Você está na página 1de 60

lOMoARcPSD|14318826

Resumo tgnj - Pode ter erros ortográficos que eu não reparei.


Confirmar sempre os artigos
Teoria geral do negócio jurídico (Universidade Lusíada de Lisboa)

Studocu is not sponsored or endorsed by any college or university


Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)
lOMoARcPSD|14318826

Teoria Geral do Negócio Jurídico

O negócio jurídico é, em rigor, uma modalidade do estado crítico.


A ideia é: o facto jurídico é um facto, uma presunção, um acontecimento,
que tem relevância jurídica. Ter relevância jurídica é o mesmo que dizer
ter efeitos jurídicos. Isto é, um facto é jurídico quando este gera efeitos
jurídicos.
Ex: fazer um contrato de compra e venda tem efeitos jurídicos

Isto serve para dizer que os factos jurídicos são de uma variedade,
multiplicidade extrema, e portanto não dá sequer para sistematizar.
Como os factos jurídicos são de uma imensa variedade é importante fazer a
distinção, em atenção à intervenção da vontade, entre: facto jurídico em
sentido estrito – sentido próprio – e ato jurídico.
 Ato jurídico – em princípio se um ato for voluntário, portanto se
ocorrer porque foi pretendido. Ex: se uma morte aconteceu em que
outra pessoa provocou essa morte, aqui encontramos a vontade para
provocar aquele acontecimento.
 Facto jurídico – são acontecimentos que de um modo genérico não
sejam voluntários. Ex: se uma pessoa faleceu por morte natural, este
acontecimento é um facto jurídico em sentido próprio, pois a morte
não decorre de um ato voluntário.

Para sabermos se um facto é facto jurídico stricto sensu ou se é jurídico


é preciso saber:
1. Que efeito estamos a considerar;
2. Se a produção desse efeito depende da vontade ou não, se a Lei
exige a vontade para que aquele efeito se produza

Dado que, se logo à partida o facto é impermutável, nunca poderá ser ato
jurídico, será sempre jurídico stricto sensu.
Ex: se a morte acontece por razões naturais, isto não depende da vontade e
portanto isto é necessariamente um facto jurídico stricto sensu.

Ao contrário, se o falecimento for causado por terceiro, a morte aqui já


sucede por razões não naturais, mas sim por causa da vontade de outra
pessoa.
A pergunta que devemos fazer é: isto é facto jurídico stricto sensu ou é ato
jurídico? Isto depende do efeito que está em causa.
Já se sabe que a morte provoca a extinção da personalidade. Para este
efeito, não importa como é que a pessoa morreu, mas sim que morreu. E
por isso, para este efeito o acontecimento jurídico é sempre um facto
jurídico stricto sensu.
Se queremos considerar a responsabilidade penal, já importa saber se há
vontade ou se não há vontade. Num homicídio, já interessa a vontade. Só
podemos dizer que há responsabilidade penal, no pressuposto de que a
pessoa quis fazer o que fez.

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

De todo o modo, a ideia central para sabermos se temos facto jurídico


stricto sensu ou se temos ato jurídico é preciso saber o que é que o
Direito exige para a produção de quem o tem. Se o Direito exige vontade, é
ato jurídico; se não exige vontade é facto jurídico.
Exemplo: A, furtou o automóvel do B e ao conduzi-lo despistou-se e
destruiu o automóvel. Ao ficar completamente destruído, torna-se
irrecuperável. A propriedade sobre o automóvel extingue-se. Deixa de haver
automóvel, deixa de haver propriedade sobre este. Para este efeito – a
extinção da propriedade sobre o automóvel – não tem relevância saber
como é que as coisas aconteceram. Para este efeito aquele acontecimento é
um facto jurídico.

Para saber se há responsabilidade por danos e para saber se,


eventualmente, cometeu o crime de furto, e destruição de coisa alheia, é
relevante saber se houve intervenção humana ou não. Ou seja, na hipótese
anterior, para saber se há responsabilidade por danos, e para saber se há
responsabilidade penal pelos crimes colocados, só no pressuposto de se
conseguir provar que a destruição do automóvel é devida à conduta de A.
Provando-se isto há responsabilidade. Isto porque a sua conduta para esse
efeito é um ato jurídico.

De um modo geral, o efeito para que importa a classificação é o efeito


jurídico. Portanto, existem regras específicas para o ato jurídico que não se
aplicam ao facto jurídico stricto sensu.
Por sua vez, no ato jurídico lato sensu – isto é, em sentido amplo –
distingue-se em:
 Ato jurídico simples: facto voluntário cujos efeitos se produzem
ainda que estes não tenham sido antecipados pelo/s seu/s autor/es
 Negócio jurídico: facto voluntário a que o Direito atribui efeitos
jurídicos concordantes com o conteúdo das declarações de vontade
do/s seu/s autores/s
Estamos sempre no pressuposto de que há vontade, o ato é voluntário e é
em atenção à vontade que os efeitos se produzem. O ato jurídico simples e
o negócio jurídico são subdivisões do ato. O ato que se define como sendo
voluntario produz efeitos por causa dessa vontade, então quer no ato
jurídico simples, quer no negócio jurídico a produção de efeitos depende da
vontade.

No plano da vontade, no que toca aos efeitos, a vontade pode pelo menos
distinguir-se em 2 coisas:
 Vontade de ação: vontade de praticar os atos que praticou
independentemente da forma;
 Vontade de resultado/funcional: é a vontade de produzir os
efeitos jurídicos correspondentes à atuação. Ou seja, uma coisa é
querer atuar; outra coisa é querer que isso produza efeitos. Só há
vontade funcional quando a pessoa quer os efeitos daquilo que fez.

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

Levando esta distinção em atenção, o ato jurídico simples sucede quando


exista vontade de ação e isso seja suficiente. Isto é, que os efeitos se
produzam apenas pela vontade de ação, que a pessoa quis praticar a ação,
ainda que não tivesse pensado nos efeitos correspondentes. Nessas
hipóteses, o ter consciência é irrelevante.
Desde que a ação seja pretendida, isso tem um efeito jurídico ainda que a
pessoa não tenha noção que esse efeito se reproduza.

Só há negócio jurídico no pressuposto da pessoa além de ter querido


praticar a ação, tenha também pretendido os efeitos jurídicos
correspondentes a essa atuação.

Exemplo: quando duas pessoas se casam, querem não só declarar que


aceitam mas sobretudo ficar casados. Estão a declarar que assumem todos
os deveres do casamento. Se tivéssemos de verificar a vontade dos
cônjuges em cada casamento para saber se eles tinham a noção de que era
assim, um casamento demoraria muito mais do que o suposto.
Isto aplica-se também a um contrato se sociedade.

Nestes casos, a Lei, parte do princípio de que as pessoas têm noção. Isto é,
parte-se do princípio de que há vontade funcional. E se há vontade de ação
presume-se que há vontade funcional. Se há vontade de ação, presume-se
que as pessoas quiseram os efeitos correspondentes à ação que realizaram.

Se não têm essa consciência, aí já tem relevância saber se há vontade ou


não. Isto porque o negócio jurídico só tem efeitos na medida em que se
pode depois, anular o casamento por exemplo, porque se prova que afinal
não havia intenção ou que esta estava viciada. Isto só é relevante porque os
efeitos dependem da vontade funcional.

Num negócio jurídico parte-se do princípio que só com a vontade funcional é


que os efeitos jurídicos se produzem, parte-se do princípio que os efeitos
estão associados à vontade e só se produziram porque a vontade se dirigiu
a isso, então quando falta a vontade o negócio não pode ser válido.

A lei tem um regime geral para um negócio jurídico dos artigos 217º-294º
do Código Civil. E depois para o ato jurídico simples tem apenas um artigo –
295º - no qual se faz uma remissão para um regime anterior.

Para determinar esta parecença, faz-se uma classificação dos atos jurídicos
simples.

Espécies de atos jurídicos:


 Quase Negócios Jurídicos: o negócio jurídico tem fundamentalmente 2
elementos: vontade – elemento circunstancial – e a declaração –
elemento formal. Os efeitos do negócio produzem-se em atenção à

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

vontade. Ou seja, é porque há uma vontade de produzir efeitos que


eles são produzidos. O elemento da vontade apenas, não chega
porque este elemento é um elemento interno, encontra-se “na cabeça
da pessoa”. E por isso enquanto essa vontade não for manifestada
não tem valor, e muitas vezes esta vontade tem de ser manifestada
de diversas maneiras. Em todo o caso, enquanto a vontade não for
manifestada da forma exigida não há efeitos. Por isso é que o negócio
é a declaração + vontade. A vontade é o essencial mas também é
verdade que se a vontade não for comunicada, declarada, não tem
significado. Não são muitos os casos mas, existem casos de atos
jurídicos simples que também são constituídos por uma declaração e
por uma vontade. Exemplo: perfilhação. Aqui pressupõe-se que o
perfilhante (aquele que até à perfilhação é o pretenso pai) quer
perfilhar. Mas enquanto ele não declara a perfilhação, para todos os
efeitos não há perfilhação. A perfilhação supõe-se que essa vontade
de perfilhar se manifesta de uma certa maneira. A perfilhação não é
um negócio jurídico mas do ponto de vista estrutural é semelhante a
um negócio. Isto significa que é constituída por uma vontade e por
uma declaração. Nesses casos – os chamados quase negócio jurídicos
– a semelhança com o negócio é muita e por isso as regras do
negócio podem ser aplicadas aos quase negócios por inteiro.

 Atos Materiais: ato jurídico que consiste em meros atos materiais,


como a ocupação (artigo 1318º) – consiste apenas em apoderar-se de
uma coisa móvel – e que se encontram muito distantes dos negócios
jurídicos. E portanto, em princípio, as regras do negócio jurídico não
lhe são aplicadas.

A Lei, sobretudo, leva em conta o Negócio Jurídico. Quer o facto, quer


sobretudo o ato jurídico simples encontra-se por marginalmente, primeiro, e
por aproximação.

Requisitos do Negócio Jurídico


Para haver negócio jurídico são necessários 4 requisitos: partes (os
sujeitos); capacidade (de gozo e de exercício); legitimidade (é de ter em
atenção que legitimidade é diferente de titularidade) e objeto (pode ser:
mediato – a coisa em si sobre o qual incidem todos os direitos e deveres ou
imediato – direitos e obrigações que incidem sobre a coisa).

Classificações do Negócio Jurídico


Estamos perante situações em que temos negócio. Portanto, existe uma
declaração de vontade só que existem várias formas de fazer declarações
de vontade e por isso fizeram-se classes de negócios.

1ª Classificação:

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

 Negócios jurídicos unilaterais: negócios jurídicos que têm apenas


uma única parte, qualquer que seja o número de pessoas que
compõem essa parte. Há negócios que só admitem uma pessoa a
intervir. Nesse caso, o negócio é necessariamente unilateral.
Exemplo: testamento.

 Negócios jurídicos plurilaterais: negócios jurídicos que têm 2 ou


mais partes. Por comodidade de linguagem aos negócios plurilaterais
chama-se mais simplesmente contratos. Portanto, o contrato é o
negócio jurídico com duas ou mais partes.

 É de ter em atenção que uma parte não tem de ser unicamente


composta por uma pessoa. Ou seja, a parte pode ser formada por
uma pessoa, e aí diz-se parte unipessoal como pode ser formada
por várias pessoas, parte pluripessoal

Habitualmente o critério que se utiliza faz a distinção pelos interesses, isto


é, todas as pessoas que naquele negócio sejam ouvidas pelo mesmo
interesse fazem uma parte. Ao contrário, se os interesses forem diferentes,
cada interesse dá origem a uma parte. Dois pontos quanto a isso, sendo o
primeiro mais importante:
1. A definição do que se diz como interesse é feita objetivamente. Não é
relevante o interesse que cada um tem. O que está em causa é o
interesse definido objetivamente
2. Por outro lado, quando os interesses sejam diferenciáveis – dá origem
ao contrato – supõe-se que os interesses de facto são diferentes, mas
de alguma forma são harmonizáveis.
Exemplo: numa compra e venda, há 2 interesses objetivamente
considerados ainda que de facto no caso concreto isso não funcione
assim. O vendedor quer sobretudo obter o preço mais elevado
possível, e o comprador tem como objetivo obter o menor preço
possível. Portanto à partida os interesses são diferentes.
Numa doação, o dador que enriquecer patrimonialmente a outra
parte, e quem recebe quer receber a doação com o menor dos
encargos possível.

De acordo com o artigo 405º do Código Civil, são denominados pela regra
da liberdade contratual. Nos contratos, em geral, as partes podem instituir
as clausulas que entenderam, e fazerem os contratos que quiserem.
Ninguém está obrigado a estar vinculado a um contrato a não ser que a lei
assim o exija. Ao contrário, pelo menos certos negócios unilaterais, estão
vinculados a limitações de qualidade e de quantidade – artigo 457º. Isto
quer dizer que, certos negócios unilaterais não são admitidos fora dos casos
previstos da lei. Só se admitem numa certa situação.

2ª Classificação:

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

 Negócios inter vivos: negócio cujos efeitos não prossupõem a


morte do/s autor/es.
 Negócio mortis causa: efeitos pressupõem a morte do/s autor/es.
Enquanto a morte não acontecer, não há efeitos. Exemplo:
testamento. Até ao falecimento, o autor pode fazer os testamentos
que quiser. Em geral vale o último.

A relevância que se dá ao facto de um negócio ser mortis causa é que como


este é apenas para produzir efeitos depois da morte e por causa da morte, a
lei geralmente dá maior autonomia. Como é para produzir efeitos depois da
morte, entende-se que o autor tenha a maior liberdade possível, dentro dos
limites, e sobretudo, seja ele a fazê-lo.

3ª Classificação:
 Negócios consensuais: em geral a lei não impõe restrições em
relação à forma (artigo 219º). De um modo geral os negócios são
consensuais, sendo, assim, a declaração de vontade livre

 Negócios formais: recorde-se de que um negócio tem 2 elementos:


a vontade e a declaração dessa vontade. Há que ter em atenção ao
significado de forma: modo de como a vontade se manifesta. De um
modo geral, a lei não impõe regras quanto ao modo através do qual
se faz a declaração – artigo 219º. No entanto, há situações – o caso
dos negócios formais – em que a lei exige, para que a vontade se
declare de forma válida, certo modo de manifestação. Isto traz
consequências: quando a lei existe um certo modo de manifestação
de vontade, a não observância dessa forma faz com que o negócio
seja nulo – artigo 220º. Exemplo: a compra e venda de um imóvel só
vale se for por escritura pública ou por documento autenticado.

4ªClassificação:
 Negócios reais quanto à Constituição: só estão acabados
/perfeitos/concluídos quando a coisa objeto desses negócios tiver sido
entregue. Enquanto a entrega não for efetuada o negócio não está
concluído. Exemplo: contrato de empréstimo, se tiver por objeto
coisa fungível chama-se mútuo, se tiver como objeto coisa infungível
chama-se comodato. Em qualquer caso só quando a entrega estiver
efetuada é que o contrato comodato ou mútuo é que estão
concluídos.

 Negócios consensuais: são aqueles que não são reais quanto à


Constituição. Quando um negócio jurídico tenha em vista, tenha por
efeito a transmissão de direitos sobre coisas, a regra é (artigo 408º/1)
é que essa transmissão de direito ocorra mesmo que a coisa não seja
imediatamente entregue. A ideia é, se A vende a B um automóvel ou
uma casa, o B passa a ser proprietário dessa casa no instante em que
o contrato estiver concluído, ou seja quando o acordo estiver obtido,

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

eventualmente acordo que passe a estar contido em documento


escrito se a Lei assim o exigir, no instante em que o acordo está
concluído. Nesse instante, o contrato está concluído e nesse instante,
os efeitos desencadeiam-se, entre eles a transmissão do direito sobre
a coisa. A regra é de que o A vende ao B, no instante em que o
acordo se obtém, o B passa a proprietário mesmo que o bem não lhe
seja imediatamente entregue. A isto se chama eficácia real dos
contratos – que têm por objeto transmitir direitos sobre coisas.
Eficácia real no sentido de transmitir de imediato o direito sobre a
coisa sem necessidade de novo ato prévio, ou posterior. Essa regra do
408º/1 tem diversas exceções entre elas está dos negócios reais
quanto à constituição.

5ª Classificação
Recorde-se que a quantidade de direitos que uma pessoa tem num certo
instante forma a chamada esfera jurídica. Essa esfera jurídica tem 2
partes: hemisfério pessoal – estão os direitos pessoais – e hemisfério
patrimonial – estão os direitos patrimoniais.
 Negócios Pessoais: versam sobre direitos pessoais. Exemplo:
casamento é negócio pessoal porque incide sobre direitos pessoais,
ou porque mexe/modifica direitos pessoais

 Negócios Patrimoniais: versam sobre direitos patrimoniais.


Exemplo: negócio patrimonial, na medida em que versa sobre
direitos patrimoniais

6ª Classificação
Esta classificação só faz sentido para contratos.

Unilaterais

Negócios Bilaterais
Plurilaterais ou Contratos
Unilaterais

 Negócios sinalagmáticos: na lei são os negócios bilaterais. São


aqueles que primeiro, geram obrigações para ambas as partes.
Segundo, essas obrigações são recíprocas no sentido de que uma
só existe por causa da outra e vice-versa. Exemplo: compra e
venda; o vendedor em termos muito genéricos, está obrigado a
entregar a coisa e o comprador está obrigado a pagar o preço. Só faz
sentido que o vendedor esteja obrigado a entregar no pressuposto
que o comprador está obrigado a pagar o valor da coisa. Tal como só
faz sentido que o vendedor esteja obrigado a pagar no pressuposto
que o vendedor esteja obrigado a entregar.

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

 Negócios não sinalagmáticos: na lei são negócios unilaterais. São


aqueles em que:
 Só existe obrigação para uma das partes
 Existem obrigações para ambas as partes mas não são
recíprocas.
Exemplo: doações. Se a doação for pura e simples, ou seja, se
não tiver encargos, só existe obrigação para uma das partes –
o doador – que é obrigado a dar a coisa doada. O donatário –
que recebe – não tem obrigações. Este é claramente um
contrato unilateral ou seja, não sinalagmático. A doação
porém, pode ter encargos (artigo 963º). O A faz doação do
imóvel ao B mas o B, porque o A lhe impõe isso assim, se
aceitar tem de cuidar do A até este falecer. Aqui já há
obrigações para ambas as partes: o A tem obrigação de
entregar a coisa doada e o B tem a obrigação de cuidar do A
enquanto este for vivo. Há obrigações para ambas as partes,
mas não são recíprocas porque uma não é causa da outra e
vice-versa. E por isso é um negócio sinalagmático.

