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Isto serve para dizer que os factos jurídicos são de uma variedade,
multiplicidade extrema, e portanto não dá sequer para sistematizar.
Como os factos jurídicos são de uma imensa variedade é importante fazer a
distinção, em atenção à intervenção da vontade, entre: facto jurídico em
sentido estrito – sentido próprio – e ato jurídico.
Ato jurídico – em princípio se um ato for voluntário, portanto se
ocorrer porque foi pretendido. Ex: se uma morte aconteceu em que
outra pessoa provocou essa morte, aqui encontramos a vontade para
provocar aquele acontecimento.
Facto jurídico – são acontecimentos que de um modo genérico não
sejam voluntários. Ex: se uma pessoa faleceu por morte natural, este
acontecimento é um facto jurídico em sentido próprio, pois a morte
não decorre de um ato voluntário.
Dado que, se logo à partida o facto é impermutável, nunca poderá ser ato
jurídico, será sempre jurídico stricto sensu.
Ex: se a morte acontece por razões naturais, isto não depende da vontade e
portanto isto é necessariamente um facto jurídico stricto sensu.
No plano da vontade, no que toca aos efeitos, a vontade pode pelo menos
distinguir-se em 2 coisas:
Vontade de ação: vontade de praticar os atos que praticou
independentemente da forma;
Vontade de resultado/funcional: é a vontade de produzir os
efeitos jurídicos correspondentes à atuação. Ou seja, uma coisa é
querer atuar; outra coisa é querer que isso produza efeitos. Só há
vontade funcional quando a pessoa quer os efeitos daquilo que fez.
Nestes casos, a Lei, parte do princípio de que as pessoas têm noção. Isto é,
parte-se do princípio de que há vontade funcional. E se há vontade de ação
presume-se que há vontade funcional. Se há vontade de ação, presume-se
que as pessoas quiseram os efeitos correspondentes à ação que realizaram.
A lei tem um regime geral para um negócio jurídico dos artigos 217º-294º
do Código Civil. E depois para o ato jurídico simples tem apenas um artigo –
295º - no qual se faz uma remissão para um regime anterior.
Para determinar esta parecença, faz-se uma classificação dos atos jurídicos
simples.
1ª Classificação:
De acordo com o artigo 405º do Código Civil, são denominados pela regra
da liberdade contratual. Nos contratos, em geral, as partes podem instituir
as clausulas que entenderam, e fazerem os contratos que quiserem.
Ninguém está obrigado a estar vinculado a um contrato a não ser que a lei
assim o exija. Ao contrário, pelo menos certos negócios unilaterais, estão
vinculados a limitações de qualidade e de quantidade – artigo 457º. Isto
quer dizer que, certos negócios unilaterais não são admitidos fora dos casos
previstos da lei. Só se admitem numa certa situação.
2ª Classificação:
3ª Classificação:
Negócios consensuais: em geral a lei não impõe restrições em
relação à forma (artigo 219º). De um modo geral os negócios são
consensuais, sendo, assim, a declaração de vontade livre
4ªClassificação:
Negócios reais quanto à Constituição: só estão acabados
/perfeitos/concluídos quando a coisa objeto desses negócios tiver sido
entregue. Enquanto a entrega não for efetuada o negócio não está
concluído. Exemplo: contrato de empréstimo, se tiver por objeto
coisa fungível chama-se mútuo, se tiver como objeto coisa infungível
chama-se comodato. Em qualquer caso só quando a entrega estiver
efetuada é que o contrato comodato ou mútuo é que estão
concluídos.
5ª Classificação
Recorde-se que a quantidade de direitos que uma pessoa tem num certo
instante forma a chamada esfera jurídica. Essa esfera jurídica tem 2
partes: hemisfério pessoal – estão os direitos pessoais – e hemisfério
patrimonial – estão os direitos patrimoniais.
Negócios Pessoais: versam sobre direitos pessoais. Exemplo:
casamento é negócio pessoal porque incide sobre direitos pessoais,
ou porque mexe/modifica direitos pessoais
6ª Classificação
Esta classificação só faz sentido para contratos.
Unilaterais
Negócios Bilaterais
Plurilaterais ou Contratos
Unilaterais
7ª Classificação
Cruza-se com a anterior mas é totalmente independente. A distinção faz-se
atendendo á existência ou não de sacríficos patrimoniais recíprocos.
Negócios onerosos: quando implica sacrifícios patrimoniais, perdas
patrimoniais para ambas as partes. Exemplo: compra e venda. O
vendedor perde a coisa e o comprador perde o valor da coisa em
dinheiro. Normalmente este dá para o contrato sinalagmático, mas
pode não ser assim.
8ª Classificação:
Os negócios onerosos, por sua vez dividem-se em:
Comutativos: quando exista equivalência de prestações, ou seja,
quando o valor patrimonial ou valor económico de cada uma das
atribuições patrimoniais seja equivalente, mais ou menos equivalente
ao valor económico da outra prestação, do outro sacrifício. A ideia é,
numa compra e venda, em princípio o valor que se paga é mais ou
menos o valor de mercado que o bem vendido terá. Não há
exatamente meios para medir a equivalência. Há meios para medir a
não equivalência. Isto é, se a falta de equivalência for muito
acentuada pode eventualmente estar preenchido o chamado negócio
usurário. Caso em que se pode anular o negócio celebrado,
justamente e, porque há um grande desequilíbrio de prestações,
desde que esse desequilíbrio não seja pretendido por uma das partes.
