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Teoria Geral do Direito Civil II – 1º Semestre

Noção de facto jurídico

O facto jurídico corresponde a todo o ato humano ou acontecimento natural juridicamente


relevante. Essa relevância jurídica traduz-se, na produção de efeitos jurídicos.

Os factos ajurídicos são factos sociais ou naturais indiferentes para o direito, isto é,
desprovidos de qualquer eficácia jurídica.

Factos jurídicos – Classificação

 Factos voluntários ou atos jurídicos – resultam da vontade como elemento


juridicamente relevante, são manifestação ou atuação de uma vontade, são açoes
humanas tratadas pelo direito enquanto manifestações de vontade.

 Factos jurídicos involuntários ou naturais – são estranhos a qualquer processo volitivo,


ou porque resultam de causas de ordem natural ou porque eventual voluntariedade
não tem relevância jurídica. São factos naturais e involuntários de destruição natural
de um objeto, o decurso do tempo, o nascimento, a morte, a vizinhança. A morte é um
facto natural e não um ato jurídico, já o homicídio é um ato jurídico ou facto
voluntario.

Os factos jurídicos voluntários ou atos jurídicos podem ser:

 Lícitos – são conformes à ordem jurídica e por elas consentidas;


 Ilícitos – são contrarias à ordem jurídica e por ela reprovados, importam uma sanção
para o seu autor (este infrator de uma norma jurídica);

 Negócios jurídicos – são factos voluntários, cujo núcleo essencialmente integrado é


integrado por uma ou mais declarações de vontade a que o ordenamento jurídico
atribui efeitos jurídicos concordantes com o conteúdo da vontade das partes, tal como
este é objetivamente (de fora) apercebido. Nos negócios jurídicos, o comportamento
de cada parte aparece exteriormente como uma declaração visando certos resultados
práticos- empiricos, sob a tutela do ordenamento jurídico, e os efeitos determinados
pela lei são os correspondentes aos resultados cuja intenção foi manifestada. Os
efeitos dos negócios jurídicos produzem-se ex voluntate e não apenas ex lege. É o que
se sucede, por exemplo, com o testamento e com os contratos.

 Simples atos jurídicos – são factos voluntários cujos efeitos se produzem mesmo que
não tenham sido previstos ou queridos pelos seus autores, embora muitas vezes haja
concordância entre a vontade destes e os referidos efeitos. Não é, porém, necessária
uma vontade de produção dos efeitos correspondentes ao tipo de simples ato jurídico
em causa para essa eficácia se desencadear. Os efeitos dos simples atos jurídicos, ou
atos jurídicos stricto sensu, produzem-se, ex lege e não ex voluntate. É o que sucede
com a interpelação do devedor (artigo 805º, nº1), com a gestão de negócio (artigo 404
e seguintes).
Dentro dos simples atos jurídicos:

 Quase – negócios jurídicos ou atos jurídicos quase-negociais – traduzem-se na


manifestação exterior de uma vontade. É o caso da interpelação do devedor.
 Atos reais ou operações jurídicas – traduzem-se na efetivaçao ou realização de
um resultado material ou factual a que a lei liga determinado efeito jurídico.

A distinção entre negócios jurídicos e simples atos jurídicos assenta precisamente neste
critério da relação que intercede entre a vontade das partes dirigida a um resultado e os
efeitos jurídicos produzidos.

Efeitos dos factos jurídicos

Os factos jurídicos desencadeiam determinados efeitos. Esses efeitos jurídicos consistem


fundamentalmente numa aquisição, numa modificação ou uma extinção de relação jurídica.

A aquisição

Um direito é adquirido por uma pessoa quando esta se torna titular dele. A aquisição de
direito é, pois, a ligação - a criação de um laço de pertinência – de um direito a uma pessoa.
Não coincidem as noções de aquisição de direitos e de constituição de direitos. A constituição
de um direito é o seu surgimento, é a criação de um direito que não existia anteriormente.
Toda a constituição de um direito implica a sua aquisição, mas a inversa não é verdadeira, pois,
nem toda a aquisição de um direito tem lugar em casos de surgimento de um direito novo.
A aquisição pode ser:
 Originária – o direito adquirido não depende da sua existência ou da extensão de um
direito anterior, que poderá ate não existir, quando o direito anterior existia, o direito
não foi adquirido por causa desse, mas apesar dele. Ex: ocupação de coisas moveis
(artigos 1318 e ss), a usurpação (artigos 1257 e ss), a aquisição de direitos de autor
pela criação literária, artista ou cientifica.

