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• O direito também tem o seu ciclo vital: nasce, desenvolve-se e extingue-se. Essas fases ou
momentos decorrem de fatos, denominados fatos jurídicos, exatamente por produzirem
efeitos jurídicos. Nem todo acontecimento constitui fato jurídico. Alguns são simplesmente
fatos, irrelevantes para o direito. Somente o acontecimento da vida relevante para o direito,
mesmo que seja fato ilícito, pode ser considerado fato jurídico.
• todo fato, para ser considerado jurídico, deve passar por um juízo de valoração. O
ordenamento jurídico, que regula a atividade humana, é composto de normas jurídicas,
que preveem hipóteses de fatos e consequentes modelos de comportamento considerados
relevantes e que,
Prof. Dr. por isso,
Marcelo foramSantana
Garcia normatizados. Estes, depois de concretizados, servem de
suporte fático para a incidência da norma e o surgimento do fato jurídico.
Fato Jurídico
➢ CONCEITO
• Fato jurídico em sentido amplo é, portanto, todo acontecimento da vida que o
ordenamento jurídico considera relevante no campo do direito.
• Para ser erigido à categoria de fato jurídico basta que esse fato do mundo – mero evento
ou conduta – seja relevante “à vida humana em sua interferência intersubjetiva,
independentemente de sua natureza
• Essa correspondência entre o fato e a norma, que qualifica o primeiro como fato jurídico,
recebe várias denominações nos diversos setores do direito, como: suporte fático,
tipificação legal, hipótese de incidência, subsunção, fato gerador, Tatbestand (no direito
alemão), fattispecie (no direito italiano), supuesto de hecho (no direito espanhol) etc..
Prof. Dr. Marcelo Garcia Santana
Fato Jurídico
ESPECÍES DE FATO JURÍDICO
• Os fatos jurídicos em sentido amplo podem ser classificados em:
a) fatos naturais ou fatos jurídicos stricto sensu; ( manifestação da natureza)e
b) fatos humanos ou atos jurídicos lato sensu. (atividade humana).
A) OS FATOS NATURAIS
Os fatos naturais, também denominados fatos jurídicos em sentido estrito, por sua vez,
dividem-se em:
a.1) ordinários, como o nascimento e a morte, que constituem respectivamente o termo
inicial e final da personalidade, bem como a maioridade, o decurso do tempo, todos de
grande importância, e outros;
a.2) extraordinários, que se enquadram, em geral, na categoria do fortuito e da força maior:
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terremoto, raio, tempestade etc.
Fato Jurídico
ESPECÍES DE FATO JURÍDICO
B) OS FATOS HUMANOS
Os fatos humanos ou atos jurídicos em sentido amplo são ações humanas que criam,
modificam, transferem ou extinguem direitos e dividem-se em:
b.1) lícitos; Lícitos são os atos humanos a que a lei defere os efeitos almejados pelo agente.
Praticados em conformidade com o ordenamento jurídico, produzem efeitos jurídicos
voluntários, queridos pelo agente.
e b.2) ilícitos. Os ilícitos, por serem praticados em desacordo com o prescrito no
ordenamento jurídico, embora repercutam na esfera do direito, produzem efeitos jurídicos
involuntários, mas impostos por esse ordenamento. Em vez de direito, criam deveres,
obrigações. Hoje se admite que os atos ilícitos integram a categoria dos atos jurídicos pelos
efeitos que produzem (são definidos no art. 186 e geram a obrigação de reparar o dano, como
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dispõe o art. 927, ambos do CC).
Fato Jurídico
ESPECÍES DE FATO JURÍDICO
b.2) ilícitos.(continuação)
Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e
causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons
costumes.
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-
lo.
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Fato Jurídico
ESPECÍES DE FATO JURÍDICO
Os atos lícitos dividem-se em:
b.1.1) ato jurídico em sentido estrito ou meramente lícito; ( exige manifestação de vontade)
No ato jurídico em sentido estrito, o efeito da manifestação da vontade está predeterminado na lei, como
ocorre com a notificação, que constitui em mora o devedor, o reconhecimento de filho, a tradição, o uso
de uma coisa etc., não havendo, por isso, qualquer dose de escolha da categoria jurídica. Art. 185 cc
b.1.2) negócio jurídico; (exige manifestação de vontade) No negócio jurídico, num contrato de
compra e venda, por exemplo, a ação humana visa diretamente a alcançar um fim prático permitido na
lei, dentre a multiplicidade de efeitos possíveis. Por essa razão é necessária uma vontade qualificada,
sem vícios. ( consentimento)
Prof.noDr.
uma casa Marcelo
terreno Garcia
apossado etc.Santana
Um contrato de compra e venda, ao contrário, tem a forma
específica de um negócio jurídico...”
