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TEORIA GERAL DO NEGÓCIO JURÍDICO

1. FATOS, ATOS E NEGÓCIOS JURÍDICOS. CONCEITOS INICIAIS

Pontos primordiais para entender as relações jurídicas é conhecer profundamente os


conceitos basilares de Direito Privado, quais sejam as concepções de fato, ato e negócio
jurídico.
O conceito de fato: Significa qualquer ocorrência que interessa ou não ao direito, ao
âmbito jurídico. Dentro desse mundo dos fatos, surgem os fatos não jurídicos, que não
nos interessam como objeto de estudo, e os fatos jurídicos; qualquer ocorrência com
repercussão para o direito, ou seja, fatos com repercussões jurídicas.
Também amparando os conceitos na doutrina, consignem-se as palavras de Sílvio de
Salvo Venosa, para quem:
“são fatos jurídicos todos os acontecimentos que, de forma direta ou indireta,
ocasionam efeito jurídico. Nesse contexto, admitimos a existência de fatos jurídicos em
geral, em sentido amplo, que compreendem tanto os fatos naturais, sem interferência
do homem, como os fatos humanos, relacionados com a vontade humana”
Os fatos jurídicos podem ser subdivididos em fatos naturais e humanos. De qualquer
forma, os negócios jurídicos são fatos jurídicos.

Fatos jurídicos Fatos naturais Ordinários ou extraordinários


Fatos humanos Lícitos (ato jurídico lato sensu) Ato jurídico
Ilícitos Negócio
jurídico;
Ato-fato jurídico.

Conceito de Fato jurídico natural: é aquele que independe da atuação humana,


podendo ser conceituado também como fato jurídico stricto sensu. Mesmo não havendo
o elemento volitivo, o fato natural produz efeitos jurídicos com o objetivo de criação,
alteração ou mesmo extinção de direitos e deveres.
Classificação:
a) Fato jurídico natural ordinário – é o evento natural previsível e comum de ocorrer,
como é o caso da morte, da prescrição. Percebe - se que sofre forte influência do
elemento tempo.
b) Fato jurídico natural extraordinário – é o evento decorrente da natureza, como o
caso fortuito (evento totalmente imprevisível) ou a força maior (evento previsível,
mas inevitável ou irresistível.
CC Art. 393 O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou
força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilidade.
Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos
efeitos não era possível evitar ou impedir.
Considerações:
 O dispositivo leva em conta a inevitabilidade e a irresistibilidade do evento, não
considerando se ele decorre da natureza ou de fato humano.
 No âmbito jurisprudencial, alguns julgados tratam o caso fortuito e a força maior
como expressões sinônimas.

Conceito de Fato jurídico Humano: Parte da doutrina denomina o fato humano como
fato jurígeno, pela presença da vontade humana (elemento volitivo), incluindo os atos
lícitos e os ilícitos.
Classificação:
a) Ato jurídico em sentido amplo ou ato jurídico lato sensu – também denominado ato
voluntário e que igualmente possui importante subclassificação, conforme será ainda
analisado.
b) Ato ilícito – é a conduta voluntária ou involuntária que está em desacordo com o
ordenamento jurídico.
 O ilícito pode ser penal, administrativo ou civil, havendo independência entre
essas três esferas, o que pode ser percebido pela leitura da primeira parte do art.
935 do CC/2002 (“a responsabilidade civil independe da criminal”). Essa
independência, no entanto, não é absoluta, mas relativa, pois uma conduta pode
influir nas três órbitas, como ocorre em um acidente de trânsito ou no dano
ambiental.
 O conceito de ato ilícito civil: Para os fins de responsabilidade civil, consta do
art. 186 Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete ato ilícito”.
 De toda sorte, esclareça-se que essa é apenas uma modalidade de ilícito que, na
clássica divisão de Pontes de Miranda, pode ser de três tipos.
1. ilícito nulificante, aquele que gera a nulidade do negócio jurídico, e que ainda
será neste livro analisado (art. 166, inc. II, do CC).
Art. 166 É nulo o negócio jurídico quando:
I.
II. for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto;

2. ilícito indenizante, que gera a responsabilidade civil.