 Derivada – o direito adquirido funda-se ou filia-se na existência de um direito na


titularidade de outra pessoa, a existência anterior desse direito e a sua extinção ou
limitação é que geram a aquisição do direito pelo não titular, é que são a causa dessa
aquisição. Para que a aquisição possa ser considerada derivada ocorrem 2 elementos:
1. A aquisição para uma pessoa tenha lugar ao mesmo tempo em que se verifica a
perda ou diminuição do direito noutra pessoa;
2. Que a perda ou diminuição do direito numa pessoa seja dirigida a produzir a
aquisição a favor de uma outra, de modo que a aquisição possa considerar-se um
efeito daquela perda ou diminuição. Ex: aquisição do direito de propriedade, ou
de outro direito real.

 Mista – caracterizamos os termos de distinção segundo um critério de causalidade que


vê a aquisição derivada como consequência ou efeito imediato da extinção subjetiva
ou da limitação de um direito anterior, ao invés da aquisição originaria onde não existe
qualquer ligação causal entre a perda ou diminuição de um direito e a aquisição.
Dentro da aquisição derivada:

 Derivada translativa - o direito adquirido é o mesmo que já pertencia ao anterior


titular. Transmite-se um direito de uma pessoa para outra. Assim, se a um individuo
adquire o domínio de um prédio por compra, doação ou sucessão legitima ou
testamentaria.
 Derivada constitutiva – o direito adquirido filia-se num direito do anterior titular.
Forma-se à custa dele, limitando-o ou comprimindo-o. Mas não preexiste como
entidade autónoma e especifica na esfera jurídica dessa pessoa. Relação de filiação
entre o direito de transmitente e do adquirente. É o caso de o proprietário de um
prédio constituir uma servidão ou outro direito real de gozo ou de garantia, a favor de
outrem. O subcontrato é uma aquisição derivada constitutiva, pois um contratante,
concede a outro, a possibilidade de usar a posição contratual que para o primeiro,
resulte de um contrato principal, ao qual este ultimo continua ligado.
 Derivada restitutiva – tem-se em vista a hipótese de o titular de um direito real
limitado se demitir dele, unilateral ou contratualmente, recuperando assim ipso facto
o proprietário a plenitude dos seus poderes, em virtude da conhecida elasticidade ou
força expansiva do direito de propriedade. De qualquer maneira qualifica-se de
restitutiva a aquisição porque ela vai repor as coisas no estado anterior à constituição
do direito real que se extingue.

Distinção entre aquisição derivada e sucessão

A sucessão é o subingresso de uma pessoa na titularidade de todas as relações jurídicas ou


determinada ou determinadas relações jurídicas de outrem. Coincide apenas, portanto, com a
aquisição derivada translativa, pois só neste é que o direito adquirido é o mesmo do anterior
titular. A sucessão refere-se igualmente às dividas e não só aos direitos, enquanto a aquisição
rigorosamente só diz respeito a direitos.
Numa hipótese de sucessão numa relação jurídica, isto é, numa hipótese de aquisição derivada
translativa, o titular anterior do direito designa-se por autor, antecessor ou causante e o
adquirente por sucessor ou causado.

NOTA: A noção de transmissão de direito equivale igualmente à de aquisição derivada


translativa e à de sucessão. Num sentido muito amplo podem, porém, empregar-se as
expressões “transmissão de direitos” ou “sucessão de direitos” para abranger qualquer forma
de aquisição derivada.

Importância de distinção entre aquisição derivada e aquisição originária

Na aquisição originária a extensão do direito adquirido depende apenas do facto ou titulo


aquisitivo.
Na aquisição derivada a extensão do direito do adquirente depende do conteúdo do facto
aquisitivo, mas depende ainda de amplitude do direito transmitente, não podendo em regra
ser maior que a deste direito: nemo plus juris. É a regra geral da aquisição derivada.
Exceções à regra geral da aquisição derivada:
1. Institutos do registo predial, de registo de automóveis e registos similares;
2. Da inoponibilidade da simulação a terceiro de boa fé.
3. Da eventual inoponibilidade das nulidades e anulabilidades a terceiro de boa fé.