O sinalagma das obrigações pode ser


 Genético: quando o negócio/contrato no qual o sinalagma está
inserido é de efeitos instantâneos. Exemplo: compra e venda
 Funcional: no caso em que os contratos têm uma duração temporal
mais ou menos longa. Exemplo: contrato de trabalho, contrato de
arrendamento. Nestes casos o sinalagma manifesta-se não apenas no
ato da celebração mas também ao longo de todo o tempo em que o
contrato está em vigor

Isto leva-nos às consequências da existência do sinalagma


Se o contrato for sinalagmático, daí decorrem automaticamente sem
necessidade de estipulação duas consequências:
 Exceção do não cumprimento (artigo 428º): se as obrigações
são interdependentes, daqui decorre que enquanto uma das partes
não cumpre, a outra tem o direito de não cumprir também. Exemplo:
na compra e venda, enquanto o vendedor não entrega, o comprador
tem o direito de não pagar. O contrato permanece em vigor, apenas
ficam suspensos. Enquanto se puder invocar a exceção os efeitos do
contrato ficam paralisados até que as partes se disponham a cumprir
as obrigações.
 Condição resolvida tácita (artigo 801º/2): caso o não
cumprimento de uma obrigação num contrato sinalagmático possa
ser tido como não cumprimento definitivo, a outra parte tem direito
de por termo ao contrato. Exemplo: na compra e venda; se o
vendedor não entrega, o comprador tem o direito de não pagar. Isto
pode ser assim enquanto o incumprimento do vendedor for tido como
incumprimento temporário – mora. Enquanto for apenas mora,
apenas atraso, a situação permanece apenas assim. Quando o

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

vendedor estiver em condições de cumprir e quiser cumprir o


comprador tem de pagar. O contrato volta a ter a eficácia normal. Ao
contrário se este incumprimento de obrigação de entrega da coisa
vendida já for qualificável como incumprimento definitivo, a partir daí
o contrato não fica só suspenso. A outra parte adquire o direito de
resolver o contrato e portanto de lhe pôr termo com fundamento no
incumprimento da obrigação desde que seja tido como definitivo.

7ª Classificação
Cruza-se com a anterior mas é totalmente independente. A distinção faz-se
atendendo á existência ou não de sacríficos patrimoniais recíprocos.
 Negócios onerosos: quando implica sacrifícios patrimoniais, perdas
patrimoniais para ambas as partes. Exemplo: compra e venda. O
vendedor perde a coisa e o comprador perde o valor da coisa em
dinheiro. Normalmente este dá para o contrato sinalagmático, mas
pode não ser assim.

 Negócios gratuitos: apenas uma das partes tem sacrifícios.


Exemplo: doação pura. O doador tem um sacrifício que consiste na
entrega do bem doado. O donatário não tem nenhum sacrifício.
Normalmente este dá para o negócio não sinalagmático, mas pode
não ser assim.
Esta distinção é uma distinção gradativa, faz-se em diversos graus, e por
isso no rigor há negócios mais e menos onerosos, e negócios mais e menos
gratuitos.

Todas as classificações anteriores são classificações dicotómicas ou


polares, isto é, ou é uma ou é outra.

8ª Classificação:
Os negócios onerosos, por sua vez dividem-se em:
 Comutativos: quando exista equivalência de prestações, ou seja,
quando o valor patrimonial ou valor económico de cada uma das
atribuições patrimoniais seja equivalente, mais ou menos equivalente
ao valor económico da outra prestação, do outro sacrifício. A ideia é,
numa compra e venda, em princípio o valor que se paga é mais ou
menos o valor de mercado que o bem vendido terá. Não há
exatamente meios para medir a equivalência. Há meios para medir a
não equivalência. Isto é, se a falta de equivalência for muito
acentuada pode eventualmente estar preenchido o chamado negócio
usurário. Caso em que se pode anular o negócio celebrado,
justamente e, porque há um grande desequilíbrio de prestações,
desde que esse desequilíbrio não seja pretendido por uma das partes.

 Aleatórios: são aqueles em que por definição há um risco envolvido,


pelo menos para uma das partes. E portanto para essa parte, quer a

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

existência da contra prestação, quer o montante da contra prestação


é aleatório, ou seja, à partida não sabe qual é. Exemplo: a compra e
venda, em geral, é comutativa, mas a lei admite que em algumas
circunstâncias seja aleatória. Se por exemplo, o A vende ao B, agora a
produção de vinho do ano de 2020. A lei admite que as partes fixem
já um preço, e portanto de imediato diz-se que a produção custa
20.000€ independentemente da quantidade de uva que se apanhar
em 2020. Há um risco para ambas as partes. Mas se produzir-se mais
do que o habitualmente, quem perde é o vendedor porque vende
abaixo do preço; se produzir a menos quem perde é o comprador é
quem perde porque está a pagar mais do que o que se pagaria.

Embora a Lei não o diga explicitamente, a regra é que os negócios


onerosos são comutativos. Só se admitem negócios onerosos aleatórios
quando a própria lei os admita. As partes não podem contratar
aleatoriamente fora das condições em que a lei admite que o contrato
seja aleatório.

9ª Classificação
 Negócios/ Atos de administração: são aqueles que, de um
modo geral, têm em vista a manutenção do património e,
portanto, são negócios que têm em vista a normal fruição –
obtenção de rendimentos – ou conservação desse património.
Exemplo: fazer colheita de uva ou azeitona; dar de arrendamento
uma casa ou um terreno para tirar rendimento a partir de um
determinado bem

 Negócios/ atos de disposição: são aqueles que não sejam de


administração; que excedem a fruição ou conservação; são
negócios que têm em vista proceder a alterações profundas do
património. Nestes negócios, o ato excede a fruição ou
conservação de modo a que implique uma transformação
patrimonial. Exemplo: geralmente a compre e venda de um
imóvel é um ato de disposição porque o património da pessoa fica
alterado. Em vez do imóvel, passa a ter o dinheiro correspondente
desse imóvel.

Esta classificação releva sobretudo para uma coisa: sempre que exista
representação legal, sempre que alguém deva ser representado por outra
pessoa, o representante legal só tem poderes de administração e nunca de
disposição. Tratando-se de representação voluntária, ou seja, representação
através de nomeação de um procurador já se admite que o representado
possa dar ao procurador poderes de disposição mas tem de ser
especificado. Ou seja, através da procuração pode-se dar poderes de
administração geral. Mas para dar poderes de disposição é preciso
especificar quais é que são.

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

10ª Classificação
 Negócios causais: é aquele que a respetiva razão de ser, portanto,
a causa que motiva a sua celebração é relevante para a fixação dos
efeitos. Se a causa não existir ou não for válida, o negócio causal não
pode ter efeitos
 Negócios abstratos: é aquele que a respetiva causa não tem
relevância para a fixação de efeitos. Pelo menos não tem relevância
para a fixação de efeitos perante terceiros. Exemplo: endosso do
cheque.

A regra é os negócios serem causais

11ª Classificação
 Negócios Fiduciários: fidúcia significa confiança. E portanto o
negócio é fiduciário quando assenta na confiança. Dizer-se que é
fiduciário, significa dizer que uma das partes dá à outra
objetivamente poderes que espera, que confia que a outra não vai
exercer. Portanto, por outras palavras, em rigor, uma das partes que
é o fiduciante – aquele que confia – dá poderes que noutras
circunstâncias que não o faria. Mas justamente porque os dá, espera
que o fiduciário – quem recebe essa confiança – não exerça esses
poderes que lhe foram conferidos.

Exemplo: o A vendeu uma casa ao B. O B não tem dinheiro suficiente


para a adquirir e por isso pede emprestado a C. Mas para garantia de
que o B vai pagar o montante emprestado, o B hipoteca a casa que
comprou a favor do C. – aqui ainda não estamos perante um negócio
fiduciário. O B é proprietário, só que ao dar de hipoteca a favor do C,
sujeita-se a que caso não pague, o C penhore a casa e faça a venda
em hasta pública da casa em questão. Agora suponha-se que – agora
passamos para negócio fiduciário – o C não empresta o dinheiro
nestas condições. E por isso B, em vez de hipotecar a favor do C,
vende a casa ao C a troco do dinheiro correspondente ao dinheiro
emprestado. Mas fica convencionado que quando o B pagar aquilo
que respondeu de empréstimo, nessa altura o C tem de retransmitir
ao B. O fiduciário encontra-se no facto de para todos os efeitos o C
passou a ser o proprietário. O C não tem apenas uma hipoteca, mas é
o proprietário. E portanto, como proprietário ele pode fazer tudo
aquilo que um proprietário pode fazer. E portanto, por exemplo, o C
pode vender outra vez. Em rigor está a violar o acordo estabelecido
com B. O C seria responsabilizado pelos danos causados a B mas a
casa estaria vendida. O acordo entre D e C seria válido. A fidúcia está
em o B conceder ao C objetivamente a propriedade. Mas o B em
função do acordo estabelecido, espera/confia, que o C não use os
poderes que o direito de propriedade lhe confere. Tem-nos mas é de
esperar que não os use. O risco que o fiduciante – o B – corre nestas
circunstâncias é de o fiduciário – o C – ser infiel, no sentido que

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

exerce/atua os poderes que não se esperava que ele atuasse. O que


importa reter é que através do negócio fiduciário dão-se poderes que
se espera que não se exerçam.

 Negócios Indiretos: são aqueles em que as partes utilizam um


negócio típico, ou seja, um negócio previsto na lei para desempenhar
uma função diferente daquela que está prossuposta na lei. Exemplo:
compra e venda por preço simbólico. A compra e venda é um negócio
típico que está previsto na lei, mas a função deste negócio é
promover a troca de bens, é promover a troca de um bem em
dinheiro por outro bem qualquer. Quando se vende por preço
simbólico, a compra e venda não está a desempenhar a sua função
típica. Está a desempenhar no fundo a função da doação. Negócio
indireto porque se chega aos efeitos da doação através de uma
compra e venda. A ideia central é de que no negócio indireto o que é
indireto é o fim prosseguido. Utiliza-se um negócio típico mas através
desse negócio obtém-se um objetivo que corresponde a outro negócio
qualquer típico ou atípico.

A ideia central é de que, em princípio qualquer negócio pode servir para ser
indireto ou fiduciário. Depende de como as partes clausulam, constroem o
negócio através das cláusulas que inserem.

Declaração e Vontade
O negócio jurídico é formado por 2 elementos estruturais: vontade e
declaração. A vontade é um fundamento dos efeitos, ou seja, a ideia geral é
que, os efeitos do negócio produzem-se porque as partes os quiseram. Ou
seja, não é a lei que determina os efeitos, é a vontade que os determina
ainda que seja de um modo geral e abstrato. A declaração é um modo
através do qual a vontade se manifesta.

A declaração pode distinguir-se em:


 Recetícia: a regra geral é: o negócio só existe se a vontade estiver
declarada. Portanto, manifestada para o exterior, mas há situações
em que essa manifestação de vontade tem que chegar ao
conhecimento de outra pessoa, ou pelo menos ao poder de outra
pessoa. Só há efeitos quando a declaração é conhecida, ou pelo
menos chegar ao poder da pessoa. Exemplo: proposta contratual.
Quando alguém faz uma proposta contratual do que seja,
evidentemente essa proposta só terá efeitos quando chegar ao
conhecimento ou ao poder da pessoa destinatária da proposta. Até lá
não produz efeitos. Para este efeito tanto vale o conhecimento efetivo
como o conhecimento potencial – o conhecimento potencial é o
“chegar ao poder”. Aqui aparece a teoria da receção: considera-se
que chegou ao conhecimento, quando for recebido, quando chegou
ao poder do destinatário. Nessa altura produziu efeitos, ainda que

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

realmente, efetivamente não chegue ao conhecimento. Quando


chega ao conhecimento, os efeitos são produzidos.

 Não recetícia: são aquelas em que não é necessário que chegue ao


conhecimento da outra pessoa para produzir efeitos. Exemplo:
testamento. O testamento produz efeitos no instante em que o autor
do testamento faleceu. Nesse instante o testamento desencadeia
todos os seus efeitos. Claro que, para que na prática, enquanto os
herdeiros, beneficiários não o conhecerem é como se não existisse
mas os efeitos juridicamente estão produzidos. No instante em que a
pessoa faleceu abriu-se o testamento e por isso atribuiu-se o direito
de suceder aos herdeiros que foram designados no testamento, quer
estes saibam ou não. Aqui já não se segue a teoria da receção, mas
sim a chamada teoria da emissão: assim que a vontade é
declarada, portanto, assim que é emitida, nesse instante os efeitos
desencadeiam-se qualquer que seja o destino, portanto quer chegue
ou quer não chegue ao conhecimento de pessoas a quem
eventualmente devia ter chegado. Está dito de uma forma muito
genérica no artigo 224º

Modalidades da declaração
A partir daqui tanto faz que sejam declarações recetícias ou não recetícias.
A distinção elementar faz entre:
 Declaração por ação: há situações em que a vontade é declarada
mediante a prática de atos, um ou vários. A declaração por ação –
artigo 217º - distingue-se em:
 Declaração expressa: a declaração é expressa quando se
manifesta através de um meio direto de manifestação de
vontade. Um meio é direto quando se utiliza um código de
comunicação que é unívoco, só tem um sentido possível, para
os intervenientes. Exemplo: se alguém declara por escrito “eu
vendo” essa expressão tem um sentido unívoco para ambas as
pessoas. A mesma coisa serve para quando no casamento a
pessoa diz “eu aceito” mesmo que não seja por escrito. Se num
código conhecimento por duas pessoas fazer não com a cabeça
vale sim, então para as duas pessoas esta declaração também
é expressa.
 Declaração tácita: a tácita é uma modalidade de declaração
por ação, portanto, supõe um comportamento qualquer. A
declaração é tácita, quando se utiliza um meio indireto de
manifestação da vontade. Portanto, um meio indireto de
comunicação é aquele que não tem um sentido unívoco. Se de
entre os vários sentidos possíveis haver um que tem uma
grande possibilidade de prevalecer, um que tiver grande
probabilidade de corresponder à vontade, então a declaração é
tácita nesse sentido.

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

Exemplo: vende-se um livro à experiência, para a pessoa ler e


se lhe interessasse ficava, comprava portanto. Se não lhe
interessasse não ficava. E então, fixa-se um prazo. Ao fim de
uma semana tem que dizer sim ou não. Ao fim de uma
semana, a pessoa não disse nem sim ou não, mas sublinhou
diversas partes do livro com esferográfica e assinou com o seu
nome na primeira página. Isto não diz com certeza que a
pessoa quer ficar com o livro, mas de entre os vários sentidos
possíveis que se pode tirar deste comportamento, o mais
provável é que a pessoa quis aceitar. Caso não quisesse, não
teria assinado o seu nome, nem sublinhado, diversas partes a
caneta. Portanto, pode-se garantir, com elevado grau de
certeza – artigo 217º/1 – que a pessoa quis aceitar. Sublinha-se
este ponto: pode-se assumir que a pessoa quis isto assim
porque praticou atos que embora não sejam diretamente
dirigidos à manifestação de vontade, permitem tirar uma
elação – tecnicamente chama-se tirar uma presunção. De todo
o modo, para a declaração ser tácita supõe-se ainda um
comportamento.

Exemplo 2: uma pessoa na praia, sentou-se numa


espreguiçadeira. E o trabalhador informou que para ficar lá o
dia todo seriam 15€. A pessoa não disse nem que sim, nem
que não, mas ficou lá o dia todo. Não há dúvida de que tem
pagar. A questão é se aceitou o contrato de aluguer da
espreguiçadeira ou não. E se aceitou como é que aceitou, se foi
expressa ou tacitamente. A pessoa tem um comportamento
depois de avisada, ter conhecimento o que se cobrava para
aquele efeito, continuou a dar uso à espreguiçadeira.
Consequência, a declaração é tácita. Aceitou tacitamente o
contrato de aluguer.

De um modo geral, isto tem relevância sobretudo como rigor do


que com grandes implicações. De um modo geral a lei aceita tanto
a declaração expressa como a tácita. Quer se declare expressa,
quer se declare tacitamente o que importa é que se declarou. Há
contudo situações, em que a lei exige declaração expressa. Ou ao
contrário, está proibida a declaração tácita. Nesses casos temos
de saber que o comportamento indireto nem sequer vale.
A declaração tácita resulta de uma presunção. Isto é, presume-se
a partir dos atos praticados que a pessoa quis de uma certa
maneira. Portanto manifestou alguma vontade, seja qual for. Essa
presunção de vontade tira-se a partir de factos, dos atos
praticados. Os atos que dão base à presunção, que permitem
presumir, chamam-se factos concluentes.

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

Quando a lei exige documento escrito, desde que não seja


comportamento solene, permite-se que esse documento tenha
sido observado no facto concluente.

 Declaração por omissão: há situações em que a vontade é


declarada, ou pelo menos presumidamente declarada por omissão,
ou seja, faltando de todo um comportamento. Nestes casos presume-
se a vontade. Ao contrário da declaração tácita, o silêncio – artigo
218º - é uma modalidade de declaração por omissão. É a única
modalidade de declaração por omissão. Na lei, declaração por
omissão e silêncio são equivalentes. Utiliza-se a expressão silêncio
como omissão de comportamento. De qualquer comportamento com
significado.

Exemplo: utilizando o exemplo da venda do livro à experiencia.


Imagine-se que desta vez, a pessoa apenas leu o livro. Não sublinhou,
não riscou, não colocou nada. Em rigor, fazer alguma coisa até fez:
leu o livro. Mas isso não é suficiente para tirar a elação de que
aceitou. Portanto, até tem um comportamento, mas esse
comportamento não é suficientemente significativo. Para todos os
efeitos é silêncio. Há omissão de um comportamento declarativo.

É necessário saber se o silêncio vale ou não vale para vincular.


Portanto, uma coisa é saber quando é que há silêncio – há silêncio
quando se omite um comportamento com significado – outra coisa é
saber se esse comportamento tem um valor qualquer ou não. Ou
seja, se vincula. Juridicamente, de um modo geral, quem cala não
consente. Portanto não se pode tirar uma elação, qualquer que ela
seja, do silêncio. O facto de uma pessoa ter omitido um
comportamento significativo, é porque não quer declarar o que quer
que seja. Não quer que a sua vontade se manifeste seja em que
sentido for. Por regra o silêncio não tem vincula, não tem valor
declarativo e portanto não pode daí extrair-se qualquer significado
seja qual for. O artigo 218º diz em que circunstâncias excecionais é
que se pode dar o valor significativo ao silêncio. O silêncio não pode
vincular, não pode em geral ter significado porque caso contrário
impúnhamos obrigações de fazer algo às pessoas para não ficarem
vinculadas.
Exemplo: algures durante o verão 2017 uma operadora de telemóvel
enviou SMS’s para os assinantes a dizer: “oferecemos x Gb de dados
a 2.99€ por mês. Se não quiser ligue para este número”. Portanto, em
princípio está presumido que as pessoas querem. Quem não quiser
tem de ligar para o número e lá na marcação automática, tem de
clicar na opção “não quero”. Obviamente que isto não pode ser
assim. Porque apesar de não dar muito trabalho ligar para o número,
a verdade é que estão a impor às pessoas a obrigação de fazer
quando as pessoas não contrataram o que quer que seja e por isso

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

não deviam estar obrigadas a fazer o que fosse. Se a pessoa nada


dissesse depois de receber o SMS, não se podia extrair daí a elação
de que ficava obrigada a pagar os 2.99€. Porque não cabe em
nenhuma das exceções do 218º e por isso, regra, o silêncio não
vincula. A ideia central é de que, se o silêncio pudesse vincular,
qualquer um poderia impor a outra pessoa obrigações de fazer para
não ficar vinculado, quando essa pessoa não contratou o que quer
que fosse nem teve nenhum comportamento inicial que permitisse
essa elação. Portanto, o silêncio só pode ter algum efeito vinculativo
quando haja algo que permita atribuir esse valor ao silêncio – título
excecional. Isso acontece pelo artigo 218º.