3. ilícito caducificante, que ocasiona a perda de direitos, como ocorre nos casos
envolvendo a perda do poder familiar.
Ensina Zeno Veloso:
“A nosso ver, embora gerando efeitos jurídicos, o ato ilícito não deve ser chamado de
ato jurídico, que, por definição, é lícito. Porém, pelos efeitos jurídicos que enseja, o ato
ilícito, sem dúvida, é um fato jurídico (em sentido lato). O ato ilícito, ou contrário ao
direito, é jurídico, à medida em que provoca um efeito jurídico, fazendo nascer uma
responsabilidade civil, base de uma obrigação de ressarcir, de indenizar, a cargo do
autor, e de um crédito atribuído à vítima, ao lesado, podendo também dele resultar outra
espécie de responsabilidade, a criminal. Mas gera confusão chamar o ato ilícito ‘ato
jurídico’, só por causa dos efeitos jurídicos que proporciona. Virtude e crime têm efeitos
jurídicos e nem por isto recebem a mesma denominação. E, se nos permitem o exemplo,
não se pode, só porque ambas têm asas, e voam, chamar pelo mesmo nome a borboleta
e a andorinha”
Considerações:
 O ato ilícito não é ato jurídico, pois este deve ser necessariamente lícito.
 O ato ilícito é fato jurígeno, pela presença da vontade humana, mas não constitui
ato jurídico em sentido amplo.
 O ato ilícito não constitui ato jurídico, pois o que é antijurídico não é jurídico.
 Compara a verdadeiro ato ilícito a conduta da pessoa que excede um direito que
possui, contrariando manifestamente o fim social ou econômico de um instituto,
a boa-fé ou os bons costumes.

A tese do abuso de direito como ato ilícito, conforme previsto no seu art. 187:
O abuso de direito, como ilícito que é, não diz respeito somente ao tema da
responsabilidade civil.
O Enunciado n. 539, da VI Jornada de Direito Civil, de 2013, que preceitua:
“o abuso de direito é uma categoria jurídica autônoma em relação à responsabilidade
civil. Por isso, o exercício abusivo de posições jurídicas desafia controle
independentemente de dano”.
A indesejável vinculação do abuso de direito a responsabilidade civil, consequência de
uma opção legislativa equívoca, que o define no capítulo relativo ao ato ilícito (art. 187)
e o refere especificamente na obrigação de indenizar (art. 927 do CC), lamentavelmente
tem subtraído bastante as potencialidades dessa categoria jurídica e comprometido a sua
principal função (de controle), modificando-lhe indevidamente a estrutura.
E mais, segundo as mesmas justificativas do enunciado, proposto pelo Professor Fábio
Azevedo, do Rio de Janeiro:
“Não resta dúvida sobre a possibilidade de a responsabilidade civil surgir por danos
decorrentes do exercício abusivo de uma posição jurídica. Por outro lado, não é menos
possível o exercício abusivo dispensar qualquer espécie de dano, embora, ainda assim,
mereça ser duramente coibido com respostas jurisdicionais eficazes. Pode haver abuso
sem dano e, portanto, sem responsabilidade civil. Será rara, inclusive, a aplicação do
abuso como fundamento para o dever de indenizar, sendo mais útil admiti-lo como base
para frear o exercício. E isso torna a aplicação da categoria bastante cerimoniosa pela
jurisprudência, mesmo após uma década de vigência do Código. O abuso de direito
também deve ser utilizado para o controle preventivo e repressivo. No primeiro caso,
em demandas inibitórias, buscando a abstenção de condutas antes mesmo de elas
ocorrerem irregularmente, não para reparar, mas para prevenir a ocorrência do dano. No
segundo caso, para fazer cessar (exercício inadmissível) um ato ou para impor um agir
(não exercício inadmissível). Pouco importa se haverá ou não cumulação com a
pretensão de reparação civil”.
Considerações:
 Pode existir abuso de direito sem dano, cabendo medidas inibitórias em casos
tais.
 É possível que o abuso de direito gere a nulidade ou a ineficácia do ato ou
negócio jurídico.

