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Direito Civil - Parte Geral - Teoria Geral do Negócio Jurídico, Ato Jurídico, Fato

Jurídico
TEORIA GERAL DO NEGÓCIO JURÍDICO, ATO JURÍDICO, FATO
JURÍDICO
Amanda Godoy Cottas

Fatos jurídicos em sentido amplo são acontecimentos que podem ser oriundos
de determinação humana (atos jurídicos) ou de fatos naturais (fatos jurídicos em
sentido estrito), que geram, modificam, conservam, transferem ou extinguem relações
jurídicas.
Fatos simples ou ajurídicos: são aqueles cuja ocorrência não possui relevância
para o mundo jurídico.
Involuntários (naturais): fatos jurídicos em sentido estrito. Ocorrem
independentemente da vontade do ser humano. Ocorrem pela ação da natureza (a morte,
uma inundação, o nascimento etc.);
b) Voluntários (humanos): atos jurídicos em sentido amplo. Derivam da vontade
direta do ser humano e podem ser lícitos ou ilícitos.
Os atos jurídicos podem ser lícitos ou ilícitos.
a) Lícitos: quando produzem efeitos legais, conforme a vontade de quem os
pratica (casamento, contratos).
b) Ilícitos: quando produzem efeitos legais contrários à Lei (homicídio, roubo).
Os atos lícitos podem se dividir em:
a) atos jurídicos strictu sensu (aqueles praticados pelo homem, cujos efeitos já
são previamente definidos pela ordem jurídica – a vontade é manifestada para aderir aos
efeitos estabelecidos pelo ordenamento jurídico).
b) negócios jurídicos (aqueles praticados pelo homem com a intenção de criar,
modificar, conservar, extinguir ou transferir direitos – os efeitos são escolhidos pelas
partes).
Assim, o negócio jurídico é uma declaração de vontade do indivíduo tendente a
um fim protegido pelo ordenamento jurídico.
No negócio jurídico há a manifestação de vontade dos contratantes. Além disso,
alguns negócios jurídicos requerem, além da declaração, uma ação material posterior,
como por exemplo, na compra e venda de um bem móvel, onde além de os contratantes
declararem que querem celebrar a compra e venda, há a posterior tradição do bem. Sem
a tradição, o negócio não se aperfeiçoa.
Em regra, o negócio jurídico envolve pelo menos a declaração de vontade de duas
ou mais partes, mas pode haver negócio jurídico onde existe apenas a declaração de
vontade de uma parte.
Assim, o negócio jurídico poder ser:
a) Unilateral: se existe apenas a manifestação de vontade de um agente
(declaração de nascimento de filho).
b) Bilateral: se existe a manifestação da vontade de dois agentes, criando entre
eles uma relação jurídica (contrato de compra e venda). Nesse caso, o Ato Jurídico
passa a se chamar Negócio Jurídico (todos os contratos, o empréstimo pessoal etc.).
c) Plurilateral: duas ou mais partes, com interesses coincidentes no plano
jurídico. Exemplos: Contrato de consórcio e o contrato de sociedade entre várias
pessoas.

O Negócio Jurídico também pode ser:


Inter vivos: são os que ocorrem durante a vida.
Causa Mortis: seus efeitos surgem e ocorrem após a morte.
Formais ou solenes: precisam obedecer a forma prevista em lei.
Informais ou não solenes: a forma é livre. A Lei não define nenhuma regra.
Personalíssimos ou Intuitu Personae: são os vinculados a uma condição
especial, própria de alguém.
Ex Nunc: Os efeitos são da conclusão do negócio jurídico para frente, ou seja,
passam a valer dali para adiante. Não atinge o que já passou.
Ex Tunc: Os efeitos retroagem, ou seja, atinge o passado. Seu alcance é até o
início que o originou.