O silêncio tem valor declarativo e portanto significa algo em 3


hipóteses:
• Quando esse valor significativo tenha sido atribuído por acordo
das partes (por contrato, as partes são livres de fazerem o que
quiserem)
• Por lei (contrato de arrendamento, ao fim de x tempo renova se
a pessoa não disser nada em contrário)
• Por uso (fornecedores, recebem de x em x anos comida, roupa,
etc., sem ser preciso aceitarem ou não)
Só nestas situações é que o silêncio vincula, e se nenhuma das situações se
observar o silêncio não vincula.

A declaração tácita assenta em partes concluentes, ou seja, a declaração


tácita realmente, efetivamente não existe. É uma conjetura plausível que se
tira a partir de factos que provavelmente permitem com alguma segurança
afirmá-la. Uma coisa é dizer, “sim, quero vender”; “sim aceito casar”; “sim,
faço esta doação”, outra coisa é extrair-se esta elação a partir de factos que
indiretamente não têm em vista transmissão de qualquer vontade.

Portanto, nunca há – no caso da declaração tácita – certeza de que


efetivamente a pessoa a quem se imputa essa declaração tivesse
pretendido, efetivamente, aquele efeito. É apenas plausível, é o mais
seguro, mais certo, pode-se afirmar com relativa segurança. Mas certeza
não há.

A ligação que existe entre os factos que permitem tirar essa elação ou
dedução e a própria declaração tácita é aquilo que se chama presunção.
As presunções são portanto, meios de prova (é assim que a lei os qualifica
nos artigos 349º-351º) mas que assentam apenas numa elação que se
extrai a partir de factos que autorizam essa elação. As presunções podem,
tecnicamente, ser de duas espécies:
 Legais: são aquelas que a lei estabelece. Para haver presunção legal,
é preciso que a lei estabeleça qual é o facto concluente e qual é a
elação que se tira a partir desse facto. Exemplo: no artigo 1260º/2
quando se diz: “a posse não titulada presume-se de má-fé.” A lei

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

primeiro, identifica qual é o facto concluente – posse não titulada – e


depois identifica também a elação que se tira daí – se é não titulada
presume-se que é de má-fé. Até se pode dar o caso de efetivamente,
na realmente ser de boa-fé mas a lei à partida extrai uma elação a
partir de uma prestação de um facto. Desde que se prove que a
posse seja não titulada, aí então presume-se que seja de má-fé.
Normalmente, como regra são ilidíveis, mas excecionalmente podem
ser inilidíveis. Em geral a presunção deve ser ilidível, isto porque
pode dar-se o caso de ter sido mal tirada; ou seja, pode dar-se o caso
de a elação que se extraiu daqueles factos não ser a certa.
Especialmente se forem judiciais.
 Ilidível: aquelas que admitem a prova do contrário; ou seja,
aquelas que não obstante de estarem estabelecidas, cedem,
têm de ceder se alguém fizer a demonstração do contrário.
Não basta criar dúvidas na convicção. É preciso demonstrar o
contrário daquilo que sucedeu para que a presunção ceda.
 Inilidível: não admitem prova do contrário, mesmo que fosse
possível fazer, não admitem. Exemplo: no mesmo artigo, nº3
a lei estabelece que a posse violenta é sempre de má-fé.
Portanto, ainda que eventualmente fosse possível demonstrar
que o possuidor estaria de boa-fé, ainda assim, essa elação
não se pode tirar, essa prova não se pode fazer porque a
presunção é inilidível. Ou seja não admite a demonstração de
que não foi ou é assim.

 Judiciais: são tiradas pelo próprio julgador. Não tem de ser em tribunal
embora regularmente seja em tribunal. São tiradas pela pessoa que
julga uma situação qualquer e assentam numa elação que essa
pessoa tira a partir de factos que foram provados. Portanto, há
sempre uma certa dose de pelo menos discricionaridade. Espera-se
que não chegue à arbitrariedade, mas certamente discricionaridade
haverá. Pode haver elações que um julgador tira para este caso tira
que outro não tiraria nestas mesmas circunstâncias. As presunções
judiciais são sempre ilidíveis, admitem sempre a prova do contrário.

As declarações tácitas assentam sempre numa presunção judicial – são


sempre tiradas pelo julgador – e sobretudo, depois, por isso mesmo como
são judiciais, admitem prova do contrário, são ilidíveis.

Formação do Contrato
Qualquer contrato, como regra, pode-se formar por declaração expressa,
tácita ou silêncio. O código para este propósito regulou apenas o chamado
processo típico de contratação. Aquilo que a lei regulou, que é o tradicional,
é o esquema de contratação que assenta numa proposta e uma aceitação. A
ideia é que, em geral, para se formar um contrato é necessário que alguém
formula uma proposta, que a dirija ao respetivo destinatário, e que este
aceite. Só com a aceitação é que o contrato está formado. Ate lá, há apenas

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

declarações emitidas e proferidas mas que não têm eficácia normal no


contrato.

Requisitos da proposta:
 Completa: só se determinada depois da aceitação. A ideia central é
de que a declaração deve conter todos os elementos que forem
necessários para a formação do contrato de modo a que baste a
aceitação pura e simples (sim, aceito) para que o contrato se forme.
Só depois de proferir a aceitação é que conseguimos perceber se a
proposta tinha todos os elementos necessários. Se não os contém, no
rigor, não é proposta. Ex: quando as pessoas querem vender um
automóvel é normal as pessoas colocarem um papel com um número
de telemóvel. Imagine-se que há alguém que vê e liga e a primeira
coisa que diz é sim, aceito. Mas ele não aceita nada. Não sabe o
estado interior do carro, preço, se o carro até anda, etc. Há uma serie
de pormenores suplementares dos quais depende a celebração.
Portanto, por outras palavras, isso não é uma proposta. O que não
respeita os requisitos para ser proposta é tido como convite a
contratar (é juridicamente indiferente; só por si não tem efeito; a
proposta tem efeitos). A ideia central é de que, se a declaração não
tiver tudo o que é necessário para a aceitação pura e simples só pode
ser tida como convite a contratar.

 Firme: a declaração além de completa tem de ser firme. Firme


significa que deve revelar uma vontade inequívoca de contratar.
Portanto, o proponente deve estar a manifestar sem duvida que quer
contratar. Se está apenas a experimentar o interesse dos demais, o
caso não é de proposta mas sim de convite a contratar.

 Forma/Formalmente suficiente: se a lei exigir uma forma escrita para


o contrato que se pretende celebrar, a proposta deve revestir essa
forma. Como estamos a excluir à partida aqueles negócios que são
feitos mediante um documento que incorpora todas das declarações
(ex: escritura pública, compra e venda ou doação) estamos a excluir
isso do âmbito do esquema de proposta à celebração e significa que
este requisito só pode funcionar naqueles casos em que a forma que
a lei exige para o negócio, contrato a celebrar é uma forma simples
mas não solene, portanto um simples documento particular. Portanto,
estamos sempre no pressuposto que para o efeito deste contrato em
causa, a lei apenas exige no máximo um documento particular. Nesse
caso é pensável que a proposta se faça já, mediante documento
particular. Depois a aceitação irá surgir noutro documento. Juntando
os dois documentos, temos o contrato.

Não cumprir estes requisitos, no máximo haverá um convite a contratar.


O convite a contratar só por si não tem efeitos. Juridicamente é irrelevante.
Acontece é que o convite a contratar pode surgir dentro de um processo de

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

negociação. E durante o processo de negociação, os contraentes, as partes,


as futuras partes, devem atuar segundo a boa-fé – artigo 227º. Logo se
durante esse processo de negociação, incluindo o convite a contratar,
houver violações da boa-fé, aquele que as violar pode responder por danos
nos termos do artigo 227º. O convite a contratar, indiretamente pode ter
efeitos através do artigo 227º. Só por si, o convite a contratar não é fonte
de efeitos jurídicos.

Ao contrário, a proposta tem efeitos. A declaração que for proposta tem


efeitos. Um desses efeitos é que assim que a proposta chega ao poder do
seu destinatário este fica com o direito de a aceitar ou rejeitar. Isto é um
efeito jurídico ligado à proposta que não se verifica se for convite a
contratar.

O contrato só fica concluído quando, recebida a proposta o seu destinatário


a aceitar. Só com a aceitação é que o contrato fica concluído. Portanto, o
contrato supõe por definição 2 declarações: a proposta e a aceitação.

A aceitação, para ser aceitação, portanto para que haja uma declaração de
aceitação é preciso que seja pura e simples: “sim, aceito” “sim, concordo”
tem de ser pura e simples. Porque se for “sim, mas”; este mas por muito
pequena que seja a exceção que se faz, a ressalva, a verdade é que este
“mas” é uma modificação que se pretende introduzir. Portanto não é
aceitação pura e simples. Portanto em rigor se se diz “sim, mas” no rigor
não se está a aceitar. Está-se a concordar com tudo menos com alguma
coisa. O simples facto de o destinatário da proposta estar a proferir a
aceitação com este “mas”, com esta ressalva, significa para todos os efeitos
que não está a aceitar. Está quase a aceitar, o acordo está prestes mas
ainda não foi obtida. A aceitação com ressalvas para todos os efeitos
equivale a rejeição. Aceitar com ressalvas é não aceitar. Para todos os
efeitos é rejeitar. Eventualmente a lei aceita esta hipótese: se as ressalvas
feitas forem muito precisas, se se entender claramente o que se quer com a
ressalva então passa a “aceitação com modificações2 passa a valer como
contraproposta. O resto é idêntico. O que seria o aceitante passa a
proponente – invertem-se os papéis. Se isto for assim, nesse instante
conclui-se o contrato. Nos termos do artigo 232º o contrato só está
concluído quando as partes chegam a acordo sobre todas as circunstâncias,
todos os elementos, que cada uma delas considera essenciais. A
essencialidade que está aqui em causa não é a essencialidade objetiva. O
que está aqui em causa não é saber se aqueles elementos em causa são
efetivamente essenciais ou não. O que importa é o que é que as partes
consideram essencial ou não. A essencialidade é subjetiva. A discrepância
entre uma parte e outra pode surgir apenas sobre o local onde se irá
celebrar o contrato, por exemplo.

Efeitos da proposta

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

Essencialmente 1 efeito. de acordo com o artigo 224º/1 a proposta torna-se


eficaz quando:
 Chega ao poder do seu destinatário: quando chega ao pode
presume-se que é conhecida, ainda que não seja.
 É conhecida do seu destinatário: quando é conhecida, não
importa como, também não importa se chegou ao poder ou não. O
que importa é que é conhecida ou não.
Portanto, num destes 2 momentos, o que suceder primeiro, a proposta
torna-se eficaz. Tornar-se eficaz significa atribuir ao destinatário da
proposta o direito de aceitar ou rejeitar. O direito de aceitar é potestativo.
Portanto, o destinatário da proposta tem o direito de concluir o contrato
mesmo que o proponente já não o queira. O proponente formulou a
proposta, enviou a proposta. A partir do instante em que ela é conhecida ou
chega ao poder do seu destinatário, o proponente já não pode voltar atrás
porque está sujeito à aceitação. O destinatário tem o poder de concluir o
contrato aceitando-o e portanto, está nas suas mãos decidir se fecha ou não
o contrato.

Isto retira-se especialmente a partir de uma elação que se extrai da própria


lei. É que o proponente, uma vez que a proposta esteja no poder, recebida
ou conhecida, já não a pode revogar, não pode voltar atrás. E isso significa
que está sujeito a aceitação. Quando a aceitação for proferida, nesse
instante conclui-se o contrato. Claro que a aceitação tem um prazo para ser
proferida. Normalmente o prazo é o que tiver sido estabelecido pela própria
proposta. Portanto, a proposta dura pelo tempo que o próprio proponente
lhe avisou. Na falta de fixação de uma duração pelo proponente vigoram os
prazos coletivos do artigo 228º. O destinatário da proposta, portanto, se
quer concluir o contrato, tem de aceitar dentro desse prazo. Se não o faz
caduca o direito de aceitar e portanto, a aceitação já se torna carente de
decidir. Já não faz sentido aceitar. O destinatário da proposta em vez de
deixar o prazo caducar pode simplesmente rejeitar no momento. Sem deixar
chegar ao termo do prazo, rejeita. Nesse caso a proposta torna-se ineficaz.

Se o destinatário em vez de aceitar com modificações, isso equivalerá como


contraproposta desde que as modificações introduzidas sejam suficientes
para permitir a concluir por essa contraproposta. Invertem-se os papéis: o
proponente passa a aceitante e vice-versa. Invertem-se os papéis no sentido
que a partir daí, da aceitação com modificações, é algo anterior ao primeiro
proponente que fica a caber o direito potestativo de aceitar. E portanto é o
aceitante que faz aceitação com modificações que fica sujeito à aceitação
da outra parte se esta quiser aceitar como é evidente.

Processo de Contratação
Tipos de contratação:
 Sobre documento
Designadamente, pelo menos, naqueles casos em que a lei exija, ponha a
observância de uma forma específica para celebrar um contrato,

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

designadamente forma escrita, compra e venda de imóveis, doação de


imoveis, etc.; nesses casos a separação entre proposta e aceitação não é
possível, não é viável. Ex: compra e venda de imóvel que é feita por
escritura pública. Não é possível separar, nem sequer idealmente, quem é
que naquele caso fez proposta e quem é que fez a aceitação. Se foi o
comprador ou o vendedor. Porque nos termos em que o documento é
redigido, isso não é percetível e dali não resulta quem é que iniciou a
contratação e quem a concluiu. Diz-se então que não há exatamente uma
conjugação de declarações mas que há apenas uma declaração única
chamada declaração conjunta. Nesta hipótese diz-se que o modelo
proposta-aceitação não funciona de todo. E portanto, tudo o que está
disposto entre os artigos 224º ao 233º não é aplicável porque a hipótese
não consegue enquadrar-se aí. Claro que, até chegar à declaração conjunta,
até chegar à escritura pública de compra e venda por exemplo, ou ate
chegar ao documento autenticado da doação, houve negociações. Com
certeza, o acordo está concluído antes de ter sido formalizado. Caso
contrário a formalização nem se concluiria. Mas tudo isso que sucede até ao
momento da formalização é processo de negociação. Não é ainda contrato.
O acordo em termos substanciais já está obtido. Mas juridicamente esse
acordo só vale quando estiver incluído no documento. Até se fazer o
documento, para todos os efeitos, o contrato não existe. Para todos os
efeitos há um processo de negociação, eventualmente muito avançado,
eventualmente já até concluído em termos práticos, mas que enquanto não
estiver pormenorizado implica que não há contrato. Portanto, o contrato só
existe, ainda que seja uma pura formalidade, quando estiver contido no
documento que a lei exige para o efeito.

 Contratação automática
Português para, em geral, vending machines. Contratação automática dá-se
quando uma das partes contrata através de um autómato. Evidentemente o
consumidor não contrata com a máquina. A máquina não é pessoa. O
contrato é celebrado com aquela pessoa que coloca a máquina ali para
contratação. Aqui já dá para distinguir proposta e aceitação. O problema é
saber quem faz a proposta e quem faz a aceitação. Exemplo: se uma
pessoa estiver com um problema de saúde e precisar de uma garrafa de
água e alguém, por essa pessoa, vai à máquina e coloca 50 cêntimos para
tirar a garrafa de água. E a máquina não funciona e não dá a garrafa de
água. Há conta disso a pessoa teve de ser conduzia ao hospital, o seu
problema de saúde foi mais sério do que o que seria se a pessoa tivesse tido
acesso mais rápido à água e portanto essa pessoa tenta responsabilidade
civil por danos causados contra aquele que explorava a máquina. Com
fundamento no facto de que se a simples existência da máquina já formaliza
a proposta, e se quando nós colocamos a moeda estamos a aceitar, significa
que assim que a moeda entra, pelo menos se não for devolvida, não
fornecendo o produto mas ficando com a moeda; o contrato está concluído
porque nós aceitamos mas não foi cumprido. Se nos aceitámos, cumprir o
contrato significaria fornecer a garrafa. Se ela não é fornecida, há

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

incumprimento contratual. O normal é sempre que há incumprimento


contratual e o incumprimento gere danos, aquele que não cumpriu as suas
obrigações contratuais é responsável pelos danos que isso cause. No caso
concreto a hipótese seria que quando a pessoa colocou a moeda para obter
a garrafa de água, a máquina ficou com a moeda mas não entregou a
garrafa, portanto o proprietário ou concecionário da máquina entraram em
incumprimento contratual e como é normal respondem por todos os danos
decorrentes do incumprimento das respetivas obrigações. A partir daí é
simples. Se há um contrato celebrado e o contrato não é cumprido as
obrigações não cumpridas geram responsabilidade contratual sempre que
dali decorra dano para alguém.

Tem-se entendido, geralmente, que quem faz a proposta é quem coloca a


moeda. E portanto, isto para evitar que se gere responsabilidade contratual
de cada vez que a máquina não funcione devidamente, o entendimento
habitual é no sentido de considerar que a existência da máquina é só
convite a contratar. Constitui só um convite a contratar. E que quem faz a
proposta é o consumidor. A máquina, ou seja, quem explora a máquina
aceitará ou não consoante fornecer ou não o produto. Pode ser que não
forneça o produto porque ele não exista, ou porque a máquina não está a
funcionar corretamente. O que importa é que a aceitação fica do lado de
quem explora a máquina. Simplificando, fica do lado da máquina. E
portanto, haverá contrato concluído ou não, consoante a máquina forneça o
produto pretendido ou não.

Nas situações em que a máquina tem capacidade deliberativa, e portanto


não se limita a fazer aquilo para que foi pré-programada, mas tem
capacidade para reagir conforme as circunstâncias. O que está em causa é
saber se a máquina é que é a pessoa ou se é quem explora a máquina que
é a pessoa.

 Contratação em autosserviço
É o mesmo género da anterior. Para todos os efeitos é self-service. Já não é
contratação por máquina, mas é uma contratação através do próprio
adquirente dos bens.
Ex: bombas de gasolina. Considera-se que de facto a bomba que está
aberta constitui apenas convite a contratar; o utente, o consumidor é que
faz a proposta quando coloca o veículo junto à bomba e essa proposta será
aceite ou não consoante a bomba funcione ou não funcione. Se não
funciona significa que não houve aceitação e não há contrato. Haverá
aceitação ou não consoante o combustível for fornecido ou não.

Quer na contratação em autosserviço, quer na contratação automática, em


qualquer dos casos, o modelo proposta-aceitação funciona. A questão mais
discutível é saber quem é que a faz. Quem faz a proposta e quem faz a
aceitação. Mas mesmo assim há duas declarações separadas. Consegue-se
perceber que de um lado há proposta e do outro há aceitação.