Modificação de direitos
Dá-se a modificação de direitos quando, alterado ou mudado um elemento de um direito,
permanece a identidade do referido direito, apesar da vicissitude ocorrida. A perduração do
direito, apesar da modificação verificada, significa que o ordenamento jurídico continua a
tratar o direito como se não tivesse tido lugar a alteração. O direito é o mesmo e não um
direito novo.

Estamos perante um modificação subjetiva, se tem lugar uma substituição do respetivo titular,
permanecendo a identidade objetiva do direito. Tem lugar, nesta hipótese, uma sucessão no
direito. É o que se verifica no domínio dos direitos de crédito, e quanto a atos inter vivos, com
a cessão de créditos e com a sub-rogação nos créditos. A sucessão entre vivos nas relações
obrigacionais substituição de sujeitos sem extinção da relação jurídica e surgimento de uma
nova, isto é, sem novação, mas antes com perduraçao da identidade do vinculo – pode ter
lugar, também, do lado passivo, surgindo então a assunção da dívida e pode ainda referir-se à
relação contratual (relação obrigacional complexa), normalmente através da cessão da posição
contratual. Sabemos, igualmente, que a modificação subjetiva das relações jurídicas, quer do
lado ativo, quer do lado passivo, pode ter lugar por sucessão mortis causa.
A modificação subjetiva das relações jurídicas pode resultar, ainda, de uma multiplicação dos
sujeitos por adjunção – p.ex um novo devedor assume a obrigação para com o credor,
permanecendo o devedor vinculado.

A modificação objetiva do direito, se muda conteúdo ou o objeto do direito, permanecendo


este idêntico. Muda o conteúdo se, por exemplo, é concedida pelo credor ao devedor uma
prorrogação do prazo para o cumprimento. Muda o objeto, se, por exemplo, não cumprindo o
devedor culposamente a obrigação, o seu dever de prestar é substituído por um dever de
indemnizar.

Extinção de direitos
A extinção de um direito tem lugar quando um direito deixa de existir na esfera jurídica de
uma pessoa. Quebra-se a relação de pertinência entre um direito e a pessoa do seu titular.

A extinção de direitos traduzir-se-á numa extinção subjetiva ou perda de direitos, se o direito


sobrevive em si, apenas mudando a pessoa do seu titular. O direito mudou de titularidade;
extinguiu-se para aquele sujeito, mas subsiste na esfera jurídica de outrem. A extinção
subjetiva ou perda de direitos verifica-se sempre que tem lugar numa sucessão na titularidade
dos direitos; o sucessor adquire ou subingressa na titularidade do direito e este extinguiu-se
para o autor ou transmitente (causante).

A extinção de direitos é objetiva se o direito desaparece, deixando de existir para o seu titular
ou para qualquer outra pessoa. Nesta hipótese não há sucessão, transmissão ou aquisição
derivada translativa de direitos. É o que acontece se há destruição do objeto do direito, se há
abandono de um móvel, se um direito de crédito é exercido e cobrado ou se extingue por
prescrição, etc.

Uma forma particular de extinção de direitos é a correspondente aos institutos da prescrição


(arts 300 e ss) e da caducidade (arts 328 e ss).
Se o titular de um direito não exercer durante certo tempo fixado na lei, extingue-se esse
direito. Diz-se, nestes casos, que o direito prescreveu, ou que o direito caducou.
O beneficiário da prescrição, completada esta, pode recusar o cumprimento da prestação ou
opor-se ao exercício do direito prescrito. No entanto, se o devedor, beneficiário da prescrição,
tiver cumprido espontaneamente a obrigação prescrita (ignorando ou não a prescrição), não
podendo o obrigado repetir o que haja prestado. Isto porque, as dividas prescritas passam a
constituir obrigações naturais.

Ao falarmos na prescrição referimo-nos à prescrição extintiva ou negativa. Existe ainda a


chamada prescrição aquisitiva ou positiva, através da qual se adquirem direitos reais.

Só a prescrição extintiva ou negativa é uma forma de extinção de direitos.

