação provém
de outra, a autoridade que recebe a informação deve notificar a primeira em relação ao
ocorrido, principalmente se a doença exige o exame de contactos para descobrir a fonte de
infecção, ou investigação do abastecimento de água, alimentos, vectores ou reservatórios
como possíveis veículos.
II. De períodos iguais (mesmo mês por exemplo) de anos anteriores, na mesma localidade.
62 | Epidemiologia
Os dados sobre os casos ou óbitos podem ser comparados segundo determinadas carac-
terísticas das pessoas, como: sexo, idade, situação sócio-econômica, lugar de residência,
grupo étnico e ocupação.
Como resultado da análise dos dados, se iniciará, tão cedo quanto possível, a aplicação das
medidas de prevenção ou controlo mais adequadas à situação.
Ao nível local essa divulgação de informação pode ser feita de várias maneiras: em reuniões
de trabalho, por rádio, por jornal, ou por contactos pessoais. Se as circunstâncias o justifi-
cam, um relatório específico pode ser publicado e distribuído aos interessados.
guintes elementos:
99 Casos
99 Mortes
99 Resultados de laboratório
99 Meio ambiente
99 Vectores
99 Reservatórios
99 População
São os dados obtidos com o resultado do estudo de casos e mortes devido a determi-
da doença. Além do número total de casos e/ou mortes, da data e do local de ocor-
rência, utilizam-se dados sobre as características dos doentes e/ou falecidos como,
por exemplo, a idade, o sexo, a profissão.
São os dados obtidos das actividades de rotina dos laboratórios (de saúde pública e
outros) e que correspondem a resulados de provas que podem permitir:
São os dados que se obtém dos programas em geral e que se relacionam com a
extensão das medidas de prevenção ou controlo usadas (doentes tratados, casas
raciadas, vacinas aplicadas).
7.6.5. Vectores
São os dados sobre os tipos de vectores existentes na área, sua distribuição geográfi-
ca, seus hábitos e seu nível de resistência ou susceptibilidade aos inseticidas.
7.6.6. Reservatório
São os dados sobre a existência e tipos de portadores humanos e sobre tipos e distri-
buição dos reservatórios animais.
7.6.7. População
São os dados sobre o tamanho da população; sua composição por idade, por sexo
e outras características; sua distribuição geográfica e seus movimentos migratórios;
sua susceptibilidade ou resistência a determinadas doenças.
A. característicaS da doença
Por outro lado, quando a letalidade é alta, o conhecimento dos óbitos pode permitir
uma avaliação aproximada do total de casos ocorridos. Ao contrário, em doenças
com letalidade muito baixa ou nula (varicela, rubéola), os dados sobre óbitos são
Epidemiologia | 65
A quantidade de dados utilizados para a vigilância das doenças deverá ser propor-
cional à capacidade de análise e de resposta dos serviços de saúde. Uma grande
quantidade de dados tem importância limitada se os serviços de saúde não tem pos-
sibilidade de analisar e de tomar acções para prevenção ou controlo dos problemas
identificados.
99 Notificação
99 Registos
99 Rumores
99 Investigação epidemiológica
99 Inquéritos
7.7.1. Notificação
7.7.2. Registos
7.7.3. Rumores
7.7.5. Inquéritos
No esquema (1), as acções de controlo são tomadas com base na análise dos dados
obtidos através de registo, de notificação e de rumores. Não se faz investigação epi-
demiológica.
Epidemiologia | 67
Esquema 1.
Casos
Mortes
Notificação
População
Acção
Registro
Laboratório
Medidas de con-
trole
No esquema (2), a partir dos dados de Notificação, Registo e Rumores realiza-se uma
invesigação epidemiológica de casos para orientar as acções de controlo.
Esquema 2.
Esquema 3.
Casos
Inquéritos Acção
Mortes
2. Nas US, a responsabilidade das primeiras etapas da notificação (registo nos li-
vros de consulta e recolha para as fichas de contagem de novos casos). Cabe ao pes-
soal envolvido no diagnósticos das doenças, ou seja, ao pessoal clínico.
