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Em Portugal assistiu-se durante a Idade Média à limitação do poder por “direitos” de pessoas e
grupos. Essas garantias não correspondiam, como é natural, à proteção de direitos de
igualdade (individuais e universais): eram sobretudo direitos reconhecidos aos membros de
corpos ou ordens e adquiriam relevo jurídico por intermedio de mecanismos normativos
(designadamente contratuais) que os atribuíam concretamente aos particulares. A partir da
revolução liberal, à semelhança de outros países europeus e por influencia francesa, as
sucessivas constituições deram abrigo a direitos fundamentais, liberdades e garantias, ainda
que com filosofias distintas, diferentes graus de convicção ou ponderações diversas.
A Constituição de 1822 fala dos direitos e deveres individuais dos portugueses e é claramente
influenciada, nesta parte, pela declaração francesa de 1793, até na redação dos preceitos. É
um documento fortemente igualitário e liberal, mas onde não abundam ainda as liberdades
concretas, prevendo-se embora bastantes garantias.
Nas restantes Constituições monárquicas, as liberdades e direitos específicos vão aumentando
progressivamente em extensão, embora a intensidade (e a intenção) dos preceitos venha a
sofrer, em certos momentos algumas compreensões. Assim, por exemplo, na carta de 1826,
onde se “garante a Nobreza hereditária, e suas regalias” e onde os direitos civis e políticos são
regalados para o fim da Constituição.
A Constituição republicana de 1911 reincarna a força revolucionaria da Primeira Revolução
francesa e é laicista, anti-clerical e decididamente igualista. A Constituição de 1933, que se lhe
seguiu, de tendência corporativa e de prática autoritária, é marcada, neste capitulo, por uma
falta de convicção e por um cheque quase em branco ao legislador. Ao contrario, a atual
Constituição, tal como a generalidade das Constituições europeias do pós-guerra, dá uma
proteção solida às liberdades e dedica-lhes um grande numero de preceitos (descendo, por
vezes, ao pormenor regulamentar), embora com as componentes liberal e democrática
concorra agora uma outra, a social.
Nos termos do nº2 do artigo 16 da CRP, “os preceitos constitucionais e legais relativos aos
direitos fundamentais devem ser interpretados e integrados de harmonia com a Declaração
Universal dos Direitos do Homem”. A Declaração Universal, independentemente de vigorar já
na ordem portuguesa por consagrar preceitos de direito internacional geral, intervém na
interpretação dos preceitos internos relativos aos direitos fundamentais. Dos termos da
disposição transcrita parece resultar a consagração de um principio de interpretação em
conformidade com a Declaração Universal. O conteúdo do principio não é evidente, mas
julgamos poder reconhecer-lhe o seguinte alcance normativo: determina o quadro de validade
das soluções interpretativas, excluindo as que sejam compatíveis com os princípios constantes
da Declaração; no caso de a aplicação dos critérios gerais de interpretação revelar diversos
sentidos possíveis, impõe a escolha daquele que seja mais conforme ao conteúdo de sendo da
Declaração, em qualquer caso, influencia a concretização do sentido dos preceitos,
designadamente quando se trata do preenchimento de conceitos indeterminados; dá unidade
ao quadro de valores que deve presidir à descoberta das soluções para as “lacunas” do
ordenamento nesta matéria. A nossa lei Fundamental confia à Declaração Universal dos
Direitos do Homem um papel de relevo na interpretação e integração dos preceitos relativos
aos direitos fundamentais. Ao faze-lo, não tem certamente por objetivo a descoberta de uma
solução eficaz para um problema de técnica jurídica, pois que tal não justificariam nem a
clareza nem a completude da Declaração Universal, sobretudo se comparadas com outros
instrumentos mais acabados como, por exemplo, a Convenção Europeia.
A ideia democrática não esta ausente nas teorias liberais. Representa, pelo contrario, uma das
suas componentes, que, a principio comprimida, se vai naturalmente desenvolver, provocando
o alargamento do publico politico. As transformações sociais e económicas ligadas ao processo
de industrialização quebram o encanto liberal da “sociedade de infinitamente pequenos”,
homogénea e pacifica. O poder politico é reivindicativo pelas classes não-proprietárias e o
mundo burgues tem de pactuar como quarto estado. Esfumam-se os resíduos do poder
monárquico, favorecem-se as autonomias locais, a sociedade estrutura-se em grupos,
organizam-se os partidos de massas e o sufrágio universal torna-se um programa politico de
curto prazo. Este processo de democratização (politica) não poderia deixar de influenciar
decisivamente a matéria dos direitos fundamentais, precisamente na medida em que faz
sobressair as garantias de igualdade no contexto da relação individuo-estado.
A objetivação dos direitos fundamentais, tem várias direções: uma conceção de unidade de
direitos e deveres, os cidadãos devem participar ativamente na construção da sociedade,
devem assim associar-se, exprimir-se, manifestar-se, trabalhar, educar-se.
Depois, as liberdades têm que ser concretas, isto é têm que dispor das garantias materiais
necessárias à sua efetiva realização. Temos como principais garantias as estruturais, como a
apropriação coletiva dos meios de produção e a gestão coletiva da economia, e ainda o estado
deve criar e controlar as condições indispensáveis ao exercício dos diversos direitos/deveres.
E por ultimo, as liberdades são dirigidas, isto é não podem ser exercidas contra o regime
socialista.
Podemos concluir que a funcionalização dos direitos, não diz respeito apenas aos fins para que
devem ser exercidos, nem somente á medida em que são concebidos. Os direitos são assim
condicionados pelos próprios processos ou métodos.
9. Acha que se pode admitir uma autonomia relativa dos direitos fundamentais na
sistemática da constituição?
