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Factos em sentido
amplo
Paulo Cunha
& MCordeiro
Os factos (em sentido amplo) podem ser divididos em duas grandes categorias:
NOTAS:
o Não quer dizer que o facto em sentido estrito não tenha uma participação humana (porque
tem, ou pode ter), mas tenha ou não tenha uma participação humana, os efeitos jurídicos que
se vão produzir não dependem da vontade;
•Atos jurídicos em sentido amplo - é um acontecimento da vida real que produz efeitos
jurídicos, mas esses efeitos jurídicos são produzidos tendo em atenção o conteúdo da
vontade com que o acontecimento da vida é realizado (ex. contrato de compra e venda;
procuração; casamento; interpelação para cumprimento)
NOTAS:
o Em Direito Civil, grande parte dos acontecimentos são atos jurídicos porque o Direito Civil é o
Direito da liberdade das pessoas;
O professor Paulo Cunha, e depois o professor Menezes Cordeiro, tornaram popular uma
distinção dentro dos atos jurídicos em sentido amplo que os divide em duas categorias que
são os atos jurídicos em sentido estrito e os negócios jurídicos. Para estes dois professores,
a fronteira entre os atos jurídicos em sentido estrito e os negócios jurídicos traça-se
consoante exista ou não liberdade de estipulação.
Atos Jurídicos em Sentido Estrito – Acontecimento da vida real que produz efeitos tendo em
atenção a liberdade de celebração (possibilidade de dizer sim ou não), mas não contempla a
liberdade e estipulação (se aceita, aceita exatamente aquilo que é oferecido) – ex. per lhação
(um homem pode aceitar ou não per lhar uma criança, mas, per lhando, não pode dizer que é pai,
mas não paga a alimentação, por exemplo. Isto é, quando aceita ser pai, aceita “o pacote”
completo, aceita todas as implicações que desse compromisso advêm)
Negócio Jurídico – Acontecimento da vida real que produz efeitos jurídicos, no qual, para
além da liberdade de dizer sim ou não (liberdade de celebração), a pessoa tem liberdade de
modelar o negócio (liberdade de estipulação) – ex. compra e venda (numa compra e venda eu
posso regatear preços e condições até chegar a um acordo com a outra parte, posso estipular);
procuração
Nos negócios jurídicos a relevância da vontade é muito maior do que aquela que existe nos
atos jurídicos em sentido estrito e, portanto, há determinados institutos que nos negócios
jurídicos têm uma relevância muito mais intensa (ex. instituto da interpretação – Por um lado,
na per lhação (ato jurídico em sentido estrito) a única coisa que tenho que interpretar é a decisão
do homem para saber se per lhou ou não per lhou. Por outro lado, nas procurações (negócio
jurídico) eu tenho que saber exatamente aquilo que determinada pessoa quis fazer ao passar a x
determinada procuração, tenho que interpretar a procuração para saber exatamente que poderes
dá a x e etc.; não me basta saber que a procuração existe, tenho que saber o conteúdo da
mesma. Ao contrário da per lhação que acarreta todas as coisas a ela inerentes, uma procuração
só acarretará exatamente aquilo que a pessoa que a passou quis que acarretasse e por isso é
necessário interpretar).
Maria Raquel Rei acha que, embora esta distinção que os professores fazem seja muito
divulgada na doutrina e seja de certa forma prática, é uma distinção que parece não estar de
acordo com o nosso direito positivo e que, portanto, não deve ser adotada. Porquê? O
negócio jurídico é um ato da autonomia privada pelo qual as partes, em maior ou menor
medida, autorregulam os seus interesses. Existe em todos os negócios jurídicos do
ordenamento jurídico uma contraposição entre autorregulação (regulação feita pelo próprio –
ex. negócio jurídico) e heterorregulação (regulação feita por outrem – ex. normas jurídicas).
Porque é que isto é assim? Porque em todos os negócios há limites - ex. a procuração e a
compra e venda são dois dos negócios em que há mais liberdade porque as pessoas podem fazer
praticamente tudo, havendo, no entanto, algumas coisas que não podem fazer – eu não posso dar
uma procuração a x para que ele faca o meu testamento porque é proibido (o testamento é um ato
pessoalíssimo e, como tal, não é suscetível de procuração); há coisas que eu não posso comprar
e vender, por exemplo, eu não posso vender um braço porque há uma lei que proíbe a compra e
venda de órgãos humanos.
Não há normas que nos digam que existe uma fronteira entre os atos jurídicos com
muita liberdade de estipulação e os atos jurídicos com pouca liberdade de estipulação,
portanto esta distinção entre atos jurídicos em sentido estrito e negócios jurídicos não está
conforme com os dados legislativos. Não há indicadores que nos digam que há regimes
diferentes para o tratamento de cada um desses atos – é um problema de grau de liberdade e
não de diferença de regime jurídico.
Então a categoria dos atos jurídicos em sentido estrito desaparece? Não porque
temos um artigo no Código Civil que é o 295º que nos diz que aos atos jurídicos que não sejam
negócios jurídicos são aplicáveis, na medida em que a analogia das situações o justi que,
as disposições do capítulo precedente (capítulo dos negócios) -> este artigo mostra nos que
há atos jurídicos que não são negócios jurídicos
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Artigo 805º CC (interpelação para cumprimento) – ato cujos efeitos dependem totalmente da
vontade do sujeito, mas os efeitos a produzir são apenas aqueles que estão previstos na lei
(ato jurídico em sentido estrito)
× Factos Constitutivos (ex. nascimento – facto jurídico em sentido estrito que dá origem à
personalidade jurídica), Modi cativos (ex. interpelação para atualização da renda de casa –
há uma modi cação da renda da casa), Transmissivos (ex. contrato de trespasse) e
Extintivos (ex. decurso do tempo para certos contratos faz caducar o contrato), consoante
as situações jurídicas que esses factos produzam constituam, modi quem, transmitam
ou extingam a relação jurídica.
× Factos com e cácia real (produz efeitos do âmbito dos direitos reais), obrigacional, familiar
(produz efeitos do âmbito do direito da família), sucessória, comercial, etc. – aqui o que é
relevante é a área do direito em que estes factos se encontram
NOTA:
Sequela: signi ca que uma situação jurídica real persegue a coisa “ainda que ela passe por
mil mãos”, isto é, não cessa com a relação jurídica que lhe serve de base (ex. sou proprietária de Estas características
um automóvel, mas o António rouba-mo e vende-o à margarida; depois a margarida oferece-o à fazem com que nos
Alexandra e a Alexandra vende-o à Rita outra vez. Certo dia, a Rita é parada numa operação direitos reais haja a
STOP e tem que ir a pé para casa porque descobre que o carro é roubado, ainda que não pela regra da prioridade
cronológica –
pessoa que lho vendeu. Aqui não interessa se só o António é que roubou e todos os outros
quando existe um
agentes não sabiam de nada, o que interessa é que eu fui desapossada da minha coisa con ito de direitos
ilegitimamente e, portanto, eu persigo a coisa onde quer que ela exista); isto não existe nos reais aquilo que
direitos obrigacionais – uma obrigação é um direito de uma pessoa sobre outra ( ex. se eu for prevalece é o direito
credora da Margarida, eu só sou credora da Margarida, portanto, se a dívida prescrever ou que foi constituído
em primeiro lugar;
houver algum tipo de perdão do Estado a dívida desaparece; eu não posso perseguir a
coisa diferente
dívida como se a dívida fosse uma coisa).
acontece nos direitos
obrigacionais
Inerência – signi ca que o direito real é inerente à coisa e essa é uma das razões pelas quais
eu consigo perseguir o meu direito onde quer que a coisa se encontre
No caso da e cácia obrigacional temos uma situação quase oposta à anterior – nos direitos
obrigacionais em vez de termos oponibilidade erga omnes temos uma oponibilidade por
regra apenas inter partes (o direito só é e caz entre as partes, entre o credor e o devedor); o
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acesso ao bem jurídico que é mediado pelo devedor (ex. eu sou credora da Margarida e ela
deve-me 500€, os quais eu sei, de fonte segura, que ela tem dentro da mala. Ainda assim, eu não
posso dirigir-me a ela, abrir-lhe a mala e tirar-lhe o dinheiro. Eu tenho que esperar que a
Margarida, voluntariamente, me dê os 500€ porque, se ela tiver outra credora, ela pode querer
pagar primeiro à outra credora; mesmo que ela não queira saber dos credores e que use o
dinheiro para outra coisa qualquer, o dinheiro é dela, é propriedade dela, eu sou apenas credora
de uma prestação). Nos direitos obrigacionais é então necessária uma colaboração do devedor.
Enquanto nos direitos reais temos a regra da prioridade cronológica, nos direitos obrigacionais
temos uma regra que costuma ser designada por par conditio creditorum (base legal:
implícito na noção de obrigação no artigo 397º CC e no 601º e seg. do CC). Esta regra diz-nos
que todos os credores são iguais e é por isso que, quando uma pessoa ca insolvente, o
tribunal vai juntar todos os credores e vai pagar um bocadinho a cada um (isto tem
exceções: se houver garantias, se houver algum dos credores com preferência sobre
outros…)
•O contrato é uma gura jurídica milenar, já vem e é estudada pelo menos desde o Direito
Romano; o negócio jurídico é uma gura pandectística que tem origem em Savigny, no
séc. XIX – é uma novidade: em Portugal começou a ser usada no séc. XX
NOTA: quando surgiu em Portugal, o negócio jurídico foi mal acolhido por uma parte da doutrina:
o Código de Seabra, evidentemente, não consagrava negócios jurídicos, consagrava contratos, e,
portanto, houve uma parte da doutrina portuguesa que entendia que o negócio jurídico era uma
atrapalhação e que não devia ser utilizado por nós; devíamos continuar a trabalhar apenas com os
atos jurídicos e com os contratos.
Parte: palavra técnica que se utiliza para designar as pessoas perante as quais o negócio
jurídico produz efeitos
Maria Raquel Rei pensa que um contrato é sempre um negócio jurídico, mas essa opinião
não é consensual.
MRR não concorda já que é verdade que quanto aos efeitos pessoais do casamento as partes
não têm liberdade de estipulação, mas isso já não é verdade no aspeto patrimonial do
casamento – os noivos podem estabelecer um regime de bens diferente do regime supletivo,
podendo inclusivamente criar um regime de bens totalmente atípico (com alguns limites, claro).
MC diz que MRR não tem razão porque a parte principal do casamento é a parte pessoal
MRR diz “é verdade…. Pelo menos para a maioria” e a lei não obriga a que as pessoas
tenham interesses pessoais quando casam. O facto de ser o mais importante não signi ca
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que seja a totalidade ou que a parte patrimonial não seja também importante, ou não quer
dizer que devamos dizer que não existe liberdade de estipulação só porque ela não existe na
parte pessoal. MRR acha então que um contrato é sempre um negócio jurídico e um
negócio jurídico pode ou não ser um contrato unilateral ou multilateral
MC defende que há contratos como o casamento que podem não ser negócio jurídico
×Negócios Formais ou Solenes -> negócio precisa de uma forma especial para ser
válido (ex. comprar uma casa – precisa de escritura)
×Negócios consensuais -> negócio não precisa de uma forma especial para ser
válido; só o consenso já basta.
×Negócio onerosos -> ex. compra e venda (eu vendo o meu livro, mas ao fazê-lo co
sem ele; o comprador ca com o livro, mas perde o dinheiro gasto para o adquirir) – há
esforço económico de ambos os lados
×Negócio gratuito -> ex. doação (eu dou o meu livro) – o esforço económico é apenas
da minha parte
Artigos 237º, 291º/1 e 939º do Código Civil – há um regime diferente consoante o negócio
seja gratuito ou oneroso
•Negócios sinalagmáticos vs. Negócios não sinalagmáticos
NOTA: A lei não utiliza estas expressões, mas antes bilateral e unilateral (ex. 428º e 411º do
CC aparecem menções a contratos bilaterais) – alguma doutrina critica isto e diz que é infeliz
porque todos os contratos são bilaterais (a lei está a usar a palavra num sentido diferente)
Relevância jurídica: 428º do Código Civil (exceção), 801º do Código Civil (estabelece um
regime diferente para os negócios sinalagmáticos)
×Negócio não sinalagmático: negócio que não pressupõe uma reciprocidade entre as
partes (ex. doação)
Por vezes existe uma coisa que se chama sinalagma imperfeito, isto é, uma manifestação
de reciprocidade no seio de um contrato que em si mesmo não é sinalagmático (ex.
empresto muito dinheiro a X e combinamos que me devolve o dinheiro daqui a 5 anos –
contrato de mútuo que não é sinalagmático porque eu emprestei o dinheiro e X tem a
obrigação de mo devolver, mas não existe reciprocidade de obrigações – só X é que tem
obrigação; se eu combinar com X que o negócio tem juros ele passa a ser imperfeitamente
sinalagmático porque os juros são uma remuneração do capital, mas são apenas um
pormenor, aquilo que eu quero verdadeiramente receber é o meu dinheiro). Há alguma
reciprocidade, mas não é uma reciprocidade normal.
•Negócios típicos vs. atípicos (consoante o regime que esteja previsto na lei ou não)
Relevância: grande porque nos negócios típicos sabemos que vamos buscar o regime
jurídico à lei, mas nos negócios atípicos não porque em princípio o regime depende ou
do próprio contrato, ou das estipulações das partes, ou podemos tentar encontrar na lei
alguma ajuda nas normas gerais ou em algumas regras que consigamos aplicar
analogicamente, en m. A grande diferença é saber onde encontrar o regime jurídico
×Negócios nominados -> quando a sua designação é ditada pela própria lei (ex. maior
parte dos negócios típicos)
×Inominado -> quando a lei não diz o nome do negócio (ex. negócios não típicos)
Exceções: hospedagem é um contrato que é nominado, mas não é típico – vem referida
na lei a propósito do contrato de arrendamento; o trespasse também vem referido na lei
pelas mesmas razões, mas nenhum desses negócios é típico porque não tem o seu
regime jurídico estabelecido na lei
Negócios típicos que não são nominados: contrato de associação (o seu regime vem
previsto na lei, no 157º e seg. do Código Civil, mas a lei nunca se refere ao contrato de
associação)
NOTA:
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o A doutrina utua muito quanto à de nição destes conceitos e é difícil no caso concreto
fazer as distinções porque temos que olhar para a função que aquela situação jurídica tem
no património do sujeito (ex. normalmente a venda de uma casa é um negócio de
disposição porque se eu vender a minha casa eu estou a eliminar uma situação jurídica
cuja função no meu património é estar lá para eu viver; por outro lado, se se tratar de uma
imobiliária, a função das casas altera-se, elas estão ali para serem vendidas - aqui já é um
negócio de administração)
Esta é uma distinção signi cativa porque a lei estabelece limites, em regra nos negócios
por conta de outrem, aos negócios de disposição. Isto é, é relativamente fácil eu celebrar
uma procuração em nome de outra pessoa na qualidade de representante legal para que
celebre negócios de administração, mas é muito difícil fazer o mesmo quanto aos negócios
de disposição (se a função é permanecer no património então outro que não o próprio não
deve fazer esse tipo de negócios com facilidade; carece de autorização própria se não se
tratar de uma situação jurídica da própria pessoa).
×Negócios Aleatórios -> quando são celebrados com uma álea (risco ou incerteza)
signi cativa (ex. contrato de jogo e aposta)
NOTA: todos os negócios implicam uma álea, há sempre incerteza no negócio jurídico. Há
negócios que se celebram, não por causa do risco, mas por causa daquilo que é expectável
que seja a parte certa do negócio. Há outros negócios que se celebram por causa do risco
(ex. contrato de seguro)
×Negócios Comutativos -> negócios que se fazem por causa da certeza que a pessoa
acha que tem (ex. generalidade dos negócios jurídicos)
×Negócios Abstratos –> o negócio subsiste sem a sua fonte, como que se autonomiza
da fonte (ex. o cheque é um negócio abstrato, o que signi ca que alguém que passou um
cheque tendo sido coagida não pode ir ao banco dizer para que ele não seja pago – a
pessoa coagida tem que se dirigir à pessoa que praticou a coação pois a entidade
bancária nada pode fazer quando se tratam de cheques. O cheque está totalmente
separado da fonte que lhe dá origem (a doação é neste caso viciada por coação moral e,
portanto, o negócio é inválido). A validade do cheque não depende da validade da fonte.)
NOTA: MRR não encontra negócios abstratos no Direito Civil, mas admite que possam existir,
mas há áreas do Direito em que a regra é a abstração, nomeadamente no Direito comercial
porque os negócios abstratos são negócios que existem em áreas em que é muito importante
a segurança do trato jurídico
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•Negócio que o procurador deve celebrar e que determina a forma da procuração e
algumas partes do regime – artigo 262º CC
27.02 - Teórica
O negócio jurídico permite que se realize, com determinados limites, no mundo do direito
aquilo que cada pessoa pretende. Para que isso aconteça é preciso que cada pessoa se
manifeste.
A dimensão do comportamento
A dimensão do sentido
Art.º 217 - É infeliz porque há, por exemplo, declarações tácitas feitas por escrito,
portanto, o que conta é ser ou não ser uma manifestação expressa.
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Silêncio > ausência da manifestação de vontade, ou seja, ausência de um
comportamento, por isso, consequentemente, não é nem uma declaração tácita - 218.º -
Ex.º art.º 36/6 NRAU - “A falta de resposta do arrendatário vale como aceitação da renda,
bem como do tipo e da duração do contrato propostos pelo senhorio (…)”.
Declarações presumidas > por vezes a lei presume que as partes, ou que alguém, tem
uma determinada vontade e permite que essa pessoa demonstre que essa vontade não
existiu - art.º 350/2 CC.
Declarações ctas > estamos perante uma cção. A lei regula determinada matéria
como se existisse uma declaração e nao é possível demonstrar que nao há declaração.
Hoje em dia isto é considerado má técnica legislativa, tentando se por isso que isto nao
aconteça. Estas declarações não são verdadeiras declarações, mas sim efeitos jurídicos
que a lei nge que são declarações negociais quando na verdade não o são.
É muito difícil identi car quem é o destinatário da declaração negocial, porque a lei não
costuma identi car as declarações como recipiendas ou não recipiendas. Isto é, nós
temos o 224.º que pressupõe a classi cação de cada declaração como recipienda ou
nao recipienda, mas depois não sabemos em concreto se a declaração A é ou não
recipienda.
Há casos fáceis de resolver: todas as declarações que reclamam uma resposta são
recipiendas sem qualquer dúvida - Ex.º eu quero comprar os óculos do António e
pergunto lhe “António vendes me os teus óculos a 30euros?” - É necessário uma
resposta à minha pergunta.
Declarações Recipiendas
No n.º 3 do 224.º temos outra regra que decorre também da teoria do conhecimento >
aqui temos um caso de relevância negativa desta teoria do conhecimento (exemplo
da carta noutra língua que o destinatário nao percebe).
No n.º 2 do 224.º estão inseridos os casos de pessoas que andam a fugir às declarações,
ou seja, o destinatário arranja esquemas para não receber a carta, isto é, para que a
declaração não produza efeitos > declaração produz efeitos com a expedição - teoria
da expedição.
“as outras, logo que a vontade do declarante se manifesta na forma adequada”, isto é,
produzem efeitos de acordo com a teoria de exteriorização. Assim que há
exteriorização da declaração quando nós temos os efeitos jurídicos, portanto, uma
declaração que não careça de ser comunicada ao destinatário produz efeitos assim que
é produzida.
A vontade para valer juridicamente tem que ser exteriorizada, e a isto chama se forma.
Isto é, a forma é o suporte sico da exteriorização da vontade.
As declarações por de nição têm todas uma forma, porque são um exteriorização, e para
haver uma exteriorização tem que haver uma materialização qualquer da declaração
ainda que essa materialização não seja duradoura - ex.º esta aula está gravada, mas se
for exemplo fosse presencial ela não perduraria no tempo.
Sem forma a única coisa que nós temos são pensamentos ou vontades. A forma pode
ser verbal, escrita ou outra (ex.º a aula gravada é um exemplo de outra forma sem ser a
escrita ou a verbal).
A regra geral no nosso direito e a de que a declaração negocial vale com qualquer
forma - 219.º - consagra o principio da liberdade de forma. Depois há exceções a esta
regra > têm que decorrer da lei; da vontade do declarante; ou de convenção das partes.
Se nenhuma destas 3 coisas acontecer a regra é sempre a da liberdade de forma.
Diz se que há forma legal quando a lei exige uma forma especial para a validade da
declaração negocial. Por norma, os negócios de alienação relativos a bens imóveis
requerem uma forma especial - art.º 875.º (compra e venda) + 947.º (doação); outros
exemplos - 1069.º arrendamento + 1710.º + 2204.º.
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Se estivermos perante um negócio de forma legal e a forma não tiver sido observada a
consequência é a nulidade - 220.º. O art.º 221.º regula o âmbito da forma, isto é, a
extensão da forma, até onde é que, quando a lei exige a forma, esta tem que ir. Ou seja,
qual é o âmbito das estipulações contratuais que têm que estar contidas dentro da forma
exigida por lei. Existem razões pelas quais o legislador exige a forma legal. Essas
razões estão tradicionalmente aglomeradas em três que são: a solenidade, a prova e a
re exão.
A MRR acredita que é errado negar estas 3 razões como razões da forma. É verdade
que elas não se veri cam em todos os casos, ou pelo menos as 3 em conjunto podem
não se veri car em todos os casos, no entanto, a verdade é que é possível identi car, ao
nível do ordenamento jurídico, a prevalência das razões de solenidade, de re exão e de
prova, como fundamento das regras limitadoras da forma.
A solenidade signi ca que a lei pretende, tendo em conta o negócio em causa, que ele
seja realizado com uma certa solenidade, portanto, com uma certa sacralidade.
Quanto à re exão, ela também é muito signi cativa porque quando alguém exige, por
exemplo, uma escritura para celebrar um negócio não há dúvida de que as pessoas
pensam um bocadinho mais naquilo que estão a fazer. Para já porque a escritura
demora mais tempo a celebrar do que um negócio que não exige um escritura, depois
porque é cara, portanto as pessoas pensam 2 ou 3 vezes antes de celebrar um negócio
daquela forma, e por último porque há a intervenção de uma outra pessoa (notário ou
advogado), que é um técnico, e que portanto com toda a probabilidade vai acrescentar
valor àquele negócio e vai chamar à atenção das partes caso alguma coisa não esteja tão
bem. Portanto, a forma acrescenta quer solenidade, mas também re exão aos
negócios, e facilidades de prova, sem qualquer duvida. Aliás, hoje em dia há um
recrudescimento dos negócios relacionados com o direito do consumidor, e portanto
com a proteção do consumidor, precisamente porque é muito mais fácil provar o que é
que combinou e o que é que não combinou se tiver um documento escrito.
A MMR acredita que aqui esta critica feita pelo PPV é uma critica injusta. Porquê? É
verdade que as exigências atrapalham um bocadinho, é uma burocracia, mas também é
verdade que a forma evita imensos problemas no futuro, cria certeza jurídica, obriga
as partes a ter mais cuidado com aquilo que estão a fazer. Portanto, há a desvantagem
inicial de ser mais oneroso, e às vezes é pouco mais oneroso, mas há muitas vantagens
em celebrar negócios, sobretudo negócios um bocadinho mais relevantes para as
pessoas, por escrito. É muito difícil sustentar as teses limitadoras da forma legal,
pois do ponto de vista do direito positivo, é duvido que essas guras (inelegablidades
formais, interpretações restritivas, reduções teológicas de regras de forma) tenham
acolhimento no nosso ordenamento jurídico, precisamente porque a forma legal resulta
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de uma imposição de ordem pública e portanto não é possível afastá-la sem mais
nem menos.
O outro tipo de forma, é a forma voluntária - 222.º - que resulta de uma opção
espontânea do declarante. O declarante sem a isso estar obrigado adota uma forma
mais solene do que aquela que seria necessária. Evidentemente esta forma, que é
totalmente espontânea, em regra não suscita qualquer problema jurídico.
Imaginemos agora que eu comprei os óculos e essa pessoa vem ter comigo e pergunta
me se o A me emprestou os óculos. Eu respondo: “não, eu comprei os”, e a pessoa
pergunta: “compraste-os? Mas nao há papel nenhum escrito”, eu: “pois e verdade, mas
eu entreguei o dinheiro ao A e ele até me passou este recibo”, e a pessoa diz: “ ah
também” - ilidiu se a presunção. Mas cabe me a mim, contraente, ilidir a presunção
que decorre da convenção de forma especial.
A forma ad probationem é uma forma que a lei exige, mas se nao for observada nós
temos apenas um problema de forma, isto é, as partes vão ter mais di culdade em
provar o negócio, porque aquela forma é exigida para a prova do negócio, mas não
para a sua validade.
Único exemplo no CC de forma ad probationem > Art.º 1069/2 > é uma forma ad
probationem, mas que não segue o regime geral do 364.º/2, sendo o regime especial
indicado pelo mesmo. O contrato de arrendamento não é nulo mas a prova tem que ser
feita “demonstrando a utilização do locado pelo arrendatário sem oposição do senhorio e
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o pagamento mensal da respetiva renda por um período de seis meses” e para além
disso é necessário que a falta de forma “não seja imputável ao arrendatário”. Por vezes
na doutrina encontra se que a a rmação de uma determinada forma é uma forma
meramente ad probationem, com o objetivo de tentar salvar o negócio.
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A consequência da nao observação de uma formalidade exigida por lei é a nulidade
- 220.º.
Como vimos no inicio desta aula, a declaração é um comportamento com um signi cado.
Para nós extrairmos o signi cado do signi cante temos que interpretar o
comportamento. A interpretação da declaração negocial, isto é, do comportamento
em que se traduz a declaração negocial consiste na atribuição de um sentido ao
comportamento, e é uma tarefa fundamental no trabalho do jurista. Tal como, a
interpretação da lei é uma tarefa fundamental porque determina tudo o que se segue, a
interpretação da declaração negocial também é porque determina tudo o que acontece
ao negocio jurídico. A declaração irá produzir efeitos de acordo com o seu sentido.
O nosso sistema tem 3 regras. Uma que é aparentemente uma regra geral, prevista no
art.º 236, e depois temos duas regras especiais, uma no 237.º e outra no 238.º.
236.º/2 > “A declaração negocial vale com o sentido correspondente à vontade real do
declarante desde que essa vontade seja conhecida do declaratário”. Ex.º eu tenho um
carro, e sou completamente obcecada com a Cinderela e por isso re ro me sempre ao
meu carro como a minha abóbora, e todas as pessoas que se relacionam comigo sabem
disso. Um dia eu mando uma carta ao António a perguntar se ele quer comprar a minha
abóbora por 15mil euros, e o António sabe que isso corresponde ao meu carro, ou seja,
que essa é a minha vontade real. Mas isto nao acontece só nestes casos estranhos, por
imaginemos que eu digo ao António: “vendo te o meu carro por 15 mil euros”. Qual é o
sentido desta declaração? É o de que eu quero vender o meu carro ao António por 15 mil
euros. Isto corresponde ou nao à vontade real? Corresponde. Então nós aplicamos
também o 236.º/2. Este preceito prevê que a maior parte das pessoas se expressa de
uma forma mais ou menos clara (pelo menos nestes negócios básicos). A vontade real é
igual à vontade objetiva. Portanto, aplicamos este preceito para concluir que o
sentido daquela declaração é que a pessoa quer vender o seu carro.
Há casos porém em que o declaratário não conhece a vontade real do declarante. Por
exemplo, não conhece porque o declarante e o declaratário não se conhecem muito bem
e, portanto ele não sabe que eu quando digo abóbora quero dizer o meu carro. Assim, ao
ele receber a carta vai achar que eu tou a vender mesmo uma abóbora por 15 mil euros.
E há outros casos em que a declaração não é clara, isto é, não é claro o que é que a
pessoa quer. Ex.º “eu vendo te o meu veículo por 15 mil euros”, mas imaginemos que eu
tenho várias coisas que podem ser classi cadas como veículo, a que é que eu me tou a
referir? Portanto, se o declaratário não conhecer a vontade real do declarante ou
porque eles não se conhecem bem, ou porque a vontade não foi clara ou por outro
motivo qualquer, então vale a regra que vem prevista no n.º 1 do 236.º - o
comportamento “vale com o sentido que um declaratário normal, colocado na posição
do real declaratário, possa deduzir do comportamento do declarante”. Esta regra é um
modelo teórico, isto é, nós partimos do declaratário normal (homem médio), e coloca-
mo-lo na posição do declaratório para apurar o sentido do negócio.
Por ultimo, este n.º 1 tem uma salvaguarda - “salvo se este não puder razoavelmente
contar com ele” (com esse sentido). Esta parte nal, é muito discutida, por exemplo o
MC entende que esta parte nal não tem aplicação, pois este diz que se um
declaratário normal colocado na posição de real declaratário entende aquilo, então é
porque aquilo pode ser razoavelmente interpretado porque é um declaratório normal. Ou
seja, um declaratário normal não entenderia uma coisa que o declarante não
devesse razoavelmente esperar daquela declaração. Na maioria dos casos o MC
tem razão, mas há alguns casos em que não tem, nomeadamente nos casos de
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regionalismos e jargões pro ssionais. Ou seja, são linguagens totalmente lícitas que o
declarante por vezes nem sabe que nos outros sítios não são utilizados com aquele
sentido, mas na verdade são, e que utiliza sem qualquer intenção malé ca. Ex.º Em
Portugal continental quando falamos de mel estamos a referir nos ao mel das abelhas,
mas se eu pedir mel 3 litros de mel na Madeira vou receber mel de cana, porque lá
quando querem mel de abelha precisam de dizer expressamente que querem mel de
abelha. É aqui que aplicamos a parte nal do art.º 1 do 236.º.
Esta regra do n.º 1 coloca sobre o declarante o risco da sua própria declaração,
porque vai valer com o sentido jurídico que o declaratário atribuiu à declaração.
Portanto se o declarante foi trapalhão, o problema é dele porque o sentido jurídico vai ser
o sentido que o declaratário normal apurar e não o sentido que ele gostaria de ter
transmitido.
Este modelo de interpretação que é proposto pelo art.º 236, é um modelo que tem notas
subjetivos, por exemplo o n.º 2 e o n.º 1 na parte nal, mas também tem notas objetivas,
nomeadamente, o n.º 1 e no n.º 2 na exigência de conhecimento por parte do
declaratário real da vontade do declarante.
Quanto às regras especiais temos no 237.º uma que nos diz o que fazer em caso de
dúvida quanto à interpretação da declaração negocial - “Em caso de dúvida sobre o
sentido da declaração, prevalece, nos negócios gratuitos, o menos gravoso para o
disponente e, nos onerosos, o que conduzir ao maior equilíbrio das prestações.”. Ou
seja, temos que primeiro classi car o negócio, saber se estamos perante um negocio
gratuito ou oneroso e depois em função do negócio aplicar a regra que aqui vem.
Mas há negócios insuscetíveis de serem classi cados como gratuitos ou onerosos,
e portanto nessa medida não e possível aplicar este artigo a esses negócios.
Depois o art.º 238.º é um artigo que trata dos negócios formais ou solenes - "Nos
negócios formais não pode a declaração valer com um sentido que não tenha um mínimo
de correspondência no texto do respectivo documento, ainda que imperfeitamente
expresso.”. Isto é obvio, porque se a lei exige uma escritura e se eu na escritura puder
dizer 32 coisas mas não tudo aquilo que a lei quer que eu diga no negocio formal/solene,
então escusava de ter exigido a escritura. Portanto, nos negócios solenes, a
manifestação de vontade tem que constar da forma exigida pela lei, ainda que
imperfeitamente expresso. Depois o n.º 2 é uma regra semelhante ao 236.º/2 mas
mais exigente - “Esse sentido pode, todavia, valer, se corresponder à vontade real das
partes e as razões determinantes da forma do negócio se não opuserem a essa
validade.”. Portanto, nós temos que saber muito bem se o negócio é formal ou não é,
quais são as razões determinantes da forma e depois aplicar este artigo.
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Por m, o que fazer com as declarações não recipiendas? O art.º 236 pressupõe um
declaratário. E se não existir declaratário? Nas declarações não recipiendas não há um
declaratário. Quanto a estas, nós temos uma lacuna da lei, pois não estabeleceu um
regime jurídico para a interpretação das declarações nao recipiendas. Como é que
preenchemos esta lacuna? Existe uma norma que nós podemos aplicar por analogia,
que é o art.º 2187, é uma norma que regula a interpretação do testamento.
09.03 - Teórica
Integração de lacunas
Para nós recorrermos à integração de lacunas do NJ, é necessário que o negocio tenha
uma lacuna, mas é preciso que a lacuna exista no NJ e nao na lei nos vamos tratar aqui
da identi cação e preenchimento das lacunas do NJ e nao as lacunas da lei.
É preciso que exista uma omissão na regulamentação do negocio que contrarie o próprio
negocio. Nao é uma qualquer omissão no negocio que constitui uma lacuna, portanto e
necessário que o próprio negocio reclame a regulamentação que as partes nao
estabeleceram.
É muito difícil haver verdadeiras lacunas nos negócios jurídicos, porque as partes são
livres de estabelecerem o regime jurídico, portanto as clausulas, que entenderam para o
seu negocio. Portanto, o facto de nao ter sido estabelecida uma certa regulamentação
pode signi car que o negocio foi mal feito, que o negocio devia ter a clausula x mas nao
tem, mas pode nao existir uma lacuna.
Nota: uma lacuna é algo que o próprio contrato reclama, e nao a justiça ou a bom senso,
portanto e necessário que haja uma falha no contrato.
Se existirem normas supletivas não há lacunas. Ex.º A empresta a B 4000euros, mas nao
combinam a data em que esse dinheiro há de ser devolvido. Isto nao é uma lacuna
porque há normas no CC que resolvem este problema. O art.º 777 diz nos que “Na falta
de estipulação ou disposição especial da lei, o credor tem o direito de exigir a todo o
tempo o cumprimento da obrigação, assim como o devedor pode a todo o tempo
exonerar-se dela.”.
Portanto admitindo que estamos perante uma lacuna, a pergunta seguinte é, como é que
integramos a lacuna? Integrar é o termo técnico para constituir uma estipulação
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contratual, uma regra, que vai resolver o problema da lacuna. O art.º 239 diz nos que a
lacuna “deve ser integrada de harmonia com a vontade que as partes teriam tido se
houvessem previsto o ponto omisso”. Ou seja, pretende que o jurista que está a integrar
a lacuna como que prolongue a vontade das partes, portanto deve imaginar, com os
elementos que tem à sua disposição, o que é que as partes teriam combinado se se
tivessem lembrado que era preciso estabelecer o ponto x o que é que elas teriam feito.