Diarreias 009
Desinteria 009.2
Cólera* 001
Peste* 020
Poliomielite/PFA 045
Tripanossomíase 086
Tosse convulsa** (coqueluche) 033
A notificação através do BES é semanal. Deve ser feita cumprindo com a semana epidemi-
ólogica, ou seja de Domingo a Sábado de cada semana.
Direcção Distrital de
Postos de saúde
Saúde/Direcção de
Centros de saúde
Saúde da cidade (capi-
Hospitais Rurais
tais Provinciais)
Direcção Provincial de
Hospitais Provinciais Saúde/ Direcção de
Hospitais Centrais Saúde da cidade (Cida-
de de Maputo)
Cidade de Maputo,
todas as Unidades Hospital Geral da qual
Sanitárias de nível depende a US
Primário
Direcção de saúde
Hospital Central de da cidade (Centro de
Maputo profilaxia e exames
médicos)
BES da US
Antes de enviar o BES para o nível superior, deve se fazer o controle de qualidade , ou seja,
verificar se os dados estão completos , correctos e lógicos.
Epidemiologia | 71
Nível Distrital
O BES da US deve ser enviado Terça feira e, até Sábado deve dar entrada na Direcção Dis-
trital de Saúde (DDS). Na DDS, a sua entrada deve ser registada na folha de controle do BES
colocando-se um (X) no quadro correspondente à US e à semana epidemiológica.
Envio do BES Distrital: Os procedimentos relacionados com o envio do BES distrital são se-
melhantes aos BES da US, assim: O BES deve ser enviado á DPS terça feira.
Nível Provincial:
À semelhança dos níveis anteriores, o BES distrital deve dar entrada na DPS até sábado.
O envio do BES ao Gabinete de Epidemiologia (MISAU) deve ser feito á terça –feira.
Mensalmente, respeitando o calendário epidemiológico, cada uma das Províncias deve ela-
borar um Boletim Epidemiológico Mensal. Devem também elaborar Boletins Trimestrais e
Anuais.
Nível Central: O BES Provincial deve dar entrada no Gabinete de Epidemiologia no MISAU
até sábado.
INDICADORES
Um indicador é uma medida que pode ser utilizada para descrever uma situação actual
comparando lugares ou pessoas, ou para verificar mudanças no tempo; por outras pala-
vras, um indicador dá informação sobre uma situação. Apresenta-se muitas vezes sobre
a forma de taxas e permite comparar informaçao entre os diferentes lugares, tempo ou
grupo de pessoas.
Taxa de incidência: A taxa de incidência mede o número de casos novos de uma doença,
episódios ou eventos na população dentro de um período definido de tempo (dia, semana,
mês, ano); é um dos melhores indicadores para avaliar se uma condição está diminuindo,
aumentando ou permanecendo estável, pois indica o número de pessoas da população que
passou de um estado de não-doente para doente
8. CANAL ENDÊMICO
OBJETIVOS
99 Compreender os métodos de verificação da ocorrência de uma epi-
demia
Provavelmente a definição mais curta e simples de epidemia foi formulado por Benenson
da seguinte forma: “A ocorrência de uma doença acima do esperado”. É uma comparação
Epidemiologia | 75
implícita entre o número de casos detectados e o número “de casos normais”. Este número
“normal” óbviamente depende da população, da área geográfica e o período de tempo
considerado. Este último é particularmente importante na doenças agudas em que a sazo-
nalidade desempenha um papel importante.
Embora o princípio da definição de epidemia tenha sido projetado para doenças transmis-
síveis, o seu uso é totalmente compatível com as doenças não transmissíveis. Por exemplo,
durante um final de semana longo (feriado em uma sexta-feira ou segunda-feira), aconte-
cem reais “epidemias” de acidentes de trânsito.
8.1. DEFINIÇÃO
O canal endêmico foi criado por Selwyn Collins em 1932 para a vigilância das epidemias de
gripe e é amplamente utilizada, desde então, devido à simplicidade de sua construção e
interpretação e é uma ferramenta para entender o comportamento e avaliar a natureza de
uma doença endêmica ou uma epidemia.
