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Contratos - Práticas

Contratos I (Universidade de Lisboa)

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Menezes Leitão, Direito das Obrigações III

Romano Martinez, Direito das Obrigações em Especial

Menezes Cordeiro, Tratado de Direito Civil Vol. XI e XII

Pires Lima e Antunes Varela, CC Anotado Vol. II

Direito dos Contratos - Casos Práticos, Segunda Edição (2020)

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Revista da Ordem dos Advogados

- Artigo do Prof. Raúl Ventura – Contrato de CV (1983)

- Artigo do Prof. Paulo Olavo Cunha – Compra e Venda de Bens Alheios

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CV do Código Comercial

Regime dos bens de consumo (DL 67/2003 de 8 de abril)

Legislação Complementar de Direito dos Contratos

Caso prático n.º 1

a.1) Obrigação de pagar o preço – art.º 879º/c)

CV – Obrigações – Teoria Geral do DC

Não fixação do preço:

Art.º 280º/1: não é necessário que o preço esteja determinado no momento da celebração do
contrato, basta que seja determinável

- Art.º 883º

Não ser no fim do mês:

Art.º 777º/1 a contrario – o devedor não pode ainda ser interpelado para cumprir

Obrigação a prazo vs. Obrigação pura

Art.º 779º - o prazo corre a favor do devedor (B)

- Se for exigido o cumprimento antes, pode recusar-se a cumprir antecipadamente.

- Se cumprir antes e o credor se recusar a receber a prestação, logo entra em mora.

a.2.) Obrigação de entrega da coisa – art.º 879º/b)

Falta do certificado – “documentos relativos à coisa”

Art.º 882º/2

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- Raúl Ventura: existe incumprimento da obrigação de entrega (art.º 799º/1).

Falta de botões – “partes integrantes”

1. Venda de coisa defeituosa (art.º 913º e ss.):

- Cabe a B provar que os defeitos originários da coisa e não os conhecia no momento


da CV (art.º 342º/1 CC);

- Cabe a A provar que desconhecia sem culpa dos mesmos (art.º 342º/2 CC).

- Existe presunção de culpa nos termos do art.º 799º/1 (apreciada nos termos
da responsabilidade civil – art.º 799º/2 e 483º).

- Se não afastada a presunção:

- Reparação da coisa

- Substituição da coisa

- Redução do preço

- Resolução do contrato ou

- Indemnização.

- Efeitos: art.º 914º e 916º (violação de um dever de cuidado)

2. Aplicação do art.º 914º parte final

- Não: não já indemnização (art.º 909º e 915º)

- Sim: há indemnização

- Teoria do erro (Galvão Teles): a designação da coisa defeituosa advém de um erro do


comprador sobre o objeto do negócio;

Resolvem os art.º 247º e ss. CC. Neste caso seria o art.º 251º onde teria de se verificar
os requisitos do art.º 247º:

- Cognoscibilidade

- Sim: Anulabilidade (287º) + Indemnização (909º)

- Não: Não há anulabilidade nem indemnização

- Essencialidade

- Teoria do incumprimento (MC e Carneiro de Frada): a entrega de uma coisa defeituosa traduz
um cumprimento defeituoso do contrato. O erro não se faz sentir numa fase de formação do
negócio porque as partes exprimem a sua vontade sem vícios, este apenas afeta o negócio no
momento da atuação (há uma ineptidão da coisa para satisfazer o propósito do comprador).

Resolve o art.º 905º que deve ser interligado com o art.º 799º.

b) Obrigação de pagar o preço e obrigação de entrega – art.º 879º/b) e c)

Lugar do pagamento do preço – art.º 885º/2 (Coimbra)

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Lugar da entrega da coisa – art.º 774º ou 772º/1 (Coimbra)

c) Obrigação de entrega da coisa – art.º 879º/b)

Art.º 878º - trata-se de um dever do comprador.

- Sim: a despesa é de B

- Não: a despesa é de A

2. Enriquecimento sem causa

- Modalidade: Enriquecimento por despesas (pressupostos)

- À custa de outrem: empobrecimento da esfera de A

- Sem causa justificativa: inexistência de normas ou situação que


legitimem a conservação do enriquecimento na esfera de B

- Prestações secundárias

- Deveres acessórios
- De informação
- De boa-fé

Caso prático n.º 2

a)

Art.º 888º/2 (mais de um vigésimo)

ML – deve reduzir-se o preço em toda a diferença (9500000)

PL + AV – deve apenas abater-se para (9000000)

- Coisa determinada
- Divergência entre aquilo que foi entregue e aquilo que foi vendido

b) Art.º 891º

c) Art.º

Caso prático n. º 3

- A CV não opera, mesmo sem a entrega, a transmissão da coisa por constituto possessório?

JAV (conceção subjetivista)

- Negócio jurídico de transmissão de um direito real de gozo


- O transmitente do direito real é o possuidor
- Uma causa para a detenção: tem de haver uma declaração de vontade.
* Correspondia a dois negócios jurídicos realizados em simultâneo:

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- Transferência para terceiro determinado direito real sobre a coisa


- Permitir ao comprador continuar a deter o controlo material da coisa

AO + MC + PA (conceção objetivista)

- Transmissão do direito real relativo à coisa a que a posse se refere


- Pelo possuidor
- Sem haver entrega
- A não sujeição da transmissão do direito real a condição suspensiva

Transmissão da posse solo consensu (por mero efeito do contrato)

Quando a coisa pode ser retida pelo alienante o adquirente torna-se possuidor

1º NJ

E – possuidor  E – detentor (art.º 1253º/a))


F – possuidor ADQUIRE O DIREITO DE PROPRIEDADE (art.º 408º/2)

2º NJ

E  G – venda de bens alheios (art.º 892º e 894º + 1305º a contrario) NULIDADE

3º NJ

F  H ✔ (art.º 1305º) 1311º - ação de reivindicação

O proprietário é H.

Caso prático n.º 4

a) Trata-se de uma venda de bens futuros, de acordo com o art.º 880º CC na medida que o
vendedor (A) aliena bens inexistentes ao tempo da celebração do contrato de CV segundo o
art.º 211º CC.
É igualmente uma CV de coisa futura stricto sensu e, por isso, a transferência dá-se com a
aquisição pelo alienante da coisa de forma automática (art.º 408º/2 CC).
O vendedor é obrigado a exercer as diligências necessárias para o comprador adquirir os
bens vendidos, no entanto, havendo, no caso concreto, uma impossibilidade parcial não
culposa ou imputável ao devedor (art.º 802º) - devido ao mau tempo prolongado – o efeito
será o da extinção do contrato ou o cumprimento parcial. Em ambos os casos o vendedor
perde o direito à prestação (art.º 795º/1 CC) ou redução na medida da impossibilidade (art.º
793º/1 CC).
Não se trata, porém, da CV de uma mera esperança: na CV de coisa futura o preço só é
devido se a coisa vier realmente a existir. É preciso recorrer aos art.º 236º a 238º CC para
interpretar a vontade das partes e, não sendo tal possível como no caso concreto, deve optar-
se pela CV de coisa futura.

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b) É óbvio que por virtude da não aplicação das dosagens adequadas de pesticida, se tornou
impossível o cumprimento do CV que havia celebrado, já que A se colocou em situação de
incumprimento definitivo. Da mesma forma A não exerceu as diligências necessárias para que
B adquirisse os bens vendidos (art.º 880º/1), ou seja, a prática de atos materiais como seja
utilização do pesticida, o que leva a responsabilidade obrigacional do vendedor pelo que existe
inversão do ónus da prova (art.º 799º/1). Ora, nos termos do artigo 801º/1 CC, A deu
igualmente causa à impossibilidade superveniente de cumprimento (ademais a sua culpa
presume-se face ao disposto no artigo 799º/ 1 CC) pelo que se deve igualmente recorrer ao
art.º 808º.
Donde, tem A que indemnizar B pelo incumprimento culposo do contrato CV celebrado
(artigo 798º/1 CC), podendo ainda o último resolver o contrato (art.º 432º e ss.). No entanto, a
atuação das partes é que contribui para o evento de a produção ser inferior e por isso, como
isso escapa ao controlo das partes, pelo que se deve ponderar a redução do preço (art.º 884º).

Caso prático n.º 5

a) CV, art.º 874 CC

 Temos 2 elementos essenciais da CV  a transmissão da propriedade da joia + preço.


 Efeitos obrigacionais  art.º 879/b/c CC obrigação da entrega da coisa + pagamento
do preço.
 Com a celebração válida da CV  Efeito real: transferência imediata do direito de
propriedade da joia, art.º 408/1 CC + sistema do título  J já tem o direito de
propriedade da joia – não está dependente da entrega
 Objeto do negócio: joia – coisa móvel, art.º 205/1 CC  não há exigência de forma

In casu, temos um problema relativo à entrega da coisa – quando deve ser entregue?

