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Resumos de Teoria Geral do Direito Civil II

2º Semestre

Nota: Resumos baseados no manual de Carlos Alberto Mota Pinto: "TEORIA GERAL DO DIREITO CIVIL".

Teoria Geral do Facto Jurídico


Facto jurídico é todo o acto humano ou acontecimento natural juridicamente relevante (dado que
produz efeitos jurídicos). [Um convite para um passeio não é um facto jurídico, pois não produz
efeitos jurídicos.]
Classificação dos factos jurídicos:
Factos Jurídicos Voluntários ou Actos jurídicos: são acções humanas tratadas pelo Direito como
manifestações de vontade.
Factos Jurídicos Involuntários ou Naturais: não resultam da vontade mas de causas de ordem
natural (ex.: decurso do tempo, nascimento, morte, a vizinhança). A sua eventual voluntariedade não
tem relevância jurídica.
Actos jurídicos Lícitos: são conformes à ordem jurídica e por ela consentidos.
Actos jurídicos Ilícitos: são contrários à ordem jurídica e por ela reprovados, pelo que importam uma
sanção para o infractor.
Negócios Jurídicos: são actos jurídicos compostos por uma ou mais declarações de vontade com a
intenção de alcançar efeitos práticos sob a tutela da ordem jurídica que determina a produção de
efeitos jurídicos concordantes com a intenção dos sujeitos, i. e., com o conteúdo da vontade das
partes, tal como o conteúdo é objectivamente apercebido (de fora) Os efeitos dos negócios jurídicos
produzem-se ex voluntate e ex lege. (ex.: testamentos, contratos…)
Simples actos jurídicos ou actos jurídicos stricto sensu: (ver art. 295º) são factos voluntários cujos
efeitos se produzem ex lege (por força da lei) e não ex voluntate (por força da vontade), embora mtas
vezes haja concordância entre a vontade destes e os respectivos efeitos. (ex.: interpelação do devedor
– art. 805º, fixação de domicílio voluntário – art. 82º, descoberta de um tesouro – art. 1324º,
homicídio voluntário…) Quase negócios jurídicos ou Actos jurídicos quase negociais: traduzem-se na
manifestação exterior de uma vontade (exs.: 805º, fixação do prazo referido no 808º, gestão de
negócios – 464º e ss,etc) Operações jurídicas, acto material ou real: realização de um resultado
material ou factual a que a lei liga certos efeitos jurídicos (ex.: invenções industriais, criação artística,
descoberta de um tesouro…)

Aquisição, modificação e extinção de direitos:


Os factos jurídicos desencadeiam determinados efeitos, que consistem numa aquisição, modificação
ou extinção de RJ e, portanto, de direitos (considerando o lado activo da RJ).
I – Aquisição de direitos: ligação de um direito a uma pessoa. Um direito é adquirido qd alguém se
torna titular dele. Constituição de direitos: é o seu surgimento, é a criação de um direito que não
existia antes. Se há constituição, há aquisição de direitos, pois não existem direitos sem sujeito. Mas
pode haver aquisição de direitos sem haver constituição de direitos, por exemplo, qd um direito
preexistente na titularidade de outra pessoa muda de sujeito.
II – Aquisição originária: neste caso o direito adquirido não depende da existência ou da extensão de
um direito anterior. Ou seja, pode haver aquisição de direitos originária quando se origina um direito
devido a um qualquer acto jurídico (ver ex. 1) ou quando, apesar de [e não por causa de] existir um
direito anterior, se adquire um novo direito (ver ex. 2).
Ex. 1: Se eu crio uma obra literária adquiro direitos de autor. Neste exemplo não há direito anterior.
Ex. 2: Apesar da preexistência de um direito de propriedade, se eu faço uso de um terreno há mais de
20 anos, adquiro-o por usucapião (1287º e ss). Outro exemplo é o do art. 1318º e ss – ocupação de
coisas móveis.
Aquisição derivada: o direito adquirido funda-se ou filia-se na existência de um direito na
titularidade de outra pessoa. É por causa da existência anterior desse direito e a sua extinção ou
limitação que se gera a aquisição do direito por um novo titular. (Ex.: aquisição de dto de propriedade
através de contrato de compra e venda).
Aquisição derivada translativa: é a forma + vulgar de aquisição derivada. O direito adquirido é o
mesmo que pertencia ao anterior titular. (ex.: Compra e venda, doação, sucessão, herança…);
Aquisição derivada constitutiva: o direito adquirido filia-se num direito (mais amplo) do anterior
titular. Não há uma perda completa, há uma limitação do direito preexistente. (ex.: o proprietário de
um prédio constitui [por venda, etc] uma servidão de passagem.)
Aquisição derivada restitutiva: Existe qd o titular de um dto real limitado se demite dele unilateral
ou contratualmente. (ex.: o titular de uma servidão de passagem renuncia a esse direito e o titular do
direito de propriedade recupera a plenitude dos seus poderes). Nota: seria + rigoroso chamar de
aquisição originária restitutiva a demissão de um direito por acto unilateral (renúncia verdadeira).
III - Aquisição derivada ≠ sucessão → a sucessão é o subingresso de uma pessoa na
titularidade de todas as RJ (ou só de uma RJ em particular, ou de determinadas RJ) de outrem. [pense-
se na sucessão de reis] Parece haver uma coincidência com o conceito de aquisição derivada
translativa, porém a sucessão não é apenas de direitos, é de RJ, pelo que também pode implicar a
sucessão de obrigações, tais como as dívidas. O conceito transmissão de direitos não é rigoroso, pode-
se referir a um ou outro conceito.
Na aquisição originária a extensão do direito adquirido depende do facto ou título aquisitivo (por
exemplo a criação de uma obra musical que origina direitos de autor).
Na aquisição derivada, além de depender do facto aquisitivo, a extensão do direito depende da
amplitude do direito do transmitente e não pode, em regra, ser maior que esse direito: nemo plus juris
ad alium transferre potest quam ipse haberet.(tradução: Ninguém pode transmitir para outrem dtos q
não tem ou mais direitos do que aqueles que possui).