A prescrição e a caducidade acarretam a extinção de direitos quando estes não são exercidos
durante certo tempo.

Distinção entre prescrição e caducidade


Segundo o critério tradicional, clássico, a prescrição aplica-se aos direitos subjetivos
propriamente ditos, enquanto caducidade visara os direitos potestativos.

Segundo o critério formal afirmando que quando um direito deva ser exercido durante certo
prazo se aplicam as regras da caducidade, salvo se a lei se referir expressamente à prescrição
(art.298, nº2).

Diferenças:
Admitem-se estipulações convencionais sobre a caducidade (art.330), o mesmo não
acontecendo a respeito do regime da prescrição, o qual é inderrogável (art.300);
A caducidade é apreciada oficiosamente pelo tribunal (art.333), diversamente do que sucede
com a prescrição, que tem de ser invocada, não podendo o tribunal supri-la, de oficio (art.303);
Por ultimo, a caducidade só é impedida, em principio, pela pratica do facto (art.331), enquanto
que a prescrição e interrompe pela citação ou notificação judicial de qualquer ato que
exprime, direta ou indiretamente, a intenção de exercer o direito, tendo-se, igualmente, por
interrompida, cinco dias depois de requerida a citação ou notificação, se estas não tiverem
sido feitas por causa não imputável ao requerente (art.323);

A prescrição extintiva, possam embora não lhe ser totalmente estranhas razões de justiça, é
um instituto endereçado fundamentalmente à realização de objetivos de conveniência ou
oportunidade. Diversamente da caducidade, a prescrição arranca também, da ponderação de
uma inércia negligente do titular do direito em exercita-lo, o que faz presumir uma renuncia
ou, pelo menos, o torna indigno da tutela do Direito.

Embora a prescrição – tal como a caducidade – vise desde logo satisfazer a necessidade social
de segurança jurídica e certeza dos direitos, e, assim, proteger o interesse do sujeito passivo,
essa proteçao é dispensada atendendo também ao desinteresse, à inércia negligente do titular
do direito em exercita-lo. Há, portanto, uma inércia do titular do direito, que se conjuga com o
interesse objetivo numa adapataçao da situação de direito à situação facto.

Na caducidade, porém, só o aspeto objetivo da certeza e segurança é tomada em conta. O que


explica, por exemplo, que a caducidade seja apreciada oficiosamente pelo tribunal – ao
contrario da prescrição que tem de ser invocada -, bem como o facto de influírem sobre o
prazo de prescrição, e não sobre o da caducidade, situações e acontecimentos que excluem a
possibilidade de a falta de exercício do direito de ser atribuída a inércia do titular – situações e
acontecimentos que podem suspender ou interromper a prescrição, mas não a caducidade.
O prazo ordinário da prescrição é de vinte anos (art.309), prevendo a lei, para certas hipóteses,
uma prescrição de cinco anos (art.310). Há prazos mais curtos para as chamadas prescrições
presuntivas (art.312), prazos esses que podem ser de seis meses (art.316) ou de dois anos
(art.317). Estas prescrições presuntivas, por serem fundadas numa presunção de
cumprimento, podem, ao contrario do regime geral da prescrição, ser ilididas por confissão ao
devedor.
Conceito e importância do negocio jurídico  
Os negócios jurídicos são atos jurídicos constituídos por uma ou mais declarações de vontade,
dirigidas à realização de certos efeitos práticos, com intenção de os alcançar sob tutela do
direito, determinando o ordenamento jurídico a produção dos efeitos jurídicos conformes à
intenção manifestada pelo(s) declarante(s).  
O que é verdadeiramente constitutivo do negocio é o comportamento declarativo – a
existência de um comportamento que, exteriormente observado, apareça como manifestação
de uma vontade de certos efeitos práticos sob a sanção do ordenamento jurídico. Claro que,
normalmente, esta aparência corresponde a um conteúdo volitivo real e essa coincidência
permite ao negocio jurídico realizar a sua função de meio de realização da autonomia da
vontade. Tal coincidência não é, todavia, necessária, como veremos, e em caso de dissidio
entre a vontade real e a declaração prevalece, quase sem restrições, o elemento declarativo.  
Estamos perante o instrumento principal de realização do principio da autonomia da vontade
ou autonomia privada.  
 
