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Grupo I
António, comerciante do ramo automóvel, celebrou um contrato-promessa de compra e venda com Bento,
advogado, relativo a uma fracção autónoma de um prédio sito em Lisboa. O mesmo contrato-promessa
veio ser incumprido por António, havendo Bento, a quem as chaves do imóvel tinham sido entregues por
António, exercido direito de retenção sobre a fracção.
Um mês mais tarde, António vendeu o imóvel a Carlos, que desconhecia a situação de Bento. Foi ainda
clausulado entre as partes que a fracção seria entregue a Carlos no estado físico em que se encontrava,
bem como que António poderia por termo ao contrato, por sua livre vontade, num prazo de dez anos,
deste que restituísse a Carlos o preço pago, acrescido da taxa de juro aplicável às operações civis.
Por sua vez, beneficiando de um erro registal, Bento vendeu a fração autónoma a Daniel, proprietário de
uma empresa de produtos informáticos, que para esta se pretende mudar na próxima semana. Em
simultâneo, Daniel vendeu a Bento um computador topo de gama, que lhe deverá ser entregue no final do
mês de Janeiro.
a) Pode Carlos anular o contrato de compra e venda celebrado com António, sete meses após tomar
conhecimento da retenção da fração por parte de Bento? (2 valores)
Retenção do promitente-comprador ex vi o disposto no art. 755.º, n.º 1, al. f). Enquadramento da
situação enquanto venda de bem onerado, nos termos do disposto no art. 905.º. Prazo de
anulação apurado ex vi o disposto no art. 287.º, n.º 1, com exclusão do disposto no art. 916.º, n.º
2.
b) Não o fazendo, e vindo a tomar conhecimento, depois, de graves infiltrações na fracção
autónoma, pode Carlos solicitar a António o respectivo arranjo e limpeza de tectos e paredes? (2
valores)
Exclusão de venda de bem de consumo e da aplicação do disposto no DL 67/2003 – cfr. art. 1.º-
B, alíneas a) e c). Venda puramente civil, com aplicação do disposto nos arts. 913.º e 914.º a
respeito dos defeitos da coisa. Exclusão da reparação da coisa por vontade das partes (cláusula
de não garantia).
c) Pode António resolver o contrato celebrado com Carlos três anos volvidos, recusando-se a pagar
a este qualquer quantia? (3 valores).
Enquadramento da situação enquanto venda a retro. Nulidade de duas cláusulas, com redução e
conversão legal: 928.º, n.º 1, 929.º, n.ºs 1 e 2. Possibilidade de resolução nos termos do disposto
nos arts. 927.º e 930.º, com devolução do preço recebido (e despesas que não juros).
d) Daniel é proprietário do imóvel? Que direitos pode este exercer contra Bento? (3 valores).
Venda de bem alheio ex vi o disposto no art. 892.º. Situação jurídica plúrima: direito à
restituição do preço, à convalidação do contrato (com indemnização por não convalidação) e a
indemnização nos termos gerais – cfr. arts. 893.º, 897.º e 900.º e 898.º.
e) O computador vendido por Daniel a Bento não possui quatro teclas, o que foi descoberto por este
logo após a sua entrega. Pode Daniel solicitar a Bento a restituição do preço pago pelo aparelho?
(2 valores)
Venda de bem de consumo. Resolução do contrato como uma dos direitos hipotéticos do
comprador ex vi o art. 4.º do DL 67/2003, e nos moldes dos arts. 432.º e ss. do CC. Questão do
abuso de direito na petição imediata da resolução (que a excluirá).
Grupo II
Alberto celebrou com Bernardo um contrato, nos termos do qual este se obrigava a construir uma moradia
num terreno que era propriedade daquele. Para o efeito, Alberto pagaria a Bernardo a quantia de €
150.000, devendo a obra estar concluída no dia 27 de Dezembro de 2010.
Apesar de estar muito empenhado na realização da obra e no cumprimento integral do plano, Bernardo
discordava da colocação de soalho no piso superior da moradia. Segundo ele, não se justificava por duas
razões: i) o revestimento a azulejo ficava muito mais em conta; e ii) não tinha competências técnicas para
a colocação do soalho (o que o levaria a ter que contratar mão-de-obra especializada para o efeito).
Para além disso, não sendo a electricidade “a praia” de Bernardo, este decidiu contratar Cristiano para que
este fizesse as instalações eléctricas na moradia. Ficou acordado que Bernardo pagaria € 2.000 para o
efeito. Bernardo não pagou.
A obra foi entregue no dia 27 de Dezembro de 2010. No dia 24 de Dezembro de 2015, quando Alberto
desfrutava da sua bela ceia de Natal com a família, o insólito aconteceu: parte do telhado ruiu. Por sorte a
noite não estava chuvosa, mas não se livraram do frio que se propagou por toda a casa. No dia 25 de
Dezembro, Alberto ligou a Bernardo exigindo que Bernardo fosse eliminar o defeito. Bernardo, indignado
com o tom de Alberto em plena quadra natalícia, riu-se da situação e disse: “Recuso-me. E não te
esqueças, só tens dois dias para me obrigar a fazer o que queres. Boa sorte!”. Alberto tentou de imediato
ligar a Dinis, seu advogado, vendo a sua tentativa frustrada. Decidiu mandar um email, obtendo resposta
imediata (automática): “Não me encontro disponível até dia 3 de Janeiro, visto ter ido passar férias à
neve. Caso tenha algum problema, aguarde até essa data. Agradeço a compreensão”. Alberto ficou
desesperado e sem saber o que fazer.
a) Pode Bernardo colocar azulejo em vez de soalho? Em que termos e quais as consequências
(designadamente no que respeita ao pagamento do preço)? (3 valores)
Identificação no caso de alterações da iniciativa do empreiteiro (em princípio, vedadas
(1214.º/1)). Só com autorização do dono da obra pode o empreiteiro fazer tais alterações: o
empreiteiro deve efectuar proposta nesse sentido ao dono da obra (406.º/1). Identificação do
carácter excepcional das exigências de forma do artigo 1214.º/3 (para que o dono da obra tenha
direito à redução do preço, não é necessário que conste da autorização por escrito a indicação
da redução do preço, podendo ser verbal).
c) O que diria a Alberto relativamente aos defeitos que se manifestaram na data de 24 de Dezembro
de 2015? Seria ainda possível fazer valer os seus direitos face a Bernardo? (3 valores)
Desenvolvimento do regime da responsabilidade do empreiteiro por defeitos da obra (1219.º e
ss.). Aplicação do artigo 1225.º e crítica à communis opinio que vê no prazo de 5 anos fixado no
artigo 1225.º um prazo de exercício de direitos e não um prazo de manifestação de defeitos.
Estamos perante uma situação de cumprimento defeituoso de um contrato, revelando-se esse
cumprimento defeituoso antes do final do período estabelecido no artigo 1225.º. O prazo de
denúncia dos defeitos é de um ano (1225.º/2 e 3), sendo o momento determinante para o início
da contagem do prazo de denúncia o do conhecimento do defeito pelo dono da obra (1220.º). O
prazo de caducidade do direito de acção é de um ano a contar da denúncia (1225.º/2 e 3).
Assim, pode o direito de acção ser exercido mesmo passados 5 anos sobre a entrega da obra.
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
TÓPICOS DE CORREÇÃO
Grupo I
Anabela vendeu a Beatriz o seu automóvel ligeiro de passageiros, pelo preço de € 20.000,00, a ser
liquidado em dez prestações mensais de idêntico valor, de € 2.000,00 cada. O automóvel foi entregue a
Beatriz no momento da celebração do negócio, por simples documento particular. Convencionaram que o
atraso no pagamento de qualquer prestação implicaria que Beatriz perdesse as prestações entretanto
liquidadas e permitiria a Anabela resolver o contrato.
3) Uma semana após a celebração do negócio entre Anabela e Beatriz, o automóvel apresenta graves
problemas mecânicos. Beatriz recusa-se a liquidar as prestações em falta enquanto Anabela não
custear a reparação do automóvel. Quid iuris?
Qualificação do negócio como uma venda de coisa defeituosa (art.º 913.º). Enquadramento da
tutela de B perante o desconhecimento sem culpa por A do vício do automóvel (arts. 914.º e 915.º).
Garantia do bom funcionamento (921.º). Procedência da exceção de não cumprimento (432.º) da
obrigação de pagamento do preço perante o cumprimento defeituoso da obrigação de entrega da
coisa, se o vício for imputável ao vendedor. Caso contrário, estaremos perante um problema de
risco (796.º/1), que recai sobre B.
Grupo II
Em agosto de 2018, Alberto acordou com Bruno, mecânico, que este lhe repararia o automóvel que aquele
adquiriu a Carlos, sob reserva de propriedade, no início do presente ano. A reserva de propriedade foi
devidamente registada e o preço fracionado em 40 prestações iguais e sucessivas.
1) Não foi fixado qualquer preço. Pode o mesmo ser determinado por David, amigo comum de
ambos? E pode, pura e simplesmente, não ser fixado qualquer preço?
O preço, sendo elemento essencial do contrato de empreitada, não tem que estar necessariamente
determinado (arts. 1211.º/2 e 883.º). A determinação pode ser feita por terceiro, nos termos do
art. 400.º. O preço é elemento essencial do contrato, pelo que na falta de estipulação de preço, ,
haverá um contrato atípico (que poderá ser, por exemplo, uma prestação de serviço gratuita).
2) Alberto decidiu que, para ter mais conforto, queria que o mecânico colocasse novos estofos no seu
automóvel. Bruno, que não tinha conhecimentos técnicos para o efeito, decidiu contratar Ernesto,
especialista na arte. Bruno não pagou a Ernesto o preço combinado. Poderá Ernesto exigir o
pagamento a Alberto?
Identificação do regime das alterações exigidas pelo dono da obra (art. 1216.º) e dos respetivos
limites quantitativo e qualitativo. Discussão em torno da admissibilidade da subempreitada
(artigo 1213.º) e da existência de relações diretas entre subempreiteiro e dono da obra quanto ao
pagamento do preço. Tomada de posição fundamentada.
3) Bruno falece deixando um filho — Francisco — sobrevivo. Francisco, advogado, não sabe o que
fazer com o automóvel de Alberto. Esclareça-o.
4) Alberto não pagou a Bruno nem a Carlos. Bruno pretende, por isso, reter a coisa até ser pago.
Carlos opõe-se, afirmando que o automóvel lhe pertence e que nada tem a ver com o contrato
celebrado. Quem tem razão?
(10 valores)
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Grupo I
Grupo II
Carlos e Dinis acordaram que este construiria àquele uma moradia de três andares e uma
bela piscina pelo valor de 1.000.000,00 €.
b) Dinis contratou Felisberto para a instalação das janelas. Após a aceitação da obra,
Carlos descobriu que as janelas tinham sido deficientemente colocadas e ainda
que Dinis tinha recorrido a Felisberto para o fazer. Exige agora que Felisberto as
repare. Pode fazê-lo? (4 valores)
Grupo I
Em Novembro de 2017, Abel vendeu a Bernardo um colar de ouro branco com diamantes
incrustados pelo preço de 12.000€, tendo Abel reservado para si a propriedade do colar até
ao integral pagamento do preço. O preço do colar devia ser pago em oito prestações mensais
de 1.500€ cada, sendo a primeira devida em Novembro de 2017 e a última em Junho de 2018.
Em Dezembro de 2017, Bernardo decide vender e entregar o colar a Carlos que o queria
oferecer de presente à sua noiva Eliana. Abel fica furioso ao descobrir este negócio de
Bernardo e decide, por isso, vender o mesmo colar a Daniel (ex-namorado de Eliana), que
agora o pretende reivindicar a Carlos. Entretanto, Bernardo não pagou a prestação de
Janeiro no dia acordado e Abel quer aproveitar essa situação para lhe exigir o pagamento de
todas as prestações devidas até Junho. Quid iuris?
a) Imagine agora que Bernardo não beneficiou da entrega da coisa e Abel quer resolver
o contrato celebrado com Bernardo ou, em alternativa, exigir antecipadamente todas
as restantes prestações. Quid iuris?
b) Suponha agora, para efeitos desta alínea b), que Bernardo era o pleno proprietário
do bem quando o decidiu vender a Carlos. Carlos, tendo previamente usado todas as
suas poupanças para comprar livros de Direito para estudar para os exames, decide
pedir um empréstimo ao Banco Facilitador para comprar o colar. O Banco
Facilitador aceita financiar Carlos mas pretende reservar a propriedade do bem para
si até ao pagamento integral do mútuo. Quid iuris?
Qualificação do negócio jurídico celebrado entre Abel (A) e Bernardo (B) como uma compra
e venda (874.º), não sujeita a exigências de forma (arts. 875.º e 219.º). Identificação dos
elementos essenciais do contrato.
O efeito real do contrato (879.º, a) não se produziu com a mera celebração do contrato,
porquanto A reservou a propriedade do colar até ao integral pagamento do preço (art.º
409.º/1).
O preço do colar, repartido em oito prestações mensais, qualifica o contrato como uma
venda a prestações (art.º 932.º e ss).
Discussão sobre a oponibilidade da cláusula de reserva de propriedade a terceiros,
incidente sobre bens móveis não sujeitos a registo (cfr. art.º 409.º/2) e posições da doutrina.
A venda de B a Carlos (C), qualifica-se como uma venda de bens alheios (892.º), porquanto
B não é proprietário do bem.
A venda de A a Daniel (D) qualifica-se como uma venda de bens alheios, por analogia (892.º),
porquanto o direito de propriedade de A encontra-se limitado para efeitos de garantia do
pagamento do preço. A pretensão de D não será procedente.
A falta de pagamento da prestação de Janeiro faz incorrer B em mora (805.º/2 a)). Não
permite, todavia, exigir o pagamento das demais prestações. A exigibilidade antecipada das
restantes prestações depende de a prestação em falta exceder um oitavo (1/8) do preço
(havendo entrega da coisa), o que não sucede (€1.500,00 = € 12.000,00/8), nos termos do
art.º 934.º, contra o disposto no art.º 781.º. Resta a A exigir judicialmente a prestação em
causa, acrescida de juros de mora (art.º 817.º e 806.º), ou aguardar pelo incumprimento de
uma segunda prestação, quando poderá exigir judicialmente as demais prestações ou
resolver o contrato (convertendo a mora das prestações em falta em incumprimento
definitivo).