Nota: o artigo fala no plural “as partes”. Se o negocio for um negocio unilateral é a parte
e nao as partes, porque só há uma. Mas a generalidade dos contratos é bilateral, e
portanto num contrato nos temos que ter atenção à vontade de ambas as partes. Às
vezes existe a tentação de nos dizermos que a lacuna deve ser integrada com x, porque
x era aquilo que o António teria querido se tivesse previsto o ponto omisso. Isso nao
chega, porque o Antonio nao esta sozinho naquele contrato. Portanto nao é possível
integrar uma lacuna contratual de acordo com a vontade de uma das partes.
Também nao interessa aquilo que as partes neste momento querem, mas sim o que é
que elas teriam querido no momento em que celebraram o contrato.
Esta vontade que as partes teriam tido, tem o termo técnico de vontade conjectural.
Nós normalmente dividimos a vontade das partes em três. A primeira é a vontade real,
aquela que aconteceu efetivamente; a segunda é a vontade declarada, ou seja, é aquilo
que as partes declaram; e a terceira é a vontade conjectural, é a vontade que nao existiu
mas que poderia ter existido. O art.º 239 trabalha com a vontade conjectural.
Além disso, o art.º 239 diz nos, também, “ou de acordo com os ditames da boa fé,
quando outra seja a solução por eles imposta.”. Isto signi ca que a boa fé (aqui em
sentido objetivo) é um limite à vontade conjectural. Portanto, se a vontade que as partes
teriam querido, se tivessem previsto o ponto omisso, fosse contraria à boa-fé, então vale
aquilo que a boa-fé determinar. Isto signi ca que a integração de lacunas pode ser, e é,
um instrumento, em primeiro lugar de prolongamento da vontade das partes, mas é
também um instrumento de harmonização ou equilíbrio dos negócios jurídicos, porque se
a vontade das partes for contraria à boa-fé então nós em vez de seguirmos isso, vamos
atender àquilo que a boa-fé ditaria para o caso concreto. É claro que a boa-fé mandaria
atender, nos limites do possível, à vontade das partes mas é apenas nos limites do
possível, isto é, até onde a boa fé nao seja violada. Portanto este preceito é muito
utilizado por juristas que defendem um certo ativismo judiciário ou jurídico (em sentido
mais amplo) na intervenção contratual, portanto, nos negócios jurídicos.
Na atividade jurídica quando alguém comete um crime, isto é, quando alguém pratica um
ato que fere os valores fundamentais de um sistema jurídico. Portanto, os crimes são
condutas que atentam contra os valores fundamentais de cada comunidade e portanto
têm as sanções mais graves do ordenamento jurídico. Quando violamos um direito, uma
situação jurídica ativa, a consequência é a indemnização, é uma consequência civil -
483.º. nos casos dos direitos de personalidade, que é um caso excepcionalíssimo, para
alem da indemnização, regra geral, existe a possibilidade de solicitar, e obter, a
consequência especialmente adequada àquela violação. A regra geral da consequência
para a violação de direitos é a indemnização.
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O que é que acontece quando se exerce autonomia privada (que é uma liberdade, uma
permissão genérica nao sendo assim um direito subjetivo) para além dos limites da lei? A
consequência é, o ato praticado para além dos limites da autonomia não produz os
efeitos que a pessoa queria que produzisse. A esta barreira à produção de efeitos
jurídicos, chama se os desvalores do negócio jurídico.
Nota: Ine cácia no sentido amplo abrange todos os desvalores. Tal como facto jurídico
em sentido amplo também cabem todos os factos jurídicos.
A ine cácia em sentido estrito é a característica do negócio que não produz efeitos,
por e simplesmente não produz efeitos. O negócio jurídico que não produz efeitos neste
sentido pode não ter problemas, pode apenas não produzir efeitos. Há casos de
ine cácia que são desvalores, que são negativos, mas há outros que não são. Por
exemplo, é um desvalor a ine cácia prevista no art.º 260/1 da representação sem
poderes. Uma pessoa que pratica um ato invocando poderes representação que não
tem, esse negócio não produz efeitos perante o suposto representado, isto é um caso de
ine cácia. O negocio nao é invalido apenas nao produz efeitos. Esta é uma e cácia
sancionatória, pois o negocio nao produz efeitos porque foi praticado pela pessoa
errada.
Há no entanto casos de ine cácia que nao têm nada que ver com desvalores. Nos
vamos estudar um caso que é o das condições ou termos suspensivos. Ex.º do termo -
Termo é o conceito jurídico para designar um momento até ao qual ou a partir do qual
determinada coisa acontece. A professora precisa de uma secretária para a época de
exames para a ajudar na marcação de orais, de recursos, etc. essa época vai decorrer a
partir do dia 01 de junho até ao dia 31 de julho. Então a professora vai contratar a Maria a
partir do dia 01 de junho, mas como ela é muito solicitada a professora faz o contrato já.
E diz no contrato que começa a produzir efeitos no dia 01 de junho. Este contrato de
trabalho neste momento é ine caz, isto é, é ine caz entre o dia 09 de março e o dia 31
de maio, mas nao é uma ine cácia negativa, sancionatória. Portanto, a ine cácia pode
ser negativa, isto é, um desvalor, ou nao.
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A irregularidade é um desvalor do negocio, mas é um desvalor que acarreta certas
consequências negativas mas nao torna o negocio inválido. As irregularidades
respondem a problemas muito variados, e normalmente são adaptadas ao problema que
visam resolver. Ex.º do art.º 1649 - um menor, mas maior de 16 anos, que casa sem
autorização dos pais, o casamento é valido mas tem determinadas consequências. O
casamento é irregular. Portanto, não há invalidade do negócio, mas sim uma
consequência que é associada a uma preterição de uma certa regra da autonomia
privada, no exemplo dado, uma regra que era a necessidade da autorização dos pais
para que o menor casasse.
O negócio nulo não produz efeitos aquilo que existe é apenas uma aparência de
negócio.
Ex.º eu comprei uma casa, z uma escritura e z o registo, mas o negócio é nulo.
Portanto eu z tudo isto mas a propriedade não se transferiu para a minha esfera jurídica
porque não se produziram efeitos jurídicos. Isto signi ca que se eu tiver que ir para
tribunal discutir este problema, a decisão do tribunal é meramente declarativa, isto é,
o tribunal vai declarar a nulidade nao vai constituir a nulidade.
A nulidade é imprescritível, ou seja, nao tem um prazo para ser invocada. Um negocio
nulo é nulo sempre, portanto, a nulidade nao se sana.
Nota: não se diz que a pessoa foi pedir a anulabilidade, porque não se pede a
anulabilidade, esta resulta da lei. A lei comina com a anulabilidade uma determinada
infração a essa lei. Aquilo que a pessoa faz é anular, ou então pede a anulação, se for a
tribunal pedir. Portanto, a pessoa anula o negocio ou então requer/solicita a anulação.
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Ao contrário da nulidade, na anulabilidade o conjunto de pessoas que pode argui-la é
relativamente pequeno. Compreende apenas aquelas pessoas a favor de quem a lei
estabelece a anulabilidade. Art.º 287 - “Só têm legitimidade para arguir a anulabilidade as
pessoas em cujo interesse a lei a (anulabilidade) estabelece (…)” - Portanto é preciso que
aquela pessoa seja a pessoa em cujo interesse a lei estabeleceu a anulabilidade. Ex.º
quando uma pessoa é vitima de chantagem para celebrar certo negócio, o negócio é
anulável. O Antonio quer me comprar o telemóvel mas eu nao o quero vender, e portanto,
o Antonio diz me que se eu nao lhe vender o telemóvel que me bate. E eu vendo-lhe o
telemóvel. O negócio é anulável. Se nos analisarmos os requisitos da coação moral
entendemos imediatamente que a pessoa que se quis proteger foi o coagido. Portanto, o
desvalor do negocio foi estabelecido pela lei a favor dessa pessoa. Logo, nos termos do
art.º 287 é o coagido que tem legitimidade para anular o negocio. Às vezes a lei identi ca
logo a pessoa que tem legitimidade, mas isto nao é vulgar. Pois, em regra, quando nós
pretendemos anular um negocio temos que fazer um exercício que conjuga duas regras
jurídicas - temos que interpretar a regra que foi violada e ver qual é o interesse que a lei
pretendeu proteger, e depois temos que ir ao art.º 287 (no caso da coação moral - 285.º)
e dizer que como nos artigos 255.º e 256.º a lei quis proteger o coagido, então o de
acordo com o 287.º quem tem legitimidade para arguir a anulabilidade é o coagido.
Porque a anulabilidade é estabelecida a favor de uma certa pessoa que o tribunal não
pode conhecer o ciosamente a anulabilidade. ex.º Eu vendi o meu telemóvel ao
Antonio e nao queria, mas ele ameaçou me. Nós combinamos que eu lhe venderia por
300 euros e o Antonio pagou me 150 agora e cou de me pagar os restantes 150 mais
tarde. Imaginemos que chegou a data de pagar o resto que me devia e o António nao
pagou, e eu pedi lhe e ele diz que nao paga e eu vou para tribunal. E vamos para tribunal
e o António diz ao juiz que este negócio é totalmente irregular porque ele ameaçou me e
portanto que o negocio tem que ser anulado.
Primeiro ponto, o Antonio nao tem legitimidade para anular o negocio, segundo ponto
podia se dizer que se o juiz vê que houve aqui coação moral tem obrigação de destruir o
negocio. Mas isto não é assim, porque nao tem que ser o juiz a tomar a decisão por mim
atendendo a que a lei pretendeu proteger o meu interesse enquanto pessoa que foi
vitima da coação. Portanto, se eu nao me queixo nao vai ser o juiz destruir o negocio.
O prof MC tem uma expressão que a MRR acha bastante feliz relativamente à
anulabilidade. O MC acha que é um bocadinho infeliz o nome anulabilidade ser tão
parecido com a nulidade, porque o prof diz que são vícios muito diferentes. A nulidade é
um vicio que priva o negocio de qualquer efeito, enquanto que a anulabilidade é um
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vicio que tem como característica constituir a favor da pessoa que se quer
proteger, um direito potestativo de anular o negocio. E portanto o MC acha que seria
preferível, em vez de chamar anulabilidade, chamar lhe impugnabilidade. Isto é, o
negócio era um negócio como os outros, mas era impugnável por certa pessoa, era
destrutível por uma certa pessoa.
Invalidades Mistas
A matéria vem prevista no art.º 289, que é um artigo fundamental do nosso ordenamento
jurídico, e que equipara a nulidade e a anulação dos negócios jurídicos. Atenção!!!! Não
equipara a nulidade e a anulabilidade, equipara a nulidade e a anulação, ou seja, se o
negócio anulável for anulado então os efeitos que se vão veri car são os mesmo, grosso
modo, dos da nulidade. N.º 1 - “Tanto a declaração de nulidade como a anulação do
negócio têm efeito retroactivo (…)”. Esta é a primeira característica, a retroatividade. No
caso da nulidade, é uma retroatividade de facto, porque não há efeitos jurídicos
produzidos, o que há é uma aparência, portanto o que nós temos que fazer é devolver
aquilo que recebemos. Mas quanto à anulabilidade, há efeitos jurídicos, e portanto esses
efeitos jurídicos são destruídos retroativamente se o negocio for anulado. Depois o artigo
diz - “devendo ser restituído tudo o que tiver sido prestado ou, se a restituição em
espécie não for possível, o valor correspondente.”. Portanto, se eu comprei esta casa e o
negocio é nulo, o que eu tenho de fazer é devolver a casa. Se ja nao for possível, então
eu ai tenho que devolver o valor correspondente.
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Existem algumas regras para proteger os terceiros contra estes efeitos devastadores da
nulidade ou da anulação. Alguns desses efeitos vêm no art.º 1269 a propósito do
possuidor de boa fé que dizem respeito a pessoas que usufruíram de coisas e que
estavam de boa fé porque achavam que o negocio era valido, então esses artigos
protegem, por exemplo, a receção de frutos, as benfeitorias, etc. E depois temos o art.º
291 que nos diz que, “A declaração de nulidade ou a anulação do negócio jurídico que
respeite a bens imóveis, ou a móveis sujeitos a registo, não prejudica os direitos
adquiridos sobre os mesmos bens, a título oneroso, por terceiro de boa fé, se o registo
da aquisição for anterior ao registo da acção de nulidade ou anulação ou ao registo do
acordo entre as partes acerca da invalidade do negócio.”. Este artigo é um preceito
complexo porque existem di culdades de compatibilização entre este artigo as regras do
registo. Mas o que se passa é o seguinte: o Estado desde o séc. 19 em Portugal tem um
sistema público de registos que se destina a dar conhecimento a toda a gente da
situação jurídica de certos bens que são considerados bens muito relevantes,
nomeadamente, os imóveis e certos bens moveis sujeitos a registo como os aviões, os
navios, os automóveis, em regra, os bens que se deslocam. O estado por de nição se
tem um sistema de registo tem que proteger aquilo que está no registo, porque se o
registo nao bene ciar de uma certa dose de fé pública escusamos de ter um sistema de
registo que é caro. Então este art.º 291 é um artigo que estabelece limites à e cácia
destrutiva da nulidade e da anulabilidade tendo em conta a fé pública que o registo
proporciona e portanto, se um certo negocio for registado se alem disso respeitar a um
negocio jurídico oneroso, e se houver um terceiro de boa fé que tenha adquirido direitos
acreditando naquele registo que mais à frente vem a ser destruído, então a nulidade ou a
anulabilidade nao é oponível a esse terceiro de boa fé. Ex.º imaginemos que em vez de o
António me ter ameaçado para lhe vender o telemóvel, tinha ameaçado que matava a
minha família se eu nao lhe vendesse a minha casa, e por isso eu vendi-lhe a casa.
Fizemos uma escritura e ele registou. Passaram 6 meses e o António recebeu uma ótima
proposta do Bento para vender a minha casa, pelo dobro do preço. O Bento foi ao
cartório e comprou a casa ao António em julho. Em agosto o Bento já lá vivia e o Antonio
morre. Eu co sem medo porque se ele ja morreu ja nao pode matar a minha família e por
isso vou ao tribunal para recuperar a minha casa, e tenho a certeza que vou recuperá-la
porque o negocio entre mim e o António é anulável por coação moral. O juiz vai me dar
razão e anula o negocio. Mas ao anular o negócio, tendo este e cácia retroativa, o Bento
nao comprou a casa ao verdadeiro proprietário. O Bento nao sabe de nada, gastou
dinheiro e agora vai car sem a casa. Portanto, é para este tipo de situações que há este
art.º 291. No entanto, o Bento vai sofrer na mesma porque se lermos o n.º 2 do preceito
este diz que “Os direitos de terceiro não são, todavia, reconhecidos, se a acção for
proposta e registada dentro dos três anos posteriores à conclusão do negócio.”.
Portanto, o Bento nao ia ser protegido porque tinham passado apenas 7 meses entre a
minha coação moral e a ação. Mas se ja tivessem passado 4 anos eu nao poderia
recuperar a casa, poderia apenas pedir uma indemnização aos herdeiros do António.
A boa fé que está aqui prevista é uma boa fé subjectiva e subjectiva ética porque o n.º 3
do artigo diz nos que “É considerado de boa fé o terceiro adquirente que no momento da
aquisição desconhecia, sem culpa, o vício do negócio nulo ou anulável.”. Portanto, o
Bento, que era o terceiro no exemplo, tinha de se ter informado minimamente, e foi o que
ele fez pois ele foi ao registo e nada dizia em contrário.
A redução faz exatamente o mesmo, mas para isto ser possível é preciso que as
estipulações das partes, isto é, o conteúdo do negócio seja divisível. Ou seja, é preciso
que a invalidade seja uma invalidade parcial. Às vezes a vontade das partes nao permite
a rmar uma vontade parcial, e a vontade das partes é que conta. Portanto, eu para saber
se o negocio é ou nao redutível, eu tenho que ver se aquele negocio sem aquela parte
viciada se teria ou nao teria sido celebrado. Há casos que por de nição nao são
suscetíveis de redução, mas há outros que podem ser ou nao dependendo da vontade
das partes, precisamente porque as partes celebram os contratos que quiserem. De
acordo com o regime do 292.º cabe à parte que nao quer a subsistência do negocio
demonstrar que o negocio nao teria sido concluído sem a parte viciada - “A nulidade ou
anulação parcial não determina a invalidade de todo o negócio, salvo quando se mostre
que este não teria sido concluído sem a parte viciada.”. Ou seja, por norma o negocio é
redutível. ex.º no inicio da pandemia havia um racionamento de mascaras, pois só
podiam ser vendidas x mascaras a cada pessoa. Imaginemos que só podiam ser
vendidas 10 mascaras a cada pessoa, e que eu tinha uma familia grande e que queria
comprar 30 mascaras e vou ao supermercado e compro as. Este negocio seria nulo mas
nao era totalmente nulo, porque eu podia comprar 10 nao podia é ter comprado 30.
Então, em vez de 30 o negocio cava reduzido a 10 mascaras, pois quanto a essas 10 é
valido. Se eu nao quiser só 10 mascaras tenho que demonstrar que eu nao teria
celebrado o contrato se fosse só para car com 10 mascaras.
Como é que nos fazemos para converter um negócio? Como dissemos à pouco o
negocio é todo afetado mas é possível transformar aquele negocio noutro, relativamente
ao qual estão veri cados os requisitos de forma e de substancia do negocio que
queremos celebrar e ainda a vontade das partes. O art.º 293 diz nos que “O negócio nulo
ou anulado pode converter-se num negócio de tipo ou conteúdo diferente, do qual
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contenha os requisitos essenciais de substância e de forma, quando o m prosseguido
pelas partes permita supor que elas o teriam querido, se tivessem previsto a invalidade.”.
Ou seja, aqui o mecanismo é ao contrario da redução, pois na redução o negocio em
principio subsiste e se alguma das partes nao quiser que ele subsista então tem que
demonstrar que sem a parte viciada nao teria celebrado o negocio. Aqui é o inverso, para
nós convertermos o negócio x para o negocio y, a parte que quer converter tem que
demonstrar que ainda havia vontade de celebrar esse outro negocio, porque de facto
estamos a converter uma coisa noutra, estando assim a falar de um negocio diferente.
Ex.º Vamos supor que eu tenho um terreno e vou vendê-lo ao Antonio. Fomos visitar o
terreno em Beja. O Antonio entusiasma se pela herdade e diz: “Alice eu co com o
terreno, quanto é que queres pelo terreno?”, estabelecemos o valor e ele diz: “eu agora
vou para o estrangeiro e por causa da pandemia nao vou voltar tão cedo mas
celebramos já aqui o contrato por escrito, eu trouxe folhas, fazemos já o negocio”. Então
redigirmos um documento particular em que o Antonio me compra a herdade e eu
vendo-lha, e o Antonio passa me o cheque com o valor acordado e vai à sua vida. O
negocio é nulo, como é obvio, e também é obvio que não há redução, pois nao há nada
para reduzir porque nao há uma única parcela do negocio que seja válida, pois nao se
pode vender um imóvel por escrito particular. Portanto, é nulidade.
No entanto, há um contrato que pode ser celebrado por escrito particular e que secalhar
corresponde à vontade das partes, se as partes tivessem previsto que a compra e venda
nao se podia celebrar por escrito particular, que é um contrato-promessa de compra e
venda. O art.º 410 diz nos que para o contrato-promessa de compra e venda de imóveis
basta um escrito particular para que o negocio seja valido. Portanto, podemos dizer que
a compra e venda é nula, mas tudo indica que aquelas duas pessoas se imaginassem
que a compra e venda era nula elas sempre se teriam vinculado a um contrato-promessa,
porque pelo menos eu cava com a garantia de que o António se obrigava a fazer a
escritura e o António cava com a garantia de que eu me obrigava a fazer a escritura e
nao ia vender o terreno a outra pessoa. Portanto, vamos converter o negocio nulo num
negocio válido, no caso concreto, num contrato-promessa de compra e venda de imóvel.
Tínhamos que ir ver os requisitos de forma, os requisitos de substancia do contrato-
promessa e se a vontade das partes era ou nao compatível, que neste caso era,
portanto, conseguimos converter o negócio.
Nota: na conversão nós temos que pegar no negocio que está podre e transforma lo
noutro que está bom, mas para isso os requisitos do bom têm que se veri car no que
está pobre, que é o que nos diz o art.º 293. Nao é fácil conseguir conversões por causa
dos requisitos da forma e da substancia que têm de estar veri cados e da vontade
conjectural das partes que também tem que estar veri cada, e tem que se provar em
tribunal se o problema for discutido em tribunal.
Formação do negócio/contrato
Depois quanto ao art.º 457.º este diz nos “A promessa unilateral de uma prestação só
obriga nos casos previstos na lei.”. Ou seja, para os negócios unilaterais o que nós temos
é o oposto que temos para os contratos. Nos negócios unilaterais temos o principio da
tipicidade. Depois nos artigos 458.º a 463.º temos os vários tipos de negócios unilaterais
que o código consagrou. Mas portanto existe uma diferença abissal entre o contrato e o
negocio jurídico unilateral. Pois este último é típico, enquanto o contrato é atípico, isto é,
podemos celebrar os que vêm na lei ou quaisquer outros - 405.º. Por isso é que quando
falamos do principio da autonomia privada, devemos ter em atenção que esta é máxima
quanto aos contratos - 405.º - mas quanto aos negócios unilaterais existe mas tem
limites bastante estreitos - 457.º.
Porque é que isto é assim? Em primeiro lugar isto é assim pela tradição, pelo menos há 2
mil anos que a regra é o contrato, o negocio unilateral é a exceção. Depois, também é
assim porque os negócios unilaterais são negócios muito instáveis, de uma certa forma
perigosos. Ex.º eu quero vender o meu computador, mas para isso tem que tem um
comprador, chegar a acordo com ele quanto ao preço, às condições, etc. chegamos a
acordo e o negocio está feito. A partir daqui nós só podemos alterar o negocio se o
comprador e eu estivermos ambos de acordo. Isto dá segurança a toda a gente,
nomeadamente, a mim, ao comprador e à comunidade jurídica também porque as
pessoas já sabem que eu vendi o computador e que este já nao é meu mas sim da
pessoa a quem eu o vendi.
Vamos imaginar que eu conseguia transferir direitos (e consigo em certos casos) através
de negócios unilaterais. Uma pessoa que celebra que celebra uma negocio unilateral,
assim como o pode celebrar também pode revogá-lo. Primeiro, do ponto de vista social,
começamos a ter instabilidade porque nunca se sabe bem (relembrar os cuidados que o
legislador teve para a revogação da procuração - 266.º, precisamente para evitar esta
instabilidade). Além disso, como os negócios unilaterais podem ser celebrados pela
pessoa “sozinha”, nós corríamos o risco de as pessoas serem surpreendidas pelos seus
próprios negócios. Ex.º eu agora dispunha deste computador, redigia uma declaração
unilateral e o negocio estava feito. No contrato nao, pois neste há um processo de
celebração do negocio que exige negociação, exige conversa. Portanto, há aqui um
processo que evita precipitações.
Portanto, nesta perspectiva os negócios unilaterais são um bocadinho mal vistos pelo
legislador porque podem dar lugar a negócios que no rigor as pessoas nem os queriam
fazer.
16.03
Ao contrario dos negocios jurídicos unilaterias, onde basta uma declaração de vontade,
nos contratos a formação deste nao é simples precisamente porque nós temos que
chegar a acordo. Portanto, duas pessoas têm que se por de acordo quanto a um
fi
determinado regime jurídico. Cada pessoa tem uma determinada vontade e portanto têm
que transmitir à outra a sua vontade e depois chegar a acordo, porque normalmente as
pessoas têm interesses contraditórios.
Como é que se forma o contrato? Como é que chegamos a esta con uência de vontades
que é o contrato?
Um dos artigos fundamentais nesta matéria é o art.º 232 que nos diz que para que haja
um contrato é necessário que o acordo abranga tudo aquilo que as partes pretenderam
incluir no acordo, ou seja, isto signi ca que nao há contratos parciais. Isto quer dizer que,
como diz o provérbio português “Até o lavar dos cestos é vindima”. Ou seja, imaginemos
que eu vou celebrar um contrato para comprar uma sociedade, que é um contrato muito
complexo, que a sociedade tem imensas particulares, e que é preciso chegar a acordo
sobre 100 coisas. Nós já chegamos a acordo sobre 99, falta chegar a acordo sobre um
que objetivamente tem pouca importância. Se nao chegarmos a acordosobre aquela
única que falta nao há contrato, precisamente porque nos termos do art.º 236 o acordo
tem que existir sobre todas as clausulas, todos os aspetos, que cada uma das partes
pretenda incluir no acordo. Isto aqui pode parecer uma norma estranha mas não é
porque os contratos são o supra-sumo da autonomiaprivada. Eu posso celebrar um
contrato sobre uma coisa que qualquer outra pessoa acha estupido. Imaginemos que eu
compro roupa já feita e que para mim é absolutamente fundamental que a etiqueta da
roupa com a marca seja cor de rosa. Isto é uma coisa bastante estupida, mas eu compro
a roupa que eu quiser. Portanto, se eu tiver esta paranóia das etiquetas cor de rosa, e se
eu só quiser comprar roupa com estas etiquetas não há problema nenhum. Agora
imaginemos que eu tou a discutir o preço, a composição de uma camisola, mas ainda
nao falei sobre a etiqueta. Ate agora chegamos a acordo sobre tudo. Mas depois eu vou
ver a etiqueta e ela é preta, e eu aí digo que só compro a camisola se trocar a etiqueta
para cor de rosa. O contrato nao existe até nós chegarmos a acordo sobre a etiqueta.
Portanto, das duas uma, ou o vendedor muda a etiqueta e eu compro-lhe a camisola, ou
se ele disser que nao muda a etiqueta para cor de rosa, nao temos negocio. Isto é
correto, porque isto manifesta, precisamente o respeito do ordenamento jurídico por
aquilo que as partes quiseram, e mais ainda, é uma demonstração de que a lei nao faz
juízos de valor sobre aquilo que para o A ou para o B é importante ou deixa de ser. Cada
pessoa é que sabe o que é que é relevante para si ou nao.
Esta regra costume ser designada nos países anglo-saxónicos pela expressão: “all our
nothing rule”, ou seja, ou há contrato e as partes estão totalmente vinculadas, ou ainda
nao há contrato e as partes são totalmente livres, portanto, ou tudo ou nada. Isto não é
assim em todos os países. Por exemplo na Suíça o contrato, como que se forma aos
bocadinhos. Se as pessoas forem chegando a acordo sobre determinados aspetos do
contrato, já há contrato quanto a isso. Portanto, é uma formação progressiva do negocio
jurídico, diferente da nossa.
Características da proposta
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A declaração negocial, portanto a manifestação de vontade pela qual um pessoa
propõem a outra um contrato, isto é, tenta cativar a outra para que chegue a acordo com
ela e portanto que tenham um negocio, designa se por proposta. A proposta é a
declaração pela qual alguém propõem a outra pessoa um contrato, isto é, suscita na
outra uma adesão à vontade que manifestou de chegar a acordo com ela. As propostas
sao declarações que têm várias características. Uma das características fundamentais no
nosso direito é a da irrevogabilidade. A proposta é irrevogável depois de ser recebida
pelo destinatário, salvo declaração em contrario do proponente - art.º 230/1.
Ex.º Eu quero comprar uma camisola branca à minha irmã, então digo lhe que esta
camisola é confortável e ao mesmo tempo pergunto lhe qual é a composição da
camisola, porque sou alérgica a certas bras. Podemos chamar isto um convite a
contratar, mas a verdade é que é um bocadinho estranho, porque a minha irmã nem
sequer se apercebeu ainda que eu lhe vou propor comprar a camisola, eu só lhe
perguntei a composição dela. Portanto, esta declaração já tem em vista a celebração do
negocio mas é uma declaração preparatória. Porque para ser uma proposta eu teria que
lhe dizer que estou interessada em comprar a camisola e que lhe dou 20 euros por ela.
Aqui temos todos os elementos necessários.
Mas imaginemos que eu em vez de propor comprar por 20, propus comprar por 100,
mas nao tinha esse dinheiro. Se eu quisesse comprar a camisola a prestações, e nao lhe
tivesse dito que pretendia lhe pagar a camisola a prestações. Em rigor também nao
estaríamos perante uma proposta, porque para mim ainda era preciso chegar a acordo
quanto à matéria das prestações.
A proposta deve ainda ser rme, isto quer dizer que a proposta deve manifestar a
intenção inequívoca de contratar. O caracter inequívoco de contratar signi ca que eu
nao tenho duvidas que quero contratar, tem que ver com a rmeza da vontade e nao com
a clareza da declaração, daquilo que se diz. Portanto, para haver rmeza é necessário
que eu esteja totalmente decidida a celebrar o negocio.
Outra característica da proposta, agora nao quanto à sua materialidade mas sim quanto
aos seus efeitos, é que a proposta tem como efeito criar na esfera jurídica do declaratário
da proposta um direito potestativo, de aceitando a proposta dar origem ao contrato que
foi proposto. Por isso, mais uma vez é que a proposta tem que ser rme, completa e
revestir a forma necessária, porque se nao for assim o declaratário ao aceitar nao dá
origem a contrato nenhum. No exemplo de à pouco, imaginemos que o senhor aceitou
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logo o meu preço à primeira, gosto nao dá origem ao contrato, nós temos que ir ao
cartório para celebrar o contrato de compra e venda do imóvel. Portanto, nao há uma
proposta aqui.
Além disto, a proposta tem uma duração - 228.º. Este artigo destina se a proteger o
proponente. ( A proposta é declaração recipienda, porque se destina a dar origem a um
contrato, isto é, por de nição é uma proposta cujo objetivo é suscitar outra de adesão a
ela, portanto se a proposta visa suscitar outra, então a proposta tem que chegar a certa
pessoa, para que ela emita a sua declaração e dê origem ao contrato. ). A proposta cria
um direito potestativo na esfera jurídica do declaratário e cria uma situação de sujeição
na esfera jurídica do proponente. O proponente, que fez a proposta, ca à mercê do
declaratário e portanto pode ver a qualquer momento formar se na sua esfera jurídica um
contrato, precisamente o contrato que ele propôs. Ex.º imaginemos que eu preciso de
dinheiro e tenho um anel muito valioso e portanto vendo-o. Faço uma proposta à maria
para me comprar o anel por 100.000 €, e ela diz me que vai pensar. A proposta está feita,
existe o direto potestativo de ela aceitando dar origem ao contrato, e eu estou numa
situação de sujeição. A maria nunca mais me diz nada. Eu ligo-lhe, ela nao atende,
mando emails, ela nao responde. Eu preciso do dinheiro e portanto vou vender a outra
pessoa. Mas entretanto eu ja z uma proposta à maria, e ela pode aceitar e depois se
faço uma proposta a outra pessoa e ela também aceita, o que é que eu faço? Este art.º
228.º é um preceito que se destina a dizer ao proponente que ele pode fazer as suas
propostas à vontade que elas têm um prazo de duração, ou seja, ele ca vinculado
durante o prazo previsto no 228.º e depois está livre. Temos como primeira hipótese, o
proponente estabelecer um prazo - 228.º/a). Outra hipótese, é o proponente nao dizer
nada e aí aplica se o prazo supletivo de duração da proposta que tem que ver com o
tempo que em condições normais a proposta e a aceitação demoram a chegar ao seu
destino. Portanto, dependendo do meio de comunicação que se utiliza para transmitir a
proposta, e do tempo que dura esse meio de comunicação a chegar ao destinatário
assim é a duração da proposta. Ou seja, dura esse período, mais o tempo de resposta,
acrescidos de 5 dias - 228.º/b). Depois o artigo tem também a alínea c) para os casos em
que à urgência do proponente e em que aí o prazo é apenas o prazo dos meios de
comunicação, ou seja, o prazo que uma proposta leva a chegar ao seu destino e o prazo
da resposta, nao se contam os 5 dias adicionais previstos na alínea b).
O art.º 230/2 diz nos que a aceitação pode chegar ao mesmo tempo da proposta. Aqui é
que já há problemas, porquê? O tempo é uma coisa que nao para. Portanto, uma pessoa
quando recebi uma declaração, é difícil dizer que recebe ao mesmo tempo. Portanto, há
um problema quando “ao mesmo tempo” do art.º 230/2. Há um certo consenso em torno
do entendimento de que o que conta não é um tempo cronológico, mas um sim um
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tempo juridicamente relevante. Ex.º eu todos os dias recebo em média 30 cartas. Estão
nula pilha todas, e eu abro uma leio, depois abro outra, depois paro porque recebo um
telefonema, depois abo a terceira, e assim sucessivamente. Vamos supor que a primeira
carta que eu abro foi uma proposta, e aquela que eu abri em ultimo foi a revogação da
mesma proposta. Em principio, isto é ao mesmo tempo, porque as cartas chegaram
todas ao mesmo tempo, o carteiro pôs todas ao mesmo tempo na minha caixa do
correio. Mas pode acontecer que eu, apesar de ter recebido as cartas todas ao mesmo
tempo, por exemplo, eu li primeiro a proposta para comprar o anel e quei tão
entusiasmada que peguei no telefone celebrei um contrato de empréstimo com um
banco por exemplo. Mandei um email que me fez a proposta de compra e venda do anel
a dizer que já tenho o dinheiro para o comprar e a pessoa diz: “olha mas eu já te mandei
uma revogação dessa proposta para comprares o anel”. Eu agora já vou ter prejuízos
com a revogação porque se a revogação por e caz eu pelo menos já perdi dinheiro com
o empréstimo que z, com as comissões do banco. Portanto, “ao mesmo tempo” é um
tempo jurídico, um tempo que tem que ver com a possibilidade de construir ou nao
expectativas, ou mais que expectativas, sobre uma determinada declaração. E aqui o
que a lei diz, ao m ao cabo, é que quem corre o risco da revogação nao ser e caz é o
proponente, porque foi este que mudou de ideias nao foi o destinatário. Portanto, na
situação da revogação da proposta quem tem que ser protegido é o destinatário da
proposta e não o proponente, ao contrario do que acontece no art.º 228.
