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2º Semestre
Nota: Resumos baseados no manual de Carlos Alberto Mota Pinto: "TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL".
SIMULAÇÃO
Conceito de negócio simulado – art. 240º, n.º 1 - as partes acordam em emitir declarações não
correspondentes à sua vontade real, com o intuito de enganar terceiros (art. 240º/1 CC). Esta operação
postula três acordos:
1. Um acordo simulatório: visa a montagem da operação e dá corpo à intenção de enganar terceiros.
2. Um acordo dissimulado exprime a vontade real de ambas as partes, visando o negócio
verdadeiramente pretendido por elas, ou um puro e simples retirar de efeitos ao negócio simulado.
3. O acordo simulado, traduz uma aparência de contrato destinado a enganar a comunidade jurídica.
No art. 240º, pede-se três requisitos:
1. Acordo entre declarante e declaratário;
2. No sentido de uma divergência entre a declaração e a vontade das
partes;
3. Com o intuito de enganar terceiros.
Simulação inocente: há o mero intuito de enganar terceiros, sem os prejudicar. Ex: doação simulada
com fim de ostentação.
Simulação fraudulenta: há o intuito de prejudicar terceiros ilicitamente ou de contornar qualquer
norma da lei. Esta distinção é aludida no art. 242º/1. É a mais frequente. Exs.: venda fantástica, venda
que disfarça uma doação (por ex. para contornar o 953º)
Simulação absoluta (art 242º): as partes fingem celebrar um negócio jurídico e na realidade não
querem nenhum negócio jurídico, há apenas o negócio simulado e, por detrás dele, nada mais.
Simulação relativa (art241º): as partes fingem celebrar um certo negócio jurídico e na realidade
querem um outro negócio jurídico de tipo ou conteúdo diverso. – problema solucionado pelo art.
241º/2 CC - enquanto que o negócio simulado é nulo, na simulação relativa surge o problema do
tratamento a dar ao negócio dissimulado ou real que fica a descoberto com a nulidade do negócio
simulado.
Efeitos da simulação absoluta
A simulação importa a nulidade do negócio simulado (art. 240º/2 CC). De acordo com o respectivo
regime negocial, pode qualquer interessado invocar a nulidade (incluindo um simulador) e o Tribunal
declará-la oficiosamente (art. 286º que remete para o 242º CC). A simulação pode ser arguida tanto
por via de acção como por via de excepção. (art. 287º/2 CC). Como para todas as nulidades, a
invalidade dos negócios simulados pode ser arguida a todo o tempo (art. 286º CC), quer o negócio não
esteja cumprido quer tenha tido lugar o seu cumprimento.
VÍCIOS DA VONTADE
Vícios da vontade: perturbações do processo formativo da vontade, de tal modo que esta, embora
concorde com a declaração, é determinada por motivos anómalos e ilegítimos para o Direito. A
vontade não se formulou de um “modo julgado normal e são”.
A consequência destes vícios traduz-se na invalidação do negócio, tendo para isso os vícios de
revestir-se de certos requisitos. Quando esses vícios são relevantes, geram a anulabilidade do
respectivo negócio.
ENUMERAÇÃO DOS VÍCIOS DA VONTADE A QUE O NOSSO DIREITO ATRIBUI EM
GERAL RELEVÂNCIA AUTÓNOMA
Erro-vício (251º e 252º);
Dolo (254º);
Coacção moral (256º);
Incapacidade acidental (257º).
Estado de necessidade (282º).
ERRO-VÍCIO
Erro-vício: traduz-se numa representação inexacta ou na ignorância de uma
qualquer circunstância de facto ou de direito que foi determinante na
decisão de efectuar o negócio. Trata-se de um erro nos motivos
determinantes da vontade, pois se estivesse esclarecido acerca dessa
circunstância não teria realizado o neg. ou tê-lo-ia realizado noutros
termos. Nota: erro-vício ≠ erro-obstáculo O primeiro é um vício da
vontade (erro na formação da vontade), o segundo uma divergência entre
a vontade e a declaração (erro na formulação da vontade).
Modalidades
Erro sobre a pessoa do declaratário: Estão apenas em causa as pessoas do declaratário, se se referir
a outras pessoas declarantes já se aplica o art. 252º/1 CC. O erro pode referir-se à sua entidade, a
qualquer qualidade jurídica ou que ao facto de não concorrerem na pessoa do declaratário, quaisquer
outras circunstâncias.