Após L pedir a entrega da joia, J respondeu que só a entregaria com o pagamento do preço.

- Pagamento do preço:

Regras gerais das obrigações, art. 779 CC quanto ao prazo da prestação – devedor é
beneficiário do prazo = J só pode exigir o pagamento quando terminar o prazo – autonomia das
partes – estipularam o final do mês. Se L quiser pode pagar antes do tempo, mas não há
exigibilidade do pagamento. Só estaríamos perante mora do devedor (art.804/2 CC) se no final
do mês, L não pagasse.

J não pode exigir o pagamento a L.

- Entrega da coisa

As partes não estipularam nada quanto à entrega.

O art.º 885/1 não regula esta questão. Não existindo tempo para a entrega, quando deve ser
realizada? Aplicamos as regras gerais do cumprimento das obrigações: art.º 762ss CC.

Art.º 771/1 CC – prazo da prestação. Credor (credor da entrega é o comprador L) pode exigir a
entrega a todo o tempo. Por isso, J tinha legitimidade para pedir a entrega ainda que não tenha
sido pago o preço ou que seja o momento do pagamento do preço.

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J recusou-se  mora, art.º 805/1 – fica constituído em mora quando interpelado para cumprir
judicial ou extrajudicialmente.

L pode reagir:

 Art.º 827 CC execução específica – exigir que a entrega lhe seja feita

 L, enquanto titular do direito de propriedade, art.º 1305 CC, pode agir pela defesa da
propriedade – art.º 1311 CC ação de reivindicação.

b) L entrou em mora na medida em que não efetuou a prestação no tempo devido (art.º 804º ).
No entanto, J parece ter perdido interesse na prestação pelo que esta se converte em
incumprimento definitivo. Perante o incumprimento, por parte do comprador, podia o
vendedor resolver o contrato - art.º 808º que remete implicitamente para o art.º 801º CC.
No entanto, conforme consta no art.º 808º/2, a perda de interesse na prestação deve
ser apreciada objetivamente, isto é, que não exista mais qualquer utilidade concreta para o
credor com a subsistência do contrato e que existam elementos suscetíveis de valoração pelo
comum das pessoas que expliquem o desinteresse do mesmo. No caso concreto, uma vez que J
precisava do dinheiro para pagar um empréstimo bancário avultado, parece defensável que o
credor perdesse interesse na prestação e quisesse vender o anel de diamantes a outra pessoa
para que consiga pagar o empréstimo. Assim, segundo o art.º 801º/2, J tem direito a resolver o
contrato e ainda a uma indemnização baseada no interesse contratual negativo, isto é, baseada
na situação em que estaria se o negócio não fosse celebrado [professor entende que não].
Não obstante, o art.º 886º determina que havendo entrega da coisa, não pode haver
resolução do contrato. Assim, J não poderá fazê-lo pelo que se limitam à ação de cumprimento
para a cobrança do preço (art.º 817), bem como juros moratórios (art.º 806/1 CC).

c) Como ensina M. LEITÃO, quanto ao momento temporal em que a cláusula deve ser
convencionada, entende o mesmo autor que só poderá contemporânea ao momento da
celebração do contrato, isto é, celebrada ab initio. A aposição de uma cláusula deste género ao
contrato em momento superveniente à celebração do mesmo retirar-lhe-ia qualquer efeito útil,
dado que a produção do efeito real teria já ocorrido por mero efeito do contrato (art.º
408.º/1).
Pelo contrário, os autores que consideram a reserva de propriedade como um direito real
de garantia, tornando-se o comprador proprietário do bem por mero efeito do contrato,
“defendem que, por essa razão, nada obsta a que a cláusula seja aposta sucessivamente à
celebração do contrato”.

d) A problemática do risco vem regulada, no art.º 796.º/1 segundo o qual o risco de


perecimento só corre por conta do adquirente uma vez verificada a transferência da coisa por
efeito do contrato. Nestes termos, com a produção do efeito real transmite-se o risco de
deterioração ou perecimento da coisa para o adquirente.
Todavia, os n.ºs 2 e 3 do art.º 796.º, configuram situações em que a eficácia translativa
associada aos contratos de alienação é diferida ou colocada em momento posterior ao da
celebração do contrato, o que resulta no facto de o eventual perecimento da coisa correrá
contra o alienante.
No entanto, tem-se entendido que o risco de perecimento da coisa objeto de reserva se
transfere para o comprador a partir da entrega da mesma devido à posse da coisa pelo
comprador, mesmo que não se tenha verificado a eficácia translativa do negócio, permiti-lhe

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gozar e fruir das utilidades da coisa, pelo que o risco não poderá correr em prejuízo do
alienante que, ainda que titular da propriedade reservada, não goza da disponibilidade
material da mesma. Acresce que o direito de propriedade mantido na esfera do vendedor não
corresponde a uma propriedade plena - privado do uso e fruição do bem - pelo que não parece
ser intuito do legislador que o risco corra por conta do alienante.

Caso prático n.º 6

a) Primeiramente, é necessário determinar que estamos perante uma venda a prestações cujo
regime se encontra previsto nos art.º 934º e ss. O art.º 934º tem alguns requisitos,
nomeadamente:

1. Haver reserva de propriedade

Assim, segundo o art.º 409º/1 CC, O reserva para si a propriedade da coisa até ao
cumprimento parcial ou total das obrigações por parte de N.

Mas O tem ou não direito de disposição e por isso podia vender o carro a P? A propriedade
fica reservada com o fundamento de o alienante poder reaver a coisa no caso de pagamento
do preço – tem uma função de garantia. Alguns autores entendem que o alienante não deve
dispor da coisa, mas se o fizer é válido; outros (ML + PA) entendem que a cláusula, por ter esta
função de garantia, o vendedor não pode alienar a coisa e por isso enquadra-se no regime de
venda de bens alheios.

- Cumprimento total: a propriedade está na esfera de O ao momento do incumprimento do


pagamento da prestação;

- Cumprimento parcial:

- A propriedade está na esfera de O ao momento do incumprimento do pagamento da


prestação;

- A propriedade está na esfera de N ao momento do incumprimento do pagamento da


prestação.

Como se trata de coisa móvel sujeita a registo, de acordo com o n.º 2, só a cláusula
constante do registo é oponível a terceiros.

c) Segundo o art.º 882º/1, a coisa deve ser entregue no estado em que encontrava ao tempo
da venda. No entanto, estando nós perante o regime da venda de coisas defeituosas (art.º
913º e ss. CC), interessa sobretudo atender ao art.º 918º CC que remete para o regime do não
cumprimento das obrigações (art.º 798º e ss.).
Cabe ao devedor O provar, nos termos do art.º 799º/1 CC, que o cumprimento defeituoso
não procede de culpa sua. Assim, no caso concreto, não houve culpa sua pelo que não parece
ser esta a solução.
Deste modo, o caso prático resolve-se através do regime do risco, presente no art.º 796º, na
medida em que a deterioração do carro ocorreu por causa não imputável a O, alienante. Assim,

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como determina o n.º 1 do preceito, como este contrato transfere o direito real (de
propriedade) sobre a coisa, o risco corre por conta do adquirente, N.
Não obstante este facto, a resposta reside, no entanto, no n.º 2: como a coisa continuava no
poder de O por ter sido constituída reserva de propriedade em seu favor e uma vez que não
houve quer vencimento do termo (assumindo que subsistia até ao cumprimento total da
obrigação por parte de N e ainda faltavam 15 prestações) ou entrega da coisa, o risco corre por
conta do alienante, O pelo que N tem razão e assim tem direito a exigir a reparação ou
substituição do carro (art.º 914º) e assim recusar-se a cumprir.
Ainda se poderia aplicar o n.º 3 na posição dos autores que entendam que a reserva de
propriedade se trata de uma condição.

Caso prático n.º 7

a.1) + a.2) Primeiramente, é necessário determinar que estamos perante uma venda a
prestações cujo regime se encontra previsto nos art.º 934º e ss. O art.º 934º tem alguns
requisitos, nomeadamente:

1. Haver reserva de propriedade

Assim, segundo o art.º 409º/1 CC, B reserva para si a propriedade da coisa até ao
cumprimento parcial ou total das obrigações por parte de A.

- Cumprimento total: a propriedade está na esfera de B ao momento do incumprimento do


pagamento da prestação;

- Cumprimento parcial:

- A propriedade está na esfera de B ao momento do incumprimento do pagamento da


prestação;
OU
- A propriedade está na esfera de A ao momento do incumprimento do pagamento da
prestação.

Como se trata de coisa móvel sujeita a registo, de acordo com o n.º 2, só a cláusula
constante do registo é oponível a terceiros.