Características da aceitação
A aceitação tal como a proposta, tem que ser rme. Uma aceitação dubitativa nao é
uma aceitação. Ex.º a minha irmã diz que me vende a camisola por 100€, e eu respondo
que isso é um ótimo negocio, que em principio vou querer, mas que vou dormir sobre o
assunto. Isto nao é uma aceitação porque a minha vontade ainda nao está formada, eu
ainda nao estou determinada a adquirir e a minha Irma nao cou com a sensação de que
eu claramente quis comprar a camisola porque eu ainda vou ter que pensar.
Tal como a proposta, a aceitação tem observar a forma necessária para o contrato.
Porque senão nao há contrato, porque a aceitação é a outra metade do contrato. E se
este ultimo tem que revestir forma escrita, isto é, se a proposta é escrita mas a aceitação
nao é escrita eu nao tenho um contrato, ou pelo menos nao tenho um contrato valido,
pois é nulo por falta de forma - 220.º.
A aceitação, também tem que ser completa, isto é, tem que haver uma adesão total à
proposta. Como acabamos de ver no 233.º diz se isso, a aceitação nao pode ser parcial,
pois se for equivale a uma rejeição.
Portanto, grosso modo temos as mesmas características que temos para a proposta.
Alem disso, a aceitação, apesar de nao ter uma duração, tem que ser tempestiva. Isto
quer dizer que a proposta tem uma duração - 228.º -, a aceitação para ser e caz (=dar
origem ao contrato) tem que chegar dentro do prazo de duração da proposta. Portanto, a
aceitação tem que produzir efeitos durante a e cácia da proposta. Há uma exceção, que
é aquela que vem prevista no art.º 229, e que se designa por receção tardia. Esta é uma
gura de compromisso que permite que quando a proposta já caducou, se a aceitação
foi proferida ainda dentro do prazo de validade da proposta, mas por algum motivo
chegou depois do prazo da proposta, o proponente se quiser pode aceitar a aceitação
como ainda produzida dentro do prazo, isto é, como válida. Ex.º imaginemos que me foi
feita uma proposta, e eu z as contas e a minha resposta tem que chegar até hoje ao
proponente. Eu enviei a resposta na quarta-fera em correio azul. Em circunstancias
normais a reposta chegaria no prazo sem problema nenhum, mas por causa da
pandemia a resposta só chega terça feira, e a proposta já caducou, na sexta. Neste caso,
o art.º 229 diz nos que o proponente se quiser pode aceitar. Isto faz todo o sentido,
porque a duração da proposta visa proteger o proponente, este sabia que tinha que
esperar até sexta. E se sexta nao chegou nada ele cou livre. No entanto, se eu tivesse
enviado a proposta fora do prazo, aí tinha que haver nova proposta e nova aceitação.
A aceitação, tal como a proposta, em certos casos pode ser revogada - art.º 235.
Temos aqui uma gura que vem prevista no art.º 234 e que tem como epígrafe “Dispensa
da declaração de aceitação”. Há muitas duvidas quanto à interpretação deste preceito.
O MC entende que este artigo é uma consagração das declarações tácitas. A MRR nao
concorda porque, em primeiro lugar, seria um péssima técnica legislativa. Porque nos no
art.º 117 já temos a consagração, e até a equiparação em termos de valor, das
declarações tácitas e das declarações expressas. Portanto, a MRR acha que nao
podemos considerar que o artigo consagra a gura das declarações tácitas, antes de se
esgotar todas as outras interpretações possíveis. E há uma interpretação possível e útil
para este artigo. As declarações negociais, sobretudo as declarações recipiendas, têm
uma dimensão de manifestação de vontade (exteriorização da vontade), mas também
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têm uma dimensão de noti cação, no sentido de comunicação a uma pessoa. Neste art.º
234 o que nós temos é uma dispensa nao da aceitação, mas sim da noti cação, pois a
aceitação é sempre precisa. O artigo diz: “(…) tornem dispensável a declaração de
aceitação”. Portanto, há claramente uma aceitação que é manifestada através de um
comportamento de aceitar a proposta que lhe foi feita. O que nao existe, o que o artigo
dispensa, é a declaração de aceitação. Nós nao podemos interpretar aqui declaração, no
sentido de exteriorização porque na parte nal do 234.º veri camos que há uma
exteriorização através do comportamento. O legislador está se a referir à noti cação (ao
caracter recipiendo) da aceitação, é isso que é dispensado. Ex.º eu gosto muito desta
camisola e quero outra camisola igual. Portanto, vou ter com a pessoa que me fez esta
camisola e peço lhe para fazer outra igual, e ela diz me que já nao faz camisolas. E eu
digo lhe: “faz me por favor as camisolas nao precisas de responder já, mas faz me s eu
preciso muito delas, nao me precisas de dizer nada eu so quero que me faças as
camisolas”. Primeiro, ela nao aceitou fazer as camisolas ainda mas a minha proposta
mantém se, e eu própria na proposta que lhe z disse lhe que ela nao me precisava de
dizer nada. Portanto, ela nao precisa de me noti car/comunicar a dizer que aceitou. No
entanto, imaginemos que ela começa a fazer as camisolas e nao me diz nada e passar 15
dias liga me e diz me que já fez as camisolas e que eu posso ir lá buscar e pagar. E
imaginemos que eu já nao quero as camisolas, azar o meu, porque neste momento eu já
estou agarrada, porque diz nos o artigo que a aceitação produz efeitos no momento em
que ela começou a fazer as camisolas. Ou seja, eu dispensei a de me noti car e o artigo
diz que “tem-se o contrato por concluído logo que a conduta da outra parte mostre a
intenção de aceitar a proposta.”, ainda que ela nao mo declare. Portanto, este artigo
permite como que contornar o 224.º, ou seja, permite a celebração de um contrato sem a
noti cação da declaração de aceitação. Às vezes aplica se mas nao é um artigo muito
aplicado porque em principio as pessoas têm que saber com o que contar, portanto nao
é vulgar o proponente dispensar a declaração de aceitação, como também nao é vulgar
haver os tais usos ou as circunstancias que dispensem a declaração de aceitação.
Durante o séc. XX, sobretudo a seguir à 2.ª GM assistimos à massi cação da nossa
economia e à criação daquilo que nós hoje chamamos de uma sociedade de consumo. E
aos poucos foi se formando um modo diferente de celebrar negócios jurídicos e do
próprio conteúdo dos mesmos.
Passado algum tempo o legislador percebeu que o regime tradicional, o do CC, nao era
adequado a regular estes contratos celebrados de forma massi cada, e então em 1975
em Portugal foi publicado o DL 446/85 de 25 de outubro, e que se chama a lei das
clausulas contratuais gerais.
Normalmente estas cláusulas têm natureza formulária, mas isto pode nao acontecer.
Natureza formulária, quer dizer que em regra são apresentadas como um formulário.
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Com frequência, nos contratos mais complexos estes contratos têm dois formulários, um
que são as condições gerais e outro que são as condições particulares. As condições
gerias são iguais para toda a gente, e depois as condições particulares são um formulário
que tem um espaços para a pessoa colocar as suas condições particulares, o seu nome,
a sua idade, a sua morada. Mas mesmo essas condições particulares já estão pré-
determinadas.
Isto faz com que a empresa rentabilize mais e que os produtos sejam mais baratos.
As clausulas que constem dos formulários mas que são sejam comunicadas às pessoas
na formação do negocio nao são incluídas no contrato. Também nao valem como aceites
as clausulas que aparecem depois da assinatura porque se presume que nao formam
lidas, pois a assinatura aparece sempre no nal dos contratos. Também nao valem as
clausulas que entretanto sejam alteradas.
As pessoas que utilizam estas clausulas têm deveres especiais ao fazerem uso desta
técnica. Diz nos o art.º 5 da LCCG que a pessoa que utiliza as clausulas tem o dever de
comunicar integralmente as clausulas. Depois o art.º 6 diz nos que tem o dever de
informar, isto é, tem o dever de prestar esclarecimentos. Há algumas clausulas que
precisam de um grande esclarecimento, por exemplo os contratos celebrados com
bancos ou com seguros onde são utilizadas formulas difíceis de perceber. O art.º 5/3 diz
nos que cabe ao utilizador das clausulas o ónus da prova de que cumpriu estes deveres.
Se existirem violações destes deveres o art.º 8 diz nos que há uma exclusão daquelas
clausulas dos contratos, isto é, as cláusulas nao comunicadas ou relativamente às quais
nao tenha havido o cumprimento do dever de informação são excluídas do negócio
jurídico. Portanto, é uma solução muito melhor do que haver indemnização porque
aquelas clausulas nao existem, e como se nao tivessem la escritas, porque nao foram
comunicadas convenientemente. Depois o art.º 9 diz nos que os contratos singulares
(=contratos efetivamente celebrados) subsistem nao obstante essas clausulas nao terem
sido incluídas, a menos que o aderente/consumidor nao pretenda. O art.º 8 apesar de
excluir as clausulas nao comunicadas nao impede a aplicação do regime geral da culpa
in contrahendo. Por vezes nao faz sentido, porque como a clausula problemática foi
excluída, às vezes nao há danos para indemnizar mas se houver é possível podermos
aplicar também o tal regime.
Os negócios celebrados com recurso a clausulas contratuais gerais são rígidos, mas a
rigidez é tendencial. Isto quer dizer que em principio o utilizador das clausulas nao está
disponível para as alterar mas isto é um problema prático. É errado dizer que aqui não há
liberdade de estipulação, pois o que acontece é que uma das partes nao quer negociar,
mas a outra tem liberdade de o fazer nao tem é poder negocial. Ex.º imaginemos que a
EDP celebra um contrato com a empresa da siderurgia nacional (empresa que gasta
muitíssima energia). E esta empresa diz que nao lhe agradam certas clausulas e que
pretende marcar uma reunião para discuti-las. Neste caso a EDP claro que vai aceitar
porque nao quer perder o cliente, e portanto vai fazer as mudanças necessárias dentro
da lógica do seu negocio. Portanto nao vai reagir com esta empresa da mesma forma
que vai reagir com um particular que tenha a mesma intenção, pois este em comparação
com esta empresa gasta pouquíssima eletricidade todos os meses.
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Portanto, o problema destas clausulas é um problema prático, de poder negocial, nao é
um problema jurídico, nao é uma falta de liberdade negocial, não há qualquer limite. E a
prova disso é o art.º 7 da LCCG que nos diz que se por ventura num determinado
contrato celerado segundo cláusulas contratuais gerais tiver havido negociação de
alguma cláusula, a clausula negociada prevalece sobre o formulário.
Este regime é aplicável às CCG mas além disso o art.º 1/2 diz nos que é aplicável
também aos contratos rígidos. Um contrato rígido é um contrato que ou nao esta pré-
formulado e/ou nao se destina a ser aceite ou proposto por pessoas indeterminadas mas
é rígido. Portanto, há contratos que são feitos especi camente, por exemplo, entre o A e
o B, portanto nao são contratos para ser celebrados com pessoas indeterminadas são só
para aquele contrato, mas são rígidos porque uma das partes nao está disponível para
negociar. A esses contratos nos termos do art.º 1/2 também se aplica a LCCG.
Alem disso há uma outra área com a qual a lei se preocupou. Vem prevista no art.º 227 -
culpa in contrahendo = culpa na formação do contrato. Este artigo, de certa forma, é
uma tentativa do legislador de manter a ordem, manter uma certa moralidade na
formação do negocio. Portanto, as partes sao livres mas o legislador diz que as partes
podem fazer tudo mas que há limites. O limite que está previsto no 227.º que nos diz: “1.
Quem negoceia com outrem para conclusão de um contrato deve, tanto nos preliminares
como na formação dele, proceder segundo as regras da boa fé, sob pena de responder
pelos danos que culposamente causar à outra parte; 2. A responsabilidade prescreve nos
termos do artigo 498.º.”
Discute se o que é que é isto: “tanto nos preliminares como na formação dele”. Ninguém
sabe porque a lei nao distinguiu os preliminares da formação do negocio. Mas
normalmente entende se que a formação do negocio é a proposta e a aceitação, mas
além disso os preliminares é tudo aquilo que se passa antes desta fase nal da proposta
e da aceitação. A relevância de distinguir os preliminares da formação é zero, porque o
regime é exatamente o mesmo. Portanto, à MRR parece lhe que o que é interessante
aqui é o legislador salientar que tudo na formação do negocio esta sujeito ao regime do
227.º.
No art.º 227, estes dois princípios, em particular o da tutela da con ança, que é o mais
utilizado aqui, dá origem a dois tipos de deveres: os deveres de informação e os deveres
de lealdade. Isto é, as partes agirem de boa fé na negociação signi ca que são leais uma
com a outra e trocam entre si a informação necessária, ou pelo menos su ciente, para
celebrar o negocio jurídico. Portanto, sao corretas e serias uma com a outra.
Alguma doutrina entende que para alem destes dois tipos de deveres ainda existem os
deveres de proteção. Estes são deveres de cada um dos negociadores proteger o
património e a pessoa do outro negociar. A MRR entende que estes deveres nao existem,
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o art.º 227 é um artigo que se destina a proteger a negociação, nao o património ou a
pessoa do outro negociador para isso há outras regras, e portanto é um artigo totalmente
focado na negociação do contrato. Para alem disso a boa fé é um conceito que,
independentemente de alguma variação na densi cação, tem que ver com o
relacionamento entre 2 pessoas, com as regras de conduta que regem a forma como
duas pessoas se relacionam. Aquilo que protege o património e a pessoa do outro
contraente são valores que estão consagrados no art.º 483, portanto é uma dimensão
delitual do comportamento das pessoas. Nao tem que ver com relacionamento
individual, mas sim com a proteção das pessoas.
O art.º 227 diz nos que a parte que nao respeitou a boa-fé tem o dever de indemnizar os
danos em que a outra parte incorreu. A consequência da culpa in contrahendo nao é a
invalidade do negocio.
Quais sao os danos que a pessoa que violou a boa fé tem que indemnizar?
Esta matéria é muito discutida. Debate se aqui se aquilo que deve ser indemnizado é o
chamado interesse contratual negativo/interesse da con ança ou o interesse
contratual positivo/interesse do cumprimento. A diferença é que se eu indemnizar o
interesse contratual negativo eu vou ter que pagar o que for necessário para colocar o
lesado na posição em que ele estaria antes do facto ilícito, antes das negociações. Se eu
tiver que indemnizar pelo interesse contratual positivo eu tenho que colocar o lesado na
posição em que ele estaria depois do facto ilícito, mas imaginando que tudo tinha corrido
bem.
Ex.º eu ponho esta casa à venda. A casa tem 100 metros quadrados e eu no anuncio dei
a entender que a casa tinha o dobro. E vamos admitir que há uma pessoa que vem ver a
casa e diz: “então isto nao tem 200 metros quadrados tem 100” e eu respondo:” sim,
pois é”, e a pessoa diz me: “então mas no anuncio dava a entender que tinha 200, sendo
assim nao quero”. Imaginemos que a pessoa veio de propósito de Santarém ver a casa.
O ICN diz nos que eu devo pagar ao senhor o bilhete de comboio de ida e de volta para
Santarém, porque a viagem foi inutil e a culpa foi minha. Porque se eu nao tivesse dado a
entender que a casa tinha o dobro dos metros quadrados que na realidade tem ele nao
teria vindo. O ICP, alguns autores dizem, diz nos que se tudo tivesse corrido bem o
senhor tinha comprado a casa, e portanto a indemnização seria muito maior que a pelo
ICN. O problema e que o senhor tem direito a que eu seja séria, nos termos do 227.º,
mas nao tem o direito a comprar a casa. Na opinião na MRR a culpa in contrahendo dá
lugar a uma indemnização pelo ICN porque o lesado tem direito apenas a um
comportamento leal, então tem que ser indemnizado pela falta do comportamento leal ou
pelas consequências da deslealdade ou da falta de informação.
Outra matéria muito discutida é saber qual é o tipo de responsabilidade que está aqui em
causa. Há dois grandes sistemas de responsabilidade civil: a responsabilidade contratual
e a responsabilidade extracontratual. É muito discutido a integração da culpa in
contrahendo num destes dois universos.
O art.º 227 e a indemnização por culpa in contrahendo, podem aplicar se mesmo que o
contrato nao se celebre, mesmo que o contrato seja inválido ou até mesmo que o
contrato se celebre. Pode acontecer que celebrou se determinado contrato, mas que
houve problemas na fase pré-contratual e esses problemas causaram danos. Nao é o
facto de o contrato se ter celebrado que impede a parte lesada de pedir uma
indemnização. E o facto de o contrato nao se ter celebrado ou de ser nulo ou anulável, o
contrato em si nao produz efeitos mas a responsabilidade civil é um facto jurídico.
Portanto, nao está dependente da produção de efeitos do negocio. A aplicação do 227.º
e independente do destino do contrato.
23.03
Falta e Vícios na Formação da Vontade
Então e se as pessoas que deviam autoregular cometem alguma falta, alguma coisa que
nao corre bem na sua atividade de determinar as regras jurídicas que as devem reger?
Primeiro, identi ca se esses problemas e depois tem que se saber quis são as soluções
para esses problemas.
Vamos adotar uma classi cação que do ponto de vista dogmático já é bastante
antiquada e ultrapassada mas que do ponto de vista pedagógico é sem duvida a mais
acessível.
Falta de Vontade > Neste conjunto de vícios não há sequer vontade. Portanto, são sem
duvida os vícios mais graves e por conseguinte têm as consequências mais graves. A lei
diz nos em relação a estes vícios, que o negocio ou a declaração é inexistente.
Vícios da Vontade > Este é um grupo em que existe vontade mas ela foi mal formada.
Pode ter sido mal formada por 2 barra 3 razoes. A primeira razão é por falta de liberdade
do decante, ou seja, este estava com medo nao sendo livre na vontade que manifestou.
A segunda razão/vicio é a falta de esclarecimento, portanto o delirante nao tinha os
elementos para decidir totalmente e por isso estava em erro. E depois temos um vicio,
que é um vicio residual, uma mistura entre falta de liberdade e falta de esclarecimento
que é a incapacidade acidental. Portanto, os vícios da vontade são aqueles em que
existe vontade mas essa vontade foi mal formada ou por falta de liberdade ou por falta
de esclarecimento (ou pelas duas).
Divergências entre a vontade e a declaração > Aqui temos uma vontade que foi bem
formada, nao há problemas com ela, mas depois no processo de exteriorização da
vontade há algo que correu mal. Portanto, nós temos uma divergência entre aquilo que
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se pretendeu e aquilo que se disse que se quis. Ex.º eu preciso de comprar um CC e vou
à livraria comprar, mas há entrada encontro um amigo e começamos a falar sobre uma
divida qualquer de Processo civil. Depois eu entro na livraria a querer um CC mas engano
me e digo ao funcionário que quero um Código de Processo Civil.
NOTA: Ao longo que vamos descendo na tabela (mais graves para os menos graves)
cada vez mais o legislador vai ter em conta os interesses do declaratório. Na coação
física nao tem em conta, na falta de consciência obriga a indemnizar em certos casos,
nas declarações nao serias obriga a indemnizar em mais casos do que na falta de
consciência na declaração, e etc. Portanto quanto menos graves são os vícios maior é o
compromisso entre os interesses do declarante e os interesses do declaratário.
FALTA DE VONTADE
Tradicionalmente distingue a vontade humana em 3 patamares. Estes 3 níveis são
progressivos, ou seja, quando nao há o primeiro nao há mais nenhum, só podemos
passar para o 2.º quando há o primeiro.
1.º - Patamar da vontade de ação > corresponde ao controlo do meu corpo. ex.º a
professora está a dar esta aula porque quer, controla o que está a dizer. Uma pessoa que
fala durante o sono nao tem vontade de ação porque nao controla o seu corpo. É muito
raro faltar a vontade de ação porque o ser humano caracteriza se por dominar o seu
corpo.
2.º - Patamar da vontade de declaração > grande parte dos nossos comportamentos têm
um sentido, e normalmente, se as pessoas nao são doentes da cabeça, quando nós
adotamos um determinado comportamento nós também queremos o sentido que esse
comportamento tem. Ex.º um aluno numa aula quando levanta o braço para falar, porque
quer ou seja há vontade de ação, e ao levantar o braço o aluno está a dizer ao professor
que quer falar. Portanto, o aluno controla a ação e controla a declaração. 2Ex.
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Imaginemos que há um aluno que está distraído numa aulas levanta o braço porque quer
mas nao pretende falar. Neste caso o aluno tem vontade de ação porque ele controlou o
seu próprio corpo mas o sentido no contexto de um aula de levantar o braço nao foi
querido pelo aluno, ele nao tinha vontade de declaração. É menos grave que o 1.º
patamar.
3.º - Patamar da vontade negocial/funcional > o declarante tem vontade de ação, tem
vontade de declaração, além de querer declarar aquilo que declarou quer que aquilo que
ele declarou produza efeitos jurídicos. Ex.º de falta de vontade funcional - quando a
professora dá exemplos sobre negócios jurídicos nas aulas normalmente fá-los com os
alunos da primeira la mas ela nao quer celebrar nenhum negocio com eles. Neste caso,
há vontade de ação, há vontade de declaração mas não há vontade funcional, porque a
professora nao quer que aquilo que ela está a dizer produza efeitos jurídicos.
Coação Física
A consequência deste ato é a inexistência sendo certo que aqui também o MC entende
que é a nulidade, mas aqui entende que em certos casos nós podemos estar mesmo
perante declarações viciadas por erro na declaração. A MRR nao concorda pois temos
um regime para o erro e outro regime para a falta de consciência na declaração, e se
adotarmos a posição do MC praticamente eliminamos a gura da falta de consciência na
declaração.
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O que nós veri camos quer nos casos da coação física, quer nos casos da falta de
consciência na declaração é que existe uma grande prevalência, do ponto de vista
legislativo, da autonomia privada sobre a segurança jurídica. De facto, ao privarmos a
declaração da produção de efeitos jurídicos nós estamos a desproteger evidentemente
os terceiros que con am naquela aparência. Nós temos aqui dois interesses em con ito e
o que a lei disse foi que estes casos são tão graves que o declarante merece que a sua
declaração nao produza efeitos.
O regime vem previsto no art.º 245, é necessário de acordo com este preceito que o
declarante pro ra a declaração na expectativa que a falta de seriedade nao seja
desconhecida do declaratário. Mesmo assim este artigo tem 2 regimes jurídicos. O
primeiro, que é o regime geral diz nos que se uma declaração for proferida nestes termos
então a declaração nao produz qualquer efeito, isto é, inexistência. No entanto, há um
regime especial que a doutrina costuma designar por graça pesada. Uma graça pesada é
o que vem previsto no n.º 2 do 245.º, portanto, uma declaração proferida na expectativa
que a falta de seriedade nao seja desconhecida mas “feita em circunstâncias que
induzam o declaratário a aceitar justi cadamente a sua seriedade”. Ou seja, o que
normalmente aconteceu aqui foi que o declarante foi um bocadinho trapalhão pois nao
controlou completamente todas as circunstancias que rodearam a declaração nao séria e
portanto apesar de ele nao ter vontade negocial e ter feito a declaração na expectativa
de que a falta de seriedade nao seria desconhecida a verdade é que as circunstancias
justi cadamente induziram o declaratório a ter aquela declaração como boa. Nestes
casos, o 245.º/2 que há o dever de indemnizar. ATENÇÃO! Tal como na falta de
consciência na declaração não há negocio, os efeitos negociais nao se produzem mas
produz se o efeito legal que é a obrigação de indemnizar e produz se porque se entende
que a expectativa do declaratário merece proteção, mas nao a proteção su ciente que
deu origem à e cácia jurídica da declaração que foi proferida. Portanto, continua a nao
produzir efeitos a declaração, mas a declaração em vez de ser um negocio jurídico passa
a ser um facto jurídico, gera apenas o dever de indemnizar.
VÍCIOS DA VONTADE
Nestes casos existe vontade, portanto aqueles 3 patamares estão os 3 preenchidos,
mas a vontade foi viciada, é uma vontade doente.
Medo/Falta de liberdade
Quando analisamos o vicio do medo devemos partir de um pressuposto, que alguns
autores entendem que é uma perceptiva errada mas na verdade é a perspetiva jurídica.
Nós no direito civil partimos do pressuposto/postulado de que cada homem é livre, o ser
humano é livre. Portanto, nós tratamos cada pessoa como um ser livre. O medo/falta de
liberdade é relevante precisamente porque para nós o sujeito é livre e o sujeito que
celebra negócios jurídicos idealmente, celebra os num estado em que esta a exercer a
sua liberdade. Portanto se há um problema com a liberdade nós temos um problema
com o negocio jurídico. O medo foi consagrado no nosso ordenamento jurídico com a
expressão técnica de coação moral.
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Coação Moral
É o vicio que consiste em a declaração ter sido determinada pelo receio de um mal de
que o declarante foi ilicitamente ameaçado com o m de obter dele a declaração - 255.º/
1.Ou seja, o medo espontâneo nao é relevante nos termos da coação moral, mas sim o
medo provocado. Portanto, uma pessoa que tem medo disto ou daquilo é irrelevante
juridicamente falando. Ex.º O A diz ao B que se ele nao lhe vender a casa que matará o
seu lho, e ele vende lhe a casa com medo. O facto da ameaça ser muito grave não
transforma a coação moral em coação física. O MC diz que este caso da ameaça de
morte pode ser um caso de coação física. A MRR acredita que em certos casos isso
possa acontecer, mas são casos muito limitados porque o que tem que acontecer é a
pessoa ameaçada car completamente fora de si, isto é, perder o controlo do seu próprio
corpo, porque isso é que caracteriza a coação física.
Requisitos: 1.º - Tem que haver uma ameaça + 2.º - Essa ameaça tem que ser ilícita. Uma
ameaça licita nao é suscetível de causar uma coação moral procedente. Ex.º o credor
que ameaça o devedor (que é por exemplo, uma gura publica) de que o vai por em
tribunal se ele nao lhe pagar. Isto não é coação moral, faz parte do tipo de tentativas pré-
judiciais não só admissíveis como desejáveis;
3.º - É preciso aquilo que exista aquilo que nos designamos de intencionalidade da
ameaça. O 255.º diz “com o m de obter dele a declaração.”. Portanto, há a intenção de
extorquir a declaração com aquela ameaça;
4.º - é preciso aquilo que se designa de dupla causalidade. O artigo diz nos “a
declaração negocial determinada pelo receio de um mal de que o declarante foi
ilicitamente ameaçado”. Ou seja, o que nós temos aqui é: o declaraste foi ilicitamente
ameaçado, então essa ameaça ilícita causou o receio de um mal, e depois o receio de
um mal causou a declaração.
Portanto nós temos dois nexos de causalidade (onde estão as duas bolas). E se houver
uma interrupção, entre o medo e a declaração, por exemplo, não há coação moral, e o
mesmo ao contrario. Ex.º uma pessoa mariquinhas tem medo mas esse medo nao foi
causado por uma ameaça ilícita portanto nao há coação moral porque há uma
interrupção entre a ameaça ilícita e o medo. Ou, põe exemplo a pessoa foi ameaçada
ilicitamente e teve medo, mas resistiu e proferiu outra declaração ou até aquela mas essa
declaração nao foi determinada pelo medo. A pessoa apenar de ter receio conseguiu
determinar se independentemente do receio que tinha.
Ameaça Ilícita
A ameaça ilícita pode respeitar à pessoa quer do declarante quer de um 3.º. Quer à
pessoa física quer a pessoa moral. A nossa lei, ao contrario de outras, nao estabelece um
limite para este 3.º, isto é, o 3.º pode ser qualquer pessoa. Nao precisa de ser familiar ou
amigo do declarante, mas sendo certo que se nós ameaçarmos o declare com uma
pessoa que nao tenha relação com ele forte é pouco provável que este se sinta
ameaçado e portanto nao é provável que se consiga o tal duplo nexo de causalidade que
gera o vicio. Nao há limites do ponto de vista legislativo, mas qualquer que seja o 3.º ou
qualquer que seja a ameaça para funcionar tem que ser e caz. Portanto, na pratica nós
estamos sempre a falar de pessoas relacionadas de alguma forma com o declarante ou
com a afetividade/sensibilidade deste.
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A ameaça pode respeitar também ao património ou à fazenda do declarante ou de 3.º
(para este ultimo aplicam se exatamente as mesmas considerações que acabamos de
fazer). O mal que consubstancia a ameaça ou que está subjacente a esta, pode ser um
mal que ainda vai ser criado ou um mal que vai ser mantido. ex.º eu posso ameaçar uma
pessoa de que lhe bato de ela nao me vender alguma coisa, ou posso já começar a bater
e dizer que nao lhe paro de bater até ela me vender. Claro que a expressão “não paro de
bater” por vezes é tácita a pessoa nao precisa de dizer isto. Do ponto de vista técnico, o
que interessa é que a ameaça do mal tem que ser sempre de um mal futuro porque
senão já nao é uma ameaça. Quando o mal já começou a ameaça tem que ser dirigida à
continuação do mal.
Também não constitui uma ameaça ilícita aquilo que a lei designa de simples temor
reverencial. O temor reverencial é o respeito que é natural do ponto de vista social pela
posição de superioridade de outra pessoa. Esse respeito causa alguns constrangimentos
naturais, e às vezes a pessoa que é merecedora do respeito ate se pode aproveitar um
bocadinho do temor reverencial, mas se nao passar disso não há coação moral. Isto é o
constrangimento, a falta de liberdade gerada pelo temor reverencial é considerada
admissível pelo ordenamento jurídico, ou seja, nao vicia o consentimento.
Intencionalidade da ameaça
É necessário que haja dolo do coator para haver coação moral - “com o m de obter dele
a declaração.”. Não há aqui negligencia.
A doutrina costuma colocar um problema que é muito difícil de resolver que é o seguinte.
Imaginemos que o A ameaça o B de que se este nao lhe vender os óculos o A o mata. O
B cheio de medo doa-lhe os óculos. A questão é saber se aqui há ou nao coação moral.
Porque? Porque falta aqui o requisito da intencionalidade. O A ameaçou o B, portanto há
ameaça ilícita, se ele nao lhe vendesse os óculos. O A nao disse que o matava se ele nao
lhe doasse os óculos. O B excedeu se, ele nao estava obrigado/constrangido a doar lhe
os óculos. Portanto, neste caso nós nao temos intencionalidade quanto à doação, temos
apenas quanto à compra e venda. E por isso nao podemos entender que há coação
moral. Há aqui outros vícios mas coação moral nao porque falta nos precisamente este
requisito.
Coação de terceiro
O art.º 256 trata de um caso especial de coação que é a coação de terceiro. Aqui o que
acontece é que o A vai celebrar um negocio com o B e o C ameaça o A de que se por
exemplo, ele nao baixar o preço o C mata-o. Isto é um problema, porque no exemplo
clássico em que a coação provem do declaratário a lei nao tem que se preocupar em
proteger as expectativas do declaratório porque este é o mau da ta. Quando é o B que
ameaça o A, o B portou se mal. Agora neste exemplo da coação de 3.º o declaratário fez
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tudo bem, este pode ate ignorar a coação. O C e que se intrometeu no negocio e
ameaçou uma das partes. Portanto, quando nós formos destruir o negocio à conta da
coação temos que pensar no B que também ele é aqui uma vitima, ou vai ser uma vitima.
Por se tratar de uma situação que suscita preocupação adicional do legislador há mais
requisitos da coação moral de terceiro do que da coação moral do próprio declaratário.
É necessário que o mal que a vitima tenha sido ameaçada seja grave e é necessário
também que o receio da consumação do mal seja justi cado. Neste exemplo a ameaça
de morte é grave mas já o segundo requisito pode ser ou nao, pois se eu ameaçar
alguém que a vou matar é pouco credível que o faça realmente enquanto que se eu tiver
um historial já é mais provável. Estes dois requisitos apenas se aplicam à coação moral
de terceiro e não à coação moral do declaratário.
Prazo - “só dentro do ano subsequente à cessação do vício que lhe serve de
fundamento.”. Qual é que é o vicio? É a falta de liberdade/medo. Quanto é que cessa o
vicio da coação moral, o medo? O vicio da coação moral pode cessar nas alturas mais
variadas. Cessa quando cessar o medo. Ex.º se eu ameaçar uma pessoa de morte, o
medo cessa apenas quando eu deixar de ser capaz de a matar, quando eu morrer, ou
quando for patente que eu mudei de ideias e ja nao a quero matar e portanto ela ja nao
precisa de ter medo. Ex.º a professora ameaça um aluno de que se ele nao lhe vender o
seu telemóvel que ela o chumba a teoria. Vamos imaginar que chegamos a junho e o
aluno faz a cadeira, a partir desse momento cessou o medo. Portanto, a partir do
momento em que ele passa à cadeira começamos a contar um ano.
Dúvidas típicas
1.º Podem decorrer anos até ao vicio cessar e, portanto, nao é injusto que o prazo só
comece a correr passado anos de o negocio ter sido celebrado.
2.º Se o negocio já está feito a pessoa ja nao precisa de ter medo. Errado! Pois se a
pessoa teve medo e se o medo determinou a celebração do negocio a pessoa vai ter
medo de anular o negocio como é obvio. É como se a ameaça fosse transferida da
celebração do negocio para a manutenção do negocio porque a anulabilidade consiste
na possibilidade de impugnar o negocio portanto voltávamos à estaca zero, o que
signi ca que o coator ameaça para o negocio ser celebrado e se manter.
3.º No exemplo acima de a professora ameaçar o aluno de o chumbar se ele nao lhe
vender o telemóvel. O aluno vendeu lhe o telemóvel em abril e em maio resolve invocar a
anulabilidade do negocio. E os alunos dizem: “ah nao pode porque ainda nao começou a
correr o prazo, porque como ele ainda nao passou a teoria ainda é possível executar a
ameaça e portanto ele está sob o império da coação moral”. Isto teoricamente é tudo
verdade, mas há aqui um problema técnico. Um dos requisitos da coação moral é a
dupla causalidade. Se o aluno apesar de a ameaça se manter, resolve invocar a
anulabilidade quando ainda nao tem a cadeira feita e porque o 2.º nexo de causalidade
entre o medo e a declaração, deixou de existir. Ou seja, o aluno perdeu o medo. E os
alunos dizem: “mas ele nao tem nenhuma razão objetiva para isso”. Também mas a
verdade é que perdeu, ganhou coragem. Portanto, o que aconteceu é que o peso da
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ameaça deixou de constituir um problema para esta pessoa, e por isso, ele pode
perfeitamente inovar a anulabilidade do negocio. Portanto, o 287.º marca o m do prazo
nao o inicio do prazo.
