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Conceito de Fato jurídico Humano: Parte da doutrina denomina o fato humano como
fato jurígeno, pela presença da vontade humana (elemento volitivo), incluindo os atos
lícitos e os ilícitos.
Classificação:
a) Ato jurídico em sentido amplo ou ato jurídico lato sensu – também denominado ato
voluntário e que igualmente possui importante subclassificação, conforme será ainda
analisado.
b) Ato ilícito – é a conduta voluntária ou involuntária que está em desacordo com o
ordenamento jurídico.
O ilícito pode ser penal, administrativo ou civil, havendo independência entre
essas três esferas, o que pode ser percebido pela leitura da primeira parte do art.
935 do CC/2002 (“a responsabilidade civil independe da criminal”). Essa
independência, no entanto, não é absoluta, mas relativa, pois uma conduta pode
influir nas três órbitas, como ocorre em um acidente de trânsito ou no dano
ambiental.
O conceito de ato ilícito civil: Para os fins de responsabilidade civil, consta do
art. 186 Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente
moral, comete ato ilícito”.
De toda sorte, esclareça-se que essa é apenas uma modalidade de ilícito que, na
clássica divisão de Pontes de Miranda, pode ser de três tipos.
1. ilícito nulificante, aquele que gera a nulidade do negócio jurídico, e que ainda
será neste livro analisado (art. 166, inc. II, do CC).
Art. 166 É nulo o negócio jurídico quando:
I.
II. for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto;
A tese do abuso de direito como ato ilícito, conforme previsto no seu art. 187:
O abuso de direito, como ilícito que é, não diz respeito somente ao tema da
responsabilidade civil.
O Enunciado n. 539, da VI Jornada de Direito Civil, de 2013, que preceitua:
“o abuso de direito é uma categoria jurídica autônoma em relação à responsabilidade
civil. Por isso, o exercício abusivo de posições jurídicas desafia controle
independentemente de dano”.
A indesejável vinculação do abuso de direito a responsabilidade civil, consequência de
uma opção legislativa equívoca, que o define no capítulo relativo ao ato ilícito (art. 187)
e o refere especificamente na obrigação de indenizar (art. 927 do CC), lamentavelmente
tem subtraído bastante as potencialidades dessa categoria jurídica e comprometido a sua
principal função (de controle), modificando-lhe indevidamente a estrutura.
E mais, segundo as mesmas justificativas do enunciado, proposto pelo Professor Fábio
Azevedo, do Rio de Janeiro:
“Não resta dúvida sobre a possibilidade de a responsabilidade civil surgir por danos
decorrentes do exercício abusivo de uma posição jurídica. Por outro lado, não é menos
possível o exercício abusivo dispensar qualquer espécie de dano, embora, ainda assim,
mereça ser duramente coibido com respostas jurisdicionais eficazes. Pode haver abuso
sem dano e, portanto, sem responsabilidade civil. Será rara, inclusive, a aplicação do
abuso como fundamento para o dever de indenizar, sendo mais útil admiti-lo como base
para frear o exercício. E isso torna a aplicação da categoria bastante cerimoniosa pela
jurisprudência, mesmo após uma década de vigência do Código. O abuso de direito
também deve ser utilizado para o controle preventivo e repressivo. No primeiro caso,
em demandas inibitórias, buscando a abstenção de condutas antes mesmo de elas
ocorrerem irregularmente, não para reparar, mas para prevenir a ocorrência do dano. No
segundo caso, para fazer cessar (exercício inadmissível) um ato ou para impor um agir
(não exercício inadmissível). Pouco importa se haverá ou não cumulação com a
pretensão de reparação civil”.
Considerações:
Pode existir abuso de direito sem dano, cabendo medidas inibitórias em casos
tais.
É possível que o abuso de direito gere a nulidade ou a ineficácia do ato ou
negócio jurídico.
Conceito Ato-fato jurídico: é um fato jurídico qualificado por uma atuação humana,
por uma vontade não relevante juridicamente.
“Nesse caso, é irrelevante para o direito se a pessoa teve ou não a intenção de praticá-lo.