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

A contratação eletrónica permite distinguir proposta e aceitação, cabe no


modelo de proposta e aceitação. Nas contratações em autosserviço e
automática também.

Artigo 227º
Enquanto o contrato não estiver concluído, não há contrato. Só há contrato
quando o acordo tiver sido obtido (artigo 232º). Só há contrato quando
todas as partes estiverem em acordo sobre todos os elementos que cada
parte considerou essenciais. Quando eventualmente a lei exija um certo
documento para o efeito, esse acordo só é contrato quando estiver contido
no documento. Em termos práticos, o acordo está obtido antes, o contrato
está feito antes, mas enquanto não for passado para o papel não há
contrato. Portanto, tudo o que antecede o contrato, seja muito longo e
delicado, seja muito curto simples, é processo de contratação que antecede
o contrato.

Em termos genéricos, o que o artigo 227º diz é que durante o processo de


contratação as partes em negociação devem atuar segundo as regras da
boa-fé. A chamada boa-fé objetiva. Boa-fé é fundamentalmente
comportar-se de boa-fé honesta. As partes no processo de contratação
devem atuar de forma honesta.

Na doutrina, já se fixou pelo menos isto: boa-fé na contratação significa que


há deveres de proteção, esclarecimento e lealdade.
 Proteção significa que mesmo que não se chegue a contratar, durante
o processo de negociação cada um dos intervenientes tem o dever de
proteger, de não se intrometer, em bens jurídicos da outra parte.
 O negócio jurídico é uma declaração de vontade, mas supõe-se que
essa vontade está formada de forma esclarecida e livre. A falta do
esclarecimento que é um dos pressupostos da vontade pode decorrer
justamente de no decorrer do processo não ter havido informação
suficiente
 A todo o momento, qualquer uma das partes pode voltar atrás, pode
arrepender-se. Mas se isto acontecer muito em cima da hora,
responde por danos. Pelos danos que isso causar. Porque a lealdade
supõe que se não se quer contratar mesmo depois de se ter iniciado
o processo de negociação tem que se pelo menos, apresentar uma
justificação qualquer para não contratar. Se isto causa danos à
contraparte tem de responder pelos danos que causar.

Negócios Unilaterais ≠ Contrato (negócios bilaterais)


Negócios unilaterais são aqueles que têm apenas um lado, têm apenas uma
parte. Os contratos são aqueles negócios que têm duas ou mais partes.
Os negócios unilaterais podem ter diversos efeitos.
Há uma separação importante, porque há uma regra na lei que só funciona
para certos negócios unilaterais. Separam-se os negócios unilaterais:

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

 Que tenham efeitos obrigacionais: negócios unilaterais que


constituem obrigações contra o seu autor. Esta separação é
importante porque de acordo com o artigo 457º do CC, os negócios
unilaterais obrigacionais só podem ser celebrados nos casos
especialmente previstos na lei. Não pode haver outra modalidade,
outra espécie de negócio unilateral obrigacional a não ser aquela que
estiver prevista na lei como tal. Em rigor, na lei, com efeitos
puramente obrigacionais só existe uma espécie.
 Demais negócios unilaterais: vigora o princípio da liberdade de
celebração: é a chamada autonomia da vontade nos termos gerais
do artigo 405º. Estes negócios unilaterais podem ser utilizados da
maneira que se entender. O testamento por exemplo, está sobretudo
pensado para efeitos sucessórios. Mas pode servir para outros efeitos.

Os contratos distinguem-se em:


 Típicos: quando falamos de tipicidade podemos falar no sentido legal
ou no sentido social.
 Há contratos que não são legalmente típicos, portanto, não
estão previstos na lei, mas são socialmente típicos. Na origem
todos os contratos são assim. Formam-se pela prática social e
só depois é que são eventualmente adotados pela lei. É
socialmente típico quando corresponda a uma prática social
reiterada. Quando corresponda a um modelo normal de
contratação que as pessoas adotam em si não obstante de isso
não ter previsão legal.
 Os contratos legalmente típicos são aqueles que estão
previstos na lei. Quando se diz previstos na lei é no sentido da
lei ter regras específicas para esse contrato. O contrato
permuta/troca está referido na lei mas não tem regras legais.
Portanto neste sentido está referido mas não está previsto.
 Atípicos:
 O contrato socialmente atípico é aquele contrato que é
celebrado algures entre duas pessoas mas não corresponde a
modelos socialmente típicos. A hipótese é mais abstrata do que
real. Certamente hipóteses deste género eventualmente
surgirão, mas não é impossível.
 Os contratos legalmente atípicos são aqueles que embora
possam ser socialmente típicos, embora possam corresponder
a uma prática mais ou menos reiterada nas relações sociais
não estão previstos na lei. Ex: contrato de permuta,
legalmente não está previsto. O que importa é que isto é uma
classificação como outra qualquer que não tem grande
transcendência salvo para dizer que os contratos estão, em
princípio sujeitos à autonomia da vontade e portanto as partes
podem fazer os contratos que quiserem como quiserem. E
portanto podem adotar modelos legais ou não. É mais
favorável adotar modelos legais porque estes têm regras

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

previstas, e portanto há menos dificuldades na aplicação dos


modelos legais do que dos modelos não legais. Quer os
negócios fiduciários, quer os negócios indiretos para todos os
efeitos são contratos, dão origem a contratos legalmente
atípicos. A compra e venda por um preço simbólico não está
prevista na lei, o que está previsto na lei é a compra e venda
em que o preço que se paga corresponde mais ou menos ao
valor da coisa que se vende. É o modelo da compra e venda.

Os contratos legalmente atípicos podem ser:


 Legalmente atípicos puros: são aqueles que não têm um mínimo de
correspondência com qualquer modelo legal. Não têm o mínimo de
parecença com qualquer modelo legal. Puros porque são criados “a
partir do 0” e portanto a espécie de contratação que naquele caso foi
efetuada, nada tem a ver com os modelos típicos.
 Legalmente atípicos mistos: são aqueles em que no mesmo contrato
se misturam elementos que pertencem, individualmente
considerados, a diferentes espécies contratuais legalmente previstas.
Ex: suponha-se que um condomínio qualquer contrata uma pessoa
para servir de porteiro mas em vez de lhe pagar o salário de um
porteiro dá-lhe em retribuição a casa da porteira. O serviço que está a
ser prestado pelo porteiro corresponde a um normal contrato de
prestação de serviços. Mas o modelo legal é retribuição pecuniária.
Aqui é renumerado em espécie. Já não é um modelo legal de
prestação de serviços. Individualmente consideradas a prestação do
condomínio corresponde a um contrato de arrendamento; a prestação
do porteiro corresponde a um contrato de prestação de serviços. Mas
não correspondem cada uma delas aos correspetivos modelos legais
porque não está lá tudo. O contrato misto não está previsto na lei.
Terá certamente, proximidade com modelos típicos.

Os contratos mistos podem ser:


 Combinados: quando a prestação de uma das partes combina/junta
prestações correspondentes a diversos modelos contratuais típicos e
do outro lado, da outra parte, há uma única prestação. Ex: contrato
de hospedagem. Quando se hospedam num hotel o hotel pelo menos
cede o local, o quarto, por exemplo, presta serviços (alimentação por
exemplo), se o automóvel do hóspede fica estacionado no
estacionamento do hotel há igualmente uma prestação
correspondente ao contrato de depósito. Portanto, pelo menos, do
lado de quem dá hospedagem, têm prestações que correspondem a
diversos modelos contratuais (arrendamento, prestação de serviços e
depósito). Tudo isto é renumerado, é retribuído por uma única
contraprestação efetuada pelo hóspede. Em todo o caso, o que
importa é que de um lado há diversas prestações que isoladamente
consideradas pertencem a diversas espécies contratuais; do outro
lado há só uma que renumera tudo.

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

 Tipo duplo: exemplo da casa de porteiro. A prestação de uma das


partes é retribuída por uma prestação correspondente a outro modelo
contratual. Chama-se tipo duplo porque há elementos que pertencem
a diversas espécies contratuais a cargo de cada uma das partes
 Mistos stricto sensu: são aqueles em que se utiliza uma única
espécie contratual mas introduzem-se cláusulas nesse modelo
contratual que desfiguram a sua função típica. Ex: venda por preço
simbólico. Só se utiliza um modelo contratual que é a compra e
venda; mas a forma como é estipulada a cláusula do preço (preço
simbólico) faz com que a compra e venda fique desfigurada. Deixa de
cumprir a sua função própria e típica que está antecipada na lei para
passar a desempenhar uma função que é típica de outro contrato,
neste caso, a doação.

Problema dos contratos mistos:


É verdade que misturam elementos que legalmente são pertencentes a
contratos típicos mas justamente ao misturar fica-se sem noção, pelo
menos à partida, das regras que se aplicam.
Ex: a doação pode ser revogada por ingratidão do donatário. Como o
doador está a dar gratuitamente, percebe-se que em algumas
circunstâncias se possa considerar que o donatário, o que recebeu, o que foi
ingrato, e que portanto se possa revogar a doação. A compra e venda não
pode ser revogada por ingratidão. Se tiverem uma compra e venda por um
preço simbólico, dá para aplicar as regras da revogação por ingratidão.

Teorias existentes em relação a este problema:


 Absorção: havendo um modelo contratual dominante, são as regras
desse modelo contratual se aplicam. Ainda que se misturem diversos
elementos, o elemento dominante é o que predomina e portanto são
as regras do elemento dominante que devem ser fundamentalmente
aplicadas. Exemplo: o hotel cede primeiro a utilização do quarto;
presta serviços e eventualmente assume a guarda do automóvel do
hóspede. Aqui o elemento dominante é claramente a habitação. O
resto é acessório. Portanto, o que predomina é o arrendamento. Em
princípio o que aplicar-se-ia seriam as regras do arrendamento. Não
quer dizer que seja assim até ao fim, mas para todos os efeitos este é
o elemento predominante, absorve os outros e por isso aplica-se as
regras deste.
 Combinação: quando, ao contrário, como nos contratos mistos de tipo
duplo, não se consiga identificar um elemento predominante. Ex:
casa da porteira na prestação de serviços em que não se consegue
identificar qual o elemento predominante, segue-se a teoria da
combinação. Combinam-se os regimes correspondentes – o regime da
prestação de serviços com o regime de arrendamento por exemplo.
Isto pode trazer situações de conflito em que aplicando as regras de
um e de outro conduz a situações muito diferentes.

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

 Analogia: quando pela absorção ou pela combinação não se consiga


obter uma solução resta a analogia. Ou seja, o tribunal não pode
abster-se de julgar e portanto tem de aplicar a regra que
provavelmente o legislador teria criado se tivesse previsto aquele
caso – utiliza-se a norma ad hoc.

Dos contratos mistos distingue-se a chamada união de contratos. Um


contrato misto é um contrato que mistura elementos de diversas espécies
contratuais que dá origem a um único contrato. Ao passo que na união de
contratos há 2 ou mais contratos unidos mas sem que percam identidade.
Cada um subsiste por si.

Exemplo: alguém comprou uma casa mediante empréstimo bancário. E


para garantir o empréstimo, constitui hipoteca a favor do banco sobre essa
casa que comprou. Há 3 contratos: contrato de compra e venda do imóvel
(principal); contrato de mútuo (empréstimo) e contrato de constituição de
hipoteca. Está tudo contido na mesma escritura. Mas a verdade é que cada
um é um contrato e por isso neste caso concreto há 3 contratos.

A união de contratos pode ser:


 Externa: em rigor não é uma união. Dá-se quando essa união de
contratos ocorre por circunstâncias extrínsecas à celebração do
contrato e muitas vezes por circunstâncias puramente casuais.
Exemplo: imagine que A é proprietário de 2 imóveis e designou um
procurador para esse procurador vender os imóveis. Se o procurador
consegue arranjar compradores distintos para cada um dos imoveis,
muitas vezes a escritura de compra e venda é feita para ambos os
compradores no mesmo documento. Portanto a mesma escritura
contém as duas compras e vendas. Mas só pelo facto de estarem
contidas no mesmo papel é que estão unidas. O resto é
completamente distinto. A união é puramente externa, casual,
porque não tem quaisquer implicações internas.
 Interna: os contratos estão unidos de uma forma que os torna
reciprocamente dependentes ou pelo menos unilateralmente
dependentes, ou seja, um ou uns podem não fazer sentido sem o
outro. Exemplo: empresta-se o dinheiro para comprar casa;
constitui-se a hipoteca porque se pediu um empréstimo para
comprar casa. Se a compra e venda ficar sem efeito porque foi
anulada, o mútuo fica sem efeito. E se o dinheiro acaba por não ser
emprestado, a hipoteca também não pode subsistir. Se um ficar
sem efeito, os outros que estão dependentes também ficam sem
efeito.
 Alternativa: dá-se quando se celebram dois ou mais contratos em
simultâneo, mas convencionando-se que só um deles terá efeito
consoante suceda ou não suceda um certo facto. Exemplo: se um
professor é deslocado para exercício de funções para uma escola em
Coimbra. Como ele não sabe se a deslocação é provisória ou não,

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

ele celebra com um proprietário de uma casa 2 contratos. Um de


arrendamento se for uma situação provisória e outro de compra e
venda para o caso da colocação ser permanente. Consoante o que
aconteça, um dos contratos terá efeito e o outro não.

Interpretação do Negócio (artigos 236º a 239º especialmente)


O que se pretende aqui como tal qual se pretende com a interpretação da
lei (não é exatamente a mesma coisa) é a chamada fixação do sentido da
vontade contida na retração. A ideia é de que a vontade aparece
manifestada de uma certa maneira e portanto há que lhe fixar um sentido.
Isso já se pôs, a propósito da declaração tácita. Já é necessário recorrer a
regras de interpretação para fixar o sentido a atribuir ao comportamento
que a pessoa desenvolveu.

Há duas orientações básicas, elementares, no que toca à interpretação do


negócio:
 Conceção subjetiva: o que importa é a vontade real do autor da
declaração. Corresponde à vontade real do autor qualquer que seja o
significado dessa vontade para terceiros.
 Conceção objetiva: o que importa é o sentido que se pode extrair da
declaração, ou seja, o que é que aquela declaração vale
aparentemente, qualquer que seja a vontade real do respetivo autor.
É aquele que aparentemente se tira da declaração, qualquer que seja
a vontade legal do seu autor.

Exemplo: A vende a B um livro por 100$.


O que é que se quer dizer por 100$?
Se A for americano, serão 100$ americanos e se B for canadiano, para ele
serão 100$ canadianos. Pode surgir um desentendimento real perante um
entendimento aparente. Sob um aparente entendimento há um
desentendimento. É por isso é necessário a interpretação para tentar fixar o
sentido que se quer atribuir.

O artigo 236º/1 consagra uma das modalidades possíveis da conceção


objetiva. Corresponde à chamada teoria da impressão do declaratário.
O declarante é o autor da declaração; o declaratário é o destinatário. Num
contrato todos são declarantes e todos são declaratários. De acordo com a
teoria da impressão do declaratário, em princípio, como regra o que conta é
aquilo que um declaratário normal teria entendido. O declaratário normal,
em rigor não é ninguém; não é alguém em particular. É um critério de
aferição pelo qual se faz uma avaliação em função daquilo que qualquer
pessoa medianamente atenta, entenderia. O critério do declaratário normal
não é aquele que implicaria a utilização de alguém para o efeito, mas é
aquele critério que utiliza o que se chama critério da pessoa de normal
diligência (não é ninguém em particular, é alguém normal).

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

Ou seja, voltando ao exemplo, quando se diz 100$, o entendimento é de


100$ americanos e não 100$ canadianos.

A regra é a do artigo 236º/1. Esta regra tem uma limitação. É que daqui
pode sair um sentido, o tal sentido objetivo, que nada tem a ver com a
vontade do declarante. Ou seja, pode sair como resultado da interpretação,
algo que lhe vai interpretar uma vontade muito longínqua do que tinha em
mente.

Utiliza-se o número 2 desse artigo se por ventura, ambas as partes


conhecem a vontade da outra parte, e vice-versa, então vale o sentido real
que as partes quiseram fixar, ainda que objetivamente o significado não
seja esse. Portanto, o que importa é que eles tenham entendido. Ainda que
objetivamente o significado seja outro que não aquele que se tiraria da
declaração.

Isto significa que num caso qualquer começamos pelo artigo 236º/2. A
primeira coisa a averiguar é se as partes conhecem reciprocamente as
respetivas vontades. Se elas conhecem reciprocamente as respetivas
vontade, não importa aquilo que objetivamente se tiraria das suas
declarações, não importa o que é que elas eventualmente poderiam
pretender porque conhecem-se reciprocamente as respetivas vontades. É
de acordo com isso que vale a declaração – com o sentido real das partes.
Só se não se conseguir provar qual é a vontade real das partes, é que
passamos para o 236º/1. Só se passa para a avaliação do sentido objetivo
no pressuposto de que o sentido subjetivo não é conhecido reciprocamente
pelas partes.

Estas são portanto, as regras gerais de interpretação.

Casos especiais
São casos em que estas regras têm aplicação, mas têm aplicação com
cuidados especiais, com alguns limites.
 Negócios formais: artigo 238º. Negócios formais ou solenes são
aqueles que devem obedecer a uma certa forma escrita. E portanto
são aqueles em que a lei impõe a observância dessa forma. Nestes
casos em que assim seja, esteja-se a interpretar pelo 236º/2 (vontade
real) ou 236º/1, o resultado a que se chegar deve ter o mínimo de
correspondência no texto do documento. Deve estar lá minimamente
contido. Caso contrário, estar-se-á a dar forma a um negócio que não
foi feito e o negócio feito não estará contido na forma.

Exemplo: para identificar as diferentes frações de um condomínio usam-


se letras. E por vezes o número de fração é tanto, que se repetem as
letras (AA, BB). A e B acertam a compra da fração AA. Mas na escritura
de compra e venda, pelo erro de alguém, em vez de aparecer fração AA,

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

aparece apenas fração A, que também existe, só que não é a fração do


contrato. Quer o vendedor, quer o comprador sabem a que fração se
estão a referir. Para eles não há confusão. Por estar mal identificada, na
escritura de compra e venda, aparentemente o que está a ser comprado
e vendido é a fração A.
O que se faz nestas circunstâncias?
Se fosse só por aplicação do artigo 236º, estava identificada a fração, o
que importa é que o local está bem identificado. Só que isso não tem a
mínima coincidência com o texto.
Há um documento de uma compra que ninguém fez e há uma compra
que não está contida em nenhum documento.
Qualquer que seja o sentido que se atribui à vontade das partes, esse
sentido não está minimamente contido no texto do documento.

Conclusão: A compra e venda que foi feita é nula por falta de forma. Não
observou a forma em que a lei insiste para esse efeito. Há uma escritura
pública que não corresponde a esse efeito.