Erro sobre o objecto do negócio: pode incidir sobre o objecto mediato (erro sobre a identidade ou
sobre as qualidades) ou sobre o objecto imediato (sobre a natureza do negócio). Ex: A compra um
terreno pq julga que tem água, mas não tem – erro sobre o objecto mediato do tipo erro sobre as
qualidades) / B faz um contrato julgando que tem os efeitos da locação, mas tem os efeitos da venda a
prestações (erro sobre a natureza do negócio).
Erro sobre os motivos não é referente à pessoa do declaratário nem ao objecto do negócio (art. 252º
CC).
CONDIÇÕES GERAIS DE RELEVÂNCIA DO ERRO VÍCIO COMO MOTIVO DE
ANULABILIDADE
Essencialidade
É corrente na doutrina a afirmação de que só é relevante o erro essencial. O erro é essencial, se sem
ele, não se celebraria qualquer negócio ou se celebraria um negócio com outro objecto ou de outro
tipo ou com outra pessoa. Já o erro indiferente não pode relevar pois é um erro tal, que mesmo sem
ele o negócio teria sido concluído nos mesmos termos e o erro, para relevar deve atingir os motivos
determinantes da vontade (art. 251º e 252º CC).
Propriedade
Além de essencial, exige-se propriedade, isto é, o erro tem de ser próprio. É próprio quando incide
sobre uma circunstância que não seja a verificação de qualquer elemento legal da validade do negócio
.Por exemplo, se o erro versar sobre os requisitos da forma, então o fundamento da invalidade será o
requisito egal cuja deficiência, ignorada pelo errante, vicia o negócio, daí que o tipo de invalidade e o
respectivo regime não sejam os correspondentes ao erro-vício (anulabilidade), mas antes os
correspondentes ao vício de forma.
Escusabilidade
A doutrina tradicional portuguesa considerava a ausência de culpa da parte do errante condição sine
qua non da sua relevância no sentido da anulabilidade, apoiando-se, fundamentalmente, para tal no
art. 695º. O erro indesculpável ou grosseiro não anularia o negócio.
Em face do CC actual não se formula qualquer exigência da desculpabilidade ou escusabilidade do
erro, pelo que se deve reputar consagrada a solução segundo a qual este requisito é dispensável. Deve
entenderse que no caso de erro culposo, os interesses da outra parte, não obstante a anulação, não são
desprotegidos, pois, com fundamento no art. 227º, o errante, admitido a invocar a anulabilidade,
incorrerá em responsabilidade pré-negocial, devendo indemnizar o chamado interesse contratual
negativo.
CONDIÇÕES ESPECIAIS DE RELEVÂNCIA DO ERRO VÍCIO COMO MOTIVO DE
ANULABILIDADE
Erro sobre os motivos – inserem-se nesta categoria os casos em que o erro não se refere à pessoa do
declaratário nem ao objecto de negócio. Uma noção que corresponde ao erro acerca da causa.
Nos casos deste tipo o art. 252º/1 permite a anulação, desde que:
- haja uma cláusula, expressa ou tácita, no sentido de a validade do negócio ficar dependente da
existência da circunstância sobre que versou o erro.
Erro sobre o objecto do negócio – está previsto no art. 251º, quer na hipótese do erro sobre a
identidade, quer na do erro sobre as qualidades. O negócio será anulável nos mesmos termos que os
previstos no art. 247º para o erro-obstáculo, isto é, “desde que o declaratário conhecesse ou não
devesse ignorar a essencialidade, para o declarante, do elemento sobre que incidiu o erro”.
Erro sobre a pessoa do declaratário – art. 251º. Cabe-lhe o regime correspondente ao erro na
declaração.
O DOLO
A noção de dolo consta do art. 253º/1. Trata-se de um erro determinado por um certo comportamento
da outra parte. Só existe dolo quando se verifique o emprego de qualquer sugestão ou artifício com a
intenção ou consciência de induzir ou manter um erro o autor da declaração (dolo positivo) ou quando
tenha lugar a dissimulação, pelo declaratário ou por terceiro, do erro do declarante (dolo negativo).