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a) Discussão sobre os pressupostos de aplicação do art.º 934.º, designadamente se é
exigida a entrega da coisa para não importar a perda do benefício do prazo ou a
resolução do contrato na falta de pagamento de uma só prestação que não excede
1/8 de preço, como era o caso. Dar nota da distinção entre a resolução e a perda de
benefício do prazo que é feita pela doutrina nestes casos, designadamente da
posição da regência: não há nenhum obstáculo em aplicar também a restrição
imposta pelo art. 934.º no respeitante ao vencimento antecipado aos casos em que
não se assistiu à tradição da coisa.
b) C celebrou um contrato de mútuo com o Banco Facilitador (BF). Discussão sobre a
possibilidade de reserva de propriedade inicial a favor de terceiro - à luz do
princípio da tipicidade dos direitos reais (arts. 409.º e 1306.º) e da proibição do
pacto comissório, entre outros argumentos – com indicações de doutrina contra e a
favor. Referência à transmissibilidade da reserva de propriedade e posições
divergentes na doutrina sobre esta possibilidade, dando nota da posição favorável
da regência.
Grupo II
Gertrudes, uma mulher de negócios no mercado imobiliário, animada com o estado atual do
mercado em Lisboa, contratou Hugo, empreiteiro, para fazer obras num apartamento velho
que comprou previamente à Imobiliária Ideal por 500.000€ com a intenção de remodelar e
vender por preço superior. Na escritura de compra e venda constava que o imóvel tinha 150m2
mas, ao preparar o projeto para as obras, Gertrudes descobriu que afinal o apartamento
tinha apenas 145m2.
Hugo receberia 50.000€ por um conjunto de trabalhos a efetuar, entre os quais: (i) a
substituição total do chão em taco de madeira por soalho flutuante; e (ii) a remodelação total
da casa de banho, incluindo a resolução do atual problema de infiltrações de água na parede
junto à banheira. Hugo estava empenhado em cumprir integralmente o projeto de obra mas,
na sua opinião, não fazia sentido substituir os atuais tacos de boa madeira por soalho
flutuante. Bastaria afagá-los e envernizá-los para o chão ficar como novo por um preço
significativamente inferior e é precisamente isso que se propunha fazer.
Imagine ainda que a obra tinha sido entregue no dia 3 de janeiro de 2013 e que Gertrudes
ainda não tinha vendido a casa quando, no dia 31 de Dezembro de 2017, apercebe-se que
existia água a escorrer junto à parede da banheira. Descobriu então que o problema das
infiltrações na casa de banho não tinha sido resolvido por Hugo, pois este tinha simplesmente
tapado a zona com uma parede de pladur… Aflita, contacta Hugo sem sucesso e, em resposta
ao seu email sobre o problema, recebe um email de “ausência do escritório” que a informa que
Hugo se encontra de férias e incontactável até dia 6 de janeiro de 2018. Gertrudes fica em
pânico, pois a água já estava a danificar o chão do seu apartamento e Gertrudes não sabe se
ainda será possível exercer os seus direitos após Hugo regressar de férias…
Qualificação do contrato celebrado entre Gertrudes (G) e Hugo (H), como um contrato de
empreitada por referência aos elementos essenciais do tipo contratual (1207.º).
Qualificação do contrato de compra e venda celebrado entre G e Imobiliária Ideal (IH) como
uma compra e venda (art.º 874.º) atendendo aos seus elementos essenciais. Referência à
forma deste contrato. Aplicabilidade do artigo 888.º quanto à diferença real de metros
quadrados do apartamento relativamente à escritura, com a consequência de exclusão do
direito à redução do preço.
Alteração de Hugo (H) qualificada como uma alteração da iniciativa do empreiteiro
(1214.º/1). Só com autorização do dono da obra pode o empreiteiro fazer tais alterações e,
para isso, o empreiteiro deve fazer proposta ao dono da obra (406.º/1). Sem autorização do
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dono de obra G, existe cumprimento defeituoso (art.º 1214.º/2). Tutela do dono de obra em
sede de defeitos (arts. 1218.º e ss).
Qualificação das infiltrações como defeitos ocultos (art.º 1224.º/2). Tutela de G ao abrigo
do art.º 1225.º, cujo prazo de caducidade de cinco anos se conta a partir da entrega (n.º1 do
preceito). Discussão sobre a forma de exercício da denúncia (art.º 1225.º/3 e 1220.º), se
receptícia ou não e sobre a necessidade de solicitar previamente ao empreiteiro a sua
eliminação (art.º 1221.º/1). Com base no art.º 336.º, uma vez que a urgência do pedido não
é compatível com a disponibilidade de H, G poderia proceder à reparação e exigir o
reembolso das despesas a H.
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Grupo I
No dia 24 de Dezembro de 2017, Ana propôs que Bento, amante de música, ficasse com o seu
gira-discos antigo e com o seu único disco de vinil de Gary B.B. Coleman, pelo preço total de
€50,00, a pagar até ao dia de Natal.
Para grande desagrado de Carlos, colega de Bento, Bento aceitou imediatamente a proposta
de Ana. Combinaram ainda que no dia de Natal Bento iria receber o gira-discos e o disco de
vinil em causa. No entanto, e pese embora a revolta de Bento, Ana recusou-se a entregar o
certificado de autenticidade do equipamento, pretendendo que Bento pagasse €100,00 por este
documento. Nessa mesma noite, de véspera de Natal, Carlos, num acesso de fúria, dirigiu-se ao
escritório de Ana, e partiu o único disco de vinil de Gary B.B. Coleman.
Bento descobre ainda que o gira-discos se encontrava na loja de Zacarias, comerciante que
havia procedido ao seu restauro. Zacarias recusa-se a devolver o equipamento sem que
primeiro lhe paguem o valor das reparações. No dia 26 de Dezembro, Ana, revoltada com a
ingratidão de Bento, pretende resolver o negócio por falta de pagamento do preço.
Grupo II
Daniel, estudante de Direito, pretende encomendar ao seu amigo Ernesto, Disco-Jóquei, dez
músicas da sua autoria para uma festa que irá realizar em sua casa. Combinou que as músicas
seriam entregues no espaço de duas semanas, numa pen-usb que Ernesto forneceria, pelo preço
de €10,00. Daniel pretende celebrar o presente contrato por escrito, mas não sabe qualificá-lo.
Em Janeiro de 2018, Ernesto combinou com Francisco a substituição do telhado de tijolo de
sua casa, pelo preço de €10.000,00, no prazo de 30 dias. Aquando da reparação do telhado,
Francisco descobriu ser necessária a instalação de um lona impermeabilizadora. Francisco
informou Ernesto desta necessidade, e este nela consentiu. Todavia, e sem avisar Ernesto,
Francisco contratou Xavier para a instalação da lona.
Concluída a reparação do telhado, Ernesto recusa-se a aceitar a obra e a pagar os €12.000,00
que Francisco lhe exige (€10.000,00 do telhado e €2.000,00 da lona). Constata-se que,
decorrente de uma má instalação da lona, existem infiltrações no teto.
Ernesto pretende, hoje, resolver o negócio e que Xavier o indemnize pelos danos causados na
sua mobília em virtude da infiltração.
O contrato celebrado entre Daniel (D) e Ernesto (E) qualifica-se como um contrato de empreitada
(art.º 1207.º) – locatio condutio, modalidade típica do contrato de prestação de serviços (art.º
1155.º): constitui para os contraentes, enquanto elementos essenciais para a sua qualificação,
uma obrigação de resultado do empreiteiro (E), de realizar uma obra; sinalagmática da obrigação
do dono da obra (D) pagar o preço convencionado (€10,00). O contrato não se encontra sujeito
a forma especial (art.º 219.º).
No que respeita ao conceito de obra, para efeitos de qualificação do negócio jurídico celebrado,
de deve-se entender que abrange tanto bens corpóreos (em sentido material), como bens
incorpóreos (obras de cariz intelectual). No caso, tratava-se da criação de uma obra intelectual
(criação de dez músicas). Este entendimento foi perfilhado pelo STJ, no ac. de 03.11.1983 (SANTOS
SILVEIRA), considerando que a materialização da obra no seu suporte físico é suficiente para a
qualificação do negócio enquanto um contrato de empreitada. A posição da regência é mais
exigente. Requere a verificação cumulativa dos requisitos de 1) exteriorização do resultado
numa coisa concreta, suscetível de entrega e aceitação; 2) existência de um resultado específico
e concreto; e 3) o resultado foi concebido e alcançado em conformidade com um projecto. E
sobretudo exige que a obra se possa autonomizar totalmente do seu autor. Portanto, nesta
hipótese é duvidoso se à luz desta orientação o contrato de empreitada se pode qualificar, ou
não, como empreitada. Parece que não. Ainda assim, ela diverge da opinião dos Professores
ANTUNES VARELA, MENEZES LEITÃO e ROMANO MARTINEZ, A. que consideram que o conceito de obra se
restringe a obras corpóreas, pelo enquadramento sistemático do regime deste contrato
(fiscalização, transferência da propriedade, alterações e defeitos de obra), incompatível com o
tratamento devido às obras intelectuais.
O contrato celebrado entre Ernesto (E) e Francisco (F) também se qualifica como um contrato de
empreitada (art.º 1207.º): constitui para os contraentes, enquanto elementos essenciais para a
sua qualificação, uma obrigação de resultado do empreiteiro (F), de reparar o telhado;
sinalagmática da obrigação do dono da obra (E) pagar o preço convencionado (€10.000,00, cfr.
arts. 1211.º e 883.º). O contrato não se encontra sujeita a forma especial (art.º 219.º).
Aquando da execução do contrato, o empreiteiro (F), em cumprimento da sua obrigação principal
(1208.º) de realização da obra, sem vícios que excluam ou reduzam o seu valor, ou a aptidão para
o uso ordinário ou previsto no contrato (um telhado sem infiltrações), avisa (cumprimento
concomitante do dever de informação, acessório de conduta – posição da Regência) o dono de
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obra (E) e sugere alterações ao plano convencionado (alterações necessário, cfr. art.º 1215.º). As
presentes alterações foram consentidas pelo dono de obra (F), e têm influência na alteração do
preço global devido por E (art.º 1215/2). Na falta de acordo, caberá ao tribunal fixar a
modificação quanto ao preço devido (1215.º/1, parte final).
A contratação de Xavier (X) consubstancia a celebração de um contrato de subempreitada
(1213.º), para a instalação da lona impermeabilizadora, sem o consentimento de E, o que é
permitido (arts. 1213/2 e 264.º/1, parte final). Será valorizado o enquadramento da divergência
quanto à presente possibilidade e suas consequências (responsabilidade contratual – posição da
Regência).
A recusa de E em aceitar a obra, aquando da verificação (1218.º/1 e 3), deverá ser seguida de
denúncia dos defeitos, no prazo de 1 ano após o seu conhecimento (1225.º/2 e 3) – cujo prazo
de caducidade de exercício dos direitos será de 1 ano após a denúncia (1225.º/2 e 3)-, e nunca
após o decurso do prazo de 5 anos (admitindo-se que o prazo de 5 anos seja considerando mero
prazo de manifestação de defeitos - posição da Regência). Estamos perante um imóvel destinado,
por sua natureza, a longa duração (a expectativa de duração do imóvel em causa é superior ao
prazo de responsabilidade do empreiteiro, de 5 anos – cfr. art.º 1225.º - posição da Regência). O
exercício dos direitos reconhecidos a E, não permitem que o mesmo opte pela resolução do
contrato (1222.º e art.º 884.º), sem antes requerer a eliminação dos defeitos (1221.º e art.º
1221.º e 1222.º/1, in fine); sem prejuízo do direito à indemnização (1223.º - que aquando da
resolução do contrato se limita ao interesse contratual negativo).
A responsabilidade pelo defeito da obra é de F (800.º/1), com direito de regresso sobre X
(1226.º), nos quais se inclui a responsabilidade pelos danos provocados na mobília (1223.º), no
âmbito deste cumprimento defeituoso; embora seja possível que o dono da obra exija
diretamente ao subempreiteiro a reparação dos defeitos de obra, via ação direta (posição da
Regência).
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Direito dos Contratos I – turma A
Exame de Recurso
Senhor Professor Doutor Pedro de Albuquerque
19 de Janeiro de 2018
Tópicos de Correção
Em Junho de 2016, Dinis vendeu a Edilberto (conhecido ator, a residir em Los Angeles) uma
moradia em Cascais, com vista frontal do mar, por € 3.000.000, juntamente com um carro
da marca Austin Martin que acabara de chegar ao stand de automóveis usados de que Dinis
é proprietário, pelo preço de €180.000.
A moradia foi paga integralmente na mesma data. Quanto ao automóvel, Dinis reservou para
si a propriedade do mesmo até integral pagamento do preço. A cláusula de reserva de
propriedade foi registada.
b) O preço do Austin Martin deveria ser pago em duas prestações de igual valor, vencendo-
se a primeira no último dia de Outubro de 2016 e, a segunda no último dia de Março de
2017. Edilberto passou de imediato a conduzir o automóvel. Após o pagamento da
primeira prestação, Edilberto vendeu e entregou o automóvel a um colega de profissão
americano, Francis. Dinis, ao tomar conhecimento de tal facto, acha que Edilberto não
foi leal consigo e decide vender o automóvel a Gaspar, inimigo de longa data de
Edilberto, que o pretende reivindicar a Francis. Quid Juris? (3,5 valores)
- Explicação completa e fundada do sentido, função e natureza da cláusula de reserva de
propriedade. Implicações daqui resultantes para o caso em apreço. Em princípio, não se trata
de uma exceção ao princípio da transmissão da propriedade por efeito do contrato, mas
apenas de uma dilação dessa transmissão para momento posterior.