 Casos duvidosos: artigo 237º. São aqueles casos em que por


aplicação das regras do artigo 236º, não foi possível identificar
qualquer sentido. São aquelas em que, as regras normais não
funcionam porque não se consegue perceber o que as partes
efetivamente quiseram. O artigo 237º usa-se sempre que o negócio
seja oneroso vale o sentido, significado que trouxer maior equilíbrio
entre as partes. Se o negócio for gratuito vale o significado que for
menos grave, menos oneroso para quem dispõe, para a pessoa que
está a fazer a atribuição.

 Testamento: artigo 2187º. É um negócio unilateral e mortis causa (é a


grande especialidade). Os efeitos estão dependentes da morte do
autor. O testamento está em vigor quando o testador falecer. Em rigor
interpretar com a vontade real pode ser difícil. Só pode ser a vontade
real que estiver manifestada no testamento ou em algum documento
complementar. Segundo o entendimento habitual a interpretação do
testamento deve ser subjetiva, porque o que importa sobretudo
determinar é a vontade do testador e o que é que ele realmente quis.
O sentido objetivo só pode valer quando não for possível identificar a
vontade real desse testador. Diz-se que a interpretação do
testamento é subjetivista.

 Clausulas contratuais gerais: são contratos de adesão em que na


prática uma das partes, aquela que adere, não tem capacidade de
negociação. As cláusulas que hão-de compor esses contratos estão
pré-elaboradas por uma das partes e a outra limita-se a aderir. Tudo o
que seja contrato massificado é contrato de adesão. Quem fornece o
serviço pré-elabora clausulas que estão presentes em todos os
contratos individuais. São cláusulas gerais, isto é, não são

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

contratadas caso a caso. Na prática as partes não estão em


igualdade. Quem fornece o serviço/bem está em supremacia. Para dar
algum tratamento favorável a quem adere, a interpretação deve
fazer-se no sentido de ser o mais favorável ao aderente – é uma
maneira de contrabalançar. Juridicamente estão em posições iguais.

Integração (artigo 239º)


A integração do negócio tem uma finalidade semelhante à integração da lei.
Pode dar-se o caso (mais usualmente no negócio do que na lei) de as partes,
quando, celebram o negócio designadamente o contrato não terem previsto
todos os pontos, todas as cláusulas que deviam ter colocado no negócio. E
portanto, só durante o desenvolvimento, só durante a execução do contrato
é que se pretende isso. Para esse efeito o artigo 239º manda proceder numa
sequência que é aproximadamente:
 É necessário verificar se existe norma legal/regra legal supletiva, ou
seja, regra legal precisamente instituída para hipóteses destas – para
substituir a vontade das partes quando esta não se tenha
manifestado. Dir-se-á que nestes casos em que há norma supletiva,
em rigor, nem sequer há um ponto omisso, uma lacuna. A norma
supletiva serve para entrar em vigor sempre que não haja uma
cláusula contratual para aquele efeito. Na falta legal de norma
supletiva, o artigo 239º manda atender à vontade conjetural. A
vontade conjetural é uma vontade que realmente não existiu, uma
vontade que as partes não manifestaram, nem sequer tiveram
efetivamente. Não é uma vontade viável. Mas é uma vontade que se
pode presumir a partir daquilo que as partes fizeram. Portanto a
vontade conjetural é no fundo, uma vontade presumida e é uma
vontade contrária aos factos – aquilo que as partes fizeram não foi
aquilo que se estabeleceu conjeturado.

Exemplo: as partes não fixaram o modo de pagamento, mas se o


primeiro depósito foi efetuado por transferência, presume-se que dali
adiante que a transferência seja o modo normal de pagamento. Não é
vinculativo, as partes podem a todo o tempo alterar esta prática.

 Se mesmo assim, pela vontade conjetural, não for possível, isto é, se


for impossível determinar o que é que teria sido previsto se as partes
tivessem pensado no caso ou se a vontade conjetural der resultado e
se esse resultado for contrário às regras da boa-fé, prevalece a boa-
fé. A boa-fé é uma fonte de regras individuais e concretas, diferente
da lei que é regras gerais e abstratas. A boa-fé funciona como critério
aferidor final. A boa-fé supera a vontade conjetural sempre que a
vontade conjetural seja contrária à boa-fé.

Conteúdo do negócio
Especialmente para os contratos vigora o princípio da liberdade (artigo
405º) que é uma decorrência geral de um princípio mais importante –

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

liberdade individual. A liberdade individual tem como regra a liberdade de


fazer ou não fazer e liberdade de escolher os seus efeitos que o contrato
tem porque as partes são livres de se vincularem como entenderem.

Para cada contrato existem limitações específicas a pensar nesse contrato.


Existem também, limites genéricos (artigo 280º) e que só caso a caso é que
se podem verificar ainda que estejam formuladas de uma forma geral e
abstrata.

O negócio não pode ser:


a) Contrário à lei:
Tem um sentido muito preciso porque também se diz que o negócio não
pode produzir efeitos que sejam legalmente impossíveis. O “não
contrário à lei” significa que o negócio não é válido se for fraudulento. A
fraude à lei acontece quando as partes estão a utilizar um contrato que
em si mesmo é admissível, isto é, não é ilícito; estão a contratar em
termos que em si mesmos são válidos, mas estão a utilizar aquele
contrato para fins que a lei não permite. A fraude à lei consiste em
contornar a lei, cumprido aparentemente o contrato, mas realmente
obtendo resultados que a lei não permite ou que estão proibidos.

b) Indeterminabilidade:
As partes podem convencionar o que quiserem, mas se as obrigações daí
resultantes tiverem conteúdo indeterminado, se não souberem
exatamente a que é que ficam vinculadas, esse efeito que se pretende
obter é inválido, é nulo nos termos do artigo 280º.

Exemplo: o fiador (alguém que garante o cumprimento de obrigações


alheias), não tem obrigação própria. Se o obrigado que está afiançado
não cumprir o fiador terá que responder. Se o fiador for responder por
todas as obrigações do afiançado tem-se entendido que a obrigação do
fiador è indeterminada porque à partida ele não pode saber de tudo o que
o afiançado está obrigado. Saberá o principal.

c) Impossibilidade legal e física:


É física quando não se pode obrigar alguém a entregar um pedaço de
solo lunar. Se alguém vender ou prometer vender um pedaço de solo
lunar para já não consegue efetuar a entrega, portanto, o objeto do
negócio é fisicamente impossível. Logo, o negócio é nulo.

Há impossibilidade legal quando o fim prosseguido pelas partes seja


impossível como é a impossibilidade física; tem que ser um limite notório
que não pode ser ultrapassado. Negócios do domínio público. Se alguém
se lembrar de vender o jardim da estrela e alguém comprar, em rigor é

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

possível. Acontece é que o objeto está totalmente fora do comércio, pois


é um bem de domínio público, e esse objeto é legalmente impossível.

d) Contrariedade à Ordem Pública:


A ordem pública é um conjunto de princípios estruturantes da ordem
jurídica mesmo que até nem estejam eventualmente enunciados, ou
seja, mesmo que a lei não os tenha reconhecido. Esse princípio opõe-se
a qualquer conteúdo contratual mesmo que o contrato seja celebrado.

Exemplo: a lei proibia a barriga de aluguer e se fosse feito um contrato


para esse efeito, esse contrato seria contrário à ordem pública, porque
há um princípio, segundo o qual o filho pertence à mãe que o gerou. Não
importa como é que o embrião foi colocado.

e) Contrariedade aos bons costumes:


Tem-se entendido que por bons costumes há uma remissão para regras
morais basicamente aceites pela comunidade.

Exemplo: Se alguém procede ao aluguer de um espaço, logo à partida


destinado ao centro de comercialização de substâncias ilícitas à partida o
contrato é nulo porque contraria os bons costumes.
Se o contrato não foi feito com esse objetivo, mas o arrendatário faz à
mesma, o senhorio só por isso tem o direito de despejar mesmo que o
arrendatário esteja a pagar tudo e no tempo certo.

Conteúdo típico dos Negócios


As partes podem fixar o conteúdo que quiserem aos contratos, salvo os
limites gerais. Há cláusulas contratuais que são de tal forma usuais, são de
tal forma recorrentes que se entendeu que a lei deveria dar uma disciplina e
dar regras a essas cláusulas. Não quer dizer que todos os negócios tenham
uma cláusula deste género.

Espécies
 Condição e termo: Os que não podem ser subordinados a estas
cláusulas designam-se negócios puros, justamente porque não podem
ser condicionados nem podem levar termo. Ex: casamento,
perfilhação.
Quer na condição, quer no termo, estamos perante factos futuros.

Exemplo: A vende um carro a B e este não tem dinheiro para pagar


de imediato. O preço será pago em prestações (frações). Nos termos
do artigo 409º, para que o A tenha alguma garantia que B irá pagar
pode convencionar-se que apesar de a venda já estar feita, a
transferência do direito de propriedade do A para o B só irá acontecer
quando B pagar. Isto é o que se chama efeito translativo. É a
transmissão do direito do vendedor para o comprador, não irá
acontecer com contrato mas irá acontecer apenas e só quando o

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

preço estiver integralmente pago. Isto é um fato futuro em relação ao


contrato. Quando a compra e venda é feita, o pagamento do preço
não foi efetuado nem é para ser logo efetuado, mas sim ao longo de
20 frações. O pagamento do preço é um facto futuro.

É também um facto incerto. Objetivamente incerto porque à partida


não se pode garantir que aquele facto irá ocorrer. Espera-se que sim.
Ao contrário o negócio está sujeito a termo quando esse facto seja
objetivamente certo, isto é, quando se possa garantir à partida que
vai ocorrer.

Exemplo: uma doação que só produz efeitos quando à morte do


doador, essa doação está sujeita a termo, porque a ocorrência da
morte é um facto futuro, mas também é um facto objetivamente
certo. Todos morrem, apenas o momento da verificação é que pode
não ser certo.

Objetivamente, o que distingue a condição do termo, é que a condição


consiste num facto futuro objetivamente incerto e o termo consiste num
facto futuro objetivamente certo. Objetivamente certo significa que é
garantido à partida que irá suceder ainda que não seja garantido o
momento em que irá suceder.

Já se tinha visto que quer a condição, quer o termo consistem em factos


futuros (posteriores à celebração do negócio) e segundo lugar, no caso da
condição esse facto futuro é objetivamente incerto. No caso do termo trata-
se de um facto futuro, mas de verificação certa, ou seja, que
antecipadamente se pode garantir que se vai verificar.

Terceira característica: só são propriamente ditas condição ou termo,


aqueles que forem incluídos no negócio jurídico por vontade dos sujeitos do
negócio. Quer a condição quer o termo estão previsos nos artigos 270º e
seguintes resultam de cláusulas negociais, são voluntariamente inseridos no
negócio.

Ex: em doações a nascituros, para quem entenda que os nascituros não são
pessoas, as doações a nascituros ficam dependentes de um facto futuro e
incerto – que é o nascimento. Mas esse facto futuro e incerto que condiciona
a verificação resulta da própria lei. Não é o doador que estabelece isso
como cláusula do negócio, ou seja, não é preciso que o doador diga que
aquela doação fica dependente do nascimento do donatário, porque ela está
dependente por natureza do nascimento do donatário. Quer esteja
estabelecido isso no contrato ou não, já resulta da lei. Não é uma clausula
voluntariamente inserida no negócio. Não é condição no sentido próprio do
termo.

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

Última característica: quer na condição, quer no termo, ambos interferem


com os efeitos do negócio. Em ambos os casos o negócio está pronto a
produzir efeitos. Acontece é que a clausula condicional ou o termo que nele
for definido interfere com os respetivos efeitos, intromete-se nos efeitos,
seja parando-os, paralisando-os ou destruindo-os.

Quer a produção de efeitos, quer a sucessão de efeitos, decorre de forma


automática. Isto é, assim que a condição se verifica, assim que o termo se
verifica, neste exato momento, os efeitos produzem-se ou destroem-se sem
necessidade de uma nova declaração; sem necessidade de uma nova
manifestação de vontade. O negócio está feito, acontece é que os efeitos
ficam dependentes da verificação ou não verificação da condição ou termo.

Se a produção de efeitos do negócio depender de alguma declaração de


vontade já não é condição no sentido exato do termo.

A condição resolutiva tácita – lembre-se que foi uma das consequências


do negócio sinalagmático – funciona quando uma das partes não cumpre as
suas obrigações e esse incumprimento é tido como definitivo. Quando seja
assim, a outra parte, pode resolver o negócio. Exemplificando, A vende a B
e fica convencionada que enquanto o B não pagar não há transferência da
propriedade. Se for assim e o B não pagar e permanecer no não
cumprimento da obrigação de pagar por tempo suficiente para ser tido
como cumprimento indefinitivo, o A, vendedor, pode resolver o contrato.
Esta declaração de vontade, que irá resolver o contrato, é um facto
resolutivo, é um facto futuro e incerto. Só que isto não é de verificação
automática. Não basta que o B entre em incumprimento para que
automaticamente a compra e venda fique sem efeito. É necessário que o A
queira resolver. Esta condição, a ser condição é potestativa; depende da
vontade de uma das partes – aquela que tiver o direito de resolver. Assim
sendo outra vez, não é condição em sentido próprio do termo.
Só é condição no sentido próprio aquela que interfere nos efeitos do negócio
de forma automática. Ou seja, não se torna necessária uma nova declaração
de vontade porque simples ocorrência do facto futuro determina ou a
produção de efeitos, ou a cessação de efeitos de modo automático.

Há negócios que não admitem nem condição nem termo – negócios puros.
A regra é que qualquer negócio, especialmente se for patrimonial pode ser
objeto de uma clausula de condição ou termo. Há também negócios que,
não obstante de poderem ter condições ou termos, não podem ter certas
condições ou termos – artigo 1271º, condições ou termos ilícitos.
Funciona a mesma ideia do 280º.

A condição e o termo podem ser:


 Suspensivos: quando impede a produção de efeitos do negócio até
que a condição ou termo se verifiquem. Assim que se verificam, os

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

efeitos produzem-se. Implicam um congelamento do negócio, e se o


facto ocorrer (caso da condição) os efeitos produzem-se.
 Resolutivos: quando o negócio tenha efeitos normais, os que
deveria ter, mas esses efeitos irão cessar se e quando a condição ou
o termo se verificarem.

Entre o momento em que o negócio é celebrado, e o que a condição ou


termo se verificam há um período de incerteza, ou seja, há um período
dentro do qual não se sabe se o facto futuro irá ocorrer ou não – caso da
condição – e por isso enquanto se está à espera, a condição de ambas as
partes é precária. Diz-se então que o negócio está em situação de
pendência. Só se pode dizer isto assim, para os negócios sob condição, só aí
é que há uma incerteza.

Na pendência da condição, há uma parte que é titular de uma expectativa


jurídica. Se o negócio é feito sob condição suspensiva, o adquirente tem
uma expectativa jurídica de aquisição. Ao contrário, se o negócio for
celebrado sob condição resolutiva, é o alienante que tem uma expectativa
jurídica (está sempre sob uma tutela) de reaquisição.

As expectativas só são jurídicas se tiverem uma certa proteção. A tutela


pode ser uma tutela muito ténue. O que importa é que haja. No caso dos
negócios condicionais a tutela é muito intensa:
 Artigo 272º: na pendência da condição, as partes devem atuar de
acordo com as regras da boa-fé. Se a alienação é feita sob condição
suspensiva o adquirente pode exigir ao alienante que este atue de
boa-fé. Ao contrário, se a alienação for feita sob condição resolutiva é
o alienante que pode exigir ao adquirente que atue de boa-fé.
 Artigo 273º: o titular da expectativa pode praticar os chamados atos
conservatórios. Podem atuar no sentido de preservar a sua
possibilidade de aquisição mesmo que ela já mais se concretize.
 Artigo 274º: na pendência da condição, as partes podem ainda
assim, praticar atos de disposição.

Findo período de pendência


De um modo geral o negócio deixa de estar pendente no instante em que a
condição ou termo se verificam. É a regra. Pode dar-se o caso de a condição
ou termo não se verificarem, e haja a certeza de que não se irão verificar.
De acordo com o artigo 275º isso equivale à não verificação.
Exemplo: A vende a B. A compra e venda fica suspensa à espera que B
pague. Se B entre em incumprimento, e esse incumprimento for tido como
definitivo a condição não se verifica nem se verificará. O credor do preço
que é o vendedor não tem de ficar à espera. Portanto se atraso (mora) do
devedor for convertida em não cumprimento definitivo (artigo 808º), para
todos os efeitos há incumprimento definitivo e enquanto houver
incumprimento definitivo, há certeza de que a condição não se pode
verificar e portanto tudo se passa como se não houvesse verificação.

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

Consequências:
• Se negócio estiver sujeito a condição ou termo resolutivo, com a
respetiva verificação, o negócio cessa os seus efeitos. Resolução
significa isso mesmo do ponto de vista jurídico. Resolver é fazer
cessar efeitos; se o negócio estava sujeito a condição resolutiva e a
condição não se verifica ou há certeza de que não se verificará, o
negócio que estava sob condição deixa de o estar. Tudo se passa
como se não houvesse condição. Consequência: negócio é
considerado como negócio sem condição. Ela está escrita, clausulada,
é válida, mas não tem efeitos na medida em que não se verifica e há
certeza de que não se verificará
• Se negócio estiver sujeito a condição ou termo suspensivo a
verificação da condição ou termo desencadeia a produção de efeitos;
se a condição não se verifica, sendo suspensiva, tudo se passa como
se o negócio nunca tivesse sido celebrado. Ou seja, o negócio existe,
é válido, mas não tem nem terá efeitos.

Sequência
De um modo geral, artigo 276º, a verificação da condição ou do termo tem
eficácia retroativa.
Ex: se A vende a B, e a venda só tem efeitos quando B pagar, a venda fica
sujeita a condição suspensiva. Mas quando B pagar considera-se que B era
titular do direito comprado, desde a data em que a compra foi feita. Tudo se
passa como se a compra e venda não tivesse condição suspensiva; tudo se
passa como se a compra e venda tivesse tido os seus efeitos todos no exato
momento dado o instante em que foi celebrado. Nesse instante produziram-
se os efeitos, o comprador é titular do poder de comprar, apesar de em rigor
não ser bem assim.

Ao contrário, se a condição for resolutiva, assim que a resolução ocorrer, os


efeitos cessam, não apenas para o futuro, mas também para o passado. Por
isso deve ter-se em atenção, no caso da condição resolutiva, de umas vezes
a hipótese ser só de cessação de efeitos para o futuro, outras vezes é de
destruição de efeitos que já se produziram. As ficções levam-se até onde se
conseguir levar, porque há coisas que evidentemente não são passiveis de
ficção, e, portanto, há coisas relativamente às quais não se pode pensar em
retroações.

Especialmente quando se trata de condição ou termo resolutivo, se dizemos


que há destruição retroativa de efeitos, isso implica dizer que tudo o que
aconteceu, deixa de ser tido como acontecido, sucedido. E, portanto, em
muitas situações seria impossível.