Esta ideia de autonomia relativa é de algum modo obscurecida pela forma como se realiza o
crescimento dos direitos determinando ainda por uma intenção de liberdade, mas que acaba
por envolver os indivíduos na sociedade. Continua-se a alargar a esfera dos direitos
fundamentais na sequencia do processo de acumulação que caracteriza como vimos o seu
desenvolvimento genético, os direitos fundamentais das pessoas pelo seu caracter geral e
universal são importantes para a vida em comunidade visam também uma especial proteção
jurídica, existe um processo de alagamento que tende a integrar e a diluir progressivamente as
posições jurídicas dos indivíduos nos complexos específicos de relações sociais em que estes se
movem, ao mesmo tempo que multiplica os espaços de garantia à volta delas. Este processo
de alargamento intensivo e extensivo natural num ambiente de socialização corre o risco de
exceder-se quando é dominado por uma preocupação maximalista de enquadramento e
proteção, não se deve isolar o conjunto dos direitos fundamentais da matéria da organização
politica e económica quebrando a constituição dentro da qual ganha sentido.
Para além dos artigos 72º CRP temos direitos fundamentais fora do catálogo. Assim, serão
direitos fundamentais constitucionais fora do catalogo, por exemplo o direito de não pagar
impostos inconstitucionais ou ilegalmente liquidados e cobrados os direitos de participação
politica consagrados nos artigos 127 nº1 e 246 nº2 bem como pelo menos em algum dos seus
aspetos: a liberdade de propaganda eleitoral , os direitos e garantias dos administrados
previstos no artigo 268º , os direitos dos funcionários estabelecidos no nº2 e 3 do artigo 269º e
no nº3 do artigo 271º e o direito dos trabalhadores do nº7 do artigo 276º.
11.Acha que existem ou acha que podes existir direitos fundamentais em leis ordinárias?
O provedor de justiça contidos no artigo 23 nº2 e 3 CRP e artigo 39 e 49 CRP referem-se aos
meios públicos de comunicação social e ao direito de antena e o disposto nº3 do artigo 51º
CRP aos partidos políticos são de excluir da matéria dos direitos fundamentais, estas normas
estabelecem normas de organização politica ou quando muito definem faculdades e
competência de certas entidades no quadro de opções organizatórias, o direito de antena por
exemplo não é um direito fundamental dos cidadãos mas para já no que toca aos partidos
políticos constitui um complexo de direitos cuja finalidade é facilitar a propaganda partidária.
A pertinência material dos direitos próprios das comissões dos trabalhadores e das
organizações sindicais artigos 55 e 57 nº2 CRP e ainda o próprio direito de antena no que a
estas ultimas se refere artigo 40 nº1 CRP neste caso estamos perante organizações ou
entidades que têm como objetivo a defesa de interesses de certas categorias de pessoas não
podendo ser entidades públicas, existem outros poderes que não estão concedidos a certas
identidades opções de organização económico-social artigo 55 alínea b) , e) e f), administrativa
artigo 57º nº1 alínea b e c ou politica artigos 55 alínea d) e 57 nº2 alínea a), artigo 77 nº2 CRP ,
nos direitos de participação politica dessas organizações vemos que não se trata de direitos
políticos dos cidadãos nem de concretizações do artigo 48º como direito genérico de
participação.
Também não são direitos dos trabalhadores exercidos por intermedio de representantes seus,
como será o caso do direito de contratação coletiva estabelecido no nº2 do artigo 57º CRP.
Por um lado, saber em que medida se pode estender a qualidade subjetiva, por outro lado por
onde passa a linha de demarcação que separa as garantias institucionais de direitos das
condições objetivas jurídicas, económicas e politicas a sua efetivação.
Então quanto a primeira questão , podemos porém desde já adiantar que em nosso entender
os direitos fundamentais das pessoas coletivas só devem ser integrados no núcleo subjetivo
dos direitos fundamentais na medida em que deles se possa dizer que são reconhecido ao
individuo e não quando sejam direitos próprios específicos e exclusivos das pessoas coletivas e
por isso mesmo muitas vezes por essa via denegados aos indivíduos, porem os direitos das
pessoas coletivas ainda constituem matéria de direitos fundamentais pela sua função e
intenção formarem garantias institucionais.
Quanto a segunda questão , ao aceitar a autonomia do conjunto dos direitos fundamentais, a
autonomia que de algum modo vem já implica no reconhecimento constitucional de uma
matéria especifica, essa autonomia é relativa , os direitos fundamentais ganham em sentido na
realidade pelo facto de serem pensados e exercidos no quadro de um regime politico onde ao
estado cabe um papel interveniente ativo na criação e manutenção de condições de gozo
efetivo por todos os cidadãos desses direitos, nesta perspetiva as decisões constitucionais em
matéria de organização económica, social e politica constituem garantias gerais e em certo
sentido condições da efetivação dos direitos fundamentais.
A autonomia individual tem limites tal como seria falsificar e corromper o sentido dos direitos
fundamentais na organização estadual confundindo-os com as condições económicas, sociais e
politicas da sua realização e transformando-os em meros instrumentos da instauração ou da
conservação de um determinado regime político-social porque isso significaria ignorar a
autonomia ética de cada homem e ela é postulada pelo principio da dignidade da pessoa
humana.
No primeiro caso estamos perante garantias institucionais dos direitos fundamentais no
segundo em face quando muito de condições gerais e objetivas da realização desses direitos,
ali encontramo-nos ainda no campo dos direitos fundamentais aqui a matéria e já outra
constituição económica ou organização politica e administrativa.