A estrutura do negócio jurídico. (A Escada Ponteana)

Pontes de Miranda criou uma teoria para explicar e estudar a concepção dos
elementos essenciais, naturais e acidentais do negócio jurídico.
O negócio jurídico tem três planos:
–plano da existência;
–plano da validade;
–plano da eficácia.

Em regra, para que se verifiquem os elementos da validade, é preciso que o


negócio seja existente. Para que o negócio seja eficaz, deve ser existente e válido.
No plano da existência estão os elementos mínimos, ou elementos essenciais,
sendo eles as partes (agentes), objeto, forma e vontade.
No plano da validade, os elementos essenciais já são qualificados, pois as partes
devem ser capazes, o objeto lícito, possível, determinado ou determinável, a forma
prescrita ou não defesa em lei e a vontade livre, sem vícios.
Tais elementos constam expressamente do art. 104 do CC: “A validade do
negócio jurídico requer: I – agente capaz; II – objeto lícito, possível, determinado ou
determinável; III – forma prescrita ou não defesa em lei".
a) agente capaz: o agente deve estar apto a praticar os atos da vida civil. Os
absolutamente incapazes devem ser representados e os relativamente incapazes devem
ser assistidos;
b) objeto lícito, possível, determinado ou determinável: o objeto do Ato
Jurídico deve ser permitido pelo direito e possível de ser efetivado;
c) forma prescrita ou não defesa em lei: a forma dos Atos Jurídicos tem que ser
a prevista em Lei, se houver esta previsão, ou não proibida.
Não está expressa a vontade livre, mas tal elemento está inserido dentro da
capacidade do agente e na licitude do objeto.
O negócio jurídico que não se enquadrar nos elementos de validade, em regra será
nulo (nulidade absoluta), em alguns casos, poderá ser anulável (nulidade relativa ou
anulabilidade).
O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e
não for necessária a declaração de vontade expressa. O ditado “quem cala consente" não
possui juridicidade, ou seja, o silêncio apenas terá valor jurídico se a lei o determinar,
bem como, se acompanhado de certas circunstâncias, usos e costumes.
Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do
que ao sentido literal da linguagem.
A interpretação do Negócio Jurídico deve se ater à vontade das partes, procurando
suas consequências jurídicas sem se vincular estritamente, ao teor linguístico do ato
negocial.
Diante da Teoria subjetiva da interpretação dos negócios jurídicos o que importa é
a vontade real e não a declarada.
E os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do
lugar da sua celebração.
No plano da eficácia estão os elementos relacionados com a suspensão e
resolução de direitos e deveres das partes envolvidas. De outra forma, pode-se dizer que
nesse último plano, ou último degrau da escada, estão os efeitos gerados pelo negócio
em relação às partes e em relação a terceiros, ou seja, as suas consequências jurídicas e
práticas. São elementos de eficácia os seguintes:
– Condição (evento futuro e incerto).
– Termo (evento futuro e certo).
– Encargo ou Modo (ônus introduzido em ato de liberalidade).
– Regras relativas ao inadimplemento do negócio jurídico (resolução). Juros,
cláusula penal (multa) e perdas e danos.
– Direito à extinção do negócio jurídico (resilição).
– Regime de bens do negócio jurídico casamento.
– Registro Imobiliário.