Erro
No erro o vicio, em termos técnicos, corresponde à falta de esclarecimento. O erro é o
desconhecimento ou a falsa representação da realidade. Ex.º O A vai comprar aquele
carro porque pensa que ele atinge os 400km/h mas a verdade é que nao atinge. Esta
pseudo realidade de que o carro atinge os 400 km/h só existe na cabeça do A. É uma
falsa representação da realidade porque a realidade é que o carro só anda até aos
180km/h. Ex.º o A empresta dinheiro ao B porque pensa que este ultimo é seu primo. Ou
seja, o A na sua cabeça representa uma relação familiar entre ele e o B, mas essa nao é a
realidade. A realidade é diferente daquilo que está na cabeça do A. Ex.º O A compra um
carro que atinge efetivamente os 400km/h porque pensa que pode andar a essas
velocidades nas auto estradas mas isso nao é verdade pois o limite máximo é de 120km/
h em Portugal. Também há aqui uma falsa representação da realidade.
Isto é um vicio porque a vontade das pessoas forma se a partir da ponderação de uma
serie de factores, e esses factores têm a ver com a realidade. Ex.º eu começo a pensar
que preciso de comprar um telemóvel porque ele começa a car com a bateria viciada,
às vezes ca sem rede, etc. Portanto, eu vou comprar um telemóvel por causa destas
considerações que eu z.
Nos erros verdadeiros, próprios, a lei permite a anulação do negocio porque eu proferi
uma declaração com uma convicção, portanto baseada num determinado motivo que
estava errado, eu estava enganada. Quanto ao exemplo de eu achar que vai chover
amanha eu nao estava errada, eu tenho uma errada previsão. Portanto, quando estamos
a falar de previsões nao aplicamos o regime do erro.
O vicio do erro é ainda menos grave que a coação moral porque no erro nós, em
principio, nao temos ilicitude. Temos uma pessoa que esta enganada e que realiza uma
falsa representação da realidade. Portanto, o vicio em si mesmo nao tem na sua génese
algo de ilícito. Isto gera um maior cuidado do legislador ao regime jurídico do erro. Esse
regime jurídico, tal como em todos os outros vícios, é um compromisso/ponto de
equilíbrio entre o principio da autonomia privada e o principio da segurança jurídica. Nuns
pontos dependerá mais para a autonomia provada noutros mais para a segurança
jurídica.
O regime do erro varia em função de 2 grandes critérios: o critério do erro ser espontâneo
ou ser provocado; e o critério, sobretudo quando o erro é espontâneo, do objeto do erro.
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O erro pode ser simples ou espontâneo, ou pode ser quali cado por dolo ou às vezes diz
se só dolo. O erro doloso ou o erro quali cado é o erro em que alguém provocou o erro.
Ex.º eu quero comprar um carro que ande a 400km/h e vou comprá-lo. O vendedor do
carro diz me que aquele carro anda a 400km/h e isto é mentira. Isto é um erro quali cado
por dolo. Erro espontâneo é eu achar/convenci me, sem ninguém me dizer, que aquele
carro anda a 400km/h.
O erro pode ser quali cado em função do seu objeto. Normalmente nós só quali camos
em função do objeto o erro espontâneo, simples. Porque o erro simples tem vários
regimes jurídicos consoante o objeto do erro, enquanto que o regime do erro quali cado
por dolo é sempre o mesmo (ver quadro acima).
06.04
Este vicio esta consagrado no art.º 254 do CC e quando existe erro quali cado por dolo é
indiferente qual o objeto do erro. Isto é, o erro quali cado por dolo é um erro, portanto, é
uma falsa representação da realidade, é um vicio que consiste em alguém pensar que
alguma coisa aconteceu, ou que alguma coisa existe, portanto, que a realidade é de uma
certa maneira quando não é, e esse vicio (essa falsa representação da realidade) foi
provocado, portanto não é espontânea. Como vamos ver quando estudarmos o erro
simples, o regime deste varia em função do elemento sobre o qual incidiu a falsa
representação da realidade. Se foi sobre o objeto do negocio, ou sobre a pessoa do
declaratário, etc. aqui nao, aqui é indiferente qual o objeto do erro. Ex.º imaginemos que
eu vou comprar um automóvel e o vendedor do automóvel garantiu me que aquele carro
anda a 400km/h, o que é mentira. Portanto há alguém que pensa que a realidade é de
uma certa maneira, eu pensava que o carro andava a 400km/h mas na verdade nao anda,
e esta minha convicção foi criada por um terceiro que fez de propósito para eu acreditar
que o carro chegaria a essa velocidade.
O primeiro aspeto a considerar é que é necessário que haja uma sugestão ou arti cio.
Isto pode ser algo elaborado (um teatro, uma mentira muito bem construída) mas
também pode ser uma mentira descarada. Portanto, é uma qualquer sugestão ou
artifício, ou seja, uma forma qualquer de induzir a outra pessoa em erro.
Depois é necessário, diz o artigo, que esse arti cio tenha sido feito “com a intenção ou
consciência de induzir ou manter em erro o autor da declaração”. Isto é, nao há um dolo
negligente. Quando alguém diz qualquer coisa e nao se apercebe que a outra pessoa se
deixou enganar por aquilo isto nao é dolo, é um mal entendido. O dolo para efeitos do
art.º 253 tem que ser doloso, isto é, tem que ser feito de propósito, com a intenção ou
pelo menos com a consciência de que se está a induzir a outra pessoa em erro.
O autor do dolo pode ser ou o declaratário ou um terceiro. Como vamos ver há requisitos
diferentes caso seja o terceiro ou o declaratário.
O erro pode já existir e o dolo consistir apenas na manutenção do erro ou o erro pode
nao existir e ser criado pelo agente do dolo. Portanto, podemos ter dolo por ação ou dolo
por omissão, olhando na perspetiva do agente do dolo.
O art.º 253/2 trata de uma realidade hoje em dia bastante difícil de tratar que costume ser
designada por dolus bonus. O problema aqui é que nos últimas décadas as concessões
dominantes no comercio evoluíram muitíssimo e hoje em dia atendendo às regras sobre a
defesa do consumidor, à loso a subjacente aos deveres de informação da culpa in
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contrahendo, a maior parte das informações erradas dadas pelo menos por um
pro ssional a uma pessoa que nao é pro ssional nao são consideradas lícitas, e portanto
o espaço do dolus bonus encolher muito. Nao há duvida que o espaço de aplicação do
artigo é muito reduzido quer por aplicação da culpa in contrahendo que era o 227.º que
fazia remissão para este art.º 253/2, quer por via das tais concessões dominantes no
comércio jurídico. Portanto claro que ainda há exemplos do dolus bonus, o mais
característico é: uma pessoa vai a uma loja veste uma coisa qualquer que lhe ca super
mal, pergunta ao empregado como é que este e o empregado diz que ca lindamente na
verdade a pessoa está horrível. Os outros exemplos são suscetíveis de criar duvidas
relativamente a serem quali cados como lícitos ou ilícitos e portanto ou caírem no 253.º/2
ou no 253.º/1.
Veri cado um caso de dolo ilícito (253.º/1) procede se da seguinte forma. Este vicio do
erro quali cado por dolo tem um único requisito que é a chamada dupla causalidade. Isto
é, é necessário que o dolo tenha sido a causa do erro e depois é necessário que o erro
tenha sido a causa da declaração. Portanto, há dois nexos de causalidade. Se esta dupla
causalidade se encontrar veri cada então podemos anular o negocio com fundamento
em erro conforme vem previsto no art.º 254.
Porque é que isto é assim? É assim porque nós aqui nao temos preocupações com o
declaratário porque este foi o autor do dolo, ele é que criou o erro na cabeça do
declarante e portanto, nao há nada que mereça proteção aqui. De modo que a lei basta
se com a dupla causalidade para permitir a anulação do negocio.
Se o dolo nao for relevante, porque nao se veri cam os requisitos, nós podemos ainda
tentar olhar para o negocio, analisá-lo, na perspetiva do erro simples. Isto é, o facto de
nao existir dolo relevante nao signi ca que o declarante nao esteja em erro porque ele
está. E como o declarante está em erro é possível tratar o negocio à luz das regras do
erro simples. Esta prevenção, é sobretudo prática por vezes nas ripostes e na vida real
também nos casos em que alguém invoca dolo, quando se constata que nao há dolo por
vezes as pessoas baixam os braços, e isso é incorreto. Precisamente porque a
inexistência de dolo juridicamente relevante nao afasta a existência de erro, portanto, se
o dolo soçobrar do ponto de vista jurídico, porque nao se veri cam os requisitos vamos
ter que voltar a olhar para a hipótese na perceptiva do erro.
Erro simples
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O erro, como já vimos, consiste numa falsa representação da realidade. O regime do erro
no nosso código é bastante complexo e está dividido em vários sub-regimes consoante
o objeto do erro. Se o erro for sobre o objeto do negocio o regime é um, se for sobre a
pessoa do declaratário é outro, etc. Ao m ao cabo nós temos quatro categorias de erro
simples. Erro sobre os motivos = erro residual. Mas na verdade nós temos apenas 3
regimes porque o erro sobre o objeto e o erro sobre a pessoa do declaratário têm o
mesmo regime jurídico que vem previsto no art.º 251.º. Este regime jurídico inclui a falsa
representação relativa à pessoa do declaratário e aqui nós vamos incluir quer a
identidade do declaratário, quer qualidades objetivas deste, por exemplo, a sua
nacionalidade, as suas quali cações para realizar uma determinada tarefa, etc. O artigo
diz só erro quanto à pessoa do declaratário nao nos fala de identidade nem de
qualidades objetivas ou subjetivas. Estas distinções dentro da pessoa do declaratário
são feitas dominantemente pela doutrina e pela jurisprudência, porque como vamos ver
este regime do 251.º facilita a anulação do negocio porque estamos perante
circunstancias que são muito relevantes e normalmente facilmente constatáveis por
todos os intervenientes no negocio. Há certas particularidades do declaratário que
podem ter sido motivo determinante da vontade do declarante mas que são
verdadeiramente impossíveis de sindicar. Imaginemos que eu vou celebrar um contrato
compra e venda de uma casa com uma pessoa e tenho uma mania qualquer e celebro o
negocio porque essa pessoa tem olhos azuis. Portanto eu faço o negócio, e 3 dias
depois encontro o vendedor e veri co a nal que ele tem olhos castanhos, e ele diz me
que estava a usar lentes. E aí penso: já nao quero a casa. Nao há duvida que, primeiro,
eu estava em erro e também nao há duvida de que o erro foi essencial, porque eu só
queria a casa porque a pessoa tinha olhos azuis. A verdade é que a maioria das pessoas
decide celebrar um contrato de compra a partir do preço e nao da cor dos olhos do
vendedor, mas nao é proibido portanto é possível fazer um negocio jurídico à conta da
cor dos olhos do vendedor. O art.º 251 se olharmos ao regime jurídico e o compararmos
com os outros regime do erro, veri caremos que ele nao está pensado para abrigar este
tipo de erros, que sim respeitam à pessoa do declaratário, mas estamos a falar de um
fetiche, de um pormenor que nao tem relevância objetiva, que do ponto de vista social
uma pessoa normal nao conseguiria controlar aquele tipo de representação, e portanto,
de erro. Por isso, quer a doutrina quer a jurisprudência têm entendido (e bem de acordo
com a MRR) que no 251.º estamos a falar da pessoa do declaratário, mas de aspetos
objetivos, portanto, ou da identidade ou de características que em função do negocio
que estamos a falar são características objetivas. No exemplo que vimos de contrato
compra e venda é claro que nao é uma característica objetiva cor dos olhos, mas se por
exemplo estivéssemos perante um contrato em que uma pessoa aceitou participar numa
experiência medicina oftalmológica e que aqui era importante que tivesse olhos azuis, é
certo que neste caso a cor dos olhos era relevante para o contrato em causa, e que
estaríamos perante um erro quanto à pessoa do declaratário e é um erro objetivo. É um
erro objetivo pois trata se de uma característica que objetivamente é relevante para
efeitos de celebrar ou nao celebrar um contrato com aquela pessoa.
Objeto está empregado no 251.º como objeto da relação jurídica, portanto, inclui quer o
conteúdo quer o objeto propriamente dito, ou seja, inclui erros sobre o conteúdo jurídico
do negocio e sobre o conteúdo material do negocio. É um conceito de objeto bastante
amplo.
NOTA! Não é aplicável aqui o art.º 6 do CC que diz que a ignorância da lei nao aproveita
a ninguém. Nao se trata de obedecer ou nao obedecer à lei, de desconhecer a lei para
efeitos de lhe desobedecer. Estamos a falar de um negocio jurídico que foi feito na
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ignorância de um certo regime jurídico. Portanto, quando eu permito a anulação do
negócio eu nao estou a dizer que as pessoas podem desobedecer à lei se nao a
conhecerem, não! Eu estou a dizer que, precisamente porque nao podem desobedecer
elas pensavam que aquela lei nao existia e por causa disso celebraram o negocio.
Portanto, nós aqui nao vamos ultrapassar a lei, vamos sim, anular o negocio ou pelo
menos tentar ver se os requisitos da anulabilidade estão veri cados para se anular um
negocio em atenção a um desconhecimento que determinou a celebração do negocio
que noutras circunstâncias nao teria sido celebrado. Os negócios celebram se por causa
da vontade das partes, se a existência ou inexistência de uma determinada norma
jurídica foi determinante então nós devemos levar isso em Iinha de conta.
Quanto ao regime jurídico, o que nós temos de veri car num caso em que haja erro é:
primeiro, ver se há erro, uma falsa representação da realidade, segundo, ver se o objeto
desse erro é a pessoa do declaratário ou o objeto do negocio, e se for aplicamos o 251.º
que nos manda para o 247.º. Como vamos ver o 247.º trata do erro-obstáculo, portanto
de um outro tipo de erro. Nós estamos a tratar no 251.º do erro-vício, isto é, de uma falsa
representação da realidade à cerca do declaratário ou à cerca do objeto do negócio.
Portanto, quando nós vamos aplicar o 247.º por remissão do 251.º nós nao podemos
aplicar por de nição a parte inicial do artigo - “Quando, em virtude de erro, a vontade
declarada não corresponda à vontade real do autor, a declaração negocial é anulável
(…)”. Não se pode aplicar porque nós nao estamos perante uma situação de erro em que
a vontade declarada não corresponde à vontade real do autor, estamos sim perante um
caso em que a pessoa disse aquilo que queria, ela pensava que queria comprar o
automóvel porque pensava que este andava a 400km/h mas a verdade é que este nao
andava. E portanto, há um erro na formação da vontade, ou seja, nós conjugamos o
251.º com o 247.º/2ª parte - “desde que o declaratário conhecesse ou não devesse
ignorar a essencialidade, para o declarante, do elemento sobre que incidiu o erro.”.
2.º requisito - requisito que se destina a proteger o declaratário. O artigo diz nos que para
o negocio ser anulável é necessário que o declaratário conhecesse ou devesse conhecer
a essencialidade do motivo sobre que incidiu o erro. ATENÇÃO! Nao se trata de conhecer
o erro, mas sim de conhecer a essencialidade do motivo sobre que incidiu o erro.
Portanto, 24, tem que saber que para o declarante era essencial que por exemplo, o
carro andasse a 400km/h, que era essencial que se pudesse construir naquele imóvel.
Diz a lei que é preciso que ele conheça ou deva conhecer. O dever de conhecimento,
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sobretudo nas compras e vendas, existe implícito no preço. Um imóvel onde nao se pode
construir tem um preço completamente diferente de um imóvel onde se pode construir.
Aplicando aqui o 287.º quem tem legitimidade para anular é o declarante, a pessoa que
está em erro, e o prazo é de 1 ano após a cessação do vicio, ou seja, 1 ano após o
momento em que ele perceba que estava em erro, portanto, a partir do esclarecimento.
Ex.º Em 1979 aconteceu uma revolução religiosa e política no Irão em que o aiatolá
Ruhollah Khomeini tomou conta do país e instituiu um regime religiosa islâmico no Irão e
passou a ser proibido vender álcool. Havia e continua a haver um contrato de
fornecimento de cerveja entre uma sociedade comercial iraniana e uma empresa alemã e
os camiões com a cerveja estavam quase a chegar ao irão quando aconteceu a
revolução. Portanto, os camiões caram ali detidos e depois o comprador daquela
cerveja nao a queria pagar porque dizia que o negocio era invalido porque ele nunca iria
conseguir vender a cerveja. O negócio nao era invalido, o negocio ja estava feito, se ele
nao podia vender a cerveja no Irão era um problema dele nao era um problema do
vendedor da cerveja, era um risco do comprador. Portanto, a compra e venda de cerveja
nao se tornou invalida só porque aquelas leis proibiam a venda de álcool a retalho, a
venda aos consumidores. No entanto, percebemos que a alteração destas leis altera
completamente a loso a daquele negocio, portanto, o vendedor e o comprador devem
perceber que nao faz sentido celebrar aquele negocio naqueles moldes.
Ex.º Em 1902 morreu a rainha Vitória que tinha sido coroada em 1838. Havia uma
tradição de o rei no dia da coroação fazer um determinado cortejo desde o palácio até à
catedral para ser coroado, e as pessoas que tinham casas ao longo do cortejo da
coroação, tradicionalmente arrendavam as suas janelas para que outras pessoas
pudessem ver passar o soberano por preços astronómicos. E assim aconteceu,
celebraram os contratos de arrendamento das janelas para ver o rei Eduardo VII passar.
O que é que aconteceu? O percurso do cortejo foi alterado e nao foram dadas as noticias
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a tempo e horas por razoes de segurança. Mas quando os contratos de arrendamento
foram celebrados o cortejo já nao ia passar por ali. Mais uma vez é possível arrendar a
janela mesmo que o rei nao passe por baixo, só que a pessoa que ia arrendar a janela
nao quer ir para la se o rei nao for passar no dia da sua coroação. Portanto, este negocio
só é compreensível se nós tivermos em conta estas circunstancias que são exteriores ao
negocio mas que o explicam, que lhe dão sentido.
Assim, nos dois exemplos nós estamos perante circunstancias exteriores em que as
partes, ambas, celebraram a sua decisão de contratar. O que vai arrendar a sua janela
também nao a vai arrendar se o cortejo do rei nao for passar por ali. De duas uma, ou
nao arrenda mesmo por razoes de privacidade da sua casa ou então nao arrenda àqueles
preços.
O 252.º/2 remete para o 437.º e aqui mais uma vez nao vamos aplicar o regime da
alteração das circunstancias mas vamos aplicar o regime jurídico da alteração das
circunstancias ao erro sobre a base do negocio. Portanto, nós temos que estar perante
um caso de erro e nao um caso de alteração das circunstancias. No exemplo dado o
percurso do cortejo já tinha sido alterado as pessoas é que nao sabiam, ou seja, estavam
em erro. Se tivesse sido uma alteração posterior ao negocio aí sim estaríamos perante
um caso de alteração das circunstancias.
A grande particularidade do regime do erro sobre a base do negocio é que ele permite ao
contrario dos outros regimes jurídicos, nao só a anulação do negocio mas também a
alteração do negocio de acordo com juízos de equidade. Portanto, a parte lesada pode
solicitar ou a anulação (aqui denominada de resolução) ou a modi cação segundo juízos
de equidade. O disposto 437.º/2 que é uma manifestação de ………. Diz nos este artigo
que se a parte lesada requerer a resolução, “a parte contrária pode opor-se ao pedido,
declarando aceitar a modi cação do contrato nos termos do número anterior.”. Ou seja,
nos termos da equidade.
Qualquer destas duas consequências tem à sua volta bastantes duvidas doutrinais.
Alguns autores entendem que porque estamos perante uma aplicação do 437.º a um
erro, nao é possível a modi cação só a resolução. A MRR nao defende esta teoria. E
também se discute se estaremos perante uma verdadeira resolução ou uma anulação.
Aqui trata se de uma discussão mais linguistica porque os efeitos da anulação e da
fi
fi
fi
fi
resolução são os mesmos, portanto, chamar anulação ou resolução é indiferente. A MRR
entende que seria mais correto dizer se que se vai anular o negocio, mas que nao faz se
dissermos que, por efeito do art.º 437 aplicável ex vi 252.º/2, resolvemos o negocio com
fundamento no erro sobre a base do negocio.
Vem previsto no art.º 252.º/1. É um erro residual, inclui uma falsa representação sobre
todos os outros motivos que nao o objeto, a pessoa do declaratário e a base do negócio.
Estão aqui sobretudo os chamados motivos subjetivos. Aqueles motivos que podem ter
determinado alguém a celebrar um determinado negocio (ex.º os olhos azuis do
vendedor) que são perfeitamente legítimos, as pessoas celebram os negócios pelos
motivos que lhes apetecer. Portanto são todos os motivos possíveis que nao estejam nos
outros 3 tipos de erro.
Requisitos: a essencialidade - é necessário que o erro seja essencial para que eu possa
anular o negocio. Depois é necessário, diz nos o art.º 252.º/1 também que as partes
hajam reconhecido por acordo a essencialidade do motivo. Nao é preciso que o acordo,
que este reconhecimento, seja expresso mas ele tem que existir. O que é que é isto? Isto
é o declaratário a assumir o risco daquele erro que faz todo o sentido porque como
vimos nós estamos perante erros relativos a aspetos di cilmente controláveis. Ex.º eu
tenho aqui um dicionário que nao foi muito barato e comprei o porque achava que este
dicionário tinha pertencido a uma determinada pessoa de quem era muito amiga. Este é
um erro sobre os motivos, porque nao é sobre o objeto, nem sobre o declaratário, e
muito menos sobre a base do negocio porque é importante para mim mas nao é
importante para a outra pessoa. Mas é um motivo determinante porque eu só quero este
dicionário porque estou convencida que ele pertenceu a esse meu amigo. O declaratário
nao sabe disto nem tem maneira de controlar isto. Ele tem maneira de controlar se está
completo se nao está, o seu preço, o seu estado mas a quem pertenceu nao. Para eu
conseguir aplicar o erro sobre os motivos o que tem que acontecer é: eu tenho que
chegar ao pé do senhor e dizer que lhe estou a comprar o dicionário porque ele
pertenceu a um amigo meu e que isto para mim é fundamental, e pergunto se ele aceita
vender me o dicionário nestas circunstancias. Ele pode me dizer que nao sabe se o
dicionário pertenceu ao meu amigo, e eu respondo lhe dizendo que ele pode nao saber
mas que eu só lho compro se tiver pertencido, porque se nao tiver eu nao o quero. Então
o vendedor aceita. Portanto, o declaratário como que assume o risco de aquele motivo,
que é um motivo puramente subjetivo, passa a ser determinante, porque eu (declaratário)
aceitei aquele motivo como determinante.
O que é que nós fazemos se estivermos perante um negócio que nao tenha um
declaratário?
O que nós devemos fazer é eliminar os requisitos dos erros que visem proteger os
declaratários, ou seja, o conhecimento ou a cognoscibilidade da essencialidade ou o
acordo no caso do art.º 252/1. Nesse casos, além disso, é necessário que a
fi
fi
fi
fi
fi
essencialidade resulte do próprio negocio porque essa é a única maneira que nós temos
de proteger o comercio jurídico. Portanto, para alguém conseguir provar que uma
determinada realidade para ele era essencial isso tem que decorrer do negocio. Ao
eliminar os requisitos da proteção do declaratário e ao sermos um bocadinho mais
exigentes com a essencialidade estamos a aplicar o regime que vem previsto também
para o erro no testamento - 2202.º. O testamento é um negocio unilateral que nao tem
declaratários e o regime do errada relevância há essencialidade mas nao aos outros
requisitos que se destinam a proteger o declaratário que aqui nao existe.
Incapacidade Acidental
Vem previsto no art.º 257. Este vicio é um vicio híbrido e portanto é difícil de enquadrar.
Nao é totalmente um vicio da vontade, também nao é bem uma divergência entre a
vontade e a declaração, é difícil arranjar uma categoria para encaixar a incapacidade
acidental.
Em termos de requisitos, o que nós temos aqui é alguém que acidentalmente está
incapacitado, isto é, por um motivo qualquer e naquele momento em que celebra o
negocio tem uma falha, uma falta, uma debilidade, está incapacitado neste sentido. Tem
uma impossibilidade que pode ser ou de entender ou de querer, que são os dois grandes
vícios como vimos nas aulas anteriores. Os dois grandes vicios na formação do negocio
são vícios do entendimento ou vícios da vontade. É preciso que este facto, esta
incapacidade, para dar lugar à anulabilidade, é preciso que seja notório, ou nao sendo
notório que mesmo assim seja conhecido do declaratório, precisamente para
protegermos este. Veri cados este requisitos o negocio é anulável. Ex.º negócios
celebrados por pessoas que estão embriagadas ou drogadas. É também o artigo
utilizado para resolver problemas com pessoas maiores com fragilidades que nao são
acidentais mas sim permanentes mas que nao têm o regime jurídico da proteção da
maioridade acompanhada decretado. Portanto, apesar da debilidade dessa pessoa ser
permanente e nao acidental por vezes é possível aplicar este artigo, entendendo que no
momento da prática do ato estão como que acidentalmente incapazes, apesar de
juridicamente serem capazes naquele momento estão incapazes de entender e/ou querer
o ato que praticaram. Este artigo aplica se de uma forma um bocadinho residual,
portanto, quando nós nao conseguirmos encaixar o vicio, o problema, num dos outros
vícios da vontade ou da declaração podemos sempre tentar ver se através do 256.º
arranjamos uma solução atendendo a que este preceito diz nos que se aplica qualquer
que seja a causa da debilidade da incapacidade.
Quando nós estudamos logo no inicio deste matéria dos vícios a MRR disse nos que
existia uma técnica muito antiquada que distinguia a vontade em vontade de cação,
vontade de declaração e a vontade funcional/negocial. Agora temos que fazer outra
distinção, também ela antiquada, entre 3 tipos de vontade que se distinguem dentro da
vontade negocial. Portanto, para nós chegarmos aqui é porque já passamos os outros 3
estados, vontade de ação, vontade de declaração e vontade funcional/negocial.
Agora nos vamos distinguir a vontade em: vontade real, vontade declarada e vontade
conjectural.
Vontade Declarada > é a vontade que a pessoa declarou. Nao é aquilo que a pessoa quis
dizer, é aquilo que resulta da interpretação jurídica da declaração, ou seja, do art.º 236.
Vontade Conjectural > ao contrario das outras duas, é um vontade que nao existe, é
aquela que teria existido se o sujeito, o delirante, se tivesse determinado em condições
ótimas de esclarecimento e liberdade.
Até é possível que a vontade conjectural seja igual à vontade real e há vontade
declarada, imaginemos que eu agora tenho sede e vou comprar um garrafa de agua e
digo assim: olhe queria uma garrafa de meio litro de agua natural sem gás. A vontade real
é: quero uma garrafa de água natural de meio litro sem gás. A vontade declarada é isto
mesmo, porque eu fui competente na forma como me exprimi. A vontade conjectural é
exatamente a mesma porque eu nao estou em erro, nao fui coagida, nao nada, portanto,
a minha vontade conjectural é uma garrafa de agua natural meio litro sem gás. Portanto,
neste caso tudo correu bem, ou seja, estas 3 vontades são todas iguais.
Quando há diferenças entre a vontade declarada e a vontade real então o que temos é
um problema de divergência entre a vontade e a declaração e nao um problema de vicio,
ainda que possa haver um vicio a outro titulo qualquer. Ex.º o A foi ameaçado pelo B, de
que se o A nao lhe vendesse o seu carro o B denunciava o às nanças por uma falcatrua
qualquer que o A teria feito. Qual é a vontade real do A? Vender o carro. Porque? Porque
isso é o que ele quer. E nós aqui dizemos, ahh mas ele quer isso para evitar a denuncia, é
verdade, mas ele quer isso. Ele preferiu vender o carro a ser denunciado. Portanto, aquilo
que ele quer realmente, efetivamente, é vender o carro. O que é que ele disse que
queria? Vender o carro. Então, se a vontade real e a vontade declarada são iguais nao há
um problema de divergências entre a vontade e a declaração. Mas qual teria sido a
vontade do A em condições ótimas de liberdade e de esclarecimento? Quanto ao
esclarecimento nao há problema mas quanto à liberdade há, porque ele só quer vender o
carro para nao ser denunciado. Portanto, ele esta a ser coagido. Assim, numa situação
ótima de liberdade ele nao vendia o carro. Portanto, como a vontade conjectural é
diferente da vontade real, nós temos aqui um vicio na vontade. Ora, o que é que falta?
Falta a liberdade ou falta o esclarecimento? Falta a liberdade, portanto temos coação
moral. Se faltasse o esclarecimento tínhamos erro. Portanto, este teste entre as 3
vontades é uma forma bastante pratica de tentar à priori identi car o vicio perante o qual
fi
fi
estamos. ATENÇÃO! Este truque permite nos identi car o vicio mas a seguir temos que ir
ao artigo correspondente e veri car se efetivamente o vicio que identi camos tem os
requisitos todos preenchidos e portanto, permite ou nao permite anular o negocio, ou
nao, se o vicio for outro, se é suscetível por em causa o negocio ou nao.
Simulação
É uma divergência que consiste em alguém, por acordo com o seu declaratário, declarar
uma coisa, uma vontade, diferente da sua vontade real com o intuito de enganar
terceiros, ou seja, pessoas que nao o declaratário. Ex.º o A tem dividas, e os credores
deste andam atras dele. O A tem uma casa onde mora, e para nao perdê-la, combina
com o B que lhe vende a casa por 300.00€. No entanto, isto é tudo um teatro, o A nao
quer vender a casa, o B nao a quer comprar e nao paga os tais 300.00€. É tudo a ngir.
Aquilo que o A quer fazer é enganar os credores e o B quer ajudar o seu amigo. O
negocio que eles declararam que querem, na verdade nao o querem, aquilo é um teatro.
Mas enquanto que nas declarações nao sérias há um teatro feito na expectativa que o
declaratário conheça a falta de seriedade na declaração, na simulação é um teatro
combinado entre o declarante e o declaratário para enganar terceiros ao negocio.
Portanto, há um intuito de enganar.
A simulação também nao é aquilo que nós designamos de negocio indireto. Um negocio
indireto é aquele em que as partes celebram um negocio típico alterando lhe um
determinado elemento típico para obter um efeito pratico que é típico de outro negocio
jurídico. Ex.º eu tenho um anel que vale 2.000€, e vamos imaginar que eu o vendo por 2€
a uma amiga. Neste caso eu vendi o anel, entreguei lhe o anel, perdi a propriedade do
anel, quis perder essa propriedade e a minha amiga deve me os 2€ e tem de mos
entregar. Sendo uma compra e venda ela tem o dever de me entregar o preço e eu tenho
o direito a receber o preço. Mas as pessoas podem dizer que não é uma compra e venda
porque o anel custa 2.000€ e eu estou a vendê-lo por 2€. A verdade é que é uma compra
e venda porque estas têm preços e eu nao prescindi dos 2€. É verdade que é um preço
ridículo, mas o preço é aquele que as partes quiserem. Este negocio foi querido desta
forma, portanto nao há aqui uma simulação, porque aquilo que eu declarei (“eu vendo o
anel à minha amiga por 2€”) e a minha amiga declarou que mo compra por 2€, a verdade
é que ela quer me comprar por 2€ e eu quero lhe vender por esse preço. Portanto, a
vontade real é igual à vontade declarada. É verdade que, de acordo com aquilo que é
normal, há aqui alguma estranheza mas como diz no 405.º as partes podem celebrar os
negócios que quiserem e podem alterar as clausulas que entenderem relativamente aos
negócios que vêm no código. Portanto, no exemplo dado, utilizou se o negocio da
fi
fi
fi
fi
fi
compra e venda para obter os efeitos práticos, típicos de uma doação, mas aquilo que
nós celebrámos foi uma compra e venda.
Este vicio é muito vulgar, sobretudo para evitar pagar impostos ou pagar menos. Hoje em
dia é menos vulgar porque nos dias que correm a administração scal é mais e caz, por
um lado, na scalização da evasão scal, e por outro lado, o sistema scal é mais
so sticado e portanto há certas razoes que antes levavam à simulação scal e que hoje
em dia já nao vale a pena porque nao pagamos aqui mas vamos pagar mais à frente,
portanto o melhor é mesmo nao fazer a simulação scal.
Quanto aos efeitos jurídicos. O negocio simulado é nulo - 240.º/2. Além disso, alguns
casos de simulação são crime, por exemplo, a simulação scal. Portanto, aqui alem das
consequências civis têm também consequências criminais.
A simulação gera um tipo de nulidade que é atípica. A nulidade da simulação tem uma
parcela do seu regime que é típica e outra que é atípica ou mista.
Na parte típica, que é a que é conforme ao 286.º, primeiro, o negocio nao produz
quaisquer efeitos, como é próprio da nulidade; o vicio é imprescritível, portanto, nao há
prazo para invocar a nulidade na simulação; depois, a nulidade na simulação é invocável
por qualquer interessado; e pode ser declarado o ciosamente pelo tribunal. Isto sao
características da tipicidade e que numa medida ampla se aplicam à nulidade da
simulação.
No art.º 242/2 nós temos um caso de atipicidade, porque? Os herdeiros legitimarias nao
são parte no negocio e neste momento ainda nao têm qualquer direito, têm uma mera
expectativa jurídica. Portanto, era difícil entender se que eles eram parte interessada para
invocar a nulidade da simulação. No entanto, o 242.º/2 diz que se a simulação tiver sido
fraudulenta eles excepcionalmente têm legitimidade para invocar a nulidade da
simulação. Ou seja, o legislador nao quis deixar consolidar o negocio e permitiu aos
herdeiros legitimarias a invocação da nulidade, ainda que eles nao sejam interessados,
porque nao sabemos que eles viram a herdar ou nao. Neste momento são apenas
herdeiros legitimários, têm apenas uma expectativa.