2. Haver entrega

- Sim: preenchimento dos pressupostos

- Resolução

Para que haja lugar à resolução do contrato, tem de existir a falta de pagamento de uma
prestação que exceda a oitava parte do preço (125€ vs. 50€). O vendedor não tem direito a
resolver o contrato porque não há lugar a nenhuma indagação sobre a importância do
incumprimento para efeitos do art.º 802º/2.

- Exigibilidade antecipada das prestações vincendas, por via da perda do benefício do prazo

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b) Como os juros de mora não foram recebidos (art.º 806º), poderia considerar-se, à luz do
art.º 934º, que a prestação não tinha sido cumprida pelo que estaria em causa duas prestações
em falta pelo que a resolução seria semelhante à da seguinte pergunta.

c) O art.º 934º garante que se A deixar várias prestações que excedam a oitava parte do preço,
deixa de haver a impossibilidade de resolução. No entanto, a falta de pagamento não excede a
oitava parte do preço (125€ vs. 100€).
Saliente-se que há alguma controvérsia na doutrina na questão de saber se o comprador
deixa de beneficiar do disposto no artigo 934.º do CC quando estiverem em falta mais que uma
prestação, mas que, ainda assim, não excedam um oitavo do preço.

- Romano Martinez e Pedro de Albuquerque entende que se estiverem em dívida duas


prestações, mesmo que de valor inferior a um oitavo do preço, parece dever entender-se que
também se aplicam as soluções estabelecidas em alternativa para a hipótese de falta de uma
prestação de valor superior a um oitavo do preço. Tendo o comprador reiterado o
incumprimento, a falta de confiança que daí decorre justifica a aplicação das mesmas regras.

Deste modo, B poderia optar por duas vias: resolver o contrato ou exigibilidade
antecipadamente as prestações vincendas, por via da perda do benefício do prazo.

e.1) Primeiramente, é necessário determinar que estamos perante uma venda a prestações
cujo regime se encontra previsto nos art.º 934º e ss. O art.º 934º tem alguns requisitos,
nomeadamente:

1. Haver reserva de propriedade

Assim, segundo o art.º 409º/1 CC, B reserva para si a propriedade da coisa até ao
cumprimento parcial ou total das obrigações por parte de A.

- Cumprimento total: a propriedade está na esfera de B ao momento do incumprimento do


pagamento da prestação;

- Cumprimento parcial:

- A propriedade está na esfera de B ao momento do incumprimento do pagamento da


prestação;
OU
- A propriedade está na esfera de A ao momento do incumprimento do pagamento da
prestação.

2. Haver entrega

- Resolução

Para que haja lugar à resolução do contrato, tem de existir a falta de pagamento de
uma prestação que exceda a oitava parte do preço (125€ vs. 200€). Aqui, deixa de funcionar a

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restrição do art.º 934º, passando a valer o regime geral do art.º 801º/1 e 802º, caso se trate de
incumprimento definitivo total ou parcial. Neste caso, sendo o incumprimento parcial, deveria
averiguar-se se o cumprimento assume, ou não, importância suficiente, segundo o último
artigo.
É igualmente afastado o art.º 886º porque não houve transmissão da propriedade da coisa.

B fixa um prazo para A pagar a totalidade da dívida. Se esta não cumprir, passa a existir um
inadimplemento que não é parcial, mas sim total, não sujeito à regra do art.º 802º/2.

- Exigibilidade antecipada das prestações vincendas, por via da perda do benefício do prazo

B pode interpelar A, exigindo o pagamento das prestações vincendas (art.º 781º). A partir
desse momento, A entra em mora relativamente a todas as prestações não pagas (art.º 804º),
mora essa que se poderá transformar em incumprimento definitivo depois de decorrido o
prazo admonitório do art.º 808º.
Só após o incumprimento definitivo é que poderá ser pedida a resolução do contrato, em
alternativa à exigência do preço em falta (todas as prestações vincendas), acrescido dos juros
da mora (art.º 806º CC).
Pode igualmente recorrer à ação de cumprimento (art.º 817º).

e.2) A CV a prestações pode ser acordada com reserva de propriedade, mas sem entrega da
coisa. Neste caso não previsto no art.º 934º, ao vendedor é atribuída, em alternativa, a
faculdade de resolver o contrato nos termos gerais (art.º 801º) e a exigência das prestações
vincendas, sendo discutível que este último se deva conformar nos parâmetros do art.º 934º.

e.3) Tendo sido ajustada a CV a prestações sem reserva de propriedade e não tendo havido
entrega da coisa, a B cabe exigir as prestações vincendas. Quanto a este direito, pode aplicar-se
tanto o disposto no art.º 934º ou o regime geral do art.º 781º pelo que se preferir a primeira
via terá de se cumprir o requisito de a prestação ser superior a um oitavo do preço.
Quanto à resolução do contrato, o seu pedido depende somente do facto de se estar
perante um incumprimento definitivo nos termos gerais (art.º 801º e 808º).

f) Não é uma clausula penal, mas parece que não há dúvidas que se pode aplicar o art.º 935º.
O problema é que havendo incumprimento o vendedor tem duas alternativas, mas se resolve o
contrato, tal tem efeitos retroativos pelo que recebe de volta a coisa que vem desvalorizada.
Para acautelar esta situação, criaram-se clausulas penais. No entanto, começou a haver
clausulas que se tornavam excessivas e que formulavam brutas vantagens ao comprador.

Caso prático n.º 9

a) Estamos perante uma CV de bens alheios pelo que é de aplicar o regime previsto nos art.º
892º e ss. Para que ela se verifique é necessário que haja uma situação de alienação, por
alguém, como próprio, de coisa cuja titularidade pertence a terceiro, não tendo o vendedor
legitimidade para realizar a venda.
Assim, para que haja CV de bens alheios é necessário que haja sempre ignorância de uma
das partes a respeito da titularidade do sujeito em cuja esfera se deveria repercutir o ato de
alienação.
A coisa tem de se mostrar fora do comércio, específica e considerada como presente.

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M carecia de legitimidade para vender o armário a O. Alguns autores alegam não ter lugar a
aplicação do regime da venda de bens alheios no âmbito da representação sem poderes (art.º
268º e 269º) tendo o comprador a possibilidade de revogar ou rejeitar o negócio, enquanto o
proprietário o não revogar, salvo se no momento da celebração conhecia a falta de poderes do
representante na medida em que M admitiu não ser titular do bem, mas arroga-se de
legitimidade para o alienar (que não tem).
Segundo o entendimento do prof. Romano Martinez, o regime da representação sem
poderes não pode conduzir a uma solução diversa da estabelecida em sede de CV de bens
alheios porque parece desrazoável, em termos indemnizatórios, que quem tenha negociado
com quem finge ser titular de um direito sobre a coisa ou um falso representante do titular
fique em situações distintas. Assim, segundo o art.º 268º/4, depois de negada a ratificação por
parte de N, aplica-se o regime da CV de bens alheios.
Assim, aplicando o art.º 892º, o mesmo determina que esta CV é sancionada com uma
nulidade, não obstante ser uma nulidade com especialidades próprias.
Segundo a sistematização de Raul Ventura, como O estava de boa fé e M estava de má fé, só
comprador pode suscitar a nulidade e tem igualmente o direito de exigir a restituição integral
do preço.

- O que pode N fazer?


Para além de poder não ratificar o negócio à luz do art.º 268º, pode ainda, no entender do
prof. Pedro de Albuquerque intentar uma ação declarativa de ineficácia (ao contrário de Raul
Ventura que entende que deveria instalar uma ação de declaração de nulidade) porque assim
apenas terá de demonstrar a respetiva titularidade.
Segundo o prof. Pedro de Albuquerque esta nulidade não pode ser conhecida oficiosamente
e poder ser arguida por qualquer interessado (art.º 286º CC).

- O que devem O e M fazer?


Ao abrigo do art.º 289º/1 a coisa ser restituída a M - a quem procedeu à sua entrega - e não
a N (caso não seja possível ao valor correspondente) e M tem de restituir o preço a O. Já
segundo o art.º 290º determina a aplicação dos art.º 428º e ss. pelo que cada um deles tem a
faculdade de recusar a sua prestação enquanto o outro não efetuar a sua.
No entanto, nos casos de CV de bem alheio, existe um afastamento 289º na medida em que
o regime varia consoante o obrigado esteja de boa ou má fé. Neste caso, de acordo com o art.º
894º/1, como O estava de boa fé (não conhece nem devia conhecer a alienabilidade da coisa)
tem o direito de exigir a restituição integral do preço.

- O que pode O fazer?