Teoria Geral do Negócio Jurídico


CONCEITO E IMPORTÂNCIA DO NEGÓCIO JURÍDICO
Como já sabemos, os negócios jurídicos são actos jurídicos compostos por uma ou mais declarações
de vontade com a intenção de alcançar efeitos práticos sob a tutela da ordem jurídica que determina a
produção de efeitos jurídicos concordantes com a intenção dos sujeitos, i. e., com o conteúdo da
vontade das partes, tal como o conteúdo é objectivamente apercebido (de fora). O comportamento
que, exteriormente observado, aparece como manifestação de uma vontade chama-se comportamento
declarativo e é esse comportamento que é verdadeiramente constitutivo do negócio. Nem sempre, mas
por norma, esta aparência corresponde a uma vontade real, daí que o negócio jurídico seja o
instrumento principal de realização do princípio da autonomia privada. E por isso se diz que os efeitos
dos negócios jurídicos produzem-se ex voluntate e ex lege.
Elementos dos Negócios Jurídicos
Elementos extrínsecos, ou seja, os seus pressupostos;
Elementos intrínsecos ou elementos constitutivos, onde de destaca a forma e o conteúdo do
negócio.
Forma: é o modelo como o negócio se apresenta face aos outros negócios na vida da relação, na vida
exterior do negócio;
Conteúdo: o que é intrinsecamente considerado no negócio.
O Prof. Carlos Mota Pinto, distingue 4 categorias de elementos do Negócio Jurídico:
1º - Elementos essenciais: são os requisitos ou condições gerais de validade de qualquer negócio. São
eles: - a capacidade das partes (e a legitimidade quando a sua falta implique invalidade); - a
declaração de vontade sem anomalias e, - a idoneidade do objeto. Pode igualmente falar-se de
elementos essenciais no sentido de elementos essenciais de cada negócio típico ou nominado, como
por exemplo: compra e venda (art. 874º e ss CC), locação (art. 1022º e ss CC), doação (art. 940º e ss
CC), contrato de mútuo (art. 1142º e ss CC), etc.
Os elementos essenciais de um contrato típico são as cláusulas que contra distinguem um certo tipo
negocial dos restantes tipos. São as características próprias de cada modalidade negocial. Por
exemplo, no contrato de locação, a obrigação de proporcionar à outra parte o gozo temporário de uma
coisa e a obrigação desta de pagar a correspondente retribuição quando a sua falta implique invalidade
e não apenas ineficácia, a declaração de vontade sem anomalias e a idoneidade do objeto.
2º- Os elementos naturais de um contrato são inerentes à natureza jurídica daquele ato, decorrem da
lei e correspondem aos efeitos que por lei estão estabelecidos para cada negócio, ou seja, São os
efeitos negociais derivados de disposições legais supletivas. Não é necessário que as partes
configurem qualquer cláusula para a produção destes efeitos, podendo, todavia, ser excluídos se assim
estipularem.
Na disciplina dos vários negócios de tipo obrigacional abundam as disposições supletivas.
Já os negócios familiares pessoais têm na sua regulamentação quase somente normas imperativas.
Exemplos de normas supletivas, e, consequentemente, de efeitos correspondentes a elementos naturais
dos respetivos tipos de negócio jurídico: a doação, a compra e venda, a locação, etc.
3º- Elementos acidentais: são as cláusulas acessórias dos negócios jurídicos. Trata-se das
estipulações, que não caracterizam o tipo negocial em abstrato, mas se tornam essenciais para que o
negócio produza os seus efeitos. Exemplos: É o caso das cláusulas de juros, da estipulação do lugar e
tempo para o cumprimento da obrigação, da cláusula modal, na qual se impõe um encargo ao
beneficiário de uma doação ou de um testamento, etc.
E o que são normas imperativas e normas supletivas?
→ As normas imperativas impõem uma certa conduta aos destinatários.
→ As normas supletivas fixam regras que suprem a falta ou insuficiência de manifestação de
vontade.
Os contratos podem ser:
O contrato típico é aquele que se encontra expressamente previsto em lei, com a sua regulamentação
própria, com conteúdo de obrigações e direitos previstos nas normas, seja no próprio Código Civil,
seja em legislação extravagante.
No contrato atípico as partes contratantes têm liberdade para criarem regras próprias distintas das
previstas na norma. Os contratos atípicos não encontram previsão mínima na lei acerca do tratamento
jurídico do contrato em especial, ou seja, são os contratos inventados. Por exemplo, o contrato de
estacionamento, o contrato factoring, o contrato de locação comercial em shopping center, o contrato
de engenharia e o contrato de hospedagem.
Classificação dos Negócios Jurídicos
Negócios unilaterais: há uma declaração de vontade ou várias declarações, mas paralelas formando
um só grupo. (ex.: testamento, procuração);
Contratos ou NJ bilaterais: há duas ou mais declarações de vontade, de conteúdo oposto, mas
convergentes, ajustando-se na sua comum pretensão de produzir um resultado jurídico unitário,
embora com um significado para cada parte. (ex.: compra e venda);
Acerca dos negócios unilaterais: a) É desnecessária a anuência (consentimento) do adversário. b)
Vigora, quanto aos negócios unilaterais, o princípio da tipicidade. (ver art. 457º);
Negócios unilaterais receptícios: a declaração só é eficaz, se for e quando for dirigida e levada ao
conhecimento de certa pessoa (ex.: renúncia à hipoteca – 731ºCC);
Negócios unilaterais não receptícios: basta a emissão da declaração, sem ser necessário comunicá-la
a quem quer que seja (testamento, acto de instituição das fundações).
Os negócios entre vivos, destinam-se a produzir efeitos em vida das partes.
Os negócios mortis causa, destinam-se a só produzir efeitos depois da morte da respectiva parte ou
de alguma delas. Os negócios desta categoria, são negócios “fora do comércio jurídico” - os interesses
do declarante devem prevalecer sobre as expectativas do destinatário.
Os negócios formais ou solenes, são aqueles para os quais a lei prescreve a necessidade da