Depois no 243.º o que faz é criar uma inoponibilidade dos efeitos da nulidade a um
terceiro de boa-fé. Aqui a boa-fé subjectiva está utilizada em sentido ético e não em
sentido psicológico, uma vez que no n.º 2 e 3 se faz determinadas exigências para que
este terceiro se considere de boa-fé, portanto, nao é qualquer ignorância que é
considerada boa-fé é necessário que a ignorância respeito pelo menos o conhecimento
do registo. Portanto, se houver registo contrário o terceiro nao se pode considerar de
fi
fi
fi
fi
fi
fi
fi
fi
fi
fi
boa-fé. Ex.º o A e o B, no exemplo de à pouco, simularam aa compra e venda da casa
para fugir aos credores do A. O B passado um tempo precisa de dinheiro, resolve
enganar o amigo e vende a casa do A, que está em nome dele o cialmente, ao C. O C
quando vai ao notário e vê que realmente o proprietário é o B que comprou a casa ao A,
está lá escrito. Então se o B é proprietário pode vender. Passado um tempo o A vai ter
com o C e diz para ele se ir embora da casa porque esta é dele, porque o negocio era
simulado portanto nao produz efeitos e que ele (C) comprou a uma pessoa (B) que nao
era proprietário. O que o 243.º nos diz é que os simuladores (A e B) nao podem invocar a
nulidade da simulação contra o C, que está de boa-fé, porque nao sabe da simulação, e
que por isso vai ser protegido pelo preceito. Isto é uma exceção ao regime geral da
nulidade que é, o negocio nulo nao produz quaisquer efeitos e a nulidade é invocável a
todo o tempo por qualquer interessado. Não é verdade, pois os simuladores são
interessados e nao podem invocar contra o 3.º de boa-fé. Cria se aqui uma pseudo
propriedade a favor do 3.º de boa-fé. É uma situação jurídica que é fundada
exclusivamente nesta situação de inoponibilidade, e que se destina a proteger uma
aparência, é verdade, mas a favor de uma pessoa que está de boa-fé. ATENÇÃO! Esta
regra só funciona se forem os simuladores a invocarem a nulidade da simulação.
Portanto, a diferença é que no primeiro exemplo a vontade real era igual a zero, era zero
negocio, enquanto que no segundo exemplo a vontade real é um negocio que é diferente
fi
do negocio declarado. Este segundo exemplo é o que nós designamos de simulação
relativa, enquanto que o primeiro exemplo é uma simulação absoluta.
Quanto ao regime jurídico, o que nós temos que fazer é, em primeiro lugar: o negocio
simulado é nulo - 240.º/2 - este artigo aplica se quer a simulação seja relativa quer seja
absoluta. E depois, quando a simulação é relativa, alem de analisarmos o negocio
simulado, que é nulo, temos que analisar o negocio dissimulado. Rege o negocio
dissimulado o 241.º. na opinião da MRR este artigo tem uma epígrafe - “Simulação
Relativa” - muito infeliz. Às vezes os alunos quando estão a resolver o artigo e acham
que o problema está resolvido mas nao está. A epígrafe do 241.º nao devia ser
“simulação relativa” devia ser negocio dissimulado. Porque este artigo só regula o
negocio dissimulado nao regula o negocio simulado. E na simulação relativa nós temos o
negocio dissimulado mas também temos ou também continuamos a ter o simulado.
Portanto, ao simulado aplicamos o 240.º/1 e ao dissimulado, se existir, aplicamos o
241.º. Portanto, no segundo exemplo a conclusão era que o primeiro negocio era nulo
por aplicação do 240.º/2 e agora vamos aplicar ao segundo negocio o 241.º.
Qual é o regime do 241.º? Por vezes os alunos dizem que pelo regime do 241.º o negocio
dissimulado é válido. Esta resposta está completamente errada, nao é isso que o artigo
diz de maneira nenhuma. O 241.º diz: “Quando sob o negócio simulado exista um outro
que as partes quiseram realizar (o dissimulado), é aplicável a este (ao dissimulado) o
regime que lhe corresponderia se fosse concluído sem dissimulação, não sendo a sua
validade prejudicada pela nulidade do negócio simulado.”. Ou seja, o que nós temos aqui
é um espécie de redução ex lege. O que o 241.º nos diz é o seguinte: temos uma
simulação relativa, então vamos esquecer o primeiro negocio (o simulado) porque este é
nulo, e agora vamos olhar para o segundo negocio (o dissimulado) como se nao tivesse
existido o outro. Portanto, a nulidade do negocio simulado nao afeta o negocio
dissimulado. O regime é olhar para o negocio dissimulado sem preconceito. Isto signi ca
que o negocio dissimulado pode ser valido ou invalido, é o que for. Portanto, nós vamos
olhar para ele como se nao existisse simulação.
Normalmente, estes negócios fazem se para enganar pessoas, e grande parte dos
negócios simulados são negócios formais, porque são aqueles negócios mais relevantes
e em que as pessoas se dão ao trabalho de enganar outras de uma forma mais teatral,
gastando dinheiro, por exemplo, com escrituras, com registos, e outra série de coisas. E
portanto, com frequência nós temos problemas de forma no negocio dissimulado.
Podem nao ser os únicos problemas mas é um problema recorrente na simulação saber
o que fazer com a forma do negocio dissimulado porque este é um negocio secreto.
Portanto, quando a forma exigida por lei é uma forma pública, isto é, um documento
autenticado ou uma escritura publica, nao é possível observar a forma num negocio
simulado e no dissimulado. Ex.º Se eu vender a minha casa ao A por 200.000€ através de
uma escritura pública, eu nao posso fazer o negocio dissimulado também, por escritura,
porque senão o negocio dissimulado deixa de ser dissimulado, escondido, passa a ser
público. No exemplo dos impostos, até era impossível porque primeiro eu nao posso
vender uma coisa duas vezes e aí em vez de pagar impostos sobre 200.000€ pagava
sobre 500.000€.
fi
O que fazer com a forma dos negócios dissimulados? O 241.º/2 trata especi camente
desta matéria. “Se, porém, o negócio dissimulado for de natureza formal, só é válido se
tiver sido observada a forma exigida por lei.”. A nossa doutrina e a jurisprudência têm
sido incansáveis a arranjar maneira de contornar este preceito e a simulação. Portanto,
têm havido as teses mais extraordinárias para tentar salvar a validade dos negócios
dissimulados. Isto antigamente era compreensível porque 99% das pessoas simulava os
negócios e portanto havia uma certa misericórdia perante estes negócios. Hoje em dia
como muitas pessoas fazem, ou melhor conseguem fazer, há uma maior intolerância.
Isto é uma forma de tentarmos perceber o fenómeno mas nao é uma solução jurídica.
Casos de negócios em que por aplicação do disposto no 221.º nós conseguimos dizer
que a divergência entre a vontade e a declaração diz respeito a uma aspeto que nao é
um dos elementos pelo qual a lei exigiu a forma. E portanto, nos termos do 221.º pode
estar fora da forma, e se pode estar fora da forma nao há problema. Ex.º imaginemos que
eu quero vender a minha casa, arranja um comprador e nós dizemos na escritura que a
casa é vendida de voluta de bens, e na verdade lá dentro estão livros, eu vendi a minha
casa com os livros que lá estavam. Nao há problema nenhum. É verdade que é mentira,
que há uma simulação sem dúvida quanto ao estado do imóvel. Eu disse que a casa foi
vendida e entregue de voluta mas a verdade é que nao está de voluta. Mas nao há
problema nenhum porque conjugando o art.º 875 com o 221.º as razoes determinantes
da forma do 875.º nao exigem que a forma seja também observada para o estado interior
do imóvel. E portanto, neste caso, o negocio dissimulado é válido porque aplicando as
regras gerais seria válido na mesma.
Os negócios típicos de simulação, que são a simulação scal, que corresponde a vender
a um preço mais baixo do que aquele que é o preço real, esses negócios são nulos
também por falta de forma, porque as razoes scais são uma das razoes pelas quais o
Estado exige a escritura publica. Dizer que se vende por certo preço quando na realidade
se está a vender por outro diferente é constituir uma divergência entre a vontade e a
declaração numa área em que a lei nao quer que isso aconteça, precisamente porque um
dos objetivos da forma publica e fazer o controle da circulação de capitais.
Também nao é admissível uma simulação em que o negocio simulado seja de um tipo e o
dissimulado de outro, e ambos os tipos carecem de forma legal. Ex.º simulação entre
doação e compra e venda de imóveis. O negocio dissimulado é invalido porque em
principio é impossível a forma ter sido observada no negocio simulado e no dissimulado.
Um caso típico de simulação é o caso do preferente. Ex.º A tem uma casa que está
arrendada ao inquilino que é o C, e este ultimo tem direito de preferencia. O A quer
vender a casa ao B e nao ao C. Então, como o C tem preferencia, o que é que eles
fi
fi
fi
fi
fi
fi
fi
fazem? O A diz ao B: “O C nao tem dinheiro para comprar a casa portanto vamos lhe
dizer que eu te estou a vender a casa por 500.000€ que ele assim nao compra”. E assim
fazem. Combinam que vai fazer a escritura por 500.000€ quando na verdade celebraram
o negocio por 200.000€ (preço que o C estaria disponível a pagar). Neste caso, se o C
descobrir que o negocio a nal foi feito pelos 200.000€ este pode ir a tribunal, ele é
interessado, invocar a nulidade deste negocio (240.º/2) e preferir pelos 200.000€. Ele
prevalece da nulidade da simulação.
O exercício da preferencia aqui nao coloca problemas, porque o negocio simulado é nulo,
o C é interessado porque tem um direito dependente da nulidade da simulação e
portanto ele pode invocar a nulidade da simulação. Do ponto de vista do funcionamento
da nulidade da simulação este caso nao coloca problemas, mas na verdade ele coloca
um problema sério é que, como o segundo negocio é nulo (venda por 200.000€) por falta
de forma o C, em rigor, nao vai conseguir exercer o seu direito de preferencia. Nao se
exerce a preferencia sobre negócios nulos, pois se o negocio é nulo nao produz efeitos, e
se nao produz efeitos o C vai preferir no que? Nao tem nada para preferir. Portanto,
apesar de numa perspectiva de funcionamento das regras da nulidade da simulação nao
haver problemas aqui, o problema é que o negocio dissimulado é nulo e por isso vai tudo
ao charco.
Mas pode acontecer outra coisa que é: o A diz ao C que a compra e venda vai ser feita
por 500.000€, o C diz que nao compra por esse preço, e o A diz ao B que já recebeu a
rejeição do C e que portanto eles os dois já podem celebrar a compra e venda, já que o
C nao quer comprar pelos tais 500.000€ (que são o valor real da compra e venda).
Depois o A e o B fazem uma simulação nao para enganar o preferente (C) mas sim para
enganar o Estado, para pagarem menos impostos, e declaram apenas 200.000€ em vez
de 500.000€.
Imaginemos que passado algum tempo o C que tem um amigo que trabalha no cartório
vem a saber que eles (A e B) celebraram a compra e venda por 200.000€, porque é o que
a escritura diz. E o C pensa que eles o enganaram, ate porque por 200.000€ ele teria
comprado. Então o C vai ter com o B e diz que vai car com a casa porque o A disse lhe
que ia vender por 500.000€ e a nal vendeu por 200.000€, e ele quer car com a casa.
Qual é o problema? O problema é que aquilo que o B lhe vai dizer é que ele comprou na
verdade por 500.000€ mas declararam na escritura que era por 200.000€ para pagarem
menos impostos. O C se for esperto vai lhes dizer que nos termos do 243.º/1 a nulidade
da simulação é lhe inoponível, portanto, para ele o negocio dos 200.000€ é válido. O C é
um terceiro de boa-fé está inocente, nao sabia do teatrinho, da combinação. Portanto,
para o C o negocio dos 200.000€ produz efeitos e, sendo assim, ele poderá preferir pelos
200.000€ e nao pelos 500.000€.
fi
fi
fi
fi
fi
fi
A simulação precisamente porque é uma mentira combinada entre duas pessoas que
normalmente perante o ciais públicos, reiteram a mentira, a lei estabelece regras
draconianas quanto à prova da simulação. De acordo com o 394.º/2 é proibido provar a
simulação através de testemunhas. Os tribunais permitem a prova por testemunhas
desde que haja um principio de prova documental, mas é preciso que este principio
exista, portanto nada de andar aqui a inventar principio de prova. Portanto, se houver um
principio de prova, por exemplo, um recibo, um cheque onde se fale de um valor
diferente do valor declarado, a testemunha pode começar a falar daquele cheque. Agora
nao havendo um principio de prova documental nao é possível provar aquela simulação
apenas com testemunhas. Esta matéria da prova na vida real é extremamente
importante, porque os simuladores têm aqui uma limitação muito signi cativa, pois é
difícil provar a simulação, sobretudo se o juiz nao for complacente, por causa do
disposto no 394.º.
13.04
Revisão de vícios e divergências
1.ª advertência > a matéria dos vícios relativamente a qualquer caso deve ser sempre
analisada após a interpretação do negocio. Portanto, só depois de nós sabermos se
temos negocio e depois qual e o sentido jurídico do negocio é que nós podemos analisar
os problemas suscitados pelos vícios do negocio.
A MRR aconselha a que façamos uma distinção entre a vontade de ação, a vontade
declaração e a vontade negocial. Estes 3 tipos de vontade permitem nos, a um nível
muito básico, começar por distinguir aqueles casos mais graves em que são tão graves
que falta a própria ação nalguma das suas camadas.
Se falta a vontade de ação estamos perante um caso de coação física (246.º), se faltar a
vontade de declaração, estamos perante um caso de falta de consciência na declaração
(246.º/2.ª parte) , e se falta a vontade negocial estamos perante um caso de declarações
nao sérias (245.º). Como vimos estes 3 graus de vontade são cumulativos, nao é possível
haver a segunda sem a primeira, nem muito menos a terceira sem a segunda e a
primeira. Se faltar o primeiro patamar, acaba aí o caso e aplicamos a matéria constatando
que estamos perante um caso de coação física e portanto nao ha declaração portanto
nao há negocio.
A vontade real é aquela vontade que o declarante efetivamente teve, nao interessa se a
vontade foi perfeita se nao foi, o que nós pretendemos designar quando falamos da
vontade real é, qual a vontade que a pessoa efetivamente teve, ou seja, o que é que ele
quis naquele determinado momento. Depois a vontade declarada é a vontade que ele
declarou, portanto, de acordo com o seu comportamento o que é que ele exteriorizou
como tendo sido a sua vontade. E a vontade conjectural, é uma vontade que nao existe,
que é conjectural, hipotética, e é aquela que o indivíduo teria tido se se tivesse
determinado em condições ótimas de liberdade e discernimento/conhecimento.
Idealmente, estas 3 vontades coincidem.
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1.ª hipótese - se eu queria um CC mas declarei CPC, há uma divergência entre a vontade
real e vontade declarada. Foi intencional ou espontânea? Foi espontânea, eu enganei.
Então o que nós temos aqui é um erro-obstáculo - 247.º.
Quanto aos vícios entre a vontade real e a vontade conjectural - eu disse que queria um
CC, no entanto eu disse que queria um CC novo porque estava convencida que o meu
antigo estava desatualizado, mas a verdade é que nao está. Se eu estivesse a par das
atualizações legislativas saberia que o meu código atual nao esta desatualizado e
portanto nao quereria ter comprado um CC novo porque este é igual aquele que eu já
tenho. Portanto, há uma divergência entre a vontade real (= eu quero um CC) e a vontade
conjectural (=eu nao quereria, nao quero). Eu nao quereria porque me falta conhecimento,
portanto estou em erro-vício, um erro na formação da vontade.
Este esquema apesar de ser uma abordagem bastante primaria é extremamente útil
porque organiza os vários vícios e permite distingui-los de uma forma mais fácil, mas
esquemática.
Qual é que é o problema? O problema é o seguinte: vamos imaginar que o A quer vender
o seu imóvel ao B, e combinam que vão vender o imóvel por 500.000€. Existe um
preferente, o C. O A vai ter com o C (que é inquilino) e diz lhe que vai vender o
apartamento por 500.000€, e pergunta se ele quer comprar, e o C diz que nao quer,
porque nao tem esse dinheiro. O A e o B marcam a escritura e o A diz ao B que eles
podem celebrar a compra e venda sem qualquer problema porque o preferente (C) nao
quer, mas que para nao pagarem tantos impostos em vez de declararem 500.000€,
declararam 200.000€. Então eles declaram na escritura 200.000€, mas o valor real foram
os 500.000€. Portanto, nós temos uma divergência entre a vontade real (500.000€) e a
vontade declarada (200.000€). Passado um tempo o C vem a saber do negocio feito por
200.000€, e pensa que foi enganado porque o A perguntou lhe se ele queria comprar por
500.000€ nao por 200.000€. Então, o C propõem uma ação de preferencia (1410.º) para
ser ele a car com o imóvel pagando ele os 200.000€. Se isto for para a frente, nestes
termos, o A e o B têm um prejuízo brutal. Porque? O B tem um prejuízo muito grande
porque ca sem o imóvel, e o A também tem porque ca sem o imóvel e recebe apenas
200.000€ em vez de receber os 500.000€ que tinha combinado com o B. O A vai ter que
devolver os 500.000€ ao B e do C vai receber apenas apenas 200.000€. Portanto, o
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exercício da preferencia pelo C por 200.000€ é terrível para estas 2 pessoas (A e B). Isto
funciona assim, porque a nulidade da simulação tem um regime misto, e permite no caso
da existência de 3.ºs de boa-fé, permite que a nulidade da simulação seja inoponível aos
3.ºs de boa-fé. 243.º - “A nulidade proveniente da simulação não pode ser arguida pelo
simulador contra terceiro de boa fé.”. O C é um 3.º de boa-fé ele nao tem conhecimento
da simulação - 243.º/2. E portanto quer o A quer o B são simuladores, e por isso nao
podem vir ter com o C e dizer lhe que realmente na escritura estão 200.000€ mas a
verdade é que o apartamento foi vendido e comprado por 500.000€. Esta conversa nao é
possível por força do 243.º.
Antigamente os negócios simulados eram totalmente comuns, toda a gente simulava, era
raro o negocio que versasse sobre imóveis que nao fosse uma simulação, e portanto
chocava a comunidade jurídica a atitude de C (arguir com base no 243.º) pois nessa
altura pensava se que ele devia ter percebido que o negocio nao foi feito pelos 200.000€
mas sim pelos 500.000€, porque era obvio. No entanto, com a entrada do novo CC a
doutrina portuguesa tentou de variadas formas arranjar uma solução técnica para o C, a
preferir, preferisse pelos 500.000€.
Vamos ver 4 teses todas diferentes, algumas conjugadas entre si outras nao.
1.ª tese do ponto de vista cronológico, era defendida por muitos autores, tendo sido
apresentada pela primeira vez pelo Prof. Manuel de Andrade - o professor dizia que nós
no 243.º devíamos fazer uma interpretação restritiva da expressão “terceiro de boa-fé”.
Então o professor dizia que “terceiro de boa-fé" inclui todos os terceiros que se
encontrem de boa-fé, isto é, que ignorem a simulação, mas, o professor dizia, que nestes
terceiros de boa-fé cabem aqueles que ignoram a simulação e que vai ser prejudicados
por esta e inclui também aqueles que ignoram a simulação mas nao só nao vai ser
prejudicados como vão ser altamente bene ciados com a simulação. O professor
defende que o 243.º destina se a impedir que os 3.ºs de boa-fé sejam prejudicados, nao
é um artigo que se destina a permitir que os 3.ºs de boa-fé enriqueçam, à custa dos
simuladores. E portanto nós temos que interpretar restritivamente a expressão “terceiros
de boa-fé” em atenção ao elemento teleológico da interpretação. Portanto, nós
queremos proteger os 3.ºs para eles nao serem prejudicados pelos simuladores. Ex.º o C
vai ser prejudicado se preferir pelos 500.000€? Nao vai, porque? É verdade que os
500.000€ é muito mais do que 200.000€, mas os 500.000€ foi o valor real, foi o que o B
pagou. O C é um preferente. A preferencia signi ca que o C pode, se acompanhar as
condições do 3.º, o preferente pode substituir se ao negocio acompanhando essas
condições. Ora bem, dizia o professor, o C se preferir pelos 500.000€ nao vai ser
prejudicado vai car exatamente nas mesmas condições do B. Portanto, ao
interpretarmos restritivamente o 243.º, o que nós estamos a fazer, dizia o professor,
estamos a fazer justiça. Estamos a ir ao encontro daquilo que o legislador quis. Ele quis
que nao prejudicassem o C nao quis que bene ciassem o C.
2.ª tese - o instituto do enriquecimento sem causa (473.º) reverte situações em que
alguém tenha enriquecido, tenha aumentado o seu património sem um titulo jurídico, sem
uma causa. Portanto, é a consagração do principio geral do ordenamento que se designa
de, proibição pelo enriquecimento sem causa. Pretende se que as pessoas enriqueçam
mas com uma justi cação jurídica. E portanto, quando nao existe essa justi cação os
incrementos patrimoniais devem ser restituídos. Então, alguns autores diziam que o
terceiro, o preferente nao podia preferir pelo valor declarado porque isso correspondia a
um enriquecimento sem causa. E como o ordenamento proíbe os enriquecimentos sem
causa, então o 3.º a preferir teria que preferir pelo valor real, os 500.000€. Esta tese na
opinião da MRR é fraca porque há uma causa, a causa é o 243.º/1. Portanto, o
enriquecimento se, causa impede incrementos patrimoniais destituídos de uma fonte.
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Ora bem, nós aqui temos uma fonte legal, nem sequer é convencional, que protege o 3.º
relativamente ao vicio mais grave, que é a nulidade. Portanto a MRR acha que é difícil
a rmar que nao há causa, porque há. O legislador especi camente quis que esta
nulidade nao fosse oponível ao 3.º de boa-fé.
3.ª tese - é uma tese do professor MC, mas que este abandonou recentemente. O n.º 2
do 243.º diz: “A boa fé consiste na ignorância da simulação ao tempo em que foram
constituídos os respectivos direitos.”. O MC pegava neste n.º 2 para construir a sua
proposta de solução, e perguntava: qual é o tempo em que foram constituídos os direitos
do preferente? Não estamos a falar do direito de preferencia, porque este é muito
anterior, e no exemplo que demos (do arrendamento, pois C era inquilino) tem origem no
momento 2 ou 3 anos depois do contrato de arrendamento, portanto nao é este caso.
Nós aqui estamos a falar, dizia o MC, do direito de propriedade do preferente sobre o
imóvel. Recapitulando no exemplo dado - O A vendeu a casa onde o C vivia ao B.
Portanto, a casa do A agora pertence ao B. E o C através do direito de preferencia quer
ser ele a car proprietário da casa. Portanto, o que o professor diz é: nós temos que ver
qual é o momento em que se constituem os direitos do C sobre a casa. Vamos imaginar
que o C foi noti cado para a preferencia em junho de 2020, e disse que nao queria. Em
setembro o A e o B celebraram a compra e venda. Em dezembro o C descobriu que
a nal a compra e venda tinha sido feita por 200.000€ e nos termos do art.º 1410 propôs
uma ação de preferencia. Neste momento o B é o proprietário da casa. A escritura foi
feita em setembro e aí o B tornou se proprietário da casa. Bom, a ação vai se
desenvolvendo e quando o A e o B forem noti cados da propositada da ação eles na
contestação vai dizer que houve uma simulação, e vai mostrar cheques, transferencias
bancárias, e o processo vai continuar. Depois chegamos a m do processo e vamos ter
uma sentença. E nos termos dessa sentença o tribunal vai atribuir a casa que estava na
esfera jurídica do B ao C. Portanto (diz o MC) o momento relevante para efeitos de
aplicação do 243.º é o momento da sentença, e no momento da sentença o C sabe ou
nao sabe da simulação? Sabe, porque durante o processo o A e o B falaram da
simulação. Portanto, no momento da sentença o C já nao esta de boa-fé, porque já sabe.
Na opinião da MRR a falha desta tese é considerar que o tempo em que foram
constituídos os respetivos direitos é a aquisição do direito de propriedade. Pois a MRR
pensa que a aquisição do direito de propriedade é uma mera consequência do exercício
do direito pelo preferente. O direito do preferente concretiza se no momento em que o A
pretende vender ao B, depois a seguir trata se apenas de executar. Portanto para a MRR
esta tese também nao é uma tese procedente, no entanto, e muitíssimo interessante pois
explora muito bem as potencialidades do 243.º.
4.ª tese - O MC abandonou a tese anterior, e hoje em dia defende que a boa-fé no 243.º
deve ser entendida como boa-fé ética (o MC entende sempre que a boa-fé é uma boa-fé
subjectiva ética) mas que nós só devemos proteger o preferente, se este tiver feito um
investimento de con ança, e o professor entende que muitas vezes isso nao conhece. A
MRR nao concorda com esta tese e pensa que a tese anteriormente defendida pelo MC
era muito mais interessante que esta. A MRR entende que esta tese tem vários
problemas. O primeiro problema é que no 243.º nós temos um emprego da expressão
boa-fé em sentido subjetivo e nao em sentido objetivo. Portanto, nós nao temos que
entrar em linha de conta com a con ança ou com a primazia da materialidade subjacente
nada disso. A MRR acha que nós temos que ver se houve ou nao houve por parte do 3.º
ignorância de que estava a violar direitos alheios, é só isso. Portanto, a con ança nao é
para aqui chamada, mas mesmo que fosse o MC nao tinha razão. Numa ação de
preferência como vem no 1410.º/2 o preferente tem que depositar o preço até 15 dias
depois da propositada da ação. Ora bem, as pessoas nao têm nas contas bancárias
disponíveis 200.000€ só porque sim, têm o dinheiro aplicado. A esmagadora maioria das
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pessoas se tiverem que propor uma ação de preferencia tem que contratar um
advogado, pagar-lhe, pagar as custas que no mínimo nestes casos são 612€, e depois
tem que arranjar 200.000€. O que signi ca que normalmente tem que nanciar, ou seja,
tem que pagar ao banco uma comissão de abertura de estudo do processo, se calhar
tem que constituir uma hipoteca sobre outro imóvel, para conseguir que lhe emprestem
200.000€ e depois depositar o dinheiro. Alguém acha que esta pessoa nao fez um
investimento de con ança? Claro que nao, fez e fez um muitíssimo signi cativo. A
pessoa gastou imenso dinheiro, gastou o seu tempo e contratou outras pessoas,
portanto envolveu outras pessoas na montagem de tudo isto. É muito difícil de dizer que
nao há aqui um investimento de con ança.
NOTA: Há casos in nitos sobre simulação. Nas orais em vez de a professora fazer este
caso fazem o caso oposto que é o caso em que o negocio simulado é de 500.000€ e o
dissimulado é de 200.000€. Este caso nao suscita o problema do 243.º, porque aqui o C
tem interesse em invocar a simulação. O C é que vai ter a iniciativa de invocar a
simulação, portanto, se o caso for esse nao se aplica o 243.º.
200.000€
A B
300.000€
A B
negocio. Eu posso vender mesmo um bem muito valioso pelo dinheiro que eu quiser,
pode ser um valor ajustado, pode ser um valor exorbitante ou pode ser um valor ridículo,
nao há problema nenhum. Eu posso vender o que é o meu pelo preço que eu quiser. E
portanto, com base no que é uma compra e venda e nas regras aplicáveis, por exemplo,
à forma era razoável entender que o negocio pelos 300.000€ era válido, porque as razoes
determinantes da forma nao se aplicavam ao quantitativo do preço. A MRR nao concorda
com isto, porque? Apesar de se tratar de um aspeto nao tanto negocial mas que tem
mais que ver com a forma como o Estado se organiza, a verdade é que uma das razoes
para que os negócios relativos a imóveis tenha que revestir uma forma especial, uma
dessas razoes é o controle da scalidade associada às transações de imóveis. O Estado
quer nao ser prejudicado e uma forma e caz é por um 3.º imparcial (um notário) a
controlar o negócio. E portanto, esta diferença de preço era uma das razoes pelas quais
se exigia a forma especial. Há dois ou 3 anos foi promulgada uma lei que obriga os
notários a dizerem o(s) numero(s) do(s) cheque(s) que pagaram o preço e o banco ou o
numero das contas bancárias de onde saiu e depois entrou o dinheiro. Com vista a
di cultar o branqueamento de capitais, isto são normas de ordem publica. Portanto, nao
é aceitável que nós salvemos o negocio da nulidade quando a divergência for apenas
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uma divergência de preço. É que nao há aqui “apenas”, porque ser 200.000€ ou
300.000€ é muito relevante. É tão relevante que a lei exige que a conta bancária por onde
saiu e por onde entrou o dinheiro conste na escritura. Como é que eu posso fazer isto se
100.000€ passaram por baixo da mesa? Nao consigo. Portanto, a MRR defende que este
negocio, mesmo tratando se apenas de uma divergência de valor nao tem salvação,
precisamente porque nao conseguimos aplicar o 221.º à forma.
200.000€
A B
200.000€
A B 247.º
Há aqui uma simulação, nao de preço, e que este negocio (2.º) além de ser um negócio
dissimulado tem um problema de erro-obstáculo (247.º). Como é que isto se resolve?
Estes casos em que há vários problemas devem ser resolvidos começando sempre pelas
divergências, ou seja, neste caso pela simulação. Porque? Porque o 1.º negocio é nulo e
o 2.º negocio vamos ver quais e que são os vícios - 241.º. nao faz sentido, do ponto de
vista técnico eu começar por analisar o 2.º negócio, porque este negocio é um negócio
escondido, que eu só devo analisar depois de me ter conseguido livrar do 1.º negocio.
Portanto, eu primeiro constato que há aqui uma simulação e aplico ao negócio simulado
(1.º) o 240.º/2. Portanto, o 1.º negocio é nulo, desaparece. Fico só com o dissimulado, e
agora vou olhar para ele como manda o 241.º, isto é, como se nao existisse o simulado.
E depois, se há um erro vou resolver o problema do erro, se há coação moral vou
resolver a coação moral, se há um problema de forma, por exemplo, vou resolver esse
problema. Eu vou resolver o que houver. Portanto, primeiro tratamos da simulação e só
depois se isso estar tratado vou tratar dos vícios que hajam. NAO TRATAR TUDO AO
MESMO TEMPO!
2.º requisito - “que respeite a bens imóveis, ou a móveis sujeitos a registo”. Portanto, é
necessário estarmos perante um bem sujeito a registo.
3.º requisito - “ a título oneroso,”. Portanto, só se aplica aos negócios jurídicos onerosos.
4.º requisito - “ se o registo da aquisição (pelo 3.º de boa-fé) for anterior ao registo da
acção de nulidade ou anulação ou ao registo do acordo entre as partes acerca da
invalidade do negócio.”.
Depois o n.º 2 diz nos: “Os direitos de terceiro não são, todavia, reconhecidos, se a
acção for proposta e registada dentro dos três anos posteriores à conclusão do
negócio.”
Este artigo é muito importante, porque como a invalidade tem efeitos retroativos, e como
por via do 286.º (no caso da nulidade que é imprescritível) e 287.º (no caso da
anulabilidade) para alguns casos como estes da coação moral o prazo pode ser muito
distante do negócio se nós permitíssemos uma e cácia sem fronteiras da invalidade
estávamos por de nição a prejudicar direitos de 3.º de boa-fé. E portanto este 291.º
destina se a consolidar a posição dos 3.ºs de boa-fé, a permitir que eles ao m de 3 anos
da celebração do primeiro negocio, do negocio viciado, quem descansados de que já
nada lhes pode acontecer.
Reserva Mental
É uma divergência entre a vontade real e a declaração que é feita com o intuito de
enganar o declaratário. A grande diferença da reserva mental com a simulação é que esta
divergência é unilateral, portanto, nao há acordo entre o declarante e o declaratário,
porque senão o declarante nao poderia enganar o declaratário. Portanto, o declarante diz
uma coisa diferente daquela que ele quer, que corresponde à sua vontade e portanto o
intuito dessa a rmação, dessa divergência, é enganar o declaratário e nao um terceiro,
como acontece na simulação. Esta divergência vem regulada no 244.º.
Ex.º imaginemos que eu quero um CC e vou à livraria e digo que quero comprar um
Código do Trabalho.
Se lermos o 244.º veri camos que este vicio nao tem efeitos, nao há efeitos (dignos de
esse nome) que resultem da existência do vicio.
O n.º 2 do artigo diz: “A reserva não prejudica a validade da declaração, excepto se for
conhecida do declaratário; neste caso, a reserva tem os efeitos da simulação.”. No caso
de ser conhecida do declaratário é como se existisse acordo ou pelo menos nao há
necessidade de proteger as expectativas do declaratário, e portanto, nesses casos, é
possível dizer, em homenagem ao principio da autonomia privada, que então se a
declaração nao corresponde à vontade (como é apanágio da reserva mental), e se o
declaratário sabia dessa divergência então podemos dizer que a declaração é nula. É
nulo aquilo que corresponder à declaração, se houver um negocio dissimulado teríamos
que ver se é valido ou nao, mas provavelmente nao será valido porque provavelmente
também nem sequer foi manifestado. Mas portanto, a remissão do artigo 244.º/2 aquilo
que optem é a nulidade do negocio, ou da declaração, declarada. Atendendo a que há
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uma divergência entre a vontade real e a vontade declarada no 244.º/2 o que nós temos
é a nulidade da declaração proferida.
Este artigo é um vicio que tem uma relevância pratica muito pequena porque a existência
do vicio nao tem um efeito anulatório lato sensu. No entanto, é importante perceber a
existência deste vicio por razoes teóricas para se veri car, entre outras coisas, o facto de
uma pessoa querer algo, por si só, nao faz com que o direito atribua efeitos jurídicos a
isso que se quis. Existe aqui uma clara ponderação entre a autonomia privada e a
segurança jurídica e na reserva mental a segurança jurídica é claramente vencedora. O
legislador entende que o facto de uma pessoa querer X, se ela disse uma coisa diferente
ainda para mais com intuito de enganar o declaratário nao tem qualquer hipótese de
levar a avante. Portanto, no confronto vence a responsabilidade ou a declaração, a
aparência. Na vida pratica, normalmente, quando existem casos de reserva mental os
juristas nem sequer constituem o caso como um problema, uma pessoa disse uma coisa
que nao queria, o problema é dela. Quase que instintivamente nós achamos que nao há
um problema, mas sim há um caso de reserva mental só que o regime é o da irrelevância
da reserva mental.
Erro-Obstáculo
O primeiro problema do erro-obstáculo é o seu nome. Em português nós adotamos o
mesmo nome para o erro-vicio e agora o erro-obstáculo. São dois vícios totalmente
diferentes. O erro-vicio é um erro na formação da vontade, é uma falsa representação da
realidade que contamina a formação da vontade, e portanto, leva a que o sujeito tenha
uma vontade diferente daquela que em condições ótimas teria.