Elementos acidentais: condição, termo e encargo


Condição
Considera-se condição a cláusula que, derivando exclusivamente da vontade das
partes, subordina o efeito do Negócio Jurídico a evento futuro e incerto.
Art. 121 – Considera-se condição a cláusula que, derivando exclusivamente da
vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e incerto.
Pode a condição ser suspensiva ou resolutiva. A primeira é aquela que, enquanto
não se verificar, o Negócio Jurídico não gera efeitos. Se alguém dispuser de uma coisa
sob condição suspensiva, e, pendente esta, fizer quanto àquelas novas disposições, essas
não terão valor, realizada a condição, se com ela forem incompatíveis. A segunda é
aquela que, enquanto não se verificar, não vai haver qualquer consequência para o
negócio jurídico (Venda com reserva de domínio).
Se for resolutiva a condição, enquanto ela se não realizar, vigorará o Negócio
Jurídico, podendo exercer-se desde a conclusão desse o direito por ele estabelecido.
Sobrevindo a condição resolutiva, extingue-se, para todos os efeitos, o direito a que ela
se opõe; mas, se aposta a um negócio de execução continuada ou periódica, a sua
realização, salvo disposição em contrário, não tem eficácia quanto aos atos já
praticados, desde que compatíveis com a natureza da condição pendente.
a) positivas (consistem na verificação de um fato – auferição de renda até a
colação de grau);
b) negativas (consistem na inocorrência de um fato – empréstimo de uma casa a
um amigo, até que a enchente deixe de assolar a sua cidade).
Quanto à licitude, as condições podem ser ainda:
a) lícitas;
b)ilícitas.
Obs: As condições resolutivas resolvem, isto, é fazem cessar os efeitos do
negócio jurídico; as condições suspensivaspostergam a própria aquisição do direito.
Condições suspensivas impossíveis, ilícitas e incompreensíveis: invalidam os negócios
jurídicos que lhe são subordinados.
Condições resolutivas impossíveis: consideram-se inexistentes.
Termo
Termo é a cláusula que subordina os efeitos do ato negocial a um
acontecimento futuro e certo. Decorre de acordo das partes ou da lei.
Possui, fundamentalmente, duas características fundamentais:
a) futuridade;
b) certeza (quanto à ocorrência do fato).
Finalmente, cumpre-nos mencionar, que a doutrina costuma apresentar a seguinte
classificação do termo:
a) convencional – fixado pela vontade das partes (em um contrato, por exemplo);
b) legal – determinado por força de lei;
c) de graça – fixado por decisão judicial (geralmente consiste em um prazo
determinado pelo juiz para que o devedor de boa-fé cumpra a sua obrigação).
Encargo ou modo
O encargo não suspende a aquisição nem o exercício do direito, salvo quando
expressamente imposto no Negócio Jurídico, pelo disponente, como condição
suspensiva. Trata-se de cláusula acessória aderente a atos de liberalidade inter
vivos (doação) ou causa mortis (testamento ou legado).
Art. 136. O encargo não suspende a aquisição nem o exercício do direito, salvo
quando expressamente imposto no negócio jurídico, pelo disponente, como condição
suspensiva.
Art. 137. Considera-se não escrito o encargo ilícito ou impossível, salvo se
constituir o motivo determinante da liberalidade, caso em que se invalida o negócio
jurídico.
Resumindo:
Plano da Existência: agente; manifestação de vontade; objeto; forma dessa
manifestação.
Plano da Validade: agente capaz e legitimado; objeto lícito, possível e
determinado ou determinável; manifestação de vontade livre; forma prescrita ou não
defesa em lei.
Plano da Eficácia: condição (evento futuro e incerto); termo (evento futuro e
certo); encargo ou modo. São os ditos elementos acidentais, porque podem ou não fazer
parte do negócio jurídico.

Direito Civil - Parte Geral - Defeitos do Negócio Jurídico


DEFEITOS DO NEGÓCIO JURÍDICO

ERRO: caracteriza-se pela falsa percepção da realidade, que deve ser espontânea
(pois se provocada essa falsa percepção, restará caracterizado o dolo).
De forma que por desconhecimento ou falso conhecimento das circunstâncias, age
de modo que não seria a sua vontade, se conhecesse a verdadeira situação. Artigo 138
do CC.
Para viciar a vontade e anular o ato negocial, esse deverá ser substancial,
escusável e real. Artigo 139 do CC.
O erro, enquanto vício capaz de provocar a anulação do negócio jurídico, deve
ser substancial ou essencial (ou seja, aquele que recai sobre circunstâncias e aspectos
relevantes do negócio que celebra, bem como sobre a existência de norma jurídica que
afete a manifestação de vontade.) Será escusável, no sentido de que há de ter por
fundamento uma razão plausível ou ser de tal monta que qualquer pessoa de atenção
ordinária seja capaz de cometê-lo em face da circunstância do negócio. e real (produziu
um prejuízo ao declarante). Não haverá anulação nos casos em que apesar do erro a
pessoa a quem a vontade se dirige oferece para executá-la conforme a real vontade do
manifestante (art. 144, CC ).
O erro será substancial quando interessar à natureza do negócio, ao objeto
principal da declaração, ou a alguma das qualidades a ele essenciais; disser respeito à
identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade,
desde que tenha influído nesta de modo relevante e quando sendo de direito e não
implicando recusa à aplicação da lei, for o motivo único ou principal do negócio
jurídico (art. 139, CC).