Negócio Jurídico
NEGÓCIO JURÍDICO
• No negócio jurídico há uma composição de interesses, um regramento bilateral de
condutas, como ocorre na celebração de contratos. A manifestação de vontade
tem finalidade negocial, que em geral é criar, adquirir, transferir, modificar,
extinguir direitos etc.
➢ No segundo plano, o da validade, os substantivos recebem adjetivos, nos termos do art. 104 do
CC/2002, a saber:
Segundo o art. 121, considera-se condição “a cláusula que, derivando exclusivamente da vontade das
partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto”.
É, por exemplo, o caso “do comprador de um imóvel que se obriga a pagar pelo bem certo preço se e
Prof.
quando restarDr. Marceloa Garcia
comprovada Santana
regularidade da construção ali erigida junto à prefeitura da cidade”
Negócio Jurídico
Condições suspensivas – são aquelas que, enquanto não se verificarem, impedem que o
negócio jurídico gere efeitos (art. 125 do CC).
• Exemplo ocorre na venda a contento, principalmente de vinhos, cujo aperfeiçoamento
somente ocorre com a aprovação ad gustum do comprador. Enquanto essa aprovação não
ocorre, a venda está suspensa.
Condições resolutivas – são aquelas que, enquanto não se verificarem, não trazem qualquer
consequência para o negócio jurídico, vigorando o mesmo, cabendo inclusive o exercício de
direitos dele decorrentes (art. 127 do CC).
• Imagine-se o exemplo de uma venda de vinhos, celebrada a contento ou ad gustum. A não
Prof. Dr.a negação
aprovação, MarcelodoGarcia Santana uma condição resolutiva.
vinho representa
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O termo é o elemento acidental do negócio jurídico que faz com que a eficácia desse negócio
fique subordinada à ocorrência de evento futuro e certo. Melhor conceituando, o termo é “o
evento futuro e certo cuja verificação se subordina o começo ou o fim dos efeitos dos atos
jurídicos”.
Art. 131. O termo inicial suspende o exercício, mas não a aquisição do direito.
Art. 132. Salvo disposição legal ou convencional em contrário, computam-se os prazos, excluído o dia
do começo, e incluído o do vencimento.
§ 1 o Se o dia do vencimento cair em feriado, considerar-se-á prorrogado o prazo até o seguinte dia útil.
§ 2 o Meado considera-se, em qualquer mês, o seu décimo quinto dia.
Em uma primeira classificação, há o termo inicial (dies a quo), quando se tem o início dos efeitos
negociais; e o termo final (dies ad quem), com eficácia resolutiva e que põe fim às consequências
derivadas do negócio jurídico. Muito comum o aplicador do direito confundir a expressão termo com a
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expressão prazo. O prazo é justamente o lapso temporal que se tem entre o termo inicial e o termo final.
Negócio Jurídico
• No que concerne às suas origens, tanto o termo inicial quanto o final podem ser assim
classificados:
Termo legal – é o fixado pela norma jurídica. Exemplificando, o termo inicial para atuação de
um inventariante (mandato judicial) ocorre quando esse assume compromisso.
Termo convencional – é o fixado pelas partes, como o termo inicial e final de um contrato de
locação.
• O termo pode ser ainda certo ou incerto (ou determinado e indeterminado), conforme
conceitos a seguir transcritos:
Termo certo ou determinado – sabe-se que o evento ocorrerá e quando ocorrerá. Exemplo: o
fim de um contrato de locação celebrado por tempo determinado.
Termo incerto e indeterminado – sabe-se que o evento ocorrerá, mas não se sabe quando.
Exemplo: a morte de uma determinada pessoa.
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Por fim, fica fácil também a identificação do termo, pois é comum a utilização da expressão quando (v.g., dou-lhe um
carro quando seu pai falecer).