De acordo com o art.º 898º, havendo boa fé de um dos contraentes (O) e dolo por parte do
outro (M), existe um dever de indemnização ao primeiro em virtude da nulidade do contrato.
Assim, este deverá ser ressarcido pelos prejuízos sofridos se o contrato fosse válido desde o
início. Como não houve convalidação, estes são aqueles que não teriam sucedido se o contrato
não tivesse sido celebrado (O é apenas indemnizado pelo interesse contratual negativo).
O art.º 899º estabelece em relação a M uma responsabilidade objetiva pelos danos
causados ao comprador, mas que não institui uma reparação integral.

b) Sempre que alguém vende bens de terceiro como próprio, vale o regime da CV de bens
alheios.

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- O que pode N fazer?


No entender do prof. Pedro de Albuquerque, pode intentar uma ação declarativa de
ineficácia (ao contrário de Raul Ventura que entende que deveria instalar uma ação de
declaração de nulidade) porque assim apenas terá de demonstrar a respetiva titularidade.
De acordo com o art.º 892º e com a posição do prof. Regente, esta nulidade não pode ser
conhecida oficiosamente e pode ser arguida por qualquer interessado (art.º 286º CC) e neste
caso N é-lo porque é o verdadeiro titular do bem alienado. No entanto, em alternativa à ação
declarativa de nulidade, N pode também fazer valer o seu direito de propriedade através de
uma ação de reivindicação (art.º 1311º) ou por via de uma ação de restituição da posse (art.º
1278º e 1281º).

c) Regime da compropriedade  1408º/2

d) Primeiramente, e quanto ao primeiro negócio jurídico celebrado entre M e N, estamos


perante um CPCV. A este respeito existe uma divergência doutrinária: Raul Ventura e Pedro de
Albuquerque entendem que o CPCV de coisa alheia deve ser admissível exceto se existir
convenção contrária à execução. Segundo o entendimento dos professores, o objeto deste
contrato não é impossível (porque o comprador pode adquirir a coisa até ao momento da
celebração do contrato definitivo), logo mesmo que M não chegasse a adquirir o objeto
prometido vender (a televisão) haveria mero incumprimento do contrato e não nulidade. A
doutrina maioritária entende que o CPCV de coisa alheia é sempre admissível
No caso concreto, e de acordo com o entendimento da regência, não tendo as partes
afastado a execução específica, este contrato é nulo. Assim sendo, de acordo com os art.º 286º
e 289º/1, tendo a declaração de nulidade efeitos retroativos, pode então N vender a televisão
a S pelo que este negócio é válido.
Quanto ao terceiro negócio jurídico celebrado entre M e R, as partes consideraram a
televisão como um bem futuro na medida em que M avisou a contraparte de que a televisão
ainda não era sua pelo que, de acordo com o art.º 893º, não é de aplicar aqui o regime da CV
de bens alheios, mas sim a CV de bens futuros, presente no art.º 880º.
No caso concreto, de acordo com o art.º 880º/1, M fica obrigado a exercer as diligências
necessárias para que R adquira a televisão. Quer isto dizer que M fica obrigada a adquirir para
si a televisão, dando-se a transferência da propriedade de forma automática para a esfera R
nos termos do art.º 408º. Se não o fizer por facto imputável responderá por inadimplemento;
no entanto, estamos perante uma impossibilidade total não culposa ou imputável a M pelo que
o efeito será a extinção do contrato e esta perde o direito à prestação bem como R tem direito
de exigir a restituição da sua prestação (art.º 795º/1) nos termos previstos para o
enriquecimento sem causa (art.º 479º/1).
Quanto à indemnização, uma vez que não existiu incumprimento culposo, R não tem direito
a ser indemnizado pelo interesse contratual positivo (como entende o prof. Pedro de
Albuquerque).

Caso prático n.º 10

a) Estamos perante um caso de compra e venda de bens onerados, cujo regime se


encontra previsto nos art.º 905º e ss., na medida em que existe um vício de direito: F,
que pensava ter adquirido a propriedade plena do apartamento que compra a J, vê
agora o seu direito limitado por um contrato de arrendamento que L possui.

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O art.º 905º CC tem como ratio proteger o comprador contra o risco de adquirir um
bem que não corresponde à representação que teve de acordo com o contrato. O que
importa saber é se esta limitação ao direito de F gerou uma diminuição do direito
transmitido e se, por isso, houve uma falta de correspondência entre o valor do bem
proposto no contrato e o valor efetivamente transmitido (vício de direito – o
comprador recebe menos em direito de quanto o vendedor estava obrigado a
proporcionar-lhe).
No caso, existiram irregularidade no bem vendido na medida em que o direito
obrigacional (locação – art.º 1022º e 1023º 1ª parte) geram um impedimento quer do
gozo quer da disposição deste por parte de F. Assim, o art.º 905º consagra a
possibilidade de anulabilidade do contrato por erro ou dolo desde que se verifiquem os
requisitos da anulabilidade.
Quanto a este aspeto, existe uma discussão doutrinária:

- PL e AV, MTS e ML entendem que devem então estar preenchidos os requisitos da


doutrina geral do erro e do dolo, ou seja, os presentes no art.º 247º e 285º CC pelo que
caberia F provar que se pretendia transmitir e adquirir um direito sem limitações;

- MC, RM e PA entendem que importam os requisitos do incumprimento porque o


erro a que este artigo alude não é respeitante à sua formação da vontade, mas sim à
execução do contrato pelo que se reconduz a uma hipótese de resolução.

O que pode F fazer?

1. Pôr termo ao (resolver) contrato. É necessário que haja desconhecimento do


facto por parte do mesmo e que a violação do dever obrigacional por parte de J seja de
tal forma grave que não permita a manutenção do negócio jurídico (art.º 802º/2 CC), o
que também ocorre, pelo que fica F desonerado de provar que se pretendeu transmitir
e adquirir um direito sem limitações.

2. Pode, em alternativa, optar pela convalescença do contrato (art.º 906º), ou seja,


sanar o vício de direito através da eliminação da limitação do direito. Tal deve ser feito
por J, pois foi quem vendeu o bem onerado sem a contraparte saber (art.º 907º/1 e 3)
no prazo fixado pelo tribunal a requerimento de F (art.º 907º/2).
Se J não o fizer, de acordo com o art.º 910º/1, deve pagar uma indemnização a F por
responsabilidade civil.

3. Cumulativamente, F pode ainda pedir uma indemnização.

- Caso haja dolo, isto é, culpa ou má fé ética por parte de J, ou seja, este sabia ou
devia saber da existência do arrendamento, F tem direito a receber uma indemnização
pelo interesse contratual negativo.
Caso não tenha igualmente havido cumprimento da obrigação de
convalescença do contrato por parte de J, poderá escolher entre a indemnização pelos

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lucros cessantes da celebração do contrato que veio a ser anulado ou pela não sanação
da anulabilidade.

- Caso não haja culpa por parte de J, F pode ser indemnizado pelos danos
emergentes do contrato.

b) De acordo com o art.º 906º/2, a anulabilidade persiste, isto é, mesmo depois de sanado o
vício de direito, pode ser requerida a resolução do contrato se já houver prejuízo causado por
esta limitação.
No entanto, estamos perante um ónus que não pode ser afastado por J pelo que se pode
apenas falar na redução do preço (art.º 911º/1 CC) desde que se demonstrasse que F teria
adquirido o imóvel mesmo que tivesse conhecimento da oneração aquando da formação da
sua declaração negocial. Esta redução é feita à luz do art.º 884º/1.
O art.º 911º/2 CC ressalva a hipótese de haver indemnização, mas o contrato subsiste.

c) O regime da CV de bens onerados só pode ser aplicado analogicamente, para CA e PMP,


quando a intenção do adquirente das participações sociais for a de obter o controlo da
empresa por via indireta que integram o contrato e conformam a obrigação de entrega pontual
do vendedor, justificando assim a aplicação ao caso dos artigos 905.º e 913.º do CC.
Em sentido contrário, AV, PRM que aplicam o regime da culpa in contrahendo porque
sempre que o alienante soubesse ou devesse saber do vício, devia prevenir o adquirente, sob
pena de ficar sujeito ao dever de indemnização, nos termos do disposto no artigo 227.º do CC.
Assim, a confirmação de quaisquer ónus que excedam os limites normais ou defeitos faz com
que as participações sociais não representam o valor esperado no capital social, pelo que se
verifica um problema na informação e, bem assim na formação do contrato.
Sendo J o único sócio desta sociedade por quotas, poder-se-ia igualmente recorrer ao
regime da desconsideração da personalidade jurídica da sociedade para atacar diretamente o
seu património.