observância de determinada forma, o acatamento de determinado formalismo ou de determinadas
solenidades (imposto por lei).
Os negócios não solenes (consensuais, tratando-se de contratos), são os que podem ser celebrados por
quaisquer meios declarativos aptos a exteriorizar a vontade negocial. (conf. art 219ºCC);
Os negócios reais são aqueles negócios em que se exige, além das declarações de vontade das partes,
formalizadas ou não, a prática anterior ou simultânea de um certo acto material.
O negócio é real, obrigacional, familiar ou sucessório, consoante dele resulte a constituição, a
modificação ou a extinção de uma RJ real, obrigacional, familiar ou sucessória. A importância desta
classificação resulta da diversa extensão que o princípio da liberdade contratual (art. 405º ) reveste em
cada uma das categorias:
Negócios sucessórios: o princípio da liberdade contratual sofre várias restrições neste domínio –
sucessão legitimaria, proibição dos pactos sucessórios, etc.
Negócios familiares pessoais: a liberdade contratual está praticamente excluída, podendo apenas os
interessados celebrar ou deixar de celebrar o negócio, mas não podendo fixar-lhe livremente o
conteúdo, nem podendo celebrar contratos diferentes dos previstos na lei. Negócios familiares
patrimoniais: existe, com alguma largueza, a liberdade de convenção (art. 1698º CC), sofrendo
embora restrições (arts. 1699º 1714º CC).
Negócios obrigacionais: vigora o princípio da liberdade negocial, todavia quanto aos negócios
unilaterais vigora o princípio da tipicidade (art. 457º CC).
Negócios concretos: o seu conteúdo relaciona-se com a função económica ou social ou a RJ que
constituiu a sua causa (é a regra).
Negócios abstractos: negócios cujos efeitos estão separados da sua causa ou que podem preencher
várias funções.
Negócios onerosos ou a título oneroso: pressupõem atribuições patrimoniais de ambas as partes,
existindo, segundo a perspectiva destas, um nexo ou relação de correspectividade, pois as partes estão
de acordo em considerar as duas atribuições patrimoniais como correspectivo uma da outra. As partes
consideram as duas prestações ligadas reciprocamente pelo vínculo da casualidade jurídica.
Negócios gratuitos ou a título gratuito: caracterizam-se ao invés, pela intervenção de uma intenção
liberal, por um espírito de liberalidade. Uma parte tem a intenção, devidamente manifestada, de
efectuar uma atribuição patrimonial a favor da outra, sem contrapartida ou correspectivo. A outra
parte procede com a consequência e vontade de receber essa vantagem sem um sacrifício
correspondente. (Nota: também há contratos unilaterais onerosos: ex.: mútuo oneroso art. 1145º.).
CAPACIDADE E LEGITIMIDADE
Capacidade: traduz-se num modo de ser ou qualidade do sujeito em si. No domínio dos negócios
jurídicos fala-se de capacidade negocial de gozo e da capacidade negocial de exercício.
Capacidade negocial de gozo: é a susceptibilidade de ser titular de direitos e obrigações derivados do
negócio jurídico. Contrapõe-se-lhe a incapacidade negocial de gozo, que representa um absoluto
impedimento ou proibição da titularidade de tais relações e, como tal, é insuprível.
Capacidade negocial de exercício, é a idoneidade para actuar juridicamente, exercendo ou
adquirindo direitos, cumprindo ou assumindo obrigações, por actividade própria ou através de um
representante voluntário. Contrapõe-se-lhe a incapacidade negocial de exercício, que representa um
impedimento ou proibição não absoluta da realização de negócios e, como tal, é suprível pelos
institutos da representação ou da assistência.
Legitimidade: é uma relação entre o sujeito e o conteúdo do acto. Contrapõe-se-lhe a ilegitimidade,
ou seja, a falta dessa relação entre sujeito e conteúdo – o sujeito não pode com a sua vontade afectar
esse direito ou essa obrigação. [No regime da venda de coisa alheia como própria (art. 892º CC) o
acto é nulo. Podem tb considerar-se ilegitimidades, o autor do negócio exceder os poderes que lhe
tinham sido conferidos ou as situações dos que actuam sem as autorizações requeridas por lei – sem
requisitos de legitimidade. Em situações como esta, a sanação é a anulabilidade. Ex.: arts. 1893º e
1940º.]
A DECLARAÇÃO NEGOCIAL
Declaração negocial: comportamento que exteriormente observado cria a aparência de exteriorização
de um certo conteúdo de vontade negocial – que é a intenção de realizar certos efeitos práticos com o
ânimo de que sejam juridicamente tutelados ou vinculantes. A sua nota essencial é um elemento
exterior – o comportamento declarativo – e não um elemento interior – a vontade real, efectiva,
psicológica. Contudo, a declaração pretende ser o instrumento de exteriorização da vontade
psicológica do declarante. Facilmente percebemos que há situações em que existe uma divergência
entre a vontade e a declaração, vícios de vontade (240º e ss) ou de interpretação da declaração
negocial (arts. 236º e ss). Estes são em regra conflitos de interesse: de um lado os interesses do
declarante e do outro os do declaratário e do comércio jurídico. Na maioria dos casos o Direito
protege as expectativas do declaratário e do comércio jurídico (236 nº1), dando mais relevância à
aparência (corrente objectivista) do que à vontade real e psicológica (corrente subjectivista). Mas para
certos problemas é excessivo o sacrifício da situação do declarante, por ex. 245º, 246º. Só as acções
ou omissões controláveis pela vontade são susceptíveis de ser declarações negociais (não é DN uma
manifestação feita durante o sono, em narcose ou sob coacção absoluta/física).
O processo de formação de uma declaração negocial é o seguinte:
- Tomada de decisão;
- Decisão;
- Exteriorização da Decisão.
Dentro da tomada de decisão temos, ainda, duas sub-fases:
Representação: verifico tudo aquilo que é relevante para me l-e var a decidir;
Deliberação: ponderação do que é relevante.