9ª Classificação
Negócios/ Atos de administração: são aqueles que, de um
modo geral, têm em vista a manutenção do património e,
portanto, são negócios que têm em vista a normal fruição –
obtenção de rendimentos – ou conservação desse património.
Exemplo: fazer colheita de uva ou azeitona; dar de arrendamento
uma casa ou um terreno para tirar rendimento a partir de um
determinado bem
Esta classificação releva sobretudo para uma coisa: sempre que exista
representação legal, sempre que alguém deva ser representado por outra
pessoa, o representante legal só tem poderes de administração e nunca de
disposição. Tratando-se de representação voluntária, ou seja, representação
através de nomeação de um procurador já se admite que o representado
possa dar ao procurador poderes de disposição mas tem de ser
especificado. Ou seja, através da procuração pode-se dar poderes de
administração geral. Mas para dar poderes de disposição é preciso
especificar quais é que são.
10ª Classificação
Negócios causais: é aquele que a respetiva razão de ser, portanto,
a causa que motiva a sua celebração é relevante para a fixação dos
efeitos. Se a causa não existir ou não for válida, o negócio causal não
pode ter efeitos
Negócios abstratos: é aquele que a respetiva causa não tem
relevância para a fixação de efeitos. Pelo menos não tem relevância
para a fixação de efeitos perante terceiros. Exemplo: endosso do
cheque.
11ª Classificação
Negócios Fiduciários: fidúcia significa confiança. E portanto o
negócio é fiduciário quando assenta na confiança. Dizer-se que é
fiduciário, significa dizer que uma das partes dá à outra
objetivamente poderes que espera, que confia que a outra não vai
exercer. Portanto, por outras palavras, em rigor, uma das partes que
é o fiduciante – aquele que confia – dá poderes que noutras
circunstâncias que não o faria. Mas justamente porque os dá, espera
que o fiduciário – quem recebe essa confiança – não exerça esses
poderes que lhe foram conferidos.
A ideia central é de que, em princípio qualquer negócio pode servir para ser
indireto ou fiduciário. Depende de como as partes clausulam, constroem o
negócio através das cláusulas que inserem.
Declaração e Vontade
O negócio jurídico é formado por 2 elementos estruturais: vontade e
declaração. A vontade é um fundamento dos efeitos, ou seja, a ideia geral é
que, os efeitos do negócio produzem-se porque as partes os quiseram. Ou
seja, não é a lei que determina os efeitos, é a vontade que os determina
ainda que seja de um modo geral e abstrato. A declaração é um modo
através do qual a vontade se manifesta.
Modalidades da declaração
A partir daqui tanto faz que sejam declarações recetícias ou não recetícias.
A distinção elementar faz entre:
Declaração por ação: há situações em que a vontade é declarada
mediante a prática de atos, um ou vários. A declaração por ação –
artigo 217º - distingue-se em:
Declaração expressa: a declaração é expressa quando se
manifesta através de um meio direto de manifestação de
vontade. Um meio é direto quando se utiliza um código de
comunicação que é unívoco, só tem um sentido possível, para
os intervenientes. Exemplo: se alguém declara por escrito “eu
vendo” essa expressão tem um sentido unívoco para ambas as
pessoas. A mesma coisa serve para quando no casamento a
pessoa diz “eu aceito” mesmo que não seja por escrito. Se num
código conhecimento por duas pessoas fazer não com a cabeça
vale sim, então para as duas pessoas esta declaração também
é expressa.
Declaração tácita: a tácita é uma modalidade de declaração
por ação, portanto, supõe um comportamento qualquer. A
declaração é tácita, quando se utiliza um meio indireto de
manifestação da vontade. Portanto, um meio indireto de
comunicação é aquele que não tem um sentido unívoco. Se de
entre os vários sentidos possíveis haver um que tem uma
grande possibilidade de prevalecer, um que tiver grande
probabilidade de corresponder à vontade, então a declaração é
tácita nesse sentido.
A ligação que existe entre os factos que permitem tirar essa elação ou
dedução e a própria declaração tácita é aquilo que se chama presunção.
As presunções são portanto, meios de prova (é assim que a lei os qualifica
nos artigos 349º-351º) mas que assentam apenas numa elação que se
extrai a partir de factos que autorizam essa elação. As presunções podem,
tecnicamente, ser de duas espécies:
Legais: são aquelas que a lei estabelece. Para haver presunção legal,
é preciso que a lei estabeleça qual é o facto concluente e qual é a
elação que se tira a partir desse facto. Exemplo: no artigo 1260º/2
quando se diz: “a posse não titulada presume-se de má-fé.” A lei
Judiciais: são tiradas pelo próprio julgador. Não tem de ser em tribunal
embora regularmente seja em tribunal. São tiradas pela pessoa que
julga uma situação qualquer e assentam numa elação que essa
pessoa tira a partir de factos que foram provados. Portanto, há
sempre uma certa dose de pelo menos discricionaridade. Espera-se
que não chegue à arbitrariedade, mas certamente discricionaridade
haverá. Pode haver elações que um julgador tira para este caso tira
que outro não tiraria nestas mesmas circunstâncias. As presunções
judiciais são sempre ilidíveis, admitem sempre a prova do contrário.