Exceções:
 Tratando-se de condição ou termo resolutivo, não há retroação
sempre que estejamos perante os chamados contratos de execução

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

duradora – são aqueles cujos efeitos se prolongam no tempo. Há que


fazer uma separação: há contratos que se executam
instantaneamente, ou seja, há contratos que no instante em que são
celebrados esgotam os seus efeitos. São contratos de execução
instantânea. Ex: compra e venda. Ao contrário, contratos como
prestação de serviços, contratos de trabalho, etc. são contratos que
têm efeitos ao longo do tempo. Nestes contratos, pelo menos, a
prestação de uma das partes é um facto consumado, ou seja, não
tem volta atrás. Nestes casos consequentemente, artigo 277º/1, não
há retroação; nestes casos a resolução tem apenas efeitos para o
futuro. Há resolução apenas para o futuro, os efeitos passados
mantêm-se.
 Atos de administração – ex: A e B fazem uma compra e venda
suspensiva, ou seja, a compra e venda só terá efeitos quando B pagar
o preço. Na pendência da condição, enquanto se está à espera para
ver se B paga ou não, o A deu de arrendamento o imóvel que tinha
sido vendido, a C. Entretanto verifica-se a condição, entretanto, B
paga o preço e a condição verifica-se; portanto a compra e venda tem
efeitos. A partir dai o proprietário é o comprador e ele não tem de
suportar um contrato de arrendamento que não foi celebrado por ele.
A questão é se o arrendamento é tipo também, como ineficaz para o
passado. Se não fosse o artigo 277º a elação teria de ser essa, porque
para todos os efeitos, o arrendamento seria arrendamento de bens
alheios. E essa elação é errada, porque quando A deu de
arrendamento tinha legitimidade para o fazer. E por isso o que o nº2
do artigo 277º veio fazer é que para o futuro, certamente cessam os
efeitos do arrendamento, mas os que ficaram produzidos até à
verificação da condição mantêm-se. E, portanto, tem significado na
medida em que o que se pretende é salvar o negócio jurídico, dado
que é um simples ato de administração. Para B, o que importa é que
quando toma posse, o arrendamento já não está em vigor.
Fica ainda um problema: durante o período de arrendamento, o C
pagou rendas e o A recebeu-as. Quando a condição se verificar, de
acordo com o 277º/3, os frutos obtidos na pendência da condição
pelo titular do direito que é o A, os frutos pertencem àquele que
estiver a exercer o direito. Manda-se aplicar o disposto sobre frutos
na posse de boa fé. Portanto o 277º/3 remete para o artigo1270º.
Para todos os efeitos, significa que A tem o direito não apenas de
receber, mas também de manter o que recebeu.

Fora deste âmbito a retroação altera e, portanto, a verificação da condição


num modo geral tem efeito retroativo.

Uma outra cláusula típica é o chamado modo ou encargo ou cláusula


modal. Esta é uma cláusula típica, mas típica apenas de certos negócios
jurídicos. É típica das chamadas liberalidades. As liberalidades são aqueles

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

negócios gratuitos em que uma das partes pretende, através desse negócio,
enriquecer a outra. Ex: testamento; doação.
A finalidade da inserção de uma cláusula deste género é no fundo reduzir o
montante. A liberalidade tem em vista beneficiar a outra parte, através da
inserção de um modo, esse benefício diminui. O que recebe, justamente
porque não recebe um benefício puro, mas sim um benefício que vem com
encargos, recebe menos do que receberia se o encargo não tivesse lá.

O beneficiário não tem de aceitar liberalidade. Mas se aceita, aceita com os


ónus ou encargos que a liberalidade trouxer. Se aceita, aceita a totalidade,
incluindo também a parte que o onera ou que impõe uma obrigação. E,
portanto, sendo assim o beneficiário fica obrigado a cumprir o encargo, seja
ele qual for. Se eventualmente o cumprimento do encargo ultrapassar o
valor económico do próprio bem doado, daí em diante o beneficiário não
tem de cumprir; o cumprimento deixa de ser obrigatório – artigo 963º.
Nestes casos a doação pode chegar a ser um negócio oneroso. O normal, o
típico é que a doação seja um negócio gratuito.

 Quem é que pode exigir o cumprimento?


O normal, o típico, é que quando exista uma obrigação, essa pessoa esteja
obrigada perante outra. E, portanto, esta pessoa, a quem se chama credor é
que tem o direito a exigir o cumprimento. Terceiros não podem exigir
cumprimento porque não é em benefício deles que a obrigação está
instituída. Como o encargo, como a cláusula modal pode ser instituída em
benefício do próprio autor da liberalidade, como pode ser constituída a favor
de outra pessoa qualquer. Há hipóteses em que não é o autor da
liberalidade o principal interessado no cumprimento. Por isso é que se
estabelece no artigo 963º que o cumprimento do encargo tanto pode ser
pretendido pelo doador, como pelos respetivos herdeiros, como ainda pelos
eventuais interessados.

 E se o beneficiário da liberalidade não cumprir? Pode o autor da


liberalidade resolvê-la com o fundamento em não cumprimento?
Recorde-se que só nos contratos sinalagmáticos é que o direito de resolução
existe automaticamente – artigo 801º/2. Sempre que o contrato seja
sinalagmático, considera-se que o não incumprimento definitivo por uma
das partes atribui `outra o direito de resolução independentemente de isso
estar clausulado ou não. Uma liberalidade, mesmo que leve encargo, não é
um negócio sinalagmático. E, portanto, o regime do 801º/2 não se aplica,
pelo menos automaticamente. Portanto, a resposta à pergunta é: em geral,
a falta de cumprimento do encargo não dá ao autor da liberalidade o direito
de resolver. Podem exigir o cumprimento, mas se ele não for
voluntariamente assumido pelo beneficiário da liberalidade, quanto muito
podem exigir a indemnização por danos causados. De acordo com o artigo
965º, o contrato de doação que contiver um encargo pode também conter
uma clausula que atribua ao doador ou aos seus herdeiros o direito de
resolução com fundamento em não cumprimento do encargo. Portanto, se o

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

autor da liberalidade teve o cuidado de incluir a clausula que lhe atribui o


direito de resolução, perante o não cumprimento do encargo então pode
haver resolução; e, portanto, a doação fica sem efeito.

Se não resolvem, recorrem apenas ao mecanismo do cumprimento e


eventuais consequências associadas ao incumprimento, nomeadamente
responsabilidade por danos ou resolução. O que for mais conveniente.

Cláusulas contratuais gerais


As cláusulas contratuais gerais cláusulas são cláusulas contratuais para
todos os efeitos, também, que são inseridas, como em qualquer contrato
individualmente em cada contrato celebrado, mas têm a característica de
serem cláusulas que estão pé-elaboradas. Ou seja, uma das partes, antes
de qualquer contrato ser celebrado elabora cláusulas que depois mais tarde
hão de ser inseridas em qualquer negócio celebrado puramente. E,
portanto, sucede que na prática, uma das partes, ou seja, quem adere ao
serviço ou pretende o bem, limita-se a aceitar um contrato tal qual ele está
pré-elaborado. Ex: contratos de aquisição de serviços com telefone,
televisão por cabo, gás, eletricidade; contratos de seguros, etc. Em geral
são contratos que na prática não têm negociação e em que o adquirente
limita o seu poder negocial à celebração ou não celebração. Nestas
situações a parte que adere está por comparação, numa situação de
inferioridade, não do ponto de vista jurídico, do ponto de vista jurídico
funciona o princípio da paridade; os poderes são idênticos. Na prática
reconhecendo-se que não é assim, a lei pretende dar maior proteção ao
aderente. Daí que existam os requisitos gerais de inclusão. As cláusulas
pré-elaboradas podem integrar qualquer contrato individual, mas desde que
se cumpram duas regras/requisitos:
 Que sejam integralmente e atempadamente comunicadas ao
aderente
 Que quem as pré-elabora, e pretende inseri-las dê pelo menos uma
informação sobre o sentido geral do contrato, e sob as principais
cláusulas pré-elaboradas nele
Todas as clausulas que não cumpram estes requisitos, muito especialmente
o primeiro, consideram-se para todos os efeitos não incluídas. Por isso não
valem. Ainda que estejam escritas, não podem valer se não forem integral e
atempadamente integradas.

A lei ainda assim, contém uma cláusula geral da qual decorre a nulidade de
certas cláusulas, e depois contém uma enumeração mais ou menos extensa
daquelas cláusulas que nunca se admitem. Como ideia geral, são nulas as
cláusulas:
 Contrárias aos princípios da boa fé objetiva;
 Contém ainda uma listagem de cláusulas que podem ser:
• Absolutamente proibidas: são aquelas que jamais podem ser
incluídas em qualquer contrato. Ex: cláusulas de isenção de
responsabilidade. São nulas.

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

• Relativamente proibidas: são igualmente nulas, mas só são


proibidas conforme o contexto contratual; depende do contrato
e da importância que tem dentro desse contrato.
A lei tem uma listagem extensa das cláusulas absoluta e relativamente
proibidas. As que estiverem fora da lista, podem ser objeto de eventual
declaração de nulidade se for intentada uma ação para o efeito – a chamada
ação inibitória.

Vícios do negócio jurídico


Vícios são os defeitos que o negócio pode apresentar e que à conta disso,
eventualmente, poderão implicar a não produção de efeitos. Existem 3
hipóteses:
 Faltas de vontade: dão-se quando de todo não existe uma vontade,
na qual os efeitos no negócio possam fundamentar-se. É o vicio mais
grave de todos, porque supõe que o que parecia ser um negócio, o
que parecia ser uma declaração de vontade, afinal não o é.

Tipos de faltas de vontade:


Coação física: artigo 245º. O caso mais evidente é da coação física. O
que importa é que o coagido esteja a ser utilizado como se fosse um
objeto e, portanto, à conta disso esteja completamente carente de
uma vontade. Se não fosse a coação não agia, mas para se livrar do
mal age. Enquanto tiver opção de escolha é coação moral; quando
não tiver passa a ser coação física. Não há vontade de ação.
Consequências da coação física para negócios feitos sob coação
física: de acordo com o artigo 246º tem-se entendido que quando o
246º diz que o negócio sob coação física carece de qualquer efeito,
isso vale como sinónimo de inexistência jurídica. Nem sequer chega
ao patamar da nulidade. Um negócio nulo, existe juridicamente, não
tem é os efeitos que se pretendia tirar dele. Significa que é
juridicamente inexistente – é o ato que do ponto de vista jurídico, não
aconteceu. Não há qualquer vontade.

Falta de consciência da declaração: artigo 246º. No rigor, há uma


vontade só que essa vontade não vale para o efeito pretendido, e
sobretudo, nem sequer é vontade que se pretenda que valha para
efeitos jurídicos. Falta a consciência de que um certo gesto, para
certas circunstâncias vale juridicamente. A pessoa quis fazer a ação,
mas não teve noção de que aquilo que fez, juridicamente, a vinculava
a algo. Se se prova falta de consciência, o negócio é juridicamente
inexistente. No entanto, como resulta do próprio artigo, se a falta de
consciência for censurável, é responsável pelo dano que causou. Há
vontade de ação, mas não há vontade de declaração. Não se
pretende com aquela ação obter qualquer efeito jurídico.

Declaração não séria: artigo 246º. Serve para fixar uma fronteira
entre o jurídico e o não jurídico. A declaração é não séria, quando o

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

próprio contexto em que ela é feita revela que não pode ter
significado jurídico. É não séria quando não se pretende, dado o
contexto, que possa valer juridicamente. Desde que o contexto revele
que a declaração é feita para não valer juridicamente, ela é não séria.
E por isso se é não séria, não vincula e por isso não chega ao
patamar da invalidade. É juridicamente inexistente. Há vontade de
ação, mas não há vontade de declaração. Não se pretende
com aquela declaração que dali resultem efeitos jurídicos
dado que o contexto em que ela se faz, revela que não podem
ter efeitos jurídicos. A diferença deste caso para o anterior é
que na anterior o declarante em rigor não é declarante, não
em noção que é declarante. Nesta hipótese, o declarante tem
a noção que é declarante. Acontece é que o ambiente é que
demonstram que os efeitos não podem ser levados a sério do
ponto de vista jurídico.

 Vícios de vontade: nesta situação a vontade está presente/existe,


mas apresenta um defeito, que provando-se que ela existe, permite
concluir que a pessoa provavelmente não teria feito o que fez se não
fosse aquele defeito. O raciocino que está subjacente à identificação
de vícios da vontade é descobrir se caso não fosse um certo fator que
interveio na formação da vontade, a pessoa provavelmente não teria
feito aquilo que fez. Os únicos vícios da vontade a que a lei dá
significado para invalidar o negócio são:
MEDO
É um medo racional, ou seja, é medo no sentido que a pessoa perante uma
ameaça, perante uma situação constrangedora prefere atuar de certa
maneira e não de outra por receio das consequências. O medo é falta de
liberdade. A pessoa atua com medo quando a sua liberdade esteja
diminuída por causa da coação moral ou do estado de necessidade que
surge dentro do negócio usurário. O medo só tem relevância se for causado
por:
 Coação Moral: o que distingue a coação moral da coação física, não
é a utilização de meios físicos ou não. O que os distingue é o facto de
o coagido ter ou não ter liberdade de ação. Na coação física (coação
absoluta), o coagido não tem liberdade de atuação, é utilizado como
um instrumento; na coação moral (coação relativa), há liberdade de
atuação. É claro que a liberdade é limitada, restringida.

Os requisitos da coação moral são (artigo 255º):


• Declarante (pessoa coagida) seja ameaçada de um mal. É
necessário que o coagido fique numa situação em que se não
fizer a conduta do coator, este pratica um mal;
• É necessário que esse mal seja utilizado
• A ameaça de um mal tem de ser uma ameaça ilícita. Pode
haver ameaças lícitas. Ex: se o devedor não cumpre as suas

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

obrigações, o credor tem o direito de intentar a ação executiva


e na ação executiva penhorar os bens do devedor. A ameaça
que resulta do exercício de um direito não é coação. Também
não constitui coação o chamado temor referencial. É a hipótese
em que alguém celebra um negócio com medo de desagradar
outra pessoa. Ex: A pratica um negócio com medo de desiludir
B.
• É necessário que a ameaça do mal concretizável ilícita seja
proferida tendo em vista forçar uma declaração, tenha em
vista a celebração do negócio jurídico.
A coação moral só tem relevância para efeitos do negócio jurídico para
anular o negócio. Ora, se não houver um negócio celebrado na sequência da
coação, do ponto de vista negocial a coação não tem relevância porque não
há nada para anular.

Consequências:
Estando estes requisitos preenchidos, tem que se provar além disso, que a
coação causou o medo. Isto é, tem de se provar foi por causa da coação que
a pessoa, o coagido, declarou aquilo que não teria declarado porque está
sob a influência de medo; e depois, por fim, é necessário provar que por
causa desse erro, de sofrer as consequências ameaçadas, o negócio foi
celebrado. É necessário provar a Dupla causalidade (a coação causa o
medo, o medo causa o negócio). Provando-se isto, o negócio torna-se
anulável, nos termos o artigo 255º.
A coação pode ser:
o Proveniente do próprio declaratário: quando seja proveniente do
declaratário os requisitos de anulação são os indicados acima. Isto é,
é preciso que seja um mal de que se é ameaçado, mas não é
necessário que esse mal seja grave. É necessário também, que esse
mal seja visto como concretizável mas não tem de estar justificada a
possibilidade da sua consumação.
o Proveniente de terceiros: quando a coação seja proveniente de
terceiro, além da prova dos requisitos do artigo 255º é ainda
necessário que o mal de que se foi ameaçado é grave e segundo, que
se encontra justificado o receio da sua consumação.

Independentemente de o negócio poder ser anulado ou não, a coação só


por si é um ato ilícito e portanto, se causa danos dá origem a
responsabilidade civil nos termos gerais do artigo 483º/1 e por seu turno é
também, em geral, um tipo de crime e portanto, origina também
responsabilidade penal.

 Estado de Necessidade: é uma das hipóteses do chamado negócio


usurário – artigo 282º. E é o estado de necessidade, dentro do
negócio usurário, que pode provocar medo e, portanto, provocar a
celebração do negócio.

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

O Medo nunca tem relevância autónoma. Ou seja, o medo nunca é causa


de anulação. Só por si só não é motivo de anulação.

ERRO
Pode ser causado por dolo (comportamento doloso de outra pessoa) ou
pode ser espontâneo, significa que surge de uma forma que não é
provocada por uma conduta alheia, (erro que a pessoa incorre apenas
porque não se esclareceu o suficiente, não obteve os esclarecimentos que
seriam necessários para o efeito). Aqui a lei admitiu que a simples
existência de erro pudesse justificar a anulação mesmo que o erro não
tenha uma causa estranha à pessoa. O erro consiste no desconhecimento
da realidade ou pelo menos na falsa perceção dessa realidade.

Sublinha-se que a coação moral não é um vicio; o dolo não é um vício. São
causas de vicio. O vicio, no caso da coação moral é o medo; no caso do dolo
é um erro.

Como saber se há erro ou medo?


O raciocínio é sempre igual. É comparar aquilo que a pessoa efetivamente
declarou com aquilo que provavelmente teria declarado se não houvesse
erro (se a pessoa estivesse esclarecida) ou se não houvesse medo (se a
pessoa tivesse atuado livremente).
A comparação faz-se entre a chamada vontade real e a chamada vontade
conjetural. Compara-se aquilo que realmente foi declarado com aquilo que
provavelmente se teria declarado caso houvesse esclarecimento, caso
houvesse liberdade.
Exemplo: compra-se um anel convencido que o anel era de ouro e afinal
era de prata dourada. A pessoa declarou que queria comprar um anel. Isso
foi declarado, é a vontade real. Mas descobrindo que afinal está em erro,
prova-se que a pessoa se soubesse isso quando comprou não teria
comprado, ou pelo menos naquelas condições. Basta que a vontade
conjetural seja diferente, para se poder afirmar de imediato que há um
vicio, no caso do erro.
Se uma pessoa fizer uma doação porque foi ameaçada que se não a fizesse
se divulgariam publicamente certas imagens, o que a pessoa fez realmente
foi aquela doação. Mas provando-se a tal ameaça, prova-se também que se
não fosse a ameaça a pessoa não teria feito aquela doação, ou pelo menos
não teria feito naquelas circunstâncias. É suficiente para demonstrar que a
vontade conjetural, a vontade que teria tido é diferente daquela que
realmente teve.

A simples existência de erro, ou a simples existência de medo não chega


para anular. Há que considerar outros fatores, especialmente no caso do
medo.

Apesar de lei dar muita relevância ao erro, a regra é de que se estamos em


erro, não estivéssemos. Havendo erro, mesmo que se prove a sua

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

existência, em princípio a pessoa que está em erro suporta as suas


consequências.