SIMULAÇÃO
Conceito de negócio simulado – art. 240º, n.º 1 - as partes acordam em emitir declarações não
correspondentes à sua vontade real, com o intuito de enganar terceiros (art. 240º/1 CC). Esta operação
postula três acordos:
1. Um acordo simulatório: visa a montagem da operação e dá corpo à intenção de enganar terceiros.
2. Um acordo dissimulado exprime a vontade real de ambas as partes, visando o negócio
verdadeiramente pretendido por elas, ou um puro e simples retirar de efeitos ao negócio simulado.
3. O acordo simulado, traduz uma aparência de contrato destinado a enganar a comunidade jurídica.
No art. 240º, pede-se três requisitos:
1. Acordo entre declarante e declaratário;
2. No sentido de uma divergência entre a declaração e a vontade das
partes;
3. Com o intuito de enganar terceiros.
Simulação inocente: há o mero intuito de enganar terceiros, sem os prejudicar. Ex: doação simulada
com fim de ostentação.
Simulação fraudulenta: há o intuito de prejudicar terceiros ilicitamente ou de contornar qualquer
norma da lei. Esta distinção é aludida no art. 242º/1. É a mais frequente. Exs.: venda fantástica, venda
que disfarça uma doação (por ex. para contornar o 953º)
Simulação absoluta (art 242º): as partes fingem celebrar um negócio jurídico e na realidade não
querem nenhum negócio jurídico, há apenas o negócio simulado e, por detrás dele, nada mais.
Simulação relativa (art241º): as partes fingem celebrar um certo negócio jurídico e na realidade
querem um outro negócio jurídico de tipo ou conteúdo diverso. – problema solucionado pelo art.
241º/2 CC - enquanto que o negócio simulado é nulo, na simulação relativa surge o problema do
tratamento a dar ao negócio dissimulado ou real que fica a descoberto com a nulidade do negócio
simulado.
Efeitos da simulação absoluta
A simulação importa a nulidade do negócio simulado (art. 240º/2 CC). De acordo com o respectivo
regime negocial, pode qualquer interessado invocar a nulidade (incluindo um simulador) e o Tribunal
declará-la oficiosamente (art. 286º que remete para o 242º CC). A simulação pode ser arguida tanto
por via de acção como por via de excepção. (art. 287º/2 CC). Como para todas as nulidades, a
invalidade dos negócios simulados pode ser arguida a todo o tempo (art. 286º CC), quer o negócio não
esteja cumprido quer tenha tido lugar o seu cumprimento.