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Encargo ou modo
• O encargo ou modo é o elemento acidental do negócio jurídico que traz um ônus relacionado
com uma liberalidade.
• Geralmente, tem-se o encargo na doação, testamento...
• Para Vicente Ráo, “modo ou encargo é uma determinação que, imposta pelo autor do ato de
liberalidade, a esta adere, restringindo-a”.
• O negócio gratuito ou benévolo vem assim acompanhado de um ônus, um fardo, um encargo,
havendo o caso típico de presente de grego.
• Exemplo que pode ser dado ocorre quando a pessoa doa um terreno a outrem para que o
donatário construa em parte dele um asilo. O encargo é usualmente identificado pelas
conjunções para que e com o fim de.
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Negócio Jurídico
• O estudo dos defeitos do negócio jurídico, vícios que maculam o ato celebrado, é de vital importância
para a civilística nacional.
• Tais vícios atingem a sua vontade ou geram uma repercussão social, tornando o negócio passível de
ação anulatória ou declaratória de nulidade pelo prejudicado ou interessado. São vícios da vontade ou do
consentimento: o erro, o dolo, a coação, o estado de perigo e a lesão. Os dois últimos constituem
novidades, eis que não estavam tratados pelo Código Civil de 1916. O problema acomete a vontade,
repercutindo na validade do negócio celebrado.
• Nos vícios de consentimento o ato é defeituoso porque a vontade do agente não se forma corretamente,
já que não fora o defeito de que se ressentiu no processo de formação, manifestar-se-ia, certamente, de
maneira diversa.
• Já na fraude contra credores (assim como na simulação), a declaração de vontade não se afasta do
propósito que efetivamente o agente teve ao praticá-la. “O negócio jurídico porventura configuarado
Prof.
resulta libreDr. Marcelodesejo
e consciente Garcia
dosSantana
contratantes, de sorte que “inexiste disparidade entre o querido e o
declarado .
Vícios ou defeitos do negócio jurídico
• Vícios de consentimento
Do erro e da ignorância
• O erro é um engano fático, uma falsa noção, em relação a uma pessoa, ao objeto do negócio ou a um
direito, que acomete a vontade de uma das partes que celebrou o negócio jurídico.
• De acordo com o art. 138 do atual Código Civil, os negócios jurídicos celebrados com erro são anuláveis,
desde que o erro seja substancial, podendo ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das
circunstâncias em que o negócio foi celebrado. Em síntese, mesmo percebendo a pessoa que está
agindo sob o vício do erro, do engano, a anulabilidade do negócio continua sendo perfeitamente
possível.
• Na sistemática do atual Código Privado, está valorizada a eticidade, motivo pelo qual, presente a falsa
noção relevante, merecerá o negócio a anulabilidade.
• Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro
Prof. Dr.
substancial que Marcelo
poderia serGarcia Santana
percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do
negócio.
Vícios ou defeitos do negócio jurídico
• Vícios de consentimento
Do erro e da ignorância
• No entanto, para que o erro tenha o condão de levar o negócio à anulabilidade, é preciso que
ele seja Substancial e também cognoscível , o que está na parte final do art. 138 do CC.
• Nesse sentido, substancial é o erro determinante, isto é, se a parte não tivesse nele incorrido,
ela não teria celebrado o negócio. É o exemplo do colecionador de objetos históricos que
compra um “anel de ouro de Pompeia”, achando que se tratava da região italiana, mas, em
verdade, o anel era da região com o mesmo nome em São Paulo.
Dolo
O dolo pode ser conceituado como o artifício ardiloso empregado para enganar alguém, com
intuito de benefício próprio. O dolo é a arma do estelionatário, como diziam os antigos civilistas.
De acordo com o art. 145 do CC, o negócio praticado com dolo é anulável, no caso de ser este a
sua causa. Esse dolo, causa do negócio jurídico, é conceituado como dolo essencial, substancial
ou principal (dolus causam). Em casos tais, uma das partes do negócio utiliza artifícios
maliciosos, para levar a outra a praticar um ato que não praticaria normalmente, visando a obter
vantagem, geralmente com vistas ao enriquecimento sem causa.