Por exemplo: os princípios da separação dos poderes da representação politica de base eletiva,
do pluralismo de expressão e organização politica da descentralização administrativa da
participação, da independência do poder judicial, da isenção das forças aramadas condicionem
e garantem o exercício dos direitos políticos e das liberdades cívicas, dos direitos pessoais e
dos direitos sociais mas não constituem em si nem nas suas refrações diretas, matéria de
direitos fundamentais.
15.Acha que se pode falar de uma unidade constitucional de sentido dos direitos
fundamentais?
A delimitação no âmbito desta matéria teve de ser feita em referencia a uma ideia que é um
principio de valor: a dignidade da pessoa humana, este principio é suscetível de
entendimentos diversos, também é certo pela autonomia desta matéria no contexto da
constituição vai já implicada uma imagem antropológica que condiciona as posições a assumir
perante esta questão. Os preceitos da constituição relativos aos direitos fundamentais tal
como os restantes são o resultado de um processo constituinte em que intervieram forças
politicas e ideológicas diversas e exprimem por isso no seu conjunto um determinado
equilíbrio que se estabeleceu entre conceções diferentes do mundo e da vida, os direitos
fundamentais traduz o compromisso fundamental de toda a constituição entre o principio
liberal-democrático e o principio socialista , esta conceção representa uma teoria original ,
síntese rica e inovadora da compreensão dos direitos fundamentais recolhendo traços da
conceção liberal e da conceção socialista , identificados respetivamente com a teoria liberal
burguesa e com a teoria marxista -leninista. Ora como já tivemos oportunidade de ver existe
uma conceção liberal moderna dos direitos fundamentais que é a conceção dominante na
europa ocidental não tendo sido alias a conceção liberal-burguesa defendida por nenhuma
força politica na assembleia constituinte por outro lado as conceções socialistas não se
reduzem ao marxismo-leninismo do qual se demarcam claramente os defensores do
socialismo democrático, o que importa é averiguar se os elementos objetivos que ultrapassem
a conceção liberal-burguesa implicam ou não um corte antropológico com a conceção
tradicional dos direitos fundamentais se reconduz a uma teoria liberal-moderna ou se
representa um compromisso entre essa teoria e a teoria marxista leninista.
A afirmação de que se trata de posições jurídicas subjetivas não carece de mais esclarecimento
do que os expostos a propósito da dimensão objetiva: visa-se aqui fundamentalmente excluir a
figura das “garantias institucionais”, que representa as situações juridicamente reguladas ou
protegidas para salvaguardar a dignidade humana individual, mas que, pelo seu carater
objetivo, não são suscetíveis de ser imputadas às pessoas concretas. Existe uma grande
confusão entre “direitos-garantias”, que muitas vezes aparecem simplesmente designados
como “garantias”. Assim, quando a Constituição fala de “direitos, liberdades e garantias”,
inclui nessas “garantias” “direitos-garantias” – quanto a nós são estes até os únicos referidos,
pois deve considerar-se excluídas as garantias institucionais. Por exemplo, os princípios que
garantem a liberdade a integridade dos indivíduos em matéria penal e de processo penal,
desde o “nullum crimen sine lege” à intransmissibilidade das penas (Art.27, nº2, 28 a 33), a
inviolabilidade domiciliaria (artigo 34) e as garantias em matéria de informática (Artigo 35 nº2
a 5), tal como as previstas nos artigos 22 (responsabilidade das entidades públicas) ou 268
(garantias contenciosas dos administrados) devem ser considerados “direitos- garantias”.
São “garantias”, porque contêm normas de competência ou regras de ação estadual que visam
proteger outros direitos, que constituem, para este efeito, posições primárias: os
direitos-“direitos”, conceito normalmente utilizado quando se refere uma posição que tem
como objetivo imediato um bem especifico da pessoa (vida, honra, liberdade física, nome,
integridade); ou os direitos-“liberdades”, que designam e definem espaços de decisão
individual livres de interferência estadual. Isto, pressupondo que ainda é possível de algum
modo distinguir entre as figuras referidas, embora em nosso entender a expressão “direitos,
liberdades e garantias” tenha de ser vista como uma unidade, até porque, na maior parte dos
casos, os “direitos” fundamentais, em virtude da sua estrutura complexa, contêm faculdades
que os planificariam simultaneamente como “direitos” e “liberdades” ou “direitos” e
“garantias”, quaisquer que fossem os critérios utilizados na distinção.
São, por outro lado, “direitos”, porque as normas de organização e ação que os constituem se
referem a atuações do Estado que interferem na esfera de cada individuo, tornando, por isso,
possível definir e recortar, a um nível individual, os interesses a proteger e,
consequentemente, autonomizar posições jurídicas subjetivas – ao contrário do que se passa
com as garantias institucionais, que são indivisíveis e, por isso, insuscetíveis de atribuição
subjetiva.
Quando se fala de direitos de exercício coletivo ou de ação coletiva, têm-se em mente aqueles
direitos fundamentais que não podem ser exercidos por cada individuo isoladamente,
pressupondo a atuação convergente ou concreta de uma pluridade de sujeitos. Será, por
exemplo, o caso do direito à greve, das liberdades de associação, de reunião (de manifestação,
no seu sentido corrente), ou dos direitos de apresentação de candidaturas para Presidente da
República (art.127, nº1) e para os órgãos de freguesias (art.246, nº1). Nestes casos, o
elemento coletivo integra o conteúdo do próprio direito, este só ganha sentido se for pensado
em termos comunitários, pois estão em causa interesses partilhados por uma categoria ou um
grupo de pessoas, e, por isso, se afirma por vezes que estamos perante uma titularidade
coletiva de direitos fundamentais. Parece-nos, porém, que o titular do direito (do poder e do
interesse básico) não deixa de ser cada um dos indivíduos ou dos trabalhadores: os “coletivos”
alias muitas vezes momentâneos, são instrumentos do exercício, mas não sujeitos dos direitos.