MODALIDADES
“Dolus bonus” e “dolus malus”: só é relevante, como fundamento da anulabilidade, o “dolus
malus”. A lei tolera a simples astúcia, reputada legítima pelas concepções imperantes num certo
sector negocial. A lei declara não constituírem dolo ilícito sendo, portanto, “dolus bonus”, as
sugestões ou
artifícios usuais, considerandos legítimos, segundo as concepções dominantes no comércio jurídico
(art. 253º/2 CC).
CONDIÇÕES DE RELEVÂNCIA DO DOLO COMO MOTIVO DE ANULAÇÃO
O principal efeito do dolo é a anulabilidade do negócio (art. 254º/1), mas acresce a responsabilidade
pré negocial do autor do dolo, por ter dado origem à invalidade, com o seu comportamento contrário
às regras da boa fé, durante os preliminares e a formação do negócio (art. 227º). Não há, no dolo,
responsabilidade do declarante, pois este é vítima. O enganado tem o direito de repristinação da
situação anterior ao negócio e a cobertura dos danos que sofreu por ter confiado no negócio e que não
teria sofrido sem essa confiança. Ao invés, não pode pretender ser colocado na situação em que
estaria se fossem verdadeiros os factos fingidos perante ele. (artigo254º nº1).
Art. 254º, n.º 2: - Se erro pode não vir do declaratário, pode vir de um terceiro. Nestes casos a
declaração só pode ser anulada se o declaratário podia ou devia ter conhecimento da existência do
dolo.
A Incapacidade Acidental
A hipótese está prevista no art. 257º CC, onde se prescreve a anulabilidade, desde que se verifique o
requisito (além da incapacidade acidental) destinado à tutela da confiança do declaratário: a
notoriedade ou o conhecimento da perturbação psíquica.
Não se trata de uma situação permanente do indivíduo, mas antes de um desvio no processo formativo
da sua vontade em relação às circunstâncias normais do seu processo deliberativo (art. 257º).
A REPRESENTAÇÃO NOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
Representação: traduz-se na prática de um acto jurídico em nome de outrem, para na esfera desse
outrem se produzirem os respectivos efeitos. Para que a representação seja eficaz torna-se necessário
que o representante actue nos limites dos poderes que lhe competem (art. 258º) ou que o representado
realize, supervenientemente, uma ratificação. Os poderes de representação podem ser atribuídos, por
um acto voluntário, pelo representado ao representante: fala-se, então, de representação voluntária e
o acto voluntário que atribui poderes representativos chama-se procuração.
Para existir a representação basta que o negócio seja concluído em nome do representado, não sendo
já necessário, contrariamente ao que por vezes se supõe, que o seja no interesse do representado. A
representação legal tem lugar sempre no interesse do representado, mas a representação voluntária
não, mas no caso da chamada procuração in rem suam, os poderes representativos são conferidos no
interesse do próprio procurador.
Representação ≠ mandato
O mandato é um contrato pelo qual uma das partes se obriga a praticar um ou mais actos jurídicos por
conta da outra (art. 1157º), trata-se de uma modalidade particular do contrato de prestação de serviço.
Pode haver mandato sem haver representação, quando o mandatário não recebeu poderes para agir em
nome do mandante; age por conta do mandante, mas em nome próprio. Pode haver representação sem
haver mandato, não só hipótese da representação legal, mas também no que toca à representação
voluntária.
Representação legal – art. 124º, 139º e 154º.
Representação voluntária – art. 262º.
Pressupostos de existência da representação:
Realização do negócio em nome do representado, para que a contraparte saiba ou possa saber com
quem negoceia. Na dúvida, negoceia-se em nome próprio.
Declaração, em maior ou menor escala, de uma vontade própria do representante, e não, pura e
simplesmente, de uma vontade do representado. Através deste requisito distingue-se afigura do
representante da figura do núncio.
Pressuposto de eficácia da representação: o acto deve estar integrado nos limites dos poderes que
competem ao representante. O negócio vale em relação ao representado. Não vale em relação ao
representante; este não é parte negocial.
Deve existir, por parte do representante, legitimação representativa, que pode ser originária, isto é, já
existente ao tempo do negócio representativo, ou conferida, posteriormente, através de uma
ratificação do negócio.