Por falta de intenção de efeitos jurídicos, distinguem-se os negócios jurídicos dos chamados
negócios de pura obsequiosidade. Estes são promessas ou combinações da vida social, às quais
é estranho o intuito de criar, modificar ou extinguir um vinculo jurídico (p.ex., o convite para
um passeio, para um jantar, etc.) 
 
A falta de vontade de efeitos jurídicos distingue, igualmente, os negócios jurídicos dos
chamados “gentlemen`s agreements” (acordos de cavalheiros). Estas convenções são
combinações sobre a matéria que é normalmente objeto de negócios jurídicos, mas que,
excecionalmente, estão desprovidas de intenção de efeitos jurídicos. É o caso de um
empréstimo de honra ou de uma disposição de bens para depois da morte, em que o
disponente confia pura e simplesmente na honorabilidade dos herdeiros a quem cumpre
executar a disposição.  
 
Pode surgir a duvida sobre se uma dada hipótese existe um negocio de pura obsequiosidade
ou um negocio jurídico – ou antes sobre se existe um mero gentlemen`s agreement ou um
negocio jurídico.  
Se a duvida for do primeiro tipo, é a parte interessada em demonstrar a existência do negocio
jurídico que tem o ónus da prova respetivo. Se a duvida for do segundo tipo, é a parte
interessada em demonstrar a inexistência da intenção negocial que tem o ónus probandi.  
 
Ónus probandi – cabe a parte interessada provar que realmente existiu aquele convite. No
caso dos gentleman`s agreements, como se aproxima mais do negocio jurídico, o ónus da
prova cabe aqueles que dizem que não existiu nada, cabe a estes provar a inexistência do
acordo de cavalheiros. 
 
Elementos dos negócios jurídicos 
 
Elementos essenciais dos negócios jurídicos em geral – os elementos essenciais de todo e
qualquer negocio jurídicos os requisitos ou condições gerais de validade de qualquer negocio.
São eles a capacidade das partes (e a legitimidade, quando a sua falta implique invalidade e
não apenas ineficácia), a declaração de vontade sem anomalias e idoneidade do objeto.  
Pode igualmente falar-se de elementos essenciais no sentido de elementos essenciais de cada
negocio típico ou nominado (venda, locação, doação, mutuo, etc). Trata-se, agora, das
clausulas que contradistinguem um certo tipo negocial dos restantes tipos. São as
caraterísticas próprias de cada modalidade negocial, que a separam dos tipos vizinhos.  
 
Declaração, sujeitos e conteúdo – elementos essenciais do negocio jurídico, mas pode haver
outros. 
 
Elementos naturais – são os efeitos negocias derivados de disposições legais supletivas. Não é
necessário que as partes configurem qualquer clausula para a produção destes efeitos. Na
disciplina dos vários negócios de tipo obrigacional abundam as disposições supletivas. Já os
negócios familiares pessoais contêm na sua regulamentação quase somente normas
imperativas.  
São exemplos de normas supletivas e, consequentemente, de efeitos correspondentes a
elementos naturais dos respetivos tipos de negocio jurídico, os artigos 964 (doação), 885
(compra e venda), 1030 (locação), etc.  
 
Elementos acidentais – são as clausulas acessórias dos negócios jurídicos. Trata-se das
estipulações que não caraterizam o tipo negocial em abstrato, ma se tronam imprescindíveis
para que o negocio concreto produza os efeitos a que elas tendem. Estes elementos tanto
podem lá estar como podem não estar, são clausulas acessórias e não servem para caraterizar
o negocio jurídico. 
Há determinadas clausulas que não sendo imperativas estão na vontade das partes – artigo
405.  
 
Classificações dos negócios jurídicos  
 
Negócios jurídicos unilaterais e contratos ou negócios jurídicos bilaterais   
 
Nos negócios unilaterais há uma só declaração de vontade ou varias declarações, mas
paralelas, formando um só grupo. Se olharmos os autores das declarações, constataremos
haver um só lado, uma só parte. É o caso do testamento, da renuncia à prescrição, da
procuração. Por isso os negócios unilaterais: a) ou só afeta, diretamente uma pessoa, que os
pratica (v.g, abandono de um móvel); b) ou afetam outra pessoa, mas atribuindo-lhe uma
faculdade ou uma posição favorável (v.g. procuração, testamento, repudio da herança); c) ou,
se afetam outrem desfavoravelmente, pressupõem um poder especial conferido por um
contrato ou pela lei (v.g declarações de resolução, revogação, escolha da prestação numa
obrigação alternativa).  
 