DOLO: ocorre quando alguém faz uso de artifício com o fim de induzir o sujeito
a se equivocar na manifestação de sua vontade. O dolo acidental (atinente a aspectos
secundários do negócio, já que este seria realizado, com ou seu a utilização dessas
manobras maliciosas), não gera a anulação, mas apenas dá direito a pleitear indenização
por perdas e danos (art. 146, CC).
Doutrinariamente se distingue o dolo bom (meros exageros) e dolo mau (com a
intenção de prejudicar), de modo que somente este tem o condão de macular o negócio
jurídico. Apenas este último vicia o negócio jurídico. O dolo pode ser comissivo
(através da ação) ou omissivo (silêncio intencional de informações relevantes –
influenciaria na intenção de querer ou não se relacionar).
O dolo pode ser praticado pelo próprio agente, aquele que será beneficiado com a
declaração de vontade, ou por terceiro, e, nesse caso, gerará anulação quando a parte
que o aproveite tem ou devesse ter esse conhecimento.
Art. 150, CC:. Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo
para anular o negócio, ou reclamar indenização. – dolo recíproco.
Pode-se afirmar que o dolo difere do erro, em razão da espontaneidade deste.
O dolo acidental (dolo incidens) só obriga a satisfação de perdas e danos, sendo
acidental quando a seu despeito; o negócio seria realizado, embora por outro modo.
Nessa modalidade observa-se um elemento desimportante, secundário e, por isso, não
seria anulável.
Não se pode confundir o dolo-vício do negócio jurídico com o dolo da
responsabilidade civil.
O dolo-vício está relacionado com um negócio jurídico, sendo a causa da sua
celebração (dolo essencial). Sendo o dolo essencial ao negócio jurídico, causará a sua
anulabilidade, conforme art. 171, II, do CC, devendo ser proposta a ação no prazo de 4
anos (prazo decadencial) da celebração do negócio jurídico, pelo interessado (art. 178,
II, do CC).
O dolo da responsabilidade civil não está relacionado a um negócio jurídico, não
gerando anulabilidade. Porém, caso eventualmente atinja um negócio jurídico, será de
forma secundária, devendo ser tratado como dolo acidental, gerando somente o dever
de pagar perdas e danos (art. 146, do CC).
Coação: no plano da validade, faz-se referência à coação moral, já que a coação
física pertence ao plano da existência. Quando se trata de coação moral, pode-se dizer
que, o agente possui duas ou mais opções de escolha quanto ao comportamento que terá,
embora se saiba que essa escolha não é livre e desembaraçada.
A coação física é chamada, também, de vis absoluta, e a coação moral é chamada,
também, de vis compulsiva.
A coação há de ser séria e iminente (mal iminente e considerável à sua pessoa, à
sua família ou aos seus bens) e nessa análise as características pessoais do coagido
também serão levadas em consideração. Mas é importante esclarecer que o legislador
também permitiu que o juiz avalie a ameaça de mal iminente dirigida às pessoas que
não são da família do coagido.
Caso a coação seja exercida por terceiro é possível que se proceda à anulação do
negócio jurídico desde que o beneficiado saiba ou ao menos possua condições de saber
da sua ocorrência. Nesse caso, o beneficiário responderá solidariamente com o coator
