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NEGÓCIOS JURÍDICOS tradição, a percepção dos frutos, a ocupação, o uso de uma coisa

Os fatos jurídicos, são assim denominados por produzirem efeitos etc. A ação humana se baseia não numa vontade qualificada, mas
jurídicos. Nem todo acontecimento constitui fato jurídico. Alguns são em simples intenção.
simplesmente fatos, irrelevantes para o direito. No ato-fato jurídico, ressalta-se a consequência do ato, o fato
Fato jurídico em sentido amplo é, portanto, todo acontecimento da resultante, sem se levar em consideração a vontade de praticá-lo.
vida que o ordenamento jurídico considera relevante no campo do Muitas vezes, o efeito do ato não é buscado nem imaginado pelo
direito. agente, mas decorre de uma conduta e é sancionado pela lei, como
Os fatos jurídicos em sentido amplo podem ser classificados em: no caso da pessoa que acha, casualmente, um tesouro.
fatos naturais; e fatos humanos. Os primeiros decorrem de simples
manifestação da natureza e os segundos da atividade humana. PLANOS DE EXISTÊNCIA, DE VALIDADE E DE EFICÁCIA
Os fatos naturais dividem -se em: ordinários, como o nascimento, a É possível distinguir, no mundo jurídico, os planos de existência, de
morte, a maioridade; extraordinários, que se enquadram, em geral, validade e de eficácia do negócio jurídico.
na categoria do caso fortuito e da força maior: terremoto, raio, Plano da existência: não se indaga sobre a invalidade ou eficácia do
tempestade etc. negócio jurídico, importando apenas a realidade da existência. Tal
Os fatos humanos são atos jurídicos em sentido amplo são ações ocorre quando este sofre a incidência da norma jurídica, desde que
humanas que criam, modificam, transferem ou extinguem direitos e presentes todos os seus elementos estruturais. Se faltar, no suporte
dividem-se em: lícitos: atos humanos a que a lei defere os efeitos fático, um desses elementos, o fato não ingressa no mundo jurídico:
almejados pelo agente. Praticados em conformidade com o é inexistente.
ordenamento jurídico, produzem efeitos jurídicos voluntários, Plano da validade: o ato existente deve passar por uma triagem
queridos pelo agente; ilícitos: por serem praticados em desacordo quanto à sua regularidade para ingressar no plano da validade,
com o prescrito no ordenamento jurídico, embora repercutam na quando, então, se verificará se está perfeito ou se encontra eivado
esfera do direito, produzem efeitos jurídicos involuntários, mas de algum vício ou defeito. O preenchimento de certos requisitos
impostos por esse ordenamento. Em vez de direito, criam deveres, fáticos, como a capacidade do agente, a licitude do objeto e a forma
obrigações (são definidos no art. 186 e geram a obrigação de prescrita em lei, é indispensável para o reconhecimento da validade
reparar o dano, como dispõe o art. 927, ambos do CC). do ato. Mesmo a invalidade pressupõe como essencial a existência
Os atos lícitos dividem-se em: ato jurídico em sentido estrito; do fato jurídico. Este pode, portanto, existir e não ser válido.
negócio jurídico; e ato-fato jurídico. Nos dois primeiros, exige-se Plano da eficácia: pode também o negócio jurídico existir, ser válido,
uma manifestação de vontade. No negócio jurídico, num contrato de mas não ter eficácia, por não ter ocorrido ainda, por exemplo, o
compra e venda, por exemplo, a ação humana visa diretamente implemento de uma condição imposta. O plano da eficácia é onde
alcançar um fim prático permitido na lei, dentre a multiplicidade de os fatos jurídicos produzem os seus efeitos, pressupondo a
efeitos possíveis. Por essa razão, é necessária uma vontade passagem pelo plano da existência, não, todavia, essencialmente,
qualificada, sem vícios. pelo plano da validade. Com efeito, é possível que o negócio seja
No ato jurídico em sentido estrito, o efeito da manifestação da existente e inválido, porém eficaz, como sucede na hipótese de
vontade está predeterminado na lei, como ocorre com a notificação, casamento anulável celebrado de boa-fé. Embora inválido, gera
que constitui em mora o devedor, o reconhecimento de filho, a
todos os efeitos de um casamento válido para o cônjuge de boa-fé CONDIÇÃO, TERMO E ENCARGO
(CC, art. 1.561). Além dos elementos estruturais e essenciais, que constituem
requisitos de existência e de validade do negócio jurídico, pode este
RESERVA MENTAL conter outros elementos meramente acidentais, introduzidos
Ocorre reserva mental quando um dos declarantes oculta a sua facultativamente pela vontade das partes, não necessários à sua
verdadeira intenção, isto é, quando não quer um efeito jurídico que existência.
declara querer. Tem por objetivo enganar o outro contratante. Aqueles são determinados pela lei; estes dependem da vontade das