- Pode alienar-se a posição jurídica do comprador com reserva de propriedade (que era
relevante qualificar), que tem conteúdo patrimonial e não está abrangida por qualquer
proibição de disposição pelo seu titular. Pode também tratar-se o bem como bem
relativamente futuro (artigo 893.º do CC). Fora desses casos, parece que há venda de bens
alheios (artigo 892.º CC).
- Assim, in casu, depois da venda a Edilberto, Dinis não mantém a plenitude dos poderes
de um normal proprietário, nomeadamente os poderes de alienação. A reserva de
propriedade cumpre uma função de garantia, pelo que se deve entender que Dinis não tem
legitimidade para alienar a coisa. Consequentemente, tal hipótese deverá ser equiparada à
venda de coisa alheia como própria, sancionando-se tal venda com a nulidade.
c) Aquando da compra do Austin Martin, o Stand de que Dinis é proprietário fez saber a
Edilberto que o preço original de €200.000 seria apenas de €180.000, se Edilberto
assinasse um documento em que declarava comprar o automóvel “no estado em que se
encontrava”, o que veio efetivamente a acontecer. Algumas semanas depois o carro
começou a manifestar problemas no sistema elétrico. Edilberto prontamente se queixou
das avarias no Stand de automóveis de Dinis e pretende que o mesmo seja reparado.
Dinis declina qualquer responsabilidade e recorda a Edilberto a declaração que assinou
aquando da compra do carro. Quid Juris? (3 valores)
- O contrato de compra e venda em apreço está sujeito ao regime previsto no Decreto-
Lei n.º 67/2003, de 8 de Abril, com as alterações entretanto introduzidas, uma vez que foi
celebrado entre um particular e um profissional, o stand de automóveis. Assim, o vendedor
é responsável perante Edilberto por qualquer falta de conformidade que exista no momento
em que o bem lhe é entregue, presumindo-se essa falta se o vício se manifestar num prazo
de 2 anos (cfr. Artigo 3.º, n.º 2).
-No caso em análise Edilberto assinou um documento em que declarou aceitar o Austin
Martin estado em que se encontrava, o que leva o vendedor a declinar qualquer
responsabilidade quanto aos defeitos que, entretanto, se manifestaram. Todavia, a proteção
conferida pelo Decreto-Lei n.º 67/2003, de 8 de Abril, com as alterações entretanto sofridas,
é imperativa, sendo nulo o acordo ou cláusula contratual pelo qual, antes da denúncia da falta
de conformidade ao vendedor se excluam ou limitem os direitos do consumidor aí previstos
(artigo 10.º). A renúncia de Edilberto à proteção que lhe é conferida legalmente é, pois, nula.
Nos termos do disposto no n.º 2 e no n.º 3 do artigo 16.º da Lei n.º 24/96, de 31 de Julho
(Lei de Defesa do Consumidor), a nulidade apenas pode ser invocada pelo consumidor ou
seus representantes, e o consumidor pode optar pela manutenção do contrato quando
algumas das suas cláusulas forem nulas.
- Assim, Edilberto deve denunciar os defeitos ao vendedor no prazo de dois meses a
contar da data em que os detetar (artigo 5.º A, n.º 2), tendo direito à reparação pretendida no
prazo de trinta dias sem grave inconveniente para si (artigo 4.º, n.º 2).
- Note-se, por último, que o prazo de garantia para as coisas móveis é de dois anos a
contar da data da entrega do bem (artigo 5.º, n.º 1), ou seja prolonga-se até Junho de 2018.
Todavia, como estávamos perante a venda de um automóvel usado, o artigo 5.º, n.º 2 teria
permitido que o prazo de garantia, por acordo das partes, tivesse sido reduzido a um ano.
II
I
Em agosto/2016, Afonso, proprietário de um terreno composto por laranjeiras, vendeu as laranjas que
se colhessem naquele ano a Beatriz, proprietária de uma mercearia. Em outubro/2016, Afonso vendeu
a Carlos, agricultor, o mencionado terreno. Do contrato de compra e venda ficou a constar que o
terreno tinha uma área de 1000 m2.
(b) Em novembro/2017, Carlos começou a vangloria-se na aldeia de que o terreno comprado a Afonso
tem 1500 m2, de modo que havia feito um excelente negócio, pois pagou 1 e levou 1 e ½. Afonso,
surpreendido por esta informação, quer saber se, e como, pode reagir. (2 valores)
(c) Em junho/2017, Carlos comprou à Deer, S.A. um trator agrícola por €10.000, o qual lhe foi
entregue de imediato. Carlos obrigou-se a pagar o preço em 10 prestações mensais de igual valor. A
Deer, S.A. não reservou para si a propriedade. No contrato de compra e venda, foi estipulado que o
incumprimento de uma prestação conferia ao vendedor o direito a resolver o contrato. Aprecie a
validade desta cláusula. (4 valores)
(d) O trator comprado por Carlos avariou 6 vezes nos primeiros 8 meses. A vendedora tem-se
prontificado a repará-lo em todas essas ocasiões. Todavia, Carlos, aborrecido com o transtorno,
pretende que o veículo seja definitivamente substituído por um novo. Tem esse direito? (3 valores)
.
II
A Wood, S.A., que comercializa móveis usados, contratou com Alberto, carpinteiro, a restauração de
duas cómodas antigas. As cómodas foram devolvidas por Alberto, já restauradas, em 15 de
janeiro/2016.
(b) A Wood, SA nunca chegou a pagar o preço dos serviços prestados por Alberto. Em 19 de
janeiro/2018, Alberto ganhou coragem e interpelou a Wood, SA, através de carta, para pagar. Em
resposta, a Wood, SA informou que nada deve, dado que o crédito de Alberto já prescreveu. Considera
este argumento procedente? (4 valores)
DIREITO DOS CONTRATOS I
3.º Ano - 2017/2018
Exame (Época de Coincidência)
Duração: 120 minutos
Regência: Professor Doutor Pedro de Albuquerque
Tópicos de Correção
(a) Cumpriria debater se a transferência da propriedade sobre o terreno para Carlos havia afetado o
direito de Beatriz.
Nos termos do artigo 408.º/2 CC, quanto aos frutos pendentes, apesar da dilação temporal entre a data
da celebração da compra e venda e o efeito real, a causa deste é o contrato, e não a separação da árvore.
Consequentemente, logo que os frutos se separassem da árvore (porque eram colhidos ou porque
haviam caído) a propriedade sobre os mesmos transferir-se-ia para Beatriz, que, em consequência,
poderia reivindicá-los de Carlos. Este poderia agir contra Afonso, designadamente com fundamento em
dolo, pedindo a anulação do contrato e/ou uma indemnização. Importaria ainda mencionar o artigo
880.º CC, nos termos do qual o vendedor fica obrigado a realizar as diligências necessárias para que o
comprador "adquira" os bens vendidos. Se o termo "adquira" puder ser entendido como "obter a
detenção material sobre a coisa vendida", então seria de sustentar que Beatriz poderia exigir a Afonso
que diligenciasse junto de Carlos no sentido de as laranjas lhe serem entregues.
(b) Nesta hipótese, seria valorizado o debate sobre o direito de Afonso à correção do preço.
Uma vez que a diferença entre a medida real do terreno e a declarada no contrato equivalia a ½, tem-se
por preenchido o requisito de relevância previsto no artigo 888.º/2 CC. Neste contexto, poderia
discutir-se se a correção proporcional do preço visaria a totalidade da diferença ou apenas a parte da
diferença que excedia 1/20. Justificar-se-ia ainda mencionar o direito de resolver o contrato pelo
comprador previsto no artigo 891.º/1 CC.
O direito de Afonso receber a diferença teria, todavia, caducado 1 ano após a entrega (artigo 890.º/1
CC), ou seja, antes de novembro/2017, data em que Afonso tomou conhecimento da discrepância.
(c) Nesta hipótese, depois de ser esclarecido se o artigo 934.º CC contém ou não uma norma
imperativa, caberia debater se, apesar de o preceito não ser aplicável, ao menos diretamente, dado que
não tinha havido reserva de propriedade, se justificaria estender o seu regime ao caso em apreço, com a
consequência de tornar a cláusula em causa inválida. Seria sobretudo valorizada a demonstração do
conhecimento deste debate na doutrina.
(d) Caberia debater se o legislador propôs uma hierarquia para os direitos que confere ao comprador de
bem defeituoso contra o vendedor (artigo 914.º CC). Resolvido esse debate no sentido positivo,
interessaria notar que essa hierarquia é, numa certa perspetiva, constituída a favor do vendedor, que
desse modo passa a ter o direito de escolher reparar em vez de substituir, o que será em princípio
menos oneroso. Caberia então colocar e responder às perguntas seguintes: (i) Se o vendedor, apesar de
se prestar a reparar os defeitos da coisa, evidencia incapacidade para realizar uma reparação eficaz, uma
que permita ao comprador utilizar o bem sem limitações, pode o comprador recusar a reparação e
exigir a substituição? (ii) As sucessivas reparações ineficazes tornam a substituição necessária?
Uma solução poderá passar por considerar que as reparações sucessivas e ineficazes demonstram a
incapacidade do vendedor para reparar o defeito, devendo, na sequência, ser a coisa substituída, o que
pode ser exigido pelo comprador. De acordo com este entendimento, Carlos teria direito à substituição.
II
(a) Nesta hipótese, está em causa decidir se a Wood é titular dos previstos nos artigos 1221.º-1223.º CC
contra Alberto.
DIREITO DOS CONTRATOS I
3.º Ano - 2017/2018
Exame (Época de Coincidência)
Duração: 120 minutos
Regência: Professor Doutor Pedro de Albuquerque
Neste sentido, e assentando que Wood não conhecia o defeito quando aceitou a obra, interessaria
começar por discutir se o defeito em causa deveria ser considerado oculto ou aparente. Seria valorizada
a distinção fundada entre estes dois conceitos.
Sendo o defeito oculto, a Wood não só havia cumprido o prazo de 30 dias para denunciar o defeito
(artigo 1220.º CC), como poderia propor ação para fazer valer os seus direitos até ao dia 14 de janeiro
de 2018.
Sendo o defeito considerado aparente, e tendo a obra sido aceite sem reservas, a Wood teria de ilidir a
presunção prevista no artigo 1219.º/2 CC, caso pretendesse exercer os seus direitos. Se não fosse bem-
-sucedida nesta diligência, não só estaríamos perante um caso de irresponsabilidade do empreiteiro
(artigo 1219.º/1 CC), como o prazo para denunciar o defeito já teria caducado (artigo 1220.º/1 CC).
(b) Na presente hipótese, interessaria debater se a presunção de cumprimento prevista no artigo 317.º,
b) CC aproveita ao dono de obra.
Depois de compreendido que a Wood não poderia alegar a prescrição, mas o cumprimento, dado que o
artigo 317.º CC não prevê qualquer efeito prescritivo, caberia debater se este regime é ou não aplicável
à empreitada, mobilizando as considerações doutrinárias e jurisprudenciais que se afigurassem
convenientes.
DIREITO DOS CONTRATOS I
3.º Ano - 2017/2018
Exame (Época Normal)
Duração: 120 minutos
Regência: Professor Doutor Pedro de Albuquerque
I
Ana, reformada e assídua espetadora de um programa de vendas na TV, encomenda um robot de
cozinha que é anunciado e explicado num desses programas pela BiTech, S.A.. O preço,
correspondente a €1.200, seria pago em vinte e quatro prestações mensais sem juros.
(a) Sete dias após ter recebido o robot de cozinha, não obstante o seu impecável funcionamento, Ana
acha que cometeu um excesso e pretende devolvê-lo. Quid iuris? (1 valores)
(b) Ana encontra-se em falta quanto ao pagamento de três prestações. Que direitos assistem à
vendedora, a BiTech, S.A.? (4 valores)
(c) Dois dias após a compra do robot à BiTech, S.A., Ana vendeu-o à sua vizinha Célia, por €1100, que
recebeu o bem, mas nunca chegou a pagar o preço. Supondo que a BiTech, S.A. reservou para si a
propriedade, que, 6 meses após a venda, resolveu validamente o negócio celebrado com Ana e que, na
sequência da resolução, lhe solicita a devolução do robot, de que modo pode Célia reagir quando Ana lhe
solicita a entrega do bem para devolvê-lo à BiTech, S.A.? (4 valores)
(d) A máquina tinha uma garantia de bom funcionamento de um ano. Ao cabo de oito meses, o motor
avariou. A BiTech, S.A. substituiu-o por um motor novo. Decorridos dois anos e três meses sobre a
compra, o motor do robot de cozinha avariou novamente. Que direitos assistem a Ana? (2 valores)
II
António contratou com Bento a construção de uma moradia, pelo valor de €150.000, num terreno que
pertencia a António. Acordaram que a construção teria de estar concluída no prazo de 12 meses e que o
preço seria pago da seguinte forma: €70.000 no prazo de 6 meses contados desde a celebração do
contrato e o valor remanescente aquando da aceitação da obra.
(a) Após o decurso de 7 meses de execução dos trabalhos, Bento apercebeu-se de que não conseguiria
concluir a obra no prazo acordado, pelo que contratou Carlos para proceder à instalação elétrica e das
canalizações no imóvel. A obra foi concluída dentro do prazo acordado e aceite por António sem
qualquer reserva. Sucede que, 2 meses após a aceitação, António comunicou a Bento que existia uma
infiltração na cozinha devido à deficiente colocação da canalização. Bento declinou qualquer
responsabilidade com o argumento de que havia sido Carlos a instalar as canalizações. Quid iuris? (5
valores)
(b) Na fase de acabamento, um sismo destruíra por completo a construção. António exige de Bento
nova construção; Bento recusa-se a reconstruir por tal estar completamente fora do que orçamentou
para a empreitada contratada. Quid iuris? (3 valores)
Tópicos de Correção
(a) Trata-se de um contrato celebrado a distância, supondo que Ana é consumidora e que a celebração
foi feita exclusivamente por uma técnica de comunicação a distância. (cf. artigo 3.º, n.º 1, al. f) do
Decreto-Lei n.º 24/2014 de 14.02). Ana tem direito à de livre resolução, dentro do prazo de 14 dias
subsequentes à entrega (artigo 10.º do Decreto-Lei n.º 24/2014 de 14.02). Seria valorizada a explicação
do fundamento e funcionamento deste direito.