Formação do Contrato
Qualquer contrato, como regra, pode-se formar por declaração expressa,
tácita ou silêncio. O código para este propósito regulou apenas o chamado
processo típico de contratação. Aquilo que a lei regulou, que é o tradicional,
é o esquema de contratação que assenta numa proposta e uma aceitação. A
ideia é que, em geral, para se formar um contrato é necessário que alguém
formula uma proposta, que a dirija ao respetivo destinatário, e que este
aceite. Só com a aceitação é que o contrato está formado. Ate lá, há apenas
Requisitos da proposta:
Completa: só se determinada depois da aceitação. A ideia central é
de que a declaração deve conter todos os elementos que forem
necessários para a formação do contrato de modo a que baste a
aceitação pura e simples (sim, aceito) para que o contrato se forme.
Só depois de proferir a aceitação é que conseguimos perceber se a
proposta tinha todos os elementos necessários. Se não os contém, no
rigor, não é proposta. Ex: quando as pessoas querem vender um
automóvel é normal as pessoas colocarem um papel com um número
de telemóvel. Imagine-se que há alguém que vê e liga e a primeira
coisa que diz é sim, aceito. Mas ele não aceita nada. Não sabe o
estado interior do carro, preço, se o carro até anda, etc. Há uma serie
de pormenores suplementares dos quais depende a celebração.
Portanto, por outras palavras, isso não é uma proposta. O que não
respeita os requisitos para ser proposta é tido como convite a
contratar (é juridicamente indiferente; só por si não tem efeito; a
proposta tem efeitos). A ideia central é de que, se a declaração não
tiver tudo o que é necessário para a aceitação pura e simples só pode
ser tida como convite a contratar.
A aceitação, para ser aceitação, portanto para que haja uma declaração de
aceitação é preciso que seja pura e simples: “sim, aceito” “sim, concordo”
tem de ser pura e simples. Porque se for “sim, mas”; este mas por muito
pequena que seja a exceção que se faz, a ressalva, a verdade é que este
“mas” é uma modificação que se pretende introduzir. Portanto não é
aceitação pura e simples. Portanto em rigor se se diz “sim, mas” no rigor
não se está a aceitar. Está-se a concordar com tudo menos com alguma
coisa. O simples facto de o destinatário da proposta estar a proferir a
aceitação com este “mas”, com esta ressalva, significa para todos os efeitos
que não está a aceitar. Está quase a aceitar, o acordo está prestes mas
ainda não foi obtida. A aceitação com ressalvas para todos os efeitos
equivale a rejeição. Aceitar com ressalvas é não aceitar. Para todos os
efeitos é rejeitar. Eventualmente a lei aceita esta hipótese: se as ressalvas
feitas forem muito precisas, se se entender claramente o que se quer com a
ressalva então passa a “aceitação com modificações2 passa a valer como
contraproposta. O resto é idêntico. O que seria o aceitante passa a
proponente – invertem-se os papéis. Se isto for assim, nesse instante
conclui-se o contrato. Nos termos do artigo 232º o contrato só está
concluído quando as partes chegam a acordo sobre todas as circunstâncias,
todos os elementos, que cada uma delas considera essenciais. A
essencialidade que está aqui em causa não é a essencialidade objetiva. O
que está aqui em causa não é saber se aqueles elementos em causa são
efetivamente essenciais ou não. O que importa é o que é que as partes
consideram essencial ou não. A essencialidade é subjetiva. A discrepância
entre uma parte e outra pode surgir apenas sobre o local onde se irá
celebrar o contrato, por exemplo.
Efeitos da proposta
Processo de Contratação
Tipos de contratação:
Sobre documento
Designadamente, pelo menos, naqueles casos em que a lei exija, ponha a
observância de uma forma específica para celebrar um contrato,
Contratação automática
Português para, em geral, vending machines. Contratação automática dá-se
quando uma das partes contrata através de um autómato. Evidentemente o
consumidor não contrata com a máquina. A máquina não é pessoa. O
contrato é celebrado com aquela pessoa que coloca a máquina ali para
contratação. Aqui já dá para distinguir proposta e aceitação. O problema é
saber quem faz a proposta e quem faz a aceitação. Exemplo: se uma
pessoa estiver com um problema de saúde e precisar de uma garrafa de
água e alguém, por essa pessoa, vai à máquina e coloca 50 cêntimos para
tirar a garrafa de água. E a máquina não funciona e não dá a garrafa de
água. Há conta disso a pessoa teve de ser conduzia ao hospital, o seu
problema de saúde foi mais sério do que o que seria se a pessoa tivesse tido
acesso mais rápido à água e portanto essa pessoa tenta responsabilidade
civil por danos causados contra aquele que explorava a máquina. Com
fundamento no facto de que se a simples existência da máquina já formaliza
a proposta, e se quando nós colocamos a moeda estamos a aceitar, significa
que assim que a moeda entra, pelo menos se não for devolvida, não
fornecendo o produto mas ficando com a moeda; o contrato está concluído
porque nós aceitamos mas não foi cumprido. Se nos aceitámos, cumprir o
contrato significaria fornecer a garrafa. Se ela não é fornecida, há
Contratação em autosserviço
É o mesmo género da anterior. Para todos os efeitos é self-service. Já não é
contratação por máquina, mas é uma contratação através do próprio
adquirente dos bens.