(art. 154, CC), assegurado o direito regressivo (art. 155, CC). O mero temor reverencial
e o exercício regular de um direito não caracterizam coação (art. 153, CC).
A coação leva à anulabilidade do negócio jurídico, conforme art. 171, II e art. 178,
I, do CC.
ESTADO DE PERIGO (CC, 156): ocorre quando alguém, premido da
necessidade de salvar a si (ou a pessoa de sua família) de um grave dano conhecido
pela outra parte, assume prestação manifestamente excessiva.
O estado de perigo possui dois elementos. Um subjetivo e outro objetivo.
O elemento subjetivo é o conhecimento da outra parte da situação de risco que
atinge o primeiro. Esse elemento diferencia o estado de perigo da lesão e da coação.
O elemento objetivo é a onerosidade excessiva, ou seja, a pessoa, temerosa de
grave dano ou prejuízo celebra negócio mediante uma prestação exorbitante.
O estado de perigo leva à anulabilidade do negócio jurídico, conforme art. 171, II
e art. 178, II, do CC.
Para afastar a anulação do negócio e a correspondente extinção, poderá o juiz
utilizar-se da revisão do negócio jurídico. Assim é o entendimento da III Jornada de
Direito Civil, em que foi aprovado o Enunciado nº 148.
148 - “Ao ‘estado de perigo’ (art. 156) aplica-se, por analogia, o disposto no § 2.º
do art. 157”.
Lesão: (CC, 157): é caracterizada pela desproporção das prestações no
momento da celebração do negócio jurídico. A invalidação com base nesse vício tem
como fundamento o princípio do equilíbrio contratual.
A lesão ocorre quando uma pessoa, por premente necessidade ou inexperiência,
obriga-se a prestação manifestamente desproporcional.
Para a caracterização da lesão é necessária a presença de um elemento objetivo,
formado pela desproporção das prestações, a gerar uma onerosidade excessiva, um
prejuízo a uma das partes e um elemento subjetivo: a premente necessidade ou
inexperiência, da parte.
Não se confunde com a cláusula rebus sic standibus, porque a desproporção é
originária e não superveniente.
Na lesão, se a parte beneficiada concordar em suplementar o valor faltante ou
concordar com a redução do seu proveito, o negócio poderá ser mantido.
Esse é o entendimento adotado na III Jornada de Direito Civil:
Enunciado n. 149: Art. 157 - Em atenção ao princípio da conservação dos
contratos, a verificação da lesão deverá conduzir, sempre que possível, à revisão judicial
do negócio jurídico e não à sua anulação, sendo dever do magistrado incitar os
contratantes a seguir as regras do art. 157, § 2.º, do Código Civil de 2002.
150 – Art. 157: A lesão de que trata o art. 157 do Código Civil não exige dolo de
aproveitamento.
E também na IV Jornada de Direito Civil:
290 – Art. 157. A lesão acarretará a anulação do negócio jurídico quando
verificada, na formação deste, a desproporção manifesta entre as prestações assumidas
pelas partes, não se presumindo a premente necessidade ou a inexperiência do lesado.
Enunciado n. 291: Art. 157 - Nas hipóteses de lesão previstas no art. 157 do
Código Civil, pode o lesionado optar por não pleitear a anulação do negócio jurídico,
deduzindo, desde logo, pretensão com vistas à revisão judicial do negócio por meio da
redução do proveito do lesionador ou do complemento do preço.
