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O Governo aprovou o Plano Rodoviário Nacional (programa setorial), no qual se preveem


os traçados de infraestruturas viárias de âmbito nacional, não obstante a contestação de
diversos municípios, que consideram que o conteúdo desse instrumento de gestão
territorial contende com as opções fundamentais contidas nos respetivos Planos Diretores
Municipais (PDM) preexistentes, quanto à localização daquelas infraestruturas. Por essa
razão, recusaram-se a modificar os PDM. Em face da inércia dos municípios, e por temer o
risco de os particulares impugnarem a declaração de utilidade pública da expropriação das
parcelas privadas necessárias à construção das infraestruturas viárias, o Conselho de
Ministros deliberou decretar a suspensão dos PDM incompatíveis com o Plano Rodoviário
Nacional e a proibição de quaisquer operações urbanísticas nas áreas municipais para as
quais se encontra prevista a localização das infraestruturas viárias.

Responda fundamentadamente às seguintes questões:

1. Podem os municípios recusar-se a alterar os respetivos PDM para os adaptar ao


Plano Rodoviário Nacional? (2 valores)

Segundo o artigo 27º/6 determina a atualização dos planos territoriais sempre que um
programa territorial entre em vigor e disponha de normas que entrem em conflito com os
planos existentes.

O artigo 28º estabelece ainda a necessidade de o programa territorial dispor de uma norma
que determine um prazo para a atualização dos planos, depois de ouvida a associação de
municípios cujos planos entrem em conflito.

Já o artigo 29º/1 determina que a não atualização dos planos em causa, faz com que as
normas em conflito sejam suspensas.

O artigo 115º estabelece as situações que possibilitam a alteração dos planos, sendo que,
entre elas, o número 2/b prevê a alteração quando haja uma incompatibilidade ou
desconformidade com outros programas aprovados.

Sendo este procedimento de caráter obrigatório, o município não se poderia recusar a


proceder à compatibilização das normas desconformes com o programa setorial.

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2. A oposição dos municípios à aprovação do Plano Rodoviário Nacional, exposta


durante a formação deste instrumento de gestão territorial, poderia ter impedido a
sua aprovação? (2 valores)

Segundo o artigo 48º/1, durante a elaboração do programa setorial, têm de ser ouvidos,
entre outros, as associações municipais e os municípios que irão ficar abrangidos pelo
programa, podendo estes opor-se ao mesmo. Já o número 4 do mesmo artigo refere que caso
seja invocada alguma desconformidade com planos territoriais, a entidade competente para
a elaboração do programa fica obrigada a um dever de fundamentação, sendo que o artigo
51º/2/a estabelece que, no ato de aprovação do programa, sejam identificadas as
disposições de planos preexistentes que sejam incompatíveis.

Assim, é meu entendimento que a oposição dos municípios apenas poderia ter impedido a
aprovação do programa, caso o dever de fundamentação da entidade que o elabora não seja
cumprido, uma vez que o artigo 51º prevê que o mesmo possa ser aprovado ainda que hajam
incompatibilidades com planos já existentes.

3. Qual o procedimento de dinâmica dos planos que deve ser adotado pelos
municípios, em face da entrada em vigor do Plano Rodoviário Nacional? (1,5 valores)

Prevê o artigo 115º/2/b que possa haver a alteração dos planos em virtude de
desconformidade com outros programas territoriais aprovados, sendo que o mesmo é
confirmado pelo disposto no artigo 118º.

O artigo 119º estabelece que o procedimento de alteração dos planos é o mesmo que o
procedimento para a sua elaboração, aprovação, ratificação e publicação.

O tipo de procedimento de alteração será o que se encontra estabelecido no artigo 121º,


nomeadamente, uma alteração por adaptação, em virtude do disposto no número 1/b. O
mesmo é confirmado pelo artigo 28º/4, que remete para o artigo 121º.

4. Aprecie a validade da deliberação do Conselho de Ministros (4,5 valores)

O artigo 29º/1 estabelece que a não atualização dos planos desconformes ao programa
setorial, findo o prazo estabelecido, determina a suspensão das normas que não vão de
encontro ao programa e ainda que ficam proibidos os atos que impliquem a ocupação, uso
e transformação do solo. O número 2 do referido artigo determina ainda que deva ser a

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comissão de coordenação e desenvolvimento territorial competente a emitir a declaração


de suspensão das normas incompatíveis.

Tratando-se de suspensão parcial do plano, dispõe o artigo 126º/1/a, que a mesma pode
ser determinada por resolução do Conselho de Ministros, depois de ouvidas as câmaras
municipais, devendo a resolução ser devidamente fundamentada, segundo o número
seguinte.

Assim, o Conselho de Ministros decreta a suspensão dos PDM incompatíveis, devendo


decretar apenas as normas que não estejam conformes ao programa setorial. Determinada
ainda “(…) a proibição de quaisquer operações urbanísticas nas áreas municipais para as
quais se encontra prevista a localização das infraestruturas viárias”, podendo, segundo o
referido artigo 29º decretar a proibição de atos que impliquem a ocupação, uso e
transformação do solo.