Ex: bombas de gasolina. Considera-se que de facto a bomba que está
aberta constitui apenas convite a contratar; o utente, o consumidor é que
faz a proposta quando coloca o veículo junto à bomba e essa proposta será
aceite ou não consoante a bomba funcione ou não funcione. Se não
funciona significa que não houve aceitação e não há contrato. Haverá
aceitação ou não consoante o combustível for fornecido ou não.
Artigo 227º
Enquanto o contrato não estiver concluído, não há contrato. Só há contrato
quando o acordo tiver sido obtido (artigo 232º). Só há contrato quando
todas as partes estiverem em acordo sobre todos os elementos que cada
parte considerou essenciais. Quando eventualmente a lei exija um certo
documento para o efeito, esse acordo só é contrato quando estiver contido
no documento. Em termos práticos, o acordo está obtido antes, o contrato
está feito antes, mas enquanto não for passado para o papel não há
contrato. Portanto, tudo o que antecede o contrato, seja muito longo e
delicado, seja muito curto simples, é processo de contratação que antecede
o contrato.
A regra é a do artigo 236º/1. Esta regra tem uma limitação. É que daqui
pode sair um sentido, o tal sentido objetivo, que nada tem a ver com a
vontade do declarante. Ou seja, pode sair como resultado da interpretação,
algo que lhe vai interpretar uma vontade muito longínqua do que tinha em
mente.
Isto significa que num caso qualquer começamos pelo artigo 236º/2. A
primeira coisa a averiguar é se as partes conhecem reciprocamente as
respetivas vontades. Se elas conhecem reciprocamente as respetivas
vontade, não importa aquilo que objetivamente se tiraria das suas
declarações, não importa o que é que elas eventualmente poderiam
pretender porque conhecem-se reciprocamente as respetivas vontades. É
de acordo com isso que vale a declaração – com o sentido real das partes.
Só se não se conseguir provar qual é a vontade real das partes, é que
passamos para o 236º/1. Só se passa para a avaliação do sentido objetivo
no pressuposto de que o sentido subjetivo não é conhecido reciprocamente
pelas partes.
Casos especiais
São casos em que estas regras têm aplicação, mas têm aplicação com
cuidados especiais, com alguns limites.
Negócios formais: artigo 238º. Negócios formais ou solenes são
aqueles que devem obedecer a uma certa forma escrita. E portanto
são aqueles em que a lei impõe a observância dessa forma. Nestes
casos em que assim seja, esteja-se a interpretar pelo 236º/2 (vontade
real) ou 236º/1, o resultado a que se chegar deve ter o mínimo de
correspondência no texto do documento. Deve estar lá minimamente
contido. Caso contrário, estar-se-á a dar forma a um negócio que não
foi feito e o negócio feito não estará contido na forma.
Conclusão: A compra e venda que foi feita é nula por falta de forma. Não
observou a forma em que a lei insiste para esse efeito. Há uma escritura
pública que não corresponde a esse efeito.
Conteúdo do negócio
Especialmente para os contratos vigora o princípio da liberdade (artigo
405º) que é uma decorrência geral de um princípio mais importante –
b) Indeterminabilidade:
As partes podem convencionar o que quiserem, mas se as obrigações daí
resultantes tiverem conteúdo indeterminado, se não souberem
exatamente a que é que ficam vinculadas, esse efeito que se pretende
obter é inválido, é nulo nos termos do artigo 280º.
Espécies
Condição e termo: Os que não podem ser subordinados a estas
cláusulas designam-se negócios puros, justamente porque não podem
ser condicionados nem podem levar termo. Ex: casamento,
perfilhação.
Quer na condição, quer no termo, estamos perante factos futuros.
Ex: em doações a nascituros, para quem entenda que os nascituros não são
pessoas, as doações a nascituros ficam dependentes de um facto futuro e
incerto – que é o nascimento. Mas esse facto futuro e incerto que condiciona
a verificação resulta da própria lei. Não é o doador que estabelece isso
como cláusula do negócio, ou seja, não é preciso que o doador diga que
aquela doação fica dependente do nascimento do donatário, porque ela está
dependente por natureza do nascimento do donatário. Quer esteja
estabelecido isso no contrato ou não, já resulta da lei. Não é uma clausula
voluntariamente inserida no negócio. Não é condição no sentido próprio do
termo.
Há negócios que não admitem nem condição nem termo – negócios puros.
A regra é que qualquer negócio, especialmente se for patrimonial pode ser
objeto de uma clausula de condição ou termo. Há também negócios que,
não obstante de poderem ter condições ou termos, não podem ter certas
condições ou termos – artigo 1271º, condições ou termos ilícitos.
Funciona a mesma ideia do 280º.
Consequências:
• Se negócio estiver sujeito a condição ou termo resolutivo, com a
respetiva verificação, o negócio cessa os seus efeitos. Resolução
significa isso mesmo do ponto de vista jurídico. Resolver é fazer
cessar efeitos; se o negócio estava sujeito a condição resolutiva e a
condição não se verifica ou há certeza de que não se verificará, o
negócio que estava sob condição deixa de o estar. Tudo se passa
como se não houvesse condição. Consequência: negócio é
considerado como negócio sem condição. Ela está escrita, clausulada,
é válida, mas não tem efeitos na medida em que não se verifica e há
certeza de que não se verificará
• Se negócio estiver sujeito a condição ou termo suspensivo a
verificação da condição ou termo desencadeia a produção de efeitos;
se a condição não se verifica, sendo suspensiva, tudo se passa como
se o negócio nunca tivesse sido celebrado. Ou seja, o negócio existe,
é válido, mas não tem nem terá efeitos.