(b) No pressuposto de que o equipamento já foi entregue, o vendedor não pode resolver (mediante
conversão da mora em incumprimento definitivo), porque não há reserva de propriedade nem cláusula
resolutiva (cf. artigo 886.º CC). A resolução seria todavia admissível se as partes tivessem
convencionado nesse sentido (cf. artigo 886.º CC).
Uma vez que estão em falta três prestações (artigo 934.º), o vendedor pode exigir a totalidade do preço
em falta: perda de benefício do prazo, discutindo-se se há vencimento antecipado ou exigibilidade
antecipada, sendo necessário, neste último caso, interpelação para que o comprador entre em mora
quanto à parte restante do preço.
Em alternativa, se se tratar de contrato de crédito ao consumo, aplicar-se-á o artigo 20.º do Decreto-Lei
n.º 133/2009 de 2.06. Todavia, de acordo com os dados da hipótese, e tendo em vista a exclusão
prevista no artigo 2.º/1, f) do referido diploma, este regime não seria aplicável.
(c) O problema colocado pela questão prende-se com o reconhecimento do direito de Célia recusar a
entrega do robot que Ana lhe solicita.
Afigura-se irrelevante a circunstância de Célia ainda não ter pago o preço, atenta a regra no artigo 886.º
CC. Mais pertinente é decidir se Ana transmitiu validamente a propriedade do bem a Célia, dado que a
BiTech, SA havia reservado para si a propriedade. Cumpria, neste contexto, discutir a eficácia da
cláusula de reserva de propriedade relativamente a terceiros. Seria valorizada a exposição detalhada do
debate doutrinário sobre este tema. O sentido da resposta à questão levantada pela hipótese estaria
assim dependente da posição assumida na querela sobre a eficácia da reserva de propriedade
relativamente a terceiros. Sendo ineficaz, então teria sido válida a venda do bem a Célia, esta ter-se-ia
tornado proprietária do mesmo, podendo por conseguinte recusar entregá-lo a Ana. Se a reserva de
propriedade fosse considerada eficaz relativamente a Célia, então caberia apreciar a validade da venda
celebrada entre esta e Ana. Seria, designadamente, ponderável aplicar o regime da venda de bens
alheios, diretamente ou por analogia, sendo por conseguinte a venda nula (artigo 892.º), com as
consequências previstas no artigo 289.º/1 CC. Todavia, caberia questionar se Ana poderia alegar a
nulidade do negócio contra Célia, atendendo às limitações previstas no artigo 892.º. Não estaria, porém,
a BiTech, S.A. impedida de pedir a Célia a restituição do bem, invocando a reserva de propriedade.
Outras soluções, desde que devidamente fundamentadas seriam ponderáveis.
(d) Tratando-se de uma venda a consumidor, era aplicável o DL n.º 67/2003, 08.04.
Poderia debater-se a diferença entre a garantia relativa a defeitos da coisa e a garantia de bom
funcionamento. Neste caso, porém, esta distinção conceptual não envolve consequências de regime
aplicável, atendendo ao disposto nos artigos 5.º/1 e 10.º do DL n.º 67/2003, 08.04.
A substituição do motor do robot oito meses depois da compra do mesmo era devida, nos termos dos
artigos 4.º/1 e 5.º/1 do DL n.º 67/2003, 08.04. O motor avariou novamente dois anos e 3 meses após a
DIREITO DOS CONTRATOS I
3.º Ano - 2017/2018
Exame (Época Normal)
Duração: 120 minutos
Regência: Professor Doutor Pedro de Albuquerque
compra, mas apenas 19 meses após ter sido substituído. Posto isto, importa discutir se, relativamente à
peça substituída, a garantia de dois anos (artigo 5.º/1 do DL n.º 67/2003, 08.04) se (re)iniciou na data
da substituição. A dúvida quanto à resposta a esta questão reside na redação do artigo 5.º/6 do DL n.º
67/2003, 08.04, que prescreve o reinício da garantia nos casos em que se verifique a substituição do
bem. Cumpre, então, questionar: no caso em apreço (e em hipóteses similares), releva a substituição do
motor do robot ou a reparação do robot através da substituição do motor? Seguindo o primeiro
entendimento, deve entender-se que, à data da segunda avaria, a garantia do motor subsistia; optando
pelo segundo, deve concluir-se que, na data da segunda avaria, a garantia do robot já havia expirado.
II
(a) Primeiramente, é necessário qualificar o contrato celebrado entre António e Bento como um
contrato de empreitada, nos termos do art. 1027.º do CC, e o contrato entre Bento e Carlos como um
contrato de subempreitada, de acordo com o art. 1213.º do CC.
A obra deve ser executada sem quaisquer vícios que excluam ou reduzam o seu valor (art. 1208.º do
CC), sendo que, antes da aceitação, o dono deve verificar se a obra corresponde ao convencionado com
o empreiteiro, não tendo qualquer defeito (art. 1218.º do CC). Neste âmbito, seria necessário qualificar
o tipo de defeito como oculto, não sendo conhecido pelo dono da obra aquando da aceitação, nem
tendo este a possibilidade de conhecer usando a diligência normal. Desta forma, não se aplica a
irresponsabilidade do empreiteiro, nos termos do art. 1219.º do CC.
O prazo de denúncia dos defeitos é de 30 dias após o descobrimento (art. 1220.º do CC), nos termos
gerais, sendo que no caso aplicar-se-ia o prazo de um ano (art. 1225.º, n.º 2 do CC), presumindo-se que
a comunicação dos defeitos pelo António a Bento foi realizada no prazo legal. Contudo, tratando-se de
um defeito relacionado com a execução da subempreitada, deve aplicar-se o disposto no art. 1226.º.
Denunciado o defeito, o dono da obra tem direito à sua eliminação, por ser possível (art. 1221.º do
CC). Caso os defeitos não sejam eliminados, o António teria direito à redução do preço ou à resolução
do contrato, no caso de os defeitos tornarem a obra inadequada ao fim a que o dono a pretende
destinar. A acrescer a estes direitos, o António pode ser indemnizado nos termos gerais (art. 1223.º do
CC).
Para o caso de imóvel destinado por sua natureza a longa duração, como no caso em apreço, o prazo
de garantia é de 5 anos, desde a entrega, sendo que os direitos devem ser exercidos no prazo de 1 ano
após a denúncia dos defeitos. Este contexto, seria importante referir a posição assumida pelo Prof.
Pedro de Albuquerque quanto ao designado “prazo de manifestação de defeitos”, e aos seus efeitos
práticos na contagem dos prazos.
O argumento do Bento é ineficaz, atendendo à eficácia interna das obrigações (artigo 406.º/2 CC). O
empreiteiro responde sempre perante o dono de obra pelos atos do subempreiteiro, designadamente
por via do artigo 800.º CC (v. também artigo 264.º/4 e 1213.º/2)
Concluir-se-ia que o Bento seria responsável perante o António quanto ao defeito denunciado, e o
Carlos poderia ter de assumir responsabilidade perante o Bento, nos termos do art. 1226.º do CC.
(direito de regresso de Bento contra Carlos).
Caso se considerasse que Bento era um profissional, tratar-se-ia de uma empreitada de consumo, sendo
aplicáveis os direitos e os prazos previstos nos artigos 4.º e ss. do DL 67/2003.
(b) No caso em apreço, a empreitada tinha como objeto um imóvel, cujo terreno pertencia a António,
dono da obra, razão pela qual aplica-se o art. 1212.º, n.º 2 do CC.
Atendendo a que o imóvel ficara totalmente destruído por caso fortuito, o sismo, e sendo António o
proprietário já do imóvel construído por se encontrarem incorporados os materiais fornecidos pelo
DIREITO DOS CONTRATOS I
3.º Ano - 2017/2018
Exame (Época Normal)
Duração: 120 minutos
Regência: Professor Doutor Pedro de Albuquerque
empreiteiro à medida que fora construindo a moradia, o risco corre por conta de António (artigo 1228.º
do CC).
Nesta medida, António terá de pagar o preço acordado a Bento, e caso queira nova construção, a
mesma constituirá nova empreitada, nos termos do art. 1207.º e seguintes do CC.
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Grupo I
1. António e Bento convencionaram que aquele poderia resolver o contrato caso Bento
faltasse ao pagamento de uma das prestações devidas a título de preço. Bento não pagou
a vigésima nona prestação. Quid juris?
3. Cinco messes depois, Bento vendeu o seu automóvel a Carlos pelo preço de € 15.000,00,
tendo ambos acordado que aquele poderia resolver o contrato no prazo de três anos,
pagando € 17.000,00. O automóvel apresenta agora diversos problemas mecânicos, pelo
que Carlos pretende resolver o contrato. Quid juris?
Grupo II
Em janeiro de 2019, Daniel contratou o conhecido informático Edgar para criar um algoritmo
informático de publicidade para utilizar no seu website, pelo preço de € 5.000,00.
Convencionaram ainda que o prazo de execução dos trabalhos era de 3 meses.
Daniel havia fornecido um conjunto de CD’s rom para a instalação do software final. Todavia, o
material é furtado das instalações de Edgar. Este nega qualquer responsabilidade perante o
sucedido, garantindo que os CD’s se encontravam em local seguro.
No fim de março, Daniel recusa-se a pagar o preço a Edgar. Afinal, o algoritmo criado não
funciona e, para mais, Edgar não adicionou uma funcionalidade ao programa pedida por Daniel
em meados de fevereiro, via e-mail, tendo Edgar, na altura, respondido “O Senhor Daniel não
me dá ordens. Essa funcionalidade, como bem sabe, não consta do algoritmo acordado.”.
Em abril, Fernando contacta Daniel reclamando o pagamento dos serviços de programação que
lhe foram encomendados por Edgar. Fernando afirma que nunca foi pago pelos seus serviços,
acrescentando que Edgar não programou uma única linha de código.
Quid iuris?
Cotação: 9 (nove) valores
Qualificação do contrato celebrado entre Daniel (D) e Edgar (E) como um contrato de
empreitada (1207.º CC): elementos essenciais. O contrato não se encontra sujeita a forma
especial (219.º CC);
Discussão e tomada de posição fundamentada sobre o conceito de obra (1207.º CC): se abrange
tanto bens corpóreos (em sentido material), como bens incorpóreos (obras de cariz intelectual).
No caso, tratava-se da criação de uma obra intelectual (algoritmo informático);
Enquadramento da faculdade de fiscalização da obra, nos termos do artigo 1209.º CC: limitação
do exercício do direito de denúncia dos defeitos perante vícios conhecidos pelo dono de obra, e
ignorados pelo empreiteiro, aquando da execução da obra, consubstanciando abuso de direito
(334.º CC);
Discussão acerca da aplicabilidade das normas de risco aos materiais fornecidos pelo dono de
obra (1212.º/1 CC), e respetiva inclusão do conceito de obra antes da sua incorporação, nos
termos do artigo 1228.º CC. Enquadramento da responsabilidade de E à luz do contrato de
depósito, quando os materiais são fornecidos pelo dono de obra, em prejuízo das regras referidas
relativas ao risco;
Direitos do dono de obra perante a obra defeituosa, posteriormente à verificação, no momento
da entrega (1218.º e ss CC). Enquadramento do dever do empreiteiro executar a obra, nos termos
do artigo 1208.º CC, de acordo com o convencionado. Inexistência de poder de direção do dono
de obra modificando o conteúdo acordado da prestação do empreiteiro e articulação com o
regime de alterações (designadamente, da iniciativa do dono de obra – 1216.º CC);
A contratação de Fernando (F) consubstancia a celebração de um contrato de subempreitada
(1213.º CC), sem o consentimento de D, o que é permitido ( 1213/2 e 264.º/1, parte final CC).
Valorização do enquadramento da divergência quanto à presente possibilidade e suas
consequências (responsabilidade contratual – posição da Regência). Enquadramento da
admissibilidade do subempreiteiro exigir o preço diretamente ao dono de obra, como uma
exceção ao princípio da relatividade dos contratos.
Critérios de Correção
Grupo I
[9 valores]
António vendeu a Berta o quadro “O Milagre de Ourique”, de Domingos Sequeira, no dia 02 de
janeiro de 2019, pelo preço de € 400.000,00, tendo sido o preço imediatamente pago por Berta.
António exigiu, porém, a consagração de uma cláusula de reserva de propriedade no contrato de
compra e venda celebrado.
Berta, considerando ter liquidado o valor do quadro, e ser sua legítima proprietária e possuidora,
decidiu vendê-lo a Carlos, no dia 10 de janeiro de 2019, pelo preço de € 550.000,00, que nada
sabia dos termos do negócio anteriormente celebrado entre António e Berta.
Sabendo de tal alienação, António pretende que o quadro lhe seja devolvido, solicitando parecer
junto do seu advogado, sobre a melhor forma de fazer valer os seus direitos.
Entretanto, em 02 de fevereiro de 2019 deflagrou um incêndio na casa de Carlos, onde se
encontrava o quadro, destruindo por completo o seu recheio.
António vem agora exigir a Carlos o valor do quadro.
Referência ao princípio da consensualidade resultante do artigo 408.º/1 do CC. Regra geral, a constituição
e transferência de direitos reais, na ordem jurídica portuguesa, dá-se por mero efeito do contrato (sistema
do título).
Discussão sobre a natureza da cláusula de reserva de propriedade enquanto mero desvio ou verdadeira
exceção ao princípio da consensualidade, à luz do artigo 409.º/1 do CC.
É possível a celebração de cláusula de reserva de propriedade relativa a coisas móveis não sujeitas a registo,
como era o caso do quadro, com o pagamento integral do preço pelo comprador, apesar de não ser comum
no tráfego.
Esta cláusula de reserva de propriedade estava sujeita a liberdade de forma (artigo 219.º do CC).