Se o erro for patente, provavelmente, nós nao teremos problemas jurídicos, porque nos
termos do 236.º a declaração vale com o sentido que um declaratário normal, colocado
na posição do real declaratário, pudesse deduzir do comportamento. Isto signi ca que
perante erros patentes, o declaratário normal, colocado na posição do real declaratário,
compreende. Ex.º eu entro na livraria peço um CC, a senhora vai me buscar o CC e
depois quando eu estou a pagar eu pergunto: “quanto é que custa então esse condigo
do trabalho?”. E a senhora percebe que eu me enganei, percebe que eu queria dizer CC
em vez de CT, e portanto vai me dizer que o código custa, por exemplo, 20€. Ela própria
vai desprezar aquele lapso (lapsus linguae). Portanto, eu enganei me a proferir CC ao
dizer que queria um CT.
Se o erro patente estiver documento, isto é, em vez de a declaração ser oral se nós
tivermos uma declaração escrito o 249.º trata nos do problema permitindo a correção do
erro. Este artigo permite corrigir uma declaração que se mantém no tempo, portanto,
uma declaração documentada, escrita. Portanto este artigo permite ao declarante corrigir
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a declaração o que pode ser muito necessário para ele porque a declaração permanece
uma vez que está documentada, e pode ser exibida a outras pessoas que nao tenham
em atenção as circunstancias em que a declaração foi proferida o que podem induzir em
erro 3.ºs. este artigo é muito utilizado, por exemplo, em peças processuais - quando os
advogados se enganam e resulta claro, ou do articulado ou dos documentos, que ali
houve um lapso, eles têm todo o interesse em corrigir o lapso e então utilizam o 249.º. e
o mesmo se passa com as escrituras. Se o erro for patente o notário pode ao abrigo do
249.º fazer um averbamento na escritura e dizer alguma coisa do género: “onde se lê x
deve ler-se y” e fundamenta o porquê de estar a fazer aquela correção.
Para os erros na patente regulado o 247.º mas agora este artigo é aplicado diretamente.
Este artigo é um artigo que se aplica ao erro na declaração e nao ao erro-vicio. Aplica se
ao erro-vicio o 251.º apenas por remissão.
Ou seja, na primeira parte do artigo, nós temos, grosso modo, uma de nição de erro-
obstáculo - “Quando, em virtude de erro, a vontade declarada não corresponda à
vontade real do autor”. Ou seja, temos aqui uma divergência entre a vontade real e a
vontade declarada, nao de propósito mas sim em virtude de um lapso.
O que é necessário para o negocio seja anulável por erro-obstáculo é que: o erro,
portanto aquele lapso, seja essencial para o declarante. Portanto, o declarante com
aquele erro nao teria proferido a declaração negocial. Ex.º eu se me tivesse apercebido
que tinha dito CT, nao teria comprado aquilo, nao quero um código do trabalho para
nada.
ex.º ei vou comprar um CC, engano-me e digo que quero um CT. A senhora traz me um
CT já dentro de um embrulho, eu nao reparo, pago. Depois quando chego a casa reparo
que é um CT e volto à livraria. (Vamos imaginar que o negocio era anulável, porque a
senhora devia conhecer a essencialidade do motivo - por exemplo, nós conhecia-mo-
nos, ela sabia que eu odiava CT, sei la alguma coisa). Bom, eu posso anular o negocio. O
que o 248.º nos diz é que se o declaratário (senhora da livraria) aceitar o negocio que
corresponde à vontade real (ou seja, comprar um CC) eu já nao posso destruir o negocio.
Isto faz todo o sentido, porque se o problema foi um lapso, eu dizer uma coisa diferente
daquela que eu queria mas eu queria algo, então se o declaratário aceitar esse algo, que
era a minha vontade real, eu nao tenho motivo para anular o negocio. Ah, mas eu posso
ter mudado de ideias. Posso ate ter mudado de ideias, só que o erro nao serve para as
pessoas que mudam de ideias, o erro serve para destruir negócios que tenham um
problema na vontade ou na declaração. Este problema, o erro na declaração, é um
problema fácil de resolver se o declaratário aceitar a vontade real, que ele nao conhecia
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mas que tinha obrigação de conhecer, porque era cognoscível. Portanto, se ele aceitar
essa vontade real a lei paralisa a anulabilidade. Já vimos, no erro sobre a base do
negocio, que a lei também diz que o negocio é anulável ou modi cável, mas se o
declarante pedir a anulação do negocio e o declaratário aceitar a modi cação, a
modi cação prevalece. Portanto, são manifestações do principio do favor negotti, a lei
prefere que os negócios se mantenham (desde que sejam queridos) do que destruir
negócios. Muitas vezes, do ponto de vista social, é extremamente negativo, pois os
negócios repercutem se na esfera jurídica de muitas outras pessoas que nao as partes,
portanto se for possível manter os negócios é preferível do que destruí-los.
Ainda sobre o erro-obstáculo temos o 250.º, que nos diz: “A declaração negocial
inexactamente transmitida por quem seja incumbido da transmissão pode ser anulada
nos termos do artigo 247.º”. N.º 2 - “Quando, porém, a inexactidão for devida a dolo do
intermediário, a declaração é sempre anulável.”. Este artigo é um artigo que se aplica ao
núncio. O núncio é, como diz o 250.º, é uma pessoa encarregada de transmitir a
declaração de outra. O núncio nao é um representante, porque um representante é uma
pessoa cuja vontade substituiu a vontade do representado, a do núncio nao. O núncio é
uma espécie de pombo de correio. Ex.º eu quero comprar um CC e digo a uma pessoa
que vá à livraria e que transmita a minha vontade de adquirir um CC. Essa pessoa a unica
coisa que vai lá fazer é dizer exatamente aquilo que eu lhe disse para ela dizer. Se eu
constituir um representante, o meu representante tem poderes para comprar um CC, mas
isto inclui, ou pode incluir, mais coisas. Isto é, os poderes do representante nao se
limitam a dizer exatamente o que é que eu quero, não. O representante tem uma vontade
própria que tem a virtualidade de produzir efeitos na minha esfera jurídica. O que é
fundamental é que a vontade do núncio é irrelevante, portanto, o núncio é um mero
papagaio, é como se eu mandasse uma mensagem gravada. O representante é uma
pessoa que tem poderes para agir em representação, ou seja, agir em vez do
representado, e portanto, a sua vontade é uma vontade também determinante, e os
problemas dos vícios da vontade no representante resolvem se nao com base 250.º mas
sim com base no 259.º. este artigo diz nos que para determinar os vícios da vontade e
também a existência de estados subjetivos relevantes, como a culpa e a boa-fé em
sentido subjetivo, que são os principais, para determinar estes estados subjetivos ou os
vícios da vontade nós temos que olhar à pessoa cuja vontade foi relevante no caso
concreto. Normalmente, havendo representação é a do representante, mas pode nao ser.
Pode o representado ter optado por determinados aspetos do negocio e o representante
ter exercido a sua vontade apenas relativamente a outros aspetos do negocio. Portanto,
nós quanto ao representante aplicamos o 259.º e depois os vícios, um ou outro,
conforme. E ao núncio aplicamos apenas o 250.º.
Os alunos normalmente nos casos práticos confundem a matéria do erro com a matéria
da interpretação.
Nós temos que tratar sempre a interpretação antes de tratar o erro-obstáculo, em rigor,
antes de tratar qualquer vicio da vontade. Porque é a interpretação que nos vai dizer qual
é o sentido jurídico do negocio, da declaração, e portanto, é perante esse sentido jurídico
que os problemas se colocam ou nao se colocam. Ex.º o A quer comprar à muitos anos
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uma 1.ª edição do livro dos “Lusíadas”. O B é um alfarrabista e sabe desse desejo do A
porque ele é seu cliente. O B recebeu uma coleção dos “Lusíadas”, e dá publicidade ao
facto de ter recebido essa coleção. Pouco depois, o B recebe uma mensagem do A a
dizer: “compro-lhe um exemplar dos Lusíadas de 1580”. Porque o A achava que a
primeira edição dos Lusíadas era de 1580, mas a verdade é que nao é, é de 1572. O B
neste caso conhece a vontade real do A, o B sabe que o A quer comprar uma primeira
edição, e o B ao ser alfarrabista sabe que a 1.ª edição nao é de 1580. Portanto, se nós
aplicarmos o 236.º/2, nós sabemos que a declaração do A vale como: “ eu quero
comprar um livro dos Lusíadas de 1572”, que é a data da primeira edição, e que é o que
o B sabe que é o que o A quer. O A já tem edições dos outros anos, interessa-lhe apenas
a 1.ª edição que nao é de 1580 que o B sabe perfeitamente. Podemos falar em erro?
Não. Porque? Porque a declaração do A vale como: “quero comprar um livro dos
Lusíadas de 1572”. E nós podemos dizer: ah! Mas ele disse 1580. Enganou se e o B sabe
que ele se enganou. Portanto, se o B sabe que ele se enganou a declaração do A nao
vale com aquele sentido. Portanto, se nao vale com aquele sentido nao vale a pena nós
estarmos aqui a falar de erro. Porque? Porque a vontade real do A que é, comprar uma
primeira edição dos Lusíadas, é juridicamente relevante. A declaração dele vale com esse
sentido, porque foi o sentido conhecido pelo declaratário real - 236.º. E esse sentido é
igual à vontade conjectural, portanto, nós nao temos aqui um problema de erro-vicio.
2.º ex - Vamos imaginar que o A sabe que a primeira edição é de 1572 mas engana se.
Escreveu um email e enganou se a escrever no teclado e em vez de escrever 1572
escrever 1582. O problema é exatamente o mesmo. O B percebe que o A se enganou,
porque o B sabe perfeitamente que o A quer uma 1.ª edição que é de 1572 e nao de
1582, portanto, mais uma vez nao há erro. Porque a vontade real (comprar uma edição
de 1572) é idêntica à vontade que juridicamente é considerada declarada, que é a
vontade/sentido conhecido pelo declaratário - 236.º/2 - que é 1572. Em resumo, nós
temos primeiro sempre que interpretar a declaração negocial, e depois em função do
resultado da interpretação é que vamos ver se há erro-vicio se nao há, se há erro-
obstáculo se não há.
O prof. Ferrer Correia tem uma tese de doutoralmente de 1939 que se chama “Erro e
interpretação na teoria do negócio jurídico”, ou seja, incide sobre o erro-obstáculo e a
interpretação no âmbito do negocio jurídico. O Prof. MC vem chamar à atenção para um
problema que também é tratado pelo Prof. Ferrer Correia, que é o seguinte: a fronteira
entre o erro-obstáculo e a falta de consciência na declaração, é uma fronteira que com
frequência nao é nítida, apesar de aparentemente serem vícios muito muito diferente.
Reparemos que no erro-obstáculo nós temos como consequência a anulabilidade
enquanto que na falta de consciência na declaração a consequência é a nao produção
de efeitos, portanto, a inexistência. É estranho, à primeira vista, que 2 vícios como
sanções tão diferentes, e portanto, com gravidades tão distintas, um muito grave outro
pouco grave, sejam parecidos ou suscitem duvidas na pratica, mas a verdade é que
suscitam. Porquê?
No erro obstáculo, por exemplo, a pessoa disse que queria comprar um CT, mas isto nao
é verdade, pois o que a pessoa quer comprar é um CC. Aquilo para que o MC e o FC
chamam à atenção, é o seguinte: o erro-obstáculo é um erro espontâneo, é um lapso,
portanto, o declarante nao quis proferir aquela declaração proferiu-a por engano, o que
signi ca que nao se deu conta. Ou seja, eu pensava que estava a declarar que estava a
comprar um CC mas nao estava. Ou seja, diriam estes professores, em relação ao CT a
pessoa nao tem consciência de que fez aquela declaração, o declarante disse uma coisa
na qual nao tinha consciência. É verdade, porque se eu tivesse consciência teria dito CC
em vez de CT. Então estes professores dizem, sobretudo agora o MC: então porque é
fi
que eu estou a tratar de uma forma diferente um caso em que uma pessoa nao tem
consciência de que proferiu uma declaração, então aplicamos o 247.º, porque ela queria
proferir outra declaração. Mas se o declarante nao tem consciência que proferiu um
declaração mas nao queria proferir declaração alguma, portanto, temos 0 aqui ao nível
da vontade real, então já aplicamos o 246.º, com consequências completamente
diferentes. Por isso e que o MC propõe que os casos de falta de consciência na
declaração (246.º) sejam tratados como se fossem casos de erro-obstáculo. Porque o
MC diz que, de duas uma, ou são patentes e portanto resolvem se por eles próprios
(designadamente, por interpretação), ou então se nao são patentes, a pessoa declarou
uma coisa que nao queria, então agora vai ter que anular a declaração, então erro-
obstáculo - 247.º. do ponto de vista da realidade subjacente, isto é, ontologicamente nao
há duvida nenhuma que o MC tem razão. De facto quanto à declaração de compra e
venda do CT eu nao tive consciência de que a proferi, porque se eu tivesse consciência
nao teria proferido. Só que as leis interpretam-se, também, de acordo com o elemento
sistemático, e o que nós veri camos é que há dois regimes jurídicos muito diferentes
para tratar os casos em que uma pessoa disse uma coisa da qual nao tinha consciência,
por e simplesmente, ou disse uma coisa quando queria dizer outra, portanto, a pessoa
queria proferir uma declaração negocial, mas uma declaração negocial diferente daquela
que realmente proferiu. E esses regimes são, para esta segunda hipótese, o 247.º (erro-
obstáculo), e para a primeira hipótese, a falta de consciência na declaração (246.º). E
portanto, apesar de sem duvida, haver semelhanças entre os dois casos o regime jurídico
é diferente em atenção ao facto de o declarante, no caso da falta de consciência na
declaração, o declarante nao está num ambiente negocial, isto é, ele nao quer celebrar
negocio jurídico nenhum, ele nao tem vontade de declaração quanto mais vontade
negocial. Ele realizou um comportamento que no ambiente onde ele se encontra tem um
sentido mas ele nao se apercebeu do sentido declarativo daquilo que o seu corpo fez. Na
outra hipótese, a pessoa quer um determinado negocio jurídico, a pessoa controla mais
ou menos o seu corpo, mas pelo menos o seu comportamento foi destinado por si a
produzir efeitos jurídicos. E nós podemos dizer: ah! Mas a pessoa em relação àquilo que
fez nao tinha consciência. Sim, é verdade, mas há outros aspetos que o legislador
considerou.
E portanto a MRR pensa que o MC nao tem razão, pois apesar destas semelhanças
ontológicas, o erro-obstáculo é tratado no 247.º e a falta de consciência, isto é, aqueles
lapsos de uma pessoa que profere uma declaração quando nao tem vontade de a fazer e
quando nao esta nem aí para a celebração de negócios jurídicos, esses lapsos são
tratados pelo 246.º.
20.04
Conteúdo do NJ
O conteúdo é muito variado e por isso desde cedo os juristas tentaram distinguir as
vários elementos do conteúdo do negocio de modo a ser mais claro o discurso sobre o
conteúdo ou às vezes até a resolução de problemas. Então há imensas classi cações.
Nós vamos utilizar a classi cação adotada pelo MC.
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fi
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Esta classi cação distingue os elementos do negócio em 2 categorias: os elementos
normativos e os elementos voluntários. Os elementos normativos são aqueles que
resultam da lei, que constam de normas jurídicas. Estes elementos normativos, por sua
vez, podem ser de 2 categorias: elementos injuntivos (obrigação de pagar o IVA) ou
elementos supletivos (ex.º o momento e o lugar do pagamento do preço do telemóvel,
resulta do 885.º, mas trata se de uma norma supletiva). Os elementos voluntários são o
cerne do conteúdo do NJ. Estes distinguem se também em 2 categorias: os elementos
voluntários necessários e os elementos voluntários eventuais. Os elementos voluntários
necessários são aqueles que resultam da vontade das partes mas têm que existir - ex.º
o preço é um elementos voluntário necessário da compra e venda do telemóvel. O preço
é voluntário pois sou eu que o estabeleço, mas é necessário porque ele tem que existir.
Os elementos voluntários eventuais são aqueles que podem ou nao existir - ex.º nós
podemos combinar um sinal. O senhor nao tem a certeza se quer o telemóvel ou nao
então eu peço-lhe um sinal para nao vender o telemóvel a outra pessoa. Um sinal é um
elemento voluntário, resulta das estipulações das partes, e totalmente eventual, na
generalidade dos contratos o sinal nao existe, mas pode existir. Um termo também é
outro exemplo de um elemento voluntário eventual.
Um conceito que por vezes surge nos manuais é de tipo social. Um tipo social, não é um
tipo em sentido próprio, é uma modalidade de negócio jurídico que resulta dos usos, da
prática. E que a utilização de uma certa designação permite compreender de que
negocio é que se trata. Em Portugal há poucos tipos sociais, porque o nosso legislador
cada vez que surge um negocio que nao tem regulamentação na lei, em regra, o
legislador vai logo a correr legislar, mas há alguns. Portanto, um tipo social, é um
contrato que nao tem um regime jurídico legal mas que na prática tem uma con guração
estável. Portanto, há usos que apontam num determinado sentido. Este tipo social é
muito falado porque coloca alguns problemas na perceptiva da interpretação dos
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fi
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negócios e às vezes até do regime jurídico, porque como o tipo é meramente social nao
há qualquer obrigatoriedade nem há o efeito das normas supletivas, porque estas nao
existem. E portanto, quando um contrato que pertence a um tipo social foge àquilo que é
comum, às vezes, há discussões de como é que se deve interpretar certas clausulas que
são um bocadinho originais. Na opinião da MRR, nós temos que interpretar aquilo que as
partes quiseram e nao aquilo que faz parte daquilo que é normal, expectável. Era
expectável que as partes combinassem X, mas nao há uma norma imperativa nem uma
norma supletiva, e nao foi isso que elas combinaram, então nao é isso que se aplica.
O nosso CC utilizou para regular esta matéria a linguagem da relação jurídica e por objeto
nós vamos entender quer o objeto quer o conteúdo, portanto, quer o objeto mediato quer
o conteúdo. Ou seja, quer as estipulações das partes, os efeitos jurídicos, quer o objeto
sobre o qual esses efeitos incidem. Esta matéria está regulada a partir do 280.º (= artigo
chave na matéria do regime do conteúdo do negócio). A consequência do 280.º é a
nulidade. Portanto, os negócios são nulos quando no momento da celebração falha um
destes requisitos.
1.º requisito - A possibilidade física > os negócios sicamente impossíveis são nulos.
Quer a estipulação quer o objeto, podem ser sicamente impossíveis se, ou nao existirem
ou forem inviáveis na natureza. ex.º eu combino com o A vender lhe um dragão. Este
negocio é nulo porque nao há dragões, o objeto é impossível, portanto o negocio é nulo.
Ex.º2 Eu obrigo me, mediante determinada quantia, a engolir a agua toda do mar. Este
negócio também é nulo, porque apesar da agua do mar existir nao e possível uma
pessoa engolir a agua toda do mar. Eu estou me a obrigar a uma prestação sicamente
impossível.
2.º requisito - A possibilidade legal > um negocio diz se legalmente impossível quando o
seu conteúdo ou o seu objeto são juridicamente inviáveis. Ex.º eu quero vender uma
coisa que está fora do comércio, por exemplo, o marques de pombal. Se nao fosse um
monumento nacional eu podia vender. Se eu construir uma estátua do marques de
pombal, num terreno que é meu eu posso vendê-la. Portanto, os negócios legalmente
impossíveis são aqueles cujo objeto a lei nao admite como objeto negocial. Também não
é possível constituir direitos reais que nao existam em Portugal. Os direitos reais são
típicos e há tipos de direitos reais que existem noutros países mas que nao existem em
Portugal, esses nao se podem constituir cá. Ex.º Não é possível hipotecar uma garrafa de
agua, porque a hipoteca no nosso direito só existe sobre bens imóveis ou alguns moveis
sujeitos a registo. Legalmente nao é possível fazer este negocio.
3.º requisito - A não contrariedade à lei > um negocio diz-se contrario à lei quando viola
normas imperativas. Ex.º Celebração de um contrato de mediação imobiliária por um
particular. Não é possível, pois a atividade de mediação é exclusiva das sociedades
imobiliárias, portanto um particular nao pode celebrar um contrato destes. Ex.º 2 Um
contrato de trabalho em que o trabalhador se obriga a trabalhar 50h por semana. Este
negocio também contraria a lei.
4.º requisito - Determinação > são nulos os negócios cujo conteúdo ou o objeto tenham
fronteiras que nao se conseguem de nir, portanto, seja indeterminável. Ex.º o A empresta
dinheiro ao B. Este negocio é nulo porque nós nao sabemos quanto dinheiro é que ele
emprestou nem ele sabe. Se o negocio é só isto: “O A empresta dinheiro a B”, empresta
dinheiro mas que dinheiro é que ele empresta? Ah empresta dinheiro. Isto é um contrato
nulo por indeterminarão. Ex.º nos contratos promessa às vezes há nulidade por
indeterminação, porque as partes nao souberam redigir o contrato e nao se percebe.
Portanto, aquilo é um conjunto de estipulações mas nao se percebe, efetivamente, a que
é que as partes se obrigam. Nao é um problema de interpretação! Pois o contrato mesmo
que seja devidamente interpretado nao nos diz qual é a declaração que aquelas pessoas
têm que proferir, não é suscetível de determinação.
5.º requisito - Conforme à ordem pública > é necessário que os negócios sejam
conformes à ordem publica para serem válidos. A ordem publica é o conjunto de
princípios imperativos da ordem jurídica. Este requisito é difícil porque lida com princípios
e nao com normas. Nós temos di culdade em identi car princípios imperativos que nao
estejam plasmados em normas jurídicas. Há uma gura que se estuda em Direito
Internacional Privado, que é a gura da ordem pública internacional - 22.º CC. Esta gura
trata do conceito de ordem pública, mas ordem pública internacional. Esta gura tem
muita utilidade porque, como vamos ver, o direito internacional privado é o direito que
regula as relações jurídicas entre pessoas de países diferentes, ou seja, as relações
jurídicas internacionais. E portanto, a ordem publica regula isso normalmente através da
remissão da resolução dos con itos para um determinado direito. Por vezes é aplicável,
pelos tribunais portugueses o direito de um país muito distante, com uma cultura muito
diferente e que tem normas que apesar de serem essas normas as normas aplicáveis,
essas normas violam a nossa ordem pública. Por exemplo, porque permitem
discriminações entre pessoas ou porque admitem sanções degradantes que em Portugal
nao se admitem, etc. Nestes casos, o tribunal nao vai aplicar as normas portuguesas,
porque nao são essas que são aplicáveis, são aplicáveis as normas do país X. Mas as
normas do país X violam os princípios fundamentais do ordenamento jurídico português,
os princípios imperativos. E então, a ordem publica internacional serve para bloquear a
aplicação de essas normas estrangeiras. Portanto, nós vamos aplicar o direito
estrangeiro mas nao a normas A, B ou C porque estas violam os princípios imperativos
fundamentais.
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No 280.º é difícil aplicar a ordem publica. Porquê? Porque nós aplicamos as normas do
direito português, as normas imperativas. Portanto, se houver um principio imperativo,
esse principio resulta de uma ou varias normas, e portanto, nós vamos aplicar aos
negocio essas normas e nao tanto os princípios imperativos da ordem jurídica. Portanto,
na opinião da MRR a aplicação da ordem publica no 280.º não é muito vulgar, mas aceita
que o legislador à cautela colocou a aqui também.
6.º requisito - Conforme aos bons costumes > bons costumes é um conceito
indeterminado e muito controverso. Historicamente, os bons costumes têm origem nos
mores maiorum do direito romano, ou seja, numa certa moral social vigente numa
determinada sociedade. Ao longo dos séculos, por um lado, a lei foi se impondo como
fonte de direito, e por outro lado, o mundo mudou, e hoje em dia existe uma separação
praticamente total entre o direito e a moral. E portanto, e muito difícil nós admitirmos os
bons costumes com as interpretações tradicionais, da moral social, pois hoje em dia nao
há 1 moral social há varias porque nós vivemos numa sociedade pluralista. Assim, é difícil
nós densi carmos o conceito de bons costumes.
No direito alemão os bons costumes é uma gura com uma noção muito ampla. Os
alemães nao têm conceito de ordem publica, e portanto concentram nos bons costumes
aquilo que nós tratamos na ordem publica e nos bons costumes. Portanto, existe uma
cláusula geral de bons costumes. Além disso, esta interpretação alargada dos bons
costumes, no direito alemão, é acompanhada também na lei de uma previsão muito
ampla de proibição de atuações contrárias aos bons costumes. Então os alemães
abusam um bocadinho desse artigo do código para aquilo que eles nao conseguem
en ar noutros artigos tentam fazer passar pelo artigo dos bons costumes.
Independentemente da noção de bons costumes que cada passo adote uma coisa é
certa, este conceito é um conceito que é recebido da sociedade e portanto, é um
conceito com uma extrema variação ao longo do tempo. O que conta para efeitos do
280.º é o momento da aplicação da lei. Portanto, nós temos que ver quais é que são os
bons costume são momento que estamos a aplicar a lei e nao para trás.
Uma gura associada a estas matérias do conteúdo é a gura da fraude à lei. Mais uma
vez, este conceito da fraude à lei é um conceito próprio do Direito Internacional Privado -
21.º CC. O que os autores fazem é uma estipulação da fraude à lei do art.º 21 para o
direito material e a fraude à lei seria, dizem estes autores: uma forma de contornar a lei.
Ou seja, as partes evitam a previsão normativa conseguindo através de outras vias, o
mesmo resultado económico-social, respeitando as palavras da lei. Ex.º No 877.º diz se
que quando os país ou os avós vendem algo aos lhos e aos netos podem vender mas
precisam da autorização dos outros lhos ou Neots. Quid juris se um dos lhos constituir
uma sociedade e o pai vender um bem nao ao lho mas à sociedade do lho? Não está a
vender ao lho mas sim à sociedade que é uma pessoa jurídica diferente. Há quem diga
que isto é fraude à lei porque e o pai e o lho estariam a contornar o 877.º, a lei, para
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conseguir fazer um negocio que a lei proíbe. Ex.º 2 - A EDP e o comprador modelaram o
negocio de maneira a nao aplicar determinadas regras do ordenamento jurídico, no caso,
consequências scais.
Na opinião do MC e da MRR no direito material não há fraude à lei, porque esta nao tem
autonomia. O que nós temos que fazer é interpretar como deve ser as normas jurídicas.
Nós temos que olhar para o 877.º ou para os outros que se aplicam no negocio da EDP, e
temos que ver se a lei proíbe o resultado ou proíbe apenas aquela conduta e nao a
obtenção do resultado. Se a lei proibir a obtenção do resultado então qualquer maneira
de obter aquele resultado é inválida e nao há aqui fraude à lei, há aplicação da regra X.
Se a lei apenas proibir aquela conduta, então se eu nao praticar aquela conduta e nao
estou a violar a lei. No 877.º se o lho constituir uma sociedade e o pai vender à
sociedade dele, o pai nao esta a violar a lei, o negocio nao é nulo. “Ah! Mas isto pode ter
sido feito com o intuito de contornar a lei”. A MMR responde: bem, vamos ver. Podemos
ter um caso por exemplo de levantamento da personalidade jurídica mas a verdade é que
nós nao temos um pai a vender a uma lho, temos sim a constituição de uma sociedade.
“Ah! Mas a sociedade é do lho”. Mas a lei proíbe isso? Nao proíbe, então a regra é a da
liberdade.
Claro que é preciso um bocado mais de esforço na interpretação da lei para sabermos
exatamente ate aonde é que o legislador pretendeu ir. Mas se concluirmos que nao há
uma proibição de resultado nao há porque falar de fraude à lei. O direito civil é um
espaço de liberdade, se as pessoa têm várias maneiras de obterem o mesmo resultado
como é obvio escolhem a maneira que lhes for mais favorável. Portanto, se duas pessoas
são inteligentes e pensam antes de fazer o negocio, e escolhem uma forma ótima de
forma a obterem exatamente aquilo que elas querem e da maneira mas e ciente. Ótimo,
excelente! É para isso mesmo que o direito serve.
Se as pessoas zessem a primeira coisa que lhes viesse à cabeça grande parte dos
juristas nao eram precisos, pois era fazer o mais obvio quaisquer quer fossem as
consequências. Grande parte do papel dos juristas é precisamente porque dominamos o
ordenamento jurídico e sabemos que há muitas maneiras de conseguir o mesmo
resultado, olhar para o caso de cada pessoa e tentar da maneira mais adaptada àquelas
pessoas e aos interesses daquelas pessoas em concreto, chegar a uma solução ótima.
Concluindo, nao existe aqui a manipulação da lei, existe apenas o exercício da liberdade
das pessoas.
O m do negocio vem regulado no 281.º CC e esse artigo diz nos que o negocio é nulo
se o seu m for contrario à lei, à ordem publica ou aos bons costumes. Ou seja, o objeto
do negocio nao tem problema, mas o m do negocio, o objetivo daquele negocio, se for
contrario à lei, à ordem publica ou aos bons costumes causa também a invalidade do
negocio. No entanto, o m do negocio para gerar invalidade tem que ser comum às 2
partes. Ex.º Eu arrendo um casa para servir de entreposto de trá co de droga. Se o
senhorio nada souber é obvio que o contrato de arrendamento é valido, nao tem
qualquer problema. O problema é a minha atividade. Agora, se o senhorio e eu, ambos,
tivermos este objetivo, então apesar de o arrendamento ser um contrato sem qualquer
problema. Naquele contrato uma pessoa tomou de arrendamento, por exemplo, um
apartamento com duas assoalhadas, paga uma renda de X por mês, pronto, este
contrato nao tem problemas, nao é contrario à lei, aos bons costumes. O m do contrato,
o objetivo, que é aquela habitação servir como entreposto de atividade ilícitas, de tra co
de droga, isso é que é ilícito. Ex.º 2 - alguém compra ou oferece raticida (veneno) a outra
pessoa para que essa pessoa mate alguém, nao um animal. Este negocio também só é
invalido se o m for comum a ambas as partes, se nao for comum a ambas as partes, o
negocio é valido.
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O problema é que isto na teoria é relativamente simples de perceber se o negocio é
valido ou invalido, mas na pratica é difícil percebermos o que é que signi ca o m ser
comum a ambas as partes. Porque com frequência ambas as partes têm interesse no
negocio, mas ter interesse no negocio nao é su ciente para se dizer que o m é comum.
Acontece, sobretudo, nos casos dos negócios onerosos que são a maioria dos negócios
jurídicos. Se um negocio é oneroso as duas partes têm interesse, porque as duas partes
obtêm vantagens com a celebração do negocio. Agora, nós nao podemos dizer, em
relação ao arrendamento, por exemplo, que o senhoria porque recebe a renda tem uma
nalidade em comum com o arrendatário. No exemplo em que o senhorio nem sequer
sabe das atividades do arrendatário é patente que nao há uma comunhão de m. Agora,
pode haver problemas se o senhorio souber e pensar “Ah ele paga me a renda todos os
meses, nao me dá problema nenhum, é um inquilino fantástico, quero lá saber!”. Isto já é
problemático, porque apesar de o senhorio nao ser tra cante também ele está se a
conformar com aquela atividade, portanto o senhorio esta como que a fazer seu o m
que originariamente era um m apenas do inquilino mas passou a ser um m dos dois.
Porque de certa maneira o dinheiro da renda será obtido através dos proventos da
atividade ilícita, e portanto, dessa forma também o senhorio está se a conformar com o
desenvolvimento no seu imóvel de atividades ilícitas porque tem benefícios com isso.
Tem um inquilino fantástico, que nao lhe dá problemas, paga a renda certinha. Portanto,
sobretudo nos negócios onerosos tem que ser visto com bastante cuidado se há ou nao
há uma comunhão de m relativamente à nalidade, à atividade, que seja contraria à lei,
à ordem publica ou aos bons costumes. Este artigo funciona um bocadinho como uma
espécie de frente avançada do ordenamento jurídico, isto é, o legislador apesar do objeto
do negocio nao ter problemas, nao ser invalido, o legislador pensou: “bem mas espera,
às vezes o objeto é valido mas depois há qualquer coisa mais intangível, como o m, que
causa problemas, e então se essa realidade for comum a ambas as partes então nós
vamos considerar que o negocio é invalido”.
Vício da usura
CF coloca este vicio da usura entre os vícios da vontade e de facto a usura tem algumas
características próprias dos vícios da vontade, mas também tem características próprias
de vícios do conteúdo do negocio. Como todas as guras híbridas, há autores que
colocam nas num sitio e há outros que colocam nas noutro. A MRR defende que é mais
característico da usura o vicio do conteúdo do que o vicio da vontade pelas razoes que a
seguir veremos. Alem disso, o CC na sua sistemática coloca a usura junto às regras
sobre o conteúdo do negocio.
Esta gura da usura é muito antiga, no entanto ao longo dos séculos ela foi utuando.
Portanto, há diferenças muito grandes entre a forma como a usura é tratado hoje em dia
no nosso ordenamento jurídico e como já foi e é tratado noutros ordenamentos jurídicos
no mundo. Por vezes, os nomes também variam, chama se à usura, por vezes, lesão
enorme ou onerosidade. É uma gura que teve origem no canonísmo, portanto, durante a
idade media, e que se desenvolveu muito a propósito dos juros. Os cristãos em geral
desde sempre condenaram os juros, entendiam que estes nao deviam ser praticados
porque correspondiam a um aproveitamento do tempo que é um dom concedido por
Deus a todos os homens por igual, e portanto, quando se cobrava juros a pessoa que os
recebia estava a aproveitar se do decurso do tempo que nao era dela, pois o tempo noa
é de ninguém.
Ex.º o A tem um lho que está a morrer e precisa de um empréstimo para salvá-lo. Então
pede um empréstimo a B. O B sabe que o A está desesperado para obter aquele
dinheiro, e portanto pede um juro altíssimo e o A aceita porque está a vida do lho em
causa. Isto é um exemplo típico de negocio usurário.
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O negocio usurário tem vários elementos, uns objetivos outros subjetivos.