O nº2 do artigo 12 não determina a atribuição direta, por extensão, dos direitos fundamentais
às pessoas coletivas, nem sequer contém uma equiparação de principio destas às pessoas
humanas (nos termos, por exemplo, do que eventualmente se passa com os estrangeiros). Não
se trata, de facto, de uma extensão geral dos direitos às pessoas coletivas fundada numa
analogia substancial entre os sujeitos. Os limites e os cuidados da extensão admitida levam-
nos, pelo contrário, a concluir que se deve ter em conta a diferença de qualidade entre os
sujeitos de direito que são pessoas humanas e os que não são: a diferença entre o carater final
da personalidade jurídica do homem e o carater instrumental da personalidade jurídica
coletiva. O recurso à Declaração Universal dos Direitos do Homem que, com exceção do direito
de propriedade, se refere apenas a direitos “humanos” reforça este entendimento de que os
direitos fundamentais são, na sua essência, atributos da personalidade humana.
E, se é assim, arriscamos o passo seguinte e, para já quanto a estes direitos individuais
extensíveis, afirmamos que eles são conferidos às pessoas coletivas ainda para garantia do
livre desenvolvimento do homem, isto é, da proteção da dignidade humana do individuo “no
seio das formações sociais onde se exerce a sua personalidade”. Assim a CRP reconhece a
importância dos meios de ação coletivos para a realização dos indivíduos no mundo de hoje e,
sem perder de vista essa intenção de proteção da dignidade humana individual, pelo contrario,
com o intuito e a preocupação de a alargar, não se limita a reconhecer aos indivíduos a
liberdade de se associarem (nem a enfatizar esse reconhecimento na autonomização da
liberdade sindical e de criação de partidos e associações politicas): estende a aplicação dos
preceitos relativos aos direitos fundamentais a esses entes organizatórios de criação
individual.
Os “direitos fundamentais coletivos” em sentido estrito, são os direitos exclusivos das pessoas
coletivas ou organizações. Estes direitos são, bem vistas as coisas, verdadeiras competências,
ou seja, poderes concedidos no quadro normativo de uma organização politica ou
administrativa, económica ou social. Poderão ser incluídos na matéria dos direitos
fundamentais, se se entender que visam diretamente e em primeira linha proteção ou
promover a dignidade humana. Porém, devem então ser equiparados a garantias institucionais
e não aos direitos subjetivos fundamentais. Não porque sejam insuscetíveis de atribuição
subjetiva (como acontece com as garantias institucionais), mas porque não são suscetíveis de
atribuição individual, isto é, não é possível referi-los, enquanto poderes, aos sujeitos do
interesse fundamental que constitui (é o pressuposto) a sua razão de ser: dignidade humana
(necessariamente individual) no aspeto especifico que estiver em causa. Por exemplo, os
direitos exclusivos das organizações de trabalhadores não constituem, em si, direitos dos
homens trabalhadores, partindo do principio de que estes não devem confundir-se com os
poderes ou os privilégios conferidos na organização social e politica aos grupos que formam,
isto é, que direitos fundamentais dos trabalhadores não é igual a “poder das classes
trabalhadoras”.
23.Será que se pode falar de direitos fundamentais das pessoas coletivas públicas? Dê
exemplos.
À primeira vista absurda e liminarmente recusada da época liberal, com base na ideia de que a
função dos direitos fundamentais era a defesa da dignidade humana precisamente contra os
poderes públicos, esta capacidade é hoje admitida, embora de forma limitada. Admitida, diga-
se desde, já, mesmo por quem continua a ver como intenção fundamental e caraterizadora
dos direitos fundamentais a proteção da dignidade das pessoas humanas. A razão desta
admissibilidade está na progressiva pulverização da ideia organizatória de Estado, isto é, no
pluralismo interno da Administração, essa pluralização é de tal modo acentuada que é possível
e frequente que se encontrem pessoas coletivas de direito público (ou até organismos
administrativos não-personalizados) em situação de sujeição ou subordinação perante o
Estado ou outros entes públicos.
Ora, sendo assim, é também logicamente possível, no âmbito de uma conceção não-
individualista dos direitos fundamentais, aplicar estes direitos às pessoas coletivas
subordinadas, sujeitas a posições de poder, por analogia com a situação de sujeição do
individuo em face do Estado. Seria, por exemplo, o caso normalmente citado das autarquias
institucionais como as universidades, ou das empresas de comunicação social, por exemplo, de
radiodifusão, mas é pensável ainda para as autarquias locais ou quaisquer entes públicos
organizatórios, ainda que personalizados.
As garantias institucionais são algo externo ao regime dos direitos, liberdades e garantias
mesmo que estejam expressa ou implicitamente contidos no título II da Parte I da CRP.
Deveres fundamentais autónomos são os impostos pela CRP (ou por normas que sejam
consideradas materialmente constitucionais) independentemente de qualquer direito. Assim,
serão deveres fundamentais o dever de obediência aos atos legítimos dos poderes públicos
(art.21º), o dever de não uso da força privada (art.21º e art.45º, nº1), o dever de pagar
impostos (art.105º e 107º), os deveres de defesa da Pátria e da prestação de serviço militar ou
cívico (art.276º) – deveres decorrentes da própria ideia de Estado e que não podem, por isso,
deixar de ser considerados fundamentais, independentemente da sua consagração expressa
com esse nome. E, como estes, outros deveres avulsos previstos na CRP (deveres de
recenseamento e de colaboração com a administração eleitoral, nos nº2 e 4 do art.116º) ou,
eventualmente, nas leis (dever de registo, dever de comparência perante as autoridades
judiciais, etc.)