Ato jurídico lato sensu, que pode ser assim subclassificado:


Ato jurídico em sentido estrito (ou ato jurídico stricto sensu) – configura-se quando
houver objetivo de mera realização da vontade do titular de um determinado direito, não
havendo a criação de instituto jurídico próprio para regular direitos e deveres, muito
menos composição de vontade entre as partes envolvidas. No ato jurídico stricto sensu
os efeitos da manifestação de vontade estão predeterminados pela lei. Podem ser citados
como exemplos de atos jurídicos stricto sensu a ocupação de um imóvel, o pagamento
de uma obrigação e o reconhecimento de um filho.
Negócio jurídico – é o fato jurídico, com elemento volitivo qualificado, cujo conteúdo
seja lícito, visando a regular direitos e deveres específicos de acordo com os interesses
das partes envolvidas. Diante de uma composição de vontade de partes, que dita a
existência de efeitos, há a criação de um instituto jurídico próprio, visando a regular
direitos e deveres.
Como faz Antônio Junqueira de Azevedo, pode-se afirmar que o negócio jurídico
constitui o principal exercício da autonomia privada, da liberdade negocial. Para o
doutrinador, “in concreto, negócio jurídico é todo fato jurídico consistente em
declaração de vontade, a que todo o ordenamento jurídico atribui os efeitos
designados como queridos, respeitados os pressupostos de existência, validade e
eficácia impostos pela norma jurídica que sobre ele incide”.
Como quer Álvaro Villaça Azevedo, no negócio jurídico “as partes interessadas, ao
manifestarem sua vontade, vinculam-se, estabelecem, por si mesmas, normas
regulamentadoras de seus próprios interesses”.

Conceito Ato-fato jurídico: é um fato jurídico qualificado por uma atuação humana,
por uma vontade não relevante juridicamente.
“Nesse caso, é irrelevante para o direito se a pessoa teve ou não a intenção de praticá-lo.
O que se leva em conta é o efeito resultante do ato que pode ter repercussão jurídica,
inclusive ocasionando prejuízos a terceiros. Nesse sentido, costuma-se chamar à
exemplificação os atos praticados por uma criança, na compra e venda de pequenos
efeitos.
Ao tratar dos atos-fatos jurídicos, Pontes de Miranda desenvolve o conceito de atos-
reais, nos seguintes termos:
“Os atos reais, ditos, assim por serem mais dos fatos, das coisas, que dos homens – ou
atos naturais, se separamos natureza e psique, ou atos meramente externos, se assim os
distinguirmos, por abstraírem eles do que se passa no interior do agente – são os atos
humanos a cujo suporte fático se dá entrada, como fato jurídico, no mundo jurídico, sem
se atender, portanto, à vontade dos agentes: são atos-fatos jurídicos. Nem é preciso que
haja querido a juridicização deles, nem, a fortiori, a irradiação de efeitos.
Nos atos reais, a vontade não é elemento do suporte fático (= o suporte fático seria
suficiente, ainda sem ela). Exemplos de atos reais.
São os principais atos reais:
a) a tomada de posse ou aquisição da posse,
b) a transmissão da posse pela tradição;
c) o abandono da posse;
d) o descobrimento do tesouro;
e) a especificação;
f) a composição de obra científica, artística ou literária;
g) a ocupação”

Considerações:

 O que se denomina ato-fato jurídico pode se enquadrar no conceito de fato


jurídico, no de ato jurídico stricto sensu, ou mesmo no de negócio jurídico.
Desse modo, cabe análise caso a caso pelo estudioso do direito.
 O exemplo da criança que compra um confeito em uma padaria seria de um
negócio jurídico, até porque a boa-fé das partes deve ser preservada. O
Enunciado n. 138 do CJF/STJ, aprovado na III Jornada de Direito Civil, aponta
que a vontade dos menores absolutamente incapazes pode ser juridicamente
relevante se eles demonstrarem discernimento bastante para tanto.
2. DO ATO JURÍDICO EM SENTIDO ESTRITO OU ATO JURÍDICO
STRICTO SENSU

No ato jurídico em sentido estrito: há uma manifestação de vontade do agente, mas as


suas consequências são as previstas em lei e não na vontade das partes, ausente qualquer
composição volitiva entre os seus envolvidos.
Conceito do ato jurídico stricto sensu: é um “fato jurídico que tem por elemento
nuclear do suporte fático a manifestação ou declaração unilateral de vontade cujos
efeitos jurídicos são prefixados pelas normas jurídicas e invariáveis, não cabendo às
pessoas qualquer poder de escolha da categoria jurídica ou de estruturação do conteúdo
das relações respectivas”.

Um bom exemplo de ato jurídico stricto sensu, visando a diferenciá-lo do negócio


jurídico:
1. É o reconhecimento de um filho - Imagine-se que uma pessoa teve um filho fora
do casamento e, como pai, queira reconhecê-lo. Com o reconhecimento, surgem
efeitos legais, como o direito do filho usar o nome do pai, o dever do último de
prestar alimentos, direitos sucessórios, dever de apoio moral, entre outros. Sendo
reconhecido um filho, os efeitos decorrentes do ato não dependem da vontade da
pessoa que fez o reconhecimento, mas da lei, da norma jurídica. Como é notório,
não pode o pai limitar esses direitos decorrentes de lei. Sendo assim, prevê o art.
1.613 do CC/2002 que o reconhecimento de filho não pode ter eficácia sujeita a
condição ou a termo. A título de exemplo, não pode o suposto pai dizer que
reconhecerá um filho se não tiver que pagar alimentos.
2. O pagamento direto de uma obrigação também constitui um típico ato jurídico
em sentido estrito. A obrigação já existia anteriormente, cabendo ao devedor
pagá-la a fim de eximir-se do vínculo dela decorrente e das consequências
advindas do inadimplemento, como a responsabilidade patrimonial consagrada
no art. 391 do CC. Com o pagamento, ausente qualquer composição de
vontades, o devedor livra-se desse vínculo jurídico.

Considerações:
 O ato jurídico stricto sensu constitui um fato jurídico, bem como um fato
jurígeno, pela presença do elemento volitivo.
 Constitui também um ato jurídico lato sensu.
 O ato jurídico stricto sensu está previsto no art. 185 do CC/2002, segundo o
qual: “aos atos jurídicos lícitos, que não sejam negócios jurídicos, aplicam-se, no
que couber, as disposições do Título anterior”.
 As regras que serão expostas quanto ao negócio jurídico, a partir de agora,
devem ser aplicadas também aos atos jurídicos em questão.
3. DO NEGÓCIO JURÍDICO
Conceito: é toda a ação humana, de autonomia privada, com a qual os particulares
regulam por si os próprios interesses, havendo uma composição de vontades, cujo
conteúdo deve ser lícito. Constitui um ato destinado à produção de efeitos jurídicos
desejados pelos envolvidos e tutelados pela norma jurídica.
Espécie: O negócio jurídico é uma espécie do gênero ato jurídico em sentido amplo
(lato sensu), constituindo ainda um fato jurídico, particularmente um fato jurígeno, pela
presença da vontade.
O negócio jurídico típico por excelência é o contrato, concebido como um negócio
jurídico bilateral ou plurilateral que visa à criação, à modificação ou à extinção de
direitos e deveres, com conteúdo patrimonial.
Todo contrato constitui negócio jurídico, sem exceção; o que justifica a importância da
teoria geral do negócio jurídico para a seara contratual.
O negócio jurídico é o principal instrumento que as pessoas têm para realizar seus
interesses.
Quando se verificam os elementos do negócio jurídico, igualmente se estudam os
elementos do contrato. Os vícios do negócio jurídico também são vícios contratuais. Os
casos de nulidade ou anulabilidade do negócio geram o contrato nulo e anulável,
respectivamente.
Os princípios sociais contratuais, caso da função social e da boa-fé objetiva, trouxeram
uma nova forma de visualização dos contratos:
A manifestação da vontade, sofreu um verdadeiro impacto. Na prática, predominam os
pactos de adesão, ocorrendo a denominada estandardização contratual. Porque hoje se
tornaram raras as manifestações de vontade plenas e inequívocas nos contratos em
geral, chegaram alguns autores a apontar a morte ou a crise dos contratos. Mas na
verdade, o contrato não tende a desaparecer, estando em seu apogeu. Essa expressão
crise não significa derrota, mas mudança de estrutura.
O Código Civil de 2002, nesse ponto distante da simplicidade, não buscou
conceituar tanto o ato jurídico stricto sensu quanto o negócio jurídico,
demonstrando somente quais são os seus elementos estruturais (art. 104 do CC).