Este erro de que falamos é o erro que é vício da vontade. É o chamado erro
vício. Depois veremos que há outra espécie de erro que não é erro na
formação da vontade, mas sim na declaração da vontade. É o chamado erro
obstáculo. O erro obstáculo não surge no processo de formação da vontade,
mas apenas na declaração. Em todo o caso, estamos no erro vício. O erro
que surge no processo de formação da vontade. O erro vício significa falta
de esclarecimento, é algo que surge no processo de formação da vontade. O
erro vício pode ser uma das quatro modalidades (erros
espontâneos):

Erro sobre o objeto: artigo 251º. O código civil, na parte geral, foi
inspirado no conceito de relação jurídica. Entendia-se que todos os
fenómenos jurídicos podiam ser reduzidos ao esquema da relação jurídica.
Este esquema implica 4 elementos: sujeitos (pelo menos dois – ativo e
passivo), objeto, facto (dá origem à relação), e garantia (tutela que a
relação jurídica concede para o sujeito ativo). No conceito de objeto,
distinguem-se 2 modalidades de objeto:
 Imediato – é constituído pelos direitos e obrigações resultantes da
relação jurídica;
 Mediato – é o bem/coisa à qual a relação jurídica se refere. No erro
sobre objeto mediato podem estar em causa apenas as simples
qualidades materiais do objeto, bem como as qualidades jurídicas
desse objeto.
Quando no artigo 251º se prevê o erro sobre o objeto, é sobre estes dois
objetos.

Erro sobre a pessoa do declaratário: artigo 251º. O declaratário é a


pessoa a quem a declaração se destina. Num contrato, há erro sobre a
pessoa do declaratário quando uma das partes está em erro sobre as
qualidades da outra parte. Ex: o arrendatário celebra o contrato de
arrendamento com o senhorio, na convicção de que o senhorio é o
proprietário do imóvel arrendado quando o senhorio é usufrutuário (também
pode dar de arrendamento, mas o direito de usufruto é necessariamente
temporário. Significa que se o usufruto se extingue o arrendamento
também, e essa qualidade pode ser importante para o arrendatário). De
acordo com o artigo 251º, a anulação do negócio fundado em erro sobre as
qualidades da pessoa do declaratário depende de essencialidade e
cognoscibilidade, daí a remissão para o 247º. Aplicando ao exemplo, o
arrendatário poderá anular o arrendamento provando, primeiro, que não o
teria celebrado se o soubesse que o senhorio não era proprietário – é a
essencialidade – e tem de provar também que o declaratário sabia ou devia
saber que para ele arrendatário, ou seja declarante, era importante que o
senhorio fosse o proprietário – cognoscibilidade da essencialidade.

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

Erro sobre a base do negócio: artigo 252º/2. Já foi referido que qualquer
erro, só é verdadeiramente erro se for reportado a circunstâncias passadas,
ou no máximo contemporâneas. A propósito da base do negócio a lei
contém 2 previsões:
 Artigo 252º/2: refere-se ao erro sobre a base do negócio
 Artigo 437º: refere-se à alteração superveniente da base do negócio.
Refere-se sempre à base do negócio. Acontece é que sobre a base do
negócio pode haver erro ou alteração superveniente. A demarcação faz-se
consoante o momento em que se está a considerar a falta de capacidade
conhecida.

Como pode haver erro sobre a base, ou alteração superveniente, a primeira


questão que se põe é saber o que é a base do negócio.
Há circunstâncias que rodeiam a celebração do negócio, que nem sequer é
objeto de negociação porque está pressuposto que irá suceder. Exemplo:
para comprar um bilhete para um concerto, não é necessário clausular que
o concerto vai acontecer no dia x.
Dando uma definição, a base do negócio é um conjunto de circunstâncias
patentemente fundamentais que rodearam a celebração do negócio.

Em relação a essas circunstâncias patentemente fundamentais, tanto pode


dar-se o caso de haver erro como o caso de haver alteração superveniente
(é o mais comum).
Exemplo: se concerto não se vai realizar não faz sentido que o negócio se
mantenha, dado que se comprou o bilhete no pressuposto que o concerto se
iria realizar.

Para que sobre a base do negócio incida erro é necessário supor que alguma
das partes, o que está em erro, há alguma circunstância patentemente
fundamental. Ex: voltando ao exemplo, quando se comprou o bilhete para o
concerto, este já tinha sido desmarcado, e quem comprou o bilhete não
tinha conhecimento disso.

Qual é a relevância de haver erro ou alteração superveniente da base. O


artigo 252º/2 remete para o 437º. Há vários requisitos que estão enunciados
no 437º, mas há um que é essencial. A alteração superveniente da base
tem relevância sempre que exigir o cumprimento do contrato tal qual foi
celebrado, não obstante a alteração seja contrário à boa fé. Isto é, exigir o
cumprimento do contrato tal qual foi celebrado não obstante a alteração, se
for contrária à boa fé pode-se dizer que a alteração tem relevância.
Exemplo: de um lado paga-se 100€ e do outro não há nada.

Como o artigo 252º/2 remete para artigo 437º, daí resulta que a relevância
do erro sobre o ato do negócio pressupõe os mesmos requisitos, ou seja,
quando há erro sobre a base do negócio, esse erro tem relevância anulatória
desde que se prove que manter o contrato com aquele erro viola
gravemente a boa fé porque cria um manifesto desequilíbrio de prestações.

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

Consequências: o requisito essencial é que haja violação grave do princípio


da equivalência, porque isso é violação do princípio da boa fé. Nos termos
do 437º se houver violação manifesta da equivalência, a parte que sai
prejudicada pode pedir a resolução do negócio, porque o que aconteceu,
aconteceu depois da celebração e o que acontece depois nunca gera
invalidade. O que acontece depois do ato jurídico ser celebrado
eventualmente atingirá os efeitos, mas não a sua validade.

A resolução é pôr termo ao negócio por declaração unilateral. Só se pode


resolver se, à partida, for válido. Se não é válido, não se pode resolver,
porque à partida não gera efeitos por ser inválido.
Ao contrário, apesar da linguagem do 252º/2, o erro sobre a base do
negócio não leva à resolução, porque o erro é falta de esclarecimento. E
falta de esclarecimento é um vício que está na origem. Ou seja, é um
defeito da vontade no momento em que o negócio é celebrado, e isso é um
problema de nulidade. Os vícios que afetam o negócio só são relevantes se
ocorrerem no momento em que ele é celebrado. Mas se ocorrerem nesse
instante geram a invalidade e não apenas a ineficácia. O erro sobre a base
do negócio só pode conduzir à anulação. Pode ser anulado pela pessoa que
está em erro. A invalidade tem 2 formas:
 Nulidade
 Anulabilidade

A lei permite que o negócio seja anulado, mas na verificação de 2 requisitos


cumulativos (artigo 251º remete para o 247º (está previsto o erro que é
vício da declaração) no que toca aos requisitos de anulação):
1. Essencialidade: demonstração de que a pessoa (declarante que
está em erro) não teria celebrado o negócio que celebrou se estivesse
esclarecido (tanto faz que se demonstre quede todo não teria
celebrado o negócio ou que simplesmente não teria celebrado o
negócio nos termos em que celebrou);
2. Cognoscibilidade: o declarante tem que provar, que o declaratário
(outra parte) sabia ou tinha de saber que para ele, declarante, aquela
qualidade sobre a qual incide o erro era essencial para a pessoa em
erro (declarante).

Erro sobre motivos em geral: artigo 252º/1 – tem carácter residual. Pode
ser invocado quando, havendo erro, ele não caiba em nenhuma das
hipóteses anteriores. Aplica-se sempre que não haja erro sobre uma das
outras hipóteses. Significa que se tem de começar pelas outras 3.
Exemplo: se o erro é sobre pessoa, mas não sobre a pessoa do
declaratário, é erro sobre motivos em geral. O A faz uma doação a B
julgando que está gravemente doente e é por isso que faz a doação. Prova-
se depois que os eros avaliaram mal, e o A não está gravemente doente.
Conclusão: há erro sobre as qualidades da pessoa, mas do próprio
declarante. Como isso não cabe no 252º/2, só pode caber no nº1.

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

Os 3 primeiros são sobre os motivos em especial. Todos estes erros são


sobre os motivos. São sempre erros no processo de motivação. A diferença é
que há motivos em especial: o objeto, a pessoa do declaratário, e a base do
negócio. E há motivos em geral, que são todos os que não forem estes.

Requisitos da relevância:
1. Para ser relevante é preciso que se prove a essencialidade. O
declarante, pessoa que está em erro, tem de provar que se tivesse
tido o esclarecimento que não obteve, não teria feito o negócio que
fez;
2. É preciso provar também, que a outra parte, declaratário, reconheceu
expressa ou tacitamente que o erro era essencial.

Conclusão: apesar de a lei ter, pelo menos, quatro regimes de erro, a regra
é de que não se pode anular com fundamento em erro. E por isso é que
estes requisitos são tão exigentes. Em princípio, a pessoa que está em erro
tem o ónus de se esclarecer antes de contratar. E, portanto, quem tem de
suportar as consequências da ignorância é o ignorante. Permitir a anulação
com fundamento em ignorância é transferir o que está em ignorância para o
outro, o risco da ignorância. E isso não pode suceder. A anulação só pode
ser exigida se os requisitos estiverem preenchidos.

Além destes requisitos todos, em certas espécies contratuais (ex:


casamento), a lei exige ainda outro requisito, a chamada desculpabilidade.
Isto é, mesmo que os outros requisitos estejam preenchidos, é preciso
provar que a pessoa em erro, incorreu nesse erro como qualquer pessoa
medianamente informada incorreria. Neste sentido é desculpável. Ao
contrário se o erro resulta de uma ignorância grosseira, é indesculpável, já
não se permite a anulação. Em geral a lei não estabelece esse requisito, e
faz sentido por isto: alguém compra uma casa desconhecendo que a casa
esta hipotecada. Isto revela uma ignorância pouco aceitável porque para
existir a hipoteca está necessariamente inscrita no registo predial. Quem
quer comprar tem o dever de primeiro consultar o registo para saber a
situação do imóvel. E depois, quando se celebra a escritura de compra e
venda, o notário que faz a escritura, tem de alertar o comprador de que
aquele imóvel está hipotecado. Se passando estas duas fases e ainda assim
diz que não tem noção do que é que isso significa, tem de se concluir que a
ignorância daquela pessoa é grosseira. Mas a verdade é que se a lei não
exige o requisito da desculpabilidade em geral, mesmo o erro grosseiro
justifica a anulação. É preciso é que os outros requisitos estejam
preenchidos.

Erro provocado por dolo


O erro pode surgir de forma espontânea. Esse erro pode ser causado pelo
dolo, que não é em si mesmo um vício; é a causa de um vício. O vício é
sempre o erro. Mesmo que haja dolo, o declarante querendo, pode anular
com fundamento em erro. Porque o dolo para ser relevante tem de ter

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

causado o erro. E, portanto haverá sempre erro. Em geral é mais fácil anular
o negócio com fundamento em dolo, e isso pode nem sempre se conseguir.
O dolo, de um modo geral, consiste num comportamento do declaratário ou
de terceiro que tem em vista criar o erro do declarante, ou pelo menos
mantê-lo. O erro provocado por dolo pode ser:
 Ativo: quando o declaratário ou terceiro pratica uma conduta que tem
em vista causar o erro. Ex: A vende ao B um imóvel declarando que o
imóvel está livre de hipoteca quando não está. Há um engano
propositadamente, com o intuito de criar um erro da outra parte e de
que o negócio seja celebrado não obstante desse encargo.
 Omissivo: é aquele que o declaratário ou terceiro apercebendo-se do
erro do declarante, não o esclarecem, no pressuposto de que tinha o
dever de informar. Só há dolo omissivo na hipótese em que o dever
de informar não tenha sido cumprido – artigo 253º/2. Num modo
geral, a omissão de um comportamento não é ilícita, a menos que a
pessoa tenha assumido a obrigação de fazer o que não fez. É o que
resulta do 253º/2. Só existe o dever de esclarecer, se resultar da lei,
por negócio jurídico anterior ou conceções dominantes do comércio
jurídico (em teoria deviam impor o dever de informar em casos muito
restritos) – mas tem de se levar em conta o disposto no artigo 227.
Na negociação dos contratos, as partes devem atuar pelas regras da
boa-fé objetiva. Entre essas regras de conduta, está o chamado
dever de lealdade. Resulta da boa-fé que na contratação as partes
devem ser leais uma com a outra. Ser leal é informar. E por isso, tem-
se entendido (em conjugação do 253º com o 227º) que quando se diz
conceções dominantes do comércio jurídico, isto apela à boa-fé. O
que faz com que na prática que o dever de informar exista quase
sempre.

Quem tem o dever de informar são o declaratário e o declarante (existe


quase sempre pela boa-fé) e os terceiros, apenas em casos excecionais. Se
não é cumprido e isso provoca erro no declarante há dolo omissivo e o
negócio pode ser anulado nos termos do 254º.

Para obter anulação do negócio com fundamento em dolo é necessário


provar que:
 Houve dolo;
 Dolo causou erro, e esse erro surge por causa do dolo
 Por fim, é o que se chama de dupla causalidade: é preciso provar
que o negócio foi celebrado porque a pessoa estava em erro, porque
houve dolo. Caso contrário não o teria celebrado.

Consequências da existência do erro causado por dolo (artigo 254º):


Consequência geral é que o negócio é anulável. Mas é preciso separar o
caso em que haja o dolo do declaratário, do que haja dolo de terceiro:

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

• Se for dolo do declaratário, o negócio é anulável. Portanto, se ele


demonstrar que houve dolo e que esse dolo causou o erro. Provando-
se isso, 254º, o negócio é anulável.
• Havendo dolo de terceiro, o negócio só é anulável provando-se que o
declaratário sabia ou tinha de saber da existência daquele dolo. O
declarante, a pessoa em erro, tem de provar que houve dolo de
terceiro e que esse dolo foi conhecido ou devia ter sido conhecido
pelo declaratário. Ex: automóvel tem uma fuga de óleo, o vendedor
não esclarece, porque não sabe e o comprador também não. O
terceiro sabia, mas garante que não tem uma fuga de óleo. Há dolo
de terceiro.
Caso contrário, o negócio é válido. Nessa situação o máximo que
pode acontecer é se o terceiro tira alguma vantagem para si desse
negócio, essa vantagem pode ser retirada. Ex: terceiro, pela venda
do automóvel pede uma comissão. É vulgar que quem quer vender o
automóvel, o coloque num sitio qualquer de outra pessoa. Essa
pessoa é apenas uma intermediária. Quem está disposto a comprar,
dirige-se ao intermediário, e compra ao vendedor. O intermediário
tem interesse no negócio, pode tirar uma percentagem do negócio.
Esta percentagem pode ser retirada se o terceiro utilizou o dolo com o
comprador.

Independentemente de haver negócio ou não, o dolo só por si é uma


conduta ilícita; é responsabilizado. Se houve dolo (terceiro ou
declarante) e esse dolo causou danos, tem de se responder sempre,
nos termos gerais do artigo 483º/1.

 Vícios da declaração:
Nos vícios da declaração, o que sucede é, num modo geral, uma divergência
entre a vontade real e a vontade declarada (é aquela que mediante as
regras de interpretação do 236º, é imputada); ou seja, a divergência é entre
aquilo que se declarou e aquilo que se queria declarar. É diferente dos
vícios da vontade, porque nos vícios da vontade a divergência é entre a
vontade real e a vontade conjetural; entre aquilo que se declarou e aquilo
que provavelmente se teria declarado se não houvesse vício. No que toca a
estas divergências que constituem os vícios da declaração temos de
distinguir entre:
 Divergências intencionais: são intencionais, aquelas em que a
divergência entre a vontade real e a declarada é pretendia. Ou seja, o
próprio autor ou autores pretendem perante terceiros ou perante a
outra parte, dar uma aparência que não corresponde à realidade. Se
a divergência é intencional isso significa automaticamente que ela é
enganosa. Enganosa num sentido diferente daquele que se utiliza
para efeitos de dolo (o engano tem em vista a criação do erro ou a
manutenção do erro do declarante). Aqui, enganoso é no sentido de
criar uma aparência que não corresponda à realidade. É aparentar o
que não é. Daqui, não se pretende, pelo menos em geral, tirar um

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

proveito, ou pelo menos, não se pretende prejudicar outras pessoas.


Nas divergências intencionais temos duas hipóteses:

SIMULAÇÃO
É necessariamente bilateral. Há simulação quando as partes declaram algo
que não corresponde à sua vontade real, nos termos do artigo 240º.
Primeiro ponto: que se declare aquilo que realmente não corresponde à
vontade. Depois que esta divergência seja pretendida, não apenas fruto do
descuido, erro, etc. A divergência tem de ser intencional. Por fim, é
necessário que esta divergência que se produz tenha sido previamente
acordada. Ambos declaram algo que não corresponde à sua vontade real,
porque estão de acordo sobre isso.

Ex 1: imagine-se que, A pôs parte dos seus bens em nome de B para fugir
aos respetivos credores. Para que um bem passe da titularidade de uma
pessoa, para a titularidade de outra tem de haver um acontecimento que o
justifique. Juridicamente chamamos a esse acontecimento de facto. Tem de
haver um facto jurídico que provoque a translação (a transferência de um
direito de uma pessoa para outra). Esse facto jurídico pode ser uma compra
e venda, doação, etc. A faz um negócio qualquer com B (como por exemplo,
compra e venda), mas está combinado com B que esse negócio não terá
efeitos. Aparentemente A, transferiu para B, mas na realidade não houve
nada. É uma simulação, ou seja, celebrou-se uma compra e venda, mas
realmente nada se fez. Diz-se então que a simulação é absoluta porque à
parte do que fizeram não querem mais nada. Não querem efeitos. Só
querem aparentar uma transferência.

Ex 2: A vende um imóvel a B por 500.000€. Mas para efeitos fiscais, em vez


de declararem na escritura, o preço real, estabelecem que o preço é de
300.000€. nesta hipótese, A quer realmente vender, e B quer realmente
comprar. Mas para obter uma ventagem qualquer, em rigor ilícita, declaram
na escritura de compra e venda um preço inferior àquele que realmente foi
pago. Não parece, mas nesta hipótese há duas compras e vendas: temos a
compra e venda pelo preço real, e há a compra e venda pelo preço
declarado. Ao contrário da hipótese anterior, aqui as partes querem alguma
coisa para além daquilo que estão aparentemente a querer. Diz-se que a
simulação é relativa porque em rigor, querer, querem; não querem é
aquilo que aparentam.

Para terceiros, esta compra e venda é real. E não se provando que houve
simulação a venda é real. Até que se prove a simulação o que está
declarado é o que vale. E provar uma simulação é muito difícil.

Como se viu dos exemplos, a primeira grande classificação, da simulação


pode ser:
 Absoluta: é absoluta quando apenas exista o chamado
negócio aparente. O negócio aparente é aquele que é

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

celebrado mas é também aquele cujos efeitos não se


pretendem. Para terceiros, o negócio aconteceu.
 Relativa: quando além do negócio aparente a que se chama
negócio simulado existam o negócio oculto que se chama
negócio dissimulado. Na simulação relativa, temos 2
negócios: o negócio aparente, cujos efeitos não se querem
(negócio simulado) e aquele negócio que partes realmente
querem (negócio dissimulado). A simulação relativa pode ser
total, pode estar a simular-se uma compra e venda quando na
realidade se está a fazer uma doação.