Tem-se buscado em atenção ao princípio da conservação dos contratos a revisão
contratual no caso de lesão e não a sua anulação.
A lesão gera a anulabilidade negócio jurídico viciado, conforme art. 171, II e art.
178, II, do CC.
Fraude contra credores: é o artifício utilizado pelo devedor no intuito de
dilapidar seu patrimônio prejudicando assim seus credores.
Nos termos preconizados pelo art. 158, CC, os negócios de transmissão gratuita
de bens ou remissão de dívida, se os praticar o devedor já insolvente, ou por eles
reduzido à insolvência, ainda quando o ignore, poderão ser anulados pelos credores
quirografários, como lesivos de seus direitos.
Neste vício a vítima não participa do ato, mas sofre suas consequências.
Vislumbra-se prática maliciosa, realizada pelo devedor, de atos que desfalcam
seu patrimônio, com o fim de colocá-lo a salvo de uma execução por dívidas em
detrimento dos direitos creditórios alheios.
Dois são seus elementos: o objetivo (eventus damni), que é todo ato prejudicial
ao credor, por tornar o devedor insolvente ou por ter sido realizado em estado de
insolvência, ainda quando o ignore ou ante o fato de a garantia tornar-se insuficiente; e
o subjetivo (consilium fraudis), que é a má-fé, a intenção de prejudicar do devedor ou
do devedor aliado a terceiro, ilidindo os efeitos da cobrança.
Essa fraude concede ao prejudicado a legitimidade para propor ação pauliana ou
revocatória. Também se estende essa legitimidade aos credores com garantia real,
quando esta se torna insuficiente. O prazo para a propositura dessa ação é de 4 anos (art.
178, II, CC).
Sobre a fraude contra credores, foi aprovado na III Jornada de Direito Civil o
enunciado nº 151:
151 – Art. 158: O ajuizamento da ação pauliana pelo credor com garantia real (art.
158, § 1o) prescinde de prévio reconhecimento judicial da insuficiência da garantia.
E na IV Jornada de Direito Civil:
292 – Art. 158. Para os efeitos do art. 158, § 2º, a anterioridade do crédito é
determinada pela causa que lhe dá origem, independentemente de seu reconhecimento
por decisão judicial.
É possível a conservação do negócio quando o valor pago pelo adquirente tiver
sido aproximadamente o de mercado ou quando depositar a diferença (art. 160, CC).
A fraude contra credores não se confunde com a fraude à execução, já que nesta o
ato de alienação capaz de reduzi-lo à insolvência é praticado depois da propositura de
ação contra devedor, mesmo que em processo de conhecimento.
A fraude à execução está disciplinada no art. 792 do NCPC.
A fraude contra credores sujeita o negócio jurídico à anulabilidade, conforme art.
171, II e art. 178, II, do CC.
SIMULAÇÃO: constitui uma declaração enganosa de vontade para prejudicar
terceiros ou burlar lei imperativa.
Na simulação absoluta, não existe nenhum negócio jurídico celebrado, há apenas
um negócio aparente (simulado). Diferentemente, na simulação relativa, há um
negócio diverso (dissimulado) por trás do negócio aparente (simulado).
O que existe é uma declaração de vontade mentirosa.
São seus requisitos:
a) divergência intencional entre a vontade real e a exteriorizada;
b) acordo simulatório entre as partes;
c) o objetivo de prejudicar terceiros.