No entanto, surgem problemas quando se tomam em consideração os deveres associados com
direitos fundamentais. Então, o reconhecimento dos deveres já pode alterar não só a estrutura
mas também o significado dos direitos, que teriam de admitir uma mais profunda intervenção
dos poderes públicos e que poderiam acabar por ser anulados ou funcionalizados, isto é, pura
e simplesmente postos ao serviço de forças ou de finalidades coletivas.
A questão não aparece habitualmente no âmbito dos direitos à proteção de bens, dos direitos-
garantias ou mesmo dos direitos a prestações, porque não está em causa aí a atuação dos
indivíduos, mas fundamentalmente a atuação dos poderes públicos.
Mas, é já caracteristicamente polemica no que respeito aos direitos políticos e às liberdades de
atuação.
A CRP não estabelece no campo dos direitos políticos e liberdades de atuação um modelo
funcionalista. Esta circunstância corresponde, alias, a um especial cuidado constitucional em
não incluir deveres no título relativo aos direitos, liberdades e garantias.
Mas, o que é certo é que encontramos no texto constitucional a previsão de deveres
fundamentais a propósito ou em conexão com direitos fundamentais. Assim, no âmbito dos
direitos, liberdades e garantias, para alem do dever de votar, a CRP refere os deveres dos pais
de manutenção e de educação dos filhos (art.36º, nº3, 5 e 6); no titulo relativo aos direitos
económicos, sociais e culturais, preveem-se os deveres de trabalhar (art.59º, nº2), de defesa e
promoção da saúde (art.64º, nº1), de defesa do ambiente (art.66º, nº1), de escolaridade
básica (art.74º, nº3, alínea a)) e de defesa e valorização do património cultural (art.78º, nº1).
29. Acha que existem limites imanentes dos direitos fundamentais? Qual o seu alcance?
Os direitos fundamentais têm os seus limites imanentes, isto é, as fronteiras definidas pela
própria constituição que os cria ou recebe.
Pode falar-se aqui de limites, no sentido de limitações, porque a proteçao constitucional não
abrange todas as situações, formas ou modos de exercício pensáveis para cada um dos
direitos. Há, no entanto, limites imanentes dos direitos fundamentais que só são
determináveis dado por interpretação, pelo facto de estarem apenas implícitos no
ordenamento constitucional. Se é fácil saber qual o bem que esta protegido, já é muitas vezes
determinar-lhe os contornos, sobretudo quando o seu exercício se faça por modos atípicos ou
em circunstancias especiais, afetando, de uma maneira ou de outra, valores ou direitos
também constitucionalmente protegidos. A ideia de limites imanentes não é nova e tem sido
largamente utilizada na doutrina e jurisprudência alemã. Para uns, os limites imanentes seriam
dados pelos limites de não perturbação: cada direito seria limitado pela existência de outros
direitos, evitando-se assim o abuso e prejuízo dos outros. Porém, esta cláusula não parece
suficientemente clara para distinguir entre limites imanentes e colisão de direitos alem de que
sempre teria uma eficácia limitada. Outros ainda pretendem que os direitos fundamentais
estejam limitados pelas leis gerais, isto é, pelas normas ordinárias imperativas. É certo que, por
vezes, a constituição parece estabelecer ou estabelece reservas – limite desse tipo, mas
admitir esta conceçao dos limites imanentes poderia ser sujeitar todos os direitos a uma
reserva de lei, invertendo a hierarquia das normas e fazendo-nos regressar ao tempo em que
os direitos fundamentais só existiam no quadro das leis ordinárias. Adotamos, assim, a
conceção dos limites imanentes que, além de teoricamente justificada, nos parece útil no
plano dogmático-prático.
O legislador atinge ou afeta o conteúdo do direito fundamental. Estamos então perante leis
restritivas propriamente ditas. Discutem alguns autores se a figura da restrição (legal) dos
direitos fundamentais terá verdadeiramente sentido, se as limitações aos direitos não se
reduzirão à concretização dos limites imanentes ou à regulamentação dos mesmos. O que
estaria em causa, nos casos tradicionalmente designados como de restrição, seria então
apenas a delimitação ou a reafirmação prática dos direitos fundamentais. Parece-nos, no
entanto, que, à face da nossa Constituição, é conveniente distinguir, nos termos apontados, os
diferentes tipos de intervenção legislativa. Ora, é precisamente quanto às leis restritivas que se
levantam alguns problemas em virtude da necessidade de autorização constitucional expressa
para a restrição (artigo 18, nº3). Em alguns casos, a Constituição autorizou a lei a restringir este
ou aquele aspeto de determinados direitos fundamentais atribui-lhe expressamente uma
competência de regulação geral da matéria que inclui também poderes de restrição. No
entanto, há preceitos constitucionais, como, por exemplo, os relativos às liberdades de criação
cultural (art. 43) de aprender e ensinar (art.43), aos direitos de deslocação e emigração
(art.44), de reunião e manifestação (art.45), ou o direito à greve (art.58), que não prevêem
quaisquer restrições. A relativa falta de preceitos constitucionais que autorizem a restrição
pela lei pode, contudo, ser colmatada pelo recurso à Declaração Universal dos Direitos do
Homem, nos termos do nº2 do artigo 16. A Declaração, no seu artigo 29, permite que o
legislador estabeleça limites aos direitos fundamentais para assegurar o reconhecimento ou o
respeito dos valores aí enunciados. Isto significa que o nº3 do artigo 18 deve ser interpretado
como proibição de uma relativização absoluta dos direitos fundamentais, ao consagrar o
principio da excepcionalidade da restrição, que só deverá ser admitida quando se trate de
salvaguardar um outro valor ou interesse constitucionalmente protegido.