Sequência
De um modo geral, artigo 276º, a verificação da condição ou do termo tem
eficácia retroativa.
Ex: se A vende a B, e a venda só tem efeitos quando B pagar, a venda fica
sujeita a condição suspensiva. Mas quando B pagar considera-se que B era
titular do direito comprado, desde a data em que a compra foi feita. Tudo se
passa como se a compra e venda não tivesse condição suspensiva; tudo se
passa como se a compra e venda tivesse tido os seus efeitos todos no exato
momento dado o instante em que foi celebrado. Nesse instante produziram-
se os efeitos, o comprador é titular do poder de comprar, apesar de em rigor
não ser bem assim.
Exceções:
Tratando-se de condição ou termo resolutivo, não há retroação
sempre que estejamos perante os chamados contratos de execução
negócios gratuitos em que uma das partes pretende, através desse negócio,
enriquecer a outra. Ex: testamento; doação.
A finalidade da inserção de uma cláusula deste género é no fundo reduzir o
montante. A liberalidade tem em vista beneficiar a outra parte, através da
inserção de um modo, esse benefício diminui. O que recebe, justamente
porque não recebe um benefício puro, mas sim um benefício que vem com
encargos, recebe menos do que receberia se o encargo não tivesse lá.
A lei ainda assim, contém uma cláusula geral da qual decorre a nulidade de
certas cláusulas, e depois contém uma enumeração mais ou menos extensa
daquelas cláusulas que nunca se admitem. Como ideia geral, são nulas as
cláusulas:
Contrárias aos princípios da boa fé objetiva;
Contém ainda uma listagem de cláusulas que podem ser:
• Absolutamente proibidas: são aquelas que jamais podem ser
incluídas em qualquer contrato. Ex: cláusulas de isenção de
responsabilidade. São nulas.
Declaração não séria: artigo 246º. Serve para fixar uma fronteira
entre o jurídico e o não jurídico. A declaração é não séria, quando o
próprio contexto em que ela é feita revela que não pode ter
significado jurídico. É não séria quando não se pretende, dado o
contexto, que possa valer juridicamente. Desde que o contexto revele
que a declaração é feita para não valer juridicamente, ela é não séria.
E por isso se é não séria, não vincula e por isso não chega ao
patamar da invalidade. É juridicamente inexistente. Há vontade de
ação, mas não há vontade de declaração. Não se pretende
com aquela declaração que dali resultem efeitos jurídicos
dado que o contexto em que ela se faz, revela que não podem
ter efeitos jurídicos. A diferença deste caso para o anterior é
que na anterior o declarante em rigor não é declarante, não
em noção que é declarante. Nesta hipótese, o declarante tem
a noção que é declarante. Acontece é que o ambiente é que
demonstram que os efeitos não podem ser levados a sério do
ponto de vista jurídico.
Consequências:
Estando estes requisitos preenchidos, tem que se provar além disso, que a
coação causou o medo. Isto é, tem de se provar foi por causa da coação que
a pessoa, o coagido, declarou aquilo que não teria declarado porque está
sob a influência de medo; e depois, por fim, é necessário provar que por
causa desse erro, de sofrer as consequências ameaçadas, o negócio foi
celebrado. É necessário provar a Dupla causalidade (a coação causa o
medo, o medo causa o negócio). Provando-se isto, o negócio torna-se
anulável, nos termos o artigo 255º.
A coação pode ser:
o Proveniente do próprio declaratário: quando seja proveniente do
declaratário os requisitos de anulação são os indicados acima. Isto é,
é preciso que seja um mal de que se é ameaçado, mas não é
necessário que esse mal seja grave. É necessário também, que esse
mal seja visto como concretizável mas não tem de estar justificada a
possibilidade da sua consumação.
o Proveniente de terceiros: quando a coação seja proveniente de
terceiro, além da prova dos requisitos do artigo 255º é ainda
necessário que o mal de que se foi ameaçado é grave e segundo, que
se encontra justificado o receio da sua consumação.
ERRO
Pode ser causado por dolo (comportamento doloso de outra pessoa) ou
pode ser espontâneo, significa que surge de uma forma que não é
provocada por uma conduta alheia, (erro que a pessoa incorre apenas
porque não se esclareceu o suficiente, não obteve os esclarecimentos que
seriam necessários para o efeito). Aqui a lei admitiu que a simples
existência de erro pudesse justificar a anulação mesmo que o erro não
tenha uma causa estranha à pessoa. O erro consiste no desconhecimento
da realidade ou pelo menos na falsa perceção dessa realidade.
Sublinha-se que a coação moral não é um vicio; o dolo não é um vício. São
causas de vicio. O vicio, no caso da coação moral é o medo; no caso do dolo
é um erro.