Hipóteses legais de negócios simulados:


- Quando aparenta conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às
quais realmente se conferem, ou transmitem;
- Contém declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira;
- Os instrumentos particulares são antedatados ou pós-datados.
Efeitos: é nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou,
se válido for na substância e na forma.
Sobre a simulação relativa, assim é o entendimento da III Jornada de Direito
Civil:
153 – Art. 167: Na simulação relativa, o negócio simulado (aparente) é nulo, mas
o dissimulado será válido se não ofender a lei nem causar prejuízos a terceiros.
E, também, na IV Jornada de Direito Civil:
293 – Art. 167: Na simulação relativa, o aproveitamento do negócio jurídico
dissimulado não decorre tão somente do afastamento do negócio jurídico simulado, mas
do necessário preenchimento de todos os requisitos substanciais e formais de validade
daquele.
E o enunciado 578, aprovado na VII Jornada de Direito Civil, em 2015:
ENUNCIADO 578 – Sendo a simulação causa de nulidade do negócio jurídico,
sua alegação prescinde de ação própria.

DOS ATOS ILÍCITOS


O título referente aos atos ilícitos, no Código Civil, contém apenas três artigos: o
186, o 187 e o 188. Mas a verificação da culpa e a avaliação da responsabilidade
regulam-se pelos arts. 927 a 943 (“Da obrigação de indenizar") e 944 a 954 (“Da
indenização").
Conceito
Ato ilícito é o praticado com infração ao dever legal de não lesar a outrem.
Conforme artigo 186: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência
ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral,
comete ato ilícito".
Artigo 187: “Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo,
excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-
fé ou pelos bons costumes"
Artigo 927: “Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem,
fica obrigado a repará-lo.".
O ato ilícito é fonte de obrigação de indenizar ou ressarcir o prejuízo causado.
É praticado com infração a um dever de conduta, por meio de ações ou omissões
culposas ou dolosas do agente, das quais resulta dano para outrem.
A responsabilidade é uma reação provocada pela infração a um dever que já
existe.
Porém, mesmo que haja violação de dever jurídico, culpa (inclusive dolo), se não
houver nenhum prejuízo, nenhuma indenização será devida.
A obrigação de indenizar decorre da violação do direito e do dano, sendo
requisitos concomitantes.
O agente causador do dano, tem a obrigação de indenizar, desde que observados
os pressupostos
a) Ação humana – positiva ou negativa
b) Dano – pode ser material ou dano moral
c) Nexo de causalidade – entre o agente e o prejuízo (dano)
A imputabilidade é pressuposto da obrigação de indenizar e não da
responsabilidade civil.
O parágrafo único do artigo 927 diz: “Haverá obrigação de reparar o dano,
independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade
normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os
direitos de outrem".
Assim, vê-se que o ato ilícito compõe a estrutura da responsabilidade civil.

O Abuso de Direito
O abuso de direito acontece quando o agente, atuando dentro dos limites da lei,
não considera a finalidade social do seu próprio direito subjetivo e o exorbita, causando
prejuízo a outrem.
Parte da doutrina entende que no abuso de direito, não é necessário que o agente
aja culposamente, infringindo um dever preexistente, mas apenas agindo dentro do seu
direito, em alguns casos, pode ser responsabilizado.
Assim, prescinde da ideia de culpa.
art. 187: “Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo,
excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-
fé ou pelos bons costumes".
A ilicitude do ato abusivo se caracteriza sempre que o titular do direito se desvia
da finalidade social para a qual o direito subjetivo foi concedido.

Modalidades de atos abusivos (ideia proveniente da boa-fé objetiva):

Modalidades de atos abusivos (ideia proveniente da boa-fé objetiva):

- (venire contra factum proprium) proibição do comportamento contraditório:


veda que alguém contradiga a sua conduta depois de produzir em outra pessoa uma
expectativa em sentido contrário. Proíbe-se a incoerência, ao mesmo tempo em que se
tutela o princípio da confiança.

- supressio e a surrectio: designam a supressão de situações jurídicas específicas


pelo decurso do tempo, o que inviabiliza o exercício de certos direitos em decorrência
da omissão, inércia ou do retardamento na atuação de seu titular. A supressio
assemelha-se ao instituto da prescrição e da decadência, mas há diferenças entre eles. A
supressio decorre da confiança gerada em uma das partes pela inatividade da outra,
trazendo-lhe a expectativa de que o titular de um direito não mais o exercitará. A
surrectio, por sua vez, significa aquisição de um direito pelo exercício continuado de
uma situação jurídica, ainda que de modo distinto ou contrário ao que foi
convencionado ou estabelecido pelo ordenamento.

- tu quoque: ocorre quando alguém viola uma determinada norma e depois tenta
tirar proveito dessa situação. É a deslealdade que gera a quebra da confiança depositada.
A proibição desse tipo de abuso visa resguardar o equilíbrio.