Mas, o poder de restrição do legislador não é absoluto, nem a sua concessão coloca os direitos
fundamentais à mercê do legislador. Desde logo, o próprio preceito constitucional que autoriza
a restrição pode indicar os fins ou outros pressupostos específicos da restrição. Será no caso,
por exemplo, dos artigos 27 nº3, 34 nº4 e 47 nº1.
Para além disso, e em geral, a Constituiçao estabelece certos requisitos para as leis restritivas:
têm de revestir carater geral e abstrato, não podem ter efeitos retroativos, as restrições têm
de limitar-se ao necessário para salvaguardar outros direitos ou interesses
constitucionalmente protegidos, não podendo em caso algum diminuir a extensão e o alcance
do conteúdo essencial dos preceitos constitucionais.
Haverá colisão ou conflito sempre que se deva entender que a constituição protege
simultaneamente dois valores ou bens em contradição concreta. A esfera de proteção de um
certo direito é constitucionalmente protegida em termos de intersectar a esfera de outro
direito ou de colidir com uma norma ou principio constitucional. O problema é o de saber
como vai resolver-se esta contradição no caso concreto, como é que se vai dar solução ao
conflito entre bens, quando ambos se apresentam efetivamente protegidos como
fundamentais. Poderá ser, por exemplo, o caso da liberdade de expressão ou de imprensa,
quando se oponha à intimidade da vida privada, ao direito ao bom nome e à reputação, à
segurança nacional, ao respeito pelas instituições ou à moral pública. A solução dos conflitos e
colisões não pode ser resolvida com o recurso à ideia de uma ordem hierárquica dos valores
constitucionais. Não se pode estabelecer uma hierarquia entre os bens para sacrificar os
menos importantes. Os próprios bens da vida e integridade pessoal, que o nº4 do artigo 19
parece positivamente considerar como bens supremos, podem ser sacrificados, total ou
parcialmente. Não pode, além disso, ignorar-se que, nos casos de conflito, a Constituiçao
protege os diversos valores ou bens em jogo e que não é licito sacrificar pura e simplesmente
um deles ao outro. O que acontecia era que, confundindo-se os casos de colisão ou conflito
com os de limites imanentes, se pretendia resolver estes últimos como se fossem dos
primeiros. E, então, como a solução não podia deixar de ser o sacrifício total de um dos
alegados direitos, a justificação tinha de ser a hierarquia. Por outro lado, também não pode,
ainda dentro de uma conceção hierarquizante, recorrer-se a uma teoria dos direitos
fundamentais para resolver o problema. Por vezes, estas teorias acentuam
preponderantemente um determinado aspeto e tenderiam a resolver os conflitos entre
direitos a favor daqueles que integrassem a categoria preferida. Só que a ordem dos valores
constitucionais não é hierárquica e não permite, por isso, soluções abstratas conforme as
eventuais patentes a que se promovem os diversos direitos fundamentais.
Terá pois, de respeitar-se a proteção constitucional dos diferentes direitos ou valores,
procurando a solução no quadro da unidade da Constituiçao, isto é, tentando harmonizar da
melhor maneira os preceitos divergentes.
Este principio da concordância prática como critério de solução dos conflitos não deve,
todavia, ser aceite ou entendido como um regulador automático.
O princípio da concordância prática executa-se, portanto, através de um critério de
proporcionalidade na distribuição dos custos do conflito. Por um lado, exige-se que o sacrifício
de cada um dos valores constitucionais seja necessário e adequado à salvaguarda dos outros.
Se o não for, não se trata sequer de um verdadeiro conflito. Por outro lado, e aqui estamos
perante a ideia de proporcionalidade em sentido estrito, impõe-se que a escolha entre as
diversas maneiras de resolver a questão concreta se faça em termos de comprimir o menos
possível de cada um dos valores em causa segundo o seu peso na situação (segundo a
intensidade e a extensão com que a sua compreensão no caso afeta a proteção que lhes é
constitucionalmente concedida).
32. São possíveis auto-limitações dos direitos fundamentais?
Tendo por base, o artigo 18º da CRP, em que o limite absoluto do nº3, parece ser a dignidade
do homem concreto como ser livre, constitui para nós a base dos direitos fundamentais e o
principio da sua unidade material. Por vezes, a projeção da ideia de dignidade humana será de
tal modo intensa que não pode admitir-se a violação de um direito subjetivo individual sem
que o conteúdo essencial do preceito seja atingido. Mesmo quando se admite a anulação do
direito subjetivo de certos indivíduos em determinadas circunstancias, nunca essa restrição
pode ser absoluta, nem poderá ser ilimitada no tempo, nem abranger todos ou a generalidade
dos domínios da vida desses indivíduos. Este limite absoluto só atua em casos extremos. Para
que se preserve o conteúdo dos preceitos relativos aos direitos fundamentais, não basta, pois,
limitar em geral o legislador pelo valor restringido. É ainda preciso ter em conta o processo de
restrição, os seus motivos ou fundamentos. O valor constitucional dos preceitos relativos aos
direitos fundamentais só é efetivamente garantido se exigir que a eventual restrição seja
justificada pela necessidade de proteger ou promover um bem constitucionalmente valioso.
Sendo possível existir uma auto limitação dos direitos fundamentais, mas só como carater
excepcional.
Caso Prático 1
O governo quer reduzir despesas com as prestações da segurança social. O governo tem
verificado bastantes abusos por parte do chamado turismo social no espaço europeu, isto é
cidadãos europeus que passam a residir em Portugal dos anos da sua reforma. Suponha que
por decreto regulamentar do governo não promulgado, publicado em 2 de Dezembro de 2019,
o governo alterou as regras do rendimento social de inserção com efeitos a partir de Janeiro
de 2019 pelo o qual só podem aceder ao rendimento social de inserção, os cidadãos que
cumulativamente tenham mais de 25 anos de idade e residam em Portugal há mais de 3 anos.