Principais classificações dos negócios jurídicos

A classificação do negócio jurídico tem como objetivo enquadrar um determinado


instituto jurídico, bem como demonstrar a natureza jurídica do mesmo.
Pelo que consta no art. 185 da atual codificação, as classificações a seguir servem tanto
para os negócios quanto para os atos jurídicos stricto sensu.
Vejamos os principais enquadramentos de tais institutos:
I) Quanto às manifestações de vontade dos envolvidos:
• Negócios jurídicos unilaterais – são aqueles atos e negócios em que a declaração de
vontade emana de apenas uma pessoa, com um único objetivo. São exemplos de
negócios jurídicos unilaterais o testamento, a renúncia a um crédito e a promessa de
recompensa.
Podem ainda ser classificados em receptícios – aqueles em que a declaração deve ser
levada a conhecimento do seu destinatário para que possa produzir efeitos – e em não
receptícios – em que o conhecimento pelo destinatário é irrelevante. A promessa de
recompensa está dentro dos primeiros e o testamento, dos últimos.
• Negócios jurídicos bilaterais – são aqueles em que há duas manifestações de vontade
coincidentes sobre o objeto ou bem jurídico tutelado. O negócio jurídico bilateral por
excelência é o contrato.
• Negócios jurídicos plurilaterais – são os negócios jurídicos que envolvem mais de
duas partes, com interesses coincidentes no plano jurídico. Exemplos de negócio
jurídico plurilateral são o contrato de consórcio e o contrato de sociedade entre várias
pessoas.
II) Quanto às vantagens patrimoniais para os envolvidos:
• Negócios jurídicos gratuitos – são os atos de liberalidade, que outorgam vantagens
sem impor ao beneficiado a obrigação de uma contraprestação. Exemplo é o contrato de
doação pura.
• Negócios jurídicos onerosos – são os atos que envolvem sacrifícios e vantagens
patrimoniais para todas as partes no negócio, como é o caso dos contratos de locação e
de compra e venda. No primeiro caso a remuneração é o aluguel, no segundo, o preço.
• Negócios jurídicos neutros – são aqueles em que não há uma atribuição patrimonial
determinada, não podendo ser enquadrados como gratuitos ou onerosos, caso da
instituição de um bem de família voluntário ou convencional (arts. 1.711 a 1.722 do
CC).
• Negócios jurídicos bifrontes – são aqueles que tanto podem ser gratuitos como
onerosos, o que depende da autonomia privada, da intenção das partes. Podem ser
citados os contratos de depósito e de mandato, que podem assumir as duas formas, pela
presença ou não da remuneração.
III) Quanto aos efeitos, no aspecto temporal:
• Negócios jurídicos inter vivos – são aqueles destinados a produzir efeitos desde logo,
isto é, durante a vida dos negociantes ou interessados, como ocorre, por exemplo, nos
contratos, caso da compra e venda; e no casamento.
• Negócios jurídicos mortis causa – aqueles cujos efeitos só ocorrem após a morte de
determinada pessoa, como, para ilustrar, se dá no testamento e no legado.
A separação entre os negócios jurídicos inter vivos e mortis causa é clara no art. 426 do
atual Código Civil, pelo qual não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva.