CAUSAS EXCLUDENTES DE ILICITUDE

O exercício regular do direito, a legítima defesa e o estado de necessidade são


causas excludentes de ilicitude, previstas no artigo 188 do Código Civil.
“Art. 188. Não constituem atos ilícitos:

I — os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito


reconhecido;

II — a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de


remover perigo iminente.

Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as
circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do
indispensável para a remoção do perigo".
A legítima defesa (art. 188, I, primeira parte, do CC-02; art. 160, I, do CC-16)
pressupõe a reação proporcional a uma injusta agressão, atual ou iminente, utilizando-se
moderadamente os meios de defesa postos à disposição do ofendido.
A desnecessidade ou imoderação dos meios de repulsa poderá caracterizar o
excesso, proibido pelo direito.
Se o agente exercendo a prerrogativa de defesa, atingir terceiro inocente, caberá
indenização.

“Art. 929. Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do art. 188,
não forem culpados do perigo, assistir-lhes-á direito à indenização do prejuízo que
sofreram.
Art. 930. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa de
terceiro, contra este terá o autor do dano ação regressiva para haver a importância que
tiver ressarcido ao lesado.

Parágrafo único. A mesma ação competirá contra aquele em defesa de quem se


causou o dano (art. 188, inciso I)".

O estado de necessidade consiste na situação de agressão a um direito alheio, de


valor jurídico igual ou inferior àquele que se pretende proteger, para remover perigo
iminente, quando as circunstâncias do fato não autorizarem outra forma de atuação.

Diferente do que ocorre na legítima defesa, o agente não reage a uma situação
injusta, mas atua para subtrair um direito seu ou de outrem de uma situação de perigo
concreto.

Se o terceiro atingido não for o causador da situação de perigo, poderá exigir


indenização do agente que houvera atuado em estado de necessidade, cabendo a ele
ação regressiva contra o verdadeiro culpado – artigo 933 do Código Civil.

Atos Lícitos e a Obrigação de Indenizar

Alguns atos lícitos, trazem a obrigação de indenizar.


Estão previstos no ordenamento jurídico.
1 - Passagem forçada, prevista no art. 1.285 do Código Civil:

“Art. 1.285. O dono do prédio que não tiver acesso a via pública, nascente ou
porto, pode, mediante pagamento de indenização cabal, constranger o vizinho a lhe dar
passagem, cujo rumo será judicialmente fixado, se necessário".

2 – Comportamento admitido, porém danoso.

“Art. 1.313. O proprietário ou ocupante do imóvel é obrigado a tolerar que o


vizinho entre no prédio, mediante prévio aviso, para:
I — Dele temporariamente usar, quando indispensável à reparação, construção,
reconstrução ou limpeza de sua casa ou do muro divisório;

II — Apoderar-se de coisas suas, inclusive animais que aí se encontrem


casualmente.

§ 1.º O disposto neste artigo aplica-se aos casos de limpeza ou reparação de


esgotos, goteiras, aparelhos higiênicos, poços e nascentes e ao aparo de cerca viva.

§ 2.º Na hipótese do inciso II, uma vez entregues as coisas buscadas pelo vizinho,
poderá ser impedida a sua entrada no imóvel.

§ 3.º Se do exercício do direito assegurado neste artigo provier dano, terá o


prejudicado direito a ressarcimento".

Responsabilidade pelos Atos Ilícitos

Quem pratica ato ilícito fica responsável pela indenização dos danos a que
culposamente der causa.
“Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado
a repará-lo". Artigo 927 do CC.

Trata-se da sanção civil que a norma jurídica liga à prática de ato violador de
direitos subjetivos.

Assim, quem age como não deveria agir (incorre em ato ilícito) tem o dever de
indenizar as perdas e danos a que der causa.

Deve indenizar os prejuízos que produziu com sua conduta ilícita. É chamada essa
hipótese de responsabilidade civil subjetiva, porque fundada na culpa do agente
causador do dano.

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