Caso n.º 11

a) Estamos perante um caso de CV de um bem defeituoso. Segundo o art.º 913º/1, como


existia um vício que impedia a realização do fim para que é destinado (para além de outros,
fazer chamadas), é aplicável este regime. Neste caso, não serve o seu propósito normal (art.º
913º/2 CC).
Nos termos gerais, cabe ao comprador a prova do defeito (art.º 342º/1 CC) bastando
demonstrar o estado do bem e evidenciar a funcionalidade das coisas do mesmo tipo.
Para que este regime seja aplicável, é necessário que B não tivesse, no momento da
celebração do contrato, ciência do defeito (pois tal afastaria a garantia ou responsabilidade do
vendedor). Não obstante, existe uma presunção (ilidível por A segundo o art.º 799º/1 CC) no
sentido da ignorância do vício por parte de B pois, considerando o homem médio, o comprador
não pretende adquirir um bem com um defeito que lhe tira a aptidão para o seu fim normal.
Discutível seria o facto de A ter vendido o telemóvel por metade do preço. Como defende
MC a bitola para se aferir a qualidade do bem é o preço pelo que se poderia considerar que B
poderia saber deste defeito. Não obstante, trata-se de um telemóvel usado com bastante
tempo (A não lhe dava uso há mais de dois anos) logo pode considerar-se que o preço seria
justo e não meramente indicativo de possíveis defeitos associados a esse uso.

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Provado o defeito, há presunção de culpa (e má fé) do alienante nos termos do art.º 798º
CC. Presume-se também a essencialidade do erro.
Contudo, A alega que não sabia do vício do telemóvel, mas tal não é determinante para o
afastamento do regime da CV de bens defeituosos. No entanto, existe culpa in contrahendo por
parte de A (art.º 227º CC) por violação do dever de informação na medida em que A deveria
ter verificado o estado em que o telemóvel se encontrava à data da venda e comunicar a
situação a B.
Para aplicação do regime da CV de bens defeituosos, é preciso ter em conta a discussão
doutrinária sobre se estamos perante uma situação de erro ou inadimplemento:

- PL e AV, MTS e ML entendem que devem então estar preenchidos os requisitos da


doutrina geral do erro e do dolo, ou seja, os presentes no art.º 247º e 285º CC pelo que caberia
F provar que se pretendia transmitir e adquirir um direito sem limitações;

- MC, RM e PA entendem que importam os requisitos do incumprimento porque o erro a


que este artigo alude não é respeitante à sua formação da vontade, mas sim à execução do
contrato pelo que se reconduz a uma hipótese de resolução.

Segundo o entendimento de PA, B goza da possibilidade de não aceitar a coisa (art.º 763º
CC), alegar exceção de não cumprimento (art.º 428º CC), valer-se do regime da mora (art.º
804º CC), fixar um prazo admonitório e perder interesse na prestação (art.º 808º/1 2ª parte
CC), dar o contrato como não cumprido, resolver o contrato (905º CC se houver
desconhecimento por parte de B e art.º 802º/2 CC) e pedir uma indemnização.
Tratando-se de um defeito originário (existente à data da celebração do contrato) é de
aplicar o regime do art.º 914º CC pelo que B tem direito de exigir de A a reparação do
telemóvel ou a sua substituição na medida em que se trata de um bem fungível (art.º 207º CC)
e tal é necessária pois não desempenha as suas normais funções.
MC e PL e AV entendem que para que ambas as soluções possam ocorrer, é necessária a
existência de culpa, mas, por outro lado, PA entende que a ausência da culpa não leva ao
afastamento de nenhuma das obrigações. Não obstante, ambas as obrigações se pautam pelas
regras da boa fé (art.º 762º/2 CC) e pela proibição do abuso de direito (art.º 334º CC).
Para além da resolução, por força da remissão do art.º 913º/1 CC, B tem a possibilidade de
convalescença do contrato se desaparecer o defeito (art.º 906º/1 CC) pelo que o negócio não é
resolvido. Se A não convalescer o contrato conforme o art.º 907º, B terá direito à indemnização
prevista no art.º 910º/1.
B tem ainda a possibilidade de redução do preço, em alternativa à resolução (art.º 911º de
acordo com as regras do art.º 884º).
B poderá receber também uma indemnização por dolo (má fé ética de A pois esta devia
saber do defeito do telemóvel) que resulta da remissão do art.º 913º para o art.º 908º CC.
Deste modo, de acordo com o art.º 916º/1, B não terá de denunciar o defeito a A pelo que vale
o disposto no art.º 287º/1: tem um ano a contar do conhecimento do vício ou dolo para reagir.
Quanto restantes direitos atribuídos a B, PL e AV e MC entendem que se deve aplicar o
prazo geral de prescrição (art.º 309º CC - 20 anos), mas PA entende que se deve aplicar o art.º
916º/2 CC (salvo estipulação das partes - art.º 921º/2 CC).
No entanto, tratando-se de coisa que deve ser transportada, estes prazos só começam a
contar a partir do dia em que B receber o bem (art.º 922º CC).

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b) B pode pedir a anulação/resolução do contrato devido à remissão do art.º 913º/1 para o


art.º 905º. Deste modo, para que haja lugar à mesma, é necessário que se verifiquem 3
requisitos: o bem transmitido ter um defeito (neste caso o vício enunciado no art.º 913º/1),
que exista erro ou dolo (existiu dolo ou má fé ética na medida em que A devia saber do defeito)
e que se encontrem preenchidos os requisitos da “anulabilidade” (no entendimento de PA seria
necessário que houvesse desconhecimento por parte de B do defeito e que seja tão grave que
não permita a manutenção do negócio - art.º 802º/2 CC).
B tem igualmente direito a uma indemnização segundo o art.º 908º CC (por remissão do
art.º 913º CC) pelo interesse contatual negativo (de acordo com o entendimento de PA).
Quanto aos prazos, de acordo com o art.º 916º/1, B não terá de denunciar o defeito a A
pelo que vale o disposto no art.º 287º/1: tem um ano a contar do conhecimento do vício ou
dolo para reagir. Quanto à indemnização , PL e AV e MC entendem que se deve aplicar o prazo
geral de prescrição (art.º 309º CC - 20 anos), mas PA entende que se deve aplicar o art.º 916º/2
CC (salvo estipulação das partes - art.º 921º/2 CC).

Caso prático n.º 12

a) Estamos perante um caso de CV de um bem defeituoso. Segundo o art.º 913º/1, como


estamos perante uma falta de qualidades necessárias para a realização do fim a que se destina
na medida em que, embora P nada tenha prometido quanto às mesmas, resulta do contrato
que o bem se destina a uma finalidade que exige um aumento das qualidades normais da coisa
(personalização dos cartões).
Tratando-se de um defeito superveniente, não existente à data da celebração do contrato
(por ser uma coisa futura) pelo que se aplicava o regime dos art.º 798º e ss. bem como este
regime numa adaptação ao supramencionado.
Nos termos gerais, cabe ao comprador a prova do defeito (art.º 342º/1 CC) bastando
demonstrar o estado do bem. Para que este regime seja aplicável, é necessário que C não
tivesse, no momento da celebração do contrato, ciência do defeito (pois tal afastaria a garantia
ou responsabilidade do vendedor). Não obstante, existe uma presunção (ilidível por P segundo
o art.º 799º/1 CC) no sentido da ignorância do vício por parte de C pois, considerando o
homem médio, o comprador não pretende adquirir um bem com um defeito que lhe tira a
aptidão para o seu fim normal.
Provado o defeito, há presunção de culpa (e má fé) do alienante nos termos do art.º 798º
CC. Presume-se também a essencialidade do erro.
C pode recusar-se a ficar com os cartões, segundo o art.º 763 CC, pois se o credor não está
obrigado a receber uma prestação cuja quantidade é diferente da devida, também não pode
ser compelido a aceitar um cumprimento quando a qualidade da coisa seja diversa da
acordada.
C não pode, no entanto, recusar-se a pagar o remanescente devido ao que se infere do art.º
428º/1 a contrario na medida em que os prazos para o cumprimento das obrigações são
diferentes (uma vez que C já tinha pago metade do valor na ato da compra). No entanto, isto
tem de ser entendido num juízo de proporcionalidade: se os cartões estão mal impressos, C
não pode fazer nada com eles pelo que tem legitimidade a recusar-se a com eles.
Quanto à indemnização, esta pressupõe culpa do devedor (art.º 799º/1 CC) pelo que,
existindo um simples erro por parte de P, de acordo com o art.º 915º, a indemnização
prevista no art.º 909º não é devida no entender de uma parte da doutrina. Segundo PA, não
tendo de haver culpa para qualquer uma das hipóteses do art.º 914º CC, existe também a
possibilidade de indemnização pelo art.º 910º CC por remissão do art.º 913º CC.