O governo tendo verificado falhas graves de sangue no serviço nacional de saúde dispensou
daqueles requisitos os cidadãos (nacionais ou estrangeiros) que fizessem uma doação
voluntaria de sangue ao SNS pelo menos 4 vezes ao ano.
Disse ainda o diploma que também podiam ficar dispensados daquele requisito, “proibia os
homossexuais de darem sangue, mas se eles quisessem ficar dispensados dos dois requisitos
para ter o rendimento social de inserção, podiam substituir por um serviço cívico a tempo
parcial em substituição da instituição social ”
R: O direito fundamental que está aqui é o rendimento das prestações. Na constituição vamos
aos direitos sociais – artigo 63 nº 1 da CRP;
Isto é claramente um direito social porque não é de aplicação direta, não tem uma suficiente
determinação constitucional. A este direito social não se aplica o regime do artigo 18º da CRP.
A regulamentação dos direitos fundamentais, em principio só pode ser por lei, não se cumpre
uma coisa que é comum a todos os direitos fundamentais - a regulamentação legislativa. Tem
que existir uma lei da AR, ou um decreto de lei autorizado, 164º; 165º nº1 alinea f) da CRP.
Não pode existir um regulamento nesta matéria, e não pode haver um decreto de lei, exceto
se este tiver por fundamento o artigo 165, nº1 alinea b) da CRP.
Todos têm direito á segurança social, este direito é um direito subjetivo fundamental tem que
ver com a dignidade da pessoa humana.
Neste não caso prático existe uma colisão dos direitos, o que há é uma questão de restrição de
direitos. Trata-se de restrição legislativa inconstitucional, porque tem uma
inconstitucionalidade orgânica e formal.
Na questão da idade, não é justificado que uma pessoa com 23 anos, não possa ter
rendimento social da inserção. Não existe uma justificação para restringir a falta de idade. Por
outro lado, o requisito da residência há mais de três anos, é mais uma vez uma descriminação
porque viola o principio da igualdade e também o principio da necessidade.
A exigência legal que alguém que queira ficar dispensado daqueles dois requisitos, “fazer uma
doação de sangue..”, é uma clausula que afeta o conteúdo essencial dos direitos
fundamentais. Estamos no fundo a aproveitar uma situação o rendimento social de inserção,
outra coisa, é a situação do SNS, esta situação já viola a dignidade.
Quanto á questão dos homossexuais é evidente que não é justificável, pois eles não têm nada
haver com a questão da recolha de sangue. Viola o principio da igualdade, artigo 13º da CRP. E
ainda podíamos dizer que isto é uma restrição legislativa.
Se forem previstos nas leis ordinárias não é justificação – artigo 13º principio da igualdade;
principio da proporcionalidade. Razoabilidade da restrição, ou seja o menos restritiva possível.
Podemos dizer que, todo este caso viola a dignidade da pessoa humana, quer relativamente á
restrição que exige uma idade mínima para o rendimento de inserção, e a situação de limitar
aqueles que residem em Portugal á menos de x tempo. Viola a dignidade da pessoa humana
porque retira o mínimo da existência condigna.
Outra hipótese é pedir ao MP que pode interpor uma ação popular, ou outra ação da defesa
do direito á segurança social.
Direito de queixa: um cidadão lesado pode apresentar uma queixa fundamentada a uma certa
entidade.
O cidadão não pode individualmente impor uma ação num tribunal inconstitucional de
forma direta. Existe na América do Sul, Alemanha, Áustria. Nós não temos, o que temos é a
fiscalização concreta (esta é incidental), a abstrata. É na concreta que o cidadão tem uma
fiscalização ativa.
Ainda no âmbito dos controlos incidentais, também é permitido o acesso aos tribunais
judiciais (comuns).Num caso concreto incidentalmente o particular não pode interpor uma
ação de inconstitucionalidade direta porque não existe o tal recurso de amparo. Mas pode
numa questão de subsidio de desemprego que o cidadão interpõe num tribunal de Trabalho,
ele pode invocar a lesão de um direito, liberdade e garantia, que neste caso é o direito social
de subsidio de desemprego.
Por outro lado, temos uma medida “ habeus corpus” pede-se ao STJ a liberação imediata de
alguém que esteja numa situação de prisão ilegal.
O que pode ir ao tribunal constitucional, são as normas aplicadas por órgãos. Por exemplo
uma norma que lese algo.
Questão:
Perante novas ameaças o terrorismo internacional, o governo regional dos Açores, através de
decreto legislativo regional não promulgado pelo presidente da republica, autoriza os serviços
secretos portugueses a fazer escutas na Região Autónoma, se existirem fortes e
fundamentadas suspeitas de envolvimento dos escutados na preparação e atos de terrorismo.
Tem que haver também com a reserva relativa da AR, porque tratamos aqui de liberdades e
garantias.
Se existir uma lei que autorize escutas por motivo de terrorismo, aplicamos o artigo 165 b)
CRP. Mas no caso prático, havia um decreto legislativo regional e não foi promulgado pelo
presidente da república e portanto isto é totalmente inconstitucional.
Para existir validade tinha que ser uma lei da assembleia da republica e nunca um decreto
legislativo regional.
Está sujeito ao regime jurídico dos DLG, artgs 17º e 18º CRP.
34º nº 4- restrição da constituição deste direito. Tem que haver uma lei que criminalize esta
situação do terrorismo. A constituição só permite restringir o direito do 44 nº 1 se houver uma
lei que criminalize esta situação do criminalismo. Por outro lado, isto não respeita o principio
da proporcionalidade, e é para salvaguardar outros direitos constitucionalmente protegidos.