Este erro de que falamos é o erro que é vício da vontade. É o chamado erro
vício. Depois veremos que há outra espécie de erro que não é erro na
formação da vontade, mas sim na declaração da vontade. É o chamado erro
obstáculo. O erro obstáculo não surge no processo de formação da vontade,
mas apenas na declaração. Em todo o caso, estamos no erro vício. O erro
que surge no processo de formação da vontade. O erro vício significa falta
de esclarecimento, é algo que surge no processo de formação da vontade. O
erro vício pode ser uma das quatro modalidades (erros
espontâneos):
Erro sobre o objeto: artigo 251º. O código civil, na parte geral, foi
inspirado no conceito de relação jurídica. Entendia-se que todos os
fenómenos jurídicos podiam ser reduzidos ao esquema da relação jurídica.
Este esquema implica 4 elementos: sujeitos (pelo menos dois – ativo e
passivo), objeto, facto (dá origem à relação), e garantia (tutela que a
relação jurídica concede para o sujeito ativo). No conceito de objeto,
distinguem-se 2 modalidades de objeto:
Imediato – é constituído pelos direitos e obrigações resultantes da
relação jurídica;
Mediato – é o bem/coisa à qual a relação jurídica se refere. No erro
sobre objeto mediato podem estar em causa apenas as simples
qualidades materiais do objeto, bem como as qualidades jurídicas
desse objeto.
Quando no artigo 251º se prevê o erro sobre o objeto, é sobre estes dois
objetos.
Erro sobre a base do negócio: artigo 252º/2. Já foi referido que qualquer
erro, só é verdadeiramente erro se for reportado a circunstâncias passadas,
ou no máximo contemporâneas. A propósito da base do negócio a lei
contém 2 previsões:
Artigo 252º/2: refere-se ao erro sobre a base do negócio
Artigo 437º: refere-se à alteração superveniente da base do negócio.
Refere-se sempre à base do negócio. Acontece é que sobre a base do
negócio pode haver erro ou alteração superveniente. A demarcação faz-se
consoante o momento em que se está a considerar a falta de capacidade
conhecida.
Para que sobre a base do negócio incida erro é necessário supor que alguma
das partes, o que está em erro, há alguma circunstância patentemente
fundamental. Ex: voltando ao exemplo, quando se comprou o bilhete para o
concerto, este já tinha sido desmarcado, e quem comprou o bilhete não
tinha conhecimento disso.
Como o artigo 252º/2 remete para artigo 437º, daí resulta que a relevância
do erro sobre o ato do negócio pressupõe os mesmos requisitos, ou seja,
quando há erro sobre a base do negócio, esse erro tem relevância anulatória
desde que se prove que manter o contrato com aquele erro viola
gravemente a boa fé porque cria um manifesto desequilíbrio de prestações.
Erro sobre motivos em geral: artigo 252º/1 – tem carácter residual. Pode
ser invocado quando, havendo erro, ele não caiba em nenhuma das
hipóteses anteriores. Aplica-se sempre que não haja erro sobre uma das
outras hipóteses. Significa que se tem de começar pelas outras 3.
Exemplo: se o erro é sobre pessoa, mas não sobre a pessoa do
declaratário, é erro sobre motivos em geral. O A faz uma doação a B
julgando que está gravemente doente e é por isso que faz a doação. Prova-
se depois que os eros avaliaram mal, e o A não está gravemente doente.
Conclusão: há erro sobre as qualidades da pessoa, mas do próprio
declarante. Como isso não cabe no 252º/2, só pode caber no nº1.
Requisitos da relevância:
1. Para ser relevante é preciso que se prove a essencialidade. O
declarante, pessoa que está em erro, tem de provar que se tivesse
tido o esclarecimento que não obteve, não teria feito o negócio que
fez;
2. É preciso provar também, que a outra parte, declaratário, reconheceu
expressa ou tacitamente que o erro era essencial.
Conclusão: apesar de a lei ter, pelo menos, quatro regimes de erro, a regra
é de que não se pode anular com fundamento em erro. E por isso é que
estes requisitos são tão exigentes. Em princípio, a pessoa que está em erro
tem o ónus de se esclarecer antes de contratar. E, portanto, quem tem de
suportar as consequências da ignorância é o ignorante. Permitir a anulação
com fundamento em ignorância é transferir o que está em ignorância para o
outro, o risco da ignorância. E isso não pode suceder. A anulação só pode
ser exigida se os requisitos estiverem preenchidos.
causado o erro. E, portanto haverá sempre erro. Em geral é mais fácil anular
o negócio com fundamento em dolo, e isso pode nem sempre se conseguir.
O dolo, de um modo geral, consiste num comportamento do declaratário ou
de terceiro que tem em vista criar o erro do declarante, ou pelo menos
mantê-lo. O erro provocado por dolo pode ser:
Ativo: quando o declaratário ou terceiro pratica uma conduta que tem
em vista causar o erro. Ex: A vende ao B um imóvel declarando que o
imóvel está livre de hipoteca quando não está. Há um engano
propositadamente, com o intuito de criar um erro da outra parte e de
que o negócio seja celebrado não obstante desse encargo.
Omissivo: é aquele que o declaratário ou terceiro apercebendo-se do
erro do declarante, não o esclarecem, no pressuposto de que tinha o
dever de informar. Só há dolo omissivo na hipótese em que o dever
de informar não tenha sido cumprido – artigo 253º/2. Num modo
geral, a omissão de um comportamento não é ilícita, a menos que a
pessoa tenha assumido a obrigação de fazer o que não fez. É o que
resulta do 253º/2. Só existe o dever de esclarecer, se resultar da lei,
por negócio jurídico anterior ou conceções dominantes do comércio
jurídico (em teoria deviam impor o dever de informar em casos muito
restritos) – mas tem de se levar em conta o disposto no artigo 227.