Nos contratos ou negócios bilaterais há duas ou mais declarações de vontade, de conteúdo
oposto, mas convergente, ajustando-se na sua comum pretensão de produzir resultado
jurídico unitário, embora com um significado para cada parte. Há assim a oferta ou proposta e
a aceitação - pode haver mais do que duas declarações, ou melhor, mais do que dois lados ou
partes. É o caso dos negócios plurilaterais (contratos de sociedade, contrato de cessão,
onerosa ou gratuita, da posição contratual), - que se conciliam num consenso. É o caso
paradigmático da compra e venda.  
 
 
Acerca dos negócios unilaterais:  
a. É desnecessária a anuência do adversário; a eficácia do negocio unilateral não carece
da concordância de outrem; 
b. Vigora, quanto aos negócios unilaterais, o principio da tipicidade ou
numerus clausus (art.457); 
c. Uma importante distinção neste domínio é a que se deve estabelecer entre negócios
unilaterais recepticios (ou recipiendos) e negócios unilaterais não recepticios; nos
primeiros, a declaração só é eficaz, se for e quando for dirigida e levada ao conhecimento
de certa pessoa, enquanto nos segundos basta a emissão da declaração, sem ser necessário
comunica-la a quem quer que seja.  
A procuração é um negocio jurídico unilateral reptício.  
 
Acerca dos contratos: 
Não são integrados por dois negócios unilaterais; antes cada uma das declarações (proposta e
aceitação) é emitida em vista de acordo.  
Uma importante distinção é a que se faz entre contratos unilaterais e contratos bilaterais. Os
contratos unilaterais geram obrigações apenas para uma das partes (p.ex. a doação e o mutuo,
se se entender que só existe depois da entrega da quantia mutuada). Os contratos bilaterais
ou sinalagmáticos geram obrigações para ambas as partes, obrigações ligadas entre si por um
nexo de causalidade ou correspetividade. Assim, a compra e venda, a locação, etc.  
Aos negócios jurídicos sinalagmáticos podemos chamar ainda bi-obrigacionais. 
 
Negócios entre vivos e negócios “mortis  causa” 
 
Os primeiros destinam-se a produzir efeitos em vida das partes; os segundos destinam-se a só
produzir efeitos depois da morte da respetiva parte ou de alguma delas.  
 
Negocio mortis causa é, inequivocamente, o testamento: é um ato livremente revogável pelo
testador (art.2179), não sendo sequer renunciável a faculdade de revogação (art.2311), a
transferência dos bens hereditários a favor dos legatários só se opera após a morte do
testador (arts. 2031 e 2179); os herdeiros ou legatários não podem, em vida do testador,
renunciar à sucessão ou dispor dela (art. 2028, nº1 e 2).  
 
Negócios consensuais ou não solenes e negócios formais ou solenes 
 
Os negócios formais ou solenes são aqueles para os quais a lei prescreve a necessidade da
observância de determinada forma, o acatamento de determinado formalismo ou de
determinadas solenidades. 
Os negócios não solenes são os que podem ser celebrados por quaisquer meios declarativos
aptos a exteriorizar a vontade negocial, porque a lei não impõe uma determinada roupagem
exterior para o negocio. 
Quando o negocio é formal, as partes não o podem realizar por todo e qualquer
comportamento declarativo; a declaração negocial deve, nos negócios formais, realizar-se
através de certo tipo de comportamento declarativo imposto pela lei (por escrito, através de
certo tipo de documento, etc.).  
 
Negócios consensuais e solenes - artigo 219 – mais uma forma de manifestação do principio da
autonomia privada; 
 
Negócios em que a lei não dispõe uma forma obrigatória – negócios consensuais; 
 
Negócios em que a lei exige uma certa forma especifica – negócios solenes ou formais; 
 
A escritura pública é a forma mais solene de todas porque estão as partes presentes e ainda
uma terceira pessoa; A menos solene é o escrito particular.  

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