A lei pode restringir mas há 3 requisitos: se existir uma autorização expressa da constituição; a
“necessidade” artigo 18º CRP; salvaguardar outros direitos de interesse constitucional (p.ex: a
segurança publica (165º CRP “forças de segurança: defesa nacional, 273 nº2 CRP).
Quantos aos limites? Isto é uma restrição, porque tem por base um decreto legislativo
regional. O diploma é inconstitucional, há uma inconstitucionalidade orgânica, porque quem
tinha competência era a Assembleia da Republica.
Há também uma inconstitucionalidade material, porque o governo regional não pode autorizar
os serviços secretos da republica a fazer escutas desta forma. Isto é material de razão geral do
país ora nacional.
É justificável uma coisa destas? É justificado desde que em termos constitucionais, se estiver
previsto em lei criminal.
E pode se fazer escutas quando existir suspeitas de envolvimento dos escutados? Isto não é
demasiado amplo? É uma restrição não pontual, é demasiada abstrata. E a constituição só
permite a quebra de inviabilidade quando está em jogo a pratica de crimes.
Parece-nos violação do principio da separação dos poderes, porque aqui é a policia que tem
competência para fazer as escutas mas o juiz é que pode autorizar as escutas, principio da
separação dos poderes consta no artigo 111º CRP.
Teria que ser então uma lei da assembleia da republica, em matéria criminal.
Isto é um DLG, este direito pode ser oposto do direito de resistência, artigo 21º. Pode-se expor
a situação ao provedor de justiça, 23º. Talvez fosse sujeito a um direito de queixa á autoridade
administrativa, independente Entidade Integradora de Regulação de Comunicação e a
entidade de fiscalização dos serviços de comunicação.
Quando se esgotar o recurso aos tribunais português, recorre-se ao tribunal europeu dos
direitos do homem.
Artigo 162 nº 2 e 281 g) CRP. Outra hipótese, um escutado intentar no tribunal administrativo,
através do artigo 109 nº 1 “intimação para proteção do DLG”.
Caso prático 2
Examine os artigos 62º; 39º; 103 nº 3; 67 nº 1; 111º. Diga se estas normas contêm direitos
fundamentais, e que tipo de direitos fundamentais.
39º Está no catalogo dos DLG´s , mas parece ser com uma garantia. Garante-se a liberdade de
expressão então é uma garantia institucional.
Caso Prático 3
Suponha que no contexto de crise económica, o governo por decreto regulamentar não
promulgado estipula:
a) O ensino deixa de ser gratuito para todos e quem tiver rendimento superior ao salario
mínimo deve pagar pelo ensino.
Alínea a) Aqui só há um direito fundamental, o direito ao ensino, artg 74º CRP, o que é
garantido é as oportunidades de acesso e de êxito escolar (nº1). Incube ao estado estas
vertentes (nº2).
Tem haver com a dimensão socializante, pois todos têm direito á “igualdade de oportunidade
de acesso e do êxito”
Quanto ao regime? 74 nº1 direito subjetivo fundamental: Todos têm o direito ao ensino.
74 nº 2 garantias institucionais
Sendo um DESC ele não terá uma aplicação direta 18 nº1, porque não tem uma suficiente
determinabilidade. O DESC, são direitos de reserva do possível ou seja, do que a lei
estabelecer. A constituição não determinou suficientemente os DESC´s para não vincular as
gerações futuras aquilo que a geração atual determina, e para não dar uma margem de
manobra a cada legislador.
Temos as leis restritivas, a questão é que a própria constituição é violada com esta questão,
que retira a gratuitidade ao ensino.
A constituição entende que tem que distinguir quem tem acima do rendimento mínimo, e
quem tem abaixo mas o ensino é universal.
54 nº2 alínea e) CRP – proibição do retrocesso, o legislador ordinário não deve retirar
conteúdo a direitos fundamentais. A ideia é melhorar progressivamente
Por outro lado, é uma inconstitucionalidade material, porque distingue os que têm rendimento
social acima ou abaixo.
Viola-se assim materialmente o artigo 71º CRP. E viola-se o 74º na mesma. Quer a aliena g) e
h) está relacionado com cidadãos portadores de deficiência e estes têm apoio para um ensino
especial. Viola-se a dignidade da pessoa humana.
Podia –se tentar uma ação no tribunal administrativo, ou se propõe neste tribunal a
reconhecer um direito concreto, coloca o estado por parte de objeto de ação, onde ele pede
ao tribunal que lhe seja reconhecido o direito fundamental da gratuitidade, ou o cidadão
inscreve os familiares na escola, e esta manda-lhe a conta e ele não paga, como consequência
teremos uma ação em tribunal.
A terceira é, esgotando os recursos normais, recursos para o tribunal europeu dos direitos do
homem.
Caso Prático 4
Isto tem haver com a expressão do todo. Trata-se de um direito formal constitucional e dentro
do catalogo. Tem haver com a dimensão liberal. É um direito de participação politica, direito
de 1ª geração. E tem haver também com o artigo 48 nº2.
A camara Municipal não pode aprovar regulamentos, é assembleia municipal a publicação dos
regulamentos não pode ser só na Internet, teria de ser na Assembleia Municipal.
Uma restrição destas tinha que ser uma lei da Assembleia da República. Tem de ser respeitada
a reserva do 165 b) ou então o DL autorizado. Portanto em matéria de DLG´s só pode haver
regulamentos municipais apenas executivos, estão proibidos assim os restritivos.
Quanto aos seus limites é uma restrição porque vem dizer que proíbe a afixação de cartazes.