Elementos subjetivos > são aqueles que aparentam o negocio usurário com os vícios
da vontade. O elemento subjetivo principal é a exploração. O negocio usurário implica
que o usurário explore outra pessoa. Isto signi ca que nao há usuras negligentes (e
verdade que a lei nao usa as palavras dolo nem negligencia), mas é verdade que a
palavra exploração, em português tem uma conotação que nao se comparece com a
negligencia. Imaginemos que o B nao sabia que o lho do A estava a morrer e que
mesmo assim lhe pedia um juro absurdamente alto. Nós, se utilizarmos como deve ser a
língua portuguesa, nao podemos dizer que o B está a explorar a situação de necessidade
do A. É verdade que ele esta a explorar o A, mas o 282.º/283.º diz nos que a usura
implica a exploração de uma situação de fragilidade, de necessidade, no caso concreto.
Ora, isso o B nao esta a explorar porque isso ele nao sabe. Portanto, se nao sabe nao
pode explorar essa situação. Ou seja, o que nós temos aqui é uma pessoa que se vai
aproveitar de outra, aproveitar das circunstancias de fragilidade, de debilidade, dessa
outra pessoa, que é a vitima da usura. Na reforma de 83, o legislador também tentou
(MRR acredita que nao conseguiu) aligeirar um bocadinho isto. O CC anterior dizia:
“aproveitando conscientemente” e foi retirada a palavra “conscientemente”. Só que a
utilização da palavra exploração tem o mesmo efeito, portanto neste ponto a MRR
defende que a reforma de 83 nao teve impacto no modo como a gura deve ser aplicada.
Problema: Será que a usuras existe nestes casos que vêm aqui estabelecidos no CC?
Os autores variam. A MRR pensa que há tipicidade, isto é, que a usura existe apenas
nestes casos e nao noutros. O MC pensa que estes são meros exemplos. A MRR
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defende que se lermos o 282.º e 283.º nao conseguimos encontrar argumentos para
dizer que são exemplos, portanto nao lhe parece que sejam meros exemplos.
O que torna ainda mais grave a substituição da expressão “de ciência psíquica” por
“estado mental”. Porque, é verdade que grande parte das potenciais vitimas da usura
são pessoas com de ciências mentais que nao sejam maiores acompanhados, portanto,
que nao estejam protegidos.
Consequência da Usura
Quando nós estamos perante um negocio usurário, o negocio tem uma dupla sanção. O
negocio é anulável ou modi cável segundo juízos de equidade. Nos termos do 283.º/2 a
modi cação é preferível à anulação. Quem bene cia da anulação é a vitima da usura, e
se esta solicitar a anulação do negocio usurário o usurário pode opor se à anulação
aceitando uma modi cação segundo juízos de equidade. Na opinião da MRR é por esta
razão, que a ter de escolher, a MRR entende que a usura é um vicio do conteúdo.
Porquê? Nós temos um negocio desequilibrado e então o que o 283.º nos diz é que, se
nós equilibrarmos o negocio o negocio nao é invalido. Ou seja, se fosse um vicio da
vontade, se nós estivéssemos a dar prevalência à situação de fragilidade em que a vitima
da usura celebrou o negócio então o negocio ia ao ar, porque ele agora nao quer o
negocio, percebeu que aquilo é tudo um grande disparate e não quer o negocio. Mas o
legislador diz “não, não, o negocio vai se manter desde que esteja equilibrado”. Portanto,
para o nosso sistema o problema é o desequilíbrio no conteúdo, é o juros serem de 3‰.
Se eu cobrar juros de 7‰ então já nao há problema, o negocio mantém-se. “Ah, mas ele
só celebrou o negocio porque tinha o lho a morrer”. Olha, temos pena, teve azar
coitado, ninguém tem culpa. O B nao tem culpa, ele tem dinheiro, empresta-o ao A, ele
nao tem que oferecer dinheiro, ele pode querer fazer negocio com o dinheiro dele.
Portanto, se o negocio for equilibrado nao há problemas. Então, o problema principal é o
desequilíbrio é o problema do conteúdo do negocio jurídico.
Há historias que à primeira vista nos parecem de coação moral e é vulgar que quando
nao conseguimos aplicar o 255.º, porque, por exemplo, falta a ilicitude da ameaça, é
conveniente olhar para a usura. Porque às vezes se o negocio for desequilíbrio é possível
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anulá-lo por usura, ou pelo menos modi cá-lo. Portanto, a usura com frequência é como
se fosse uma Irma gémea da coação moral, portanto é preciso ter cuidado para nao
confundir estes 2 vícios, ou quando estivermos a aplicar um dos regimes e ele nao
funcionar é bom dar mos uma espetadela para ver se os requisitos do outro regime
funcionam, porque ate pode ser que funcionem e que se chegue a uma solução justa
para o caso que estivermos a resolver.
NOTA: Neste capitulo nós vamos estudar só cláusulas acessórias que vêm na lei,
portanto, são típicas porque vêm na lei. Mas nao são típicas por fazerem parte do tipo. O
tipo é constituído pelos elementos normativos e pelos elementos voluntários necessários.
Ora, as cláusulas acessórias típicas fazem parte dos elementos voluntários eventuais.
Chamam se típicas nao porque façam parte do tipo de negocio mas sim porque vêm na
lei. Portanto, é um sentido diferente da palavra típico. Vêm previstas na lei porque são
clausulas muito frequentes, portanto estão previstas por razoes práticas, por
comodidade.
A noção e o regime que vamos apresentar fazem parte dos elementos voluntários
eventuais, isto quer dizer que a generalidade do regime é supletivo. As partes podem
alterar este regime que vem na lei. Vem na lei para facilitar a vida às pessoas. Há 1 ou 2
normas imperativas, é verdade, mas a generalidade do regime jurídico é supletivo.
O termo é uma cláusula acessória típica pela qual as partes estabelecem que o NJ ou
parte do NJ apenas produz ou deixa de produzir efeitos a partir de um certo facto futuro
e certo. Se os efeitos se começarem a produzir a partir do facto o termo diz se
suspensivo. Ex.º Um aluno foi colocado na faculdade de direito e vive em Abrantes. Os
pais vão arrendar uma casa em Lisboa para o lho vir estudar para Lisboa. Imaginemos
que as colocações sairam no principio de agosto, os pais vêm a Lisboa durante esse
mês, e identi cam uma casa que lhes interessa do dia 16 de agosto. Celebram o contrato
a 16 de agosto mas para produzir efeitos a partir do dia 1 de outubro. O contrato está
celebrado, desde o dia 16 de agosto, mas nao produz efeitos, só começa a produzir
efeitos a partir do dia 1 de outubro, a renda só começa a ter que ser paga e o aluno
também só pode ir para a casa, tudo no dia 1 de outubro. O contrato está celebrado mas
os seus efeitos jurídicos estão suspensos Se os efeitos deixarem de se produzir a partir
do facto o termo é resolutivo. Ex.º 2 - a faculdade tinha que arranjar alguém para
substituir uma professora que estava em licença de maternidade e depois entrava em
férias, portanto nao ia dar aulas o ano inteiro, de setembro até julho. Portanto, a
faculdade fala com uma professora de obrigações e dizem que precisam de uma
professora para dar teoria e portanto se essa professora de obrigações concordar iria dar
teoria e obrigações durante próximo ano, mas só dá teoria durante 10 meses. Aqui o
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contrato desta professora de obrigações tem duas vertentes: a de obrigações, que ela
continua a dar obrigações o resto da carreira dela (faz de conta que tem um contrato sem
termo); a de teoria, que ela só vai dar durante 10 meses. Portanto ou m de 10 meses
aquela parte do contrato resolve se.
O termo pode ser certo ou incerto quanto ao momento da sua veri cação. Os exemplos
que demos até agora são certos (dia 01 de outubro + 10 meses). Ex.º eu contrato uma
trabalhadora para substituir outra que esta doente, e nao sei quando é que a que está
doente ca boa e portanto quando e que ela volta. Isto é um termo incerto quanto ao
momento da sua veri cação porque nao sei se é um semana, duas, depende da
recuperação daquela trabalhadora doente. Ex.º 2 - eu tenho um campo que precisa de
ser cultivado, e tendo em conta a cultura que eu vou fazer há um trabalho agrícola que
tem que ser feito com chuva. Então eu contrato uma pessoa para me fazer esse trabalho
durante um dia, e nós combinamos que será no primeiro dia a partir de hoje em que
chova. Eu nao sei qual é esse dia mas sei que vai acontecer porque vai chover. Nao sei
quando é mas pronto, é nesse dia. Portanto, é um termo porque é de veri cação certa
mas é incerto quanto ao momento da sua veri cação.
NOTA 1: É vulgar nós chamarmos termo ao próprio evento, portanto, chamar termo à
chuva. Mas isto está errado, isto é uma utilização nao rigorosa da palavra. O termo é a
clausula que subordina os eventos do negocio a um evento futuro e certo. Portanto, o
evento não é o termo!!!
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27.04
A condição é uma cláusula acessória típica pela qual as partes subordinam a e cácia do
negocio jurídico ou de uma parte do negocio jurídico, a um evento futuro e incerto. Ou
seja, os efeitos do negocio começam a produzir se, se esse facto se veri car e a partir
desse momento, estaremos perante uma condição suspensiva, ou os efeitos do negocio
produzem se e se o facto se veri car, e a partir desse momento, deixam de se produzir e
então nesse caso temos uma condição resolutiva. Ex.º Condição suspensiva - O A
arrenda uma casa em Lisboa para o caso de entrar para uma universidade em Lisboa. O
A não sabe se entra, os resultados ainda nao saíram e vamos supor que ele nao tem uma
media fantástica portanto pode entrar ou nao. O negocio jurídico já esta celebrado mas
os efeitos só se produzem se o A entrar, e a partir desse momento produzem se os
efeitos jurídicos do negocio. Ex.º Condição resolutiva - há uma pessoa que recebe uma
proposta ótima para comprar uma mota, mas como queria uma mota uns dias antes
comprou uma rifa onde o prémio era uma mota. Essa pessoa quando celebra o contrato
compra e venda pode combinar o seguinte: “eu compro a mota (o negocio começa logo
a produzir efeitos), mas se por ventura daqui a 1 mês (que é quando sai o resultado das
rifas) se me sair o prémio (mota) então o nosso negocio resolve se”. E como se nao
existisse compra e venda, a pessoa devolve a mota e a outra devolve o preço. É possível
ele ganhar o prémio mas nós não sabemos se ele vai ganhar, por isso é que é um evento
futuro e incerto.
A condição, tal como o termo, pode ser certa quanto ao momento da sua veri cação.
Ex.º Certo rapaz com 19 anos compra uma mota, contando com o dinheiro que vai
receber no dia em que zer 20 anos, que é dia 24 de abril. Nós sabemos quando é que
ele vai fazer anos (24.04) mas nao sabemos ele faz 20 anos porque ele pode morrer
antes. Portanto, se ele subordinar a celebração do negócio ao evento que é ele fazer 20
anos, isto é uma condição porque pode nao se veri car, mas é uma condição certa
quanto ao momento da sua veri cação, isto é, se ele zer 20 anos sabemos que é
naquele dia. Ou seja, as condições quanto à veri cação são sempre incertas, quanto ao
momento da veri cação é que podem ser certas ou incertas.
É preciso aqui alguma atenção porque, por vezes tratar se de um termo ou de uma
condição depende muito da formulação da clausula pelas partes. Os negócios são fruto
da autonomia privada portanto as partes combinam o que quiserem. Um negocio cuja
e cácia seja subordinada a, por exemplo, uma das partes morrer, isto é um termo,
porque como é obvio todas as pessoas morrem, nós nao sabemos ao certo quando e
que morrem mas sabemos que algum dia irão morrer. Portanto, a morte é um termo, mas
se o negocio for subordinado, por exemplo, a o A morrer antes do B isto já nao é um
termo é uma condição. Porque nós sabemos que o A e o B vão morrer eventualmente,
mas nao sabemos quem e que vai morrer primeiro. Portanto, o facto: A morrer antes de B
= uma condição. É um facto futuro e incerto, porque nao sabemos se vai acontecer ou
nao, porque podem morrer os dois ao mesmo tempo ou pode morrer o B primeiro que o
A.
NOTA 1: Tal como no termo, nós por vezes por facilidade, chamamos condição ao
próprio evento condicional mas isso nao é uma utilização rigorosa da palavra. Esse
evento é o evento/facto condicional e a condição é a cláusula.
Qual é que é a diferença? Num contrato sujeito a condição o acordo de nitivo já existe,
apenas a e cácia do negocio é que está em suspenso ou pode ser resolvida, portanto,
ainda nao é certo qual vai ser a extensão da produção dos efeitos naquele negocio, mas
o negocio já esta celebrado. Num contrato promessa nós temos 2 contratos, temos o
primeiro que é um contrato preliminar, a promessa, e depois, temos o segundo que é o
contrato de nitivo. Portanto, as partes têm que proferir 2 declarações de vontade,
enquanto que no negocio sujeito a condição não, há um acordo apenas, um conjunto de
declarações de vontade, e depois o que se passa a seguir são factos aos quais as partes
atribuíram e cácia jurídica.
Depois há outras condições que são as condições meramente potestativas, que são
entendidas pela generalidade da doutrina como nao sendo verdadeiras condições. Uma
condição meramente protestava é uma condição que depende em absoluto da liberdade
de uma das partes. Ou seja, se nós interpretarmos bem a vontade das partes nas
condições meramente potestativas chegamos à conclusão de que aquela pessoa em
rigor nao se quis vincular porque a condição é ao m ao cabo, trata se do exercício do
livre arbítrio. Ex.º se eu disser : “vendo te o meu automóvel amanha se estiver para aí
virada”, isto devidamente interpretado signi ca que eu nao me quis vincular. No exemplo
dos pais que me dão o carro se eu acabar o curso, claro que depende de mim mas
interpretando este NJ nós chegamos à conclusão de que a pessoa (pais) efetivamente
quer me dar o automóvel mas que essa doação está subordinada a um efeito futuro que
depende de mim, mas nao é uma coisa arbitrária. Em principio, uma pessoa termina ou
nao termina um curso por uma serie de circunstancias que dependem da sua vontade
mas que também dependem de muitas outras coisas. E a vontade de acabar um curso
em regra está bastante desligada de doar ou nao um automóvel. Portanto, neste
segundo exemplo nós temos uma verdadeira condição, apesar de a condição estar
dependente, numa certa medida, da vontade de uma das partes. No exemplo de “estar
para aí virada” a dependência da vontade é tal como que contamina a própria
vinculação. Em rigor nao existe uma vinculação, aquela pessoa continua totalmente livre
relativamente à palavra que deu ao outro contraente. Portanto, nas condições meramente
potestativas nós nao temos uma condição e em rigor nem sequer temos um negocio, na
maioria dos casos. Quando as condições sao totalmente discricionárias, nesse sentido
de estarem totalmente dependentes da vontade de uma das partes ou às vezes ate das
duas, nós nao temos um negocio jurídico, temos negociações, declarações de intenções,
qualquer coisa, mas quase de certeza que nao temos um negocio porque nao temos
uma vontade rme de duas pessoas, ou pelo menos de uma delas e portanto as duas se
vincularem a um determinado programa negocial.
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A condição enquanto clausula, tal como o termo, é muito vulgar e extremamente útil.
Porquê? Porque o futuro é um universo, dimensão, incerta e portanto ninguém controla o
controla. As pessoas nao controlam o futuro, mas as pessoas sensatas planeiam o futuro
e previnem se relativamente ao que vai acontecer no futuro. E portanto, é conveniente
quando celebramos negócios termos em conta, na medida dos nossos interesses, as
variáveis que podem surgir no futuro e que nós nao controlamos. Com a condição nós
conseguimos adaptar os negócios àquilo que pode acontecer. Claro que é preciso
chegar a acordo com a parte contraria, mas assim como eu nao prevejo o futuro a parte
contraria também nao. E portanto, é possível celebrar negócios equilibrados, bons para
ambas as partes, mas que estejam a contar com determinados cenários possíveis no
futuro. Ou seja, as condições permitem nos de alguma forma dominar o futuro numa
medida em que um negocio que seja celebrado hoje, com as circunstancias apenas
existentes hoje, nao permite. Se eu celebrar um negocio hoje pressupondo, prevendo,
uma determinada evolução para o futuro eu estou a arriscar. Se eu introduzir condições
eu arrisco muito menos. Ex.º eu quero comprar uma casa no Porto porque estou a
concorrer para um trabalho lá, e as negociações estão super avançadas. Eu arrisco me a
comprar a casa, a nao ser colocada no Porto e a ter um problema. Se eu subordinar o
negocio à condição de ser colocada no Porto a coisa é completamente diferente. A
pessoa que está a vender a casa pode nao querer, sem duvida, mas eu também posso
estar disposta a pagar um bocadinho mais se tiver a condição ou nao, ou posso chegar a
acordo de outra forma, ou a pessoa pode mesmo aceitar correr o meu risco, é uma
questão de negociação. Mas para mim é muito melhor celebrar o negocio com a
condição do que nao celebrar o negocio.
NOTA: primeiro lugar nós estamos a falar de requisitos da condição e nao do negocio. Os
requisitos do negocio vêm no 280.º que já vimos. Nos negócios condicionais, além dos
requisitos do 280.º, nós temos os requisitos do 271.º que são privativos da condição e
nao do negocio como um todo.
No n.º 1 do 271.º a condição é contraria à lei portanto o negocio é nulo, nao produz
efeitos, desaparece.
Ex.º Eu, Alice, vendo o meu vestido à Maria mas o negocio deixa de produzir efeitos
quando as galinhas tiverem dentes. As galinhas nao têm dentes nem vão ter. Portanto,
esta condição é sicamente impossível, e é resolutiva. Portanto, interpretando o que eu
disse o que eu quis fazer foi vender o meu vestido à Maria. Portanto, aplicando o 271.º,
n.º 2, parte nal, a conclusão é: o que eu tenho é um negocio nao condicionado, é um
negocio é que a condição foi apagada, têm se por nao escrita.
Em primeiro ligar temos um artigo que regula algumas situações especiais quanto à
veri cação ou nao veri cação da condição - 275.º. O n.º 1 deste artigo diz nos que em
certos casos, a condição tem se por veri cada ou nao veri cada independentemente de
se veri car ou nao. No n.º 2 temos um exemplo de cção jurídica - “Se a veri cação da
condição for impedida, contra as regras da boa fé, por aquele a quem prejudica, tem-se
por veri cada; se for provocada, nos mesmos termos, por aquele a quem aproveita,
considera-se como não veri cada.”. Ex.º imaginemos que a condição era o A morrer
antes do B e a parte a quem aproveitava a condição dava um tiro no A para conseguir a
veri cação da condição. Nestes casos, apesar de a condição se ter veri cado ou nao,
depende dos casos, este artigo diz nos que considera se juridicamente que se veri cou
ou que nao se veri cou, portanto trata se de uma cção legal.
O regime jurídico da pendência da condição vem previsto nos 272.º a 277.º. Destas
regras deve se salientar alguns aspetos. 1.º - 272.º : “Aquele que contrair uma obrigação
ou alienar um direito sob condição suspensiva, ou adquirir um direito sob condição
resolutiva, deve agir, na pendência da condição, segundo os ditames da boa fé, por
forma que não comprometa a integridade do direito da outra parte.”. Ex.º eu vendo a
minha bicicleta à Ana, sob a condição resolutiva de eu própria nao comprar uma mota
até ao m do mês. Vendi a bicicleta hoje à Ana mas existe uma condição resolutiva,
portanto, eu ainda posso voltar a ser proprietária da bicicleta. A Ana amanha agarra na
bicicleta e cai vendê-la a um sucateiro. Se a condição se veri car no m do mês eu ja
nao vou ter bicicleta nenhuma porque a bicicleta já esta destruída porque a Ana vendeu a
a um sucateiro. Este é um dos problemas típicos da pendência da condição. A Ana
amanha é proprietária da bicicleta porque o negocio produz efeitos, a condição é
resolutiva. Portanto, ela é proprietária, e sendo proprietária pode vender a bicicleta seja a
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quem for, pode fazer tudo o que ela quiser teoricamente. Só que diz nos o 272.º diz nos
que neste caso, apesar de ela ser proprietária ela tem que se comportar de acordo com a
regras da boa-fé de forma a nao comprometer a possibilidade de eu voltar a ser
proprietária da bicicleta. Ou seja, o problema é que na condição, durante a pendência,
aquele direito nao é ainda um direito de nitivo, e um direito como que temporário, há
uma inde nição quanto ao futuro, ao caráter de nitivo da atribuição jurídica, quer à Ana
quer a mim. Portanto, há uma incerteza aqui.
A lei tem esta regra geral do 272.º e depois tem 2 regras especiais, uma para atos
conservatórios - 273.º - e outra para atos dispositivos - 274.º.
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A retroatividade é uma consequência seríssima porque afeta a produção de efeitos do
negocio e o negocio pode ter impacto na esfera jurídica de terceiros. Ora, os negócios
jurídicos são factos privados. A retroatividade da condição que resulta de uma
estipulação num contrato privado ter efeitos perante uma pessoa que é 3.ª a esse
contrato é algo de extremamente serio. Por isso é que nos negócios jurídicos com uma
forma legal, portanto com forma especial, por norma, a forma implica/abrange nos
termos do 221.º a condição. Porque? Porque se o negocio é formal as regras de forma
quase sempre respeitam à produção de efeitos do negocio. Se a condição vai afetar a
produção de efeitos então o evento condicional tem que estar sujeito à forma especial e,
para o caso do registo, o 94.º CRegistoPerdial também exige isso mesmo, isto é, que a
condição esteja sujeita a registo, e exige inclusivamente que o termo esteja sujeito a
registo.
Relativamente aos atos dispositivos a lei diz nos que esses atos são afetados pela
retroatividade da condição, ou seja, a condição destrói também os atos dispositivos que
tenham ocorrido. Ex.º vamos imaginar que a Ana nao vendeu a bicicleta a um sucateiro,
mas a um 3.º. nos termos do 274.º se a condição se veri car a e cácia da condição vai
afetar esse 3.º. portanto, este ultimo vai ter que devolver a bicicleta. “Ah! Mas o 3.º nao
sabia”. Pois, isso vai ser um problema, provavelmente houve culpa in contrahendo por
parte da Ana , porque ela nao podia deixar de avisar que o negocio podia vir a ser
destruído se a condição se veri casse. Mas isso nao afeta a retroatividade do negocio.
Como vender bicicletas nao está sujeito a registo nem a forma especial o 3.º torna se
bastante mais vulnerável.
O modo ou encargo é uma cláusula acessória típica que é privativa dos negócios
jurídicos gratuitos, e é a clausula pela qual as partes estabelecem a cargo do bene ciário
do negocio uma obrigação. Ex.º eu ofereço um quadro da Vieira da Silva ao A mas este
ca obrigado a emprestar o quadro à Gulbenkian todos os anos durante o mês de
dezembro, para uma exposição. Isto é um modo.
A cláusula modal vem regulada em 2 sítios diferentes: nos 963.º a 968.º e ainda 2229.º e
ss. Em teoria nós trabalhamos mais com os primeiros, da doação.
No primeiro exemplo, se for um modo, e se ele nao emprestar o quadro eu posso pedir
uma indemnização, posso pedir ao tribunal que o condene a emprestar o quadro, porque
ele esta obrigado a emprestar o quadro. No segundo exemplo, se for uma condição, ele
nao está obrigado a emprestar o quadro, ele só empresta se se quiser, no entanto, se nao
emprestar perde o quadro. Ou seja, a condição suspende ou resolve mas nao obriga. O
encargo obriga mas nao suspende.
Por vezes é muito difícil perceber se uma determinada cláusula é uma condição ou é um
modo. Se estivermos perante uma compra e venda, um contrato de arrendamento, é
evidente que é uma condição porque o modo é uma clausula que apenas existe nos
negócios gratuitos. Portanto, se o negocio for oneroso nao é o modo. Agora, a condição
pode existir em todos os negócios, tanto nos gratuitos como nos onerosos, portanto, se
nós estivermos perante uma doação podemos estar perante um modo ou uma condição.
E portanto, nas doações ou nos testamentos é difícil por vezes saber se é um modo ou
uma condição. Como é que nós sabemos? A solução para esta pergunta é sempre a
interpretação do negocio. As partes podem estipular o que elas quiserem, podem
estipular uma condição ou um modo, portanto o que nos precisamos de fazer é
interpretar o negocio. Às vezes é muito difícil, é verdade. No limite, a solução é aplicar o
237.º e ao aplicarmos este artigo a solução é, na duvida, a clausula é uma condição.
Porquê? Porque o 237.º diz nos que nos negócios gratuitos a duvida resolve se a favor
do disponente, ou seja, do doador. Para o doador a Minho solução é a da condição
porque ele se for uma condição pode ou manter o negocio e exigir o cumprimento da
obrigação ou resolver. Se for um modo ele só pode manter o negocio, exigir uma
indemnização, pedir o cumprimento, mas nao pode resolver. Ou seja, ele ca melhor se
for uma condição, portanto na duvida os negócios gratuitos com uma condição
acessória típica que eu nao tenho a certeza de é uma condição ou é um modo, é uma
condição.
Normalmente, o encargo tem um valor residual porque no 963.º/2 diz nos: “O donatário
não é obrigado a cumprir os encargos senão dentro dos limites do valor da coisa ou do
direito doado.”. Imaginemos que eu ofereço um viria da silva a uma pessoa e digo que
essa pessoa tem que emprestar o quadro à Gulbenkian uma vez por ano. Tudo bem. Em
principio é natural que seja um encargo. Mas agora imaginemos que eu ofereço um vieira
da silva o contrato vale 50.000€ e combino com a pessoa com o encargo dela é pagar as
minhas dividas que são no montante de 51.000€. Isto nao é residual. Se o quadro vale
50.000€ e se as dividas são de 51.000€ aquilo é ele por ela. Portanto, provavelmente
aquilo nao é um encargo, provavelmente se ele nao me pagar as dividas eu nao estou
disponível para lhe dar o quadro. Ou seja, eu con gurei isto como uma doação, mas os
meus interesses estão mais naquilo que ele deve fazer do que propriamente em ser
agradável e oferecer lhe o quadro. No primeiro exemplo, de emprestar o quadro à
Gulbenkian, claro que eu quero que ele empreste o quadro, mas o quadro vale 50.000€
quanto é que vale emprestar o quadro durante 1 mês? O quadro é dele, provavelmente a
Gulbenkian vai por lá a dizer que o quadro pertence à coleção particular da pessoa e ela
vai car toda contente. Neste exemplo de emprestar o quadro, aquilo que eu quis com
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aquele negocio foi bene ciar esta pessoa, eu quero que ele que com o quadro que vale
50.000€, e pronto sim vai ter que emprestar durante 1 mês, mas isso nao é nada. O meu
objetivo era emprestar lhe o quadro. No segundo exemplo, há duvidas e claro que eu
quis bene ciá-lo também, mas será que o meu primeiro objetivo foi esse? Secalhar nao.
Portanto, perspetiva de bom-senso, de olhar para os negócios com os pés na terra, a
circunstancia de o modo ser algo extremamente importante em relação ao equilíbrio do
contrato é uma pista muito signi cativa para nós afastarmos o modo e irmos mais para a
condição. Mas a verdade é que tudo depende do caso concreto. Em principio é o que é
normal, e o que as pessoas normais fazem, mas há negócios anormais.
O sinal é uma clausula acessória típica que tem uma característica, diferente daquelas
que nós temos estado a estudar, de ser uma cláusula real quod constitutionem. Pelo qual
uma das partes entrega à outra uma coisa que pode coincidir ou nao com a coisa devida,
nos termos do contrato que estão a celebrar e essa coisa é havida como sinal e como
antecipação do cumprimento. Pode nao ser havida como antecipação do cumprimento
se as partes afastarem essa característica, portanto, se disserem que querem apenas
que aquela coisa, aquela entrega, valha como sinal - 440.º.
Esta cláusula, do sinal, é uma clausula muito vulgar nos contratos-promessa de compra
e venda. Ex.º eu prometo comprar a casa do A por 300.000€ nos próximos 90 dias, e
com a celebração do cp eu entrego, por exemplo, 10% do valor do sinal.
O sinal funciona da seguinte forma: se aquela pessoa que entrega a coisa, o sinal, deixar
de cumprir o contrato, perde o sinal. Se for outro que deixa de cumprir, aquele que
recebeu o sinal, então a consequência é que essa pessoa ca obrigada a entregar à outra
o dobro daquilo que receber. Na prática, ela ca obrigada a entregar exatamente o
mesmo porque, vamos supor: eu entreguei ao A 30.000€ de sinal. Se for o A que nao
cumpre ele tem que me devolver 60.000€, mas 30.000€ eram meus. Claro que o dinheiro
nao tem rosto, mas do ponto de vista nanceiro eu entreguei lhe 30.000€, se ele me
entregasse 30.000€ tava me a entregar os meus 30.000€, portanto nao tinha qualquer
esforço. E aquilo que a lei quer, na medida do funcionamento do sinal, e que cada uma
das partes tenha a obrigação de se nao cumprir ter uma penalização idêntica, ou seja, de
30.000€. Se for eu inadimplente (=aquele que nao cumpre) eu perco os meus 30.000€
que ja entreguei, se for a outra pessoa a nao cumprir em vez de receber 30.000€ recebo
60.000€“ porque recebo os meus 30.000€ e mais outro tanto do bolso da outra pessoa.
É uma clausula justa, equitativa, e extremamente e caz porque, sobretudo se for aquele
que entrega o sinal a violar o contrato, o outro ja recebeu. Portanto, é uma clausula
extremamente confortável para o promitente vendedor (A). Para o outro, o promitente
comprador (eu), não é tão confortável porque ele tem que ir demandar o primeiro para
receber os 60.000 mas é pouco provável que uma pessoa que recebe um sinal, quanto
maior for o sinal menos provável é que a pessoa viole o contrato, porque o esforço para
pagar o dobro é muito signi cativo. Portanto, é pouco provável uma pessoa receber um
sinal grande e depois violar o contrato.
Esta clausula muito embora seja muito vulgar nos cp nao é privativa de maneira nenhuma
dos cp, é uma clausula que pode ser aposta na generalidade dos contratos. O sinal em
Portugal é uma clausula com uma historio muito rica. Em Portugal nós designamos por
sinal, e o regime jurídico do sinal, resulta de uma con uência de duas tradições
diferentes, portanto de duas natureza jurídicas diferentes. O sinal por um lado serve de
garantia do cumprimento do contrato, reforçando a probabilidade do contrato ser
cumprido, e também, constituindo uma liquidação antecipada do dano, ou seja, se eu
violar o contrato já sei que a consequência é eu pagar 30.000€ de indemnização, mesmo
que os danos tenham sido mais de 30.000€ ou menos de 30.000€. Portanto, as partes
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estabelecem entre si que haja o que houver o dano é 30.000€, se for a mais azar o teu,
se for menos, que sorte recebe mais do que o dano efetivo. Esta função do sinal designa
se por sinal con rmatório penal, portanto é um sinal que con rma, reforça, a vontade das
partes, e funciona como cláusula penal, se houver algum problema a consequência
negativa, a clausula penal, é o pagamento dos 30.000€.
A esmagadora maioria das regras sobre o sinal são regras supletivas, portanto, é possível
nós num determinado contrato modelarmos as clausulas e portanto é possível o sinal
funcionar de maneiras um bocadinho diferentes desta. Mas a verdade é que,
normalmente, funciona assim que é o regime supletivo.
Além disso, o sinal desempenha uma segunda função que é a de este também servir de
preço do arrependimento, isto é, serve como uma forma de limitar a responsabilidade
civil contratual das partes - 442.º/4. Essa norma diz nos que se as partes tiverem
estabelecido um sinal, salvo estipulação em contrario, nao há lugar ao pagamento de
danos que excedam o valor do sinal. Ex.º eu celebrei um cp paguei um sinal de 30.000€
e por circunstancias quaisquer eu tive danos no valor de 100.00€, muito superiores ao
valor do sinal. Azar o meu, o sinal funciona como uma limitação da responsabilidade, ou
dito de outra forma, como preço do arrependimento. Isto é muito vulgar quando nós
vamos comprar uma roupa ou um livro e nao temos bem a certeza se queremos aquilo,
por vezes é possível e acontece com frequência, a pessoa celebra um contrato com a
pessoa da loja, deixa um sinal e depois combina com ela que vai lá buscar as coisas e
pagar o que falta dali a um dia ou dois e se a pessoa nao aparecer perde aquele dinheiro,
e se aparecer o senhor da loja pede lhe o dinheiro que falta e entrega lhe a coisa. Isto
pode ser uma coisa diferente de um sinal mas pode ser um sinal e aqui o sinal funciona
com toda a clareza como o preço do arrependimento. A pessoa que deixa o dinheiro
sabe que aquilo e o que tem que pagar, por um lado, pelo conforto de ter garantido
aquele negocio, mas por outro lado, se se arrepender perde aquilo e nao gasta o dinheiro
todo que teria de gastar para depois eventualmente se arrepender. Esta característica do
sinal chama se de sinal penitencial. O sinal tem a natureza também de clausula penal,
isto é, é uma clausula que se aplica em caso de nao cumprimento.
O que é importante perceber é: trata se de uma clausula acessória típica que pode ser
aposta na generalidade dos contratos, muito embora costume ser estudada a propósito
do cp.
Como é que a lei fez isto? A lei fez o esquema de controlo do conteúdo das CCG através
de 2 grandes mecanismos. O primeiro consta dos art.º 15 e 16 da LCCG e é uma
clausula geral de boa-fé. Isto é, a lei proíbe todas as CCG que sejam contrarias à boa-fé
nos termos desses artigos 15.º (principio geral) e 16.º (duas concretizações que são
grosso modo fundadas no principio da tutela da con ança e da primazia da materialidade
subjacente). Além da clausula geral da boa-fé a lei tem um conjunto de concretizações
especi cas nos art.ºs 17 a 23 da LCCG.