Prof.prejuízo
se houver Dr. Marcelo Garcia
ao induzido Santana
e benefício ao autor do dolo ou a terceiro.
Vícios ou defeitos do negócio jurídico
• Vícios de consentimento
Dolo
2. Quanto à conduta das partes:
Dolo positivo (ou comissivo) – é o dolo praticado por ação (conduta positiva). Exemplo: a publicidade
enganosa por ação: alguém faz um anúncio em revista de grande circulação pela qual um carro tem
determinado acessório, mas quando o comprador o adquire percebe que o acessório não está presente.
Dolo negativo (ou omissivo) – é o dolo praticado por omissão (conduta negativa), situação em que um dos
negociantes ou contratantes é prejudicado. Exemplo ocorre nas vendas de apartamentos decorados, em
que não se revela ao comprador que os móveis são feitos sob medida, induzindo-o a erro (publicidade
enganosa por omissão).
Dolo recíproco ou bilateral – é a situação em que ambas as partes agem dolosamente, um tentando
prejudicar o outro mediante o emprego de artifícios ardilosos. Exemplificando, se duas ou mais pessoas
agirem Prof. Dr. Marcelo
com dolo, Garcia
tentando assim Santanade uma compra e venda, o ato não poderá ser anulado.(
se beneficiar
compensação)
Vícios ou defeitos do negócio jurídico
• Vícios de consentimento
Coação
• A coação pode ser conceituada como uma pressão física ou moral exercida sobre o negociante, visando
obrigá-lo a assumir uma obrigação que não lhe interessa. Aquele que exerce a coação é denominado
coator e o que a sofre, coato, coagido ou paciente.
• Nos termos do art. 151 do CC, a coação, para viciar o negócio jurídico, há de ser relevante, baseada em
fundado temor de dano iminente e considerável à pessoa envolvida, à sua família ou aos seus bens.
• Coação física (vis absoluta) – “constrangimento corporal que venha a retirar toda a capacidade de querer
de uma das partes, implicando ausência total de consentimento, o que acarretará nulidade absoluta do
negócio”. Exemplo de coação física pode ser percebido na hipótese de o vendedor ser espancado e, em
estado de inconsciência, obrigado a assinar o contrato.
• Coação moral ou psicológica (vis compulsiva) – coação efetiva e presente, causa fundado temor de dano
Prof.e considerável
iminente Dr. Marceloà pessoa
GarciadoSantana
negociante, à sua família, à pessoa próxima ou aos seus bens,
gerando a anulabilidade do ato (art. 151 do CC).
Vícios ou defeitos do negócio jurídico
• Vícios de consentimento
Coação
Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078, de 11-9-1990) veio a combater a lesão nas
relações de consumo, considerando nulas de pleno direito as cláusulas que “estabeleçam
obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem
exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a equidade”, presumindo-se exagerada a
vantagem que “se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a
natureza e conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao
caso” (art. 51, IV, e § 1º, III).
seus elementos verdadeiros. Como exemplo, repise-se: para burlar o fisco, determinada pessoa
celebra um contrato de comodato de determinado imóvel, cobrando aluguel do comodatário. Na
Prof. Dr. Marcelo Garcia Santana
aparência, há um contrato de empréstimo, mas na essência, trata-se de uma locação. ( EMPRESTIMO
• Como exemplo, ilustre-se a situação em que um pai doa imóvel para filho, com o devido
registro no Cartório de Registro de Imóveis, mas continua usufruindo dele, exercendo os
poderes do domínio sobre a coisa. Mesmo o ato sendo praticado com intuito de fraude
contra credores, prevalece a simulação, por envolver ordem pública, sendo nulo de pleno
direito.
De acordo com o art. 158 do CC, estão incluídas as hipóteses de remissão ou perdão de dívida, estando
caracterizado o ato fraudulento toda vez que o devedor estiver insolvente ou beirando à insolvência. Em
situações tais, caberá ação anulatória por parte de credores quirografários eventualmente prejudicados,
desde que proposta no prazo decadencial de quatro anos, contados da celebração do negócio fraudulento
(art. 178, inc. II, do CC). Essa ação anulatória é denominada pela doutrina ação pauliana ou ação
revocatória, seguindo rito ordinário, no sistema processual anterior, equivalente ao atual procedimento
comum.