Modalidades da simulação relativa


A simulação relativa manifesta-se em espécies diversas:
Sujeitos:. é o que se verifica com a chamada interposição fictícia de pessoas.
Exemplo: A pretendendo dar a B um prédio, finge doar a C, para este posteriormente doar a B,
havendo um conluio entre os três. - Pode igualmente a simulação consistir, não na intervenção de um
sujeito aparente, mas na supressão de um sujeito real. Faz-se uma venda de A a B e outra de B a C,
mas para pagar menos de imposto os três acordam em fazer escritura apenas da venda de A a C.
Conteúdo:
Simulação quanto à natureza do negócio: se o negócio simulado resulta de uma alteração ao tipo
negocial correspondente ao negócio dissimulado. Por exemplo, finge-se uma venda, e quer-se uma
doação, ou vice-versa.
Simulação de valor: é o caso da simulação de preço na compra e venda, fingindo-se um preço inferior
ou superior ao preço real.
E quanto ao negócio dissimulado?
art. 241º CC – poderá o negócio jurídico ser plenamente válido e válido, ou poderá ser inválido,
consoante as consequências que teriam lugar se este tivesse sido concluído.
Efeitos da simulação relativa
I – Doutrina geral: Tal como na simulação absoluta, o negócio simulado está ferido de nulidade. Mas
o negócio dissimulado terá o mesmo tratamento jurídico que lhe caberia se não tivesse sido
dissimulado. Ver art. 241º. Neste caso, pode ser válido e eficaz ou inválido.
II – Simulação em prejuízo da Fazenda Nacional: actualmente há que ter em conta o disposto no art.
38º/2 da Lei Geral Tributária segundo o qual se prevê a ineficácia no «âmbito tributário» dos actos ou
negócios jurídicos fraudulentos e o art. 39º da mesma lei segundo o qual, em caso de simulação, a
tributação recai sobre o negócio real (dissimulado).
III – Efeitos da simulação quanto aos negócios formais: ver o art. 241/2. Se não foram cumpridos os
requisitos de forma exigidos para o negócio dissimulado este será nulo por vício de forma (mesmo
que se tenham verificado as formalidades para o negócio aparente/simulado).