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b) Tratando-se de um defeito superveniente, não existente à data da celebração do contrato


(por ser coisa futura) pelo que se aplicava o regime dos art.º 798º e ss. bem como este regime
numa adaptação ao supramencionado.
É de aplicar o regime do art.º 914º CC pelo que C tem direito de exigir de P a sua
substituição dos cartões na medida em que se trata de um bem fungível (art.º 207º CC) e tal é
necessário.
MC e PL e AV entendem que para que é necessária a existência de culpa, mas, por outro
lado, PA entende que a ausência da culpa não leva ao afastamento desta obrigação. Não
obstante, esta pauta-se pelas regras da boa fé (art.º 762º/2 CC) e pela proibição do abuso de
direito (art.º 334º CC).
Não tendo havido dolo, segundo o art.º 916º/1, C deve denunciar o defeito a P no prazo de
30 dias após o conhecimento do defeito e 6 meses após a entrega (n.º 2) pois estamos perante
um bem móvel (art.º 205º CC). Esta ação de anulação caduca ao fim de 6 meses (art.º 917º CC).
Segundo PA, a ação de substituição é uma ação de cumprimento, ou seja, C pede a
condenação de P na prestação devida pelo que uma vez que entende que não é necessária
culpa para que P seja obrigado a substituir os cartões, pelo que pode intentar uma ação para
cumprimento (art.º 817º CC).

Caso prático n.º 13

a) Estamos perante um caso de CV de um bem defeituoso. Segundo o art.º 913º/1, como


existia um vício que impedia a realização do fim para que é destinado (secar o cabelo), é
aplicável este regime. Neste caso, não serve o seu propósito normal (art.º 913º/2 CC).
Nos termos gerais, cabe ao comprador (A) a prova do defeito (art.º 342º/1 CC) bastando
demonstrar o estado do bem e evidenciar a funcionalidade das coisas do mesmo tipo.
Para que este regime seja aplicável, é necessário que A não tivesse, no momento da
celebração do contrato, ciência do defeito (pois tal afastaria a garantia ou responsabilidade do
vendedor). Não obstante, existe uma presunção (ilidível pela loja segundo o art.º 799º/1 CC)
no sentido da ignorância do vício por parte de A pois, considerando o homem médio, o
comprador não pretende adquirir um bem com um defeito que lhe tira a aptidão para o seu
fim normal.
Provado o defeito, há presunção de culpa (e má fé) do alienante nos termos do art.º 798º
CC. Presume-se também a essencialidade do erro.
De acordo com o disposto no art.º 918º CC, tratando-se este caso de um defeito
superveniente, isto é, que sobreveio após a celebração do contrato, embora se determine que
se devem aplicar as regras respeitantes ao não cumprimento das obrigações (art.º 790º e ss.
CC), tal não impede a aplicação dos art.º 913º e ss. nas particulares advenientes dos vícios.
Assim, A pode lançar mão da figura da convalescença do contrato, previsto no art.º 906º e
que assume duas vertentes previstas no art.º 914º CC: a reparação e a substituição da coisa. A
pretende a substituição da coisa, mas, no entanto, tal apenas é possível se se tratar de uma
coisa fungível (art.º 207º CC) e tal for necessário. Tendo a reparação da coisa sido oferecida
pelo vendedor deve, com base na boa fé, A aceitar a sua reparação.
No entanto, é dito que A deve pagar 20€ para que o secador possa ser reparado no
fornecedor da marca, mas, no entanto, de acordo com o art.º 4º/1 e 3 do DL n.º 84/2008, tal
não é possível pelo que o vendedor o deve fazer sem cobrar qualquer valor.
Se o vendedor não cumprir esta obrigação será responsabilizado, por remissão do art.º
913º, pelo disposto no art.º 910º CC no caso de dolo de dolo da sua parte, isto é, caso

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soubesse ou devesse saber da existência do vício num sentido de culpa; se assim não for, a
obrigação de indemnizar do art.º 909º CC não existe por força do art.º 915º pelo que deveria
ser esta a situação que se deveria aplicar ao caso concreto na medida em que já teriam
passado 7 meses desde a CV e o vendedor não teria maneira de poder fazer esse juízo.
Assim, não tendo havido dolo por parte do vendedor, é necessário que A lhe denuncie o
vício no prazo de 30 dias depois de conhecido o defeito e dentro de seis meses após a entrega
pois estamos perante uma coisa móvel (art.º 916º/1 e 2 + 205º CC) pelo que já nada poderá ser
feito.

b) Estamos perante um caso de CV de um bem defeituoso. Segundo o art.º 913º/1, como


existia um vício que impedia a realização do fim para que é destinado (secar o cabelo), é
aplicável este regime. Neste caso, não serve o seu propósito normal (art.º 913º/2 CC).
Nos termos gerais, cabe ao comprador (A) a prova do defeito (art.º 342º/1 CC) bastando
demonstrar o estado do bem e evidenciar a funcionalidade das coisas do mesmo tipo.
Para que este regime seja aplicável, é necessário que A não tivesse, no momento da
celebração do contrato, ciência do defeito (pois tal afastaria a garantia ou responsabilidade do
vendedor). Não obstante, existe uma presunção (ilidível pela loja segundo o art.º 799º/1 CC)
no sentido da ignorância do vício por parte de A pois, considerando o homem médio, o
comprador não pretende adquirir um bem com um defeito que lhe tira a aptidão para o seu
fim normal.
Exibindo então o vendedor o documento que comprova que A se comprometeu a adquirir o
secador no estado em que se encontrava, não existe lugar à aplicação deste regime (o que
resulta igualmente do art.º 2º/3 do DL n.º 84/2008).

c) No caso concreto, houve uma desconformidade com o contrato de acordo com o art.º 2º/1 e
2/d) do DL n.º 84/2008. Havendo esta desconformidade, de acordo com o previsto no art.º
3º/1 e 4º/1, a loja responde e A tem direito a que a conformidade seja reposta através de
reparação/substituição da coisa, redução adequada do preço ou à resolução do contrato.
Primeiramente, A pede a reparação do secador. Tratando-se de um bem móvel, o prazo de
garantia é de dois anos, contados a partir da data de entrega segundo o art.º 5º/1, pelo que,
tendo A feito o pedido após 7 meses, se encontra dentro do prazo. Assim, tem a loja 30 dias
para fazer a reparação (art.º 4º/2) sem qualquer encargo (art.º 4º/1 com as especificações do
art.º 4º/3).
Posteriormente, passado 1 ano e 2 meses desde a entrega do bem, pede a sua substituição.
Assim, tem igualmente a loja 30 dias para fazer a reparação (art.º 4º/2) sem qualquer encargo
(art.º 4º/1 com as especificações do art.º 4º/3).
Por fim, pede a resolução do contrato, 2 anos e 2 meses após a entrega. De acordo com o
art.º 5º/6, já tendo havido substituição do bem móvel, o prazo de garantia é de igualmente de
dois anos, contados a partir da data de entrega, ou seja, o novo bem goza de um novo prazo de
garantia. Assim, não tem razão a loja quando alega que já havia passado o prazo de garantia
bem como quanto ao facto de o aparelho estar totalmente destruído porque este direito,
segundo o art.º 4º/4, pode ser exercido mesmo que a coisa tenha perecido ou se tenha
deteriorado por motivo não imputável ao devedor.

d) De acordo com o previsto no art.º 4º/6, os direitos previstos no n.º 1 desse artigo são
transmissíveis a um terceiro adquirente do bem pelo que B poderá exigir as responsabilidades
à loja.

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No entanto, tratando-se de uma venda entre dois particulares, não se encontra esta
situação abrangida pelo âmbito de aplicação do DL n.º 84/2008 (art.º 1º-A/1) pelo que é
necessário recorrer ao regime geral do compra e venda de bens defeituosos prevista no CC.
Assim, de acordo com o art.º 913º/1 CC, sofrendo a coisa de um vício que impede a
realização do fim a que é destinada, de acordo com o art.º 914º, tem B o direito de exigir a
reparação ou a substituição do bem a A assim como a resolução do contrato, redução do preço,
etc. Não existe dolo porque não há lugar a indemnização devido ao art.º 915º CC.
Caso prático n.º 21

Cabe, primeiramente, saber qual o tipo de contrato celebrado entre S e T.