Na negociação dos contratos, as partes devem atuar pelas regras da
boa-fé objetiva. Entre essas regras de conduta, está o chamado
dever de lealdade. Resulta da boa-fé que na contratação as partes
devem ser leais uma com a outra. Ser leal é informar. E por isso, tem-
se entendido (em conjugação do 253º com o 227º) que quando se diz
conceções dominantes do comércio jurídico, isto apela à boa-fé. O
que faz com que na prática que o dever de informar exista quase
sempre.
Vícios da declaração:
Nos vícios da declaração, o que sucede é, num modo geral, uma divergência
entre a vontade real e a vontade declarada (é aquela que mediante as
regras de interpretação do 236º, é imputada); ou seja, a divergência é entre
aquilo que se declarou e aquilo que se queria declarar. É diferente dos
vícios da vontade, porque nos vícios da vontade a divergência é entre a
vontade real e a vontade conjetural; entre aquilo que se declarou e aquilo
que provavelmente se teria declarado se não houvesse vício. No que toca a
estas divergências que constituem os vícios da declaração temos de
distinguir entre:
Divergências intencionais: são intencionais, aquelas em que a
divergência entre a vontade real e a declarada é pretendia. Ou seja, o
próprio autor ou autores pretendem perante terceiros ou perante a
outra parte, dar uma aparência que não corresponde à realidade. Se
a divergência é intencional isso significa automaticamente que ela é
enganosa. Enganosa num sentido diferente daquele que se utiliza
para efeitos de dolo (o engano tem em vista a criação do erro ou a
manutenção do erro do declarante). Aqui, enganoso é no sentido de
criar uma aparência que não corresponda à realidade. É aparentar o
que não é. Daqui, não se pretende, pelo menos em geral, tirar um
SIMULAÇÃO
É necessariamente bilateral. Há simulação quando as partes declaram algo
que não corresponde à sua vontade real, nos termos do artigo 240º.
Primeiro ponto: que se declare aquilo que realmente não corresponde à
vontade. Depois que esta divergência seja pretendida, não apenas fruto do
descuido, erro, etc. A divergência tem de ser intencional. Por fim, é
necessário que esta divergência que se produz tenha sido previamente
acordada. Ambos declaram algo que não corresponde à sua vontade real,
porque estão de acordo sobre isso.
Ex 1: imagine-se que, A pôs parte dos seus bens em nome de B para fugir
aos respetivos credores. Para que um bem passe da titularidade de uma
pessoa, para a titularidade de outra tem de haver um acontecimento que o
justifique. Juridicamente chamamos a esse acontecimento de facto. Tem de
haver um facto jurídico que provoque a translação (a transferência de um
direito de uma pessoa para outra). Esse facto jurídico pode ser uma compra
e venda, doação, etc. A faz um negócio qualquer com B (como por exemplo,
compra e venda), mas está combinado com B que esse negócio não terá
efeitos. Aparentemente A, transferiu para B, mas na realidade não houve
nada. É uma simulação, ou seja, celebrou-se uma compra e venda, mas
realmente nada se fez. Diz-se então que a simulação é absoluta porque à
parte do que fizeram não querem mais nada. Não querem efeitos. Só
querem aparentar uma transferência.
Para terceiros, esta compra e venda é real. E não se provando que houve
simulação a venda é real. Até que se prove a simulação o que está
declarado é o que vale. E provar uma simulação é muito difícil.
Provando-se a simulação:
O negócio simulado (aparente) é sempre nulo nos termos do artigo
240º/2. Se a simulação for absoluta, só há anulação do negócio
simulado; prova-se a simulação, anula-se o negócio e extingue-se os
seus efeitos.
Tratando-se de simulação relativa a questão complica-se um pouco
mais porque na perspetiva que a lei adotou há 2 negócios: negócio
simulado e o negócio dissimulado. Provando-se a simulação o negócio
simulado, continua a ser nulo, porque resulta artigo 240º/2 (é a
consequência). Mais difícil é a situação em que fica o negócio
dissimulado. A lei só tem uma regra quando a isto: a nulidade do
negócio simulado não atinge automaticamente o negócio dissimulado
– artigo 241º/2. Pode atingir, mas não automaticamente. Não é só
porque se prova a simulação e não é só porque à conta disso que o
negócio simulado é nulo que o negócio dissimulado automaticamente
será nulo. Como o negócio dissimulado não é automaticamente
atingido pela nulidade no negócio simulado, então deve aplicar-se ao
negócio dissimulado o regime (as regras próprias) desse negócio. Ex:
compra e venda que encobre uma doação. Se a simulação for
absoluta, o negócio dissimulado é nulo mas ao dissimulado aplica-se
o regime especial. A doação não é automaticamente nula, só porque
a compra e venda é nula. O que não quer dizer que a doação é válida.
Se a compra e venda simulada que encobre uma doação, incide sobre
coisa futura. A compra e venda da coisa futura é nula porque, é
simulada. Fica a doação. A doação não é nula só porque a compra e
venda é nula. Ficando à vista que houve doação, a doação não pode
ter por objeto coisas futuras, e por isso seria inválida, porque incide
sobre um objeto que a lei não admite sobre eventuais doações.