VÍCIOS DA VONTADE
Vícios da vontade: perturbações do processo formativo da vontade, de tal modo que esta, embora
concorde com a declaração, é determinada por motivos anómalos e ilegítimos para o Direito. A
vontade não se formulou de um “modo julgado normal e são”.
A consequência destes vícios traduz-se na invalidação do negócio, tendo para isso os vícios de
revestir-se de certos requisitos. Quando esses vícios são relevantes, geram a anulabilidade do
respectivo negócio.
ENUMERAÇÃO DOS VÍCIOS DA VONTADE A QUE O NOSSO DIREITO ATRIBUI EM
GERAL RELEVÂNCIA AUTÓNOMA
Erro-vício (251º e 252º);
Dolo (254º);
Coacção moral (256º);
Incapacidade acidental (257º).
Estado de necessidade (282º).
ERRO-VÍCIO
Erro-vício: traduz-se numa representação inexacta ou na ignorância de uma
qualquer circunstância de facto ou de direito que foi determinante na
decisão de efectuar o negócio. Trata-se de um erro nos motivos
determinantes da vontade, pois se estivesse esclarecido acerca dessa
circunstância não teria realizado o neg. ou tê-lo-ia realizado noutros
termos. Nota: erro-vício ≠ erro-obstáculo O primeiro é um vício da
vontade (erro na formação da vontade), o segundo uma divergência entre
a vontade e a declaração (erro na formulação da vontade).
Modalidades
Erro sobre a pessoa do declaratário: Estão apenas em causa as pessoas do declaratário, se se referir
a outras pessoas declarantes já se aplica o art. 252º/1 CC. O erro pode referir-se à sua entidade, a
qualquer qualidade jurídica ou que ao facto de não concorrerem na pessoa do declaratário, quaisquer
outras circunstâncias.
Erro sobre o objecto do negócio: pode incidir sobre o objecto mediato (erro sobre a identidade ou
sobre as qualidades) ou sobre o objecto imediato (sobre a natureza do negócio). Ex: A compra um
terreno pq julga que tem água, mas não tem – erro sobre o objecto mediato do tipo erro sobre as
qualidades) / B faz um contrato julgando que tem os efeitos da locação, mas tem os efeitos da venda a
prestações (erro sobre a natureza do negócio).
Erro sobre os motivos não é referente à pessoa do declaratário nem ao objecto do negócio (art. 252º
CC).
CONDIÇÕES GERAIS DE RELEVÂNCIA DO ERRO VÍCIO COMO MOTIVO DE
ANULABILIDADE
Essencialidade
É corrente na doutrina a afirmação de que só é relevante o erro essencial. O erro é essencial, se sem
ele, não se celebraria qualquer negócio ou se celebraria um negócio com outro objecto ou de outro
tipo ou com outra pessoa. Já o erro indiferente não pode relevar pois é um erro tal, que mesmo sem
ele o negócio teria sido concluído nos mesmos termos e o erro, para relevar deve atingir os motivos
determinantes da vontade (art. 251º e 252º CC).