Problema de não se ter sido definido, como impõe o artigo 409.º/1, o momento da transmissão da
propriedade para o comprador. Inadmissibilidade da existência de cláusulas de reserva de propriedade
perpétuas, em face do princípio da tipicidade dos Direito Reais.
Berta, tendo apenas uma expetativa real de aquisição, não poderia alienar o quadro a Carlos, razão pela qual
não tinha legitimidade para a celebração de tal negócio jurídico, pelo que estamos perante um contrato de
compra e venda de bens alheios, nos termos do disposto no artigo 892.º do CC, não se aplicando, atendendo
aos dados da hipótese, o regime do artigo 893.º do CC.
Discussão da oponibilidade da cláusula de reserva de propriedade em relação a coisas móveis não sujeitas
a registo. Referência ao entendimento do Professor Romano Martinez de que nas coisas não sujeitas a
registo, a cláusula de reserva de propriedade tem eficácia meramente obrigacional. Invocação das críticas
elencadas pelo Professor Pedro de Albuquerque ao entendimento do Professor Romano Martinez. Tomada
de posição fundamentada.
Discutir fundamentadamente a transferência do risco nos contratos de compra e venda com reserva de
propriedade, fazendo referência ao regime do artigo 796.º do CC, e argumentando se o risco do perecimento
do quadro se mantém na esfera jurídica de António, na qualidade de alienante ou se se transfere para a
esfera jurídica de Berta, na qualidade de adquirente, ou de Carlos, enquanto sub-adquirente atendendo aos
argumentos apresentados pela doutrina.
Carlos, estando de boa fé, teria direito à restituição integral do preço, nos termos do disposto no artigo 894.º
do CC e à convalidação do negócio, ao abrigo do artigo 897.º, caso o quadro não tivesse sido destruído.
Carlos teria também direito a ser indemnizado, nos termos do disposto no artigo 896.º, pela circunstância
de Berta ter agido dolosamente.
O quadro, em virtude do incêndio, destruiu-se, deixando de existir direito real de propriedade, por
inexistência de objeto.
António não poderia exigir o valor do quadro a Carlos, podendo apenas hipoteticamente intentar uma ação
real de reivindicação da propriedade, nos termos do disposto no artigo 1311.º do Código Civil, caso o
quadro não tivesse sido destruído.
Grupo II
Aplicação do regime da compra e venda de coisa defeituosa, enquanto perturbação típica da compra e
venda, nos termos do disposto nos artigos 913.º e ss. do CC.
Inaplicabilidade do regime do Decreto-Lei n.º 67/2003, de 08 de abril, atendendo à natureza dos dois
contraentes.
O imóvel padecia de um defeito estrutural oculto, que era do conhecimento de Abel, o qual agiu
dolosamente, não procedendo a sua argumentação.
Bento teria direito à reparação do imóvel, nos termos do disposto no artigo 914.º do CC, tendo denunciado
tempestivamente o defeito, nos termos do disposto no artigo 916.º/3 do CC.
Teria Bento ainda direito a uma indemnização ao abrigo do artigo 908.º do CC, aplicado ex vi artigo 913.º
do CC.
Qualificação do contrato celebrado entre Bento e Carlota como empreitada, nos termos do disposto nos
artigos 1207.º e ss. do CC.
Atendendo à circunstância de ser a empresa de Berta a responsável pela empreitada, enquanto sociedade
comercial, discussão sobre a aplicabilidade da empreitada de bens de consumo – Decreto-Lei nº 67/2003,
de 08 de abril (cfr. Diretiva 1999/44/CE relativa aos contratos de compra e venda de consumo, que também
pode ser aplicada a certos contratos de empreitada (artigo 1º/4 da Diretiva), por se tratar de empreitada de
reparação do telhado (e não de uma obra nova).
Referência às três posições doutrinárias a este respeito (não aplicação; aplicação apenas quanto aos bens
incorporados pelo empreiteiro no objeto reparado; aplicação).
Carlota, na qualidade de empreiteira, poderia subempreitar livremente a obra, de acordo com uma leitura
adaptada do artigo 264.º do CC ex vi n.º 2 do artigo 1213.º do CC, em virtude na natureza fungível da
prestação. Assim, Bento não podia recusar a execução da obra pela empresa de Dário.
Apesar de a empresa de Berta ter recorrido à empresa de Dário, tal circunstância não a exonera da
responsabilidade de execução da empreitada assumida perante Bento, permanecendo inteiramente
responsável perante este último, por todos os defeitos da prestação, ainda que decorram de culpa do
subempreiteiro, como permite o disposto no artigo 800.º/1, do CC.
Direito dos Contratos I (TAN) | 1.ª Época - Coincidências
25 de Janeiro de 2019 | Duração: 90 minutos
Grupo I
[12 valores]
Em 15 de novembro de 2018, Antónia soube que um conhecido stand de automóveis estava a
vender os carros que tinha em exposição com um grande desconto. Nesse mesmo dia, dirigiu-se
ao stand e comprou um dos carros em exposição, por € 25.000. Uma vez que se tratava do único
exemplar do modelo pretendido por Antónia em exposição, esta teve de se contentar com o facto
de ser azul. O contrato com o stand foi assinado com uma cláusula de reserva de propriedade a
favor do Banco B, que financiou a aquisição do veículo, tendo ficado combinada a sua entrega
para um mês depois.
Grupo II
[6 valores]
Em 10 de janeiro de 2019, Carlos comprou a Daniela um apartamento em Lisboa por € 250.000.
Uma semana depois da compra, Carlos apercebe-se de que o imóvel se encontra arrendado a
Eduardo
2/3
Aplicação articulada dos artigos 908.º ou 909.º (consoante Daniela tivesse ou não
conhecimento da existência do arrendamento) e 910.º CC. Partindo do princípio de que
havia dolo de Daniela, aplica-se o art.º 910, n.º 2, que permite a indemnização pelo
interesse contratual positivo, como pretendido por Carlos. Tomada de posição
fundamentada sobre se a aplicação do art.º 910.º, n.º 2 implica que haja violação culposa
do dever de convalescença (como decorreria do n.º 1).
3/3
Direito dos Contratos I (TN) | Exame Escrito (1.ª Época)
17 de Janeiro de 2019 | Duração: 90 minutos
Grupo I
[9 valores]
No dia 31 de dezembro de 2018, Abel recebeu em sua casa a sua amiga Beatriz, que ficou muito
bem impressionada com os azulejos italianos que decoravam a sua sala de estar. Beatriz propôs
comprá-los pelo preço de € 25.000,00, a pagar em 25 prestações mensais de € 1.000,00 cada. Abel
aceitou, tendo combinado a entrega dos azulejos na casa de Beatriz uma semana depois.
1) Classificação completa e fundada do contrato como compra e venda (art. 874.º); Referência
ao princípio da consensualidade ao momento da transmissão da propriedade: estamos perante
partes integrantes (202.º e 204.º/3), pelo que a transmissão da propriedade fica diferida para
o momento da separação (408.º, n.º 2).
A destruição dos azulejos e da parede onde se encontravam provoca a impossibilidade do
cumprimento da obrigação de entrega, por causa não imputável ao devedor (A); o efeito real
não se logrou a produzir com a mera celebração do contrato (408.º/2), nem ocorreu a
necessária entrega dos bens.
Não há lugar à aplicação das regras do risco (796.º), porquanto não houve nem transferência
de domínio nem a constituição ou transferência de direitos reais sobre os azulejos.
Resta a aplicação das regras relativas à impossibilidade de cumprimento (795.º/1). B fica
desobrigado da contraprestação (de pagamento do preço) e tem o direito de exigir a sua
restituição, nos termos prescritos para o enriquecimento sem causa, se já a tiver totalmente
ou parcialmente realizado.
2) B não paga duas das prestações do preço, podendo A exigir antecipadamente as restantes
prestações (934.º, segunda parte); ao não pagar duas prestações, torna-se irrelevante apurar
se a falta de pagamento excede uma oitava parte do preço.
Articulação dos artigos 886.º e 934.º, primeira parte; discussão e tomada de posição
fundamentada acerca da questão de saber se perante uma venda a prestações sem reserva de
propriedade se deverá aplicar a primeira parte do artigo 934.º: aplicando-se o preceito, a
possibilidade de resolução do contrato ficaria dependente de o incumprimento de B exceder
1/8 do preço; porém, B incumpriu duas prestações, devendo discutir-se se a possibilidade de
resolução do contrato fica dependente da gravidade do incumprimento, tal como previsto no
artigo 802.º/2.
3) A venda celebrada entre A e B qualifica-se como uma venda de bens alheios, por falta de
legitimidade de A, tratando-se de uma venda como própria de uma coisa alheia específica e
presente, fora do âmbito das relações comerciais (892.º e ss.). A venda é, como tal, nula
(nulidade atípica). A compra e venda entre A e B é ineficaz perante Carlos (C), que poderá
reivindicar a coisa perante quem a tenha em seu poder (1311.º).
B, estando de boa fé, poderá invocar a nulidade da compra e venda perante A, que se encontra
de má fé (presumivelmente), mas não o inverso (892.º). Quanto aos efeitos, sendo nula a
venda realizada (pressupondo-se a não convalidação do contrato), B ficará obrigado a restituir
a coisa (289.º) a C, que a reivindica, e tem direito à restituição integral do preço que
eventualmente tenha pago, por se encontrar de boa fé (894.º/1, in fine).
B tem ainda direito a ser indemnizado por A, nos termos do artigo 897.º, caso este tenha
procedido com dolo (253.º) ou, alternativamente, nos termos do art.º 899.º; esta indemnização
poderá ser cumulada com a indemnização pela não convalidação do contrato (897.º/1, in fine),
se compatível, nos termos do artigo 900.º.
B terá direito à restituição das benfeitorias realizadas nos azulejos, nos termos dos artigos
901.º e 1273.º, podendo reter a coisa (754.º) até ao seu pagamento por C, quer B, devedores
solidários.
Grupo II
2/3
[9 valores]
3/3
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Grupo I
Anabela vende a Baltazar uma moradia na Zambujeira do Mar, cuja área é de 120 m2, que este
pretende utilizar para fins habitacionais durante o verão. O preço acordado foi de € 400.000 e as
chaves foram entregues duas semanas após a escritura pública.
- Qualificação como compra e venda de bens onerados (art. 905.º CC). O “ónus” enquanto um
vício do direito transmitido e não do objeto do negócio, i.e., a coisa vendida (diferentemente do
que sucede na venda de bens defeituosos).
- Não existe possibilidade de confirmação do negócio pelo comprador (art. 288.º CC), mas sim a
possibilidade (rectius, obrigação) de convalescença pelo vendedor (art. 906.º e 907.º CC), através
da expurgação do ónus.
- Pretensão indemnizatória: aplicação articulada dos artigos 908.º ou 909.º (consoante o vendedor
tivesse ou não conhecimento da existência do direito de usufruto) e 910.º CC. Em caso de dolo, o
vendedor tem direito a uma indemnização pelo interesse contratual positivo (art. 910.º, n.º 2 CC).
2) Decorridos dez meses desde a celebração do contrato, Baltazar descobre que a área da
moradia é de apenas 108 m2. Quid juris? (2 valores)
- A área real da moradia difere da área declarada no contrato em 1/10 (um décimo), logo Baltazar
tem direito à correção do preço (art. 888.º, n.º 2 CC): discussão sobre se correção proporcional do
preço visaria a totalidade da diferença ou apenas a parte da diferença que excedia 1/20.
- O direito à correção do preço ainda não havia caducado, pois Baltazar tomou conhecimento da
discrepância antes de decorrer 1 ano após a entrega do imóvel (art. 890.º, n.º 1 CC).
- Discussão sobre o direito de resolver o contrato previsto no artigo 891.º, n.º 1 CC.
3) Imagine que a compra e venda da moradia havia sido ajustada com reserva de propriedade
a favor do Data Bank, S.A.., que financiou o pagamento do preço. Entretanto, e antes do
pagamento integral das prestações do contrato de mútuo, Baltazar perde o interesse na
moradia e vende-a a Eurico, seu amigo de infância. Quid juris? (4 valores)
- Discussão sobre validade da cláusula de reserva de propriedade a favor de terceiro (no caso,
mutuante), mencionando os argumentos a favor e contra (valorizando-se as referências
jurisprudenciais e doutrinárias relevantes). Referência, em particular, à proibição de pacto
comissório e ao princípio da tipicidade dos direitos reais.
Grupo II
- Qualificação do contrato como empreitada de consumo (art. 1207.º CC e art. 1.º-A, n.º 2 do DL
n.º 67/2003), celebrado entre um profissional e um consumidor (art. 1.º-B do DL n.º 67/2003).
- Debate doutrinário quanto à interpretação do art. 1209.º, n.º 2 CC: a prévia fiscalização pelo
dono da obra preclude os seus direitos em sede de empreitada defeituosa? Confronto com a figura
do abuso de direito (art. 334.º CC). Tomada de posição.
2) Uma vez que não era especialista em instalações elétricas, Guilherme contrata Hugo
para o auxiliar na remodelação do apartamento. Finalizada a instalação elétrica, Hugo
não recebe a quantia acordada de 2.500€, pelo que vem exigir o seu pagamento a
Francisca, a qual recusa por desconhecer a existência de tal acordo. Em consequência,
Hugo retira o quadro elétrico que havia instalado. Quid juris? (4 valores)
- Qualificação da contratação de Hugo como uma subempreitada (art. 1213.º, n.º 1 CC), a qual
não necessitava de autorização do dono da obra, atendendo à sua natureza fungível (art. 264.º, ex
vi 1213.º, n.º 2 CC).
- Enquadramento da admissibilidade do subempreiteiro exigir o preço diretamente ao dono de
obra, como uma exceção ao princípio da relatividade dos contratos (art. 406.º, n.º 1 CC).
Duração: 90 minutos
Grupo I
António vendeu a Bernardo por €100 o seu computador da marca XPTO, com valor de
mercado de €2.500, que lhe havia sido furtado no âmbito de um assalto ocorrido no mês anterior.
Bernardo tinha conhecimento do furto do computador, tendo-lhe sido entregue por António uma
cópia da queixa-crime efetuada junto da polícia relativamente ao assalto, na qual o computador
constava como um dos objetos furtados.