Provando-se a simulação:
 O negócio simulado (aparente) é sempre nulo nos termos do artigo
240º/2. Se a simulação for absoluta, só há anulação do negócio
simulado; prova-se a simulação, anula-se o negócio e extingue-se os
seus efeitos.
 Tratando-se de simulação relativa a questão complica-se um pouco
mais porque na perspetiva que a lei adotou há 2 negócios: negócio
simulado e o negócio dissimulado. Provando-se a simulação o negócio
simulado, continua a ser nulo, porque resulta artigo 240º/2 (é a
consequência). Mais difícil é a situação em que fica o negócio
dissimulado. A lei só tem uma regra quando a isto: a nulidade do
negócio simulado não atinge automaticamente o negócio dissimulado
– artigo 241º/2. Pode atingir, mas não automaticamente. Não é só
porque se prova a simulação e não é só porque à conta disso que o
negócio simulado é nulo que o negócio dissimulado automaticamente
será nulo. Como o negócio dissimulado não é automaticamente
atingido pela nulidade no negócio simulado, então deve aplicar-se ao
negócio dissimulado o regime (as regras próprias) desse negócio. Ex:
compra e venda que encobre uma doação. Se a simulação for
absoluta, o negócio dissimulado é nulo mas ao dissimulado aplica-se
o regime especial. A doação não é automaticamente nula, só porque
a compra e venda é nula. O que não quer dizer que a doação é válida.
Se a compra e venda simulada que encobre uma doação, incide sobre
coisa futura. A compra e venda da coisa futura é nula porque, é
simulada. Fica a doação. A doação não é nula só porque a compra e
venda é nula. Ficando à vista que houve doação, a doação não pode
ter por objeto coisas futuras, e por isso seria inválida, porque incide
sobre um objeto que a lei não admite sobre eventuais doações.

Consequências
O negócio simulado, aparente é sempre nulo – artigo 240º/2; e o negócio
oculto/dissimulado será válido ou inválido consoante as regras que se
apliquem. Isto é, o facto de o negócio simulado ser nulo não implica a
invalidade do negócio dissimulado. A validade de um não aplica a invalidade
do outro.

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

Espécies de simulação relativa


Simulação relativa, aquela em que há negócio dissimulado, pode ser:
• Objetiva: é objetiva quando aquilo que é simulado é o próprio
conteúdo do negócio, ou seja, são os próprios efeitos que estão a ser
simulados. Ex: declara-se um preço da compra e venda quando na
realidade se está a fazer uma doação. Portanto, aquilo que está a ser
aparentado diz respeito aos próprios efeitos negociais. As partes são
sempre as mesmas.
• Subjetiva: é subjetiva quando o que está a ser simulado são as
pessoas intervenientes. Ex: A celebra uma escritura de compra e
venda com B, mas a compra e venda realmente está a ser feita a C.
neste caso a simulação é subjetiva porque o que está a ser simulado
é a identidade das pessoas que é simulada. O negócio simulado é a
compra e venda A – B; o negócio dissimulado é a compra e venda A –
C. À simulação relativa subjetiva pode também chamar-se
interposição fictícia de pessoas – fictícia porque realmente, no
exemplo, B não adquire nada; só aparece como comprador mas
realmente, nada adquire; provando-se a simulação, prova-se que o B
nada adquiriu, porque nada comprou – e distingue-se da
interposição real de pessoas: na interposição real, efetivamente
há um terceiro que se interpõe, mas interpõe-se a mando de algum
dos outros intervenientes. A vende a B, porque C encarregou a B de ir
comprar a A; o verdeiro interessado na aquisição é o C. não é
simulado. A interposição real não é simulação porque se pretende
que os negócios tenham efeitos. Os negócios não são aparentes;
correspondem à real vontade das partes.

Voltando ao artigo 241º, descoberta, provada a simulação, o negócio


simulado é nulo. O negócio dissimulado não é automaticamente atingido, e
portanto, artigo 241º/1, deve aplicar-se o regime que corresponderia como
se se tivesse feito sem dissimulação. Só que fica o problema que é o que
tenta resolver o nº2: se o negócio dissimulado tiver de observar uma forma
escrita, levanta-se a questão de saber (pelo menos do ponto de vista
formal) o negócio dissimulado pode valer. O problema é: exemplificando, A
e B simulam uma compra e venda, mas realmente o que está acordado é
que aquilo será uma doação. Se isto incide sobre imóvel, só vai haver
escritura pública ou documento autenticado da compra e venda; o negócio
dissimulado está escondido. Se o querem esconder, não vão fazer uma
escritura pública também para o negócio dissimulado. Se o negócio
dissimulado não tiver de observar formas solenes, é perfeitamente
concebível que o negócio dissimulado respeite a sua própria forma.
Portanto, é concebível que se a lei exigir, por exemplo para o exemplo da
doação, apenas um documento particular, é possível que esse documento
exista porque é particular, não implica a intervenção de terceiros. Ao
contrário, se for necessário escritura pública ou documento autenticado é
inconcebível porque é incompatível com a dissimulação. Não faz sentido,
esconder, e depois colocar numa escritura pública. Não está a ser

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

escondido. E portanto, no rigor, vai haver escritura da compra e venda (que


é o simulado); não vai haver escritura da doação (que é o dissimulado). A
conclusão imediata seria, que nessas hipóteses, o dissimulado é nulo por
falta de forma – artigo 220º.

Há um princípio que é o princípio do aproveitamento do negócio; ou


seja, as partes são livres para fazerem o que quiserem (autonomia da
vontade), e portanto, em termos práticos, só se cria impedimentos, e
declarar a invalidade quando de todo, não der para salvar, quando está de
tão forma mal feito que não há salvação possível; caso contrário tenta-se
aproveitar o máximo o que se fez, para valer minimamente. Mesmo que não
seja tal qual pretendido, que valha alguma coisa. De acordo com este
princípio é possível pensar num aproveitamento da forma. É preciso é que o
negócio simulado tenha observado a forma que a lei exige para o
dissimulado.

Isto é dizer que o 241º/1 e 2, especialmente o nº2, estabelecem que a forma


que tem de ser observada, é a forma do negócio dissimulado. Mas a forma
do negócio dissimulado, tem de ser observada no simulado. Portanto, o
negócio simulado é que tem de cumprir a forma que a lei exige para o
dissimulado. Se isto não acontecer, o negócio dissimulado seria
formalmente inválido, nos termos gerais do artigo 220º, porque a forma
observada no negócio simulado não chega para o negócio simulado.

De acordo com os artigos 242º e 243º, segue-se, no que toca à invocação


da nulidade, o regime geral; isto é, as regras gerais sobre nulidade estão
contidas no artigo 286º. De acordo com este artigo, a nulidade pode ser
invocada, pretendida porque qualquer interessado. Os próprios
simuladores são interessados. Portanto, se alguém tiver interesse nisso, a
nulidade tanto pode ser pretendida pelos simuladores como por terceiros. É
preciso é que tenham interesse de declaração de nulidade. Ex: credores de
algum dos simuladores. Esta regra do artigo 286º é excecionada pelo artigo
243º/1. A nulidade proveniente da simulação não pode ser invocada contra
terceiros de boa-fé. Ia regra é de que se o negócio é nulo, todos aqueles que
dependem desse são igualmente inválidos, e independentemente de haver
terceiros de boa-fé ou não. Neste caso concreto, se houver terceiros de boa-
fé não se pode retirar os efeitos da nulidade. A boa-fé consiste na ignorância
de que se está a lesar terceiros no momento da aquisição.

Exemplo:
Suponha que A celebra compra e venda com B, apenas para evitar que
credores possam penhorar os bens. Portanto, o A realmente não quer
transferir, B não quer adquirir. A compra e venda é fingida no sentido que
não se querem os efeitos da compra e venda. Se ficar só assim, a nulidade
desta compra e venda (conseguindo-se provar a simulação) pode ser
pedida, pelo A, pelo B e pelos credores. Suponha agora que, antes de a
nulidade ser pedida, o B vendeu a C. e só depois é que se consegue

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

comprovar que a venda A-B foi simulada e que nem A, nem B queriam
aqueles efeitos. Provando-se a simulação da compra e venda A-B, prova-se
que o B não adquiriu, e portanto se não adquiriu não tem legitimidade para
transmitir para C. portanto, a compra e venda B-C fica venda de bem alheio
para todos os efeitos. Pela regra, a nulidade da compra e venda A-B, pode
ser pedida pelo, A, pelo B, pelo C e pelos credores.

Pode dar-se o caso de C estar de boa-fé, ou seja, desconhece que havia uma
simulação. Estando de boa-fé, de acordo com o 243º/1, A e B (simuladores)
não podem invocar simulação, não podem invocar nulidade contra C.
portanto, a boa-fé do C impede A e B de invocar a nulidade. A lei proíbe os
simuladores de invocarem a nulidade proveniente da situação. Os credores
não são simuladores, portanto ao contrário, os credores podem invocar a
simulação, mesmo contra C. uma conclusão possível é que a boa-fé do C
não lhe dá o direito que ele queria. A aquisição não procede só por ele estar
de boa-fé, porque para proceder ele tinha de ter defesa, não só contra A e
B, mas também contra terceiros. E se não tem, isso significa que o C, em
rigor, não adquire, só tem uma defesa que vale contra A e B. Se houver
outras pessoas que invoquem a nulidade, estar de boa-fé, para o C não
adianta.

Ao contrário, se não houver outras pessoas que invoquem a nulidade, pode


ser que por via da exceção invocada pelo C, através da sua boa-fé, o C
consiga preencher os requisitos de outros modos de aquisição que não este.
Designadamente os requisitos do 291º (visto mais para a frente).

O que importa de imediato, é que a boa-fé não é fundamento para adquirir


um direito. Constitui uma exceção relativa que o terceiro pode invocar
contra os simuladores, mas não dá defesa perante outras pessoas.

Ainda assim, tem-se entendido que se houver terceiros de má-fé, em


conflito com terceiros de boa-fé, os terceiros de má-fé, devem ser
equiparados a simuladores, e também não podem invocar simulação contra
terceiro de boa-fé.

Equiparam-se aos simuladores, os herdeiros dos simuladores. Segundo a lei,


os sucessores mortis causa podem ser uma de duas espécies:
 Herdeiros: recebem os bens indeterminados que só serão
determinados quando e se for feita a partilha; os herdeiros,
juridicamente são tidos como continuadores do autor da
sucessão. Juridicamente o herdeiro, recebe as situações jurídicas
que o autor da simulação tinha, tal qual ele as tinha, e juridicamente
é tido como um simples continuador. Daí resultar que se os
simuladores não tinham o direito de invocar a nulidade, porque eram
simuladores, o herdeiro também não pode; são sempre equiparados a
simuladores. Artigo 242º/2 e 243º, os herdeiros por seu turno, podem
ser:

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

 Legitimários: não podem ser afastados da sucessão; o


legítimo é aquele que só sucede se não houver herdeiro
legitimário. Portanto é um herdeiro supletivo. Os herdeiros
legitimários dos autores podem, em certas circunstâncias, ter
um direito próprio à declaração de nulidade, que não
advém/deriva do autor. É o que resulta do artigo 242º/2.
 Voluntários/testamentário: é designado por testamento.
 Legatários: são aqueles que recebem bens determinados, bens que o
próprio autor da sucessão identificou como devendo ser transmitidos
para aquela pessoa. Nesse caso, o sucessor é chamado o legatário e,
para todos os efeitos, é um credor de herança; adquire direitos a
partir da herança como qualquer outra pessoa pode adquirir. É um
credor de herança como outro credor qualquer.

Para efeitos do 242º só entram os legitimários. No que toca à legitimidade


específica dos herdeiros para invocarem a nulidade proveniente da
simulação nos termos do 242º/2, só os legitimários é que têm essa
legitimação. Os outros não podem invocar a simulação mesmo quando ela é
feita com o intuito de os prejudicar.

Para esse efeito faz-se uma distinção; uma outra classificação entre
simulação inocente e simulação fraudulenta. Na simulação inocente
existe apenas, como é próprio da simulação, o intuito de enganar terceiros,
ou seja existe apenas o propósito de criar uma aparência que não
corresponde à realidade, mas sem que se produza algum dano para terceiro.
Ao contrário, na simulação fraudulenta, além do propósito de enganar,
existe também o propósito de prejudicar, de lesar. Há uma hipótese
especialmente considerada na lei, que é aquela em que a simulação é
fraudulenta em prejuízo dos herdeiros legitimários. É a hipótese do artigo
242º/2. Não é fraudulenta, mas é fraudulenta especificamente para
prejudicar os herdeiros legitimários – não podem ser afastados da sucessão.

Ex: A simula uma compra e venda a D para prejudicar B, C, seus futuros


herdeiros. O negócio dissimulado é uma doação.
As doações feitas em vida, por exemplo, não podem afetar a legitima dos
legitimários. O artigo 242º existe para dar o direito de anular aos
sucessíveis (enquanto é possível que sucedam). Os sucessíveis têm de
salvaguardar a sua expectativa de aquisição, intentando uma ação da
declaração de nulidade, provando que houve simulação.

A conclusão é de que os herdeiros legitimários podem ter legitimidade para


a ação nulidade fundada em simulação por duas vias:
 Como continuadores, isto é, têm exatamente os mesmos direitos que
o autor da sucessão; exercem aqueles direitos que o autor da
sucessão podia exercer.
 Como sucessíveis legitimários, a título próprio, por direito próprio, os
herdeiros ou legitimários podem intentar a ação de nulidade fundada

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

em simulação quando a simulação feita pelo autor da sucessão os


prejudica.

RESERVA MENTAL
Em rigor só existe em teoria. Artigo 244º. É um vício da declaração,
portanto divergência intencional entre vontade real e vontade declarada.
Por fim, o que a distingue da simulação, a reserva mental é
necessariamente unilateral; é exclusivamente imputada ao declarante.
Portanto a finalidade do declarante é enganar o declaratário. Pretende-se
criar um negócio que realmente não se quer.

Tal como a simulação, a reserva pode ser:


 Absoluta: é absoluta quando o declarante emite uma declaração que
não corresponde à sua vontade; ele rigorosamente não quer efeitos
jurídicos (nem os que estão associados à sua declaração, nem
quaisquer outros)
 Relativa: é relativa quando o declarante não quer os efeitos
correspondentes à declaração, mas quer outros efeitos.
A reserva, só em teoria é que pode existir porque a reserva, sendo assim, é
um vício puramente interno, ou seja, é um vício que corresponde só a um
propósito, a uma intenção do declarante. Não é externamente reconhecível.
E portanto, a reserva não pode afetar a validade.

Daí que no artigo 244º/2, se diga que a reserva não prejudica a validade da
declaração, ou seja, a declaração feita sob reserva mantém-se válida haja
dolo ou não haja reserva.
Se por ventura o declaratário conhece a vontade real do declarante, então
nesse caso que diz-se que a declaração feita sobre reserva, equipara-se à
simulação. E portanto nesse caso, a declaração feita sob reserva é nula, ao
equiparar-se a simulação funciona o artigo 242º/2. É a exceção.

Pode pôr-se a hipótese de ambos os declarantes, partes estarem sob


reserva; declaram aquilo que realmente não querem. O caso não é de
simulação porque a simulação supõe uma combinação. É reserva bilateral
porque nenhuma das partes combinou com a outra que não queria.

Consequências:
Comprovando-se que havia reserva, comprova-se que as partes não
queriam aquele negócio, e neste caso, nenhuma delas. Sendo assim não há
razão nenhuma para proteger alguma expectativa, porque na hipótese
prevista no 244º/2, tiver reserva unilateral, e ela não ser conhecida da outra
parte, do declaratário. Nessa hipótese há uma expectativa do declaratário
que deve ser protegida. Se ele não sabe que o declarante estava sob
reserva, tem expectativa que o negócio se mantenha. E por isso não pode
invocar-se reserva, e não pode provocar-se invalidação do negócio dado que
uma das partes não tem de contar com a reserva.

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

Ao contrário, na reserva mental bilateral, ambas as partes estão sob reserva


portanto, em rigor nenhuma quer o negócio que declaram, podem querer
outro; mas aquele comunicado externamente não é pretendido por
nenhuma das partes. E por isso o negócio não pode valer porque nenhuma
das partes quer aquele negócio e não há expectativas, confiança que
mereça proteção dado que ninguém quer aqueles efeitos. É inexistente.

O que distingue a reserva mental da declaração não séria reside na


seriedade. A declaração não séria (artigo 245º) é feita na expectativa de
que o declaratário saiba de que não se quer os efeitos; na reserva mental
(artigo 244º), a declaração é feita sem intuito de produzir efeitos jurídicos,
mas essa falta de vontade de efeitos não é conhecida do declaratário.

A grande diferença, entre a simulação e a reserva mental, está no facto de a


simulação ser necessariamente bilateral (resultar de uma combinação entre
pelo menos duas pessoas) e a reserva mental ser unilateral (resulta
exclusivamente do declarante).

 Divergências não intencionais: situação em que para todos os


efeitos, há divergência entre a vontade real e a vontade declarada,
mas ela não resulta da própria intenção do declarante ou declarantes.
Primeira hipótese e mais importante (247º) corresponde ao chamado
erro na declaração ou erro obstáculo.

ERRO NA DECLARAÇÃO
Ou erro obstáculo (artigo 247º), surge apenas na comunicação justamente
porque as pessoas se enganam na forma como declaram; não há equívoco
na formação da vontade. A pessoa declara algo que não corresponde à
vontade real, sem intenção; a pessoa está esclarecida, não há defeito da
vontade, há sim, uma declaração que se profere que por erro, sem intenção
não corresponder à realidade.

Consequências:
O erro pode ser patente ou não.
 Erro patente: artigo 248º. Percebe-se de imediato que há erro, o
declarante tem apenas direito à retificação e não tem direito à
anulação.
 Erro não patente: se não for imediatamente percetível para o
declaratário, que o declarante está em erro, aplica-se o artigo 247º, e
então os requisitos de anulação são: essencialidade e
cognoscibilidade.

ERRO NA TRANSMISSÃO DA DECLARAÇÃO

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)


lOMoARcPSD|14318826

Artigo 250º. Supõe-se que há um intermediário que foi incumbido pelo


declarante, de transmitir a declaração a outra pessoa. Supõe-se ainda que
esse intermediário seja um núncio – por definição não tem qualquer
autonomia; limita-se a transmitir a declaração de que foi incumbido
transmitir.

As hipóteses de nunciatura são nulas havendo erro. Se o núncio não


transmite aquilo que foi incumbido ao declaratário, para todos os efeitos há
divergência (artigo 250º)
 Se houver dolo do núncio; se o núncio propositadamente declara algo
que não corresponde à vontade o declarante, o negócio é logo
anulável; o declarante tem logo o direito de anular. Tem é de provar
que houve dolo do núncio.
 Não havendo dolo, o artigo 250º remete para o 257º. O negócio será
anulável desde que o declarante consiga provar a essencialidade e
cognoscibilidade. É preciso é que não se demonstre que o núncio
atuou com dolo.

Downloaded by Resumos direito (apontamentoslaw@gmail.com)

Você também pode gostar