Este é um contrato de empreitada na medida em que T se obrigou a realizar determinada
obra (a realização do parecer) mediante uma remuneração, sem subordinação de S, embora
esteja obrigado ao resultado ajustado.
Primeiramente, é necessário determinar se estamos perante uma obra. Assim relativamente
ao objeto, não é consensual na doutrina a admissão de uma obra intelectual/artística ser
objeto de um contrato de empreitada.
PL e AV, Romano Martinez, ML entendem que a noção de obra abrange apenas um
resultado material pelo que se a obra intelectual for incorpórea, não se aplica este regime pois
está pensado para coisas corpóreas, caso contrário, alguns direitos como os previstos nos art.º
1209º e 1212º CC não se conseguiriam fazer valer. O objeto do contrato é a produção da obra e
não o suporte físico. ML chega mesmo a apontar que o que estamos perante é um contrato de
encomenda de obra e não um contrato de empreitada e Romano Martinez classifica estes
contratos como de prestação de serviços atípicos, sendo-lhes aplicado o regime do mandato
como resulta do art.º 1156º CC.
Já Ferrer Correia, Henrique Mesquita e PA entendem que, para haver empreitada, têm de
estar preenchidos os seguintes requisitos apresentados pelo último autor:
- O resultado tem de se exteriorizar numa coisa concreta, corpórea ou incorpórea, suscetível
de ser entregue e aceite;
- O resultado tem de ser passível de se separar do processo produtivo;
- O resultado tem de ser concebido e alcançado em conformidade com um projeto.
Assim, não se aplica o contrato de empreitada pelo que estamos perante um contrato de
prestação de serviços atípico que segue o regime do art.º 1156º CC, ou seja, o do mandato.

No entanto, se se entendesse que mesmo assim se aplica o contrato de empreitada, é


possível afirmar que houve um defeito na realização da obra na medida em que T entregou
pronta a obra que não foi realizada nos termos devidos, ou seja, com desconformidade na
medida em que houve uma discordância em relação ao acordado entre as partes. Cabe a S
provar a existência do defeito (art.º 342º/1 CC).
De acordo com o art.º 1218º/1 CC cabe ao dono da obra (S) verificar, antes de a aceitar, se
ela se encontra nas condições convencionadas e sem vícios. Não tendo tido S esta diligência, tal
importa a aceitação da obra pelo art.º 1218º/5 CC.
Isto traduz-se num incumprimento definitivo e não em mora porque o legislador só
estabelece consequências mais gravosas do incumprimento depois de preenchidos os
requisitos do art.º 808º CC e porque o art.º 1218º/2 contempla que a mora quanto à
verificação não importa transferência do direito de propriedade, mas a assunção do risco
porque, nos termos do art.º 1212º, a transferência da propriedade é uma consequência da
aceitação.

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O prazo para efetuar a verificação, não tendo sido definido pelas partes nem nos usos, deve
ser determinado pelo tribunal. O lugar de verificação é aquele onde a obra se encontra ao
tempo em que ela vai ser feita, ou seja, do escritório de T.
A aceitação da obra foi, neste caso, presumida por lei de acordo com o art.º 1218º/5 CC.
Assim, de acordo com o art.º 1212º/1 CC, tendo maior parte dos materiais sido fornecidos por
T, a aceitação importa a transferência da propriedade para S.
De acordo com o art.º 1219º/1 e 2, não tendo havido reservas, T é liberado de
responsabilidade pelos defeitos da obra pois estamos perante um defeito aparente, na medida
em que S se deveria ter apercebido da sua existência usando a normal diligência pois a própria
era advogada e facilmente teria dado contra da desconformidade.
Assim, como consequência da aceitação, S tem o dever de pagar o preço a T.

Caso prático n.º 22

a) Sabendo que para a instalação de um sistema de aquecimento central é necessário que as


canalizações se encontrem em boas condições, é possível afirmar que estamos perante
alterações necessárias ao plano convencionado nos termos do art.º 1215º CC.
Esta alteração, ao contrário do que acontece nos art.º 1214º e 1216ºCC, não é voluntária na
medida em que se deve a fatores externos ao contrato pelo que não há iniciativa das partes. O
art.º 1215º CC determina que pode ocorrer quer por direitos de terceiro quer por regras
técnicas sendo que, neste caso, estamos perante a segunda hipótese na medida em que V se
apercebe que os canos afinal são impróprios para a instalação do sistema e,
consequentemente, para a perfeita execução da obra.
V informa, assim, S de que vai proceder à substituição da canalização pelo que houve um
esforço de V em tentar obter um acordo por parte de S pelo que PA considera que não tal pode
merecer o mesmo tipo de tratamento como no caso em que V não tenta chegar a esse acordo.

(Não é aqui aplicável o DL 67/2003 de 8 de abril na medida em que, de acordo com o art.º
1º-B/a) do mesmo diploma, o bem tem de ser destinado a uso não profissional, o que não
ocorre aqui na medida em que se trata de um escritório que se destina à prestação de serviços
jurídicos de S.)

Caso não seja exigível a substituição da canalização:


Seria aqui de aplicar o art.º 1217º/1 na medida em que esta obra tem autonomia em
relação às previstas no contrato porque S podia ter contratado alguém para substituir a
canalização. Por isso, se tem autonomia, tem de ser celebrado um contrato novo entre as
partes que não foi e, por isso, não autorizada.

b) V tem a possibilidade de começar a executar as alterações na medida em que lhe pareçam


necessárias para que a paragem nos trabalhos não lhe acarrete maior prejuízo.
Não tendo S aceitado estas alterações, segundo PL e AV, que aplica o regime do art.º 1214º
a este caso, a obra é tida como defeituosa pelo que pode recorrer a qualquer um dos
mecanismos dos art.º 1218º e ss. Já PA entende que se V proceder a alterações sem a
autorização de S, este deve ser ressarcido do preço na totalidade.

Caso não seja exigível a substituição da canalização:

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S podia então recusar bem como exigir a eliminação (repor a canalização) e pedir uma
indemnização pelos prejuízos sofridos conforme consta do art.º 1217º/2 CC.

Caso prático n.º 23

a) No caso concreto, estamos perante um defeito oculto na medida em que apenas um ano
depois da mesma se verificou o empolamento das tábuas do soalho. Segundo Romano
Martinez, a responsabilidade do empreiteiro subscreve também estes defeitos na medida em
que o prejuízo é consequência direta do incumprimento defeituoso realizado por si.
Sabendo X que o soalho de madeira instalados em locais húmidos empolam com o passar do
tempo, deveria ter realizado as diligências necessárias para evitar que tal acontecesse pelo que
deve ser responsabilizada ao abrigo deste regime, nomeadamente por responsabilidade
contratual (onde se presume a sua culpa segundo o art.º 799º/1 CC).
Para este efeito, S exige a eliminação do defeito podendo fazê-lo nos termos do art.º 1221º
CC. Cabe a X avaliar se os defeitos são ou não supríveis pois é ela quem tem a arte e o
conhecimento. Assim, se for eliminável, segundo a primeira parte do n.º 1, tem S o direito de
exigir a sua eliminação; se não for, de acordo com a segunda parte do preceito, tem o direito
de exigir nova construção na medida em que continua adstrita à prestação de facto positivo.
Tudo será desta forma desde que tal não seja desproporcional em razão do proveito, caso em
que os direitos caducam segundo o n.º 2.
X pode ainda ser responsabilizada civilmente de acordo com o art.º 483º CC na medida em
que houve, da sua parte, um desrespeito pelo direito absoluto de Z. No entanto, X só é
responsabilizada se (para além dos restantes requisitos) houver culpa tendo de ser provada nos
termos do art.º 487º/1 CC de acordo com o critério fixado pelo n.º 2 do mesmo artigo.

A fiscalização da obra tem o significado jurídico específico previsto no art.º 1209º CC. A
hipótese não diz, mas conseguimos deduzir porque dizemos que é durante a execução dos
trabalhos. Analisando o conteúdo da cláusula com o art.º 1209º, estarão as partes a afastar o
poder de fiscalizar os trabalhos? Há autores que entendem que isto é um elemento
qualificador do contrato de empreitada logo não pode ser afastado sob pena de se
desqualificar o contrato; outros entendem que pode ser afastado.
A cláusula tanto pode ser interpretada como afastadora da fiscalização da obra, mas TSF acha
que pode não ser assim porque as partes podem estar a concretizar como é que a fiscalização
pode ser feita (apenas quando os trabalhos decorrem e não sempre). Se assim fosse, o
problema de afastamento do poder de fiscalização não se colocava.

É relevante determinar se o defeito é oculto porque não se manifestava quando a obra foi
aceite segundo uma apreciação bonus pater família. O soalho só ficou empolado mais tarde
por isso por mais detalhe que S tivesse, nunca iria identificar a situação. Por isso, a presunção
do art.º 1219º não se aplica por isso caberia a S demonstrar o defeito (art.º 1218º). Se a
demonstração for feita, presume-se a culpa do empreiteiro (art.º 799º CC).

O empreiteiro tem ou não tem culpa? Art.º 1208º CC – “em conformidade com o que foi
convencionado”: significa colocar as tábuas de madeira ou mais do que isso? Mais porque o
legislador não está a bastar-se com um cumprimento formal da prestação porque senão estava
cumprida porque quando foi colocada não havia qualquer defeito. Quer-se um cumprimento
substancial, ou seja, que vá de encontro aos interesses do credor, ou seja, que o soalho se
mantenha inalterado em situações normais (legis artis).