Considere cada uma das seguintes hipóteses, isoladamente:
b) Suponha que ficou acordado que o preço seria pago um dia após a celebração do contrato.
Passado duas semanas, Bernardo ainda não havia procedido ao pagamento, apesar de
várias interpelações de António para o efeito. Entretanto, a polícia descobriu os autores
do assalto e recuperou o computador. António pretende agora resolver o contrato por
falta de pagamento do preço.
Pode fazê-lo? (3 valores)
- Discussão dos pressupostos de aplicação do art.º 886.º CC, nomeadamente quanto à entrega da
coisa. Tomada de posição fundamentada sobre se obrigação de entrega consiste sempre num
efeito essencial da compra e venda, mesmo nos casos em que o comprador aceita a incerteza
quanto à existência do bem (ou em casos como o da venda de direitos de crédito, em que, por
natureza, não há entrega material ou em que o comprador já tem a coisa em seu poder), enquanto
obrigação de conteúdo variável que pode ser normativamente cumprida sem que haja entrega
material, desde que comprador seja colocado na posição de poder exercer plenamente os seus
direitos sobre o bem.
c) Imagine agora que Carlos, proprietário da Computadores Novos & Usados, Lda.,
adquiriu o computador a um feirante e o colocou à venda na sua loja. O computador foi
vendido a Daniela por €1500. Sucede que Daniela e Bernardo eram amigos de longa
data. Quando Daniela mostrou a Bernardo o seu “novo computador”, este reconheceu o
que comprara a António e exigiu a sua entrega. Daniela afirmou que só lho entregaria se
a loja o substituísse por um computador igual. Porém, Carlos recusa-se a entregar outro
computador a Daniela, disponibilizando-se apenas a devolver o preço.
Quid juris? (5 valores)
- Qualificação da venda entre a CN&U e Daniela como venda bem alheio (892.º + 904.º CC).
Bernardo, como legítimo proprietário, pode reivindicar a coisa de Daniela, bem como arguir a
nulidade do contrato enquanto interessado. Referência eventual ao art.º 1301.º CC.
- Referência à obrigação de convalidação da CN&U, uma vez que Daniela estava de boa fé
(897.º/1 CC).
- Tomada de posição fundamentada sobre se, à luz da boa fé subjetiva ética, a CN&U pode arguir
a nulidade do negócio (892.º, 2ª parte CC) e se tem a obrigação de indemnizar Daniela nos termos
do art.º 898.º CC (dolo eventual) ou se é apenas responsável objetivamente nos termos do art.º
899.º CC, pelos danos emergentes que não resultem de despesas voluptuárias. Em caso de
incumprimento da obrigação de convalidação, acrescerá a indemnização prevista no n.º 1 do art.º
900.º CC, sem prejuízo do n.º 2.
- Qualificação do negócio celebrado entre Daniela e a loja como uma venda de bem de consumo,
celebrada entre profissional e consumidor (art.ºs 1.º-A, n.º 1, e 1.º-B, a) e c) do DL n.º 67/2003).
- Tomada de posição fundamentada sobre se Daniela tem os direitos previstos no DL n.º 67/2003,
na medida em que se possa ou não qualificar a alienidade do computador como uma falta de
conformidade, nos termos do art.º 2 do DL n.º 67/2003, à semelhança da discussão existente a
propósito da venda de bens onerados.
- Em caso afirmativo, Daniela poderá exigir os direitos previstos no artigo 4.º do DL n.º 67/2003,
nomeadamente o direito à substituição, desde seja possível substituir o bem vendido por um de
qualidades e características idênticas.
Grupo II
A sociedade Arquitetos & Arquitetos, Lda., contratou Bento para montar uma casa de
banho numa divisão utilizada até então como despensa pelo preço de € 6.500, com o material
incluído. Durante a execução dos trabalhos, Carlota, arquiteta e sócia-gerente da Arquitetos &
Arquitetos, Lda., reparou que a forma como a canalização estava a ser montada implicaria elevar
o chão em cerca de 5 cm a mais do que tinha sido previsto. Ao informar disso Bento, este
respondeu-lhe que era verdade, mas que agora já não havia nada a fazer, senão teriam de remover
os tubos todos e começar de novo. Carlota disse então para prosseguirem os trabalhos como
estavam a fazer.
Considere cada uma das seguintes hipóteses, isoladamente:
1) No dia em que a obra ficou pronta, a Arquitetos & Arquitetos, Lda., recusou-se a pagar
a totalidade do preço por causa da elevação do chão.
Podia fazê-lo? (4 valores)
- Qualificação do negócio como contrato de empreitada, nos termos do art.º 1207.º CC, por preço
global.
- Referência ao dever de o empreiteiro de executar a obra de acordo com o projeto acordado
(1208.º CC). A elevação do chão não consiste numa alteração da obra necessária por falta de
verificação dos requisitos do art.º 1215.º, n.º 1 CC, dado que resulta da forma escolhida pelo
empreiteiro para instalar a canalização no âmbito da sua autonomia técnica.
- Referência ao exercício do direito de fiscalização pelo dono da obra (A&A) através de Carlota
(1209.º, n.º 1 CC). O dono da obra não tem o dever ou o ónus de exercer este direito, mas não
poderá exercer os seus direitos pelos defeitos existentes ou pela má execução da obra, se tiver
havido da sua parte concordância expressa com a obra executada (1209.º, n.º 2 CC). Tomada de
posição fundamentada sobre se, no caso, Carlota expressou a concordância expressa da A&A.
Caso o aluno entenda que Carlota – independentemente dos motivos pelos quais expressou a sua
concordância com o prosseguimento dos trabalhos com elevação do chão (evitar que a conclusão
da obra demorasse mais tempo) – não manifestou concordância expressa, nem autorizou a
alteração ao plano convencionado (1214.º CC), então deverá indicar que a A&A pode exercer os
direitos previstos nos artigos 1221.º ss. e apenas poderá exigir a redução do preço nos termos do
art.º 1222.º CC (discutir eventual abuso do direito). Caso entenda que houve concordância
expressa ou autorização à alteração da obra, não é a obra havida como defeituosa, nos termos do
art.º 1214.º CC. Em consequência, na última hipótese, não poderá a A&A exigir a redução do
preço ou exercer quaisquer outros direitos pela elevação do chão aquando da verificação da obra
(1218.º CC).
2) Suponha que Bento havia contratado Edmundo para tratar da instalação da canalização
e que, durante a execução dos trabalhos, Carlota instruíra Edmundo para fazer a
instalação de forma diversa de modo a evitar a elevação do chão. Edmundo respondeu
que nada alteraria até que Bento lhe desse instruções nesse sentido. Carlota, que não
estava a conseguir contactar Bento, disse então a Edmundo que este lhe tinha de
obedecer.
Terá razão? (4 valores).
- Qualificação do contrato entre Bento e Edmundo como subempreitada (1213.º, n.º 1 CC). Bento
não carecia de autorização para subcontratar Edmundo, pois a realização da obra consiste numa
prestação de natureza fungível, nos termos do art.º 264.º, n.º 1, ex vi 1213.º, n.º 2 mutatis mutandis.
- O direito de fiscalização do dono da obra não lhe permite, em princípio, dar ordens ao
empreiteiro, o qual mantém a sua autonomia técnica. Porém, estando em causa a má execução da
obra (por ser infiel ao projeto acordado ou por apresentar defeitos), o empreiteiro deverá acatar
as instruções do dono da obra, enquanto manifestação do seu dever de executar a obra em
conformidade com o disposto no art.º 1208.º CC.
- Discussão e tomada de posição fundamentada sobre se o dono da obra pode dar ordens ou
instruções diretamente ao subempreiteiro. Uma vez que não existe uma relação contratual entre
si (princípio da relatividade dos contratos), à partida não seria de admitir tal faculdade. Porém,
existem argumentos a favor dessa possibilidade: a prestação do subempreiteiro prossegue, em
última instância, a satisfação dos interesses do dono da obra através da realização da obra, sendo
admissível considerar-se que existe uma relação paracontratual entre ambos; pelo menos em
certas circunstâncias, nomeadamente em casos de urgência ou de impossibilidade de contactar o
empreiteiro, poderá admitir-se que o dono da obra dê instruções diretamente ao subempreiteiro e
este tenha o dever de as acatar.
Duração: 90 minutos
Grupo I
A sociedade Arquitetos & Designers, Lda (A&D) pagou € 3.000 a uma fábrica de
tapeçarias artesanais em troca da produção de três tapetes com as dimensões e os desenhos
indicados pela A&D. Ficou acordado que os tapetes seriam entregues no prazo de 60 dias.
Considere cada uma das seguintes hipóteses, isoladamente:
1) Um dia antes da entrega dos tapetes, já totalmente finalizados, a fábrica de tapeçarias
sofre um incêndio. Os três tapetes ficam destruídos. Em consequência, a A&D exige a
devolução do preço, mas o departamento jurídico da fábrica envia uma carta à A&D a
recusar essa pretensão, alegando que o contrato celebrado entre as partes configurava uma
“venda de bens futuros”, cujo risco se havia transferido aquando da conclusão dos tapetes.
Terá razão? (4 valores)
- Distinção entre venda de bens futuros e empreitada. Qualificação do contrato entre a A&D e a
fábrica como um contrato de empreitada, com os seus dois elementos essenciais (prestações
principais de realização de obra e de pagamento do preço) – 1207.º CC. A produção e entrega dos
tapetes em conformidade com as indicações da A&D cumpre os requisitos para se considerar a
natureza dessa prestação como “obra”: (i) resultado exteriorizável numa coisa concreta, corpórea,
suscetível de entrega e aceitação, (ii) resultado específico e concreto (ou seja, pode ser separado
do processo produtivo, do modo de realização e atividade e conteúdo espiritual, se se quiser se
ele próprio assumir a relevância de um significado ou utilidade própria desligada da atividade que
esteve na sua origem mesmo se consistir numa coisa incorpórea), (iii) resultado concebido e
alcançado de acordo com um projeto (as indicações da A&D).
- Aplicação do 1212.º/1, 1ª parte CC: ainda não tinha havido aceitação da obra, portanto risco
corre por conta da empreiteira (fábrica).
- Consequências do não cumprimento, dentro do prazo fixado, pela fábrica a obrigação de entregar
a obra: constituição em mora (805.º/2, a) CC); requisitos do incumprimento definitivo
(interpelação admonitória – 808.º/1 CC), do qual resulta o direito de resolução do contrato e
concomitante pedido de devolução do preço.
2) Dezoito meses após a entrega dos tapetes, a A&D apresenta uma reclamação junto da
fábrica de tapeçarias com o fundamento de que todos eles haviam começado a desfiar
bastante, pretendendo uma devolução parcial do preço, no valor de € 1.000. (4 valores)
- Existência de defeitos ocultos, pelos quais empreiteira é responsável (1208.º e 1219.º CC). Dono
da obra tem o ónus de demonstrar que defeito é imputável à empreiteira, não resultando da sua
má ou descuidada utilização (estado dos tapetes, etc.).
- Requisitos do direito à redução do preço (1222.º/1 CC), subsidiário em face do direito à
eliminação dos defeitos e à construção de nova obra (que cessam em caso de
desproporcionalidade entre as despesas e o proveito deles resultantes, como aparenta ser o caso –
1221.º/2 CC).
- Prazo para denúncia dos defeitos: 30 dias desde o descobrimento (1220.º/1 CC). Prazo de
caducidade de 1 ano desde a denúncia, desde que não superior a 2 anos desde a entrega da obra
(prazo respeitado).
3) A sua resposta à questão 2) seria diferente se o adquirente dos tapetes, em vez da A&D,
fosse Bernardo, que pretendera os tapetes para decorar a sua casa? (3 valores)
- Estaríamos, neste caso, perante uma empreitada de bens de consumo, regulada pelo DL n.º
67/2003, de 8 de abril (1.º-A/2 e 1.º-B, a), b) e c) do referido DL). Tratando-se de bens (tapetes)
entregues no âmbito da empreitada, não se colocam aqui as questões controvertidas quanto à
aplicabilidade do referido DL às empreitadas celebradas com consumidores em que estejam em
causa os chamados bens “extra rem” (nomeadamente, nas empreitadas de reparação) ou às
empreitadas de onde não resulte a entrega ou incorporação de nenhum bem (máxime, empreitadas
de demolição).
- Existência de desconformidade com o contrato, nos termos do 2.º/2, d) do referido DL, pela
qual empreiteira é responsável (3.º/1 do referido DL).
- Presunção de que desconformidade já existia à data da entrega dos tapetes (3.º/2 do referido
DL), a qual inexiste no âmbito da empreitada civil.
- Tomada de posição fundamentada sobre a existência de hierarquia dos meios de reação previstos
no artigo 4.º/1 do referido DL, atendendo às posições doutrinárias e jurisprudenciais existentes,
nomeadamente à luz do n.º 5 do mesmo artigo e do regime previsto na Diretiva n.º 1999/44/CE,
do Parlamento Europeu e do Conselho, de 25 de Maio.
- Prazo para denúncia: 2 meses desde o descobrimento (5.º-A/2 do referido DL). Prazo de
caducidade de 2 anos (5.º/1 ex vi 5.º-A/1 do referido DL).
Grupo II
Carlos comprou a Daniela uma bicicleta pelo preço de € 1.500. O preço seria pago em
dez prestações mensais de € 150 cada. Ficou ainda acordado que Daniela poderia resolver o
contrato por falta de pagamento de qualquer prestação.
Considere cada uma das seguintes hipóteses, isoladamente:
1) Carlos não pagou a sexta prestação. Daniela pretende resolver o contrato. Pode fazê-lo?
(3 valores)
2) Suponha que Carlos havia adquirido a bicicleta a Daniela sob reserva de propriedade.
Após o pagamento da terceira prestação, Carlos vende a motocicleta a Eduardo,
omitindo a existência da reserva. Carlos nunca mais paga nenhuma prestação a Daniela,
que resolve o contrato entre ambos e exige de Eduardo a entrega da motocicleta.