IV) Quanto à necessidade ou não de solenidades e formalidades:


• Negócios jurídicos formais ou solenes – são aqueles que obedecem a uma forma ou
solenidade prevista em lei para a sua validade e aperfeiçoamento, caso do casamento e
do testamento. Como se verá adiante, tecnicamente, há diferenças entre as categorias
forma e solenidade.
• Negócios jurídicos informais ou não solenes – são aqueles que admitem forma livre,
constituindo regra geral, pelo que prevê o art. 107 do CC/2002, em sintonia com o
princípio da operabilidade, no sentido de simplicidade ou de facilitação do Direito Civil.
São, por regra, negócios jurídicos informais a locação, a prestação de serviços e a
compra e venda de bens móveis.
V) Quanto à independência ou autonomia:
• Negócios jurídicos principais ou independentes – são os negócios que têm vida própria
e não dependem de qualquer outro negócio jurídico para terem existência e validade.
Exemplo a ser citado é o contrato de locação.
• Negócios jurídicos acessórios ou dependentes – são aqueles cuja existência está
subordinada a outro negócio jurídico, denominado principal. Exemplo típico de negócio
acessório é o contrato de fiança, geralmente relacionado com um contrato de locação.
VI) Quanto às condições pessoais especiais dos negociantes:
• Negócios jurídicos impessoais – são aqueles que não dependem de qualquer condição
especial dos envolvidos, podendo a prestação ser cumprida tanto pelo obrigado quanto
por um terceiro. Exemplo é o contrato de compra e venda.
• Negócios jurídicos personalíssimos ou intuitu personae – são aqueles dependentes de
uma condição especial de um dos negociantes, havendo uma obrigação infungível,
como ocorre no contrato de fiança. Como outro exemplo cite-se a contratação de um
pintor famoso, com talento único, para fazer o retrato de uma família.
VII) Quanto à sua causa determinante:
• Negócios jurídicos causais ou materiais – são aqueles em que o motivo consta
expressamente do seu conteúdo como ocorre, por exemplo, em um termo de separação
ou de divórcio. A maioria dos negócios jurídicos assume essa forma.
• Negócios jurídicos abstratos ou formais – são aqueles cuja razão não se encontra
inserida no conteúdo, decorrendo dele naturalmente. Exemplos que podem ser citados
são um termo de transmissão da propriedade e a simples emissão de um título de
crédito.
VIII) Quanto ao momento de aperfeiçoamento:
• Negócios jurídicos consensuais – são aqueles que geram efeitos a partir do momento
em que há o acordo de vontades entre as partes, como ocorre na compra e venda pura
(art. 482 do CC/2002).
• Negócios jurídicos reais – são aqueles que geram efeitos a partir da entrega do objeto,
do bem jurídico tutelado. Alguns contratos, como o comodato, o mútuo, o contrato
estimatório e o depósito, assumem essa forma.
IX) Quanto à extensão dos efeitos:
• Negócios jurídicos constitutivos – são os negócios que geram efeitos ex nunc, a partir
da sua conclusão, pois constituem positiva ou negativamente determinados direitos,
como ocorre com a compra e venda.
• Negócios jurídicos declarativos – são os negócios que geram efeitos ex tunc, a partir
do momento do fato que constitui o seu objeto, caso da partilha de bens no inventário.

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