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Quem coloca soalhos deve certificar-se que o local está em condições de receber esse
material o que implica com as legis artis assegurar-se a reação do material onde foi colocado. A
madeira é um material que reage ao calor e ao frio por isso é expectável que essa perturbação
não seja ao ponto de empolar.
Se o soalho quando foi colocado, o solo foi devidamente impermeabilizado, o empreiteiro
não é responsabilizado; se não, tem responsabilidades, que parece que é o que acontece neste
caso pelo que se aplica o regime do cumprimento defeituoso.

b) S apenas pode exigir a resolução do contrato se o defeito não ter sido eliminado ou a obra
não tiver sido construída de novo e se o defeito torna a obra inadequada ao fim a que se
destina. Para além disso, é necessário que haja gravidade da falta nos termos do art.º 802º/2
CC a contrario e que a obra se tenha tornado inapropriada para o seu fim (que neste caso se
deveria ter em conta o fim normal decorrente de obras da mesma natureza) e ambos estão
preenchidos - estando o chão empolado não serve para que as pessoas possam andar sobre
ele.
Como o regime da resolução não está especificamente previsto em sede de defeitos da
obra, segue o regime geral do art.º 432º e ss. Deste modo, a resolução opera por comunicação
à contraparte (art.º 436º/1), sem sujeição a forma específica (art.º 219º). Para além disso
possui efeitos retroativos (art.º 434º) e equipara-se à nulidade e anulabilidade (art.º 433º e
289º e 290º).
De acordo com o art.º 1224º/2, como os defeitos eram desconhecidos de S e esta aceitou, o
prazo de caducidade (1 ano – 1224º/1) conta-se a partir da denúncia sem nunca poderem
correr mais de 2 anos desde a entrega da obra. S poderia exercer este seu direito.
Tratando-se de coisa móvel onde tivesse ocorrido a transferência da propriedade da obra e
dos materiais (art.º 1212º/1) e por a resolução operar retroativamente, as transferências de
direitos são destruídas e a obra retorna à propriedade de X se tiver fornecido os materiais na
maior parte (se S tiver fornecido materiais de forma minoritária tem direito à restituição ou ao
seu valor). Caso S tenha fornecido maior parte dos materiais, a obra não deixa de ser dela (art.º
1212º/1 fim).
No caso, é explicitado que S pede que o contrato seja resolvido em alternativa à eliminação
do defeito pelo que tal não é possível.
Apenas em incumprimento desta obrigação pode haver resolução do contrato e, nesse caso,
segundo o art.º 289º/1, pode ser restituído o que já foi pago por S. Não sendo assim, S tem de
pagar o preço.

Caso prático n.º 24

a) Cabe, primeiramente, decidir perante que tipo de contrato estamos. Procedendo-se à


eliminação de algumas figuras, é possível inferir que não estamos perante um contrato de
cessão contratual na medida em que se transfere um direito para um terceiro e o cedente
deixa de ser parte no contrato. Também não estamos perante um contrato de trabalho porque
o prestador de serviços fica numa relação de subordinação quanto a uma obrigação de meios,
ou seja, à prestação do seu trabalho, nem mesmo perante uma compra e venda porque não
está em causa uma prestação de dare.
Existe sim um contrato de subempreitada (art.º 1213º/1 - definição) na medida em que
subsiste aqui o vínculo inicial entre o empreiteiro e o dono da obra (art.º 264º/2), apenas se
gera um novo contrato, e, por conseguinte, um novo direito que origina uma sobreposição de

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sujeitos. O subempreiteiro está obrigado a uma prestação de resultado, ou seja, à elaboração


de uma obra (uma prestação de facere).
A subempreitada decorre da figura do subcontrato, ou seja, um contrato celebrado para a
realização de trabalhos necessários à própria obra. Neste caso, tratar-se sobretudo da
especialização técnica que B detém sobre caldeiras na impossibilidade um único empreiteiro
realizar todas as valências de uma obra (nomeadamente porque é ainda necessário a
substituição das telhas partidas e com fissuras).
Não obstante, o contrato de empreitada e subempreitada são subordinados um ao outro,
(mas nem por isso são fundidos) embora partilhem parcialmente o mesmo objeto e finalidade.
Nesta ótica, fica o empreiteiro que celebre uma subempreitada na posição de dono da obra
face ao subempreiteiro pelo que tal permite que o regime da empreitada se aplique ao
contrato de subempreitada.
Após as considerações gerais, é necessário determinar se o contrato de subempreitada
seria admissível. O art.º 1213º/2 determina que é aplicável o art.º 264º. Fala ainda do concurso
de auxiliares que não era aqui o caso na medida em que os auxiliares são, no entender de PA,
meros prestadores de apoio material ao empreiteiro enquanto este executa, por si, as
obrigações assumidas perante o dono da obra. B é um substituto na medida em que toma a
posição de A na execução de parte da obrigação principal, neste caso, da colocação das
caldeiras.
Assim é de aplicar o n.º 1 do art.º 264º/1 que trata respetivamente dos substitutos do
procurador (ao contrário do n.º 4 que trata especificamente dos auxiliares). Este preceito
admite a substituição do empreiteiro através de três critérios que PA aponta:

- O dono da obra a aceitar - o caso é omisso quanto a este ponto. No entanto, por força
dos usos, tem-se entendido que o dono da obra não pode recusar sem motivo justificado (ex.:
pela infungibilidade da prestação) a subcontratação. Por isso, PA entende que houve uma
superação normativa por obsolescência e que por isso, atualmente, a norma do art.º 1213º/2
já não tem aplicação nos termos em que se encontra, mas sim no supra descritos.
Não sendo a prestação infungível, ou seja, não sendo A contratado pelas suas qualidades
pessoais, não parece poder haver nenhum motivo de recusa por parte de S;

- O contrato de base o permitir - atualmente, existe uma habilitação tácita do recurso a


subempreiteiros, exceto se mais uma vez se demonstrar (demonstração essa que cabe ao dono
da obra) que o contrato foi celebrado em função das particulares qualidades do empreiteiro. Já
tendo concluindo pela negação da exceção, está o requisito preenchido;

- Se isso for necessário para a execução do contrato - devido à especialização técnica que
B detém sobre caldeiras na impossibilidade um único empreiteiro realizar todas as valências de
uma obra (nomeadamente porque é ainda necessário a substituição das telhas partidas e com
fissuras).

No caso em concreto, B obrigava-se a produzir e a colocar a caldeira. No entanto, ocorreu


um incêndio de origem criminosa na sua fábrica que fez com que as caldeiras feitas se tivessem
derretido.
O art.º 1228º/1 menciona o risco de perda e deterioração da obra que corre pelo
proprietário que nos é dito pelo art.º 1221º/1, ou seja, B.
Assim, B está ainda vinculado à prestação pelo que deve fornecer novas caldeiras. Por este
motivo, A não terá direito à devolução dos 1500€ já pagos.

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b) Art.º 1210º/2 – se as partes não disserem nada os materiais não podem ser de qualidade
inferior à média. Por isso não pode exigir do dono da obra o remanescente do preço se instalar
melhores, a menos que peça a revisão do preço.
No entanto, A recusa-se a pagar qualquer valor. B pode exercer direito de retenção. O art.º
754º refere-se a “despesas feitas por causa dela” e, neste caso, estamos perante de construção
associadas à colocação das caldeiras.
O direito de retenção tem como objetivo repor o equilíbrio contratual na medida em que B
deve ser pago pelo sacrifício suportado. Isto significa que pode usar as defesas possessórias
contra A de acordo para o art.º 758º que remete para o art.º 670º/a) – o direito de crédito de B
tem prioridade sobre os créditos comuns.
No entanto, é discutido se o direito de retenção pode ser exercido sobre coisa própria, ou
seja, se a empreitada de coisa móvel for construída com bens do empreiteiro, como era aqui o
caso (art.º 1212º/1). RM e GT entendem que o direito de retenção só pode ser exercido sobre
coisa alheia, mas PA e ML entendem que pode existir direito de retenção sobre coisa própria e
traçam um paralelo com o art.º 871º/4.

c) Segundo o art.º 800º/1 CC, A permanece inteiramente responsável perante S por todos os
defeitos da prestação de B, mesmo que decorram por exclusiva culpa deste último. Como A foi
chamado a responder, existe direito de regresso do mesmo perante B.
No entanto, PA entende que não deve haver direito de regresso se A aceitou a prestação de
B sem reservas, existindo defeitos aparentes dessa prestação que posteriormente forem
detetados e denunciados por S. No caso em questão estávamos perante um defeito aparente
na medida em que, com um exame diligente, A rapidamente se aperceberia do defeito
existente.
Se mesmo assim se admitisse o direito de regresso, é exigida uma comunicação de S a A no
prazo de 30 dias a partir do momento da entrega da obra ao dono da obra (S).
- Ação de cumprimento
- Redução do preço

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