Eduardo recusa entregá-la, por considerar que a reserva de propriedade não lhe é
oponível. Quid juris? (4 valores)
- Carlos constitui-se em mora relativamente às quarta e seguintes prestações (805.º/2, a) CC).
Decorrido o prazo razoável previsto em interpelação admonitória (808.º/1 CC), Carlos entra em
incumprimento definitivo e Daniela pode resolver o contrato.
- Sendo a cláusula de reserva de propriedade oponível a Eduardo, estamos perante uma venda de
bens alheios (892.º e 904.º CC): requisitos e regime aplicável, nomeadamente referência aos
direitos de Eduardo: direito à convalidação do negócio (897.º CC), indemnização por dolo (898.º),
indemnização por incumprimento da obrigação de convalidar o contrato (900.º).
Duração: 90 minutos
Grupo I
Grupo II
Daniel contratou Filipa para proceder à construção de uma moradia. Para tanto, Filipa
devia construir a moradia num dos terrenos constantes do seu portfólio imobiliário.
Considere cada uma das seguintes hipóteses, isoladamente:
1) Imediatamente após a celebração do contrato, Daniel prometeu vender a moradia a
Helena pelo valor de €5.000.000,00. Helena exigiu que se incluísse expressamente a
possibilidade de lançar mão da ação de execução específica em caso de incumprimento.
Filipa não construiu o imóvel dentro do prazo convencionado, provocando um atraso
substancial na celebração do contrato definitivo. Quid juris? (4 valores)
- Qualificação completa e fundada como contrato de empreitada (artigo 1207.º);
- Problematização à luz do regime da transmissão da propriedade (artigo 1212.º CC) e
identificação da forma como se transmite a propriedade no caso de esta pertencer ao
empreiteiro (caso não resolvido pelo 1212, n.º 2 do CC); na medida em que ainda não se
tinha verificado a transmissão da propriedade para a esfera do dono da obra, deveria
discutir-se a admissibilidade do contrato promessa de compra e venda de bem alheio e
da inclusão, no respetivo contrato, da previsão de execução específica.
2) Suponha que Filipa havia contratado Guilherme para cuidar da instalação elétrica e que,
durante a execução dos trabalhos, Daniel instruíra Guilherme para fazer a instalação de
forma diversa. Guilherme respondeu que nada alteraria até que Filipa lhe desse
instruções nesse sentido. Daniel, que tentara — sem sucesso — contactar Filipa, disse
então a Guilherme que este lhe tinha de obedecer. Terá razão? E, findo o contrato, pode
Guilherme exigir que Daniel lhe pague diretamente o preço devido? (4 valores).
- Identificação completa e fundada de uma subempreitada (1213.º CC) e respetiva
admissibilidade;
- Deveria discutir-se e tomar posição fundamentada quanto à admissibilidade de ação
direta entre empreiteiro e subempreiteiro. O caso convoca uma análise do problema à
luz do regime das alterações exigidas pelo dono da obra ao subempreiteiro e da questão
de saber se o subempreiteiro pode exigir o pagamento do preço ao subempreiteiro.
Duração: 90 minutos
Grupo I
a) Perante a resposta de Beatriz, Carlos intenta uma ação judicial para obter a
reparação da bicicleta. Além do argumento já invocado, Beatriz acrescenta que a
bicicleta nem sequer lhe pertencia e que, portanto, a venda era nula. Quid juris? (5
valores)
- Qualificação do negócio entre Bruna e Carlos como venda de bens alheios e aplicação do
respetivo regime, nomeadamente:
1) verificação dos requisitos (artigos 892.º e 904.º CC); particularmente quanto ao requisito
da falta de legitimidade: embora Bruna dispusesse de procuração outorgando-lhe poderes
de representação para vender a bicicleta de Ana, tal não lhe conferia legitimidade para a
vender em nome próprio (mas apenas legitimidade para atuar no âmbito da esfera jurídica
de Ana, em nome desta, diferentemente do que veio a suceder no negócio com Carlos); em
consequência, o negócio entre Bruna e Carlos padece da nulidade atípica regulada nos
artigos 892.º ss.
2) uma das especificidades da nulidade atípica da venda de bens alheios respeita ao regime
de arguição e oponibilidade: Bruna, vendedora, não pode opor a invalidade ao comprador
de boa fé, Carlos (artigos 892.º, 2.ª parte)
3) referência aos direitos de Carlos (em particular, à indemnização prevista no artigo 898.º) e
às obrigações de Bruna (em particular, à de convalidação, prevista no artigo 897.º).
- Qualificação do negócio entre Bruna e Carlos como venda de coisa defeituosa e aplicação do
respetivo regime, nomeadamente:
1) verificação dos requisitos (artigo 913.º):
a. existência de “vício” material do bem vendido, o qual lhe retira as qualidades
necessárias para a realização do fim a que se destina (locomoção);
b. tomada de posição fundamentada sobre a necessidade de haver erro, enquanto falsa
perceção da realidade (quanto à existência do defeito da bicicleta), à data da
celebração do contrato, e de se verificarem os respetivos requisitos (essencialidade
do elemento sobre o qual incidia o erro e respetiva cognoscibilidade, nos termos do
artigo 247.º ex vi artigo 251.º), por remissão do artigo 905.º, ex vi artigo 913.º, para
que se apliquem os mecanismos de reação ao dispor do comprador ao abrigo do
regime da venda de coisas, nomeadamente o direito à reparação e substituição
previstos no art.º 914.º; atender, em particular, ao art.º 918.º e à inexistência de um
“regime geral” do cumprimento defeituoso, o qual deverá ser construído através
das “manifestações” desse tipo de não-cumprimento consagradas, de forma isolada,
ao longo do Código Civil, entre as quais se encontra o regime da venda de coisas
defeituosas;
2) ónus de denunciar o defeito no prazo de 30 dias após o seu descobrimento e dentro de 6
meses após a entrega, salvo dolo do vendedor (artigo 916.º, n.ºs 1 e 2);
3) referência à caducidade da ação nos termos do artigo 917.º;
4) referência aos direitos de Carlos à reparação e, caso tal não fosse possível, à substituição
da bicicleta, dada a sua natureza fungível, ao abrigo do artigo 914.º, 1.ª parte, bem como ao direito
à indemnização prevista no artigo 898.º, ex vi artigo 913.º.
b) Suponha que Beatriz tinha vendido a bicicleta a Carlos € 1.500, a pagar em dez
prestações mensais de € 100 cada, ficando convencionado que o incumprimento de
qualquer prestação conferiria a Beatriz o direito de resolver o contrato. Perante o
atraso no pagamento da quinta prestação, Beatriz pretende resolver o contrato.
Pode fazê-lo? (5 valores)
Grupo II
A sociedade “Dominó” contratou Ernesto para efetuar obras de remodelação geral da sua
loja pelo preço de € 15.000. Uma semana depois da conclusão e entrega da obra, a “Dominó”
informou Ernesto da existência de defeitos na instalação elétrica, exigindo-lhe a sua reparação.
Ernesto recusou-se a proceder a tal reparação com dois argumentos: i) a partir da aceitação da obra,
na semana anterior, o contrato de empreitada havia-se “esgotado” e o dono da obra não podia
exigir mais nada ao empreiteiro; ii) a instalação elétrica fora efetuada por Francisco,
subempreiteiro, pelo que Ernesto não poderia ser responsável por eventuais defeitos a ela
inerentes. Quid juris?
(8 valores)
- Contrato de empreitada entre a sociedade “Dominó” e Ernesto (artigo 1207.º), referente a coisa
imóvel, com estabelecimento de preço global.
- Ernesto, empreiteiro, tem a obrigação de executar a obra sem vícios e defeitos, de acordo com o
convencionado e as legis artis do seu ofício (artigo 1208.º).
- O primeiro argumento invocado por Ernesto corresponde a uma afirmação falsa, pois a aceitação
da obra sem reservas pelo dono da obra, bem como a sua não verificação – conducente à respetiva
aceitação ficta (artigo 1218.º, n.º 1) – não exoneram o empreiteiro de responsabilidade por todos
os defeitos da obra, mas apenas pelo defeitos que fossem do conhecimento do dono da obra (artigo
1219.º, n.º 1), presumindo-se tal conhecimento no caso dos defeitos aparentes (artigo 1219.º, n.º
2), mas não no caso dos defeitos ocultos, como, à partida, será o caso dos defeitos na instalação
elétrica.
- O segundo argumento invocado por Ernesto também não é procedente, uma vez que a
subempreitada (artigo 1213.º) – a qual é lícita, mesmo sem autorização do dono da obra, desde que
esta seja de natureza fungível, nos termos do artigo 264.º, n.º 1, mutatis mutandis – não exonera o
empreiteiro da responsabilidade por todos os defeitos ocultos que não sejam conhecidos pelo dono
da obra à data da aceitação, nos termos do artigo 1219.º, tratando-se de um contrato do qual o dono
da obra não é parte; o empreiteiro pode, no entanto, exigir o direito de regresso ao subempreiteiro
pelos danos por que tenha de responder perante o dono da obra, desde que respeitado o prazo de
denúncia previsto no artigo 1226.º, respondendo, nesse caso, o subempreiteiro perante o
empreiteiro nos termos gerais, i.e., do artigo 1219.º ss..
- Assim, tendo efetuado a denúncia dentro dos prazos previstos nos artigos 1225.º, n.ºs 1, 2 e 3
(cinco, a sociedade “Dominó” tem o direito à eliminação dos defeitos (artigo 1221.º) e, não
havendo essa eliminação, à redução do preço (artigo 1222.º), os quais são cumuláveis com o direito
à indemnização (artigo 1223.º). Pareceria excessivo, contudo, o recurso à resolução do contrato,
dado que a instalação elétrica corresponde apenas a uma parte da obra, não se podendo, portanto,
considerar que (toda) a obra será “inadequada ao fim a que se destina” em virtude dos defeitos.
Duração: 90 minutos
Exame de contratos I
Turma da noite
01-02-2021
- Havendo entrega, a 2ª parte do art.º 934.º não permite a perda do benefício do prazo por
falta de pagamento de uma prestação correspondente a montante inferior a 1/8 do preço
(no caso, 1/20).
- Em todo o caso, o risco de perda da coisa nunca deveria correr por conta de A (vendedor
inicial, com reserva de propriedade), após a entrega do automóvel a B. Exposição e
tomada de posição justificada relativamente às teses que sustentam que o risco corra por
conta do adquirente nestes casos.
II
Turma da noite
19-01-2021
- O preço enquanto elemento essencial do contrato de compra e venda (art.º 874.º CC),
mas que pode estar indeterminado.
- O contrato de compra e venda contempla uma cláusula penal compensatória (i.e., para
o caso de incumprimento definitivo, não aplicável em caso de mera mora).
- Não se aplica o art.º 935.º CC por não estarmos perante uma venda a prestações. Aplica-
se o regime geral previsto nos art.ºs 810.º a 812.º CC.
II
a) A, empreiteiro, obriga-se para com B a realizar a construção de uma casa num pântano.
No contrato não é fixado prazo para a sua realização. Passados dois anos B impacienta-
se e pretende demandar A por incumprimento do pactuado. A defende-se dizendo: i)
nunca tinha realizado a construção de uma casa num pântano; ii) não há prazo
estabelecido. Quid iuris? (valores 5)
- Quanto ao primeiro argumento invocado por A, importa referir que o empreiteiro deve
realizar as obras as cumprindo as regras da arte e todas as outras necessárias para se poder
afirmar haver um cumprimento conforme com o interesse do dono da obra, por exemplo,
regulamentos urbanísticos e outras normas administrativas (art.º 1208.º CC e também art.º
1215.º CC). No silêncio do contrato, o padrão de diligência a que o empreiteiro está
sujeito corresponde ao fixado nas regras da arte objetivamente consideradas, devendo o
empreiteiro conhecê-las: a obrigação do empreiteiro é uma obrigação de resultado. É,
pois, irrelevante que A não as conheça ou não consiga cumpri-las por não dispor, por
exemplo, de meios técnicos ou de pessoal qualificado na sua estrutura empresarial.
Embora o empreiteiro não seja, em regra, obrigado a dominar as técnicas “de ponta”, a
própria natureza da obra a realizar pode suscitar padrões mais exigentes na qualidade
construtiva, como no presente caso em que a obra consiste na construção de um imóvel
em local onde se verificam condições de solo e clima onde a construção é particularmente
difícil. A não pode, assim, invocar tais condições para reclamar um grau de diligência
mediano no cumprimento – muito menos exonerar-se invocando a impossibilidade ou
excessiva onerosidade do cumprimento da sua obrigação.
- Quanto ao segundo argumento invocado por A, é certo que o prazo de cumprimento não
se encontra na total disponibilidade do dono da obra. A obrigação de realizar uma obra é
um exemplo clássico das chamadas obrigações de prazo natural, previstas no n.º 2 do
artigo 777.º CC (e não um caso de obrigação pura, em que o devedor entra em mora com
a interpelação). O n.º 2 do artigo 777.º CC dispõe que, se for necessário fixar um prazo
para o cumprimento, não havendo acordo das partes, deve essa fixação ser deferida ao
tribunal. No entanto, pode defender-se, como faz PEDRO DE ALBUQUERQUE, que o
deferimento ao tribunal da fixação do prazo não se justifica, se o dono da obra fixar um
prazo tecnicamente razoável para a execução da obra. Nesse caso, pode o empreiteiro
discutir em juízo a razoabilidade do prazo fixado pelo dono da obra. Mas se o dono da
obra vier a ganhar a disputa judicial (entendendo o tribunal ser o prazo por ele fixado de
facto sensato e ponderado), os efeitos da mora reportam-se ao momento do não
cumprimento do prazo inicialmente fixado. Evita-se, assim, fomentar a inércia do
empreiteiro durante todo o tempo tomado pelo tribunal para se pronunciar sobre o prazo
razoável. É esta também a solução consensualmente defendida pela doutrina
relativamente aos casos de fixação de um limite temporal para a eliminação dos defeitos
ou realização de obra nova nas hipóteses dos artigos 1221.º e 1225. Assim, deve B fixar
um prazo razoável para o cumprimento da obrigação de realização da obra por A,
entrando A em mora se desrespeitar tal prazo.
b) A, empreiteiro, construiu uma coisa para B, mas com defeito. A procede a uma
intervenção destinada a corrigir os defeitos detetados ou à realização de obra nova, mas
estes mesmo assim subsistem ou aparecem novos defeitos. O que pode o dono da obra
fazer? Poderá recorrer a terceiro para eliminar os defeitos que A não consegue ou não
pretende eliminar? (4 valores)
- A entrega da obra com defeitos pelo empreiteiro ao dono da obra confere a este o direito
à eliminação dos defeitos ou à construção de nova obra, se essa eliminação não for
possível (art.º 1221.º/1 CC) e, no limite, não sendo eliminados os defeitos ou construída
obra nova, à redução do preço ou à resolução do contrato, se os defeitos tornarem a obra
inadequada ao fim a que se destina (art.º 1222.º/1 CC).