II

O Presidente da Câmara Municipal ordenou, sem qualquer vistoria prévia, a demolição do


edifício, construído no início do século XX, de que Higino é proprietário com base nos
seguintes fundamentos:

a) O edifício encontra-se numa situação de urgência extrema de ruína que põe em


causa a segurança dos moradores de edifícios confinantes;
b) A autorização de utilização requerida por Higina já havia sido indeferida há mais de
10 anos por a utilização aí prevista se mostrar desconforme com a disciplina do PDM
então em vigor;
c) A localização do edifício torna inviável a projetada ampliação do arruamento viário
prevista no PDM revisto, já aprovado e que aguarda apenas publicação no Diário da
República.

Higino sustenta que nunca foi ouvido antes da tomada da decisão, que a mesma se mostra
uma cedência ilegal face aos interesses privados dos vizinhos e que se propõe realizar obras
de reconstrução, que não podem ser indeferidas pela Câmara Municipal mesmo que estejam
em desconformidade com o PDM aplicável.

Responda fundamentadamente às seguintes questões:

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1. Aprecia os fundamentos da decisão do Presidente da Câmara Municipal (6 valores).

Relativamente ao primeiro fundamento de risco de ruína, dispõe o artigo 89º/3 que a


câmara municipal pode proceder à demolição total ou parcial de edifícios que ameacem
ruína, bem como aqueles que apresentem um perigo para a segurança ou para a saúde
pública. O artigo 102º/3/b prevê também que a câmara municipal possa proceder à
demolição.

No entanto, prevê o artigo que 90º que se proceda à vistoria do imóvel por técnicos com
habilitações legais para o ato. O número 2 do referido artigo determina ainda a notificação
ao proprietário do imóvel, sendo que este tem a possibilidade, segundo o número 3, para
nomear ele próprio um técnico para que esteja presente durante a vistoria.

Estabelece ainda o artigo 124º/1/a do CPA que a audiência dos interessados possa ser
dispensada quando se trate de uma decisão urgente, como seria a de uma demolição de um
imóvel em sérios riscos de ruir.

Desta forma, não foram cumpridos os trâmites legais para que se procedesse à demolição
do edifício, uma vez que não houve vistoria prévia por técnicos habilitados para determinar
o grau de risco de ruína, que posteriormente serviria para que se pudesse fundamentar a
urgência da decisão e a não audiência do proprietário.

Quanto ao segundo fundamento invocado, a autorização de utilização encontra-se regida


nos artigos 62º e seguintes. O facto de a autorização ter sido indeferida anteriormente, ainda
por cima respeitante a um PDM que já não se encontra em vigor, nada impede Higino não
possa agora, concluídos os trabalhos no imóvel, requerer uma nova autorização de
utilização ao abrigo do artigo 62º/2 e do artigo 67º.

Relativamente ao terceiro argumento, o artigo 106º/2 refere a possibilidade de não se


proceder à demolição do edifício caso seja possível assegurar a sua conformidade, através
da realização de trabalhos de correção ou alteração. Assim, sendo possível alterar, de
alguma forma, o edifício de maneira a que a ampliação do arruamento viário se possa
realizar, é excessivo proceder à demolição do imóvel, especialmente tratando-se de um
edifício de inícios do século passado.

2. Procedem os argumentos de Higino? (4 valores)

Relativamente ao argumento da audiência, sem prejuízo do disposto no RJUE relativamente


à necessidade da audiência dos interessados, tratando-se de um imóvel em risco de ruir e

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causar sérios danos a pessoas, segundo o referido artigo 124º/1/a do CPA, era possível não
proceder à audiência se se tratasse de uma decisão com um elevado caráter de urgência. No
entanto, não tendo a câmara procedido à vistoria do imóvel por técnicos habilitados para
determinar o risco de ruína do mesmo, poderíamos argumentar que não haveria
fundamentos que justificassem a aplicação do artigo 124º, uma vez que não foi feita uma
análise técnica à estabilidade do edifício que justificasse a urgência da decisão de demolição.

Quanto ao argumento de a câmara agir em desconformidade com os interesses públicos,


estando em causa um edifício do início do século XX, ainda que nada fosse dito acerca do sue
estado de classificação, seria prudente que o município procedesse, em virtude do artigo
89º/2, à conservação do mesmo e não partisse logo para a demolição do edifício. Podemos
afirmar que há uma decisão desproporcional, uma vez que existiam outras vias para
acautelar a segurança de todos que não implicassem a demolição de um edificado do início
do século passado. Desta forma, o município prefere demolir o imóvel de forma a ser
possível a ampliação do arruamento viário.

O terceiro argumento de que a reconstrução do edifício não pode ser indeferidas pela
câmara municipal, enquadram-se, a meu ver, no artigo 4º/4/a, estando por isso sujeitas a
comunicação prévia.

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