Se este, entretanto, não soube da reserva, o ato subsiste e produz partes. Uma vez convencionados, têm o mesmo valor dos
os efeitos que o declarante não desejava. A reserva, isto é, o que se elementos estruturais e essenciais, pois que passam a integrá-lo de
passa na mente do declarante, é indiferente ao mundo jurídico e forma indissociável.
irrelevante no que se refere à validade e eficácia do negócio jurídico. São três os elementos acidentais do negócio jurídico no direito
brasileiro: condição; termo; e encargo ou modo.
OBJETO LÍCITO, POSSÍVEL, DETERMINADO OU Essas convenções acessórias constituem autolimitações da vontade
DETERMINÁVEL e são admitidas nos atos de natureza patrimonial em geral (com
Objeto lícito é o que não atenta contra a lei, a moral ou os bons algumas exceções, como na aceitação e renúncia da herança), mas
costumes. não podem integrar os de caráter eminentemente pessoal, como os
O objeto deve ser, também, possível. Quando impossível, o negócio direitos de família puros e os direitos personalíssimos.
é nulo. A impossibilidade do objeto pode ser: física; ou jurídica. Elementos acidentais são, assim, os que se acrescentam à figura
O objeto do negócio jurídico deve ser igualmente determinado ou típica do ato para mudar-lhe os respectivos efeitos. São cláusulas
determinável (indeterminado relativamente ou suscetível de que, apostas a negócios jurídicos por declaração unilateral ou pela
determinação no momento da execução). vontade das partes, acarretam modificações em sua eficácia ou em
sua abrangência.
REPRESENTAÇÃO
Os direitos podem ser adquiridos por ato do próprio interessado ou VÍCIOS DO NEGÓCIO JURÍDICO
por intermédio de outrem. Quem pratica o ato é o representante. A
pessoa em nome de quem ele atua e que fica vinculada ao negócio Vícios do consentimento: os referidos defeitos, exceto a fraude
é o representado. contra credores, são chamados de vícios do consentimento, porque
Representação tem o significado, pois, de atuação jurídica em nome provocam uma manifestação de vontade não correspondente com o
de outrem. Constitui verdadeira legitimação para agir por conta de íntimo e verdadeiro querer do agente. Criam uma divergência, um
outrem, que nasce da lei ou do contrato. conflito entre a vontade manifestada e a real intenção de quem a
A representação legal é exercida sempre no interesse do exteriorizou.
representado, enquanto a convencional pode realizar-se no Vício social: a fraude contra credores não conduz a um
interesse do próprio representante, como sucede na procuração em descompasso entre o íntimo querer do agente e a sua declaração,
causa própria. mas é exteriorizada com a intenção de prejudicar terceiros. Por essa
razão, é considerada vício social.
Defeitos do negócio jurídico são, pois, as imperfeições que nele SIMULAÇÃO
podem surgir, decorrentes de anomalias na formação da vontade ou
na sua declaração Simulação é uma declaração falsa da vontade, visando aparentar
negócio diverso do efetivamente desejado. Simular significa, pois,
ESTADO DE PERIGO X LESÃO fingir, enganar. Negócio simulado, assim, é o que tem aparência
O estado de perigo ocorre quando alguém se encontra em perigo e, contrária à realidade.
por isso, assume obrigação excessivamente onerosa, como no caso A simulação é produto de um conluio entre os contratantes, visando
da pessoa que está prestes a se afogar e promete toda a sua obter efeito diverso daquele que o negócio aparenta conferir. Não é
fortuna a quem o salvar da morte iminente. vício do consentimento, pois não atinge a vontade em sua formação.
Já a lesão ocorre quando não há estado de perigo, por necessidade É uma desconformidade consciente da declaração, realizada de
de salvar-se; a “premente necessidade” é de natureza econômica, comum acordo com a pessoa a quem se destina, com o objetivo de
ou seja, de obter recursos para salvar o patrimônio do agente. enganar terceiros ou fraudar a lei.
Trata-se, em realidade, de vício social. A causa simulandi tem as
ESTADO DE PERIGO X COAÇÃO mais diversas procedências e finalidades. Ora visa burlar a lei,
especialmente a de ordem pública, ora fraudar o Fisco, ora
prejudicar a credores, ora até guardar em reserva determinado
negócio.

LESÃO X COAÇÃO
Na coação, a vítima não age livremente. A vontade é imposta por
alguém mediante grave ameaça de dano atual ou iminente. Na
lesão, ela decide por si, pressionada apenas por circunstâncias
especiais, provenientes da necessidade ou da inexperiência.

LESÃO X ESTADO DE PERIGO


A lesão também se distingue do estado de perigo, em que a vítima
ou alguém de sua família corre risco de vida, e não de dano
patrimonial, sendo essencial o conhecimento do perigo pela
contraparte.

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