- Porém, o dono da obra dispõe ainda, para além dos direitos já referidos, do direito à
indemnização (cumulável com os seus demais direitos, nos termos do art.º 1223.º CC),
pelo que alguma doutrina, como CURA MARIANO, MENEZES LEITÃO e PEDRO DE
ALBUQUERQUE, admitem o recurso a terceiro para a eliminação dos defeitos e
consequente pedido de ressarcimento ao empreiteiro do custo inerente, o que se pode
configurar como uma forma de indemnização.
- A jurisprudência tem também entendido que, nos casos em que a eliminação dos defeitos
se afigure urgente, pode o dono da obra recorrer a terceiro antes de haver incumprimento
definitivo, invocando, por exemplo, a figura do estado de necessidade.
Grupo I
Alberto, estudante da FDL, é comproprietário com Bernardo de um manual de Direito das Obrigações,
decidindo vender o mesmo a Carlos, em virtude da sua débil situação económica. Foi fixado o preço de €
10,00, sendo o livro entregue de imediato a Carlos, e o preço pago. As partes estabeleceram ainda que
Alberto poderia readquirir o livro na eventualidade de Carlos o pretender vender nos próximos 10 (dez)
anos, tendo denominado tal acordo como “retrovenda” (terminologia a respeito do qual Alberto não
estava muito seguro).
Grupo II
Alberto acordou com Bernardino a construção de uma nova moradia num terreno em Azeitão. Como
sabia que Bernardino tinha um belo terreno em Azeitão, Alberto questionou se a obra poderia ser feita no
seu terreno, ao que o primeiro anuiu. Por tudo, Alberto pagaria 200.000,00 €.
a) A partir de que momento é que Alberto se torna proprietário do prédio? Imaginando que o preço
seria pago em prestações, seria lícito convencionar-se que Alberto só se tornava proprietário
quando pagasse a totalidade do preço? (2 valores)
Qualificação deste contrato como contrato miso (obrigação de realizar a obra e promessa de
venda), sendo o momento relevante para a transmissão da propriedade da obra o ca celebração
do contrato prometido, isto é, a propriedade da obra só se transmite com a transmissão da
propriedade do solo. Até esse momento, a obra pertence ao empreiteiro. A estipulação de uma
cláusula de reserva de propriedade é perfeitamente admissível (409.º).
b) A meio da obra Alberto entendeu que afinal queria também uma piscina. Bernardino achou que
seria uma “obra faraónica” e disse que não o faria porque a não tinha competências para o fazer.
Pode Alberto impor a sua vontade? (2 valores)
Regime das alterações exigidas pelo dono da obra (1216.º) e identificação dos limites
quantitativos e qualitativos a estas alterações. Consequências, nomeadamente no que respeita à
obrigação de pagamento do preço.
c) Depois de concluída a obra e de feita a sua entrega, Bernardino decidiu introduzir alterações na
obra. Decidiu substituir as paredes em pladur que delimitavam as divisões por paredes de tijolo.
António não se sentiu incomodado e decidiu aceitar estas alterações. No entanto, Bernardo exige
agora que António lhe pague, sendo que este nega a sua pretensão. Quid juris? E se, neste caso,
fosse António a exigir as alterações, Bernardino estava obrigado a agir em conformidade? (3
valores)
Identificação, de alterações posteriores à entrega, sendo que a sua colocação fora da relação
contratual deriva de um critério cronológico. Como o dono da obra as aceitou, deve entender-se
existir uma causa para a sua realização, estando este obrigado a compensar o empreiteiro pela
sua realização. Caso fosse o dono da obra a exigi-las, o empreiteiro não estava obrigado a
efectuar as alterações. Seria livre de o fazer, ao abrigo do princípio da autonomia privada
(406.º).
d) Bernardino terminou a obra em Janeiro de 2016. As janelas foram mal colocadas e em função
disso o frio no imóvel é insuportável. No entanto, Alberto tinha acabado de vender a sua casa e
precisava de ocupar de imediato o seu novo lar. Notificou Bernardino dos defeitos, mas não
obteve qualquer resposta. Como naquela altura do ano o frio era insuportável e face à não
pronúncia de Bernardino, Alberto decidiu fazer as reparações por sua conta. Contratou Carlos
que lhe fez as reparações e gastou 50.000,00€. Exige agora o dinheiro a Bernardino. Este diz que
nada deve. Quid juris? (3 valores)
Admissibilidade do recurso a terreiros para efectuar reparações em situações de urgência que
não consinta dilação ou numa situação em que se verifique um incumprimento definitivo da
obrigação de efectuar reparações por parte do empreiteiro. Nestas situações, o custo de recursa
a terceiro será somente apenas mais um dano indemnizável decorrente do cumprimento
defeituoso do empreiteiro. Admissibilidade de posições diversas, desde que devidamente
identificadas e fundamentadas.
e) Imagine agora que Bernardino decidiu alterar a disposição das divisões da casa, sem antes
perguntar a Alberto se o podia fazer. Alberto ficou furioso e quer resolver o contrato. Pode? A
sua resposta seria a mesma se Bernardino fosse dono da Casas&Casinhas, Lda., que realizou a
obra? (2 valores)
Identificação dos limites dos artigos 1221.º e 1222.º na primeira hipótese. E identificação de um
regime de alternativo no que respeita ao exercício de direitos, estando sujeito aos limites do
artigo 4.º/5 do DL 67/2003.
Faculdade de Direito da Universidade de lisboa
Grupo I
Alberto, estudante da FDL de escassas posses, ama profundamente a sua namorada Francisca.
Pretendendo surpreende-la no dia de São Valentim, adquiriu na Telemóvel Ideal, Lda., um
telemóvel em formato de coração, em segunda mão, com garantia de 6 (seis) meses, ficando
acordado entre as partes que, se o mesmo não satisfizesse a sua namorada, o contrato deixaria de
produzir quaisquer efeitos. O preço de € 100,00 seria pago por Alberto em 10 prestações,
levando este o telemóvel consigo, que ofereceu a Francisca como culminar do seu jantar
romântico do último Domingo.
Grupo II
António, proprietário de uma bela herdade com inestimável valor histórico, decidiu fazer
reparações na capela que se encontrava um pouco degradada. Em especial, nos arcos ogivais
estavam em condições bastante degradadas. Nesse sentido, contratou Bento, empreiteiro (e o
maior especialista em arquitectura histórica em Portugal), para efectuar a reparação. Finda a
obra, António nada disse.
i) Afinal Bento não tinha em dia as suas lições de história da arquitectura. Confundiu
o estilo gótico com o estilo românico e em vez de arcos ogivais alterou a estrutura
para arcos de meia circunferência. António só se apercebeu um mês depois, quando
voltou à sua herdade. Quid juris? (3 valores)
Falta de verificação e de aceitação da obra. Art. 1218.º/5 e valor declarativo do
silêncio (importa a aceitação). Funcionamento do art. 1218.º/5 apenas com o
incumprimento definitivo do ónus material de verificar e de comunicar o resultado
dessa verificação. Consideração da obra como defeituosa e consequências.
ii) Como Bento era um especialista em arquitectura histórica disse a António que só
aceitava realizar a obra se ele estivesse afastado da mesma, não podendo fiscalizar o
seu trabalho. Podem fazê-lo? Quais as consequências? (2 valores)
Possibilidade de afastamento do poder de fiscalização da obra. Entendimento
maioritário no sentido de que a fiscalização respeita ao conteúdo essencial do
contrato de empreitada, sem o qual este fica descaracterizado. Apesar de poder ser
regulada a forma como esta fiscalização é feita, a fiscalização é um elemento
tipológico caracterizador do contrato. As partes podem afastá-la, mas nessa
medida teremos um contrato atípico, ao qual se aplicaria o regime da empreitada.
iii) Bento não estava com paciência para fazer os acabamentos e decidiu contratar
Carlos para o fazer. Como Bento não pagou, Carlos exige o pagamento do preço a
António. António diz que nada deve. Quem tem razão? (3 valores)
Explicação dos termos em que é admitida a subempreitada, que é impedida pelo
caracter infungível desta empreitada. Admissibilidade de uma eventual acção
directa do subempreiteiro relativamente ao dono da obra, que é afastada pela
inoponibilidade em relação ao dono da obra da subempreitada. Responsabilidade
do empreiteiro pela realização de qualquer parte da obra pelo subempreiteiro.
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Grupo I
Américo, comerciante do ramo imobiliário, celebrou com Bernardino um contrato de compra e venda de
um bem imóvel relativo a uma fracção autónoma de um prédio sito em Lisboa, declarando o primeiro que
o vendia pelo “preço justo”. Bernardino, feliz pela sua compra e pelo facto poder abrir finalmente o seu
consultório médico, ficou surpreendido pelo facto de encontrar Carlos instalado no prédio. Este justificou-
se dizendo que o tinha arrendado anteriormente e que tinha todo o direito em estar ali.
Bernardino começou por ficar fulo com a situação. Ainda assim, após de dois dedos de conversa e um
café, percebeu que Carlos tinha todo o direito em estar ali. Apesar disso, Bernardino lamentou-se por ter
já adquirido um novo computador topo de gama, que apesar de lhe servir também para uso pessoal, tinha
sido adquirido a pensar no seu consultório. Chegaram então a acordo e Carlos acabou por comprar a
Bernardino o computador (pelo preço de 4.000,00€ fraccionados em 10 prestações mensais no valor de
400,00€) que este tinha adquirido na Loja X, acabando por mitigar os efeitos nefastos desse investimento.
A entrega só aconteceria dali a 3 meses, sendo que Carlos deveria começar a pagar imediatamente.
Passados 3 meses Carlos, satisfeito com a sua nova compra e com o seu novo amigo, decidiu utilizar o
novo computador. Para seu espanto, o monitor tinha problemas de imagem. Ligou a Bernardino e
reportou-lhe a situação. Bernardino foi ter com Carlos para se explicar, mas este não ficou satisfeito e
quer ver a situação resolvida.
Nessa mesma oportunidade, Bernardino ficou impressionado com o automóvel de Carlos, que era igual ao
da nova coqueluche do Benfica e tinha a matrícula 19-04-CD (numa clara alusão histórica à sua paixão de
infância). Bernardino decidiu então fazer uma proposta de compra do automóvel por 250.000,00€. Carlos
aceitou de imediato. No entanto, acabaram por condicionar a produção de efeitos do contrato à
circunstância de a coisa vir a agradar a Bernardino. Para azar deste último, o automóvel foi destruído por
relâmpago numa noite de trovoada mesmo antes de o aceitar.
a) É válida a convenção das partes ao referirem-se ao “preço justo”? E seria possível remeterem a
determinação do preço para Daniel, amigo comum de Américo e Bernardino? (2 valores)
Aplicação do artigo 883.º/2, aplicando os critérios de determinação do preço n.º 1. Aplicação
do artigo 400.º/1 no que respeita à determinação por terceiro.
b) O que pode fazer Bernardino relativamente à fracção autónoma que adquiriu? E contra quem
deve reagir? (3 valores)
Enquadramento da situação como uma venda de bem onerado (905.º) e das respectivas
consequências (907.º, 908.º, 910).
c) Imagine que Carlos não pagou uma das prestações a Bernardino. Atendendo a que ainda não
beneficiou da entrega do bem, pode exigir antecipadamente as restantes prestações? E se faltasse
ao pagamento de duas das prestações? (3 valores)
Discussão relativa à aplicação da 2ª parte do artigo 934.º não havendo entrega da coisa.
Aplicação do artigo 934.º ao caso. O não pagamento de uma das prestações não excede 1/8 do
preço, não podendo o vendedor exigir antecipadamente as prestações ainda não vencidas. A
falta de pagamento de duas prestações independentemente do seu valor possibilita a
exigibilidade antecipada.
d) Carlos quer resolver a situação relativa aos problemas de imagem dos monitores. Como o
aconselhava relativamente aos direitos que pode fazer valer e contra quem os pode efectivar? (2
valores)
Aplicação do DL 67/2003, havendo transmissibilidade dos direitos de Bernardino a Carlos
(4.º/6). Carlos poderá reagir contra o vendedor profissional ou contra o produtor (6.º),
excluindo-se nesta hipótese a redução do preço ou a resolução do contrato.
e) Carlos recusa-se a pagar o automóvel. Pode fazê-lo? (2 valores)
Enquadramento da situação como venda na primeira modalidade de venda a contento (923.º).
Não produzindo a compra e venda os respectivos efeitos típicos antes da aceitação, a atribuição
do risco ao comprador só se verificará com o decurso do prazo estabelecido no artigo 923.º/2
ou com a aceitação expressa ou tácita.
Grupo II
Alberto, conhecido adepto sportinguista, acordou com Berta que esta lhe faria um casaco novo, com dois
bolsos e um forro interior, exclusivamente com pele exterior de Leão. A pele seria adquirida por Berta,
sendo-lhe desde logo dito por Alberto que, atenta a sua mestria na costura, culinária e outras ciências
ocultas, “nem sequer preciso de experimentar o casaco! Tem é que mo entregar a tempo no próximo jogo
da equipa em Alvalade!”.