Propriedade
Além de essencial, exige-se propriedade, isto é, o erro tem de ser próprio. É próprio quando incide
sobre uma circunstância que não seja a verificação de qualquer elemento legal da validade do negócio
.Por exemplo, se o erro versar sobre os requisitos da forma, então o fundamento da invalidade será o
requisito egal cuja deficiência, ignorada pelo errante, vicia o negócio, daí que o tipo de invalidade e o
respectivo regime não sejam os correspondentes ao erro-vício (anulabilidade), mas antes os
correspondentes ao vício de forma.
Escusabilidade
A doutrina tradicional portuguesa considerava a ausência de culpa da parte do errante condição sine
qua non da sua relevância no sentido da anulabilidade, apoiando-se, fundamentalmente, para tal no
art. 695º. O erro indesculpável ou grosseiro não anularia o negócio.
Em face do CC actual não se formula qualquer exigência da desculpabilidade ou escusabilidade do
erro, pelo que se deve reputar consagrada a solução segundo a qual este requisito é dispensável. Deve
entenderse que no caso de erro culposo, os interesses da outra parte, não obstante a anulação, não são
desprotegidos, pois, com fundamento no art. 227º, o errante, admitido a invocar a anulabilidade,
incorrerá em responsabilidade pré-negocial, devendo indemnizar o chamado interesse contratual
negativo.
CONDIÇÕES ESPECIAIS DE RELEVÂNCIA DO ERRO VÍCIO COMO MOTIVO DE
ANULABILIDADE
Erro sobre os motivos – inserem-se nesta categoria os casos em que o erro não se refere à pessoa do
declaratário nem ao objecto de negócio. Uma noção que corresponde ao erro acerca da causa.
Nos casos deste tipo o art. 252º/1 permite a anulação, desde que:
- haja uma cláusula, expressa ou tácita, no sentido de a validade do negócio ficar dependente da
existência da circunstância sobre que versou o erro.
Erro sobre o objecto do negócio – está previsto no art. 251º, quer na hipótese do erro sobre a
identidade, quer na do erro sobre as qualidades. O negócio será anulável nos mesmos termos que os
previstos no art. 247º para o erro-obstáculo, isto é, “desde que o declaratário conhecesse ou não
devesse ignorar a essencialidade, para o declarante, do elemento sobre que incidiu o erro”.
Erro sobre a pessoa do declaratário – art. 251º. Cabe-lhe o regime correspondente ao erro na
declaração.
O DOLO
A noção de dolo consta do art. 253º/1. Trata-se de um erro determinado por um certo comportamento
da outra parte. Só existe dolo quando se verifique o emprego de qualquer sugestão ou artifício com a
intenção ou consciência de induzir ou manter um erro o autor da declaração (dolo positivo) ou quando
tenha lugar a dissimulação, pelo declaratário ou por terceiro, do erro do declarante (dolo negativo).
MODALIDADES
“Dolus bonus” e “dolus malus”: só é relevante, como fundamento da anulabilidade, o “dolus
malus”. A lei tolera a simples astúcia, reputada legítima pelas concepções imperantes num certo
sector negocial. A lei declara não constituírem dolo ilícito sendo, portanto, “dolus bonus”, as
sugestões ou
artifícios usuais, considerandos legítimos, segundo as concepções dominantes no comércio jurídico
(art. 253º/2 CC).
CONDIÇÕES DE RELEVÂNCIA DO DOLO COMO MOTIVO DE ANULAÇÃO
O principal efeito do dolo é a anulabilidade do negócio (art. 254º/1), mas acresce a responsabilidade
pré negocial do autor do dolo, por ter dado origem à invalidade, com o seu comportamento contrário
às regras da boa fé, durante os preliminares e a formação do negócio (art. 227º). Não há, no dolo,
responsabilidade do declarante, pois este é vítima. O enganado tem o direito de repristinação da
situação anterior ao negócio e a cobertura dos danos que sofreu por ter confiado no negócio e que não
teria sofrido sem essa confiança. Ao invés, não pode pretender ser colocado na situação em que
estaria se fossem verdadeiros os factos fingidos perante ele. (artigo254º nº1).
Art. 254º, n.º 2: - Se erro pode não vir do declaratário, pode vir de um terceiro. Nestes casos a
declaração só pode ser anulada se o declaratário podia ou devia ter conhecimento da existência do
dolo.
A Incapacidade Acidental
A hipótese está prevista no art. 257º CC, onde se prescreve a anulabilidade, desde que se verifique o
requisito (além da incapacidade acidental) destinado à tutela da confiança do declaratário: a
notoriedade ou o conhecimento da perturbação psíquica.
Não se trata de uma situação permanente do indivíduo, mas antes de um desvio no processo formativo
da sua vontade em relação às circunstâncias normais do seu processo deliberativo (art. 257º).
A REPRESENTAÇÃO NOS NEGÓCIOS JURÍDICOS
Representação: traduz-se na prática de um acto jurídico em nome de outrem, para na esfera desse
outrem se produzirem os respectivos efeitos. Para que a representação seja eficaz torna-se necessário
que o representante actue nos limites dos poderes que lhe competem (art. 258º) ou que o representado
realize, supervenientemente, uma ratificação. Os poderes de representação podem ser atribuídos, por
um acto voluntário, pelo representado ao representante: fala-se, então, de representação voluntária e
o acto voluntário que atribui poderes representativos chama-se procuração.
Para existir a representação basta que o negócio seja concluído em nome do representado, não sendo
já necessário, contrariamente ao que por vezes se supõe, que o seja no interesse do representado. A
representação legal tem lugar sempre no interesse do representado, mas a representação voluntária
não, mas no caso da chamada procuração in rem suam, os poderes representativos são conferidos no
interesse do próprio procurador.
Representação ≠ mandato
O mandato é um contrato pelo qual uma das partes se obriga a praticar um ou mais actos jurídicos por
conta da outra (art. 1157º), trata-se de uma modalidade particular do contrato de prestação de serviço.
Pode haver mandato sem haver representação, quando o mandatário não recebeu poderes para agir em
nome do mandante; age por conta do mandante, mas em nome próprio. Pode haver representação sem
haver mandato, não só hipótese da representação legal, mas também no que toca à representação
voluntária.
Representação legal – art. 124º, 139º e 154º.
Representação voluntária – art. 262º.
Pressupostos de existência da representação:
Realização do negócio em nome do representado, para que a contraparte saiba ou possa saber com
quem negoceia. Na dúvida, negoceia-se em nome próprio.
Declaração, em maior ou menor escala, de uma vontade própria do representante, e não, pura e
simplesmente, de uma vontade do representado. Através deste requisito distingue-se afigura do
representante da figura do núncio.
Pressuposto de eficácia da representação: o acto deve estar integrado nos limites dos poderes que
competem ao representante. O negócio vale em relação ao representado. Não vale em relação ao
representante; este não é parte negocial.
Deve existir, por parte do representante, legitimação representativa, que pode ser originária, isto é, já
existente ao tempo do negócio representativo, ou conferida, posteriormente, através de uma
ratificação do negócio.