Consequências
O negócio simulado, aparente é sempre nulo – artigo 240º/2; e o negócio
oculto/dissimulado será válido ou inválido consoante as regras que se
apliquem. Isto é, o facto de o negócio simulado ser nulo não implica a
invalidade do negócio dissimulado. A validade de um não aplica a invalidade
do outro.
Exemplo:
Suponha que A celebra compra e venda com B, apenas para evitar que
credores possam penhorar os bens. Portanto, o A realmente não quer
transferir, B não quer adquirir. A compra e venda é fingida no sentido que
não se querem os efeitos da compra e venda. Se ficar só assim, a nulidade
desta compra e venda (conseguindo-se provar a simulação) pode ser
pedida, pelo A, pelo B e pelos credores. Suponha agora que, antes de a
nulidade ser pedida, o B vendeu a C. e só depois é que se consegue
comprovar que a venda A-B foi simulada e que nem A, nem B queriam
aqueles efeitos. Provando-se a simulação da compra e venda A-B, prova-se
que o B não adquiriu, e portanto se não adquiriu não tem legitimidade para
transmitir para C. portanto, a compra e venda B-C fica venda de bem alheio
para todos os efeitos. Pela regra, a nulidade da compra e venda A-B, pode
ser pedida pelo, A, pelo B, pelo C e pelos credores.
Pode dar-se o caso de C estar de boa-fé, ou seja, desconhece que havia uma
simulação. Estando de boa-fé, de acordo com o 243º/1, A e B (simuladores)
não podem invocar simulação, não podem invocar nulidade contra C.
portanto, a boa-fé do C impede A e B de invocar a nulidade. A lei proíbe os
simuladores de invocarem a nulidade proveniente da situação. Os credores
não são simuladores, portanto ao contrário, os credores podem invocar a
simulação, mesmo contra C. uma conclusão possível é que a boa-fé do C
não lhe dá o direito que ele queria. A aquisição não procede só por ele estar
de boa-fé, porque para proceder ele tinha de ter defesa, não só contra A e
B, mas também contra terceiros. E se não tem, isso significa que o C, em
rigor, não adquire, só tem uma defesa que vale contra A e B. Se houver
outras pessoas que invoquem a nulidade, estar de boa-fé, para o C não
adianta.
Para esse efeito faz-se uma distinção; uma outra classificação entre
simulação inocente e simulação fraudulenta. Na simulação inocente
existe apenas, como é próprio da simulação, o intuito de enganar terceiros,
ou seja existe apenas o propósito de criar uma aparência que não
corresponde à realidade, mas sem que se produza algum dano para terceiro.
Ao contrário, na simulação fraudulenta, além do propósito de enganar,
existe também o propósito de prejudicar, de lesar. Há uma hipótese
especialmente considerada na lei, que é aquela em que a simulação é
fraudulenta em prejuízo dos herdeiros legitimários. É a hipótese do artigo
242º/2. Não é fraudulenta, mas é fraudulenta especificamente para
prejudicar os herdeiros legitimários – não podem ser afastados da sucessão.
RESERVA MENTAL
Em rigor só existe em teoria. Artigo 244º. É um vício da declaração,
portanto divergência intencional entre vontade real e vontade declarada.
Por fim, o que a distingue da simulação, a reserva mental é
necessariamente unilateral; é exclusivamente imputada ao declarante.
Portanto a finalidade do declarante é enganar o declaratário. Pretende-se
criar um negócio que realmente não se quer.
Daí que no artigo 244º/2, se diga que a reserva não prejudica a validade da
declaração, ou seja, a declaração feita sob reserva mantém-se válida haja
dolo ou não haja reserva.
Se por ventura o declaratário conhece a vontade real do declarante, então
nesse caso que diz-se que a declaração feita sobre reserva, equipara-se à
simulação. E portanto nesse caso, a declaração feita sob reserva é nula, ao
equiparar-se a simulação funciona o artigo 242º/2. É a exceção.
Consequências:
Comprovando-se que havia reserva, comprova-se que as partes não
queriam aquele negócio, e neste caso, nenhuma delas. Sendo assim não há
razão nenhuma para proteger alguma expectativa, porque na hipótese
prevista no 244º/2, tiver reserva unilateral, e ela não ser conhecida da outra
parte, do declaratário. Nessa hipótese há uma expectativa do declaratário
que deve ser protegida. Se ele não sabe que o declarante estava sob
reserva, tem expectativa que o negócio se mantenha. E por isso não pode
invocar-se reserva, e não pode provocar-se invalidação do negócio dado que
uma das partes não tem de contar com a reserva.
ERRO NA DECLARAÇÃO
Ou erro obstáculo (artigo 247º), surge apenas na comunicação justamente
porque as pessoas se enganam na forma como declaram; não há equívoco
na formação da vontade. A pessoa declara algo que não corresponde à
vontade real, sem intenção; a pessoa está esclarecida, não há defeito da
vontade, há sim, uma declaração que se profere que por erro, sem intenção
não corresponder à realidade.
Consequências:
O erro pode ser patente ou não.
Erro patente: artigo 248º. Percebe-se de imediato que há erro, o
declarante tem apenas direito à retificação e não tem direito à
anulação.
Erro não patente: se não for imediatamente percetível para o
declaratário, que o declarante está em erro, aplica-se o artigo 247º, e
então os requisitos de anulação são: essencialidade e
cognoscibilidade.