Quanto à clausula geral > portanto são proibidas todas as clausulas contratuais à boa fé
objetiva. Art.º 16 - “Na aplicação da norma anterior (=principio geral) devem ponderar-se
os valores fundamentais do direito, relevantes em face da situação considerada, e,
especialmente: a) A con ança suscitada, nas partes, pelo sentido global das cláusulas
contratuais em causa, pelo processo de formação do contrato singular celebrado, pelo
teor deste e ainda por quaisquer outros elementos atendíveis; b) O objectivo que as
partes visam atingir negocialmente, procurando-se a sua efectivação à luz do tipo de
contrato utilizado.”. Ou seja, aquilo que se pretende é que a parte aderente possa
acreditar que aquele contrato é efetivamente aquilo que é suposto ela estar a espera,
tendo em conta a formação do contrato, o objetivo do contrato, e também que o contrate
seja consentâneo daquilo que se pretende dele próprio, portanto, principio da primazia
da materialidade subjacente. Ex.º um contrato de seguro desportivo se nós estivermos a
falar, por exemplo, do boxe o contrato de seguro tem 50 clausulas e nao pode na
clausula 47.º/3 excluir acidentes provocados por murros. Isto é uma coisa absurda
porque se o atleta é boxer ele vai fazer o contrato de seguro desportivo para se proteger
na modalidade que ele pratica, que é boxe. Portanto, entre imensas clausulas nao pode
aparecer lá uma que exclua precisamente aquilo que é o coração do negocio porque
estamos a falar de uma pessoa que pratica boxe. Portanto, os danos previsíveis a serem
seguros por aquele contrato têm que ver com levar uns murros no corpo, ser agredido
pelo outro. Pode se dizer: “Ah! Mas ele tinha obrigação de ter sido aquilo tudo”. Sim tinha
essa obrigação mas a verdade é que esta clausula geral da boa-fé permite proteger os
contraentes contra surpresas deste género.
A proibição geral (15.º + 16.º) pode funcionar sem os artigos seguintes, portanto, nao é
preciso nós encontrarmos uma previsão especi ca de proibição de CCG para que a CCG
seja proibida, basta que seja contraria à boa fé. Claro que nós temos a tendência para
tentarmos encontrar uma destas previsões especi cas, claro que é muito mais simples.
Se aplicarmos o 15.º e o 16.º temos de fundamentar de uma formais muito mais intensa a
resposta, solução que apresentarmos.
Do artigo 17 retira se que os empresários são aqueles que detém uma empresa, uma
entidade produtiva, ou exercem pro ssões liberais ou coletivas (podem ser pessoas
singulares ou pessoas coletivas), “quando intervenham apenas nessa qualidade e no
âmbito da sua actividade especí ca (…)”. Ou seja, o que conta aqui nao é o status, ou
seja, imaginemos que eu sou médica, nao é por eu ser médica que todos os contratos
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com CCG que eu celebro são contratos celebrados entre empresários. Nao, é preciso
que eu esteja a celebrar o contrato no âmbito da minha atividade especi ca. Portanto, o
que interessa nao é o status da pessoa, ser medico, mas a competência especi ca. Se
eu estiver a comprar equipamento médico para o meu consultório eu sou um entidade
equiparada a empresário. Se eu em vez de estar a comprar equipamento médico para o
meu consultório estiver, por exemplo, a arrendar um apartamento ou a celebrar um
contrato de segura da minha casa isto nao tem nada haver com as minhas competências
especí cas, e portanto, esses negócios nao são celebrados entre empresários ou
entidades equiparadas.
Empresários
As proibições relativas sao aquelas que, no caso concreto, podem ser proibidas ou
permitidas de acordo com o quadro negocial padronizado. Portanto, apesar de estar aqui
enunciada nos artigos 19.º e 23.º, há casos em que aquela cláusula, naquele contrato, é
permitida, e há casos em que aquela cláusula, naquele contrato, nao é permitida mas sim
proibida. Como é que eu sei? A lei utiliza aqui um conceito que nao usa em mais nenhum
sitio no ordenamento jurídico, e que é este de quadro negocial padronizado. O quadro
negocial padronizado nao é o tipo contratual e também nao é o caso concreto, o contrato
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singular. O português aponta para uma situação padrão, portanto a MRR pensa que o
quadro negocial padronizado é o tipo (num sentido nao técnico) de negocio que as
partes celebraram, mas tendo em conta aquilo que é normal naquele género de
negócios. Ex.º a compra e venda de um carro o tipo é a compra e venda, mas a compra
e venda de um carro novo e a compra e venda de um carro usado têm particularidades
completamente diferentes. Estamos a falar de hábitos sociais, salvo seja, mas de facto se
nós formos analisar 3000 casos de contratos celebrados de compras e vendas de
automóveis comprados novos e depois compras e vendas de automóveis usados, o tipo
de preocupações de um contrato e de outro são diferentes e são, grosso modo, sempre
as mesmas. Portanto, há aqui um padrão, ou usando a terminologia, há um quadro
negocial padronizado, que tem que ver 1 - com compra e venda de carros novos, 2-
compra e venda de carros usados. Este conceito, a seguir, vai ser conjugado com varias,
ou com cada uma das alíneas dos artigos que tratam das clausulas relativamente
proibidas, de modo a nós percebermos se perante o quadro negocial padronizado,
aquela estipulação é proibida ou nao. Como é que nós fazemos isso? Cada uma das
alíneas das clausulas relativamente proibidas têm um conceito indeterminado - ex.º
prazos excessivos, clausulas penais desproporcionadas, injusti cadamente,
compensação adequada, dispêndios consideráveis, etc. Estes conceitos tem que ser
conjugado com o quadro negocial padronizado. Ex.º - art.º 19, alínea e) - “Façam
depender a garantia das qualidades da coisa cedida ou dos serviços prestados,
injusti cadamente, do não recurso a terceiros;”, vamos aplicar isto à compra e venda de
um carro novo. Um carro novo tem uma garantia de 5 anos, e o concessionário diz que
só garante se durante 5 anos o carro nao for mexido for outras pessoas. A MRR diria que
isto é justi cado, atendendo àquilo que custa um carro e atendendo ao valor de uma
garantia por 5 anos é justo que o concessionário exige que seja apenas ele a mexer no
carro. Agora imaginemos que eu tenho um furo no pneu e vou concertá-lo e depois
passado um tempo vou ao concessionário, e ele diz me: “não, a senhora teve um furo
este pneu nao é original, a senhora nao veio cá mudar os pneus portanto isto esta
excluído da garantia”. Isto já nao é razoável, porque uma coisa é a garantia depender de
a pessoa nao mexer na mecânica do carro outra coisa, bastante diferente, é eu ter um
furo tirar o pneu e pôr outro. Eu ate podia ter o furo longe de uma o cina autorizada pelo
concessionário. Portanto, isto ja nao é razoável porque mudar o pneu nao interfere com a
segurança da mecânica do veiculo. Portanto, é este tipo de raciocínio que nós perante
cada uma destas proibições temos que fazer. Temos que ver qual é o conceito
indeterminado da alínea que estamos a aplicar e depois ver, perante o tipo de negocio
em causa, se essa exigência contratual é justi cada ou nao, se o prazo é excessivo ou
nao é excessivo, se a clausula penal é desproporcionada ou nao….en m, conforme a
alínea que estivermos a aplicar. Se houver uma proibição, ou seja, se uma determinada
clausula for, 1, absolutamente proibida, ou sendo relativamente proibida, no caso
concreto, for proibida, a consequência é sempre a mesma, a cláusula é nulo - art.º 12
LCCG. E depois sendo a clausula nula, o aderente pode optar pela manutenção do
contrato, vigorando na parte nula as normas supletivas ou procedendo se à integração
da lacuna, se houver uma lacuna contratual, nos termos do art.º 239 CC. Se o aderente
nao quiser a subsistência do contrato nestes termos então aplica se o instituto da
redução - art.º 14 LCCG. Também existe redução se o exercício da opção pelo aderente
conduzir a um desequilíbrio gravemente atentatório das regras da boa-fé - 14.º LCCG.
Portanto, se o aderente disser: “não, não, eu quero manter o contrato sem as clausulas
nulas” e se o contrato sem essas cláusulas car totalmente desequilibrado, vamos para a
redução em vez de vigorar na parte das clausulas nulas, as normas supletivas.
(Art.º 22/2 é um artigo muito relevante na pratica pois é extremamente penalizado dos
aderentes nos bancos).
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Quando há um problema com uma clausula num contrato singular, contrato efetivamente
celebrado, o que há a fazer é o que se faz nos outros contratos celebrados de acordo
com o CC. Portanto, se a pessoa tem um problema, primeiro fala com a contraparte para
tentar resolvê-lo e se nao conseguir vai para tribunal. Qual é que é o problema? O
problema é que os contratos celebrados segundo CCG serem contratos de pequena
importância, do dia à dia, e portanto, as pessoas muitas vezes nao recorrem aos
tribunais porque nao se justi ca, o dinheiro que vai gastar nao é su ciente para o lucro
que terão com a procedência da ação e nao é certo que a ação proceda. Então, a lei no
25.º consagra uma novidade no nosso ordenamento jurídico, que é uma ação inibitória.
Esta ação é uma ação original e que é própria de esquemas de tutela de consumidores
ou de interesses difusos.isto é, os consumidores, cada um, tem pouco interesse na
propositura de uma ação porque isso muito mais caro do que a vantagem que ele vai
obter com a ação, e portanto, nao se mexe, mas se nós pensarmos na totalidade dos
consumidores então as coisas são muito diferentes. Então o que é que acontece? A lei
prevê nas ações inibitórias que a legitimidade para propor a ação caiba não a cada um
dos consumidores mas sim, a associações de defesa daquelas áreas e/ou ao Ministério
Público. E o objetivo nao é tratar de um caso concreto, como acontece em 99% das
ações judiciais, mas sim proibir clausulas abstratas, isto é, proibir certas minutas que
pode ser proibir uma ou duas clausulas de um determinado formulário ou ate proibir um
certo modelo contratual. O resultado destas ações inibitórias é publicado em jornais e
eventualmente acompanhado de sanções pecuniárias compulsórias que são também
sujeitas a registo, portanto, existe aqui uma pressão grande para que os utilizadores das
CGG deixem de as utilizar, en m, são condenados pelos tribunais então têm mesmo que
deixar de as utilizar e depois, todos os outros vendo as listas de clausulas proibidas
naturalmente inibem se de utilizar aquele tipo de clausulas. Uma vez proibida uma
clausula, cada pessoa que celebrou um contrato, no seu contrato pode invocar a
sentença e com facilidade dizer “nao, esta cláusula nao se aplica porque foi proibida”.
Claro que tem que ser proibida numa ação em que seja parte a pessoa com que ele está
a negociar mas seja como for é uma excelente mais valia para os aderentes em contratos
celebrados segundo CCG.
A LCCG é um diploma que se aplica a CCG e a contratos rígidos, mas aplica se quer
estejamos perante consumidores, quer estejamos perante nao consumidores, ou seja,
perante empresários. Portanto, nao é necessariamente um diploma que protege os
consumidores enquanto consumidores, protege, sim, os aderentes das CCG. Mas
paralelamente passou a existir durante o séc.XX um conjunto de regras em torno da
realidade “consumidor”. Veri cou se que havia uma categoria de pessoas que hoje em
dia é gigantesca, que celebravam um grande numero de negócios de modo nao
pro ssional com outras pessoas, que celebravam esses negócios de modo pro ssional.
E portanto, essas pessoas, nao pro ssionais, estavam bastante desprotegidas perante os
pro ssionais. A par disto, veri ca se que existe uma maior interdependência económica
entre todas as pessoas, entre o mundo inteiro, e existe uma menor autonomia e uma
menor capacidade de compreensão dos negócios. Os negócios jurídicos cada vez são
mais complexos e as pessoas, como cada pessoa se restringe às suas áreas, portanto,
cada pessoa pro ssionaliza se, mas numa coisa muito especi ca. E portanto, quando
contrata com outras pessoa nas áreas de especialização das outras pessoas, com
frequência tem di culdades porque esta numa situação de grande desproporção. Essa
outra pessoa é pro ssional daquela área e esta pessoa nao é. Em Portugal surgiu em 96,
a Lei 24/96, de 31 de junho, que é conhecida como a Lei de Defesa dos Consumidores.
Acresce que, tendo em conta a forma como hoje se celebra a generalidade dos
negócios, permanentemente é necessário conjugar a Lei de Defesa do Consumidor com
o CC, e portanto, devemos conhecer bem esta área do direito.
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De acordo com a Lei 24/96, um consumidor é todo aquele a quem sejam fornecidos
bens, prestados serviços, ou transmitidos quaisquer direitos destinados a uso nao
pro ssional por pessoa que exerça com caracter pro ssional uma atividade económica
que vise a obtenção de benefícios - art.º 2.º/1 LDC. Esta lei expressamente inclui na
categoria de pro ssionais o Estado e as outras pessoas coletivas publicas, bem como os
concessionários de serviços públicos enquanto fornecedores - art.º 2/2. Esta lei é uma lei
que em muitas disposições é dominantemente dirigida ao Estado - 3.º a 7.º. estes artigos
são mais ou menos programáticos, destinam se a sensibilizar o Estado para a
necessidade de implementar um conjunto de regras ou circunstancias favoráveis aos
consumidores. A MRR vai focar se naquilo que é efetivamente vinculativo, no sentido de
ser aplicável diretamente aos sujeitos. Primeiro nos artigos 8.º a 9.º-B, existem um
conjunto de deveres pré-contratuais muito mais desenvolvidos do que o art.º 227.
Portanto, se estivermos perante um contrato celebrado por um pro ssional com um
consumidor, alem do 227.º temos que aplicar, em primeira linha estes artigos. A violação
de deveres de informação gera o direito de retratação do consumidor - 8.º/4 - no prazo
de 7 dias úteis. Ou seja, uma pessoa a quem nao foram dadas as informações
necessárias ou su cientes, pode no prazo de 7 dias úteis devolver a coisa, portanto,
retratar se, isto é, desfazer o negocio. Outra normas bastante importante é a enunciado
no art.º 7/5 - “As informações concretas e objetivas contidas nas mensagens publicitárias
de determinado bem, serviço ou direito consideram-se integradas no conteúdo dos
contratos que se venham a celebrar após a sua emissão, tendo-se por não escritas as
cláusulas contratuais em contrário.”. Ou seja, se numa mensagem publicitaria o
pro ssional publicitar X, X passa a fazer parte do contrato. O que signi ca que se a coisa
nao tiver X nós estamos perante um caso de violação do contrato e portanto, o prestador
de serviços, o pro ssional, vai ter de indemnizar o consumidor. Aqui também esta
prevista uma ação inibitória, e também estampo previstas regras de promoção e
proteção das associações de consumidores.
04.05
Para além do diploma que estudamos na ultima aula há mais dois que são bastante
importantes neste universo de proteção de negócios celebrados com consumidores. Um
é um DL que se designa por “Regime dos contratos celebrados à distancia e fora do
estabelecimento comercial”, vem estabelecido no DL 24/2014, de 14 de fevereiro. Este
diploma regula aqueles contratos que são celebrados sem a presença física de ambas as
partes, ou com essa presença física mas fora do estabelecimento comercial. Ex.º
negócios celebrados em viagens, reuniões, porta a porta (em casa das pessoas). Ou no
estabelecimento comercial mas depois de o próprio estabelecimento ter feito um
contacto para que essa pessoa se dirige ao estabelecimento comercial. Ou seja,
pretende se que este regime se aplique àqueles negócios em que nao foi o consumidor
que solicitou o negocio, ou que se deslocou especi camente para, por sua iniciativa,
celebrar o negócio. Veri cou se que há um conjunto de técnicas de venda, um bocadinho
agressivas e que supõem precisamente a iniciativa do comerciante, do pro ssional, e
portanto que essa forma de celebrar negócios exigia regras mais protetoras para o
consumidor, e portanto é esse o objetivo deste diploma. Este diploma só trata como
consumidores pessoas singulares, as pessoas coletivas estão fora da proteção deste DL.
Aqui, tal como na LCCG, existe uma explicitarão dos deveres de informação pré-
contratuais, no art.º 4.º, e existe também a consagração de especiais cuidados a ter com
o consumidor no art.º 5. Estes contratos devem resistir a forma escrita - 9.º - e o
consumidor tem o direito de resolver livremente, ou seja, destruir a e cácia negocial
daquele negocio, no prazo de 14 dias após a celebração do negocio. Basta que o
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consumidor envie a revogação nos 14 dias, portanto, vale aqui a teoria da expedição.
Este direito, é importantíssimo, vem previsto no 10.º/1 e basicamente destina se a
proteger os consumidores daquilo que se designa de compras por impulso, que são
muito vulgares nestes casos. Nestes casos, nao é o consumidor que solicita o negocio
ele apenas responde a uma solicitação e com frequência, tendo em conta quer as
características das pessoas, quer as técnicas de venda dos pro ssionais é vulgar a
pessoa ou por impulso, ou porque nao consegue resistir à argumentação do pro ssional,
adquire o bem, celebra o contrato, e depois tem 14 dias para se arrepender. Nao precisa
de argumentar, basta informar que nao quer o negocio a nal. Se o consumidor nao tiver
sido informado pelo pro ssional do direito à resolução, direito ao arrependimento, em vez
de este direito ter um prazo de 14 dias passa a ter um prazo de 12 meses mais 14 dias.
Portanto, expande se brutalmente o prazo, precisamente para dar a possibilidade de a
pessoa se informar de alguma maneira e puder mesmo assim exercer o direito ao
arrependimento revogando o negocio. Depois da resolução o pro ssional tem 14 dias
para reembolsar o consumidor. Este ultimo pode entregar o bem manuseado e
inspecionado - 14.º. Por vezes, essa é a única maneira de a pessoa saber se quer o nao
o bem, sobretudo naqueles casos em que o contrato é mesmo celebrado à distancia e a
pessoa contacta com o bem a primeira vez só quando o recebe, portanto tem 14 para se
arrepender. Se houver danos o consumidor pode vir a ser indemnizado, exceto se nao
tiver sido informado do direito de revogação, pois aí já vimos aplica se o regime especial.
NOTA: estes 3 diplomas (LCCG+ “Regime dos contratos celebrados à distancia e fora do
estabelecimento comercial”+“Venda de bens de consumo e das garantias a ela relativas”)
resultam da transposição de diretivas comunitárias. São diplomas muito relevantes.
O diploma estabelece prazos de garantia quer dos bens, quer dos serviços no art.º 5,
estabelecendo 2 anos para os bens móveis e 5 anos para os bens imóveis, e durante
esse período vale o dever de conformidade, o que aumenta muito as garantias, os
direitos do consumidor. No art.º 5/6 existe um novo prazo de garantia, caso o bem tenha
sido reparado ou substituído. Ex.º imaginemos que eu comprei um computador, ele teve
um problema ao m de 1 ano e foi reparado. Essa reparação também tem uma garantia.
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Portanto, quando se esgotar a garantia inicial do computador nao há problema porque se
houver um problema com a reparação, a própria reparação de um prazo de garantia.
Claro que se o problema foi diferente daquele que originou a reparação aí vale o prazo
inicial, mas o prazo da reparação ou da substituição é um prazo que acresce ao prazo
inicial do bem ou do serviço.
Poderia se dar variadíssimos outros exemplos. De facto o tempo é um facto com e cácia
muito extensa, muito variada, e nalguns caos, extremamente intensa.
Prescrição
No código de Seabra, e ainda hoje noutros ordenamentos jurídicos que nao o nosso,
existiam 2 tipos de prescrição: a prescrição extintiva e a prescrição aquisitiva. Tratava se
de 2 matérias totalmente diferentes, mas que tinham que ver, precisamente, com a
repercussão do tempo nas situações jurídicas. Na prescrição aquisitiva, o tempo tenha
como efeito adquirir situações jurídicas. Na prescrição extintiva, o decurso do tempo
fazia com que as situações jurídicas cessassem. No código de 66 manteve se apenas a
prescrição extintiva. Hoje em dia, quando nós falamos de prescrição estamos a referir
sempre, exclusivamente, à prescrição extintiva. A prescrição aquisitiva adotou o nome
tradicional. Tradicionalmente, designava se, e hoje em dia designa se outra vez, a
prescrição aquisitiva por usucapião. O usucapião é um instituto que permite a uma
pessoa que tem a posse, em certos termos, de uma coisa corpórea, adquirir ao m de X
anos anos adquirir o direito correspondente à posse que exerceu.
Por ultimo o 3.º vetor. O legislador nao pertence facilitar a inércia das pessoas no
exercício das situações jurídicas. Nestas ultimas, claro que a pessoa pode optar por nao
exercer mas então que assuma essa opção. Portanto, nao deve haver preguiça nao
dinâmica jurídica.
Portanto, estes 3 fatores explicam, do ponto de vista da justiça e dos valores que estão
subjacentes ao instituto da prescrição, a prescrição. Porque se destina a garantir a paz
publica, a segurança, a prescrição tem um regime jurídico bastante rígido. A paz publica
é um bem de ordem publica, nao é um bem de interesse particular. Portanto, o art.º 298/1
diz nos que estão sujeitos a prescrição todos os direitos, exceto 2 categorias: os direitos
indisponíveis (se nao são disponíveis pelas partes, estas nao podem pelo seu nao
exercício prescindir deles, ou de algumas faculdades) e também, aqueles que a lei isente
de prescrição (isto é muito raro, mas a lei pode isentar de prescrição certos direitos, e
quando isso for feito o direito nao prescreve).
Vimos que a prescrição nao extingue a situação jurídica, e é verdade, o devedor que nao
cumpriu se quiser cumprir pode cumprir. O que se passa apenas, é que o credor nao
pode exigir judicialmente o cumprimento. Ex.º vamos imaginar que eu pedi um
empréstimo a uma pessoa à 21 anos e ainda nao o paguei. Eu nao paguei, portanto se
eu nao paguei eu continuo a ser devedora desta pessoa, do A por exemplo. Se eu quiser
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pagar ao A eu posso pagar. Nao lhe estou a fazer um favor, nem muito menos uma
doação, eu estou a pagar uma divida. Agora se o A me quiser pedir o dinheiro pode
pedir, mas a verdade é que eu tenho uma exceção, eu posso dizer: “Antonio desculpa
tenho imensa pena mas já passaram 20 anos, e portanto a divida prescreveu”. Se eu zer
isto, o A nao pode ir ao tribunal para que este ultimo me obrigue a pagar, porque seria
inútil. O A teve 20 anos para propor a ação se nao propôs foi porque nao quis. Já passou
tempo demais para que o tribunal se dedique agora a investigar seu eu devo ou nao
pagar, em que termos, etc. Porque a divida nao se extingue, isto é, porque eu se pagar
nao estou a fazer um favor para sim a pagar uma divida, nao há repetição da prestação -
304.º/2 -, mesmo que haja erro. Repetir em direito signi ca restituir, devolver, e nao fazer
outra vez. Mesmo que eu tivesse entregado o dinheiro em erro, por exemplo, porque
desconhecia a prescrição, ou por outro erro qualquer, eu nao posso repetir a prestação,
eu nao posso pedir o dinheiro de volta. Precisamente porque, primeiro, a divida existe, e
segundo, o pagamento foi espontâneo. Podemos dizer: “Ah! Mas houve erro”. Pois
temos pena, a lei aqui nao protege relativamente ao erro.
O artigo 305.º diz nos que os credores do devedor também podem invocar a prescrição.
Ex.º eu devo 200€ ao A e nao invoco a prescrição portanto eu vou pagar os 200€. Pode
acontecer que eu ao pagar os 200€ ao A nao tenha dinheiro su ciente para pagar aos
meus outros credores cujas dívidas ainda nao prescreveram. E portanto, este artigo diz
nos que os meus credores também podem invocar a prescrição para evitar que eu pague
os 200€ ao A e para sobrar mais dinheiro para eles, cujas dividas ainda nao
prescreveram.
Quando é que começa a correr o prazo prescricional? A regra geral vem no art.º 306.
Este artigo diz nos no n.º 1 que o prazo começa a correr quando o direito puder ser
exercido. Isto tem que ver com a prescrição ser uma espécie de castigo para a preguiça
do credor. Portanto, se este ultimo já pode exercer o direito então começa a contar o
prazo prescricional. Se o credor por alguma razão o seu direito, então o prazo
prescricional nao começa ainda a correr. No n.º 2 a 4 do artigo 306 e depois no 307.º e
308.º, há casos em que o prazo prescricional se conta a partir de outro momento. ex.º
Se um determinado negocio tiver um termo suspensivo, a prescrição só começa a contar
depois do termo como é obvio, porque antes do termo o credor nao pode exercer o seu
direito, portanto, se nao pode exercer o seu direito nao podemos falar de inércia do
credor. “Ah! Ele nao exerceu porque nao quis, teve 20 anos para exercer”. Isso é mentira,
nao teve 20 anos. Vamos supor que o contrato celebrou se em 2015 e o termo aconteceu
em 2020, 5 anos de depois. Portanto, só a partir de 2020 é que o credor pode exercer o
seu direito, portanto, o prazo dos 20 anos vai acabar em 2040 e nao em 2035.
Qual é que é o prazo prescricional? Há vários prazos dependendo dos direitos em causa.
A regra geral é a de que todos os direito estão sujeitos a prescrição. Depois quanto aos
prazos a regra geral é a dos 20 anos - 309.º. existem prazos especiais de 5 anos no art.º
305.º que têm que ver normalmente com direitos periódicos, rendas, juros, pensões, isto
é, que se vencem periodicamente, e nao é conveniente deixar passar muito tempo
porque imaginemos que eu vivo numa casa arrendada, pago a renda todos os meses. Ao
m de 8 anos perguntam me “a senhora pagou a renda de casa em fevereiro de 2012?”.
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Sei lá, devo ter pago! É muito diferente para o devedor conseguir demonstrar que pagou
uma divida periódica do que, no exemplo que vimos atrás em que eu devia 200€ ao A, é
mais fácil eu lembrar me se paguei ao A porque é uma única vez, ou paguei ou nao
paguei. A renda da casa eu pago todos os meses, portanto se me perguntarem se eu
paguei o mês X do ano Y, só se tiver acontecido alguma coisa extraordinária naquele mês
é que eu me vou lembrar se paguei ou nao. Portanto o 310.º diminui para 5 anos os
prazos desses direitos e que, quase todos são direitos de vencimento periódico.
No 311.º há uma regra especial para os direitos reconhecidos por sentença ou titulo
executivo, esses direitos mesmo que o prazo prescricional seja mais curto passam a ter
um prazo prescricional de 20 anos. E depois há muitas leis que estabelecem prazos
diferentes, apesar de mais de 20 anos nao ser vulgar, mas menos de 20 anos há varias
em legislações avulsas. Por exemplo, o prazo prescricional da Responsabilidade Civil
Delitual é curto, 3 anos, precisamente porque torna se muito difícil fazer a prova dos
factos muito mais tempo depois de estes terem ocorrido.
O prazo prescricional pode ser suspenso ou interrompido. A suspensão signi ca que nós
deixamos de contar o prazo durante o período em que ele tiver suspenso, mas depois
desse período passar retomamos a contagem. Ex.º o A emprestou me o dinheiro em
2010, e vamos imaginar que há uma causa de suspensão de 2015 a 2017. Portanto,
quando chegarmos a 2018 este é o ano 6, porque de 2010 a 2015 passaram 5 anos
depois há uma suspensão e retomamos novamente em 2018. Na interrupção o que
acontece é que quando ocorre um facto interruptivo, o prazo interrompe se e quando
acaba a interrupção começamos a contar do zero. Portanto os 5 anos que estavam para
trás perdem se. No ano 2018 nós começamos a contar do zero.
Esta diferença explica se porque nao suspensão o que existe é uma impossibilidade ou
uma di culdade grande de agir do credor. Portanto, se o credor nao pode exercer o seu
direito é injusto que nós penalizemos a inércia do credor, ele nao exerce porque nao
pôde, portanto o prazo suspendeu se durante esse período. Na interrupção que acontece
é que existe um reconhecimento claro do direito do credor ou uma vontade do credor de
exercer o seu direito. Portanto, nós nao podemos dizer que o credor continuou sem fazer
nada, nao, nao! O credor tentou exercer o seu direito ou existir um reconhecimento por
parte do devedor que aquela divida existia e devia ser cumprida. E portanto, o prazo
anterior perde se e começa a contar um novo prazo. As causas de suspensão e de
interrupção vêm previstas nos art.º 318 e ss. (suspensão) e 323.º e ss. (interrupção).
Caducidade
A caducidade ocorre quando por força da lei ou por vontade das partes um direito deva
ser exercido dentro de um certo prazo. A caducidade, ao contrario da prescrição
extingue o direito. Portanto, o direito tem um prazo, e se nao for exercido durante aquele
prazo, extingue se. Também ao contrario da prescrição, a caducidade pode ser legal ou
convencional, as partes podem convencia a caducidade de certos direitos. Aqui nao há
propriamente um problema de inércia de exercício, como existe na prescrição, aqui há
um direito que se esgota ao m de um certo prazo. Portanto, a própria con guração do
direito depende do tempo. Estes direitos existem num certo prazo, depois esgotam se,
desvanecem se. O prazo de caducidade inicia se do momento em que o direito puder ser
exercido - 329.º. Na caducidade legal, por regra, não à interrupção nem suspensão -
328.º. Ex.º Começa o prazo (vamos supor que o direito tem um prazo de caducidade de
1 ano) e o direito tem que ser exercido durante aquele ano, ponto nal. Nao se suspende,
nao se interrompe, nada! Ao m daquele ano a pessoa perde aquele direito porque ele
caducou. Na caducidade convencional pode haver suspensão e/ou interrupção
dependendo da vontade das partes pois estamos perante um instituto fruto da
autonomia privada. Na duvida, diz nos o 330.º/2, há suspensão e há interrupção. O meio
normal de impedir a caducidade é o exercício do direito. A caducidade também pode nao
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ocorrer, portanto ser impedida, pelo reconhecimento pela outra parte do direito. Na
caducidade convencional ou na legal se os direitos foram disponíveis - 331.º/2.
Não Uso
O nao uso é um instituo próprio dos direitos reais, em particular dos direitos reais de
gozo. Estes últimos podem extinguir se pelo nao uso - 298.º/3.
Nesta segunda parte da aula vamos analisar a gura das prescrições presuntivas.
Estudamos esta gura a seguir a termos estudado aqueles 3 institutos (prescrição,
caducidade, nao uso) porque ao contrário do que o nome indica, as prescrições
presuntivas não são um caso de prescrição, são um caso de presunção. São presunções
às quais se dei o nome de prescrições presuntivas mas que devem ser tratadas como
presunções, pura e simplesmente. As prescrições presuntivas vêm reguladas nos artigos
312.º a 317.º e por vezes são referidas como prescrições de muito curto prazo, e de
facto estamos a falar normalmente de prescrições de 6 meses a 2 anos. Estas
prescrições presuntivas são presunções de cumprimento. Uma presunção consiste em a
partir de um facto conhecido nós presumirmos um facto desconhecido. Nestas
prescrições nós a partir do decurso do tempo sem que se documente o cumprimento,
nós presumimos que o cumprimento se realizou. Portanto, a prescrição presuntiva é um
caso de uma presunção em que o facto conhecido é a passagem do tempo e nao outro
facto qualquer. Ex.º a presunção de paternidade - presume se que o pai de uma criança
quando essa criança nasce de uma mulher casada é o marido da mar. Aqui o facto
conhecido é nascer uma criança cuja mãe é uma senhora casada. O facto desconhecido
aqui é nao sabermos quem e o pai. De acordo com a presunção de paternidade
presumimos que o pai é o marido da mãe. Aqui o facto conhecido, o facto que
corresponde a uma criança nascer de uma mulher casada, é decurso do tempo.
Decorreram 6 meses desde a data do vencimento desta obrigação, enato presume se
que ela foi cumprida. Isto é uma prescrição presuntiva. É uma presunção em que o facto
base da presunção é o decurso do tempo.
Provas
A matéria da prova vem regulada nos art.ºs 341.º e ss. A prova é a demonstração da
realidade dos factos, que interessam. É uma área fundamental no trabalho do jurista e
com a qual este gasta grande parte do seu tempo. ºe a partir da prova que nos tomamos
conhecimento dos factos. Do ponto de vista substancial esta teria é igualmente
importante, quanto à tentativa de fazer justiça às pessoas porque a justiça é uma
realidade que nao pode ser negada. Quando alguém tem um problema e se essa pessoa
nao tiver meios de recorrer aos tribunais, vai recorrer à lei do mais forte, à lei da selva e
isso nao pode acontecer. O Direito existe para que as pessoas tenham um conjunto de
normas que regam as suas vidas e nao tenham que elas próprias tratar dos seus
assuntos pelas suas mãos. Como os tribunais têm que conhecer os factos para aplicar o
direito, a lei estabelece um conjunto de ónus, de obrigações de realizar a prova dos
factos, para que na duvida, ou se nao tiverem sido provados todos os factos funcionam
esses ónus da prova, e o tribunal acaba por tomar uma decisão ou para uma pessoa ou
para outra pessoa.
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A prova pericial vem regulada nos art.ºs 388 e ss. É um meio de prova que se destina a
proporcionar ao tribunal através do recurso a especialistas conhecimentos que o tribunal
nao tem por de nição. Portanto, por exemplo, pede se uma indemnização pela morte de
uma pessoa. O autor diz que o réu matou o A, e o réu diz que nao que o A morreu com
um ataque cardíaco. O réu a rma que realmente que deu lhe um tiro mas que nao foi do
tiro que o A morreu mas sim do ataque cardíaco. O juiz nao sabe se o A morreu de um
ataque cardíaco ou do tiro, portanto, ele terá que recorrer a médicos legislas para que
estes expliquem ao juiz a causa da morte do A. O valor da perícia é aquele que o juiz
entender, isto é, o juiz pode nao acreditar no medico, mas normalmente isto nao
acontece. Nao há perícias sobre matérias jurídicas pois o juiz é que é o perito do direito.
A prova por inspeção vem regulado nos art.ºs 390 e ss. E consiste em um juiz, ou aquele
que decide, deslocar se ao local para ver com os seus próprios olhos. Este é um meio de
prova muito relevante para casos que envolvam direitos reais ou por exemplo, acidentes
de viação. Com os direitos reais é vulgar este meio de prova quando estejam envolvidos
direitos que envolvem servidões de passagem, prédios encravados, etc.
A prova testemunhal - 392.º - é a prova mais normal, a maior parte da prova é feita ou
através de documentos, ou sobretudo, através de testemunhas. É uma prova difícil
porque depende bastante da subjetividade das testemunhas e igualmente dos juízos,
pois da apreciação da prova testemunhal há um grau maior de subjetividade do que nos
outros meios de prova.
Há alguns casos, os das prescrições presuntivas é um deles, em que a prova só pode ser
feita de uma certa maneira e há também alguns casos, muito raros, em que o valor da
prova é tabelado. Isto é, em vez da prova ser de apreciação livre pelo juiz, este em certos
casos tem que acreditar em certas coisas que estão na prova X ou na prova Y.
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