A análise da tendência geral de uma série temporal deve estabelecer se há variação de fre-
quência, e quais são as características desta variação. É preciso analisar:
A análise de dados pode apresentar alguns problemas bastante comuns. Um problema fre-
quente é haver observações perdidas durante um certo período de tempo; outro problema
são as observações aberrantes (excepcionalmente altas ou baixas), que podem ser reflexo
de erros ou também ser reais, com um significado que merece maior atenção; pode tam-
bém não haver uniformidade de conceitos e procedimentos empregados na obtenção dos
dados referentes a todo o período da série; e as frequências reais podem ser diferentes das
detectadas, não demonstrando a exata incidência experimentada pela população.
A evolução e comparação das tendências dos coeficientes de uma doença com os de outra
podem ser a melhor forma de se conhecer apropriadamente sobre a matéria. Um exemplo
clássico é a comparação da incidência crescente de câncer de pulmão com os demais tipos
de câncer, confirmando que a evolução reflete um real aumento de incidência do agravo à
saúde.
Picos de incidência podem formar ondas regulares, e são comumente observados nas sé-
ries temporais das doenças infecciosas, como ocorre com o sarampo e a febre amarela. Cri-
ses econômicas e grandes secas também são eventos que costumam apresentar variação
cíclica.
O estudo deste tipo de variação é importante pois as oscilações tendem a se repetir perio-
Epidemiologia | 79
As abordagens utilizadas para analisar outras variações devem ser empregadas também
nas cíclicas, utilizando-se tabelas e gráficos com valores absolutos ou relativos ou ainda
números-índice.
III) Variações sazonais: oscilações periódicas de frequências cujos ciclos configuram ritmo
sazonal, geralmente ao longo de um ano. Um exemplo indiscutível de variação sazonal é a
que ocorre com a temperatura, alta no verão e baixa no inverno.
A forma de ocorrência do dano à saúde pode estar relacionada a múltiplos factores, como
condições meteorológicas e outras condições ambientais, entre outros, e a sazonalidade
destes eventos pode explicar a sazonalidade dos agravos à saúde. Oscilações de curto pra-
zo podem ser bem visualizadas em alguns acidentes, como afogamento, apresentando um
padrão com maior incidência em fins de semana.
A informação sobre sazonalidade pode ser usada tanto para permitir uma atuação de ma-
neira preventiva em tempo útil, como também é útil no levantamento de hipóteses, já que
as oscilações fazem pensar em variação concomitante dos agentes e dos factores de risco
de doenças.
Diagrama de Controle
Como Construir
Deve ter-se previamente uma série histórica sem anos epidêmicos. Para cada mês deter-
mina-se o valor central, o limite superior e inferior . Para tanto pode-se usar a mediana e a
frequências inframáximas e supramínimas ou pode-se usar a média e desvio padrão.
6. O uso deste valores inframax e supramin é para descartar possíveis valores extremos
discrepantes (p.ex. no caso de inclusão de um ano epidêmico na série histórica)
Neste tipo de construção a Média das incidências da série histórica é utilizada como índice
epidêmico (parâm. central)
Para determinar o Limite Superior e Inferior soma-se e subtrai-se da média dois desvios-
padrão calculados previamente na série histórica
Quando os casos situam-se dentro da faixa esperada (canal endêmico), considera-se que
são apenas o resultado de variações aleatórias da incidência do evento e sem maior signi-
ficado epidemiológico. Quando o objetivo é controlar doenças evitáveis, a meta é alcançar
níveis abaixo do esperado.
Limite Limite
Desvio-
Média
Inferior Superior
2001
2002
2003
2004
2005
2006
9. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
99 Bonita R., Beaglehole R., Kjellström T. Epidemiologia básica. 2.ed. São Paulo, 2010.
99 Sano, P.T. e Mori, L. Biologia: Ecologia. Módulo 4. São Paulo: Secretaria da Educação
do Estado de São Paulo, 2010
99 http://www.paho.org/spanish/ad/dpc/nc/guidelines-5-sp.PDF
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Anexos
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Epidemiologia | 87
88 | Epidemiologia
Epidemiologia | 89
90 | Epidemiologia
Epidemiologia | 91
92 | Epidemiologia