O que se leva em conta é o efeito resultante do ato que pode ter repercussão jurídica,
inclusive ocasionando prejuízos a terceiros. Nesse sentido, costuma-se chamar à
exemplificação os atos praticados por uma criança, na compra e venda de pequenos
efeitos.
Ao tratar dos atos-fatos jurídicos, Pontes de Miranda desenvolve o conceito de atos-
reais, nos seguintes termos:
“Os atos reais, ditos, assim por serem mais dos fatos, das coisas, que dos homens – ou
atos naturais, se separamos natureza e psique, ou atos meramente externos, se assim os
distinguirmos, por abstraírem eles do que se passa no interior do agente – são os atos
humanos a cujo suporte fático se dá entrada, como fato jurídico, no mundo jurídico, sem
se atender, portanto, à vontade dos agentes: são atos-fatos jurídicos. Nem é preciso que
haja querido a juridicização deles, nem, a fortiori, a irradiação de efeitos.
Nos atos reais, a vontade não é elemento do suporte fático (= o suporte fático seria
suficiente, ainda sem ela). Exemplos de atos reais.
São os principais atos reais:
a) a tomada de posse ou aquisição da posse,
b) a transmissão da posse pela tradição;
c) o abandono da posse;
d) o descobrimento do tesouro;
e) a especificação;
f) a composição de obra científica, artística ou literária;
g) a ocupação”
Considerações:
Considerações:
O ato jurídico stricto sensu constitui um fato jurídico, bem como um fato
jurígeno, pela presença do elemento volitivo.
Constitui também um ato jurídico lato sensu.
O ato jurídico stricto sensu está previsto no art. 185 do CC/2002, segundo o
qual: “aos atos jurídicos lícitos, que não sejam negócios jurídicos, aplicam-se, no
que couber, as disposições do Título anterior”.
As regras que serão expostas quanto ao negócio jurídico, a partir de agora,
devem ser aplicadas também aos atos jurídicos em questão.
3. DO NEGÓCIO JURÍDICO
Conceito: é toda a ação humana, de autonomia privada, com a qual os particulares
regulam por si os próprios interesses, havendo uma composição de vontades, cujo
conteúdo deve ser lícito. Constitui um ato destinado à produção de efeitos jurídicos
desejados pelos envolvidos e tutelados pela norma jurídica.
Espécie: O negócio jurídico é uma espécie do gênero ato jurídico em sentido amplo
(lato sensu), constituindo ainda um fato jurídico, particularmente um fato jurígeno, pela
presença da vontade.
O negócio jurídico típico por excelência é o contrato, concebido como um negócio
jurídico bilateral ou plurilateral que visa à criação, à modificação ou à extinção de
direitos e deveres, com conteúdo patrimonial.
Todo contrato constitui negócio jurídico, sem exceção; o que justifica a importância da
teoria geral do negócio jurídico para a seara contratual.
O negócio jurídico é o principal instrumento que as pessoas têm para realizar seus
interesses.
Quando se verificam os elementos do negócio jurídico, igualmente se estudam os
elementos do contrato. Os vícios do negócio jurídico também são vícios contratuais. Os
casos de nulidade ou anulabilidade do negócio geram o contrato nulo e anulável,
respectivamente.
Os princípios sociais contratuais, caso da função social e da boa-fé objetiva, trouxeram
uma nova forma de visualização dos contratos:
A manifestação da vontade, sofreu um verdadeiro impacto. Na prática, predominam os
pactos de adesão, ocorrendo a denominada estandardização contratual. Porque hoje se
tornaram raras as manifestações de vontade plenas e inequívocas nos contratos em
geral, chegaram alguns autores a apontar a morte ou a crise dos contratos. Mas na
verdade, o contrato não tende a desaparecer, estando em seu apogeu. Essa expressão
crise não significa derrota, mas mudança de estrutura.
O Código Civil de 2002, nesse ponto distante da simplicidade, não buscou
conceituar tanto o ato jurídico stricto sensu quanto o negócio jurídico,
demonstrando somente quais são os seus elementos estruturais (art. 104 do CC).