Representação sem poderes e abuso de representação: os actos praticados por um representante


sem poderes ou falsus procurator são ineficazes em relação à pessoa em nome da qual se celebrou o
negócio, salvo se tiver lugar a ratificação (art. 268º/1). O falso procurador responde pelo interesse
contratual negativo, ou interesse da confiança, se desconhecia, com culpa, a falta de poderes. Se o
representante sem poderes desconhecia a falta de legitimidade representativa a contraparte pode optar
pela indemnização pelo não cumprimento do contrato.
Verificada uma situação de responsabilidade pré-negocial, por culpa in contrahendo, responde o
representado, seja na representação legal, seja na representação voluntária (art. 800º/1). Haverá abuso
de representação quando o representante actuar dentro dos limites formais dos poderes conferidos,
mas de modo substancialmente contrário aos fins da representação (art. 269º, 268º/2 e 262º/2).
Artigo 269º : o ato só não produz efeitos em relação ao representado se o terceiro conhecia, ou devia
conhecer, a existência do abuso;
Se o terceiro desconhece e não devia conhecer a existência do abuso, então é ele o protegido. Isto quer
dizer que o representado vai ficar vinculado a um negócio que o representante efetue em seu nome, e
em abuso de poderes.
Distinção das situações de falta de poderes das situações de abuso: Sempre que o terceiro, sendo
diligente, na satisfação do ó nus do artigo 260º pudesse ter ‐se apercebido da insuficiência de poderes
do representante estamos perante uma situação de falta de poderes;
Sempre que, ainda que o terceiro tivesse satisfeito o ónus não se pudesse ter apercebido da
insuficiência de poderes, porque o representado não fez tudo o que devia no sentido d e deixar visível
para terceiro os poderes que estava a atribuir, então estamos perante uma situação de abuso de
poderes.
Representação sem poderes: o terceiro podia ter controlado o ris co – 268º.
Abuso de poder: o representado podia ter controlado o risco – 269º.
Artigo 265º - Extinção da procuração: A procuração não é um ato que exista sozinho. Ou seja, a pro
curação é o ato através do qual uma pessoa atribui a outra p oderes de representação. Só que quando o
fazemos, não o fazemos espontaneamente.
Fazemo‐lo porque temos uma razão para isso. Daí que, subjacent e a uma procuração exista sempre
uma relação de base.
Regra geral: O procurador pode revogar a procuração. Uma vez revogada a procuração, ela cessa os
seus efeitos. A revogação corresponde ao ato pelo qual invertemos a nossa posição inicial sem motivo
algum.
Princípio geral da livre revogabilidade da procuração (265º/2): Se, por oposição, existir um
fundamento que me leve a terminar co m o contrato, então existe uma resolução.
Exceção: Se tiver sido conferida no interesse do procurador ou de terceiro, só pode ser revogada com
justa causa (265º/3).
Artigo 268º:
A ratificação: o ato pelo qual uma pessoa aceita os efeitos de um ato que foi praticado em seu nome,
mas sem poderes de re presentação. Ou seja, a ratificação é o ato pelo qual o suposto representado
sana um contrato celebrado sem poderes para tal. A ratificação está sujeita à forma exigida para a
procuração, e produz efeitos como se nunca tivesse existido falta de poderes de representação.
A ratificação visa sanar uma situação de mera ineficácia associada à falta de poderes de
representação. A ratificação é a declaração através do qual o alegado representado aceita o negócio
feito em seu nome, sem poderes.

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